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eformador FEDERAGAO ESPIRITA BRASILEIRA DEUS, CRISTO E CARIDADE ANO 139 | N° 2.310 | SETEMBRO 2021 0 NOVO TESTAMENTO Pesquisas sobre a axe Sm NIE HK (Tho Woe moet PMO sora Wo SON Many Se) oon patae GW Gia Tol Noo Cae Cog Se os pioneiros do Espiritismo retornassem, o que teriam a nos dizer? Com a autoridade do pioneirismo e da experiéncia, os vanguardeiros do Espiritismo no Brasil ressurgem para orientar os que trilham os. mesmos passos. SEAREIROS ff =voun pe VOLTA Waldo Vieira POR ESPIRITOS DIVERSOS Zee Livro espirita para um novo mundo @ febecitora MW MW ME xPeDIENTE Fundada em 21 de Setemro de 1883, Fundador: dugusto Flas da Siva Reformador Revista de Espiritismo Cristao Ano 139 N* 2310] Setembro 2021 sou as%9 Propriedde ooientagio da Federacso spirtaBrsilera retort Go Baro Ney or Sera tries rer Redagdo: #00 Sos Calg Soe. Cato Camp song, ei ue oe Caos daha Seractarafures de Chea de uta “Jomalista Responsavel its nso roe TTF SHS ‘oordenare da Er: st Dae age Projeto gfe Sia rae Dlagamagae: ns awe rnirtetscam Revie evra anne Bras Espn vjxaPar Csi Capa: rte ies i Fotesoocnonisnsr Registre de publespion121°20973I0-1Fo Uepranena de bared Mista dust APE SS HABE Bt eseemses Diego edagto se cern 2 te redacanwiorracr ebay wang ‘woveonetorgte Fesetetnetorgar TARA OBES ‘ssnura aa 2$ 15000 ese og 50.00 ara exenion ‘ssnuraanvat-Us$ 10000 Contats pare Assinar: "ef aa-sil solace cembe ru souetrsptacembr MEMES umirio 0 10 A$ HU Editorial Grande e belo desafio Capa AFonte Qe 2 origem dos evangelhos - Daniel Salomao Silva Acrianga ante o futuro ~ Vianna de Carvatho (Espirito) Oragao do merecimento ~ Mirio Frigér Cuidado com os falsos profetas — jorge Leite de Oliveira Os cooperadores de Ismael — josé Carls da Si Silveira Esflorando 0 Evangelho CQ espinho / La dorno ~ Emmanuel (Espirito) ACasa Espirita construida na rocha Waldchir Bezerra de Almeida ‘Amediunidade revelada e esclarecida ha 160 anos Rogério Miguez Covid-19 ~ Reflexao a luz do Espiritismo ~ Xerses Luna Aincessante busca da felicidade e o Espiritismo Orlando Ayrton de Toledo Em Dia com o Espiritismo Acoragern da decisao ~ Marta Antunes Moura Vinte razées para estudar a mediunidade Wesley Caldeira Convite para a renovagao interior — Aurora Atma Paulo Sérgio Manhaes Peixoto (1950-2020) lider dos Reis Sampaio Realisma sadio ~ Martha Franco de Azevedo Conselho Federativo Nacional ‘a da Reuniao virtual da Comisséo Regional Centro ~ 2021, Jesus destruiu as barreiras discriminatorias Ricardo dos Santos Malta SY A A TORI AL sid Grande e belo desafio “Quem nao é comigo é contra mim; e quem comigo nao ajunta, espalha” (Mateus, 12:30). rotagonistas de um mo- mento decisivo em nos- so processo_evolutivo, caracterizado pelo avango tec- nolégico em patamares jamais vistos pela Humanidade, con- trastando com a depressio, o vazio existencial, a loucura, a guerra, a inveja, a corrupgio € a incerteza do porvir, nossas escolhas serio decisivas para avangarmos ou nao na direcio do equilibrio intelecto-moral Ha dois mil anos, a Huma- nidade foi brindada pela Mise- ricérdia Divina com 0 enviado de Deus, Jesus Cristo, para r lembrar, com 0 seu inigualivel exemplo, a Verdade, as Leis Di- yinas que haviam sido esque- cidas e abandonadas. Adverte, entdo, o Mestre, sem deixar es- pago para a neutralidade, que quem nao esta com Ele é contra Ele. Ou seja: quem desejar estar com Jesus, conforme registrado Reformador | Sete 02) no Evangelho de Mateus, tera gue decidir, pois a omissdo au- toriza 0 dominio do mal e dos seus protagonistas, porque 0 ca- minho que Ele aponta é marca- do pelo sew inigualvel exemplo da pritica do Bem. A conjuntura est desafian- do a Humanidade a se posi- cionar, pois néo abriga mais os que se encontram tomados pela diivida, e convida a todos para sairem da zona de conforto e optarem por estar com Ele ou contra Ele. Estar com Jesus é caminho seguro e correto para a pritica do Bem, € sair da zona de aco- modagio e adentrar as zonas de conflitos que o cotidiano oferece; agora, nao mais para espalhar, mas para ajuntar. Isto significa colocar no pedestal mais alto a Xinica condigao paraa salvacio:a Caridade. E também sair da po- o de admirador da Doutrina de Jesus, sua Boa-Nova, 0 Evangelho, para _conhecé-lo realmente, meditar sobre suas luzes, sentir suas vibragdes tocar as fibras mais intimas e viver a Boa-Nova empreendendo esfor- go e muita vontade para domar as inclinagées més. Grande e belo desafio, até entio contemplado, porque co- nhecido; mas a partir do instan- te em que se decide estar com Ele, novos habitos sfo adquiri- dos no desabrochar de uma era nova cheia de esclarecimentos, & e esperanga. Estejamos, pois, com Ele consolo, para ndo sermos contra Eles somente assim seremos_in- duzidos e, a0 mesmo tempo, indutores unio, & concér- dia, & humildade, ao amor 4 paz, ajuntando endo mais espalhando, como servidores voluntarios a realizar a nossa propria regeneracio. a ay MC aps A Fonte Qe aorigem dos evangelhos Resumo © artigo apresenta contri- buigdes da obra Paulo e Estévao a anilise das origens dos evan- gelhos, particularmente no que se refere & Teoria das Duas Fon- tes, atualmente a mais aceita entre os pesquisadores do tema. Segundo essa hipétese, o Evan- gelho de Marcos e a Fonte Q um texto hipotético que reu ia o material comum entre os Evangelhos de Mateus e Lucas, seriam base para esses livros. A obra Paulo e Estévio faz refe- réncia As anotacdes de Levi, que podem ter relagdo com a Fonte Qc oferece pistas sobre a pos- sivel sequéncia de escrita dos evangelhos. Palavras-chave Cristianismo Primitivo; Paulo ¢ Estévdo; Fonte Qs evangelhos. Daniel Salomao Silva salornaoimemayahoo.combr Conforme © primeiro ca- pitulo da obra A génese, a re- velacao espirita “[...] contrai alianga com a Ciencia [...]” € se interessa por todos os ramos da economia social, apoiando-os e assimilando suas descobertas, quando en- tendidas como “|...] verdades priticas [..J"' Logo, ainda que possuam suas limitagées, as pesquisas histéricas & bi- blicas podem contribuir para nossa melhor compreensio da figura Jesus, das origens dos evangelhos e das_primeiras comunidades cristis. O estu- do cientifico da Biblia tem sido desenvolvido de forma mais ampla desde o século XIX ¢, hoje em dia, é bem mais rico, menos pretensioso, liberto das amarras teol6gicas e cuidadoso em suas conclusbes.* Ademais, aliada a essa abordagem, podemos contar também com a contribuigio de obras meditinicas. Allan Kardec, na edicdo da Revista Espirita de janeiro de 1858, des- tacou a psicografia, pela médium Ermance Dufaux, da histéria de Joana d’Arc ditada por ela mesma. As hist6rias de Luis XI € Carlos VIII também foram publicadas por essa médium, cuja especialidade se mostrou ser esse tipo de psicografia.’ Ao publicar parte da vida de Luis XI no més de junho desse ano, Kardec afirmou que “[..] as comunicagGes espiritas po- dem nos esclarecer sobre a Historia, quando sabemos nos colocar em condigées favora- veis [...]"“ Assim, entendemos Setembro de 2021 | Reformador 5 a5 516 que obras meditinicas sérias posteriores também podem contribuir para o conhecimen- to histérico, sempre levando em conta os cuidados bem de- lineados por Kardec quanto a0 que vem dos Espiritos.* A obra Paulo e Estéviao, do Espirito Emmanuel, pela mediunidade de Chico Xavier, é uma delas. Neste artigo, propomos um didlogo entre essa obra e al- gumas hipéteses académicas sobre as origens dos evange- Ihos, particularmente dos trés primeiros. Notavel & 0 fato de que es- ses evangelhos possuem gran- de semelhanga, 0 que pode indicar origens comuns para sua escrita, dai sua denomina- 40 de sindticos, ou seja, que compartilham © mesmo ponto de vista. Se observados para- lelamente, & possivel perceber que quase 80% do Evangelho de Marcos esté inserido em Mateus e Lucas, enquanto esses dois evangelhos possuem apro- ximadamente 65% de material em comum. No século XIX, a partir do estudo das relagdes de depen- déncia entre os Evangelhos de Marcos, Mateus ¢ Lucas, algu- mas questdes foram propostas. Haveria um evangelho primor- dial, base para os demais? Cada um deles reproduziria uma mesma ou semelhante tradigio oral? Ou teriam se baseado em Reformador | Setembro de 20121 colegdes de pequenas narrativas sobre Jesus? Em discussées que ainda continuam, mais aceita tem sido a Teoria das Duas Fon- tes. Segundo ela, Marcos seria © evangelho mais antigo e te- ria sido usado pelos autores de Mateus e Lucas na construgio de seus textos. Além da forte presenga de Marcos nesses dois evangelhos, outros argumentos reforgam essa posigao. Em pri meiro lugar, quando Mateus e Lucas concordam com Marcos, também sempre concordam entre si, Além disso, quase sem- pre a sequéncia dos trechos comuns entre trés evangelhos segue a mesma ordem que Marcos.* Naturalmente, trata-se de uma hipétese. Todavia, hi também uma parte considerével de coinci- déncias entre Mateus e Lucas que esti ausente de Marcos, 0 gue equivale a aproximadamen- te 25% desses textos. Logo, a segunda fonte da hipétese que descrevemos seria a base des- sa parte significativa. Como a maioria dessa intersecdo & com- posta de ditos de Jesus, esse ma- terial foi chamado de Fonte dos Ditos ou Fonte Q (de Quelle, “fonte” em alemao), documento que setornoubem populaream- plamente lido no tiltimo quarto do século I. Mateus, Lucas, e tal- vez 0 priprio Marcos, consulta- ram esse texto e usaram-no sob diferentes perspectivas.’ Impor- tante é salientar que a Teoria das Duas Fontes, bem como a Fonte Q éuma hipétese limitadae que nao pretendemos, nesse texto, defendé-la, mas dialogar com ela. Como argumentos a seu fa- vor, além da existéncia de tre- chos iguais em Mateus e Lucas, destacam-se 0 alto grau de concordancia verbal entre am- bos em algumas das falas que seriam de Q; a presenga de ex- presses em grego incomuns, Taras nos textos em grego neo- testamentirios e judaicos da época, mas que aparecem no material comum a Mateus e Lucas; € a consonancia dificil de explicar na sequéncia dos trechos comuns desses evan- gelhos.* © que é bem provavel & sua origem escrita, pois as intersegoes de Mateus e Lucas com frequéncia compartilham as mesmas palavras na mesma ordem (lembrando que a lin- gua grega nao é rigorosa quan- to ao ordenamento da orago) € até mantém os ditos parale- Jos na mesma sequéncia, como jd apontado” Nesse ponto, as compara- Ges com as informacées da obra Paulo e Estévao se tornam enriquecedoras, Nela se atribui a Mateus a autoria dos primei- ros textos cristéos. As anota- es de Levi (Mateus, segundo Emmanuel) sio entregues por Pedro a Jeziel (futuro Estévao) pouco mais de um ano apés a crucificagao de Jesus, quando de sua chegada a Jerusalém." Segundo Emmanuel, “ Jeziel nao leu; devorou [...]” 0 material recebido, visivelmen- te emocionado, Sendo 0 tinico texto citado por Pedro, pode- mos entender que, pelo menos no conhecimento da comuni- dade crista de Jerusalém, nao havia outro registro escrito dos feitos de Jesus nesse momento. Como Jeziel conhecia 0 grego © 0 aramaico,"' nao é possivel, por essa informacao, deduzir em qual lingua estavam essas anotagées, mas sabemos que tanto ele quanto Pedro po- diam Ié-las. Todavia, esse texto provavelmente foi escrito ori- ginalmente em grego, pois as variagdes verbais em Mateus e Lucas, quando derivadas de Q, nao poderiam ser explicadas como oriundas de um mesmo original aramaico. Alm disso, © grego que aparece em Qé di- ferente do de tradugées do he- braico/aramaico para 0 grego, como a Septuaginta,” apresen- tando em mais de um caso um estilo mais. sofisticado, idio- matico, Dessa forma, a hipéte- se de uma escrita original em aramaico € improvavel.” As anotagées de Mateus sio também entregues por Pedro, em outro momento, ao fariseu Gamaliel, membro do Sinédrio € simpatizante da mensagem Setemt ie 202) | Reformador sv sie 8 crist. Segundo Emmanuel, em um encontro entre os dois, © apéstolo “[..]. Carinhosa- mente, ofereceu-lhe uma c6- pia, em pergaminho, de todas as anotagoes de Mateus sobre a personalidade do Cristo e seus gloriosos ensinamentos (...]”! O priprio Saulo de Tarso, logo apés sua conversio e solicitar a Ananias 0 evangelho, foi in- formado de que “...] somen- te na igreja do ‘Caminho, em Jerusalém, poderfamos obter uma cépia integral das ano- tages de Levi’, mais uma vez sem referencia a qualquer ou- tro texto ou evangelista. Inte- ressante & notar que Ananias declara ter anotagdes incom- pletas, “[...] alguns elementos da tradiggo apostélica |...) que parecem ser partes desses escritos de Mateus."* © apés tolo dos gentios s6 teria aces- so aos textos completos de Levi ao recebé-los do préprio Gamaliel: aqueles mesmos que Ihe haviam sido entregues por Simao Pedro!" Pouco tempo apés recebé-los, ja em seu reti- 10 no Oasis de Dan, Paulo ain- da teve a alegria de descobrir que Aquila e Prisca também possuiam os textos, que pas- saram a estudar em conjunto."” Ainda que apenas em nossa imaginagao, belissimo deve ter sido o encontro de Paulo com Mateus. Segundo Emmanuel, sem se revelar, em Cafarnaum Reformador | Setembro de 20121 Paulo “(...] procurou Levi, que o recebeu de boa vontade. ‘Mostrou-lhe sua dedicagio € conhecimento do Evangelho, falou da oportunidade de suas anotag6es [..""" Ainda na obra Paulo ¢ Estévido & possivel encontrar al- gumas citagdes de trechos das anotagées de Mateus. Na pri- meira parte da obra é narrada a emogio de Estévao ao ler pela primeira vez 0 Sermio da Mon- tanha ao lado de Pedro." Tam- bém Estévdo, em uma de suas regagGes, cita Mateus, 10:6 e 7: “Mas ide, antes as ovelhas per- didas da casa de Israel; e, indo, pregai dizendo: £ chegado o Reino dos Céus’” O didlogo de Jesus com 0 mogo rico (Mateus, 19:16 a 23; Marcos, 10:17 © 23; Lucas, 18:18 a 24) & citado por Paulo de Tarso,” como também a recomendagao de reconcilia- ‘glo com os adversérios (Mateus, 5:25; Lucas, 12:58 59). Considerando a existéncia da Fonte Q, apenas a iltima citagdo faria parte dela, pois coincide com Lucas (lembran- do que a Fonte Q é constituida hipoteticamente das interse- ‘gOes entre Mateus e Lucas). A terceira, como possui coinci- déncia com Marcos, éatribuida a esse evangelho, se conside- rado 0 mais antigo, como ex- plicamos. Naturalmente, isso nao nega absolutamente sua presenga também em Q Quanto a segunda, ainda que o trecho queainclui possua paralelos com Lucas e Marcos, los 6 e 7 s6 aparecem em Mateus, logo sio conside- rados como exclusivos dele, como material especial (20% do livro). Por fim, sobre a pri- meira citagao, como 0 Sermo da Montanha reine trés capi- tulos de Mateus, no podemos precisar o que realmente estava assinalado no documento lido por Estévao. Logo, segundo a obra Paulo ¢ Estévdo, ha impre- cisdes na reconstrugio que tem sido proposta para a Fonte Q, ow entio ela nio coincide com as anotagbes de Levi. Entretan- to, essas conclusdes nao sio su- ficientes para invalidar a Teoria das Duas Fontes, mesmo por- que seus préprios defensores preveem a possibilidade de coincidéncias com Marcos ¢ os vers acréscimos/exclusdes _feitas pelos autores dos evangelhos seguintes. Por fim, a partir de outras indicagoes de Paulo e Estévao, & ainda possivel propor uma sequéncia para alguns textos do Novo Testamento. Em primei- ro lugar, nao podemos assumir com certeza queas anotagées de Levi coincidem com 0 Evange- Iho de Mateus que conhecemos, logo, nao é seguro concluir que esse evangelho seja o primeiro. Afinal, se esse fosse 0 caso, por que Emmanuel nao chamou esses textos de “evangelho de Mateus’? Em segundo lugar, pelas referéncias a juventude de Marcos & época de Paulo ¢ or nao termos citagdes do seu evangelho até a execugio de Paulo, podemos projetar o ini- cio de sua escrita para a década de 60, no minimo. De Lucas po- demos dizer algo semelhante. Segundo Emmanuel, também na década de 60 do século I, “[.] 0 ex-doutor de Jerusalém chamou a atengdo de Lucas parao velho projeto de escrever uma biografia de Jesus, valen- do- J’, como também para a ne- cessidade de registro das ativi- dades apostélicas, o que daria origem ao livro lucano Atos dos apéstolos.® Dessa forma, teria- e das informagbes de Maria mos a sequéncia “Anotagdes de LevifMateus (década de 30; Fonte Q ou material exclusivo de Mateus?) ~ Cartas de Paulo (década de 50) - Evangelhos de Mateus/Marcos/Lucas/ Atos dos apéstolos (a partir da déc da de 60)", 0 que esti quase em acordo com as projegdes mais consensuais entre os estudio- sos, que admitem a escrita des- ses evangelhos entre 0s anos 70 e90d.C. Enfim, sem pretensdes de pioneirismo, que atribuimos ao proprio Allan Kardec, ou de esgotar 0 assunto com esse breve texto, convidamos © Movimento Espirita a que valorize as pesquisas cienti- ficas sobre a Biblia e 0 Cris- tianismo Primitivo em seus estudos evangélicos, sempre em diélogo com as bases kar- dequianas e as obras subsidia- Assim, em acordo com Kardec, exer- citamos nossa razio e cons- rias mais consensuais truimos um conhecimento mais maduro ¢ responsvel, parceiro das conquistas cien- tificas, as quais também de- vem ser lidas de forma critica. Afinal, “[...] 0 que caracteriza a revelagao espirita é 0 fato de ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espiritos, sen- do a sua elaboragao fruto do trabalho do homem”?* REFERENCIAS: * KARDEC, Alton, A génese. Trad. Evandro Nolete Bezerra. 1. ed. 2. imp, Brasiia, DF: FEB, 2019. cap. it. 5. 2 THEISSEN, Gerd; MERZ, Annette. 0 ‘Jesus histérice: um manual. 2. ed. So Poul: Edigées Loyola, 2004, Prefécio, p.13e1h, S KARDEC, Allen. Revista Espirite:jor- nal de estudos psicolgicos. ano I, n 4, jan, 1868, Histéria de Joana d'Are. Trad. Evandre NoLeto Bezerra 5. ed. 1. imp. Brasilia, DF: FEB, 2014, ‘ . 6, jun. 1858, Confissdes de Luis XI, Observagéo. 5 __ Devangetho segundo oespi- ritisme. Trad. Evandro NoLeta Bezerra, 2. ed, 10. inp. Brasilia, DF FEB, 7020. Introdugao, it.I. “THEISSEN, Gerd. 0 novo testomento. Petrépolie: ozes, 207. cop. 3.2. MACK, Burton LThe Lst gospel: the book of Q ond chr 7s. Now York: Harper One, 1993. cap. 9, p. 172 " METER, John P. Um jude morgi- ‘nal: repensando o Jesus histérico. v 2, Rio de Janeiro: Imago, 1996. 4, conclusdo, p. 266 0 26. * VAAGE, Leif. 0 cristianismo Goliteu e © evangetho radical de Q. In: Revisto de Interpretogéo Bibtica Lotino- americana (RIBLAY, 0. 22, . 86 0 108 Sio Leopoldo: Sinodal, 1995/3. p. 8 © XAVIER, Francisco C. Poulo Estévio. Polo Espirito Emmanuel. 45; ed, 18, imp. Brasitia: FEB, 2020.1" pt, ap. 3 ~ fm Jerusalém © Septuoginto & a versio do Biblio hebraica [aproximadomente 0 nosso Antige Testamento) traduzida para © idiome grego por judeus no Egito entre os séculas IITe aC. "= VAAGE, Loif. 0 cristianismo Galileu 0 evangeLho rodical de O. Im Revisto de Interpretogéo Biblica Lotino- americana (RIBLAY, 0, 22, . 86 « 108 ‘io Leopoldo: Sinodal, 1995/3. p. 91 ™ XAVIER, Francisco C. Poulo Estévio. Peto Espirito Emmanuel. 65 ed, 18. imp. Brositie: FEB, 2020.1" pt, cap. 7~ As primeiras perseguigées. » 2 pt, cap. 1 Fumo ao deserto, « cap. 2-0 teceldo, " cop. 3 ~ Lutas © humithogies. » 1 pt, cap. 3 Em cop. 5~A pregagao de Estvio. a 2 pt, cop. 3- Lutas ehumithopies. 2 cap.7 ~AzEpistolos. cop. 8- Omartirio om Jorusolém. % KARDEC, Allon. A génese. Trad. Evandra NeLeto Bezerra. 1. ed. 2. imp. Brasilia, DF: FEB, 2019. cap. 1 it. 13 | Reformador 520 0 Acrianga ante o futuro lodos somos unanimes em afirmar que a crian- a de hoje é 0 futuro da Humanidade. Nada obstante, a jornada educacional da crian- ¢a.é em especial, a grande saga de libertagdo da ignorincia construgio da plenitude. Na historia da educagio a crianga tem sido 0 laboratério onde se operam os métodos psicopedagégicos mais valio- sos, resultado natural da expe- rigncia e dos estudos sobre o ser em formacao. No passado, algo remoto, a crianga era considerada wm adulto em miniatura Nao merecendo cuidados especiais, com excegio da fase Reformador | Setembro de 20121 Vianna de Carvalho (Espirito) inicial da existéncia, era tratada com desprezo e ma vontade. Nas familias possuidoras de recursos pecunidrios era entre- {gue a familias que se encarrega- vam de cuida-la e devolvé-la apés © perfodo de formagio, quando poderia anxiliar no trabalho. Sua indumentiria e com- portamento cram semelhantes aos do adulto, ndo poucas ve- zes, sendo assassinada pelos ge- nitores que a faziam sucumbir como se fosse de maneira natu- ral, escapando facilmente as leis muito benignas em relagio a0 infanticidio. ‘Muitaseramasfixiadasnolei- to de dormir, como se houvesse sido um fendmeno natural © Estado ¢ a Religiio do- minante contribufam de forma significativa para a manutengao da hediondez. Pouco antes do século X, percebeu-se que a fragilidade ea inocéncia da crianga deve- riam ser preservadas, poupan- do-a dos vicios e da degradagao vigentes em toda parte. Posteriormente, o eminente pedagogo checo Jan Comenius Intou estoicamente para de- monstrar que a crianga é um ser em formagio, que necessita de amparo e de cuidados muito es- peciais para a formagao da sua fase juvenile adulta. Dedicando-se a defender o infante das armadilhas da vida adulta, foi praticamente o primei- ro defensor do amparo ezelo pelo ser em desenvolvimento, traba- Ihando-lhe o intimo de modo a desenvolver os germes de sabe- dria que Ihe jaziam adormeci- dos, desse modo preparando-a para vida no futuro. Mais tarde, Johann Heinrich Pestalozzi dedicou a existéncia a orientar a crianga de mane ra especial, despertando-lhe os tesouros intimos, que se enflo- resceriam e dariam frutos de beleza e de harmonia. Afinal, a crianga, pelo fend- ‘meno natural se transforma em adulto, conduzindoosvaloresque tenha acumulado nas fases ante- riores do seu desenvolvimento intelecto-moral. Dignificando-a com o seu exemplo de ternura e a sua ab- rnegagio natural, respeitavaclhe © estdgio, estimulando os seus interesses na aprendizagem e enriquecimento pessoal para os enfrentamentos do porvir, en- quanto abria espagos mentais para a plenitude da futura sociedade. Logo apés ou concomitante- mente, Jean-Jacques Rousseau passou a considerar de vital importancia 0 investimento na educagao infantil por meio de significativa contribuigao pedagégica e psicolégica. No século XIX Fréebel, o sensivel mestre alemao iniciou os excelentes labores dos Jar- dins de Infancia e propicio cuidados especiais na formagio do cariter ¢ da personalidade da crianga, enquanto ofereceu educagao e instrugdo conforme a sua capacidade de absorgio psiquica e emocional. Contribuigdes valiosas do ponto de vista fisiolégico no século anterior, por meio de Pavloy, facultaram modifica- 6es profundas nos programas educacionais, A Dra. Maria. Montessori logo depois iniciou 0 seu pre- cioso labor na Casa dei Bambini € novos horizontes abriram-se para trabalhios fecundos quais os de Anisio Teixeira, Piaget € iluminados mestres, que cul- minaram com Delors € a sua proposta sobre o conhecimento. Vivem-se na atualidade recursos extraordindrios de educadores, alguns inspirados como Paulo Freire, enquanto a sociedade, distraida das suas responsabilidades morais, des- tr6i os lares e atira a crianga a lamentivel orfandade de pais vivos ¢ fornecedores de obje- tos tecnoldgicos, de modo a abandoné-la a prépria sorte. Nesse estado psicologico de abandono, o educando amadu- rece e experimenta miiltiplas agressdes no santuirio do lar, enquanto participa dos confi tos dos pais nos relacionamen- tos apressados, sem estrutura afetiva, padece _inseguranga e medo que a empurram na diregdo dos vicios consumpto- res entre os quais 0 sexo irres- ponsiivel ea drogadicio infame. ‘Aeducacao, sob qualquer as- pecto considerado, é um ato de amor que comeca na gestagio e se prolonga indefinidamente. Exige seriedade ¢ investi- mento afetivo, embora os mé- todos ¢ técnicas utilizados se baseiem no exemplo de con- duta dos pais e educadores, que plasmardo no cardter em for- magio os prodromos do bem viver e do respeito & vida. Durante a Segunda Guerra Mundial, o extraordingrio edu- cador polonés Janusz Korezak informava: Nés pagamos para formar o espirito da crianga. O que acontece com 0 seu coragao? Ele o demonstrou com a pré- pria existéncia, cuidando das criangas que se encontravam em abandono pelas ruas de Varsévia. Quando em agosto de 1942 as suas criangas foram conde- nadas aos fornos crematérios pelos nazistas, cle as guiou, a fim de que tivessem confian- ae adentrou-se com elas no campo de exterminio, embora a sua vida pudesse ser poupada, ¢ deu-a aos educandos para que tivessem dignidade mesmo no momento da morte cruel. O seu amor e a sua fé, em- bora nao fossem totalmente de alguém que se envolvesse com dogmas e postulados religiosos, Setembro de 2021 | Reformador ui sal S22 12 levaram-no a educar e exempli- ficar como o mais importante dever do cidadio. © materialismo disfargado que vige em quase toda par- te faculta o campo do prazer em vez do dever do recato e da dignific © campo do prazer de todos os ‘matizes, para que as criaturas humanas, aturdidas e irrespon- io humana, abre sdveis, atirem-se a caga do gozo sem restrigdo nem equilibrio. Nesse contexto, é inegd- vel a necessidade de mudanga ético-moral e de comporta- mento, conforme a Doutrina de Jesus Cristo, atualizada e vivida pelos seus discfpulos verdadeiros, hoje renascidos na Doutrina Espirita, a fim de que se perceba que Ele prossegue como o Educador por exceléncia, que ampara a crianga ¢ a atrai ao seu regago com respeito e ternura. Igualmente, seu discipulo Allan Kardec vivera a educa- Go , mediante o pensamento espirita, oferece o legado que constitui um profundo respeito pela vida infantil, utilizando-se das condigdes hibeis para cons- truir a sociedade feliz de hoje do futuro, MIMI (Pagina psicografada palo médium Bivalde Pereira Franco, no reuniéo rmediinica da noite de 25 de jutho de 2018, no Centro Ezprita Cominho da Rodengio, om Selvodor, Bahia} Reformador | Setembro de 20121 Oragao do merecimento “L..] A trés coisas podemos propor-nos por meio da prece: louvar, pedir, agradecer.” {Allan Kardec, 0 livro dos espiritos, q. 659) FEET Mario Frigéri ‘matiofrigeriquolcombr ‘Quem nao ora nio melhora, Quem nao melhora piora: Se vocé quer melhorar, ‘Nunca se esquega de orar. Orago € como um grito Que langamos no Infinito: Deus sempre estd de plantao Para ouvir nossa oragio. Eo Senhor pode atendé-la, Como se fosse uma estrela ‘Que subisse ao firmamento, Movida a merecimento. Para a gente merecer E preciso o bem fazer, Dando um socorro ao vizinho, Tratando alguém com carinho... E dando que recebemos, Semeando é que colhemos: Portanto, pedir sem dar Em nada vai resultar, Deus é bom, mas, veja bem, Devemos ser bons também: Quem desdenha a caridade, Desprezaa felicidade. ‘O homem, tdo imperfeito, Resiste a mudar de jeito: Quer levar em tudo a palma, ‘Mesmo coma perda da alma. Se fosse mais paciente, ‘Mais décil, mais consciente, E soubesse repartir, Pouco teria a pedir. ‘Mas vivendo como vive, Sem buscar luz que o motive, ‘Vai caminhar sem destino, Distante do Amor Divino. Quando voes, pois, orar B algo a Deus suplicar, Por favor, nao desespere Se Deus lhe disser: - Espere... Ml Cuidado com os Falsos profetas MITTAL Resumo Esclarece sobre a mensagem. do Espirito Luis, contida em O evangelho segundo o espiritismo. Apés anélise da figueira estéril e das palavras de Jesus sobre os que se assemelham a essa drvo- re, por nao produzirem fratos suaves, cita trechos diversos da mensagem do Espirito Luis intitulada Os falsos profetas. In- forma sobre contetidos biblicos estatisticos, com a finalidade de esclarecer que o principal ¢ a pritica dos ensinamentos do Cristo, no devotamento ao préd- ximo. O objetivo é ainda aler- tar-nos de que, se chamados TET AAA AA Jorge Leite de Oliveira jojorgeleite@gmail.com para ir ao encontro desses falsos rofetas, no nos deixarmos ilu- dir por sua mentirosa condigao de “investidos do poder divine’, por nao realizarem as obras da caridade e demais virtudes cris- tis, como a bondade e a indul- géncia, Conclui que nao se deve crer num Espirito sem antes ve- rificar se ele realmente provém “de Deus” ou nao passa de falso profeta dentre muitos outros nessa condigao. Palavras-chave Figueira estérilsfrutos; falsos profetass poder divino; virtudes cristas, A primeira mensagem do capitulo 21 ~ Haverd falsos cris- tos e falsos profetas de O evange- Iho segundo 0 espiritismo, sob o titulo geral de “Instrugées dos Espiritos” éa do item 8. Foi dita- da pelo Espirito Luis na cidade francesa de Bordeaux, em 1861. Seu titulo & Os falsos profetas. Lemos ali que: Se vos disserem: “O Cristo est aqui’, nao vades; ao con- tririo, tende-vos em guarda, porquanto numerasos serio 08 falsos profetas. Nao vedes que Setembro de 2021 | Reformador 13 523 as folhas da figueira comegam a branquear; nao vedes os seus miiltiplos rebentos aguardan- do a época da floragao; e nao vos disse 0 Cristo: “Conhece- -se a drvore pelo fruto?” Se, ois, so amargos os frutos, ja sabeis que ma ¢ a arvore; se, porém, sio doces © sau- daveis, direis: “Nada que seja puro pode provir de fonte ma” (KARDEC, 2020). Normalmente, 0 figo nasce primeiro que as folhas ou qua- se a0 mesmo tempo que elas. Quando Jesus vé a figueira florida, mas sem frutos, apro- veita para fazer do aconteci- mento um ensinamento. Ao dizer: “Nunca mais nasga de ti fruto algum’, simboliza, com essas palavras, a esterilidade de quem somente tem belo aspecto, mas nada produz de bom. Ou seja, uma drvore que ndo da frutos, quando deveria estar frutificada, nao cumpre sua fungdo. Assim também sao as pessoas que de boas s6 tém a aparéncia. Por esse motivo, comenta o Espirito Luis: E assim, meus irmaos, que de- is julgar; so as obras que deveis examinar. Se os que se dizem investidos de poder di- vino revelam sinais de uma missio de natureza elevada, isto & se possuem no mais alto grau as virtudes cristas eternas: a caridade, 0 amor, a indulgéncia, abondade que con- cilia 05 coragbes; se, em apoio das palavras,apresentam 0s atos, podereis entio dizer: Estes sio realmente enviados de Deus, (KARDEC, 2020, cap. 21, i. 8), O Espirito Luts, prosseguin- do a mensagem que estamos analisando, comenta: “Descon- fiai, porém, das palavras meli- fluas, desconfiai dos escribas ¢ dos fariseus que oram nas pra- as publicas, vestidos de longas ‘tinicas. Desconfiai dos que pre- tendem ter 0 monopélio da ver- dade!” (KARDEC, 2020). Iss0 porque tais pessoas néo querem transformar-se, de verdade. Acham bonitos 05 textos, desde que nao se responsabilizem em vivencid-los. Estariam tais pessoas com © Cristo? Responde-nos 0 Espirito comunicante: Nao, no, 0 Cristo nao esti en tre esses, porquanto os que Ele cenvia para propagar a sua santa doutrina e regenerar 0 seu povo sero, acima de tudo, seguin- do-the 0 exemplo, brandos shumildes de coragio; os que ha- jam, com os exemplos e conse- hos que prodigalizem, de salvar a Humanidade, que corre para a perdigao e pervaga por cami- inhos tortuosos, sero essencial- ‘mente modestos e humildes De tudo 0 que revele um to. mo de orgulho, fugi, como de uma moléstia contagiosa, que corrompe tudo em que toca. Lembrai-vos de que cada cria- tura traz na fronte, mas prin ipalmente nos atos, 0 cunho da sua grandeza ou da sua inferioridade. (KARDEC, 2020). Em apoio & mensagem do Espirito Luis, lemos, na obra Rentincia, este comentario da personagem Alcfone: [uJ A mensagem do Cristo precisa ser conhecida, medi- tada, sentida e vivida, [..] nao basta estar informado, Um preceptor do mundo nos en- sinaré a ler; 0 Mestre, porém, nos ensina a proceder [..] (XAVIER, 2019, 2* pt, cap. 3 ~ Testemunhos de fé) Assim termina o elevado Espirito Luis: [..1 Continuai, portanto, avan- «ai incessantemente. Seja vos- sa divisa a do progresso, do progress continuo em todas as coisas, até que, finalmen- te, chegueis a0 termo feliz. da jornada, onde vos esperam todos os que vos precederam. (KARDEC, 2020, cap. 21, it. 8), Os Espiritos Superiores jamais se contradizem. Nos, porém, enquanto na carne, estamos sujeitos a sermos iludidos por nossos irmaos provenientes das zonas tre- vosas do Plano Espiritual, se- jam eles desencarnados ou encarnados. Entretanto, se observarmos com _atengio suas contradigdes entre 0 que pregam eo que fazem, logo perceberemos a diferenga en- tre os missionérios (profetas) auténticos e os falsos profetas. Foi nesse sentido que Joao nos recomendou em sua primeira epistola: “Amados, nao acredi- teis em qualquer spirito, mas examinai os Espfritos para ver 10 de Deus, pois muitos falsos profetas vieram ao mun- do” (BIBLIA DE JERUSALEM, 2004, I Jodo, 4:1). Ou seja, & pelas boas obras que sio iden- tificados os verdadeiros pro- fetas, 0 resto & mistificagao vulgar, cabendo-nos, porém, atentar para estas palavras de Paulo: “Discerni tudo e ficai com 0 que € bom” (BIBLIA DE JERUSALEM, 2004, 1 Tessalonicences, 5:21) REFERENCIAS: BIBLIA DE JERUSALEM. Coordenado- res da edigéo om Lingua portugues: Gilberto daSilva Gorgulhe, eto Diver~ sos tradutores Si Paulo: Paulus, 200, KARDEG, Allon. 0 evangetho segundo 0 espiritisme. Trad, Guillon Ribeiro. 481, ed. 14. imp. (Edigdo Historica). Brasiic, OF: FEB, 2020. XAVIER, Francisco C. Renincia. Pelo Espirito Emmanuel. 36, ed. 10. imp. Brasiio, OF: FEB, 2019 ode 202) [Ref 526 16 Os cooperadores de Ismael TELE ALE AAA Resumo Vislumbramos 0s coope- radores de Ismael nos grandes vultos da Historia nacional, desde 0 Descobrimento do Brasil até a Proclamagio da Re- piiblica, quando a nagao atinge a maioridade coletiva. Divisa~ ‘mos, ainda, esses colaborado- res, naqueles que abracaram, no Espiritismo nascente, a cau- sa do Evangelho Redivivo. Mas os operirios do anjo protetor do Brasil nao se restringem a tais exemplos. Todo aquele que sente na alma o apelo da fra- ternidade, esteja encarnado ou no Mundo dos Espititos, pode Reformador | Setembro de 20121 José Carlos da Silva Silveira csiiveira440agmeilcam dar algo de si para o cumpri- mento da missdo espiritual do Brasil, sob a égide de Ismael ea inspiragao do Cristo. Palavras-chave Cooperadores de Ismael; Evangelho; fraternidade; Espi- ritismo; Brasil. Se outros povos atestaram o progresso, pelas_ expresses materialistas e transitérias, © Brasil teré a sua expressio imortal_na vida do. Espiri- to, representando a fonte de IATL ‘um pensamento novo, sem as ideologias de separatividade, € inundando todos os cam- pos das atividades humanas com uma nova luz [J = EnaNvel Ensina o Espiritismo que as nagdes tém seus Espiritos Pro- tetores especiais, uma vez que todas elas “|... sio individua- lidades coletivas que marcham para um objetivo comum e que precisam de uma diregio superior”? No caso do Brasil, esse objetivo comum é estender a fraternidade a todos os povos da Terra. E isso porque, nos primérdios de sua existéncia histérica, para ele foi trans- plantada a arvore de piedade e amor do Evangelho.* O Es- pirito incumbido de conduzir © Brasil para seu propdsito sublime apresenta-se com 0 nome de Ismael, tendo sido incumbido da ingente tarefa pelo préprio Cristo, segundo deflui desta formosa represen- tagio do Espirito Humberto de Campos: ~ Ismael, manda o meu co- ragio que doravante sejas 0 2clador dos patriméniosimor- tais que constituem a Terra do Cruzeiro. Recebe-a nos teus bbracos de trabalhador devata- 4do da minha seara, como a re- cebi no coragio, abedecendo a sagradas inspiragées do nosso Pai, (..] Para ai transplantei a Arvore da minha misericérdia © espero que a cultives com a tua abnegagio e com o teu sublimado heroism. Ela sera a doce paisagem dilatada do Tiberiades, que os homens aniquilaram na sua voracida- de de carnificina. Guarda este simbolo da paz e inscreve na sua imaculada pureza o lema dda tua coragem e do teu pro- pésito de bem servir & causa de Deus [...]° Nesse instante, Ismael, emo- nado, recebe das mios do Cristo o libaro bendito e, como se entrasse em agio “[..] 0 im- pulso secreto da sua vontade, eis que a nivea bandeira tem agora uma insignia. Na sua branca substancia, uma tinta celeste inscrevera o lema imor- tal: ‘Deus, Cristo e Caridade”.” A partir desse- momento, inicia Ismael a grandis sto que lhe foi outorgada pelo diretor angélico do orbe,’ reu- nindo um verdadeiro exérc to de cooperadores, entre os quais se veriam nao apenas os seres espirituais, mas também entidades encarnadas. Sobressai, por seu acentuado significado histérico-espiritual, © primeito chamamento direto de Ismael no Brasil. Nao foi ele enderegado a um representante da coroa estrangeira chegado &s novas paisagens, mas a um homem comum, criminoso no parecer do mundo, mas justo diante da Misericérdia Divina; um degredado, enfim, que viera na frota de Cabral, por deter- minagio da justica de sua pé- tria, com 19 companheiros de inforttinio. Seu nome: Afonso Ribeiro. Ao ver que a esquadra portuguesa partia, deixando-o na gleba agreste, possuido de insopitavel desalento, nao se contém: langa-se ao mar hostil, em jangada nistica, ansiando pela morte, enquanto as carave- las lusitanas se afastam da costa ‘sa mis- brasileira, ~ Jesus, tende piedade de mi- ha finita amargura! [Cla- ma em insana afligio.] Enviai a morte a0 meu espirito des- terrado. Sou inocente, Senhor, e padeco a tirania da injustiga dos homens. Mas, se a traigio © a covardia me arrebataram da patria, afastando dos meus olhos as paisagens queridas ¢ 08 afetos mais santos do co- ragio, essas mesmas caliinias io me separaram da vossa Misericérdia* De sibito, porém, 0 pobre exilado aquece-se com desco- nhecida luz. Inusitada esperanga arrebata-o. Inexplicavelmente, sua frdgil piroga é empurrada para a praia, desdenhando as ondas traigoeiras, que tentam inutilmente sorvé-la no vértice devorador das éguas impias.? E arremata Humberto de Campos: Ismael havia realizado 0 seu primeiro feito nas Terras de Vera Cruz. Trazendo um néufrago e inocente para a base da sociedade fraterna do porvir, ele obedecia as sagra- das determinagées do Divino Mestre [...]."" Naquela ocasiio, jé encon- trara Ismael, no panorama dos encarnados em terra brasilei- ra, seus primeiros cooperado- res: os indigenas, individuos Setembro de 2021 | Reformador 7 ser 528 18 simples de coragao. Depois, chegaram os proscritos, vidos da Justiga Divina e, mais adian- te no tempo, vieram os negros escravos, expressando humil- dade e amargura. Todos eles contribuiriam “[..] para a for- magio da alma coletiva de um povo bem-aventurado por sua mansidao e fraternidade |... Necessitava, contudo, 0 anjo protetor do Brasil de co- laboradores humanos que pu- dessem arregimentar outros trabalhadores para 0 cresci- mento da obra do Evangelho. Em sublime assembleia, reali zada nos altiplanos espirituais, onde se achavam presentes os cooperadores mais afeigoa- dos, busca agrupar voluntirios para a ardua tarefa dentro dos estreitos limites da reencarna- 20. Alguns renasceriam em Portugal, com objetivo de manter as bases da construgio evangélica no Brasil. Outros deveriam corporificar-se_ na nova patria, a fim de arreba- nhar, para o amor do Mestre Divino, as almas simples dos habitantes das florestas brasi- leiras. Esclarece ainda Ismael que, ante as circunstancias da época, era imperativo buscar, na Igreja, a vestimenta externa do trabalho regenerador. Quase todos os Espiritos ali reunidos ~ declara Humberto de Campos - oferecem-se para a grande Causa. Podemos Reformador | Setembro de 20121 identificar_ alguns deles, em nossa histéria, com os nomes de José de Anchieta, Diogo Jacome, Manuel da Nébrega, mas foram muitos os coope- radores de Ismael sob 0 manto da religido dominante. O descortino dos operosos trabalhadores de Ismael leva- -nos, naturalmente, a Joaquim José da Silva Xavier, 0 Tiraden- tes. O Martir da Inconfidéncia participa da legio do anjo pro- tetor do Brasil, resgatando deli- tos cruéis cometidos ao tempo ‘em que era inquisidor."* A figura de José Bonificio de Andrada e Silva destaca-se igualmente. © Patriarca da In- dependéncia, em seu zelo pa- tridtico, fortalece, no coracdo do principe regente D. Pedro I, a ideia da emancipacio do Brasil. © principe, entdo, como doce instrumento meditinico do Espirito Tiradentes, deixa escapar seu grito de “[..] ‘In- dependéncia ou Morte!’ (...)"" A patria torna-se livre do jugo estrangeiro. Ninguém, todavia, aparece com tanto realce, na Histéria do Brasil, como 0 imperador D. Pedro II. Tinha ele, sem duivi- da, a marca indelével do Cristo na prépria alma. Presenciara, como homem, aos pés da cruz, © sacrificio do Divino Messias, mas nao 0 pudera compreen- der, movido pelos acicates da soberba e da impeniténcia Apés inumeriveis existéncias de sofrimento voluntirio, com vistas a gravar a compreensio do amor puro no amago do ser, recebe diretamente de Jesus a missio de conduzir a pitria do Evangelho & maturidade coletiva.!* Para isso, era indispensével, entre outras providéncias, que se intensificasse 0 movimen- to abolicionista sob seus olhos magndinimos. E as falanges espi- rituais de Ismael encontram os elementos decisivos para 0 im- pulso libertador. Castro Alves, Luiz Gama, Rio Branco e José do Patrocinio contam-se entre eles. E, certamente, a inesquect- vel princesa Isabel, credenciada, por suas virtudes de nobreza e bondade, a receber do anjo pro- tetor a tarefa definida de libertar 08 escravos no Brasil.”* Afinal, a Proclamagio da Repiiblica conduz a patria a maioridade. A partir dai, deixaria a Espiritualidade Superior de exercer a diregao ostensiva de sua vida politi- ca. Era preciso deixar, agora, 0 povo brasileiro em maior liber- dade, para que suas realizagoes pudessem ser devidamente va- lorizadas. O acompanhamento spiritual ficaria restrito, desde entdo, ao cultivo das sementes do Evangelho langadas na terra promissora.” Nesse grave instante politico do pais, colaboram, com Ismael, Benjamin Constant, Quintino Bocaitiva, Rui Barbosa e outros valorosos companheiros. To- dos eles atuam para que 0 novo regime nio resvale pelos exces- sos das paixdes sanguinolentas, que provocaram condutas de- sumanas em diversos povos, to- das incompativeis com a luz do Evangelho.!* Os republicanos eram, deveras, amigos {ntimos do imperador, em particular Deodoro da Fonseca, mas se voltam contra 0 coragio ge- neroso ¢ paternal do querido monarca, no cumprimento do dever assumido perante as forcas do Alto. Nos ambientes da monarquia soa o brado cla- moroso: ingratidio! © nobre discipulo do Cristo, nada obs- tante a amargura que lhe pesa na alma sensivel, repele todas as tentativas de derramamen- to de sangue no solo pitrio e afasta-se do pais com a fami- lia, submetendo-se as ordens dos revolucionarios. Rejeita todo apoio financeiro is custas do Tesouro Nacional, mas leva consigo um travesseiro de terra brasileira, para suavizar a sau- dade de sew exilio de lagrimas.” Aconstrugiodeuma autén- tica sociedade do Evangelho nao seria possivel, entretanto, spi- ritismo. Decerto, somente a sem a contribuigao do Doutrina Espirita, revivendo a pureza evangélica dos pri- meiros tempos apostélicos, teria condigdes de libertar os individuos do sectarismo e da intolerancia, Eis por que a pena alegérica de Humberto de Campos mais uma v escreveria: Ihe 0 Senhor-,concentremos agora - Ismael - diss todos os nossos esforgos a fim de que se unifiquem os meus discipulos encarnados, para « organizagao da obra impes- soal e comum que iniciaste nna Terra. Na patria dos meus ensinamentos, 0 Espiritismo sera o Cristianismo revivido nna sua primitiva pureza, e faz -se mister coordenar todos os elementos da causa generosa da Verdade e da Luz, para os Setemt | Reformador 19 520 530 20 triunfos do Evangelho, Procu- rards, entre todas as agremia- ‘ges da Doutrina, aquela que possa reunir no seu seio todos ‘05 agrupamentos; colocards af a tua célula, a fim de que to- das as mentalidades postas na diregio dos trabalhos evan- gélicos estejam afinadas pelo diapasio da tua serenidade do teu devotamento & minha sseara [...]° As recomendagies do Cristo foram imediatamente executa- das pelo abnegado emissirio, e a Federagio Espirita Brasileira (FEB), que detinha, nessa épo- ca, as condigées necessirias para organizar, no plano fisico, 0s trabalhos da obra evangélica no Brasil, foi por ele escolhi- da para acolher sua tenda de coordenagao espiritual.” Grandes operdrios da ofici- na do Evangelho surgem nesse periodo: Bezerra de Menezes, expressamente convocado por Ismael para cumprir sua eleva- da missio no Brasil," Antonio Luiz Saydo, Bittencourt Sampaio, Frederico Figner e muitos outros.* A Federacao Espirita Brasi- leira vem, até os dias de hoje, exercendo seu papel de “ depositiria e diretora de to- das as atividades evangélicas da Patria do Cruzeiro. Todos os grupos doutrinérios, ain- da os que se Ihe conservam Reformador | Setembro de 20121 contrarios, ou indiferentes, estdo ligados a ela por la- 08 indissoliiveis no Mundo Espiritual [...]"* ‘Marcante, a propésito dos cooperadores espiritas de Ismael, a seguinte observagio de Humberto de Campos: L.] Todos os espiritistas do pais se The retinem [& FEB] pelas mais sacrossantas afini- dades sentimentais na obra comum, € 0s seus ascendentes ‘tem ligagdes no plano invistvel com as mais obscuras tendas de caridade, onde entidades humildes, de antigos africanos, rocuram fazer o bem aos seus semethantes."* Plenamente concebivel, no aso, que 0s antigos africanos, que tanto contribuiram, com sua humildade sofrimento, para a formagao da alma cole- tiva da mansidao da solida- riedade, continuem, no plano invisivel, a cooperar no tra- balho de auxflio e evangeliza- do. A eles podemos juntar os singelos silvicolas, primeiros a testemunharem a transplan- tagdo da arvore do Evangelho para o Brasil. A literatura espirita socor- re-nos com alguns exemplos de devotamento desses Espiritos amigos, que buscam estender sua atengéo por toda parte onde se sentem necessérios. © Espirito Manoel PB. de Miranda, por exemplo, apre- senta o trabalho de sincretismo afro-brasileiro de uma dessas obscuras tendas de caridade, devidamente amparado por veneranda entidade espiritual. Percebe-se no ambiente “[...] a presenga do amor de Deus ea abnegagao da caridade crista, conforme os ensinamentos de Jesus’* Em dado. momento, pondera o autor referido: [..] Como 0 progresso & con- quista de cada um, e a vio- léncia, a imposigdo rude nao vigem nos cédigos divinos, & necessério que em toda parte se expresse 0 auxilio superior ¢ «que os mais esclarecidos esten- dam apoio ¢ estimulo aos que permanecem na retaguarda do conhecimento [...]” A. médium Yvonne A. Pereira, por sua vez, no livro Recordagoes da mediunidade, narra amoraveis experiéncias com Espiritos familiares de antigos escravos e indigenas. Uma delas salienta-se, em ra- 240 dos profundos lagos afeti- vos entre a entidade espiritual eaautora, Passemos a palavra & res peitada medianeira, para falar sobre suas impresses: Eu me admirava, pois, de no- tar ao meu lado, de vez em quando, a titulo de ajuda e protesdo, a figura espiritual de um indio brasileiro, jovem € gentil, aparentando 18 a 20 anos, cujo semblante apre- sentava melancolia profunda, enquanto as atitudes eram sempre discretas e afetuosas. [..] E, de tanto ver esse ami- go espiritual ¢ ser por ele so- lo corrida, acabei por estim sinceramente ¢ sua lembran- ¢@ tornou-se querida ao meu coragio, que se enternecia meditando no fato [..12 Esse Espirito explicou, pos- teriormente, que havia perten- cidoa tribo Goitacis e se ligava a médium nao 6 por simpatia, mas por lagos de sangue, eis que fora o irmao mais velho de sua bisavé." refletindo sobre as remi- niscéncias de Yvonne Pereira, quem poderé dizer que nao possui, entre seus ancestrais, indios ou negros escravos, elos importantes na formagdo da et- nia brasileira, ¢ que agora vol- tam como Espiritos familiares? Transparecem, no decurso destas paginas, os inumeré- veis cooperadores de Ismael, em diferentes graus evolutivos, quer agindo na esfera espiritual, quer reencarnando no planeta. ‘Todos eles tém a mesma tarefa, qual seja, servir a obra do Cristo sob a orientagdo do Espirito Protetor do Brasil. Qual © critério de Ismael para uma selecdo de Espiritos de vivéncias assim tio diver- sificadas? Que lago prende to- dos esses seres, encarnados desencarnados? A resposta é simples e cristalina: 0 sinete do Evangelho. Com efeito, esteja alguém onde estiver, se possui a alma voltada para o Evangelho, é capaz de contribuir, de algum modo, para o desempenho da missio do Brasil. , de fato, Compreende- que seja assim, pois 0 Brasil apenas se adequaré ao plano divino da fraternidade uni- versal, realizando seu glorioso destino, quando 0 corago de cada brasileiro e de cada brasi- leira ajustar o préprio ritmo ao compasso do grande coragio da patria, num s6 anseio de paz. REFERENCIAS: "XAVIER, Frencisco C. Brasil, core 0 do mundo, patria do evongelhe. Pelo Espirito Humberto de Campos. 34, ed. 8. imp. Brasiti, OF: FEB, 2015, Profécio. * KARDEG, AlLon. 0 Livro dos espiritos, Trad. Evandra Nolet Bezerra. 4, ed. 9. imp. Brositio, DF: FEB, 2020.9. 519. * XAVIER, Francisco C. Brasil, coragio de mundo, patria do evangethe. Pelo Espirito Humberto de Compas. 34, ed 8 imp. Brositia, DF: FEB, 2015. cop. 1 Ocorapio do mundo. cop. 3 Os degre dedos. , 0 consotodor. Peto Espirito Emmanuel. 29.ed. 11 imp. Brositia, OF: FEB, 2020. q 288. " Brasil, corogae do mundo, pé- ria do evangetha PeLo Espirito Hum- berto deCompos. 34. ed.8. imp. Brasilia, DF: FEB, 2016, cap. 3 Os degredodos. ® cap. 4 ~ Os missio~ » cap. 16 ~ A Incon- ‘idéncio Minera, » cop. 19 - A Inde- pendéncia. » ap. 20 0. Pedro IZ « cop. 28 ~ 0 movi- mento abolicionista cap. 27 ~ A Repi- bic. = cop.28- A Federa- gio Espirite Brasileira 2 cap, 22 ~ Bezerra de Menezes a op.28~ A Federa- pie Espirita Brasileira. ° FRANCO, Divalde P. Loucure e abses- ‘850. Pola Espirito Manoel P. Mirando. 42 ed, 7. imp. Brasiti, OF: FEB, 2018, Loucura e obsessio [preféciol, s cap. 2~ Esctareci- ‘mentas necessérias. ® PEREIRA, Yvonne do A. Recorda- gies do medunidede.(Obea mediinica srientade polo Espirito Bererra de Monezes). 12. ed 6. imp. Brosio, DF: FEB, 2017. cap. Amigo ignorado. | Reformador sal Gy MY MM sf LORANDO O EVANGELHO Pelo Espirito Emmanuel 0 espinho “E para que me nao exaltasse pelas exceléncias das revelagées, foi-me dado um espinho na carne, mensageiro de Satanas.’ - Paulo [Il Corintios, 12:7) TUTTE titude sumamente perigosa louvar o homem a si tra em plano de servigo érduo, dentro do qual he compete emitir diariamente testemunhos dificeis. £ po sigdo mental nio somente ameacadora, quanto fas, por- que li vem um momento inesperado em que o espinho do coragao aparece. © discipulo prudente alimentaré a confianga sem. bazbfia, revelando-se corajoso sem ser metedigo. Reco- nhece a extensio de suas dividas para com o Mestre e indo encontra gloria em si mesmo, por verficar que toda 4 gloria pertence a Ele mesmo, o Senhor. io sio poucos os homens do mundo, invgilantes € inquietos, que, apSs receberem o incenso da multicéo, passam a curtir as amarguras da soledade; muitos deles se comprazem nos galarins da fama, qual se estvessem convertidos em idolos eternos, para chorarem, mais tar- de, 6, como seu espinho ignorado nos recessos do ser. Por que assumir posigdo de mestre infalivel, quando indo passamos de simples aprendizes? [Nao serd mais justo servir ao Senhor, na mocidade ‘ou na velhice, na abundancia ou na escassez, na admi- nistragio ou na subalternidade, com o espirito de pon deragio, observando 0s nossos pontos vulnersveis, na insuficiéncia e imperfeigdo do que temos sido, até agora? Lembremo-nos de que Paulo de Tarso esteve com Jesus pessoalmente; foi indicado para o servigo divino «em Antioquia pelas préprias vozes do Céus hutou,trabe- thou e sofreu pelo Evangelho do Reino e, escrevendo aos corintios,jé envelhecido e cansado, ainda se referiu a0 espinho que the foi dado para que se nio exaltasse no sublime trabalho das revelagbes. AL Fonte; YAVIER, Fra 582 22 Reformador | Setembro de 2021 La dorno “Kaj pro la treega grandeca de la malkagoj ~ por ke mi ne tro altigu, estis donita al mi dornego por la karno, sendita de Satano.” ~ Paulo {Il Karintanoj, 12:7) TELL TAT as tre dangere, ke homo sin mem laiidu, kre. Ee: ne scli, ke li trovigas en regimo de tre pe- niga servado, ée kiu lin koncernas éiutage doni malfacilajn atestojn. ‘Temas pri mensa sinteno ne nur minaca sed ankatl falsa, €ar jen venas neatendita momento, kiam ekaperas la kora dorno, Prudenta diséiplo senfanfarone nutros sian konfi don, elmontrante sin kuraga sed ne engovigema, Re- Konante la amplekson de siajSuldoj al la Majstro, ine trovas gloron en si mem, éar li Konstatas, ke la plena loro apartenas mem al Li, la Sinjoro. Ne malmultaj estas 1a mondumanoj, malvighj kaj malkvietaj, kiuj, post ol ricevi la incensadon de la amaso, ekspertas la amarajojn de soleco; multaj el ili plezuras surpinte de la famo, kvazai aliigintaj en cternajn idolojn, por estontece ploradi en soleco, kun sia interna, nekonata dorno. Kial pozi kiel neerarema majstro, estante nenio alia ol mura lernanto? ‘Cu ne estos pli juste servadi al la Sinjoro, en juna ati maljuna ago, en abundo at malabundo, kiel supe- rulo ad subalternulo, pripenseme, observante niajn malfortajn flankojn, pro niaj gisnunaj senkapableco kaj neperfekteco? Ni memoru, ke Patlo el Tarso persone trovigis Antal Jesuo; estis komisiita per la éielaj voéoj mem al dia servado en Antiohio; luktis, laboris kaj suferis por la Evangelio de la Regno kaj, skribante al la korinta- nj, jam maljuuna kaj laca, ankorati aludis la dornon al lidonitan, por ke line tro altigu en la sublima laboro de la malkaioj 0 ©. Pao nosso, Pelo Espirito Emmanuel. 1. ed, 10. imp. Brasili: FEB, 2016. cap. 165. A Casa Espirita construida na rocha Resumo A Casa Espirita que se fun- damenta seguramente nos en- sinamentos do Evangelho de Jesus, iluminados pela Codifi- cago Kardequiana, é tal qual a casa construida sobre rocha, como nos lembra a parabola constante dos Evangelhos de Mateus (7:24 a 27) € de Lucas (6:46 a 49). Esta suportard os assédios das falanges espiri- tuais inferiores que nao dese- jam a implantagao do Reino de Deus em nossos coragdes. Jé a Casa Espirita que nao se fundamenta com seguranga naquelesensinamentos, as- semelha-se a casa construida Waldehir Bezerra de Almeida waldehiralmeidaagmailcom na areia, que néo suporta as intempéries das ideias dissi- dentes introduzidas pelas fa- langes.espirituais inferiores, influenciando dirigentes e tra- balhadores que alimentam a vaidade e a sede de poder. Palavras-chave Parabola; revelagdo;ro- cha; Espiritismo; Jesus; Allan Kardec. A pardbola “A casa cons- truida sobre a rocha’ constante de Mateus, 7:24 427 ede Lucas, 6:46 a 49, é de oportuno estudo € ressignificagao, quando o nosso planeta vem se prepa- rando para alcangar o estégio de mundo de regeneracao e, por essa razéo, tem sido alvo dos inimigos do Cristo que, embora invistam inutilmente contra a implantagio do seu Reino entre nés, nio deixam de influenciar negativamente os componentes das organi- zagbes religiosas, nao ficando isentas as casas espiritas. Em razio do forte assédio de falanges espirituais perniciosas, muitas instituiges que pregam © Evangelho passam a ensinar © uso de priticas estranhas fazem promessas vas em nome Setembro de 2021 | Reformador 23 533 54 da salvagio espiritual e prospe- ridade material, sem nenhum embasamento na vida do Mes- tre Jesus € nos apontamentos dos evangelistas. Os que tém compromisso com 0 Espiritismo codificado por Allan Kardec nao esto li- vres das investidas dos lideres das trevas que, ardilosamente, assediam os adeptos vaidosos que buscam projegio, fasci- nados por ideias mirabolan- tes que venham desfigurar a Terceira Revelagéo, a qual nio promete solugdes imediatas aos problemas que nos afli- gem, insistindo sempre que se faz necesséria nossa transfor- magio moral e nossa agio em prol da implantagao do Reino de Deus em nossos coragdes. Cuidemos, nds espiritas, em nao olvidar que a finalidade inica € exclusiva do Espiri- tismo é a reforma intima de cada um de nés, pois somente assim poderemos cooperar na reforma do mundo, condu- zindo-o ao estagio superior de regeneragio. ‘Na pardbola referida an- teriormente sio destacados dois personagens: 0 homem prudente e o insensato, Am- bos construiram suas casas. © prudente edificow a sua sobre a rocha (Mateus, 7:24), mas o imprudente construiu a sua sobre a areia (Mateus, 7:26). Tanto a casa do homem Reformador | Setembro de 20121 prudente, quanto a do insen- sato foram atingidas por tor- rencial tempestade. Ambas passaram por transbordamen tos (Mateus, 7:25). A casa do homem insensato, que fora construida na areia, nao foi capaz de resistir ao temporal, mas a casa edificada na rocha manteve-se preservada. As parabolas do Nazareno sio ligées imorredouras e tem a virtude de vencer 0 tem- Po € 0 espaco, adaptando- -se sempre ao entendimento que tenhamos a respeito das verdades espirituais que o Cristo nos ensinou. O Espiri to Emmanuel nos estimula a esse procedimento, ao se refe- rir A interpretagdo dos textos sageados dos Evangelhos: Assim procedemos, porém, ponderando que, num colar de pérolas, cada qual tem va- lor especifico e que, no imen- so conjunto de ensinamentos da Boa-Nova, cada conceito do Cristo ou de seus colaborado- res diretos adapta-se a determi- nada situagio do Espirito, nas «esiradas da vida. (Grifo nosso), Na parabola, Jesus compara ‘© homem que ouve suas pala- vras e as pratica, com aquele que construiu sua casa tendo comoalicerce a rocha do Evan- gelho, que suportaré as ma- nifestagées da Natureza com seguranga, Segundo 0 Diciond- rio biblico,? A palavra casa no contexto histérico politico religioso designa, em particu- lar, uma familia dindstica (casa de Davi, por exemplo); no sen- tido metaférico ela designa um grupo maior como uma tr bo (casa de Levi, de Juda etc.) ‘ou um povo inteiro (casa de Israel: a nagao). Aqui, quando nos refe- rimos & Casa Espirita, es- taremos considerando seus componentes encarnadose desencarnados, pois sio eles que desenvolvem esforgos, cooperando com 0 proceso regenerativo do nosso planeta. Nessa linha de pensamento, a rocha é a Doutrina Espirita co- dificada por Allan Kardec, que & o Evangelho Redivivo. Por- tanto, a Casa Espirita (todos ‘08 seus componentes encarna- dos e desencarnados), tendo como alicerce a rocha, sofreré abalos, mas nem por isso rui- ra. Sobre ela cairéo, sempre, chuyas de sugestdes, ou seja, propostas para praticas estra- nhas, para modernices. Algo mais pela novidade do que por seu valor real, com o argu- mento de que se faz necessario adaptar a Doutrina libertado- ra aos novos tempos. Os que assim agem séo aqueles que nao tém compromisso com a fidelidade aos Evangelho e a0 pentateuco kardequiano. O Espirito Manoel Philomeno de Miranda identifica-os: Alguns se atrevem a dar uma nova interpretagio as obras da Codificagdo, num alucinado projeto de atwalizar a verda- de, as reflexdes do codificador inspirado pelo Senhor ¢ vaso escolhido para a construgao do ‘mundo melhor? Diante dessa _realidade, Jamenta: Infelizmente, ainda & da na- tureza humana o vicio de adaptar 0 conhecimento li- bertador & estreiteza da sua compreensao, de submeter a liso sublime aos improvisos das paixdes © dependéncias, habitos doentios e conformis- tas, geradores do alucinado equivocado prazer.' Os rios transbordam (con- tinuamos com a_pardbola). Quando esse fendmeno acon- tece & porque os dirigentes da Casa nao se precaveram para conter as chuvas de ideias e su- gestdes de dirigentes ou cola- boradores, que estao em busca de ser reconhecidos como ino- vadores, aspirando 4 promogao pessoal nas areas de atuagao da Casa. Incontinenti, manifes- ta-se a maledicéncia ~ & guisa do cupim, que corréi a ma- deira por dentro -, abalando as almas débeis que ainda nao aprenderam a identificar o mal travestido no bem; reabrem-se as disputas por cargos admi- nistrativos, revigoradas pela vaidade incontrolével e, em consequéncia desse transbor- damento de pensamentos dis- sidentes, registram-se as fugas injustificadas dos trabalhadores sinceros e figis aos Evangelhos, que nao pretendem engrossar as fleiras separatistas. © Evangelista Jodo (3:8), narra o encontro do seu Mestre com Nicodemos, dizendo: “O vento sopra onde quer, e ou- ves 0 seu ruido, ainda que nao saibas de onde vem nem para onde vai": O vento & 0 Espirito e 0 ruido a sua voz. Quando a Casa € construida na rocha, to- dos ouvimos a voz dos Espiritos de Deus. Quando, no entanto, damos ouvido aos ruidos dos Espiritos equivocados, que ali- ‘mentam a luta ingléria contra © Crucificado, & porque a Casa no tem como alicerce a rocha ¢,entdo, desaba. Afirma 0 Espirito Angel Aguarod: Ll Nao € possivel erigit um monumento doutrinério, como 6 0 da Revelagio Espirita, dei- xando-nos levar, a cada dia, por ideias que sopram de todos os Jados, sem directo, qual ven- daval que tudo derruiba na sta passagem [..]° Construir a Casa Espirita na rocha é estabelecer, antes de tudo, as bases seguras do Evangelho & luz do conhe- cimento espirita, para se al- cangar a meta do progresso espiritual. Para que tal solide seja alcangada, necessitamos de componente seleciona- dos, com disposigio e per- severanga para _o trabalho diante de um projeto bem de- finido. Por essa razo 0 men- tor Emmanuel nos alerta para a indicagéo daqueles que de- vero tomar sob sua respon- sabilidade o projeto espiritual de uma Casa Espirita: interessante verificar que 0 Mestre destaca, entre todos 05 discipulos, aquele que The ouve os ensinamentos © os pratica. Dai se conclui que os homens de fé nao sio aqueles apenas palavrosos ¢ entusias- tas, mas os que séo portado- res igualmente da atencio e da boa vontade, perante as ligdes de Jesus, examinando- -Ihes 0 contetido espiritual para o trabalho de aplicacio no esforgo didrio® E Allan Kardec, inspirado pelo Espirito de Verdade, nos alertou sobre como alcangar- mos a seguranga e a estabili- dade de uma Casa Espirita que deseja seguir as pegadas do Sublime Peregrino: Setembro de 2021 | Reformador 25 5 536 26 Reformador | Setembro de 20121 ra [..] iinico caminho que estd aberto, para achardes gra- 62 perante Ele [Jesus], & 0 da pritica sincera da Lei de Amor ¢ de Caridade. As palavras de Jesus sio eter~ nas, porque sio a verdade Constituem nao sé a salva- guarda da vida celeste, mas também a garantia da paz, da tranquilidade e da estabilida- de nas coisas da vida terrestre E por isso que fodas as insti- tuigoes humanas, politicas, so- ciais ¢ religiosas, que se apoiam nnessas palavras, sero estaveis como a casa consiruéda sobre a rocha. [..}' (Grifo nosso). Espiritas! estejamos _vigi lantes, ndo somente orando, mas, antes de tudo, estudando os principios fundamentais da Terceira Revelagdo, para que nossas instituigdes se mante- nham figis ao compromisso que assumiram com 0 Cristo, traba- Ihando para a implantagio do seu Reino entre nés. Encerremos nossa disserta- go com a sabia adverténcia do Codificador: A vaidade de certos homens, que julgam saber tudo ¢ tudo querem explicar a seu modo, dard origem a opinises dis- sidentes. Mas todos os que tiverem em vista grande principio de Jesus se confun- dirdo num s6 sentimento de amor ao bem ¢ se unirdo por um lago fraterno, que abarca- 4.0 mundo inteiro; deixario de lado as miserveis disputas de palavras, para s6 se ocupa~ rem com o que & essencial E a Doutrina serd sempre a mesma, quanto ao fundo, para todos os que receberem comunicagées de Espiritos Superior REFERENCIAS. * XAVIER Francisco C. Cominho, ver- dade e vido, Pelo Espirito Emmanuel. 4. ed. 17. imp. Brasilia, DF: FEB, 2020. Intenpretagio dos textos sagrados. MCKENZIE, John L. Dicionério bi- blico. Trad. Alvoro Cunha, 1. ed. Sao Poulo: Edigdes Paulinas, 1985. Verbete: casa, FRANCO, Divaldo P. Pertunbogdes spiritual. Pelo Espirito Manoel Phitomeno de Miranda. 1. ed. 1. reimp. Salvador, BA: LEAL. 2016. cap. 1, p17 ‘lt + Trecho do mensagem psicografada por Cecilia Rocha, em 1977, e usada pela Federagio Espirita do Estado do Rio Grande do Sut (FEERGS), em 1978, ra Campanha do Estude Sistematiza- do da Doutri Reformador, © XAVIER, Francisco ©. Pao nosso Pelo Espirito Emmanuel. 1. ed. 10. imp. BrasiLo, DF: FEB, 2016. cap. 9 - Homens de fé KARDEG, Alton, 0 evangelho segundo 0 espiritieme, Trad, Evandro Noleto Bezerra, 2. ed. 10, imp. Brosili, DF: FEB, 2020. cap. 18, i. 9 ‘ 0 Livro dos espiritos. Trad Evandro Noleto Bezerra, 4. ed. 9. imp. Brasitia, DF: FEB, 2020. Protegémenos.

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