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APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO

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PARTE III

QUÍMICA DO SOLO

+ + + + + + + + + + + + + + contraions
Prof. Dr. H.A. De Wit ┌────────────────────────────┐
T │- - - - - - - - - - - - - - │ Tetraedros
(com pequenas modificações)
├────────────────────────────┤
O │cristal elementar de argila │ Octaedros
1. INTRODUÇÃO ├────────────────────────────┤
T │- - - - - - - - - - - - - - │ Tetraedros
└────────────────────────────┘
A química do solo é um dos ramos mais antigos e mais bem + + + + + + + + + + + + + + contraions
estudados da Ciência do Solo. É interessante notar que a química
do solo, ao contrário da química e física básica, se desenvolveu da Figura III-1 lamela de argila com
prática, principalmente em relação à nutrição de plantas, para contraions(+) adsorvidos
depois tentar ajustar esta realidade encontrada às bases
científicas. Apesar que os problemas resolvidos com ajuda da
química do solo envolvem bilhões de dólares (sem ela não seria Quando colocar esta partícula de argila em água destilada, os
possível alimentar o mundo neste momento), muitos fenómenos cations adsorvidos nas superfícies da lâmina difundirão pela água
químicos no solo ainda carecem duma explicação detalhada. Isto é sobre uma certa distância, para achar o ponto de equilíbrio entre
devido à grande complexidade do ambiente do solo em entropia máxima e energia mínima (i.e. minimizar a energia livre de
comparação àquilo encontrado em tubos de ensaio. Na prática Gibbs). Então os cations difundidos formarão uma "nuvem" de
também é impossível distinguir os limites exactos entre a cargas positivas na água em volta da partícula. O total das cargas
mineralogia, química, física e biologia do solo, pois há interacções positivas continuará equivalente ao total de cargas negativas da
múltiplas e dinâmicas. partícula de argila. Este sistema de ARGILA - / NUVEM de
CATIONS + na solução do solo chama-se "camada dupla difusa
A sequência das matérias discutidas nesta parte dos (CDD)" [Ing: Diffuse double layer] (Figura III-2).
apontamentos não segue esta cronologia. Nos primeiros capítulos
tratar-se-á a química do solo principalmente do ponto de vista da T O T
química básica. Isto providencia uma ligação com a base química ┌─┬─┬─┬───────────────────┐
da maioria dos estudantes, facilita a abstracção, ajuda a explicar │ │ │ │ + + +
│ │ │ │++ + │
muitos fenómenos naturais e possibilita efectuar cálculos derivados │ │ │ │ + ++ +
de leis básicas. Os últimos capítulos tratam mais dos aspectos │ │ │ │+++ + ++ │
práticos da química do solo, onde pode-se verificar que muitos │ │ │ │++ + +
│ │ │ │+ + + + │
problemas não podem ser resolvidos sem ajuda de relações
│ │ │ │ ++ + +
empiricamente estabelecidas; mas mesmo assim, as ciências │ │ │ │++ ++ + + │
básicas sempre servem de apoio ao raciocínio. │ │ │ │+ ++ + +
└─┴─┴─┴───────────────────┘
cargas - d ──>
Reconhece-se que muitos aspectos da química do solo ficam
sub-tratados, devido ao espaço limitado de tempo. Procurou-se
Figura III-2 Camada Dupla Difusa (d) e
então destacar alguns aspectos extremamente importantes para a
distribuição dos cations com
agricultura Moçambicana: a salinidade e a sodicidade.
valências diferentes

Os cations na CDD estão distribuídos conforme a lei de


2. INTERACÇÃO ENTRE A FASE SÓLIDA E A FASE LÍQUIDA Boltzmann:

Neste capítulo trata-se da interacção entre a solução do solo c = c0.e-ze.Ψ/kT (1)


e a componente activa da parte mineral da fase sólida: a argila com
(porque a argila?). c, concentração do cation num ponto definido na CDD, a certa
distância (d') da lâmina de argila;
c0 = concentração do cation fora da influência da CDD (distância ≥
2.1 Camada dupla difusa e capacidade de troca catiónica d), i.e. onde a concentração de cations é equivalente à
concentração de anions (em meq.ml-1) na solução de solo;
Como já foi mencionado no capítulo 1.3.3, os minerais de ze = carga do ion,
argila têm uma certa quantidade de cations adsorvidos nas suas ψ = psi = potencial do campo eléctrico naquele ponto (=0 fora da
superfícies, cujas cargas positivas compensam a carga negativa influência da CDD (distância = d); e tem valor negativo perto
permanente do mineral. Estes cations chamam-se contraíons da superfície da lâmina de argila);
(Figura III-1). kT = energia térmica-cinética do ion.
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N.B.: a fórmula não tem significado no caso que c0= 0 (água Por exemplo, para uma argila de montmorilonita com S=800 m2.g-1
destilada). e Γ(montm.) = 10-7meq.cm-2, achamos
Esta equação descreve como a concentração dos contraíons
(+) diminui quando o potencial eléctrico se aproxima mais de 0 (i.e. γ(montm.) = S.Γ = 8.106.10-7 = 0.8 meq/g
quando a distância da lâmina aumenta; Figura III-2). Cations = 80 meq/100 g de argila.
bivalentes (p.e. Ca2+) ou trivalentes (p.e. Al3+) ficam mais perto da
argila enquanto os cations monovalentes (p.e. Na+) ficam mais Qual é o significado da palavra "troca" neste contexto? Indica
afastados. Os cations 2+ e 3+ são atraídos com maior força do que que os contraíons presentes (= cations adsorvidos) podem ser
os cations monovalentes porque a atracção, de natureza trocados por outros cations em quantidades (cargas) equivalentes.
electrostática, é determinada pela lei de Coulomb.
Na Figura III-3 as superfícies abaixo das curvas c(Na+) e
2+
Com o uso da equação de Boltzmann pode-se calcular a c(Ca ) representam o valor de Γ da argila quando a carga total é
concentração dum contraíon (+ ou 2+) no campo eléctrico em volta expressa em meq/cm2 da superfície do mineral de argila, ou a γ
da lâmina de argila, quando a função de ψ com a distância e o quando a carga é expressa em meq/g de argila.
valor de c0 são conhecidos. Figura III-3 mostra isto graficamente.
O método para o cálculo da superfície específica de
partículas de dimensões diferentes é tratado nas aulas práticas.

Cca2+
Na Figura III-3 as concentrações dos ions Na+ e Ca2+-
adsorvidos diminuem para c = c0 ≈ 0 às distâncias OA e OB
C respectivamente. Consideramos agora o seguinte sistema
simplificado: argila - ions Na+ adsorvidos - solução do solo com
concentração de NaCl=c0>> 0 (veja Figura III-4). A concentração
de Na+-adsorvido diminui gradualmente com a distância da lâmina
de argila até o nível de c0 (Na). A distância d, da extensão da CDD
é menor do que na situação com c0 ≈ 0 (Figura III-2). Usando a
CNa+ fórmula de Boltzmann (eq.1) pode-se mostrar que a extensão da
CDD diminui com o aumento da concentração de sais. No sistema
d da Figura III-4 também ocorrem anions, cuja concentração está
O B A
indicada pela curva c (Cl-). A concentração dos anions diminui com
+ 2+ a aproximação da superfície de argila, pois a carga negativa das
Figura III-3 Concentrações de Na e Ca na
partículas de argila "expulsa" anions. Este fenómeno chama-se
CDD em relação com a distância
"exclusão de anions" [Ing: anion exclusion].
(d) da lâmina de argila
Como interpretar isto em relação à CTC (γ)? A CTC = γ
A concentração de Na+ torna-se aparentemente igual a c0 no representa a superfície entre as curvas de c (Na+) e c (Cl-). A
ponto A (distância OA é a extensão máxima da "nuvem" de ions Figura III-5 mostra isto graficamente.
Na+); O ponto B indica a distância onde c (Ca2+) = c0.
Matematicamente: CTC = γ (cations) = Σ(cations) - Σ(anions).
Parece que a distância OA = 2OB, o que significa que os
ions Na+ ficam duas vezes mais afastadas da superfície da lâmina A situação para o sistema argila - Ca2+ads - solução do solo
de argila do que os ions Ca2+. As superfícies abaixo das curvas c com CaCl2 é, em princípio idêntica, mas a distância d' é apenas a
(Na+) e c (Ca2+) na Figura III-3 representam o total das cargas metade da distância d para o sistema com Na+.
negativas da lâmina de argila. Esta carga negativa total é Pode-se concluir que a extensão da CDD e a distribuição dos
compensada pela quantidade equivalente de cations, sendo a cations adsorvidos dependem de:
soma de ions de Na+ e Ca2+ na camada dupla difusa. (a) a valência dos cations adsorvidos (ze); cations monovalentes
Capacidade de Troca Catiónica (CTC) difundem sobre uma maior distância da lâmina de argila do
que cations 2- ou 3-valentes.
Se um material (argila) tiver uma carga negativa = Γ meq.cm-
2
na sua superfície, e uma superfície específica de S cm2.g-1, a (b) a quantidade de sais e o teor de água no solo (determinam a
carga total será de Γ*S meq.cm-2 * cm2.g-1 = S.Γ meq.g-1. concentração de sais na solução do solo = c0); maior
N.B. Γ = gama (maiúscula, grega). concentração de sais livres resulta numa redução da
Esta carga total é igual à Capacidade de Troca Catiónica (CTC), e extensão da CDD.
é indicada pela letra γ (gama minúscula, grega). O valor de γ é (c) o tipo de mineral de argila (preferências para certos
expresso em meq/100g ou, recentemente, como cmol (+).Kg-1 cations; o valor de ψ depende da densidade de cargas);
(numericamente iguais).
É interessante considerar mais detalhadamente o efeito do
Portanto: γ = S.Γ. (2) teor de água no solo porque é uma característica muito dinâmica
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(muda ao molhar por irrigação ou precipitação; e ao dessecar por
drenagem e evapotranspiração).

Nesta situação, duma CDD truncada, não existe uma


solução electroneutral no solo (contudo, o sistema total de argila e
solução de solo permanece electroneutral!). A água no solo contém
+ mais cations do que anions. Ao adicionar água a este sistema a
C C (Na )
CDD se desenvolverá até a extensão teoricamente atingível. Esta
expansão da CDD está acompanhada duma pressão de expansão
que depende do grau de limitação da CDD, e que pode até
exceder dez (10) bares. Mais cientificamente: A pressão de
Co Co (NaCl) expansão do sistema solo-água depende da relação entre a
extensão potencial e a extensão actual da CDD.
-
C (Cl )

d
+
Figura III-4 Sistema argila – Na - ion
adsorvidos e solução do solo com
2
concentração de sais livres (NaCl) = Co
C
Consideramos a situação extrema, quando o espaço em
volta das partículas não seja limitante para o desenvolvimento da
CDD. Na prática esta situação ocorre quando o material está 1
disperso numa suspensão. Num solo saturado com água a CDD
também pode-se desenvolver bem. A parte da água fora da
influência da CDD é electroneutra e contém sais "livres" na Co
2 1
concentração c0.

A Tabela III-1 apresenta alguns exemplos para a extensão


da CDD para vários sistemas. d’ d

Tabela III-1 exemplos para a extensão da CDD


Figura III-6 CDD em dependência da humidade
Situação (1): CDD desenvolvida completamente
Ion adsorvido Concentração Espessura potencial (d)
(N) da CDD (Å) Situação (2): CDD de extensão limitada (d’) ou
CDD “truncada”
Na 0.001 400
Na 0.100 40
Ca 0.001 200 Como é a situação actual (no campo)?
Ca 0.100 20 Vamos supor um solo com teor de água W = 0.5 cm3.g-1 e super-
fície específica S = 100 m2.g-1 (= 106 cm2.

Se o solo não estiver saturado com água, a lâmina de água O valor médio da espessura, d, da "camada" de água que se
em volta das partículas em geral não terá uma espessura suficiente encontra em volta das partículas da fase sólida pode ser calculado
para o desenvolvimento completo da CDD: a CDD ficará truncada. como:
A Figura III-6 mostra esta situação.

A B C

C
Co Co Co
∑ (Cat)

∑ (ani)

CTC = γ (cations) = ∑(cations) - ∑(anions)

Figura III-5 Relação entre CTC, cations adsorvidos e deficiência de anions.


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CTC = (3.40 + 22.12) - 0.28 = 25.24 meq/100 g solo

Para estimar as quantidades de Na+ e Ca2+ adsorvidas


6 3 2 -7
W = S.d ──> d = W/S = 0.5/10 cm /cm = 5.10 cm = 5 nm = 50 Å (respectivamente Naads e Caads) calcula-se o excesso dos cations (e
anions) num sistema CDD-solução de solo com c0.
Na realidade a água não está distribuída homogeneamente Definição: O excesso dum cation adsorvido (= γ+(cat)) é a
sobre as partículas, por causa da complexidade geométrica dos quantidade deste ion em excesso da quantidade esperada na
poros. Contudo, este cálculo dá uma indicação geral da extensão solução do solo se não houvesse complexo de troca. Figura III-7
da CDD. Comparando estes dados com as indicações na Tabela mostra isto graficamente.
III-1, verifica-se que, se a solução do solo tiver uma concentração
de sais pequena, uma camada de água no solo de 50 Å implica Estes excessos podem ser calculados da seguinte maneira:
uma CDD truncada. O teor de água W é 0.6 cm3.g-1 (= 60% peso).
100 g de solo seco contém 100.W.c0(n) meq de sais livres do
2.2 Influência da CDD no comportamento físico-químico do ion n com c0(n) em N = meq.ml-1 = eq.l-1.
solo Empregando os valores mencionados de c0 e Σ, e aplicando
a definição acima:
(1) Expansão dos agregados ao humedecimento, γ+(Na) = Σ(Na) - 100.W.c0(Na) =
nomeadamente quando há uma quantidade elevada de sódio 3.40 - (100*0.6*0.006) = 3.04 meq/100 g de solo;
trocável (adsorvido no complexo de troca), e em solos com γ2+(Ca) = Σ(Ca) - 100.W.c0(Ca) =
minerais de argila expansíveis. A expansão do material do solo é 22.12 - (100*0.6*0.001) = 22.06 meq/100 g de solo.
responsável pela diminuição da conductividade hidráulica γ-(Cl) = Σ(Cl) - 100.W.c0(Cl) =
(permeabilidade). 0.28 - (100*0.6*0.007) = -0.14(!) meq/100 g de solo;
(2) Degradação da estrutura pela dispersão das partículas;
também aumenta com a % de Na-trocável. Este fenómeno é usado Portanto, há um "excesso negativo" = deficiência de ions de
para a análise textural do solo, para separar lâminas de argila. cloreto. Esta deficiência é causada pela exclusão de anions pelo
(3) Absorção de nutrientes pelas raízes. A planta precisa gastar complexo de troca, que também tem carga negativa. A deficiência
mais energia para absorver cations adsorvidos na CDD por causa de anions γ- é calculada como:
da maior pressão osmótica.
(4) "Efeitos especiais" nas propriedades químicas do solo, γ- = W.c0(an) - Σ(an) (valor positivo!) (Veja Figura III-8)
relacionados com o fenómeno da exclusão de anions (veja capítulo
3). A soma do excesso de cations e a deficiência de anions
(valor positivo) produz o valor total de γ, a CTC:

2.3 Exemplos de cálculos CTC = γ = γ+(Na) + γ2+(Ca) + γ-(Cl)


= 3.04 + 22.06 + 0.14 = 25.24 meq/100 g solo
Duma amostra de terra, saturada com água; com teor de
água W = 0.6 cm3.g-1 é extraída a solução livre. Uma outra amostra O laboratório normalmente determina a CTC e cations
de 100 g do mesmo solo é percolada com um excesso de uma trocáveis e, as vezes, a quantidade de sais solúveis,
solução de NH4OAc (acetato de amónio). Os resultados das nomeadamente se o solo for salino. Num extracto ou percolado
análises de ions no extracto saturado (c0) e no percolado são (além para os cations trocáveis encontram-se os totais de cations Σ(Ca),
de NH4+ e Ac-): Σ(Na) etc. Os sais livres são determinados no extracto saturado ou
Σ(Na+) = 3.40 meq/100g c0(Na) = 0.006 N diluído. As quantidades de cations livres (sais) podem ser
Σ(Ca2+)= 22.12 meq/100g c0(Ca) = 0.001 N calculadas por 100 g de solo. Na maioria das vezes a soma dos
Σ(Cl-) = 0.28 meq/100g c0(Cl) = 0.007 N anions, Σ(an), não é determinada; neste caso é necessário calcular
Σ(an) para corrigir para o fenómeno da deficiência de anions nos
Resultados de Σ já estão convertidos para meq por 100 g de solo. cálculos das quantidades de cations adsorvidos (γ+(Na), γ2+(Ca)).
Não há outros ions no sistema do solo.
Em solos não-salinos, como no exemplo do cálculo, as
Questões:(A) Calcule a capacidade de troca catiónica (CTC) do quantidades de cations e anions livres por 100 g de solo são
solo. pequenas e praticamente desprezíveis. No exemplo de cálculo o
(B) Estime as quantidades adsorvidas de Na+ e Ca2+, i.e. valor de γ-(Cl)só forma 0.55% do valor da CTC, o que é bem dentro
γ+(Na) e γ2+(Ca). dos erros de determinação (5%).
Por esta razão pode-se estimar na prática a CTC com base na
(A) Nas páginas anteriores vimos que a solução livre do solo é soma de bases trocáveis:
electroneutra. Então, a concentração de anions equivale à
concentração de cations (em eq.l-1). A CTC é igual à diferença CTC = γ ≈ γ+(Na) + γ2+(Ca) ≈ Σ(Na) + Σ(Ca) ,
entre a soma dos cations no sistema e a soma dos anions (veja a
Figura III-5):
CTC = γ = Σ(cations) - Σ(anions), portanto,
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supondo que no sistema considerado só ocorrem os cations de Na
e Ca, o solo não é salino e não contem calcário (CaCO3) e/ou
gesso (CaSO4.2H2O)(porquê?).

A B C

C γ+ (cati)
Co Co Co
∑ (Cat)
W.Co(Cat)

γ+ (cations) = ∑(cati) - W.Co(Cat)

Figura III-7 Cálculo do excesso de cations

No caso de solos salinos há uma situação diferente. Nesta situação 2.4 Alguns dados da prática
a γ- (anions) excede 5% e a Σ(cations) (= cations adsorvidos mais
cations "livres") excede muito a soma dos "excessos" de cations: Convencionalmente a CTC (=γ) é expressa em meq/100 g
de solo, ou, mais recentemente, em cmol(+)/kg de solo
γ+(cat) = Σ(cat) - W.c0(cat) < Σ(cat) - Σ(an) (numericamente iguais). A CTC depende principalmente dos teores
de argila e de húmus (matéria orgânica) e da mineralogia da argila.
A diferença é γ-(an), que não é desprezível neste caso! Para Em solos tropicais com clima húmido os hidróxidos de Al e Fe
calcular as quantidades dos cations adsorvidos é necessário formam um componente importante do complexo de troca. Solos
calcular (se a CTC for conhecida) ou determinar (se a CTC não for argilosos cujo mineral principal é montmorilonita podem ter CTC
conhecida) a soma dos anions, Σ(an), no sistema. maior que 50 meq/100 g. Solos arenosos são normalmente pobres
e a CTC depende principalmente do teor de matéria orgânica.
A presença de calcário e/ou gesso no solo (salino ou não Solos arenosos com 1 a 2% de C-orgânico têm uma CTC de 3 a 6
salino) causa complicações adicionais na determinação da meq/100 g de solo. Solos com mineralogia dominada por caulinita
quantidade total de cálcio no solo, porque estes sais são extraídos e sesquióxidos apresentam valores de CTC da mesma grandeza.
em quantidades geralmente desconhecidos durante a percolação Nestes solos a CTC depende muito do pH por causa da presença
da amostra com extratante (acetato de amónio). de minerais com cargas variáveis (caulinita e Fe, Al-hidróxidos;
Vide Parte I).
Nota-se que, no primeiro exemplo, a concentração de sódio na
solução do solo era 6 vezes maior do que a concentração de Valores indicativos da distribuição de cations adsorvidos no
cálcio. No entanto, a quantidade de cálcio adsorvido no complexo complexo de troca são:
de troca era muito maior do que a de sódio. Este fenómeno está
relacionado com as leis de troca. O complexo de troca mostra γ+(H,Al) + γ+(Ca) + γ+(Mg) > 90% da CTC e
preferência para cálcio sobre sódio. Há três causas para isto: γ+(Na) + γ+(K) + γ(NH4) < 10% da CTC
(1) a valência do ion;
(2) o complexo de troca tem preferência para o cálcio; Em solos ácidos (pH<5): γ+(H,Al) > 50% da CTC.
(3) a concentração de sais na solução do solo é baixa. Solos com pH elevado (pH>8.5) geralmente tem percentagem de
sódio trocável maior que 15%.

A B C

C
Co Co Co Co

γ- (ani) W.Co(ani)
∑ (ani)

γ- (anions) = W.Co (ani) - ∑ (ani)

Figura III-8 Cálculo da deficiência de anions


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Figura III-9 mostra a relação (indicativa) entre o pH e a distribuição Quando se sabe d-(Å) e a superfície específica
de cations no complexo de troca. (S = 55.5 m2.g-1 = 55.5 104cm2.g-1), pode-se calcular o volume sem
Normalmente γ+(Mg) varia entre 0.1 e 0.2 γ+(Ca). Em certos solos sais livres (V-) como:
tropicais esta relação pode estar em torno de 1.0.
V- = S.d- = (55.5*104) * (36*10-8) = 0.1998 cm3/g solo ≈ 20%

0 Com uma humidade de 0.6 cm3/g solo (60%), 1/3 da água


Na + K neste sistema não contém sais livres. É uma parte importante!
15%
20 H + Al
Questão: Controle o valor de S=55.5 m2.g-1 a partir dos
valores de d-(an), c0(an) e γ-(an)=0.14 meq/100g solo
40
%
A Tabela III-2 mostra valores de V- e γ- para sistemas
60 Ca + Mg
diferentes com uma extensão completa da CDD. Verifica-se que o
volume de exclusão (V-) no solo é maior sob concentrações baixas
80 de c0 em sistemas com percentagens elevadas de argila com
80% superfície específica grande (p.e. montmorilonita) e em presença
de cations monovalentes (Na!). Porém, a deficiência de anions (γ-),
100 pH expressa em porcentagem da CTC (γ) ou em meq/100 g, é maior
Figura III-9 Relação indicativa entre o pH do se a concentração de sais livres no sistema for elevada (solos
solo e a distribuição de cations no salinos!).
complexo de troca
I: solo ácido 3.2 Alguns efeitos de exclusão de anions
II: solo normal
III: solo alcalino (sódico) 3.2.1 Diluição da solução do solo

3. ANIONS NO COMPLEXO DE TROCA Ao diluir a solução do solo com água, a concentração de sais
livres diminuirá mais que proporcionalmente. Por exemplo, fazendo
3.1 Princípios da exclusão de anions uma diluição de 2x (adicionar a mesma quantidade de água, W,
que à que já está presente no sistema); o novo teor de água será
A exclusão de anions é determinada só pelas forças de 2W.
electrostáticas. O raio do ion não importa como no caso de cations. I II
Por conseguinte, a distribuição dos anions na CDD corresponde
C
com aquela segundo a lei de Boltzmann (veja Cap. 2.1). É possível
calcular e indicar a "distância efectiva" (d-) de exclusão de anions
num sistema: veja Figura III-11.

C+
Usando a formula de Boltzmann pode-se deduzir:

q
d − (an) = +
*Å γ+
z . ∑ Co
Co Co
em que γ-
d- = distância efectiva em Å (= 10-10m = 10-8cm) ∑(an)
q = constante ≈ 6
z+ = valência do dominante cation adsorvido d- d 2d
Σ(c0)= normalidade total da solução de solo (= c0(an))
Figura III-10 Efeito da exclusão de anions
Para o sistema tratado (exemplo de cálculo) pode-se agora na diluição de sais
calcular:
d-(an) ≈ 6/2._ 0.001+0.006 ≈ 35.85 ≈ 36 Å; Na Figura III-10, as distâncias d e 2d representam os
volumes W e 2W respectivamente; d- corresponde com W-, o
Esta camada é muito delgada! É claro que com base nesta fórmula "volume efectivo" da zona de exclusão de anions. Os sais livres
as concentrações mais elevadas de sais livres e na presença de ocupam o volume (W - W-). Agora o volume W é adicionado. Então
cations divalentes a distância efectiva de exclusão deve ser menor. os sais livres serão distribuídos pelo volume W + (W - W-) = 2W -
Quando há cations monovalentes (Na!) e uma concentração baixa W-, o que é maior que duas vezes o volume (W - W-) = 2W - 2W-.
de sais livres temos o oposto. Consequentemente a diluição de sais livres será efectivamente
mais que duas vezes.
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A B
C
C

Γ+

Co Co Co Co

Γ-
∑ (an)

d- d- d-

-
Figura III.11 Distância efectiva da exclusão de anions (d )
- -2
A – distância efectiva (d ); cargas em meq.cm
-
B – posição de d ; superfícies marcadas têm áreas iguais;
C – parte do sistema que contém “efectivamente” os sais livres.

3.2.2 Concentração de sais livres no extracto obtido Consequentemente, a concentração de sais extraídos com a solu-
por pressão ou sucção ção também diminuirá. Nota bem que a concentração de cations na
solução extraída sempre será igual à concentração de anions
Se a quantidade inicial de solução no sistema da Figura III- (solução electroneutra!).
12, situação I for reduzida até a situação II, por sucção ou pressão,
a concentração de sais no extracto será inicialmente igual a c0.
Prolongando a extracção, até depois do ponto A, a concentração 3.2.3 Filtragem de sais livres
de anions diminuirá seguindo a curva c-.
O transporte de água no solo acontece através dos poros. Num
II I solo argiloso as paredes dos poros finos têm uma carga negativa, e
C
boa parte dos poros estará dentro da CDD. A Figura III-13 mostra a
situação em que uma parte considerável do poro (ao longe da sua
parede) é ocupada pela zona de exclusão de anions. Moléculas de
água podem passar livremente pelo poro (diâmetro R), mas os
anions (e por consequência os sais livres) só podem passar sem
nenhuma "obstrução" pela parte com diâmetro R'.
Consequentemente água salina passando através duma coluna de
C+
argila sairá menos salina.

3.3 Adsorção de anions


Co
A exclusão de anions pode ser considerada como adsorção
negativa de anions. Também existe adsorção positiva de anions,
que constitui a capacidade de troca de anions (CTA). Esta
adsorção ocorre aos sítios de carga positiva nas margens de
C- lâminas de argila e nas superfícies dos hidróxidos de ferro e
A=d alumínio sob pH baixo. Há diferenças entre a adsorção positiva de
d- anions e cations pelo complexo de troca:

FIGURA III.12 Efeito da exclusão de anions (a) Na maioria dos solos a CTA é muito menor que a CTC (CTA =
na concentração de sais em extracto por 1-5% da CTC). Em solos ricos em hidróxidos e caulinita isto pode
sucção ser diferente. Em casos extremos a CTA pode mesmo ser maior
que a CTC.
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
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Tabela III-2 V-(an) em cm-3/100g e γ-(an) em meq/100g, (entre parêntesis) para sistemas com extensão completa da camada
dupla difusa
-3
10 N NaCl 10-2N NaCl 2.10-2N CaSO4 10-3N NaCl

50% ilita 160 50 25 16


S=80 m2/100g (0.16) (0.5) (0.25) (1.6)
γ=25 meq/100g

50% ilita 80 25 12 8
S=80 m2/100g (0.08) (0.25) (0.12) (0.8)
γ=12 meq/100g

100% montmorilonita 1600 500 250 160


S=800 m2/100g (1.6) (5) (2.5) (16)
γ=100 meq/100g

Fase sólida =
R parede do poro

solução do
C+ solo
C+

d- R’ d-
Co
C- C-

R’
d- d-
(V-) (V-)

R R

Poro Poro
(Vista longitudinal) (Vista transversal)

Figura III.13 Efeito de filtragem da exclusão de anions

(b) A CTA depende muito do pH do solo e da concentração de sais 4. EQUAÇÕES DE TROCA DE CATIONS
livres. Sob condições de concentrações elevadas de sais livres ou
pH baixo ocorrem mais cargas positivas nas margens de argila. 4.1 Equações para sistemas homovalentes e heterovalentes

(c) Há casos de preferência muito forte para certos anions.


Notavelmente SiO44- e PO43- são adsorvidos com grande prefer- Numa situação de equilíbrio no sistema solo-água existe
ência. O mecanismo de ligação de anions pode também ser quím- uma relação específica entre os de cations no complexo de troca e
ica, enquanto a adsorção de cations envolve predominantemente os na solução do solo (c0). Para sistemas com apenas cations da
forças electrostáticas. mesma valência (homovalentes) achou-se empiricamente uma
relação linear entre quantidades adsorvidas e na solução livre, para
Ordem de preferências: SiO44- > PO43- >> SO42- > Cl-, NO3- um intervalo bastante grande de pH e c0:

+
Na presença de SiO44- e/ou PO43- outros anions não serão adsor- γ (1) c0(1)
vidos. Em solos com alto teor de caulinita, sesquióxidos ou ────── = K1,2 ────── em que
+
alofanos uma grande parte dos fosfatos aplicados como fertilizante γ (2) c0(2)
pode ser retida de tal maneira que não fica disponível para as
plantas. Este fenómeno chama-se fixação de fósforo (Ing.: (1) = cation 1; (2) = cation 2;
phosphate fixation). K1,2 = uma constante (factor de preferência, veja mais
adiante);
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
38
Exemplos de sistemas homovalentes: Li < Na < K ≈ NH4 < Rb < Cs (cations monovalentes)
e
- Um sistema com apenas Na+ e K+: Mg < Ca < Sr < Ba (cations bivalentes)

+
γ (Na) c0(Na) O cation trivalente mais comum em solos é o alumínio (Al). Este ion
────── = KNa,K ────── é mais preferido que os cations acima indicado. O H+-ion
+
γ (K) c0(K) (monovalente!) é comparável com o Al3+-ion neste respeito.

- Um sistema com apenas Ca2+ e Mg2+: Os valores do constante de preferência (K) para sistemas
2+
γ (Ca) c0(Ca) diferentes devem ser determinados empiricamente, i.e. com base
─────── = KCa,Mg ────── em experimentos. A Tabela III-3 mostra valores indicativos de K
2+
γ (Mg) c0(Mg) para vários sistemas e dois tipos de argila.

Nota-se que a constante K não tem dimensão; seu valor é Exemplo: Podemos calcular KG usando os dados do modelo de
independente das unidades usadas para expressar γ e c0. cálculo discutido no parágrafo 2.3:

Situações homovalentes não ocorrem em solos naturais. γ+(Na) = 3.04 meq/100 g; c0(Na)=0.006 N =0.006 mol/l
Mais interessantes são os sistemas heterovalentes, i.e. com γ2+(Ca)=22.06 meq/100 g; c0(Ca)=0.001 N =0.0005 mol/l
cations de valências diferentes; especialmente aqueles com Na e
Ca. Para sistemas com apenas cations monovalentes e divalentes Substituindo estes dados na equação de Gapon:
achou-se empiricamente o seguinte tipo de equação:
γ+(Na)/γ2+(Ca) = KG.[c0(Na)/c0(Ca)1/2]
+
γ (1) c0(1)
─────── = KG ─────── em que Tabela III-3 valores indicativos de K1,2
√c0(2)
2+
γ (2)
montmorilonita Ilita
(1) = cation 1, monovalente; (2) = cation 2 (divalente);
K/Na 4 6 ou mais
KG = uma constante;
K/Ca 1.2 4
Na/Ca 1 0.5
Por convenção expressa-se γ em meq/100 g de solo e c0 em
Ca/Mg 1 1.2
Mol/l. Portanto, KG tem dimensão [concentração] -1/2, e deve ser
H/Ca - 6
expresso em (l/mol)1/2.
3.04/22.06 = KG.[0.006/_0.0005] = KG.[0.26832]
O valor da constante KG depende (1) do tipo de argila e (2)
dos raios hidratados dos cations envolvidos, e pode ser consi- 0.1378 = 0.26832.KG ══> KG = 0.51 ≈ 0.5
derado como um factor de preferência para um cation em compa-
ração com o outro pelo complexo de troca. Esta constante na Comparando este valor com a Tabela III-3, pode-se verificar
equação de troca heterovalente chama-se constante de Gapon e a que o tipo de argila pode ser ilita.
equação: equação de Gapon (segundo Gapon, cientista que
propôs esta equação).
4.2 Mudanças no conteúdo de cations na solução do solo e no
A relação c0(1)/_c0(2) chama-se muitas vezes de razão complexo de troca
reduzida (Ing: reduced ratio).
Com ajuda das equações de troca apresentadas no
N.B: Não confunda a constante K com o símbolo K de potássio! parágrafo anterior também podemos estimar o efeito de mudanças
na composição da solução do solo sobre os cations adsorvidos.
Se as concentrações dos cations na solução do solo - c0(cat) - Diferentes causas/tipos de mudanças na composição química da
forem dados em normalidade (N = Equivalentes/l) a equação de solução de solo que ocorrem na prática são:
Gapon deve ser adaptada: (1) adição de sais (fertilizantes);
(2) aumento da concentração por secagem (evaporação,
+ extracção de água pelas plantas);
γ (Na) c0(Na)
─────── = KG ───────── (3) extracção de íons (nutrientes) pelas plantas;
√(Ca)/2
2+ (4) diluição (rega, chuva, alagamento);
γ (Ca)
(5) mistura com uma outra solução salina, p.e. ascensão capilar
N.B.: c0(Ca) é divida por 2! Porquê? de água freática, rega com água de má qualidade,
alagamento com água do mar.
A preferência do complexo de troca para um cation ou outro,
expressa pelo constante K, aumenta segundo a sequência: Em todos estes casos o equilíbrio que existiu no sistema
será perturbado, e haverá mudanças nas concentrações dos ions
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
39
na solução do solo e nas quantidades adsorvidas até que um novo Expressamos c0(+) e c0(2+) em meq/100 g de solo, a fim de
equilíbrio se instale. Estes processos de troca ocorrem com tal ter as mesmas unidades para c0 e γ+. Para tal multiplicamos c0 com
velocidade que o novo equilíbrio estará instalado dentro de um dia. W (W é humidade do solo em cm3/100 g): e obtém-se:

+
O novo equilíbrio pode ser calculado com ajuda de equações γ (+) W.c0(+)/W
de troca. Antes de dar um exemplo de cálculo, que descreve as ───── = KG ─────── (2)
√W.c0(2+)/2W
+
mudanças no complexo de troca quantitativamente, daremos uma γ (2+)
explicação qualitativa.
Para um sistema homovalente com os cations Na e K a
equação de troca é: Agora acontece uma mudança no sistema: por 100 g de solo
são adicionadas: p meq do cation (+), q meq do cation (2+), r ml
+
γ (Na) c0(Na) (cm3) de água.
───── = KNa,K ───────
+
γ (K) c0(K) Em primeira instância as mudanças ocorrerão na solução do
solo, o equilíbrio da equação (2) será perturbado:
Quando houver uma diluição da c0 ou um aumento da
+
concentração da c0, em que a razão entre as concentrações de Na+ γ (+) [W.c0(+)+p]/(W+r)
e K+ fica constante (!), a razão entre as quantidades adsorvidos fica ───── ≠ KG ───────────── (2a)
√{[W.c0(2+)+q]/2(W+r)}
+
igual. No caso que haverá uma mudança na concentração de γ (2+)
apenas um destes ions, a razão γ+(Na)/γ+(K) mudará proporcio-
nalmente à razão c0(Na)/c0(K) (e dependente do constante KNa,K). As mudanças para formar um novo equilíbrio (══> membros
devem ser iguais na equação!) ocorrerão na base de equivalência.
Para um sistema heterovalente, p.e. com os cations Na e Ca Por exemplo, uma transferência de x meq do cation (+) da solução
(é uma situação mais relevante na prática), encontra-se no caso para o complexo de troca deve ser acompanhada de uma trans-
duma mudança na c0 uma situação diferente; a equação de troca ferência de x meq do cation (2+) do complexo de troca para a
é: solução do solo (supondo que a CTC tem um valor constante e γ- é
desprezível). Isto pode ser expresso na seguinte equação geral:
+
γ (Na) c0(Na)
+
────── = KG ──────── γ (+)+x [W.c0(+)+p-x]/(W+r)
√c0(Ca)
2+
γ (Ca) ────── =KG ──────────────── (3)
√[W.c0(2+)+q+x]/2(W+r)
+
γ (2+)-x
Quando este sistema é diluído (chuvas, aplicação de água
de rega de muito boa qualidade) haverá uma mudança na Para um exemplo de cálculo podemos usar novamente os
composição do complexo de troca em que mais cations bivalentes dados do modelo discutido no parágrafo 2.3:
são atraídos porque cations bivalentes são preferidos sobre cations
monovalentes nesta situação. Porque a CTC = γ(cat) é constante, γ+(Na) = 3.04 meq/100 g ≈ 3.0 meq/100 g;
uma equivalente quantidade de cations monovalentes movem de γ2+(Ca) = 22.06 meq/100 g ≈ 22.0 meq/100 g;
complexo de troca para a solução de solo. c0(Na) = 0.006 N
c0(Ca) = 0.001 N
Quando ocorre um aumento da concentração de C0 (p.e. W = 60% (= 60 ml/100 g solo)
pela evaporação), a preferência do complexo de troca para cations KG = 0.51 ≈ 0.5 (calculado no parágrafo 4.1).
bivalentes diminui e γ+(Na) aumentará; consequentemente γ2+(Ca)
vai diminuir com uma quantidade equivalente (Ca-ions movem para Supondo uma adição de 140 ml (=r) duma solução que
a solução de solo). contém 9.6 meq Na+ (=p) e 0.50 meq Ca2+ (=q). Substituição na
equação (3) dá:
Para calcular estas mudanças exactamente é necessário primei-
ramente conhecer as condições iniciais de quantidades adsorvidas 3.0 + x
(γ+) e as concentrações de sais na solução do solo (c0). ──────── =
Usando valores de c0 em meq/ml (normalidade, =meq.cm-3) a 22.0 - x
equação geral de Gapon para sistemas heterovalentes é:
[(0.006*60) + 9.6 - x]/(60 + 140)
+
γ (+) c0(+) 0.5 * ─────────────────────────
───── = KG ───── (1) √[(0.001*60) + 0.50 + x]/ 2(60 + 140)
√c0(2+)/2
+
γ (2+)
(9.96 - x)/200
onde (+) e (2+) representam cations monovalentes e bivalentes = 0.5 * ───────────
respectivamente. √ (0.56 + x)/400
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
40
Como esta equação é difícil de resolver analiticamente, c0(Ca) = (0.56 + 2.0)/400 = 0.0064 Mol/l = 0.0128 N
apelamos para uma solução gráfica. Primeiramente considera-se
duas funções: ya e yb: Nota-se que para resolver este problema desprezamos a
exclusão de anions. Se não, a solução ficaria mais complexa.
3.0 + x (9.96 - x)/200 Questão: Quais dados faltam para poder fazer o cálculo levando
ya = ─────── ; yb = 0.5 * ────────── em conta a exclusão de anions?
22.0 - x √(0,56 + x)/400
N.B.: verifique os resultados com ajuda da fórmula de Gapon!
A tabela III-4 apresenta os resultados destas equações para vários
valores de x. A Figura III-14 mostra as equações graficamente.
4.3 Capacidade tampão do solo
Tabela III-4 Resultados de cálculos iterativos
Em solos normais (não-salinos) com valores elevados de
função ya função yb
CTC (γ) a quantidade de cations adsorvidos é muito grande em
x y x y comparação com as quantidades na solução de solo. Por exemplo:
-3 0 -0.56 +∞ CTC = 25 meq/100 g de solo;
0 0.137 0 0.665 c0 = 0.01 N
W = 25% (25 cm3/100 g de solo)
1 0.190 1 0.359
A quantidade de sais livres na solução por 100 g do solo é igual à
2 0.250 2 0.249 25 * 0.01 = 0.25 meq/100 g = 1% da CTC. Esta percentagem está
3 0.316 3 0.176 bem dentro do limite dos erros do método ou da execução da
5 0.470 5 0.099 análise química.

22 +∞ 9.96 0
Quando há pequenas mudanças na concentração da

Solucão Gráfica
2.500

2.000

1.500

Ya
Y 1.000
Yb
0.500

0.000
-2 0 2 4 6 8 10 12 14
-0.500

Figura III-14 Solução gráfica da equação de troca

Em ambas as equações o valor de y ≈ 0.25 para x=2. i.e, as solução de solo, estas mudanças podem influenciar a composição
curvas se interceptam para x=2. No novo equilíbrio a composição dos cations adsorvidos apenas em grau muito limitado nesta situa-
de cations no complexo de troca será: ção. Fala-se dum solo com grande poder tampão; devem ocorrer
γ+(Na) = 3 + 2 = 5 meq/100 g solo mudanças consideráveis na composição da solução de solo para
γ2+(Ca) = 22 - 2 = 20 meq/100 g solo causar uma mudança significante na composição de cations
γ = CTC = γ+(Na) + γ2+(Ca) = 25 meq/100 g de solo adsorvidos no complexo de troca. De facto, a composição química
c0(Na) = (9.96 - 2.0)/200 = 0.0398 Mol/l ≈ 0.04 N no complexo de troca quase determina a composição dos cations
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
41
na solução do solo neste caso. Pode-se dizer também que a "razão Questão: calcule o "valor final" da razão de troca.
reduzida" (de concentrações dos cations na solução) fica quase
constante quando há só pequenas mudanças incidentais na Solução:
+
solução de solo (chuvas, absorção de cations pelas plantas, γ (Na) c0(Na) 0.009
adubação no grau limitado) em solos com CTC elevada (p.e. mais ─────── = KG ───── = 0.5 ───── = 0.201 ≈1/5
√c0(Ca)/2 √0,0005
2+
que 16 meq/100 g). Em fórmula: γ (Ca)

c0(+) c0'(+) γ+(Na) = 1/6 * 100 = 16.67% da CTC (γ)


(a) ──────── ≈ ──────── γ2+(Ca)= 5/6 * 100 = 83.33% da CTC (γ) (verifique!)
√c0(2+)/2 √c0'(2+)/2
N.B.: A percentagem de sódio trocável é mais que 15%, o
("razão reduzida" constante) que quer dizer trata-se dum solo sódico neste caso (depois o "V.F."
está atingido).
A quantidade dos cations na solução de solo também fica
quase constante nesta situação: Quando se conhece a CTC do solo (30 meq/100 g), pode-se
calcular as quantidades de cations adsorvidos como:
(b) W[c0(+)+c0(2+)] ≈ p.W[c0'(+)+c0'(2+)] com
γ+(Na) = 1/6 * 30 = 5.0 meq/100 g de solo,
c0 = concentração inicial γ2+(Ca)= 5/6 * 30 = 25.0 meq/100 g de solo
c0'= concentração depois das mudanças
W = humidade (teor de água em cm3/g de solo) Suposições neste cálculo: (1) γ-(an) é desprezível; (2) a
p = factor de diluição da solução de solo quantidade de água aplicada é suficiente para lavar o excesso de
sais.
Com ajuda das equações (a) e (b) pode-se resolver as duas
concentrações desconhecidas: c0'(+) e c0'(2+). É possível também estimar o tempo necessário para realizar
uma mudança na composição química no complexo de troca de
O conceito da "razão reduzida" constante não é aplicável para: solos regados, nomeadamente o tempo necessário para atingir o
• Solos com CTC baixa, por exemplo: CTC = 2 meq/100 g, c0= "valor final" entre γ+(Na) e γ2+(Ca). Para isso é necessário
0.01 N, W = 50%; ══> Wc0= 0.50 meq/100 g de solo = 25% da conhecer: 1) os valores iniciais de γ+(Na) e γ2+(Ca); 2) a CTC (γ) do
CTC! solo; 3) a constante KG (tipo(s) de argila!); 4) as concentrações de
• Solos salinos, com c0> 0.04 N (≈ 4 mS/cm de conductividade sódio e cálcio na água de rega; 5) a quantidade de água de rega
eléctrica - veja Cap.5: solos salinos). aplicada por ano; 6) a densidade aparente (dap) do solo.
• Solos depois da forte aplicação de fertilizante (bem solúvel) Exemplo:
• Solos irrigados (veja parágrafo 4.4) • CTC (γ) = 30 meq/100 g de solo
• KG = 0.5 (tipo de argila é ilita)
• dap = 1.5 g/cm3 (= 1.5 ton/m3)
4.4 Mudanças induzidas pela rega • γ+(Na)= 5% da CTC; γ2+(Ca) = 95% da CTC (valores iniciais)
• 2 m de água de rega são aplicados por ano com
A "razão reduzida" ("RR") constante, descrita no parágrafo 4.3, não • c0(Na) = 0.009 N, c0(ca) = 0.001 N.
se aplica a solos regados, apesar das concentrações baixas de
sais livres (c0) na água de rega de boa qualidade, mesmo em
combinação com CTC elevada. Questão: Quanto tempo é necessário para atingir o "V.F." da
A composição dos cations no complexo de troca é influenciada razão de troca numa camada (coluna) de solo de 0.6 m (60
pela composição química da água de rega porque o processo de cm)?
troca nesta situação é um processo prolongado, muitas vezes
durante um grande número de anos. Durante o processo de rega a Supõe-se uma eficiência de troca de 100%.
composição e a concentração dos sais na água ficam mais ou
menos constantes e a composição dos cations adsorvidos adaptar- Primeiramente calcule-se o "V.F." : veja o primeiro cálculo acima:
se-ão gradualmente à "RR" da água de rega segundo o princípio: γ+(Na)/γ2+(Ca) = 0.2 = 1/5 ══>
"água mole em pedra dura tanto dá até que fura". Em outras γ+(Na) = 5.0 meq/100 g (16.67% da CTC)
palavras: a "RR" (mais o constante KG) determina a composição γ2+(Ca)= 25.0 meq/100 g (83.33% da CTC)
final dos cations adsorvidos. Esta composição pode-se chamar
"Valor Final" ("V.F.") da razão de troca = γ+(Na)/γ2+(Ca). Os valores iniciais são:
γ+(Na) =5% da CTC = 0.05 * 30 =1.50 meq/100g de solo
Exemplo: Concentrações de cations na água de rega: γ2+(Ca)=95% da CTC = 0.95 * 30 =28.5 meq/100 g de solo.
c0(Na) = 0.009 N
c0(Ca) = 0.001 N Parece que durante o período de rega a γ+(Na) deve
KG = 0.5 (tipo de argila é ilita) aumentar, enquanto a γ2+(Ca) deve diminuir com uma quantidade
equivalente porque a CTC (γ) tem um valor constante.
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
42
O aumento de γ+(Na) será 5.0 - 1.5 = 3.5 meq/100 g de solo. favoráveis para culturas. Neste caso a percentagem de cálcio-
N.B.: no cálculo é mais prático considerar o ion que vai aumentar, trocável deve aumentar (desodificação).
neste caso o sódio. Para isso deve-se aplicar água de rega de boa qualidade (razão
A fonte da quantidade adicional de Na-trocável é a água de c0(Na)/c0(Ca) favorável, o que quer dizer: pequena); veja Capítulo
rega. Durante 1 ano uma camada de 2 m = 200 cm vai infiltrar e 4.5 para a continuação deste assunto.
passar uma camada de 60 cm do solo. Durante esta percolação
acontece o processo de troca com eficiência de 100%.
4.5 Avaliação da qualidade de água de rega com respeito a
Considere a situação por superfície de 1 cm2 do solo: por sodificação
ano 200 cm3 de água de rega percolam através duma coluna de 60
cm3 de solo. 60 cm3 de solo têm peso de 60 * 1.5 = 90 g. Para 90 Para a avaliação da qualidade de água de rega usa-se em
g de solo devem ser trocados 90/100 * 3.50 = 3.15 meq Na. geral o valor da R.A.S. (ou RAS): Razão de Adsorção de Sódio,
200 cm3 (=200 ml) de água de rega contêm 200 * 0.009 = 1.80 meq RAS (Inglês: Sodio Adsorption Ratio, SAR). A RAS representa a
de Na (N.B.: 0.009 N = 0.009 eq/l = 0.009 meq/ml). Portanto, 1.80 razão reduzida (da fórmula de Gapon) em que as concentrações
meq de Na são trocados por ano. Para trocar 3.15 meq de Na são (c0) são expressas em mmol/l e usando a soma dos cations
necessários 3.15/1.80 = 1.75 anos ≈ 2 anos de rega. divalentes (Ca, Mg) no denominador:

Na prática este processo leva mais tempo do que os 2 anos Equação de Gapon:
acima calculados porque a eficiência do processo de troca é na
+
realidade menor que 100%. Para obter a "razão final" de 16.67% γ (Na) c0(Na)
de sódio trocável um período de 4 a 5 anos é mais realístico. ────────── = KG ───────── (1)
√c0(Ca+Mg)
2+
Deve-se realçar que o Ca-ion é preferido sobre o Na-ion pelo γ (Ca+Mg)
complexo de troca neste solo com argila do tipo ilita!. Figura III-15
mostra isso esquematicamente. Nesta Figura a saturação da CTC com c0(Na,Ca+Mg) em mol/l
com Na+ é indicada pela PST = Percentagem de Sódio Trocável
(Inglês: ESP = Exchangeable Sodium Percentage), ou seja: Razão reduzida r:

PST = 100% * γ+(Na)/CTC c0(Na)


r = ────────
√c0(Ca)

[com c0(Na,Ca) em mol/l] ,

R.A.S. = √1000 * r ; portanto, r = R.A.S./√1000

Quando se expressa as quantidades dos cations adsorvidos


como percentagem da CTC (= γ), pode-se escrever depois da
substituição na fórmula (1):

PST R.A.S.
───────── = KG ───────
100 - PST √1000

com KG=0.5 (ilita) ══>


Figura III-15 Degradação da distribuição de cations
no complexo de troca pela rega com água rica PST
em Na. ──────── = 0.0158 * R.A.S. ≈ 0.016 R.A.S. (2)
Curva I: relação calculada; 100 - PST
Curva II: relação real
Pode-se transformar a equação (2) em:

Na situação tratada aconteceu um aumento da percentagem 100 * 0.016 R.A.S.


de sódio-trocável causado pela rega com água de má qualidade PST = ─────────────── (3)
(razão c0(Na)/c0(Ca) desfavorável). Fala-se de processo de 1 + 0.016 R.A.S.
sodificação. Um valor elevado da PST tem um efeito (muito)
negativo sobre o crescimento e a colheita da maioria de culturas Verifique a validade desta transformação!
(veja Cap.5: solos salinos e solos sódicos). Em projectos de rega é
muitas vezes necessário diminuir a PST para criar condições No USDA Agricultural Handbook 60 (L.A. Richards et
al.,1954) encontra-se uma equação que foi determinada impirica-
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
43

Figura III.16 Nomograma para a determinação do valor de SAR da água de irrigação e estimação do
correspondente valor de ESP do solo que está em equilíbrio com a água
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
44
mente com base em dados químicos obtidos de 50 solos plantas, que ocorrem separadamente ou em combinações, depen-
diferentes: dendo da cultura ou espécie de planta:
• Efeito osmótico que afecta (diminui) a disponibilidade da
100 * (-0.0126 + 0.01475 R.A.S.) água no solo para a planta.
PST = ───────────────────── (4) • Efeitos de competição na absorção de vários nutrientes pela
1 + (-0.0126 + 0.01475 R.A.S.) planta.
• Efeitos tóxicos de certos sais ou ions (p.e. boro, CO32-, Cl-).
Esta equação tem uma validade mais geral que a equação
(3); contudo, há uma grande semelhança entre (3) e (4). Efeito osmótico
O USDA Handbook 60 (USDA H-60) também apresenta um Concentrações elevadas de sais na solução de solo causam
nomograma para estimar a PST dum solo com ajuda de valores de uma seca fisiológica para a planta. Em relação com a CEe existe a
RAS da água de rega (veja Figura III-16). seguinte equação aproximada:

Quando a água de rega contém CO32- e/ou HCO3- ions em Posm ≈ 0.36 * CEe onde
quantidades consideráveis (pH > 8.5!), a razão entre γ+(Na) e
γ2+(Ca+Mg) será menos favorável do que indicada pela Figura 4.5 Posm é o potencial osmótico ou sucção osmótica, em atmos-
com base na RAS (porquê?). feras;
CEe em mS/cm
O diagrama na Figura III-19 mostra a classificação das
qualidades de água de rega em termos de salinidade da água e Exemplo:
risco de salinização em combinação com valores de RAS e o risco CEe = 20 mS/cm (≈ 0.25 N, solo fortemente salino);
de sodificação pelo uso da água de rega duma qualidade definida. Posm ≈ 0.36 * 20 = 7.2 atm. no solo saturado.
Veja também Capítulo 5 sobre solos salinos e solos sódicos.
Segundo USDA H-60 a conductividade eléctrica à
capacidade de campo1 é cerca de 2x (duas vezes) a CEe, e ao
atingir o coeficiente de emurchecimento2 a CE é cerca de 4x o
5. SOLOS SALINOS E SOLOS SÓDICOS valor de CEe. (desconsiderando a diminuição da actividade dos
ions a concentrações elevadas).
Definições:
 Solos salinos: solos com conductividade eléctrica no extracto Por conseguinte, a CE a capacidade de campo é cerca de 40
saturado (CEe) maior que 4.0 mS/cm (miliSiemens por cm; mS/cm, que corresponde com uma sucção osmótico de 14.4 atm.
unidade é tratada mais tarde). Este valor é quase igual à tensão hídrica no ponto de
 Solos sódicos: solos em que a percentagem de sódio trocá- emurchecimento, a que as plantas já não são capazes de absorver
vel (PST) excede 15% da CTC; em geral pH > 8.5. água.
 Solos salinos-sódicos: solos salinos com PST > 15%;
 em geral pH < 8.5. Sob estas condições só culturas muito tolerantes à sali-
nidade podem sobreviver e produzir uma colheita, p.e. algodão,
Estes três tipos de solo podem ocorrer alternadamente numa beterraba de açúcar.
região, as vezes dentro de alguns metros de distância, sendo
relacionados com diferenças na textura do solo ou na topografia Efeitos de competição
(solos intrazonais - veja aulas de classificação de solos); contudo, Ions que são geralmente encontrados em excesso em solos
estes tipos também podem ocorrer em regiões diferentes sendo salinos são Na+, Ca2+, Mg2+, Cl-, SO42-,e HCO3-. O efeito dum
relacionados com factores de formação de solos como rocha mãe, excesso de sódio (geralmente o catião dominante dos sais) sobre o
clima, hidrologia e topografia, vegetação e uso de terra (homem!). crescimento da planta pode ser directo em termos de competição
na absorção de nutrientes (cations) e pelos efeitos específicos
(tóxicos!) e/ou indirecto devido à formação de camadas densas
5.1 Solos salinos (Na-argila!), que impedem a drenagem interna do solo (causando
uma deficiência de oxigénio a humidade elevada) e dificulta o
Uma discussão aprofundada sobre a origem de solos salinos desenvolvimento do sistema radicular da planta.
é apresentada na Parte V, Capítulo 8. Aqui limita-se a dizer que
estes solos são comuns em regiões (semi-) áridas e costeiras. A
salinização manifesta-se especialmente quando o lençol freático é 1. Capacidade de Campo: humidade dum solo inicialmente saturado
elevado, e pode ser induzida por actividades de regadio mal feitas. com água depois de 2 dias de livre drenagem (V. Parte IV)

5.1.1 Efeitos da salinidade


2.Ponto de emurchecimento permanente: limite máximo de humidade
Um solo salino tem uma concentração de sais livres tão do solo em que a planta não consegue extrair água; muitas vezes
grande, que o crescimento, desenvolvimento e rendimento da identificada com a água retida no solo a uma tensão de 15 atm
maioria das culturas são mais ou menos gravemente afectados. A (V. Parte IV).
salinidade tem três efeitos principais sobre o crescimento das
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
45
Excessos (relativos) de cálcio e magnésio podem perturbar a 5.1.2 Graus e classes de salinidade no solo
absorção de outros cations, p.e. de potássio (K), por competição no De que modo se expressa o grau de salinidade e as
processo activo de transporte deste ion pelas membranas das quantidades dos sais individuais no solo? Há várias possibilidades:
células da raiz, assim causando uma deficiência de potássio. 1) mg ou g do sal (dos sais) por g, 100 g ou kg do solo.
2) mg ou g do sal (dos sais) por litro de solução do solo.
Indirectamente um excesso de cálcio pode causar uma defi- Em ambos os casos há a dificuldade da interpretação dos dados
ciência do fósforo na planta por causa da precipitação dos ions de encontrados em termos de efeitos fisiológicos (pressão osmótica,
fosfato no solo pelo cálcio. efeito de competição na absorção de nutrientes) sobre o
crescimento da planta. Por exemplo:
A presença de ions de carbonato e bicarbonato na solução 10 g NaCl/l (= 10/58.5 N (eq/l) ≈ 171 meq/l - verifique!) têm um
do solo pode causar directamente ou indirectamente (pH!) uma efeito diferente de 10 g K2SO4 (≈ 115 meq/l). Portanto, quantidades
carência de ions de cálcio, magnésio e de alguns micronutrientes iguais não correspondem com concentrações iguais!
para a planta (porquê?).
Por esta razão é mais prático usar:
A presença do bicarbonato de sódio (NaHCO3), que coincide 3) meq/l ou mmol/l de solução ; agora pode-se comparar
com um pH elevado da solução de solo, causa uma absorção concentrações de ions ou sais.
reduzida do ion de fosfato (H2PO4-) pela planta por causa de
competição no processo de absorção pelos ions hidróxilos (OH-) e Para estimar a concentração dum sal ou de sais numa
de bicarbonatos (HCO3-). solução, também considerando o efeito fisiológico da solução, é
aconselhável usar:
Efeitos tóxicos
4) a conductividade eléctrica ou CE (Inglês: Electrical
Trata-se de efeitos específicos de certos ions. Podem ser Conductivity - EC)
mencionados os ions de carbonato (CO32-) e cloreto (Cl-). O cloreto
é especialmente tóxico para leguminosas como feijão e ervilha. O A CE é expressa em Siemens (S) por cm a 25°C. Como esta
sódio já foi mencionado acima. Solos salinos contêm muitas vezes unidade e bastante grande, usa-se em geral mS/cm (= 10-3 S/cm)
excessos relativos de boro (H3BO3), que é muito tóxico mesmo em para indicar a CE de soluções ou extractos de solo, e µS/cm para
excesso relativamente pequeno às quantidades necessárias para indicar a CE de água (de rega!). A unidade mais correcta da CE é
culturas. expressa em dS/m, que é numericamente igual a mS/cm
(verifique!); não obstante, usa-se geralmente as unidades mS/cm e
O tipo e a concentração do sal são muito importantes a µS/cm. Antigamente foram usados mho/cm, mmho/cm e µmho/cm
respeito dos efeitos negativos sobre as culturas. Por exemplo: respectivamente, a unidade mho sendo o inverso da unidade ohm
de resistência eléctrica (Ω). A conductividade eléctrica está
• Calcário (CaCO3) é um sal muito pouco solúvel. Solos ricos correlacionada positivamente com a concentração de sais (ions),
em calcário não são chamados salinos mas calcários porque de facto, com a actividade dos ions na solução.
a CEe é menos que 4 mS/cm. Por isso o calcário não causa
um efeito osmótico, mas efeitos de competição por cálcio no A conductividade eléctrica (CE) depende de:
processo de absorção de nutrientes podem ocorrer. Solos • actividade (concentração) dos ions na solução;
calcários tem uma reacção alcalina com valores de pH entre • tipo(s) de sal (sais);
7.5 e 8.5; imobilização de certos nutrientes pode ocorrer • temperatura (N.B.: compare com a resistência eléctrica!)
(fósforo, a maioria dos micronutrientes).
Numa determinação da CE encontra-se a actividade de ions
• Gesso (CaSO4.2H2O) é um sal muito comum em solos presentes na solução:
(semi) áridos (como calcário) e tem uma maior solubilidade
do que o calcário. Cerca de 30 meq de gesso podem ser ai = f * ci com
dissolvidos por litro (30 * 172/2 = 2580 mg gesso/l ≈ 2,6 g/l:
solução saturada). Esta concentração corresponde com uma ai é a actividade do ion (i)
conductividade eléctrica de cerca de 3 mS/cm. Um solo rico f é o coeficiente de actividade
em gesso (e calcário) não é salino por definição; contudo, há ci é a concentração do ião (mol/l)
um efeito de competição devido à concentração elevada de
ions de cálcio. O gesso é utilizado para o melhoramento de A concentrações baixas o valor de "f" é quase igual a 1.0;
solos sódicos (substituição de sódio-trocável por cálcio). contudo, a concentrações mais elevadas o valor de "f" diminui
rapidamente. Tabela III-5 mostra coeficientes de actividade para
• Sais bem solúveis - como NaCl, Na2SO4, NaHCO3, Na2CO3, vários tipos de sais e a diferentes concentrações.
CaCl2, MgCl2, MgSO4.7H2O - podem ocorrer em N.B.: A concentrações muito elevadas o coeficiente "f" aumenta de
concentrações elevadas na solução de solos (semi) áridos e novo.
de solos regados (até 0.5 - 1.0 N) causando todos os efeitos
nocivos de salinidade para culturas mencionados acima. Em solos "normais" a concentração de sais na solução do
solo (c0) é cerca de 0.01N, isto é 10 meq/l, o que corresponde com
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
46

Tabela III-5 Coeficientes de actividade de diferentes sais em soluções aquosas de diferentes concentrações a 25°C (adaptada
de S. Glasstone, Thermodynamics for Chemists).

Concentração (mol/l)

0.001 0.005 0.01 0.05 0.1 0.2 0.5 1.0 3.0

HCl 0.966 0.928 0.905 0.830 0.796 0.767 0.757 0.809 1.316

H2SO4 0.830 0.643 0.545 0.341 0.266 0.210 0.155 0.131 0.142

NaOH - - 0.899 0.818 0.766 0.720 0.693 0.679 0.77

NaCl 0.966 0.929 0.904 0.823 0.778 0.732 0.679 0.656 0.719

KCl 0.965 0.927 0.901 0.815 0.769 0.717 0.650 0.605 0.573

NaNO3 0.966 0.93 0.90 0.82 0.758 0.702 0.615 0.548 0.438

CaCl2 0.888 0.789 0.732 0.584 0.531 0.481 0.457 0.509 1.55 ?

Na2SO4 0.887 0.778 0.714 0.53 0.45 0.36 0.27 0.20 -

MgSO4 - - 0.40 0.22 0.18 0.13 0.088 0.064 0.064

AlCl3 - - - - 0.389 0.353 0.384 0.621 -

uma conductividade eléctrica (CE) de cerca de 1 mS/cm a 25°C Supondo por exemplo um solo com humidade de 25% (peso) com
(=1000 µS/cm a 25°C). CE = 1 mS/cm; 1 kg deste material contém 60*10*250/1000 = 150
Para soluções diluídas existe a relação: mg de sais, ou 0.015% (verifique!).
Solos salinos têm concentrações maiores que 0.04
N na solução dum solo saturado de água (> 4
Tabela III-6 Classes de salinidade do solo
mS/cm).
CEe
(mS/cm) Classe de salinidade Tolerância de culturas Para determinar e avaliar o grau de
0-4 não-salina Só culturas muito sensíveis são afec- salinidade no solo determina-se muitas vezes a
(non-saline) tadas. (entre 2-4 mS/cm) conductividade eléctrica do extracto saturado dum
solo, a CEe (Inglês: ECe). Aparentemente existem
4-8 pouca salina Rendimentos de muitas culturas são
boas correlações entre a CEe de solo e os
(slightly saline) reduzidos até 50% da potencial
rendimentos de várias culturas. Na literatura
8 - 16 moderadamente salina Rendimentos da maioria das culturas existem tabelas referentes à tolerância dum
(moderately saline) reduzidos com valores até 50-100% grande número de culturas à salinidade em termos
> 16 fortemente salina Só poucas culturas muito tolerantes de rendimentos potenciais a diferentes valores da
(strongly saline) ainda têm rendimento. CEe. Veja, por exemplo as tabelas 8.2, 8.3, 8.4 em
"Booker Tropical Soil Manual" (J.R. Landon, editor,
1984).

meq/l ≈ 10 * CE , com CE em mS/cm


A preparação do extracto saturado exige equipamento
especial (de pressão ou sucção) e é bastante lenta (preparação de
Esta relação pode ser aplicada para concentrações bastante
pastas saturadas que precisam equilibrar durante 12-24 horas). Por
baixas de sais ou misturas de sais bem solúveis. No USDA H-60 as
isso, em muitos laboratórios, inclusive em Moçambique, determina-
relações entre concentração e CE são dadas graficamente nas
se a CE dum extracto solo/água 1:2.5 (CE2.5) obtido pela agitação
(Figuras III-17 e III-18, adaptadas do USDA H-60). Parece que a
(0.5-2 horas); ou as vezes a CE1 ou CE5 (solo : água = 1:1 ou 1:5
concentrações elevadas de sais bem solúveis (p.e. CE > 50
respectivamente). Estas determinações são rápidas. Se houver
mS/cm) o valor de 1 mS/cm corresponde com 15 meq/l (porque?).
uma correlação boa entre CEe e CEn é possível estimar a CEe dos
valores obtidos para CEn (n = 1, 2.5 ou 5): CEe = a.CEn. O valor de
Exemplo duma estimação grosseira da quantidade de sais
a depende (além de n) dos tipos de sais presentes na solução do
na solução do solo e por unidade de peso de solo:
solo e das suas concentrações (deve-se relembrar que a CE está
Num solo normal a CE = 1 mS/cm ≈ 10 meq/l; 1 meq de sais ≈ 60
linearmente relacionada com as actividades de sais).
mg de sais (N.B.: para NaCl 58.5 mg, verifique!) ══> uma CE de 1
mS/cm corresponde com 60*10=600 mg sais por litro.
No caso de n=2.5 e soluções de sais bem solúveis como
NaCl, Na2SO4, KCl, CaCl2, MgCl2, e supondo uma percentagem de
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
47
água à saturação de 50% (0.5 cm3/g de solo), o valor de a é CE da água de rega usada para evitar uma acumulação de
próximo a 5. Nota bem que este valor é diferente para sais na zona radicular da planta. Para os cálculos dos
percentagens diferentes de água à saturação! (Verifique com ajuda valores de "leaching requirements": veja as aulas de Rega e
dum cálculo!). Drenagem.
3. Uso de água de rega com razões Na+/(Ca2++Mg2+) favoráveis
No caso de presença de sulfatos de magnésio ou de cálcio para evitar a origem de solos sódicos, que têm em geral uma
(gesso) este valor deve ser reduzido para 3 ou 2 respectivamente. permeabilidade (conductividade hidráulica) muito baixa,
No caso de uma solução saturada com CaSO4.2H2O, a CEe ≈ CEn assim limitando a possibilidade da percolação do perfil com
(porque?). Quando houver concentrações elevadas de sais, por água de boa qualidade e, consequentemente, reduzindo a
exemplo CE2.5 > 5-10 mS/cm, o valor de a também deve ser lavagem dos sais.
reduzido. A presença de anions de carbonato e/ou bicarbonato na
A Tabela III-6 apresenta uma classificação de salinidade água de rega também é um factor desfavorável (porquê?).
muito usada na prática. Para mais detalhes: veja Cap. 5.2.
Figura III-19, adaptada de USDA H-60, mostra um esquema
5.1.3 Reabilitação e melhoramento de solos salinos de avaliação da qualidade de água de rega em termos de ris-
cos de salinização e de sodificação com base nos valores de
Solos salinos são reabilitados principalmente pela lavagem CE e RAS.
com água de boa qualidade (CE < 0.75 - 1.0 mS/cm). Solos salinos
têm geralmente uma estrutura bem desenvolvida (CDD fortemente
comprimida!); isso permite a água de lavagem passar facilmente 5.2 Solos sódicos e solos salinos-sódicos
através do perfil, dissolvendo os sais precipitados e transportando-
os para maiores profundidades ou para a água freática. Solos sódicos (Ing.: sodic soils, antigamente alkali soils têm
uma percentagem de sódio trocável (PST) maior que 15% da CTC
Este método terá um resultado permanente se: e têm em geral um pH > 8.5 devido à presença de ions de sódio e
• A água for de boa qualidade o que quer dizer: bicarbonato mais carbonato na solução de solo.
a água tem uma CE < 0.75-1.0 mS/cm (< 750 - 1000 µS/cm), Deve-se evitar confundir o termo "sódico" com o termo alcalino
e tem uma baixa razão entre as concentrações de sódio e (Ing.: alkaline): solos alcalinos só têm um pH>7.0 com PST<15%.
cálcio + magnésio (RAS baixa, veja Cap. 4.5). Solos salinos-sódicos têm uma CEe> 4.0 mS/cm mais uma PST >
15%; o pH destes solos está normalmente entre 7.0 e 8.5.
• Houver um sistema de drenagem adequado para remover a
água com os sais dissolvidos, pela gravitação ou pelo uso de A origem de solos sódicos e solos salinos-sódicos será discutida
bombas se a drenagem pela gravitação não for suficiente. A no Capítulo 8 da Parte V.
construção de (extra) fossos de drenagem, a manutenção e
limpeza deles, a compra e manutenção de bombas, e a ener-
gia para fazer funcioná-los podem implicar custos elevados. 5.2.1 Efeitos da sodicidade
Por isso, é de grande importância avaliar estas medidas para Solos sódicos causam problemas graves para a maioria das
a reabilitação dum solo salino em termos de economia: exce- culturas:
dem os benefícios das medidas as custas necessárias para a) Percentagens elevadas de Na-trocável (> 15%) causam o
isso, ou não? Veja também as aulas de Rega e Drenagem. efeito de competição no processo de absorção de outros
Ou, ocorrem terrenos disponíveis com solos não-salinos ou cations pela planta, resultando em deficiências absolutas ou
menos salinos, que necessitam medidas ou custas relativas. O sódio também pode ser tóxico para algumas
menores? culturas.
b) Uma PST elevada no solo coincide com uma estrutura
Sob condições que favorecem o risco de salinização em compacta (pelo menos na camada com PST>15%) causada
solos agrícolas, nomeadamente em projectos de rega, é imperativo pela expansão e dispersão do material argiloso (extensão da
evitar a criação de condições que favorecem salinização. CDD!) depois da chuva ou da aplicação de água de rega de
Medidas necessárias para isso incluem: boa qualidade.
1. Evitar o uso de água de rega com valores de CE > 0.75-1.0 Esta estrutura compacta implica uma má permeabilidade que
mS/cm. pode causar saturação de parte do solo com água acima da
2. Aplicação duma quantidade adicional de água de rega para camada sódica durante períodos chuvosos, resultando na
lavar os sais da zona radicular (que são acumulados durante falta de oxigénio nas camadas superficiais enraizadas e no
a estação de crescimento). Esta quantidade adicional é impedimento da troca de gases (CO2) entre as camadas
expressa normalmente como uma fracção da quantidade da (horizontes) diferentes e o ar atmosférico.
água aplicada (= número de mm de água requerido para
assegurar um crescimento óptimo) e depende da conductivi- c) Em solos sódicos o pH é normalmente maior que 8.5. A
dade eléctrica da água de rega aplicada. pH>8.5 a disponibilidade de alguns macronutrientes (fós-
O USDA H-60, Tabela 10 (p.72) mostra as quantidades de foro, cálcio magnésio) e de todos os micronutrientes (ex-
água em suplemento como percentagem (%) da quantidade cepto de molibdénio) é reduzida causando deficiências
aplicada (Ing.: Leaching Requirement) para vários valores de absolutas ou relativas destes nutrientes.
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
48
Os anions de carbonato (e bicarbonato), quando presentes em Por esta razão usa-se na prática uma solução de gesso
concentrações elevadas, têm efeitos tóxicos e precipitam os (CaSO4.2H2O), que tem uma CE de 1-3 mS/cm e um valor de RAS
ions de cálcio e magnésio. muito baixo. Esta concentração de gesso causa uma compressão
da camada dupla difusa (= impede a expansão e dispersão do
Em solos salinos-sódicos o efeito de deterioração da material argiloso), resultando numa melhor permeabilidade. A
estrutura é menos importante (porquê?) e os efeitos do pH elevado valores de PST muito elevados, p.e. > 50%, a concentração duma
sobre a disponibilidade dos nutrientes também são menos graves. solução de gesso (que concentração máxima?) não é suficiente
Porém, persistem os efeitos de salinidade! para impedir a expansão do material argiloso. Nesta situação
deve-se aplicar um sal de cálcio mais solúvel que permite o uso
5.2.2 Reabilitação e melhoramento de solos sódicos e solos duma solução mais concentrada que vai comprimir a CDD e assim
salinos-sódicos melhorar a permeabilidade. Pode-se usar por exemplo CaCl2
Para a reabilitação de solos sódicos os ions de sódio (cloreto de cálcio). É um método muito caro e deve-se avaliar a
adsorvidos devem ser trocados pelo cálcio. Teoricamente pode-se vantagem económica antes.
realizar isso pela lavagem do solo com água de rega com valores
de RAS (muito) baixos. Contudo, usando água com CE baixa No caso de solos salinos-sódicos é necessário remover (=
existe inicialmente o risco de expansão e dispersão do material de troca + lavagem) primeiramente o sódio trocável; depois pode-se
solo, pelas quais a permeabilidade será reduzida, assim limitando remover os sais livres pela lavagem (sistema adequado de
ou demorando os processos de troca e de lavagem. drenagem!) sem risco de expansão e dispersão do material de
solo.

É claro que os problemas de expansão são mais relevantes


em solos argilosos com tipo de argila expansível, p.e.
montmorilonita.

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