Estremece minha alma morta; ressoa como uma víscera que corta Embala, esconde, procurando brechas no vão de um peito putrefato Encontra nudez e gozo aguado. Sento-me frente a porta, observando sua sombra De costas para um cômodo abantesma Onde cada segundo grita, chora, esgana Rastejando como uma lesma em busca do fulgor que engana. “Onde estão as horas?” Grito em desespero Meus olhos amedrontados escorrem como gruta Me resta sorver, me sobra chover; Meu clamor o ponteiro não escuta. “Fugir é tolo! Por que teme o que conhece? Não aja como se eu não fosse sua cria, Um Frankenstein de suas escolhas, decepção, lodo e apatia! Eu sou tudo que tu escondia, aquilo que quer esquecer. Deseja comer o Pinho do brejo, mas não se aquieta para ver a magnólia crescer? Busca o tesouro nos confins do mar Egeu, E o fantasmagórico aconchego da vigília Recusa as rochas no caminho pro apogeu Se apressa em preces, implorando buganvílias. Hipócrita!” Imóvel, observo a porta estremecer Ele grita, implora, chacoalha, mas não abro Não quero ver a formação do envelhecer Já sou rosa, por que lembrar o desabrochar? Segundos juntam, minutos cercam Para onde ir? Horas se juntam, param de caminhar; a batida cessa. A sombra some, o fardo morre, tudo passou. A liberdade do Ignorar faz-me revigorar, Refrescar e seguir. O tique-taque do relógio evapora A fusão de cada filho seu encorpora O Ontem está aqui, me encara, me enforca, me mata De fato, não há como fugir.