É importante que periodicamente se revejam os princípios básicos da técnica
psicanalítica e que se reavalie a importância dos vários elementos que fazem parte da técnica clássica. Seria geralmente admitido que uma importante parte da técnica psicanalítica é a interpretação e é o meu objetivo aqui estudar mais uma vez esta parte particularmente importante do que fazemos. A palavra “interpretação” implica que estamos usando palavras e há uma implicação maior que é que o material trazido pelo paciente é verbalizado. Na sua forma mais simples há uma regra básica, que ainda tem força, apesar de muitos analistas jamais instituírem seus pacientes nem mesmo em relação a este detalhe. Após mais de meio século da psicanálise os pacientes sabem que se espera deles que falem o que vem a cabeça sem reprimir nada. Também é reconhecido hoje que grande parte da comunicação do paciente para o analista não é verbalizada. Isto pode ter sido percebido por primeira vez em termos dos matizes do discurso e as várias maneiras nas quais o discurso se envolve, muito mais do que em termos do significado das palavras usadas. Gradualmente, os analistas se encontraram interpretando os silêncios e os movimentos e uma variedade de detalhes comportamentais que estavam fora do domínio da verbalização. No entanto, também haviam analistas que preferiam muito mais apegar-se ao material verbalizado oferecido pelo paciente. Quando isto funciona, tem vantagens óbvias, pois o paciente não se sente perseguido pelo olhar do observador. Com um paciente silencioso, um homem de 25 anos, certa vez eu interpretei o movimento de seus dedos quando suas mãos juntas à altura do seu colo. Ele me disse: “Se o senhor começar a interpretar este tipo de coisa, então eu terei que transferir este tipo de atividade para alguma outra coisa que não apareça”. Em outras palavras, ele estava me mostrando que se ele não verbaliza a sua comunicação, eu não devia fazer comentários. Existe também o vasto assunto que pode ser explorado das comunicações do analista que não são transmitidas em verbalizações diretas ou até em erros de verbalização. Não há necessidade de desenvolver este tema porque ele é óbvio, mas começa com o tom de voz do analista e a maneira pela qual, por exemplo, a atitude moralista pode ou não mostrar em uma afirmação que, em sua essência não é nada mais do que uma interpretação. Comentários interpretativos têm sido explorados e certamente discutidos amplamente em inumeráveis horas de supervisão. Talvez não há a necessidade de fazer um estudo mais detalhado deste assunto neste momento. O propósito da interpretação deve incluir um sentimento que o analista tem de que a comunicação foi feita, o que requer confirmação. Esta é talvez a parte mais importante de uma interpretação, mas este simples propósito freqüentemente está escondido entre muitas outras questões, como por exemplo, instruções a respeito do uso de símbolos. Como exemplo disto, podemos pegar uma interpretação como “os dois objetos brancos no sonho são seios”, e assim por diante. No momento em que o analista embarca neste tipo de interpretação, ele perde chão sólido e fica numa área perigosa, onde ele usa suas próprias idéias, e isto pode estar errado do ponto de vista do paciente nesse momento. Numa forma mais simples o analista devolve ao paciente o que este lhe comunicara. Pode acontecer com facilidade que o analista sinta que esta é uma tarefa fútil porque se o paciente lhe comunicou algo, qual é a razão pela qual deveria devolver-lhe, exceto, é claro, com o propósito de permitir ao paciente saber que o que foi dito foi ouvido, e que o analista está tentando compreender corretamente. Devolver uma interpretação fornece ao paciente oportunidade de corrigir os mal entendidos. Existem analistas que aceitam essas correções, mas também existem analistas que no seu papel interpretativo assumem uma posição que é quase invencível, então, se o paciente tenta fazer uma correção o analista tende a pensar em termos da resistência do paciente, mais do que em termos da possibilidade de que a comunicação fosse inadequadamente recebida. Aqui já estamos discutindo variedades psicanalistas as quais são muitas, e, sem dúvida, uma das tarefas de ser um analisando é conseguir saber como é o analista e o que ele espera, qual é sua linguagem. Que tipo de sonhos o analista pode usar, etc. Isto não é completamente desnaturado, porque é como o que acontece com uma criança que deve conhecer que tipos de pais podem ser usados como pais. No entanto, numa discussão entre analistas que requerem do paciente que façam mais do que certa quantidade de adaptação, ou faze uso de analistas que não são capazes de fazer mais do que se adaptarem às necessidades do paciente. O princípio que eu estou enunciando neste momento é que o analista reflete o que o paciente lhe comunicou. Esta colocação muito simples acerca da interpretação pode ser importante pelo fato de ser simples e evitar imensas complicações que surgem quando pensamos em todas as possibilidades que podem ser classificadas sob o impulso interpretativo. Se este princípio muito simples é enunciado, ele imediatamente necessita de elaboração. Sugiro que ele necessita elaboração da seguinte maneira. Na área limitada da transferência atual o paciente tem um conhecimento exato de um detalhe ou de um conjunto de detalhes. É como se houvesse uma dissociação correspondente ao lugar que a análise alcançou atualmente. É útil lembrar que neste limitado caminho ou nesta limitada posição o paciente pode estar dando ao analista uma amostra da verdade; isto é dizer que é absolutamente verdadeiro para o paciente e que quando o analista devolve isto a interpretação é recebida pelo paciente, quem já imergira de certa forma desta área limitada ou condição dissociada. Em outras palavras, a interpretação pode até ser feita para a pessoa como um todo, já que o material para interpretação é derivado somente de uma parte da pessoa completa. Como uma pessoa completa, o paciente não seria capaz de fornecer material para interpretação. Desta maneira as interpretações são parte da construção do insight. Um detalhe importante é que a interpretação foi dada em certo número de minutos e até de segundos após a apresentação do material insightizado. Certamente esta é dada na mesma sessão analítica. Uma correta interpretação dada outro dia após a supervisão não tem valor por causa da operação muito poderosa do fator tempo. Em outras palavras, numa área limitada o paciente tem o insight e fornece o material para a interpretação. O analista pega esta informação e devolve-a para o paciente e o paciente para o qual se devolve já não está na área do insight com relação a este elemento psicanalítico especial ou constelação. Com este princípio em mente é possível sentir que devolver para o paciente do que este já disse ou transmitiu não é perda de tempo, mas sem dúvida pode ser a melhor coisa que o analista pode fazer na análise deste paciente neste determinado dia. Existe certa oposição em relação a esta forma de ver as coisas porque analistas gostam de exercitar as habilidades que eles têm adquirido e eles têm convicção de que podem falar de tudo que acontecer. Por exemplo, um paciente silencioso contou para o analista, após questionado, muitas coisas sobre um dos seus interesses principais que tinha a ver com matar pombas e a organização deste tipo de esporte. É extremamente tentador para o analista neste momento usar este material, que é mais do que ele geralmente obtém em duas ou três semanas e, sem dúvida, ele poderia falar sobre a matança de todos os bebês ainda não nascidos, sendo o paciente filho único, e ele poderia falar sobre as fantasias inconscientes da mãe, sendo a mãe paciente uma pessoa depressiva que cometera suicídio. O que o analista ficara sabendo, no entanto, foi que o material veio de uma questão e que ele não teria aparecido se o analista não tivesse proposto o seu aparecimento, talvez simplesmente não percebendo que ele não estava em contato com o paciente. O material, então, não era material para interpretação e o analista teve que reter tudo que pudesse imaginar relacionado com o significado simbólico da atividade que o paciente estava descrevendo. Após um tempo a análise estabeleceu-se como uma análise silenciosa e é o silêncio do paciente o que contém a comunicação essencial. Os indícios deste silêncio emergem aos poucos e não há nada diretamente que o analista possa fazer para fazer que o paciente fale. Devemos mencionar que freqüentemente o paciente produz material que o analista pode interpretar de forma válida em um outro sentido. É como se o analista pudesse usar os processos intelectuais do paciente e os seus para ir um pouco além. O mais importante é a devolução para o paciente do material apresentado, talvez um sonho. No entanto, os dois juntos podem brincar com o uso do sonho para obter um insight mais profundo. Aqui há um grande perigo porque o interjogo pode ser prazeroso e até excitante e pode fazer com que ambos, analista e paciente sintam-se muito gratificados. No entanto, há somente uma certa distância que o analista pode manter do paciente para ficar em segurança além do lugar onde o paciente já se encontra. Um exemplo poderia ser seguinte: uma paciente fala de um sonho repetitivo que domina a sua vida. Ela está morrendo de fome e tem somente uma laranja, mas vê que a laranja está mordida por um rato. Ela tem fobia a ratos e o fato do rato ter tocado na laranja faz com que ela seja incapaz de comê-la. A angústia é imensa. Este é o sonho ao qual ela esteve exposta durante toda a sua vida. Diagnosticamente ela pertence à categoria das crianças privadas. O analista não precisa fazer nada em relação a este sonho porque o trabalho já fora feito no sonho e depois na lembrança e no relato. A lembrança e o relato são resultados do trabalho já feito no tratamento e tem a natureza de um bônus resultante de uma confiança gradativamente alcançada. O assunto pode ser deixado a um lado e o analista pode esperar que apareça mais material. Neste caso em particular há uma razão extrema do porquê o analista não poderá esperar: porque não haveria uma oportunidade para outras sessões. Então ele dez a interpretação, ocorrendo assim o risco de estragar o trabalho que já tinha sido feito, mas também descobrindo a possibilidade de que o paciente pudesse ir além imediatamente. Esta é uma questão de juízo e o analista aqui sentiu que o grau de confiança era tal que ele pode prosseguir e até errar. Ele disse: A laranja é o seio da mãe que fora uma boa mãe do seu ponto de vista, mas a mãe que você perdeu. Os ratos representam o seu ataque ao seio e o ataque do seio a você. O sonho tem relação com o fato de que sem ajuda você está paralisada porque, apesar de estar ainda em contato com o seio original que parecia bom, você não pode usá-lo, a menos que você possa ser ajudada durante o estágio seguinte no qual você ataca excitadamente o seio para comê-lo como comeria uma laranja. Acontece que neste caso a paciente era capaz de usar essa interpretação imediatamente e ela produziu dois exemplos: um deles ilustrou o seu relacionamento com sua mãe antes de perdê-la e o outro foi uma memória do tempo da perda real da mãe. Desta maneira a paciente obteve alívio emocional e houve uma mudança clínica marcada pela sua melhora. Qualquer analista pode dar inumeráveis exemplos de interpretações que os pacientes podem ser capazes de usar e que levam o paciente a avançar além do que eles alcançaram quando estavam apresentando material específico da sessão. No entanto, este exemplo especial enfatiza de uma forma simples as dinâmicas essenciais da interpretação que vai além da devolução apresentado. Não pode ser enfatizado demais, no entanto, no ensino a estudantes, que é melhor persistir no princípio da devolução para o paciente do material apresentado, mais do que ir para outro extremo das interpretações inteligentes que, apesar de aprimoradas, podem levar o paciente além do que a confiança transferencial permite, e então quando o paciente deixa o analista a revelação quase milagrosa que a interpretação representa repentinamente torna-se uma ameaça porque está em contato com um estágio de desenvolvimento emocional que o paciente ainda não atingiu, pelo menos como uma personalidade total.