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1 – O desafio de ser eu

Quando enfim eu me cansar de ser o que não devo,

Poderei alcançar o mais esperado alvo,

A paz interior que pulsa levemente

E dura um escasso instante

Dissipando-se com o labor.

Então serei eu,

Encher-me-ei de emancipação,

Eliminarei toda confusão que em mim prevalece

Até convidar-me a mim mesmo à mudança;

Que na verdade é transformação,

– Uma luz, uma esperança,

Outrora desprezada opção.

Serei eu,

Serei desprezado,

serei humilhado,

Serei julgado, sentenciado e até condenado,

Mas serei eu.


Os olhos me comerão,

As bocas me engolirão,

Os ouvidos de mim se saciarão

Mas por fim as dúvidas cessarão;

E serei eu.


2 – Confusão às escuras

Um ruído ensurdecedor

Compõe o motim desolador

No palco da minha mente

Que é mais um porão intrigante

Onde armazeno o que não devo.

– Pois mesmo o temendo, no mal persevero.

Sou uma tela sombria com traços psicóticos

Representados em dias melancólicos.

Confuso galgo a escuridão

Com o coração apaixonado pela luz.

Ando às escuras, observando a cruz,

Sem nunca provar o sangue da salvação,

O Sangue de Jesus!


3 – Amor à Vida

Venero a vida,

Venero a minha existência,

Regozijo a cada nova experiência,

Procuro sarar feridas da nascença,

Lutando contra o pecado, apesar da falência,

Tento sempre manter esperança,

Pois ela dorme abraçada à inexistência.

Pranteio ao som da dor

E não me envergonho disso.

Passeio nas avenidas do amor

Que quase desconheço.

Errar é minha paixão

Quando faço do erro a ponte para o saber.

Lutar é vencer...,

Luto até vencer.

Duvido até saber.

Faço da vida um espectáculo

E da natureza o meu oráculo.


4 – Mesclas convicções

Nada sou em comparação com ninguém,

Mas tudo sou em relação a alguém

Tampouco tudo posso saber,

Ah, quão pouco sei

Daquilo que ainda posso saber!

A confiança enche-me o peito.

Minha segurança torna-me perfeito

Aos olhos que a terra guarda

Como o guarda a porta com a espingarda.

Pouco sou comparado ao que penso,

Muito mais sou do que penso!

E quanto mais eu penso

Observo que mal me conheço.


5–Inocência

Caí, mas não podia,

Temi, mas não devia,

Fugi de toda magia,

Até dormi com a fantasia,

Por ordem de minha inocência!

Experimentar eu não devia,

Mas experimentei um dia.

Evitar seria mais-valia,

Mas não escapei da melancolia,

Tudo por causa da inocência!

A consciência é limpa como o dia,

O coração adornado no dia-a-dia,

A mente ornamentada com poesia

E o ser aquietado com harmonia

E robustecem-se com a inocência...


6 – A perda com os ganhos

Obtive graus e graus,

Com eles, virou minha vida um caus...

Chamam-me doutor erudito,

Por isso trovejo quando meu erro é dito,

Pois, não sou perfeito,

Mas devo parece-lo.

Proferindo bagatelas ganho galardões,

Servindo os recatados leigos como cães.

Hoje o orgulho ganha uma nova casa,

Ele morra em mim, em minha impureza.

A grandeza que me ergue não é surpresa,

Pois desde quando era um embrião,

Embriaguei-me com fantasias desta posição:

– Doutor erudito, o proprietário da certeza!


Meus amigos a mim são submissos,

No lar a voz da minha parceira inexiste,

A arrogância como orgulho persiste,

Por isso tudo que faço é sem eixos.

Sonhei acordado,

Concretizei o sonho,

Agora acordo sonhando,

Levantando o focinho

Para ser adorado

Por qual seja o vizinho.

Ganhei honra, status e notoriedade

E perdi meu ser, a paz e humildade,

Pois ando a roda buscando glorificação

Até arrastar demais simplórios ao solo da submissão.


7 – Presa da cobiça

Coração desassossegado,

Coração mal-educado,

Coração mal-afortunado,

Coração do pecado ou coração do pecador?

Mente inquieta,

Mente incompleta,

Mente da concupiscência,

Mente da indecência,

Mente do pecado ou mente do pecador?

Mente e coração,

Congruente combinação,

Ingredientes para perdição,

Ingredientes para salvação.

São caçadores e caça,

Caçam a vida mas são caçados pela cobiça.


8 – Nada sabemos do que podemos saber

Chama-me ignorante ou burro,

Leigo, tolo ou imaturo.

Despreze-me pelo meu não saber,

Esnobe-me até morrer,

Face o que lhe apetecer

Para me provar o teu saber,

Mas saiba que nada sabemos do que podemos saber.

Não conhecemos nem uma vírgula

Do extenso livro do universo;

O conhecimento é uma víbora

Que nos envenena com o progresso.

Erramos saber,

Precisamos renascer,

Amar o saber,

Sem procurar o prender.


9 – Quando a morte chegar

Quando a morte decidir chegar

Quero estar inteiramente pronto,

Não quero estar vivendo em pranto,

A quero receber, saudar e abraçar.

Sem surpresa, nem espanto,

A abraçarei eternamente,

Desde que traga a vida que espero tanto,

Aquela que venho garimpando na mente.

Ela vai...,a morte, vai sempre chegar.

Mas a vida a estará a acompanhar?

Não sei! Mas devia...,

Pois a desejo para viver

Num espaço em que não haja o sofrer,

Mas a mais bela harmonia

Descrita pela divindade.

Enfim, a quero como iguaria da felicidade.


10 – Sentimentos por sentido

Minha recatada visão irradia torpe excitação,

Lançando um bando de concupiscências ao coração

Que salteia a serenidade com ébria emoção

E asfalta rotas neuronais com depravação.

Minha audição é arremessada à globalização,

Apedrejada com hedionda informação,

Oriunda dos horrendos matagais da imaginação

Que levam aos liberais caminhos da perdição.

Meu olfacto inflama com a prole da poluição

Que vagarosamente devora a criatura e a criação

Como um vulcão que expele a contaminação

Por gases fugitivos de cada súbita explosão.

O paladar degusta dissabores da estupefacção,

Enquanto as glândulas salivares detém a deglutição

De entorpecentes que semeiam a humilhação

Diante da maratona ininterrupta de socialização.


Tacteio substâncias que subitamente excitam a prestação

No palco da existência com abusiva e fugaz duração.

Meu corpo exala prazer de sensação a sensação

Até sentir-me excluso da tripulação da salvação.


11 – Quero ser eu

Alucinado pela extravagância do artista

Inalo a fragrância da arte na escrita.

Hipnotizado pela literatura infinita

Mergulho num mar de prazer que me agita.

No estúdio da mente promovo mesas redondas,

Onde aqueço debates como num micro-ondas.

Em meio a ondas de incompreensões

– Remo nos mares de mesclas emoções.

Desenho minha perspectiva imparcialmente,

Mas não a revelo para não bombardear-me a mente

Com ideias incongruentes em cada fim,

Até que me torne mais confiante de mim.

Louco ou lúcido quero ser eu,

Fazer da minha alma um museu

Que conserva a raridade da paz e humildade

Coleccionando relíquias para minha personalidade.


12 – Prefiro ser eu

Saboreei o prato da sociedade e fiquei enjoado.

Tento encaixar-me, mas sinto-me deslocado,

Deslocado dos quebra-cabeças da teia social,

Pois me aborrece ser um tipo normal.

A pressão é forte,

Querem-me fazer alinhado,

Reduzido a um estereótipo,

Mas eu prefiro a morte

A ser um experimento robótico.

Luto para ver se consigo

Ser uma fortaleza de abrigo

Que me protege do inimigo com ideias radicais,

Que na verdade é um amigo


Me atraindo para o reino dos normais.

Mas não sinto prazer em ser normal,

Prefiro ser eu, pois identidade própria é substancial.


13 – A vida na bandeja

Agarro os talheres e me atiro ao banquete;

Eis na mesa mais um combate,

Confeccionado pela chefia do destino,

E servido nas mãos da magia do quotidiano.

Regozijo na mesa servida

E debruço-me do cardápio do dia,

Observando os pássaros e sua eufonia

Sincronizada na harmonia assobiada.

Cantarolo intrépidas melodias,

Degustando o sabor dos raios solares,

Que incendeiam a fadiga e servem euforia

Que exila nódoas de preguiça e pesares.


14 – O Meu Temor

Temo o palco de atrocidades que me destroça a alma,

Localizado nos corredores do mundo em chamas

Que debelam ninhos da moralidade nas almas humanas,

E arrastam vestígios de humildade e estima.

Temo o redemoinho de apologia à orgias na mídia,

Desvenerando princípios que amam limpeza íntima

Do ser que a cada dia conspurca-se na lama

Que mais parece a mais confortável cama,

Pois em invernos existenciais lá se deita e infama

Avenidas do espírito que se prostra e clama:

– Temo ser devorado pelas feras sociais

Que me rodeiam com garras de informação inútil,

E namoram-me a tornar-me ninharia fútil

Sem as belas douradas balizas morais.


16 – Desespero

Minha alma nada em mares de aflição.

Em minha mente reside inefável confusão

Que mal se exprime em palavras;

Como o cansaço após lavras.

Meu coração está cansado de ser meu,

Pois vem se queixando das minhas faltas,

As quais me empurram para maratonas sem apogeu

E criam barreiras emocionais para as minhas metas.

Minha boca tampouco se profere sobre mim

Mas a mente morre de vontade de bradar sem fim,

Nela vive vasta teoria que cada dia morre atrofiada

Por faltar-lhe um ouvido camarada.

O meu conhecimento me julga

E o meu comportamento se embosca

Em rotas do quotidiano que a vida periga,

Assim, meu carácter aceleradamente se conspurca.


17 – Rendição

Quando vi-te resisti àquele sentimento,

Pensara que dominaria o pensamento

Que gritava que tu és parte de mim,

Desde o momento em que ti vi.

Hoje me rendo aos seus encantos hipnóticos

Que me entorpecem, igual a psicotrópicos,

Fazendo-me perder os sentidos e a razão,

Mergulhando-me em rios de intensa paixão.


18 – Matriz das relações

O covil de bajuladores sustenta meus amores

Sobre louvores de pragas com imundos odores

Poluindo cada passo dado

Sendo obrigado a ser o que não sou

De modo que pelo mundo seja aplaudido

Em prol de um nojento show

Tenho que estar cego e mudo

Com cada olho bem aberto

E cada ouvido estendido e bem atento

Algo me corrói por dentro

E me serve um grande espanto:

– Sou impelido a conviver com falsos,

Condicionando a extensão de laços

Com semblantes vis

Que me arrastam aos mais toscos confins.


19 – De costas para mim mesmo

O vento sopra, abanando o meu pensar.

O pensamento estupra o meu falar

Que mantém-se intimidado pelo pesar

Das circunstâncias a se desenrolar

No teatro da existência intrigante

Que devia estrear uma peca interessante.

Mas ao contrario, se torna um terror apavorante

Que me serve dor de instante em instante.

Um nó na garganta torna-se desestimulante,

Desoxigenando por inteiro o meu semblante,

Tornando inevitável a percepção do meu mau estado

Que se encontra num estágio avançado.

Antes era tido como "estranho retraído",

Hoje, bem se enquadra "retraído e isolado".

Na verdade nem sei o que me tem fustigado

Mas cada vez mais, menos me se sinto amado


Diria que pareço fortemente amaldiçoado

Pois sem nenhum motivo justificado já acordo abatido

Saio a rua e certifico que não sou notado

Tento ser extrovertido

E evidencio estar frustrado

A voz estremece, como efeito de um desastre

Afirmo: Sou um nada com o vazio como mestre

Dou continência a timidez em posição de chefe.

Afirmar ser livre rotula-se como blefe

Pois facilmente sou preso pela circunstância

Que condena toda minha experiencia

Num calabouço de miséria e dependência,

Tornando a luxúria uma tendência

Que por dentro se constrói

Quando um mau sentimento me corrói.

Tento ser forte, fingindo que nao doi

Mas, substituo-me por tudo que me destroi


Virando-me de costas a quem eu sou,

Ornamento desejos que fazem meu show

Vivo na imaginação e nunca nada faço

Para alem do compromisso sem real espaço

Porque penso e nunca concretizo

E muito antes do Dilúvio me agonizo


20 – Silêncio da noite

O tenebroso silêncio da noite arrasta a minha sorte

Em direcção ao precipício, horizonte do iníquo,

Fonte do abismo da morte.

O coração bate forte,

Fortemente endurecido tal à haste,

Formigando um contraste em paralelo a virtude.

O sentimento é intenso,

Completamente propenso,

Caminhando avessamente.
21 – Caçador

Oh! Felicidade,

Procurei-te em solos que ate os demonios desconhecem

Muitos falam de ti

Mas cada vez mais me convenco de que poucos de ti conhecem

Oh! Felicidade,

Pensei que pudesse encontrar-te num copo de cerveja.

Tu es a joaia mais rara que todo ser humano almeja

Hoje descubro que procurei-te em esquinas erradas

Andavamos em caminhos distintos e eu em labirintos

Estava embaracado e fustigado pelas marcas do passado

Fui um estupido em acreditar que ti encontraria em noitadas

Dediquei-me a ti cacar em drogas e bebideiras

Espiava-te e ti observava de diversas maneiras

Mas nunca ti experimentava, pois o vicio é uma segueira

E a verdadeira felicidade nao se encontra na droga ou bebedeira

Nao se encontra numa montra ou simplismente numa feira


22 – Ambientalmente motivado

A expansão urbana aumenta ao mesmo nível que a ambição humana

Responsável por milhares de hectares de terra usurpados,

Ocupados sob a desordem que deixam-nos preocupados

E motivados em estancar esta realidade insana,

Que emana da espontosa ganância,

Que propaga a mantança da vegetação,

E ameaça a qualidade de nossa respiração

Deixando em retração o sonho de uma bela vivência

Regada por áreas verdes,

Que nos molham com virtudes,

Invés de actos que envergonham a juventude,

Como o unir na via púbilca, perigando a saúde.

Sim! Recai sobre o ambiente todo prejuíso,

Quando sem juíso matamos nosso pequeno paraíso, Moçambique.

Onde temosos,o transformamos numa boutique

Em que vende-se a terra a bom preço,

Sem pensar no preço do reordenamento

Para matar o desordenamento após satisfazer o bolso


23 – Não posso sobreviver

Não posso crescer e me desenvolver

Se crescer filhos do meu ventre não podem nascer

Se nascerem é uma luta para sobreviver

Agradeço cada dia que vejo o sol nascer

Pois mal posso respirar, já nem digo me sustentar

Terra saudável tornou-se difícil de encontrar

Nem não sei se é para rir ou para chorar

Só sei que poluição é uma música que todos estão cantar

Irmã flor, árvore vizinha a poluição vos roubou

Enquanto choro por vós a espera da minha vez estou

Morrerei como vós nesse pátio imundo

Se não despertaram os homens esse será o fim de todo o mundo


24 – Não mais me dão valor

Um autêntico e esmagador pavor

Surge ao ascender o ser devastador

Homem, matador, assassina-me para seu benefício

Será um malefício, alguma espécie de feitiço

Que tornar-se um indescritível vicio?

A pergunta que se coloca é porquê?

Porque não mais me dá valor, se sirvo a você

Será que esqueceu que de mim provem a madeira

Que se traduz em mobiliário, seja mesa ou cadeira

Quem é você para desequilibrar a minha família

Deixando marcas e cicatrizes dia após dia

A orquestra da beleza da natureza

Vai morrendo aos poucos que sufoco

Pouco a pouco sou arrebatado pela tristeza

Pois me arrancas do solo, seu monstro


Embriagado pelo capitalismo na face impresso

A você importa somente encher o bolso

Porém peço que ao tirar-me do convívio familiar

Coloque por gentileza uma irmã em meu lugar!

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