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Sussurros sobre o vidro

Eu sempre te via através da janela. Era estranho pensar que me apaixonei por
alguém quando nunca havíamos trocado uma palavra sequer, ainda mais por um garoto.
Isso porque a minha inconstância sempre me pareceu o suficiente para que eu fosse eu
mesmo por inteiro, o verdadeiro Jongdae. E realmente é o suficiente, mas percebi que
gostaria de ser complementado por alguém.

Alguém como você, talvez.

E mesmo sem falar contigo eu te observava sorrir como um anjo, sempre através da
janela, que se tornou minha melhor amiga por me permitir te ver do outro lado da rua
naquela praça. Como meu quarto não era lá muito alto eu podia enxergar bem o universo
dos teus olhos.

Em frente à minha casa você gargalhava de algo que seus amigos diziam como se o
mundo fosse todinho seu, como se os problemas não existissem. E, bem, confesso que no
início senti inveja da sua felicidade, porque como o bom covarde que eu era, eu não tinha
coragem para sair do quarto e encarar de frente os meus problemas, encarar as pessoas,
encarar meus desejos, encarar você. Mas com o tempo o seu sorriso deixou de ser motivo
de inveja e se tornou minha maior admiração. Acho que ele é o que mais gosto em ti. Quer
dizer, você todinho é perfeito, mas o teu sorriso é o meu ponto fraco, é aquilo que me
desarma contra qualquer coisa. É como se eu visse toda a beleza do mundo concentrada
em você.

Às vezes acho que você realmente roubou toda a beleza do mundo pra você e que
não planeja devolver nunca.

O problema era que eu só via seu lindo sorriso através da janela, muitas vezes
escondido pelo pano frio da cortina. Era tão ruim querer querer ouvir a sua voz, conhecer
seus gostos e manias.

Qual seria sua cor preferida?

Como seria o som da sua gargalhada mais sincera?

Você gostaria mais de comidas doces do que de salgadas?

Como seria seu rosto quando estivesse bravo?

Era tão ruim me sentir distante de você e por culpa minha. Culpa minha porque o
covarde disso tudo era eu.

Mal consigo contar quantas vezes nossos olhares se cruzaram e eu me escondi com
medo de você perceber que eu existo. Acho que se você olhasse pra mim por mais um
tempinho você veria nos meus olhos que eu estava perdidamente apaixonado por ti, sem
nem saber o teu nome. E era nesses momentos que o meu mundo parava por me dar conta
de que meu coração era teu.

Os dias se passavam e eu só me apaixonei mais, e me iludia com uma paixão


inalcançável para alguém como eu.

A janela se tornou minha maior inimiga, porque todos os dias era ela que refletia a
minha incapacidade de correr atrás das minhas vontades, de lutar para não ser só mais um
covarde.

Naquele dia eu te observava. Acho que você estava especialmente feliz, e isso
encheu meu coração de alegria. Você sorria tanto enquanto olhava seus amigos que não
me reprimi quando um sorriso brotou em minha boca, porque sua capacidade de me alegrar
sem que eu ouça um ruído sequer é o que mais surte efeito em mim.

E nesse mesmo dia você prendeu seu olhar em mim como nunca tinha feito. Como se
seus amigos não existissem. Como se a única coisa que importasse fôssemos nós.

Não pude fazer nada além de congelar na hora e me fazer refém do teu olhar. Meu
quarto estava silencioso como sempre, e dentro de mim meus pensamentos se
amontoavam em desespero, tão barulhentos que não diziam nada. Mas você disse.

“Como você se chama?” Li em seus lábios a frase tomar forma, mesmo sem ouvir.

Demorei a responder, senti minha boca tremer, mas nunca sem tirar meus olhos de
você.

“Jongdae.” Sussurrei contra o vidro vendo o mesmo se embaçar pelo meu hálito
quente.

“Sou o Minseok” Não entendi de primeira, confesso que sua boca se mexendo me
distraiu.

“Minseok?”

Você balançou a cabeça em concordância, sorrindo como uma criança e voltou mexer
os lábios:

“Por que nunca veio falar comigo?”

Engoli minha saliva, sentindo-a rasgar minha garganta pela frase que eu formaria em
seguida.

“Desculpe, eu sou surdo.” Abaixei a cabeça, temendo que você visse a vergonha
estampada no meu olhar.
E que bobo eu era, porque assim que levantei meu olhar, você sorria ainda me
observando, e formou mais uma frase com a boca:

“Eu também sou.”

E meu mundo parou mais uma vez.

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