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PARTE IV
FÍSICA DO SOLO
Baseado em Reichardt, 1985 ψP é componente de pressão, que aparece toda vez que
a pressão que atua sobre a água do solo é
1. A ÁGUA EM EQUILÍBRIO NO SOLO maior que a pressão P0, que atua sobre a
água padrão (na superfície=0);
1.1 Potencial total da água no solo ψg é componente gravitacional, que aparece devido à
presença do campo gravitacional terrestre;
O potencial da água no solo (ψ) representa a diferença ψos é componente osmótica, que aparece pelo fato da
da energia livre de Gibbs, G, entre o estado de água no solo e um água no solo ser uma solução de sais
estado padrão. A fim de determinar esta diferença, uma unidade de minerais e outros solutos e a água padrão ser
massa (ou volume ou peso) de água deveria ser levada do estado pura;
padrão para o solo, e como G (ou ψ) é uma função de ponto, ψm é componente matricial, que é a soma de todos as
dependendo apenas do estado inicial e final, qualquer processo outras energias que envolvem a interacção
pode ser utilizado. Se escolhermos uma transformação isotérmica entre a matriz sólida do solo e a água; tais
e isobárica, a energia livre de Gibbs representa todos os trabalhos como as relacionadas com forças capilares,
que não o mecânico contra a pressão externa. Podemos então de adsorção e eléctricas.
definir o potencial da água no solo da seguinte forma: a somatória
dos trabalhos realizados quando a unidade de massa (ou volume Vejamos agora, separadamente, cada componente com
ou peso) de água em estado padrão é levada isotérmica, isobárica um pouco mais de detalhe.
e reversivelmente para o estado considerado no solo. O estado
padrão (ponto zero) normalmente escolhido é uma superfície de
água livre. 1.2 Componente de pressão
ou energia/massa: ψg = g.z
-1 -1 -1
ψP(A) = 9.8 N.kg x 5 m = 49 Nm.kg = 49 J.kg
energia/peso: ψg = z
ou
ψP(A) = 5 m; ou 500 cm de H2O No exemplo da barragem, considerando z = 0 na superfície
livre da água, temos em A: z = -hA; em B: z = hB e em C: z = -hC.
Como o ponto B está na superfície do solo, submetido à
pressão atmosférica, P0, seu potencial de pressão é nulo: ψg(A) = -ρghA , ou -ghA , ou -hA
ψg(B) = +ρghB , ou +ghB , ou +hB
O potencial de pressão é só considerado para pressões Nota-se que z é medido a partir de um referencial de
positivas, isto é, acima da pressão atmosférica. Para pressões posição, considerando-se o sentido de baixo para cima como
negativas (tensões, sucções), isto é sub-atmosféricas, considera- negativo e o sentido de cima para baixo como positivo. Tanto estes
se a componente matricial ψm que mede tensões capilares etc. Por sentidos, como o referencial de posição são estritamente
isso, a componente de pressão é relevante apenas para solos arbitrários. No entanto, valores de ψg sempre diminuem (ficam
saturados com água. menos positivos ou mais negativos) de cima para baixo.
1.3 Componente gravitacional Pelo fato do campo gravitacional estar sempre presente, o
potencial gravitacional sempre existe. Sua importância em
ψ = ψP + ψg + ψos + ψm comparação com as outras componentes do potencial total
depende da situação. Em termos gerais, podemos dizer que em
A componente gravitacional ψg está sempre presente. solos saturados ou próximos à saturação, a componente
Também pode ser medida em energia por unidade de volume, gravitacional é de maior importância, e ela tem um peso
energia/massa ou energia/peso. Ela é a própria energia potencial significante no potencial total. Quando um solo perde água,
do campo gravitacional, igual a m.g.h, sendo h medido a partir de gradualmente a componente matricial passa a ter maior
um referencial arbitrário. importância que a gravitacional. Porém, é importante frisar
Sendo m = ρ.V teremos: novamente que a componente gravitacional está sempre presente.
energia/volume: ψg = ρ.g.z (7)
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
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1.4 Componente osmótica seca fisiológica das plantas (Vide Parte III, Capítulo 5.1.3).
A componente osmótica não é importante no que se refere
ψ = ψP + ψg + ψos + ψm ao movimento de água, a não ser que haja alguma membrana
semi-permeável no sistema. Quando existem diferenças de
Ainda porque a água do solo é uma solução de sais minerais concentrações salinas sem que hajam estas membranas, os sais
e substâncias orgânicas, ela possui componente osmótica ψos, que movimentam-se livremente e o equilíbrio é logo atingido.
contribui para seu potencial total ψ. Como no solo existe variação
da concentração de sais de ponto para ponto, existem também
diferenças na componente osmótica do potencial total. O potencial 1.5 Componente matricial
osmótico é definido por:
ψ = ψP + ψg + ψos + ψm
dψos = µdn (10)
A componente matricial, devido à sua complexidade, não
sendo dn a variação de moles de solutos e µ a variação do pode ser calculada facilmente como fizemos para psig, psiP, e
potencial químico da água devido à variação do número de moles mesmo psios. Na maioria dos casos ela deve ser medida
de solutos. experimentalmente. Isto pode ser feito com instrumentos de
pressão ou sucção, ou, no campo, com tensiómetros.
No solo este potencial é de difícil determinação, existindo
porém instrumentos especiais para a sua medição. A equação O potencial matricial da água do solo foi frequentemente
acima, devidamente integrada entre os limites ψos = 0 (água pura: denominado de potencial capilar, potencial de tensão, sucção ou
padrão) e ψos e ainda utilizando a equação de Raul para soluções pressão negativa. Este potencial é resultado de forças capilares e
ideais, resulta na equação de Van 't Hoff (medida em termos de de adsorção, que surgem devido à interacção entre a água e as
energia por volume (pressão): partículas sólidas do solo. Estas forças atraem e "fixam" a água no
solo, diminuindo sua energia potencial com relação à água livre. Os
ψos = Pos = RTC fenómenos capilares resultam da tensão superficial da(11)
água e das
forças de adesão, indicadas pelo ângulo de contacto entre a
em que superfície da água e as partículas sólidas.
Pos é a pressão (ou sucção) osmótica (kPa≡.001*N.m-2); Quando um tubo capilar é imerso em uma superfície de um
R, a constante dos gases ideais (=8.314 J.K-1.mol-1); líquido (Figura IV.2), este formará um menisco resultante do
T, a temperatura absoluta (K) ângulo de contacto (α) entre as paredes do tubo e o líquido. O valor
C, a concentração de ions na solução (mol.l-1); de α depende das forças de adesão entre as moléculas do líquido,
do sólido e o gás (sobre o líquido). Se as forças entre o líquido e o
Verifique as unidades!! sólido forem maiores do que as forças coesivas dentro do líquido e
maiores que as forças adesivas entre o gás e o sólido, α tende a
então, para T=298K (25oC) e C=0.1 mol/l: Pos =247.8 kPa = 2.4 ser agudo, e diz-se que o sólido atraiu o líquido (p.e. vidro com
atm água). Caso contrário, α>90o, diz-se que o líquido é repelido pelo
sólido (p.e. vidro com mercúrio).
Para soluções não ideais onde há parcialmente dissociação
de moléculas em ions, a relação é mais íngreme. Para solos vale Sem entrar em detalhes da teoria da capilaridade, limitamos
aproximadamente: nos em constatar que no primeiro caso a pressão P1,
imediatamente sob o menisco é menor que a pressão atmosférica
ψos = Pos = 37 x CE ≈ 3.7 x C P0; e no segundo P1 é maior que P0. (11)
A diferença de pressão P (Pa) entre a água sob o menisco (P1) e a
em que CE é a condutividade eléctrica e C a concentração (em atmosfera (P0), é dada pela equação:
meq.l-1) de sais; então para C=100 meq.l-1 (corresponde com
CE=10 mS.cm-1: salino), Pos = 370 kPa = 3.6 atm. P = P1 - P0 = -(2σ cos(α))/r
onde,
Na maioria dos solos não salinos, a componente osmótica é σ é a tensão superficial do líquido (N.m-1);
desprezível; principalmente quando a humidade do solo não é α é o ângulo de contacto líquido-sólido-gás;
muito baixa. Concentrações típicas para estes solos são C = 10-4 a r é o raio do capilar (m);
10-3M, o que implica em valores desprezíveis de ψos (verifique).
Devido a esta diferença de pressão, o líquido sobe no tubo
A componente osmótica torna-se importante no potencial capilar no primeiro caso (vidro e água), e no segundo o líquido é
total da água quando a concentração salina é significante, o que repelido do capilar (vidro com mercúrio), de tal maneira que no
acontece quando o teor de água no solo é baixo e quando existe caso de equilíbrio a pressão gravitacional relacionada com a altura
acúmulo de sais, como pode ser o caso nas proximidades de da coluna de água h, compensa a diferença de pressão.
fertilizantes aplicados ao solo e em solos salinos. Em solos
fortemente salinos o potencial osmótico pode mesmo causar a Da hidrostática sabemos que P = ρ.g.h e, por isso, é fácil
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
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verificar que no tubo capilar de vidro a altura da água/mercúrio é se o equilíbrio. Considerando o solo como constituído de
-3 o 3
Exemplo r = (2σ cos(α))/P = 2 x 71.1 10 x cos(5 ) / 30 10
-6
Questão: Um capilar de raio 0.1 mm é inserido em uma = 4.67 10 m
superfície plana de água. A temperatura é de 30oC, e o ângulo
de contacto com o material do tubo capilar é de 5o. Qual a e podemos dizer que poros de raio maiores que 4.67 µm foram
altura atingida pela água dentro do tubo. esvaziados enquanto poros de raio menor permanecem com água.
Solução: Segundo a Tabela IV-1, a 30oC a água tem uma Assim, como a água sob uma superfície plana tem um
densidade, ρ=995.68 kg.m-3; e uma tensão superficial, σ=71.1 10- potencial de pressão positivo (+h.ρ.g; ponto A na Figura IV-2), na
3
N.m-1. Então teremos: superfície tem potencial de pressão nulo (ponto B) e dentro de um
capilar tem potencial de pressão negativo (-h.ρ.g; ponto C), no solo
-3 o 3
h = 2 x 71.1 10 x cos(5 ) / (995.68 x 9.81 x 0.1 10 ) ela também pode estar sob pressões positivas, nulas ou negativas,
= 0.144 m = 14.4 cm sendo seu potencial respectivamente positivo, nulo ou negativo.
Para solos não saturados, devido à presença de superfícies de
adsorção (interfaces sólido-líquido) e meniscos (interfaces líquido-
O solo é um emaranhado de capilares de diferentes formas, gás), a pressão é negativa, conferindo-lhe potencial matricial
diâmetro e arranjo. Quando a água se aloja nestes espaços negativo. Daí sua frequente designação de 'tensão da água no
capilares, formam-se meniscos de todos os tipos. Cada material solo".
sólido tem seu próprio ângulo de contacto, etc. Vê se portanto que
é difícil aplicar fórmulas com a Equação (12) para o solo. De maneira geral podemos dizer que o potencial matricial é o
Considerando valores médios ("efectivos") de poros algo pode ser resultado do efeito combinado de dois mecanismos: capilaridade e
feito. adsorção, que não podem ser facilmente separados. A água em
meniscos capilares está em equilíbrio com a água de 'filmes' de
Exemplo adsorção, e a modificação do estado de um deles implica na
Questão: Toma-se um torrão de solo, saturado de água e modificação do outro. Desta forma, o termo mais antigo 'potencial
aplica-se sobre ela uma pressão de 0.3 atm (30 kPa), e espera- capilar' é inadequado, e um termo melhor é 'potencial matricial',
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pois ele se refere ao efeito total resultante das interacções entre a do sistema não varia com o tempo, a curva característica é única e
água e a matriz sólida do solo. não precisa ser determinada em cada experimento. Como pode ser
verificado na Figura IV-3, a humidade de saturação, θs de um solo
argiloso é maior do que a de um solo arenoso. Para o solo
Tabela IV-1 Propriedades físicas da água
Tensão Viscosidade
Calor latente de
Temperatura ( C) o Densidade Calor específico superficial (kg.sec-1.m-1)
vaporização
(kg.m-3) (J/kg) *103 (N/m) *10-3 *10-3
(J.kg-1) *106
Em solos arenosos, com poros e partículas relativamente compactado, θss é menor também, porque a compactação diminui
grandes, a adsorção electro-química é pouco importante, ao passo a porosidade, que é igual θs. Em um solo saturado, em equilíbrio
que fenómenos capilares predominam na determinação do com água pura, o potencial matricial é nulo. Aplicando-se uma
potencial matricial. Para texturas finas, dá-se o contrário. Variações pequena sucção à água do solo saturado, não ocorrerá nenhuma
no potencial também se dão para um mesmo solo, com diferentes saída de água até o momento em que a sucção atinge um
teores de humidade. Quando relativamente húmido, forças determinado valor para esvaziar o poro de maior diâmetro. Esta
capilares são de maior importância, e a medida que a humidade sucção ou tensão crítica é denominada de 'valor de entrada de ar'
diminui, as forças adsortivas vão tomando seu lugar. (Ing: air entry value). Para solos de textura grossa, este valor é
pequeno, e para solos de textura fina pode ser considerável.
Aumentando-se mais a tensão, mais água é retirada dos poros que
1.6 Curva característica da humidade não conseguem reter água contra a tensão aplicada.
Para cada amostra de solo homogéneo o potencial matricial, Relembrando a equação da capilaridade, podemos
ψm, tem um valor característico para cada teor de humidade, θ, e imediatamente prever que um aumento gradual da tensão resultará
vice versa. O gráfico de θ em função de ψm é então uma em um esvaziamento de poros progressivamente menores, até que
característica da amostra, e é comumente denominada de "curva a tensões muito altas, somente poros muito pequenos conseguem
característica da humidade do solo", ou, simplesmente, "curva de reter água.
retenção de água". A altos teores de humidade, nos quais
fenómenos capilares são de importância na determinação da A curva de θ versus ψm é determinada experimentalmente.
relação ψm-θ, a curva característica depende da geometria da Como já vimos nas aulas práticas, esta determinação não requer
amostra, isto é, do arranjo e das dimensões dos poros. Para baixos aparelhagem muito sofisticado, mas deve ser efectuada muito
teores de humidade, o potencial matricial praticamente independe cuidadosamente e é demorada. Até o momento nenhuma teoria
de factores geométricos, sendo os factores mais importantes a satisfatória existe para a previsão da curva característica da
superfície específica e as características das superfícies de humidade. No entanto existem na literatura vários trabalhos que
adsorção (mineralogia da argila). Na Figura IV.3 são apresentadas apresentam equações empíricas que possibilitam descrever a
algumas curvas de retenção para diferentes amostras. maioria das curvas, e cujos parâmetros podem ser correlacionados
com outras características do solo mais facilmente determináveis
Conhecendo a curva característica de um solo, pode-se (p.e. granulometria, porosidade total, %
estimar θ conhecendo-se ψm ou vice-versa. Desde que a geometria
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│ │
0.5├─ 0.5├─
│ │
│ │
0.4├─ 0.4├─
│ │
θ │ θ │
0.3├─ B 0.3├─
│ │
│ │ D
0.2├─ 0.2├─
│ A │ C
│ │
0.1├─ 0.1├─
│ │
│ │
└────┴────┴────┴────┴────┘ └────┴────┴────┴────┴────┘
0 1 2 3 4 5 0 1 2 3 4 5
log (-ψ,cm)=pF log (-ψ,cm)=pF
Figura IV.3 Curvas características da humidade do solo.
(A) solo arenoso; (B) solo argiloso;
(C) solo franco não compactado; (D) solo franco compactado
│ │
│ │
├─ a ├─
│ │ │ l │
│ ├────┤ t ├───┐
a├─ │ │ u ├─ │
l│ │ │ r │ │
t│ └─┐ ┌┘ a │ └─┬──────┐
u├─ │ │ ├─ │ │
r│ ┌┘ │ d │ │ │
a│ │ └┐ a │ │ │
├─ │ │ ├─ B│ │A
│ │ ┌┘ á │ └─┐ │
│ │ │ g │ │ │
├─ └┐┌┘ u ├─ └────┴─────┐
│ ││ a │ │
│ ││ │ │
└─────────┴┴────────────── └────┴────┴────┴───┴┴────┘
-ψ
Figura IV.5 Histerese relacionada à não uniformidade dum capilar.
curva A: secagem; curva B: molhamento
2.1 Introdução H = ψP + ψm + ψg
Desta forma, se 10 cm3 de água atravessam 5 cm2 de solo A equação de Darcy (16) simplesmente nos diz que o fluxo q
em 10 min, a densidade de fluxo será 10/(5*10*60) = é proporcional à força que atua sobre a água, isto é o gradiente de
0.333 10-3cm3.cm-2.seg-1 ou 0.333 10-3cm.seg-1 = 0.2 cm.min-1. potencial. O coeficiente de proporcionalidade K é a condutividade
Apesar deste fluxo ter dimensões de velocidade, ele não hidráulica. Aparece ainda um sinal negativo na equação, que
representa a velocidade com que a água se move dentro do solo. A unicamente indica que o sentido do fluxo é o inverso do gradiente.
velocidade real v da água no solo é o volume de água Q que passa A condutividade hidráulica pode, então, ser definida pela relação
por unidade de tempo pela área disponível ao fluxo, isto é, secção entre o fluxo e o gradiente:
transversal de poros ocupados pela água. Esta secção transversal
-1 -1
de poros é o produto da área efectiva A e a porosidade ocupada K = -q/∇H (cm.sec )/(cm.cm ) = cm/seg
por água, θ. Assim:
sendo suas dimensões iguais às do fluxo (se o potencial H for
θs,A θs,B
2├─ 2├─
│ │ C
1├─ 1├─
│ │
0├─ 0├─
│ │
logK ├─ A logK ├─
│ │
-2├─ B -2├─
│ │
-3├─ -3├─ θs,C
│ │ θs,D
-4├─ -4├─
│ │ D
-5├─ -5├─
│ │
└───┴───┴───┴───┴───┴───┘ └───┴───┴───┴───┴───┴───┘
0 θ 0.6 0 θ 0.6
-L = - 50
q = -K0 (HA-HB)/(zA-zB)
Por outro lado, se a camada inicialmente molhada for profunda e redistribuição de água durante o tempo ∆t. Depois disto calcula-se
se o solo abaixo estiver bem húmido, o gradiente de potencial os novos valores de θ e [através das curvas de retenção de água
matricial será pequeno e o processo de redistribuição ocorre (ψm vs. θ) e da condutividade hidráulica (K vs. θ)] os novos valores
principalmente sob a influência da gravidade. de K e H em todas as camadas. Em seguida começamos de novo
o ciclo com a resolução da Equação 22. Estes ciclos devem ser
Em qualquer caso, a velocidade de redistribuição geralmente repetidos até que a soma dos ∆t's é igual ao tempo de interesse.
decresce com o tempo por duas razões: a) o gradiente de potencial Como o grau de acerto deste método depende muito do tamanho
entre as zonas húmidas e secas diminui à medida que as primeiras de ∆z e ∆t (quanto menor mais confiável), são necessários muitos
cálculos. Portanto, este método só pode ser aplicado para
situações práticas, com o uso de um computador. Um exemplo da
aplicação deste método para um sistema simplificado é dado no
Apêndice 1.
um critério prático e útil para o limite superior de água que o solo Outros pesquisadores encontraram evidências que a
pode reter. O uso da CC facilita muitos cálculos simplificados do disponibilidade da água às plantas decresce com a diminuição da
balanço hídrico e das necessidades de água de irrigação. humidade do solo, e que a planta pode sofrer deficiência de água e
Um outro conceito derivado da CC é a capacidade de ar (CA) (Ing: redução de crescimento antes de alcançar o ponto de
air capacity), definida como a quantidade de poros enchidos com ar murchamento (curva b). Outros ainda procuraram dividir o intervalo
quando o solo estiver sob CC (CA=θs-CC). Solos com CA pequena de água disponível em dois intervalos: "a água imediatamente
(<8-10%) apresentam problemas de drenagem interna, o que pode disponível" e "a água decrescentemente disponível", e procuraram
causar anaerobioses. um "ponto crítico" entre a CC e a CE, como um critério adicional
para a definição da água disponível (curva c). Certos autores
A CC deve necessariamente ser determinada no campo e o consideram este ponto crítico um constante do solo, geralmente
interessado deve estar ciente de suas limitações. Não existe e nem expressa como a humidade retirada a uma determinada tensão
pode existir um método de laboratório para sua determinação, (p.e. 100 kPa). Em vários trabalhos da FAO, (Doorenbos &
pelas razões mencionadas acima. Os valores dos vários métodos Kassam, 19#) este ponto crítico foi denominado de factor de
de laboratório que mesmo assim foram propostos, tais como deplecção, p, que nos seus cálculos de balanço hídrico para várias
valores obtidos na placa de pressão a 10 ou 33 kPa (1/10 ou 1/3 culturas a nível continental é constante e considerado como uma
bar), nunca poderão representar a CC medida no terreno. Em característica de cada cultura. Segundo seu método a água
alguns casos pode haver uma boa correlação entre a CC e a facilmente utilizável (AFU) é definido como AFU = p(FC-EC).
quantidade de água retida sob uma determinada pressão, mas é
fundamentalmente errado esperar que tal critério seja Recentemente, uma mudança fundamental ocorreu na
universalmente válido. interpretação das relações solo-planta com respeito à água. Com o
desenvolvimento do conhecimento teórico do estado da água no
solo, na planta e na atmosfera, e com o desenvolvimento das
2.4 Disponibilidade de água para as plantas técnicas experimentais (e ainda pela disponibilidade de
computadores baratos e velozes), uma interpretação mais sólida
O conceito de disponibilidade de água para as plantas trouxe pode ser dado ao problema. Viu-se então que o fenómeno da
por muitos anos controvérsia entre os pesquisadores. A principal disponibilidade da água depende de factores do solo
causa da controvérsia é provavelmente a falta de uma definição (condutividade hidráulica, relações entre humidade e potencial,
física do conceito. Pode-se distinguir três critérios "clássicos" para presença de camadas adensadas), da planta (densidade radicular
este conceito, que são ilustrados na Figura IV-9, indicadas pelas em diferentes profundidades, taxa de crescimento das raízes,
curvas a,b e c: Veihmeier & Hendrickson (1927, 1955) afirmam que fisiologia das raízes, área foliar, morfologia foliar (cera,
a água do solo é igualmente disponível em um intervalo de pubescência, localização e densidade das estomatas); e da
humidade que vai de um limite superior (a capacidade de campo, atmosfera (déficit de saturação, vento, turbulência, radiação).
CC) até um limite inferior, o coeficiente de emurchecimento
permanente2 (CE) (Brasil: ponto de murchamento permanente Segundo as metodologias mais modernas, o sistema solo-
(PMP); Ing: permanent wilting point). Então o total de água planta-atmosfera deve ser analisado como um todo (sistema
disponível às plantas (AD) pode ser definido como AD = CC-CE. integrado). No entanto, um problema sério desta aproximação é
que as características de todos os componentes do sistema, bem
Estes autores postulam que as funções biológicas das plantas como as interacções entre os componentes, devem ser
permanecem inafectadas neste intervalo, variando abruptamente minuciosamente descritas. Isto envolve muitas determinações
uma vez ultrapassado o limite inferior (Figura IV.9, curva a). detalhadas, e posteriormente, muitos cálculos dos fluxos entre os
componentes, e das mudanças no estado dos componentes. Para
situações práticas este problema torna-se muitas vezes proibitivo.
2
O coeficiente de emurchecimento permanente foi definido por Veihmeier & Hendrickson (1949) como a
humidade do solo na qual uma planta não túrgida não restabelece turgidez, mesmo quando colocada em
atmosfera saturada por 12 h. Comumente assume-se que esta humidade do solo corresponde a um potencial
de -15 atm.
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
63
APENDIX I
Questão: Considere um solo arenoso com três camadas, 0-20, 20-40 e 40-60 cm. Neste solo é aplicada uma rega, que deixa a
primeira camada saturada com água. Calcule a humidade de cada camada depois de 42 minutos usando os dados seguintes.
Resposta:
Usando um intervalo ∆t de 3 minutos (0.05 horas):
camada θ ψm K Q
(cm) (cm.cm-1) (cm) cm.h-1 (cm)
.000 horas
0-20 .350 .000 .415E+01 ..
20-40 .037 300.000 .521E-04 ..
40-60 .037 300.000 .521E-04 ..
.050 horas
0-20 .267 37.226 .530E+00 .332E+02
20-40 .120 104.627 .108E-01 .521E-04
40-60 .037 300.000 .521E-04 .521E-04
.100 horas
0-20 .264 38.112 .499E+00 .118E+01
20-40 .123 102.274 .120E-01 .584E-01
40-60 .037 298.989 .530E-04 .521E-04
.150 horas
0-20 .261 38.921 .472E+00 .108E+01
20-40 .125 100.236 .132E-01 .654E-01
40-60 .037 297.866 .540E-04 .552E-04
.200 horas
0-20 .259 39.667 .449E+00 .987E+00
20-40 .128 98.448 .144E-01 .721E-01
40-60 .037 296.637 .552E-04 .587E-04
APONTAMENTOS DE CIÊNCIA DO SOLO
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camada θ ψm K Q
(cm) (cm.cm-1) (cm) cm.h-1 (cm)
.300 horas
0-20 .254 41.006 .409E+00 .848E+00
20-40 .132 95.451 .166E-01 .848E-01
40-60 .038 293.893 .580E-04 .670E-04
.350 horas
0-20 .253 41.613 .393E+00 .793E+00
20-40 .133 94.180 .176E-01 .908E-01
40-60 .038 292.393 .596E-04 .718E-04
.400 horas
0-20 .251 42.186 .378E+00 .745E+00
20-40 .135 93.031 .186E-01 .964E-01
40-60 .038 290.817 .613E-04 .770E-04
.450 horas
0-20 .249 42.730 .364E+00 .702E+00
20-40 .136 91.987 .196E-01 .102E+00
40-60 .039 289.173 .631E-04 .827E-04
.500 horas
0-20 .247 43.246 .351E+00 .664E+00
20-40 .138 91.033 .206E-01 .107E+00
40-60 .039 287.468 .651E-04 .888E-04
.550 horas
0-20 .246 43.738 .340E+00 .630E+00
20-40 .139 90.160 .215E-01 .112E+00
40-60 .039 285.710 .672E-04 .953E-04
.600 horas
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