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ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

Maj Inf EDUARDO MENNA BARRETO

A participação do Brasil nas instituições multilaterais


como forma de projeção do país no Atlântico Sul

Rio de Janeiro
2020
A participação do Brasil nas instituições multilaterais como forma de

2020
Maj Inf Eduardo Menna Barreto
projeção do país no Atlântico Sul.
Maj Inf EDUARDO MENNA BARRETO

A participação do Brasil nas instituições multilaterais


como forma de projeção do país no Atlântico Sul

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Escola de Comando e Estado-Maior do
Exército, como pré-requisito para matrícula no
Curso de Especialização em Ciências Militares,
com ênfase em Defesa.

Orientador: Cel Art Cláudio Adilson Brito de Carvalho

Rio de Janeiro
2020
L 864i Barreto, Eduardo Menna.

A participação do Brasil nas Instituições Multilaterais como forma de


projeção do país no Atlântico Sul. / Eduardo Menna Barreto. 一2020.
66 f. : il. ; 30 cm.

Orientação: Cláudio Adilson Brito de Carvalho


Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Política,
Estratégia e Alta Administração Militar) 一 Escola de Comando e Estado-
Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2020.

Bibliografia: f. 60 - 66.

1. ATLÂNTICO SUL. 2. GEOPOLÍTICA. 3.


MULTILATERALISMO. 4. PND. 5. END. I.Título.

CDD 355
Maj Inf EDUARDO MENNA BARRETO

A participação do Brasil nas instituições multilaterais


como forma de projeção do país no Atlântico Sul

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Escola de Comando e Estado-Maior do
Exército, como pré-requisito para matrícula no
Curso de Especialização em Ciências Militares,
com ênfase em Defesa.

Aprovado em ____ de novembro de 2020.

COMISSÃO AVALIADORA

______________________________________________________
CLÁUDIO ADILSON BRITO DE CARVALHO - Cel Art – Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

___________________________________________________
___________________________________________________
ALAN SANDER DE OLIVEIRA JONES - Ten Cel Art – Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
– Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

_________________________________________________________
LUIZ ADOLFO SODRÉ DE CASTRO JÚNIOR - Ten Cel Cav – Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
A meus pais, esposa e filho uma
homenagem pelo apoio e sacrifício
feito devido à minha ausência nos
momentos que mais marcaram este
ano de intenso trabalho.
RESUMO

O Estado brasileiro usufrui de uma posição estratégica, tanto em termos


territoriais, devido à sua abrangência continental, quanto em termos marítimos, em
razão da extensão de 7,4 mil km de costa, conferindo a esse espaço relevância
geoestratégica de caráter comercial e de securitização. Com o projeto da nova
estratégia brasileira definida na Política Nacional de Defesa (PND) e na Estratégia
Nacional de Defesa de 2020, o governo brasileiro esclarece suas prioridades no
entorno estratégico. Este é direcionado para a América do Sul, o Atlântico Sul, os
países da costa ocidental africana e a Antártica. No atual cenário geopolítico
internacional, as potencialidades presentes na porção sul do Atlântico ganham
especial relevância frente ao incremento da demanda mundial por recursos naturais
estratégicos. Neste contexto, o Atlântico Sul pode vir a se tornar uma zona de projeção
de poder de potências externas, não só em razão da magnitude das reservas
petrolíferas descobertas recentemente, mas também devido à existência de valiosas
riquezas minerais dos fundos oceânicos e ao ressurgimento das rotas sul-atlânticas
como importante via de comunicação e intercâmbio mundial. O principal objetivo deste
trabalho é demonstrar de que forma o Brasil utiliza as instituições multilaterais das
quais participa, para se projetar nessa importante área geopolítica, considerando-se
todo o dinamismo que esta região vem adquirindo, tanto pelo desenvolvimento do
Brasil, como pelas mudanças ocorridas na região do Atlântico Sul, com a forte
presença de atores extra-regionais e suas implicações para esse cenário geopolítico.

Palavras-chave: Atlântico Sul; Geopolítica; Multilateralismo; Atores; Política


Nacional de Defesa e Estratégia Nacional de Defesa.
ABSTRACT

The Brazilian state occupies a strategic position, both in terms of territory, because of
its continental scope, as in maritime terms, due to the extent of 7400 km of coastline, giving
this space geostrategic relevance of a commercial nature and securitization. With the project of
the new Brazilian strategy defined in the National Defense Plan (NDP) and the National
Defense Strategy 2020, the Brazilian government clarifies your priorities in the strategic
environment. This is directed to South America, the South Atlantic, the countries of the West
African coast and Antarctica. In the current international geopolitical scenario, the potentialities
present in the southern portion of the Atlantic gain special relevance in view of the increase in
world demand for strategic natural resources. In this context, the South Atlantic may become
an area of power projection for external powers not only due to the magnitude of the recently
discovered oil reserves, but also due to the presence of valuable mineral wealth from the ocean
floor and the resurgence of routes Atlantic regions as an important means of communication
and worldwide exchange. The main objective of this work is to demonstrate how Brazil uses
the multilateral institutions it participates to project itself in this important geopolitical area.
Due to all the dynamism verified both by the development of Brazil and by the changes that
occurred in the South Atlantic region with the strong presence of extra-regional actors and their
implications for this geopolitical scenario.

Keywords: South Atlantic; Geopolitical; Challenges; Threats; Brazilian Defense; National


Defense Objectives.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. O Atlântico Sul 18

Figura 2. Ilhas do Atlântico Sul 20

Figura 3. Amazônia Azul 23

Figura 4. Países signatários da CNUDM 26

Figura 5. Descoberta de Petróleo 27

Figura 6. Recursos Energéticos e Minerais no Atlântico Sul 28

Figura 7. Recursos Minerais no Atlântico Sul 29

Figura 8. Presença de atores extra-regionais no Atlântico Sul 37

Figura 9. Área de responsabilidade do US SOUTHCOM 39

Figura 10. Presença militar britânica 42

Figura 11. Nova Rota da Seda – One Belt, One Road 44

Figura 12. Zonas de responsabilidade da Marinha francesa 47


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 11
1.1 PROBLEMA 13
1.2 OBJETIVOS 15
1.3 HIPÓTESE 16
2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA 17
2.1 O ATLÂNTICO SUL 17
2.2 COSTA CONTINENTAL 18
2.3 PORÇÕES INSULARES 19
2.4 ESPAÇO MARÍTIMO BRASILEIRO 20
2.5 RECURSOS NATURAIS 25
3 ATORES NO ATLÂNTICO SUL 30
3.1 ATORES REGIONAIS 30
3.2 ATORES EXTRA-REGIONAIS 34
3.2.1 OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA NO ATLÂNTICO SUL 36
3.2.2 O REINO UNIDO NO ATLÂNTICO SUL 40
3.2.3 A REPÚBLICA POPULAR DA CHINA NO ATLÂNTICO SUL 42
3.2.4 A FRANÇA NO ATLÂNTICO SUL 45
4 O BRASIL E O MULTILATERALISMO NO ATLÂNTICO SUL 48
4.1 ONU 48
4.2 COOPERAÇÃO SUL-SUL 50
4.3 ZOPACAS 52
4.4 MERCOSUL 54
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 56
REFERÊNCIAS 59
11

1 INTRODUÇÃO

“A terra é quase sempre um obstáculo, o mar quase todo


uma planície aberta; uma nação capaz de controlar essa
planície, por meio: do poderio naval, e que ao mesmo tempo
consiga manter uma grande marinha mercante, pode explorar
as riquezas do mundo.” (Teoria do Poder Marítimo – 1890 -
Almirante Alfred Thayer Mahan)

O Almirante Mahan, em 1890, já havia verificado a importância dos mares


como forma de expressão de poder. O autor lançou sua teoria no livro The Influence
of Sea Power upon History, 1660-1873, onde descreve que a chave da hegemonia
estaria no controle das rotas marítimas, que são as “veias por onde circulam os fluxos
do comércio internacional.”

Essa crescente influência do mar na vida das nações, como ensina a História,
é fato inquestionável e não há indicação de perda de importância em futuro próximo.
Apesar da geopolítica reconhecer este espaço a partir da expansão europeia iniciada
desde o século XIV, foi apenas depois da 2ª Guerra Mundial (1939-1945) que o
Atlântico Sul começou a atrair a atenção das grandes potências, até então voltadas
para o Atlântico Norte.

Ainda no período da expansão europeia e aproveitando a fase de supremacia


dos mares alcançada pelo Reino Unido, os ingleses ocuparam grande parte das
porções insulares do Atlântico Sul, estabelecendo povoados e conquistando terras
além-mar. As ilhas Ascensão, Santa Helena, Tristão da Cunha, Gough, Sandwich do
Sul, Georgia do Sul, Órcadas do Sul e Falklands (Malvinas) são exemplos desse
domínio inglês dos mares que durou desde o século XVII até quase a 1ª Guerra
Mundial (1914-1918).

Após as grandes guerras, o mundo que antes era dominado por potências
europeias, passou a ser disputado pelos Estados Unidos da América (EUA) e pela
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em uma disputa bipolar que
ficou conhecida como Guerra Fria (1947-1991). Essas duas potências (EUA e URSS)
competiam em todos os campos do poder pela hegemonia internacional, impactando
todas as demais nações.
12

Neste contexto, ambas potências passaram a apoiar os movimentos


emancipacionistas na África (décadas de 1960 e 1970), como forma de colocar novas
nações nas suas esferas de influência. Essa disputa ideológica também gerou
impactos na América do Sul, trazendo instabilidade política que variavam de ditaduras
socialistas à regimes militares. E assim, cada vez mais, os países banhados pelo
Atlântico Sul entraram em uma zona de influência de atores extra-regionais.

No campo econômico, na segunda metade do século XX, o processo de


globalização promoveu uma aceleração dos fluxos de transportes. Por meio destes
fluxos, foram transportadas as riquezas do mundo, especialmente por meio dos
mares, ampliando de importância a securitização dessa região de livre navegação em
contraponto à disputa de poder.

Além disso, a desenfreada busca pelo crescimento econômico provocou o


aumento da demanda por recursos naturais em todas as partes do globo. Muitos
desses recursos, como fontes de energia e minerais, são fartamente encontrados nos
oceanos, reforçando a importância geopolítica dos mares.

Sendo assim, o Brasil encontra, no Atlântico Sul, sua maior riqueza. Esse
oceano representa um dos principais instrumentos de ligação do Brasil com o
mundo, passando por áreas estratégicas relevantes – como a “Garganta Atlântica”,
entre o nordeste brasileiro e a África ocidental, de grande importância para o
comércio internacional; e a rota do Cabo da Boa Esperança, que conecta o Atlântico
ao Oceano Índico, como alternativa ao Canal de Suez. A prioridade maior do país
atualmente são suas águas jurisdicionais, área de 4,5 milhões de km2, também
conhecida como “Amazônia Azul”, com riquezas incalculáveis de animais e minerais
– como o petróleo da camada pré-sal.

Dessa forma, a região do Atlântico Sul assumiu papel essencial para a


projeção brasileira no cenário internacional, buscando fortalecer a ideia do exercício
da soberania do Estado brasileiro sobre suas fronteiras marítimas. Esta projeção
vem sendo realizada com participação do país nas diversas instituições
multilaterais, como a ZOPACAS (Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul), a
parceria Sul-Sul para o crescimento e acordos econômicos com os países africanos.
13

O presente trabalho abordará a participação do Brasil nas instituições


multilaterais, como forma de projeção do país no Atlântico Sul. Esse cenário
geopolítico apresenta múltiplos atores na disputa pela exploração de seus recursos
naturais, justificando a atuação brasileira na busca pela liderança dessa região.

1.1 PROBLEMA

O Atlântico Sul é uma porção do oceano Atlântico de relevante valor


geopolítico e estratégico, onde circulam diversos atores que buscam explorar suas
riquezas e projetar poder. É nesse cenário que ressalta a necessidade da
participação do Brasil nas instituições multilaterais, como forma de projetar poder
na região e ocupar esse espaço estratégico.

“Nenhum Estado pode ser pacífico sem ser forte!” (José Maria da
Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco).

Antes de identificar o problema, é importante entender alguns conceitos: como


projeção do país, Smart Power, Soft Power, Hard Power e instituições multilaterais.

Quando falamos em projeção do país, entenda-se a busca pela liderança


regional no Atlântico Sul, expressa por meio do poder e da influência do Brasil sobre
os demais atores locais. Nesse sentido, conforme o Manual de Campanha do Exército
Brasileiro de Estratégia (C 124-1), poder é:

O poder, em sua expressão mais simples, é a capacidade de impor a


vontade. É por meio da aplicação do poder que se atingem os objetivos
fixados pela política. O poder apresenta-se como uma síntese de vontades e
de meios de toda a ordem, destinado a cumprir um papel fundamental,
assegurando ordem, equilíbrio, coerência e desenvolvimento. A aplicação do
poder compreende dois elementos básicos: a vontade de agir e a capacidade
dos meios para atingir os objetivos propostos.

Segundo o Dicionário Aurélio, influência é o “Poder, prestígio ou autoridade que


alguém usufrui numa determinada sociedade ou num outro âmbito qualquer.”. Então
entende-se que poder e influência são fatores que podem permitir a projeção do Brasil
no contexto do Atlântico Sul na atualidade.

Com a globalização, a dinâmica de poder foi alterada, passando pela redução


da soberania dos países e o aumento da influência das Instituições Multilaterais.
Nesse contexto, passou a ser fundamental a legitimação do poder nas ações e
14

decisões. E é nesse aspecto que os conceitos de Nye se encaixam com as definições


de: Hard Power, Soft Power e Smart Power.

O Hard Power é o uso do poder da forma dura, gerando consequências ou


ameaças ao outro ator envolvido para atingir os fins políticos. Essas ações podem ser
por meio de pressão militar, coerção econômica ou diplomática. (NYE, 2007).

O Soft Power já se apresenta de maneira mais pacífica e sedutora. É uma forma


indireta de projetar poder que engloba aspectos ideológicos, sociais e culturais,
levando os demais atores a se sentirem atraídos, sem qualquer obrigação ou coação.
(NYE, 2007).

E por último, o Smart Power, que é a combinação das formas de expressão do


poder Hard e Soft, permitindo obter resultados mais eficazes e bem-sucedidos. (NYE,
2007).

Instituições multilaterais, também chamadas de organismos ou organizações


internacionais, segundo o professor Ronaldo Decicino (2013), são entidades criadas
pelas principais nações do mundo com o objetivo de trabalhar em comum para o pleno
desenvolvimento das diferentes áreas da atividade humana: política, economia,
saúde, segurança, etc. Essas organizações podem ser definidas como uma sociedade
entre Estados. Constituídas por meio de tratados ou acordos, têm a finalidade de
incentivar a permanente cooperação entre seus membros, a fim de atingir seus
objetivos comuns.

São exemplos de instituições multilaterais a Organização das Nações Unidas


(ONU), a ZOPACAS (Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul), a parceria Sul-
Sul para o Crescimento, o MERCOSUL, a União Africana, a União Aduaneira da
África Austral (SACU), dentre outros.

Sendo assim, o presente trabalho de conclusão de curso será desenvolvido


em torno do seguinte problema: de que forma a participação brasileira nas
instituições multilaterais possibilita a projeção do país na região do Atlântico Sul?
Considerando as limitações no espaço, aos atores envolvidos com as disputas de
poder na região do Atlântico Sul, e no tempo, às ações multilaterais do governo
15

brasileiro, com ênfase na última década (2010 – 2020), que buscavam projetar
poder do país nessa região.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

A globalização, particularmente, desenvolve-se, também, graças às


possibilidades que os espaços marítimos oferecem para o comércio, a
exploração dos seus recursos, o transporte de pessoas e – principalmente no
passado – a disseminação de ideias. (NASSER, Reginaldo. O Brasil e a
segurança no seu entorno estratégico. Brasília, 2014, p. 200)

Com a evolução da globalização e a necessidade constante de recursos


naturais, os espaços oceânicos se transformaram em grandes estradas para o
transporte do comércio global. Entretanto, esses espaços até então “sem interesse”,
passaram a sofrer com disputas pela hegemonia sobre os territórios marítimos.

Nesse contexto, em 2004, o Brasil solicitou à Convenção das Nações Unidas


sobre o Direito no Mar (CNUDM) a ampliação de seu território marítimo de 3,6 para
4,5 milhões de km2, provando geologicamente que a Plataforma Continental do Brasil
vai além da sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE). Sendo assim, o país buscou
fortalecer sua liderança no Atlântico Sul, uma vez que havia confirmado os direitos do
país sobre essa relevante área marítima.

Terezinha de Castro disse, em seu Livro Brasil da Amazônia ao Prata (1983),


que o Brasil é um país voltado para o Atlântico, por possuir grande parte de sua
população debruçada no litoral. Esse fato fortalece a necessidade brasileira de buscar
a securitização dessa região, além de buscar uma liderança estratégica regional, com
o objetivo de evitar que o vazio de poder atraia novos atores externos a esse ambiente
geopolítico.

Dessa forma, as instituições multilaterais servem de arena para a discussão de


assuntos de interesse do Brasil, além de possibilitar a projeção de poder no Atlântico
Sul.
16

Sendo assim, o presente trabalho busca questionar a forma como a


participação brasileira nas instituições multilaterais na região do Atlântico Sul
possibilitam a projeção do país na região.

1.2.2 Objetivos específicos

a) Demonstrar a importância da região do Atlântico Sul para o Brasil;

b) Apresentar os atores envolvidos pela disputa de poder na região do


Atlântico Sul;

c) Analisar a participação do Brasil nas diversas instituições multilaterais com


foco no Atlântico Sul;
17

2 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

2.1 ATLÂNTICO SUL

A maioria dos autores prefere reconhecer o Atlântico Sul como um espaço de


interação entre a África e a América do Sul, sem estabelecer recortes claros para seus
limites geográficos. Interpretação esta que considera a área oceânica apenas como
um espaço geográfico de disputas de poder entre os diversos atores regionais e extra-
regionais.

Outros preferem seguir as definições segundo aspectos geográficos, onde o


Atlântico Sul é uma porção de águas marítimas situadas abaixo da linha do Equador
e que banha os continentes africano, americano e antártico. Essa definição possui
limites bem definidos, sendo o de leste e oeste representados pelos meridianos que
cruzam, respectivamente, o Cabo Horn (Chile) na sua fronteira com o Oceano
Pacífico, e o Cabo das Agulhas (África do Sul) na sua fronteira com o Oceano Índico.
Existindo, entretanto, distintas interpretações quanto ao limite setentrional e
meridional (GONÇALVES, 2009). Essa área marítima possui grandes arquipélagos e
ilhas de tamanhos e importância diferentes, bem como configura uma área de
nacionalidades distintas e de grandes contrastes socioeconômicos.

A OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte – 1949) reconhece a


divisão entre Atlântico Sul e Norte por meio da referência do Trópico de Câncer, como
sugere o Tratado do Atlântico Norte (1949), em seu Artigo 6º:

Para os fins do Artigo 5° considera-se ataque armado contra uma ou


várias das Partes o ataque armado: contra o território de qualquer delas na
Europa ou na América do Norte, contra os Departamentos franceses da
Argélia contra o território da Turquia ou contra as Ilhas sob jurisdição de
qualquer das Partes situadas na região do Atlântico Norte ao norte do
Trópico de Câncer; contra as forças, navios ou aeronaves de qualquer das
Partes, que se encontrem nesses territórios ou em qualquer outra região da
Europa na qual as forças de ocupação de qualquer das Partes estavam à
data em que o tratado entrou em vigor ou no Mar Mediterrâneo ou na região
do Atlântico Norte ao norte do Trópico de Câncer. (NORTH ATLANTIC
TREATY ORGANIZATION, 1949). (grifo nosso).

Além das mencionadas, existem também outros autores, como a historiadora e


geógrafa Therezinha de Castro (CASTRO, 1999, p. 19) que reconhecem como limite
entre o Atlântico Sul e Norte, a linha que se estende de Natal/RN à Dakar, no Senegal.
18

Essa linha caracteriza a Área de Estreitamento Atlântico, que representa a menor


distância entre os dois continentes e situa-se entre a projeção nordestina brasileira e
o saliente africano.

Neste trabalho, será adotada uma mistura das definições acima, reconhecendo,
por um lado, que o Atlântico Sul possui limites bem definidos ao Sul, Leste e Oeste.
Entretanto, quanto ao limite Norte, entende-se que a região geopolítica que engloba
as interações entre a África e a América do Sul ultrapassa o limite da linha do Equador,
permitindo adotar como flanco Norte, os países da costa continental com projeção
para o Atlântico Sul.

1) a Sul – Costa do continente antártico;


2) a Leste – Costa ocidental africana, continuada pelo Meridiano de 20º W até
o seu prolongamento na costa do continente antártico;
3) a Oeste – Costa oriental sul-americana, continuada pelo Meridiano de 70º W
até o seu prolongamento na costa do continente antártico;
4) a Norte – Linha que se estende entre o limite norte brasileiro (Cabo Orange
– AP) e o limite norte de Senegal (Saint-Louis - SEN).

Figura 1. O Atlântico Sul. (Fonte: Google Maps).


19

2.2 COSTA CONTINENTAL

Entende-se por costa continental do Atlântico Sul, a região litorânea dos


continentes africano, americano e antártico que é banhada por aquela porção
oceânica.

Sendo assim, a costa africana se estende de Senegal ao Cabo, com mais de


8.200 km. Apesar de alguns países estarem acima da linha do Equador (litoral
atlântico africano entre Senegal e São Tomé e Príncipe), eles são considerados para
fins geopolíticos como banhados pelo Atlântico Sul, por possuírem características
semelhantes e estarem projetados para a porção sul atlântica. Ao total, essa costa
compreende vinte países, incluindo o arquipélago de São Tomé e Príncipe.

A costa americana inicia-se no Cabo Orange, no norte brasileiro, e se prolonga


até o Cabo Horn, na fronteira entre a Argentina e o Chile. Sua extensão é de,
aproximadamente, 12.000 km, e destes, 7.300 km pertencem ao Brasil, 210 km ao
Uruguai e 4.500 km à Argentina. Nessa região, verifica-se a grande importância da foz
do rio Amazonas e a foz do rio Da Prata, por conectarem o Atlântico Sul ao interior do
subcontinente.

Mais especificamente, o litoral brasileiro apresenta dois segmentos nítidos com


projeções distintas: sendo um que vai do cabo Orange, no Norte, ao cabo de São
Roque, localizado no município de Maxaranguape - RN, no Nordeste, e o outro que
se estende do cabo de São Roque ao arroio Chuí, no Sul.

O primeiro segmento, vincula o País, física e economicamente, à porção norte


do oceano Atlântico, com portos voltados a atender, principalmente, o escoamento de
minérios e grãos brasileiros aos mercados da Europa e dos EUA. Os portos em
destaque na região são o Porto de Itaqui – MA e o Porto da Vila do Conde – PA.

Já o segmento seguinte projeta o país ao Atlântico Sul. Nessa região,


localizam-se a faixa mais povoada do território e os principais portos nacionais
[Santos, Rio de Janeiro, Paranaguá, Recife (Suape), Salvador e Vitória], por meio dos
quais se viabiliza a maior parte do comércio exterior brasileiro. Esse segmento
marítimo é vital para os laços políticos e econômicos com os países vizinhos do Cone
Sul. A projeção na direção leste conduz aos países da África Ocidental, e nela se
20

destaca a rota do Cabo, uma considerável via estratégica de comunicação da Ásia e


África com o Hemisfério Norte.

Por fim, a porção da costa antártica banhada pelo Atlântico se estende desde
a Península Antártica até a Terra de Maud (ou da Rainha Maud), em oposição à
Cidade do Cabo. Essa é uma região compartilhada, considerada Patrimônio da
Humanidade e regida pelo Tratado da Antártica de 1959, em que os países signatários
se comprometem a suspender suas pretensões por período indefinido, permitindo a
liberdade de exploração científica do continente e a cooperação internacional para
esse mesmo fim, sendo proibida expressamente a militarização da região. Esse
tratado tem validade até 2041, podendo ser prorrogado.

2.3 PORÇÕES INSULARES

O Atlântico Sul é relativamente vazio de ilhas oceânicas. Grande parte delas são
de domínio inglês e brasileiro. Essa parte do oceano possui uma Cordilheira Dorsal
Atlântica Central, com certos pontos que emergem, dando origem a algumas ilhas que
formam um arco cuja parte côncava está voltada para a América do Sul e, em especial,
para o Brasil.

As ilhas que se destacam no Atlântico Sul são:

Figura 2. Ilhas do Atlântico Sul. (Fonte: Barth e a ilha da Trindade, 1957-1959).


21

l) Ilha de Ascensão (ING); 8) Arq de Fernando de Noronha (BRA);


2) Ilha de Tristão da Cunha (ING); 9) Ilha de Trindade (BRA);
3) Ilha Gough (ING); 10) Ilha de Martin Vaz (BRA);
4) Ilha de Santa Helena (ING); 11) Ilhas São Pedro e São Paulo (BRA);
5) Ilhas Falklands/Malvinas (ING); 12) Ilhas de São Tomé e Príncipe (STP);
6) Ilha Geórgia do Sul (ING); 13) Arquipélago de Cabo Verde (CPV).
7) Ilha de Sandwich do Sul (ING);

2.4 ESPAÇO MARÍTIMO BRASILEIRO

Diferentemente das fronteiras terrestres, que possuem limites e referências


físicas para sua demarcação, no mar não há linhas que permitam um visível
estabelecimento de fronteiras, o que exige a adoção de convenções que sejam aceitas
pela comunidade internacional.

Por esse motivo, antes mesmo das descobertas de petróleo na camada do pré-
sal, (próximo dos anos 2000) os limites marítimos brasileiros já eram discutidos
internamente. Esse fato pode ser confirmado com a criação da Comissão
Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), estabelecida em 1974, com a
finalidade de levantar um entendimento de uma política pública brasileira para o mar.

Segundo Marroni (2015), o estudo de uma política pública nacional direcionada


para o mar revela a importância do Atlântico Sul para o Estado Brasileiro. Através do
conhecimento de políticas específicas para este tema, pode-se esclarecer a
relevância do planejamento e gerenciamento de ações que visam prover orientação
aos que tem poder de decisão, responsáveis por determinados setores, atividades ou
preocupações, de tal forma que possam tomar iniciativas mais seguras e de forma
mais abrangente, integradas e complementares.

Fruto da atuação da CIRM, surgiu a Política Nacional para os Recursos do Mar


(PNRM), imposta por Decreto Presidencial de 12 de maio de 1980. Essa PNRM tinha
como objetivos estabelecer a fixação de medidas essenciais à promoção da
integração do Mar Territorial e da Plataforma Continental ao espaço brasileiro e à
exploração racional dos oceanos, aí compreendidos os recursos vivos, minerais e
22

energéticos da coluna d'água, solo e subsolo, que apresentem interesse para o


desenvolvimento econômico e social do País e para a segurança nacional.

Em 1982, as Nações Unidas celebraram a Convenção sobre o Direito do Mar


(CNUDM), ratificadas pelo Brasil em 1988, onde foram estabelecidos importantes
conceitos para a regulação dos limites no mar, quais sejam: Mar Territorial (MT), Zona
Contigua (ZC), Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e Plataforma Continental (PC).

Como consequência do CNUDM, foi publicada em 4 de janeiro de 1993, a lei


nº 8.617, que dispõe sobre o mar territorial, a zona contígua, a zona econômica
exclusiva e a plataforma continental brasileira, e dá outras providências:

Segundo essa lei, o Mar Territorial brasileiro compreende uma faixa de doze
milhas marítimas de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral
continental e insular. Nessa área, a soberania do território brasileiro estende-se ao
mar territorial, ao espaço aéreo sobrejacente, bem como ao seu leito e subsolo.

A Zona Contígua brasileira compreende uma faixa que se estende das doze
às vinte e quatro milhas marítimas. Na zona contígua, o Brasil poderá tomar as
medidas de fiscalização necessárias para evitar ou reprimir as infrações às leis e aos
regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários.

A Zona Econômica Exclusiva brasileira compreende uma faixa que se


estende das doze às duzentas milhas marítimas. Nessa área, o Brasil tem direitos de
soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos
recursos naturais, vivos ou não-vivos, das águas sobrejacentes ao leito do mar, do
leito do mar e seu subsolo, e no que se refere a outras atividades com vistas à
exploração e ao aproveitamento da zona para fins econômicos.

A Plataforma Continental do Brasil compreende o leito e o subsolo das áreas


submarinas que se estendem além do seu mar territorial, até uma distância de
duzentas milhas marítimas, a partir das quais se mede a largura do mar territorial, nos
casos em que o bordo exterior da margem continental não atinja essa distância. Nesse
espaço, o Brasil exerce direitos de soberania sobre a plataforma continental, para
efeitos de exploração dos recursos naturais.
23

Ainda com base no CNUDM, o governo brasileiro publicou o Decreto Nº 98.145,


de 15 de setembro de 1989, aprovando o Plano de Levantamento da Plataforma
Continental Brasileira (LEPLAC), com o objetivo de definir as diretrizes para a
delimitação do bordo exterior da referida plataforma, ou seja, determinar a área
marítima, além das 200 milhas, na qual o Brasil exercerá direitos de soberania para a
exploração e o aproveitamento dos recursos naturais do leito e subsolo marinho. Pois
em seu Art. 76, o CNUDM estabeleceu que os Estados poderão pleitear o aumento
de suas plataformas continentais, caso cumpram determinados critérios técnicos, até
uma extensão máxima de 350 milhas náuticas (648 km) ou a uma distância que não
exceda 100 milhas marítimas da isóbata de 2.500 metros (linha que une as
profundidades de 2.500 metros).

Figura 3. Amazônia Azul. (Fonte: Marinha do Brasil)


24

No mar, a Zona Econômica Exclusiva brasileira, cujo limite exterior é de 200


milhas náuticas, tem uma área oceânica aproximada de 3,54 milhões de km2. Assim,
a área em questão, somada aos 965 mil km2 da Plataforma Continental, situados além
das 200 milhas náuticas e reivindicados junto à Comissão de Limites da Plataforma
Continental (CLPC) da Organização das Nações Unidas (ONU), perfaz um total
aproximado de 4,5 milhões de km2. Essa extensa área oceânica delimita o que se
denomina “Amazônia Azul”, que é adjacente ao continente e corresponde a
aproximadamente 52% da área continental brasileira.

Os arquipélagos de Fernando de Noronha, de São Pedro e São Paulo e a ilha


da Trindade, distantes do litoral, também são tomados como referência para a
composição da Amazônia Azul, com extensão de 200 milhas náuticas, contadas a
partir de suas linhas de base e circunscritas em seus respectivos entornos.

No arquipélago de São Pedro e São Paulo, localizado a 520 milhas náuticas do


litoral do Rio Grande do Norte, o Brasil mantém uma estação científica de pesquisas,
apoiada pela Marinha e permanentemente guarnecida e habitada por pesquisadores
brasileiros, o que é um pré-requisito para que o arquipélago possa contribuir para a
composição da Amazônia Azul.

Dessa forma, o espaço marítimo brasileiro no oceano Atlântico se tornará


equivalente a metade do território nacional. Sendo o Brasil o quinto maior país do
mundo em área continental, o pleito do Brasil junto à CLPC representa a confirmação
jurídica da maior porção soberana marítima do mundo. Ou seja, nenhum outro país
possui tamanho controle sobre o seu espaço oceânico por direito, para exploração e
utilização dos recursos naturais.

O nome Amazônia Azul foi adotado pela Marinha brasileira, como forma de
alertar a sociedade para a importância, não só estratégica, mas, também, econômica
dessa vastidão do litoral brasileiro junto ao Atlântico Sul, conforme já apresentava a
Política Nacional de Defesa (PND), em sua edição de 2016:

5.5. O mar sempre esteve relacionado com o progresso do Brasil, desde o


seu descobrimento. A natural vocação marítima brasileira é respaldada pelo
seu extenso litoral e pela importância estratégica do Atlântico Sul.
25

A Convenção das Nações Unidas sobre Direito do Mar abre a


possibilidade de o Brasil estender os limites da sua Plataforma Continental e
exercer o direito de jurisdição sobre os recursos econômicos em uma área de
cerca de 4,5 milhões de quilômetros quadrados, região de vital importância
para o País, uma verdadeira “Amazônia Azul”.

Nessa imensa área, incluída a camada do pré-sal, estão as maiores


reservas de petróleo e gás, fontes de energia imprescindíveis para o
desenvolvimento do País, além da existência de grande potencial pesqueiro,
mineral e de outros recursos naturais.

A globalização aumentou a interdependência econômica dos países e,


consequentemente, o fluxo de cargas. No Brasil, o transporte marítimo é
responsável por movimentar quase todo o comércio exterior.

Figura 4. Países signatários da CNUDM. (Fonte: website wikipedia).

No entanto, como se verifica na Figura 3, em verde escuro os países signatários


que ratificaram a Convenção, em verde claro os países que assinaram, mas ainda não
ratificaram, e em cinza os países que não aderiram à Convenção. A CNUDM está
ratificada por 152 países. Ainda há países importantes e litorâneos que não aderiram,
como Estados Unidos, Venezuela e Peru. Esse fato pode se tornar, no futuro, uma
fonte de contenciosos.

2.5 RECURSOS NATURAIS

Recurso natural é tudo aquilo que o homem encontra na natureza e que pode
utilizar em seu benefício, especialmente para o desenvolvimento da sociedade
humana. Sendo assim, esses recursos se tornam fundamentais para a evolução da
economia, explicando o fato da constante busca e extração desses recursos.
26

Existem algumas maneiras de classificar os recursos naturais. A mais comum


é a classificação em recursos renováveis e não-renováveis, de acordo com a
capacidade de renovação do recurso após serem utilizados pelo homem. Outra forma
é dividindo os recursos naturais em quatro grupos: biológicos, hídricos, energéticos e
minerais.

• Biológicos: são recursos vegetais e animais, encontrados nas


diferentes formas de vida, especialmente, nos oceanos e florestas.
• Hídricos: são recursos ligados às águas.
• Energéticos: são os recursos que estão relacionados ao fornecimento
de energia, como o petróleo e combustíveis fósseis.
• Minerais: são recursos não renováveis ligados à formação geológica,
composta por rochas e minerais. São exemplos o ferro, grafite, ouro, argila etc.

O Atlântico Sul, como já se sabe, é muito rico em recursos biológicos. Essa


região do oceano apresenta um ecossistema bastante diversificado, com diversas
espécies da fauna e flora submarina, atraindo, especialmente, a pesca em larga
escala.

A grande distância entre os continentes americano e africano permite a


existência de uma faixa marítima internacional no Atlântico Sul, além da plataforma
continental dos países, que pode ser usada para exploração dos recursos naturais por
qualquer país, regional ou não. Essa situação favorece à pesca predatória.

Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade


(ICMBio), órgão ambiental do governo brasileiro, criado pela lei 11.516, de 28 de
agosto de 2007, a pesca é reconhecida como uma das atividades humanas mais
antigas. Há milênios, os seres humanos interagem com o mar, utilizando seus
recursos para alimentação e geração de trabalho e renda. No entanto, se essa
atividade for realizada de forma incorreta, pode ameaçar a diversidade marinha. A
sobrepesca, por exemplo, que é a retirada de indivíduos em taxas maiores que a sua
população consegue recuperar, pode levar os estoques pesqueiros ao colapso. Esse
problema, junto com a destruição dos habitats, vem reduzindo consideravelmente
diversos estoques pesqueiros no Atlântico Sul.
27

Quanto aos recursos energéticos, em 2006, a descoberta do pré-sal no litoral


do Atlântico Sul pela PETROBRAS aumentou muito o interesse internacional sobre
essa região.

O pré-sal é uma sequência de rochas sedimentares formadas há mais de 100


milhões de anos, localizada sobre uma camada orgânica em hidrocarbonetos
(petróleo e gás natural). Mais especificamente, essa formação ocorreu pela separação
dos atuais continentes Americano e Africano. À medida que esses continentes se
distanciavam, os materiais orgânicos, então acumulados nesse novo espaço, foram
sendo cobertos pelas águas do Oceano Atlântico, que se formava. Ao longo dos anos,
ia se formando uma camada de sal sobre esses compostos orgânicos, que atualmente
chega a 2 mil metros de espessura. Com as novas tecnologias, a exploração de
petróleo e gás natural nessa região se tornou viável.

Segundo a Petrobrás, as descobertas no pré-sal estão entre as mais


importantes em todo o mundo na última década. Essa região é composta por grandes
acumulações de óleo leve, de excelente qualidade e com alto valor comercial. Uma
realidade que coloca o Brasil em uma posição estratégica frente à grande demanda
de energia mundial.

Figura 5. Descoberta de Petróleo. (Fonte: Jornal O Globo - 26/03/2007).


28

A produção diária brasileira de petróleo no pré-sal triplicou entre 2014 e 2018,


passando de 500 mil barris por dia, para o patamar de 1,5 milhão de barris por dia e
com potencial ainda maior. Dessa forma, o Brasil se reposicionou no mercado
internacional tornando-se autossuficiente em petróleo e exportando o excedente.
Além disso, a PETROBRAS se tornou referência mundial nesse tipo de exploração.

Com o desenvolvimento de tecnologia própria, a PETROBRAS passou a apoiar


a exploração de petróleo em águas profundas e ultraprofundas no litoral africano. Por
meio da Cooperação Sul-Sul, o Brasil realizou parcerias com países da África
Subsaariana como Angola, Benin, Gabão, Nigéria, Namíbia, Senegal e Tanzânia.

Figura 6. Recursos Energéticos e Minerais no Atlântico Sul. (Fonte: Prof Eli Alves Penha).

Em relação aos recursos minerais, o fundo do leito oceânico ainda carece de


pesquisas que permitam desenvolver tecnologia para explorar de forma sustentável
os recursos existentes em grandes profundidades (5 a 6 mil metros). Nesse sentido,
o Serviço Geológico do Brasil (SGB), que é um órgão do Governo vinculado ao
Ministério de Minas e Energia, emite autorizações para pesquisa e explorações para
empresas interessadas em recursos minerais da plataforma continental brasileira.
29

Atualmente, cerca de 1% da plataforma continental brasileira está mapeada. O


SGB espera ter, até 2030, concluído o mapeamento de 25% do território submarino
em uma escala topográfica que permita a extração comercial de seus bens minerais.

No leito oceânico do Atlântico Sul, já é conhecida a existência de nódulos ricos


em manganês, calcário e areia, além de outros pontos com potencial para ouro,
diamantes, fósforo, zinco, platina, cobre e níquel.

Figura 7. Recursos Minerais no Atlântico Sul. (Fonte: Website SGB - CPRM)

A ONU publicou em 2014 seu primeiro plano para o gerenciamento da extração


dos nódulos marinhos de recursos minerais, por meio de um estudo técnico promovido
pela Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (International Seabed Authority),
órgão da ONU que controla a mineração nos oceanos. Esse órgão internacional,
oriundo do CNUDM, é reconhecido por 167 países, cobrindo um espaço de cerca de
54% da área oceânica mundial.

Em síntese, o leito oceânico do Atlântico Sul apresenta grande variedade de


recursos naturais, especialmente os recursos energéticos. Esses recursos estimulam
a cobiça por servirem de matéria-prima impulsora ao desenvolvimento econômico de
30

qualquer país, fato esse que favorece a presença de diversos atores regionais ou
extra-regionais, a ser explorado no capítulo seguinte.
31

3. ATORES NO ATLÂNTICO SUL

3.1 ATORES REGIONAIS

O presente trabalho vai considerar como atores regionais os países com costa
litorânea dos continentes africano e americano, dentro dos limites do Atlântico Sul. A
participação brasileira como ator regional será abordada no capítulo seguinte.

Para os atores regionais sul-americanos, o conflito das Malvinas/Falklands


(1980), entre a Argentina e o Reino Unido, serviu como um marco que possibilitou a
formação de um novo arranjo de interesses, entretanto, agora mais focado na
integração regional e no Atlântico Sul e sua securitização.

Segundo CERVO e BUENO (1992), a derrota argentina conduziu os países da


América do Sul à tomada de consciência da insuficiência de suas capacidades de
projeção no Atlântico Sul, como também dos organismos multilaterais de coordenação
político-estratégica, em âmbito regional, e teve como resultado três importantes
consequências: a reforma na Organização dos Estados Americanos (OEA); a
aceleração da cooperação e integração com a América do Sul e a apresentação às
Nações Unidas, em 1985, da proposta de “Zona de Paz e Cooperação para o Atlântico
Sul”, aprovada em outubro de 1986 (ZOPACAS).

A Argentina é um país em que o oceano possui grande importância estratégica,


especialmente, devido à sua projeção para o Atlântico, assim como o Brasil. Além
disso, a dinâmica da bacia do Rio da Prata e do estreito de Magalhães fortalecem
essa vocação, favorecendo a implantação de uma geopolítica voltada para os mares.

Segundo VAZ (2011), o país platino fomenta a perspectiva de reivindicação de


sua projeção sobre a Antártica, além de pleitear sua soberania sobre as ilhas
oceânicas Malvinas (Falklands), Geórgia e Sandwich do Sul, envolvendo o Reino
Unido em um choque de interesses diplomáticos, como comprova a Política de Defesa
Nacional Argentina / 2018:

...
c. El Atlántico Sur y las Islas Malvinas, Georgias del Sur y Sándwich del Sur

El Atlántico Sur constituye un área de valor estratégico para la


REPÚBLICA ARGENTINA en virtud de sus enormes reservas de recursos
32

naturales, por ser vía principal de nuestro comercio internacional, la


proyección natural de los intereses nacionales hacia el Continente Antártico
y como regulador climático global. La extensión territorial de este espacio
plantea un importante desafío para nuestro país en lo referido a su protección
y conservación. El reconocimiento a la ampliación de la plataforma continental
argentina ha incrementado cuantitativamente el ámbito de actuación del
Sistema de Defensa Nacional, conllevando desafíos estratégicos, logísticos y
operacionales.

La REPÚBLICA ARGENTINA mantiene su reclamo de soberanía sobre
las ISLAS MALVINAS, GEORGIAS DEL SUR y SÁNDWICH DEL SUR y sus
espacios marítimos e insulares. La reciente mejora en la relación con el
REINO UNIDO DE GRAN BRETAÑA E IRLANDA DEL NORTE contribuye al
logro de este objetivo nacional irrenunciable, ya que favorece un espacio de
oportunidad para incrementar la cooperación bilateral y promueve el interés
nacional de preservar y explotar los recursos naturales allí existentes.
(Destaque nosso)

A Argentina, portanto, busca projetar poder para o Atlântico, perpetuando a


reivindicação dos territórios insulares como objetivo nacional irrenunciável. Além de
fomentar recursos naturais e prosperar com a ampliação da plataforma continental.

Esses fatos, porém, contrabalanceiam com a ideia da preservação do oceano


regional como área estável e distanciada dos grandes focos de conflitos
internacionais. Uma vez que o Reino Unido não mostra interesse em abrir mão da
soberania de suas ilhas, contrariando os desejos argentinos. Além do mais, os EUA
não ratificaram o CNUDM, e assim, não reconhecem as atuais ampliações das
plataformas marítimas na América do Sul, podendo gerar desentendimentos com
relação à soberania de alguns países da região.

De outro modo, a histórica influência dos EUA sobre o continente americano


vem perdendo força. Especialmente com a recente elevação da República Popular da
China (RPC) como o maior parceiro comercial do Brasil (2009) e da Argentina (2019),
interessada principalmente nos recursos naturais da região.

Além disso, as Forças Armadas da China instalaram uma base militar na


Patagônia argentina em 2018, que serve de estação de controle de satélites e de
missões especiais. Com isso, a RPC se mostra um ator extra-regional cada vez mais
presente e interessado, fazendo recordar as esferas de influência que vigoravam no
período da Guerra Fria.

Aliada a esse fato, a retomada do Kirchnerismo, com a eleição da Chapa


Fernández e Cristina Kirchner em 2019, suscita a restauração da onda rosa (uma série
33

de vitórias eleitorais da esquerda na América Latina na virada do século XXI). Esse


aspecto político tem potencial para atrair grandes atores à área de influência latino-
americana e sul-atlântica.

Entretanto, neste contexto de conflito de interesses, as Forças Armadas


argentinas, apesar de estarem adequadamente adestradas e equipadas, não se
mostram capazes de dissuadir ou projetar poder frente aos atores internacionais que
se apresentam. Sendo assim, mostra-se necessário o fortalecimento dos laços
multilaterais nos diversos campos do poder, como: MERCOSUL, Organização dos
Estados Americanos (OEA), ZOPACAS, Organização das Nações Unidas (ONU) e
outros.

Ainda na costa americana, o Uruguai se apresenta como um país de relativas


dimensões geográficas, econômicas e demográficas, mas que se localiza em área de
grande valor estratégico na foz do Rio da Prata, que é compartida com a Argentina.
Segundo a Política de Defesa Nacional do Uruguai – 2014, o país não está interessado
em projetar poder, mas, sim em ser reconhecido por seu posicionamento frente ao
sistema internacional.

Já na costa africana, os problemas históricos advindos da partilha do


continente, realizada pelos europeus na segunda metade do século XIX, ainda
repercutem nos campos político, econômico e social na região, trazendo efeitos que
comprometem suas capacidades de projetar poder.

Situação distinta da realidade africana é encontrada na África do Sul. O país


sul-africano ostenta uma posição geográfica privilegiada. A Rota do Cabo serve de
passagem oceânica importante para o abastecimento do ocidente, especialmente, de
petróleo proveniente do Golfo Pérsico, e, ainda, é abundante de recursos naturais e
reconhecido como país megadiverso, assim como o Brasil (megadiverso – Grupo de
17 países que abrigam a maioria das espécies da Terra).

A partir do Apartheid (regime de segregação racial que vigorou entre as


décadas de 60 e 90 na África do Sul), os sul-africanos passaram a ser mais aceitos
na comunidade internacional, fortalecendo a integração regional e sua participação
nos fóruns globais como: a Comunidade Britânica de Nações (Commonwealth),
34

ZOPACAS, BRICS e IBAS (FIORI et al, 2013). Além disso, de acordo com dados do
Conselho de Segurança das Nações Unidas, as forças da África do Sul apresentaram
ao longo desse período uma expressiva participação em missões de paz da ONU,
especialmente, em seu entorno estratégico, com destaque para República
Democrática do Congo (1996 a 2020), Sudão (2004 a 2020), Sudão do Sul (2010 a
2020) e Etiópia / Eritréia (2000 a 2009), conseguindo, dessa forma, projetar poder de
forma regional. (UN, 2020)

Tabela 1 – Número de militares sul-africanos em missões de paz da ONU.

Segundo Vaz (2011), o país sul-africano não chegou a desenvolver uma política
e uma estratégia marítimas condizentes com sua projeção oceânica. Uma vez que o
Atlântico Sul disputa proeminência com o oceano Índico, na elaboração de políticas
de defesa e segurança. Ademais, o Livro Branco de Defesa da África do Sul (White
Paper on National Defence for the Republic of South Africa - 1996) não singulariza o
Atlântico Sul como um espaço geopolítico de relevância, visto que, na data de sua
formulação, a prioridade sul-africana enfocava apenas a segurança regional no cone
sul-africano.

Outro país relevante da África é a Nigéria, que foi colonizada pelos ingleses,
teve sua independência em 1960 e, assim como a África do Sul, é membro
da Commonwealth, possuindo forte ligação com o Reino Unido.

Os nigerianos ostentam o maior Produto Interno Bruto do continente (Ano base


2019), segundo o Banco Mundial. Esse país africano é membro da Organização dos
Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e possui sua economia baseada na
exploração do petróleo, oriundo principalmente do Golfo da Guiné. Nos últimos anos, o
35

comércio desse produto chegou a representar cerca de 80% da receita do estado nigeriano.
Em 2019, porém, houve uma retração drástica no valor dessa commodity, fazendo a Nigéria
ter uma queda de cerca de 14% do seu PIB.

Além disso, os nigerianos enfrentam problemas internos históricos, dentre eles


o terrorismo, a pirataria no Golfo da Guiné, os conflitos étnicos e religiosos. O principal
grupo terrorista da região é o Estado Islâmico, que se separou do grupo militante Boko
Haram em 2016. Os grupos terroristas tentam ampliar seu território por meio do
aliciamento forçado da população e de ataques contra católicos e as forças militares
do governo. Os insurgentes islâmicos já mataram cerca de 30.000 pessoas no norte
da Nigéria na última década.

No campo da política externa, a Nigéria é membro da Comunidade Econômica


dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), fundada em 1975 no âmbito da
Comunidade Econômica Africana. A CEDEAO possui como princípios a integração
econômica dos seus 15 membros, a paz e a segurança regional, a prevenção e a
gestão de conflitos, a consolidação da paz, a democracia e a boa governação. Para
isso, o bloco oferece um mecanismo para a prevenção e resolução de conflitos entre
seus membros, semelhante aos Peacekeepers da ONU.

A West African Monitoring Group (ECOMOG) é uma força militar de


manutenção da paz com poderes de intervenção. A ECOMOG já atuou em ações de
distúrbios e golpes de Estado, em países da região, como nas agitações políticas na
Libéria e em Serra Leoa na década de 1990, na guerra civil em Guiné-Bissau e no
conflito no Mali em 2012, e na intervenção militar na Gâmbia em 2017.

Aliada a essa atuação como força de pacificação na África, por meio da


ECOMOG, a Nigéria também participou de missões de Paz da ONU, especialmente a
UNAMID, Missão das Nações Unidas e da União Africana em Darfur, iniciada em
2007, e a UNMIL, Missão das Nações Unidas na Libéria (2003 – 2016).

Dessa forma, a Nigéria busca ocupar seu espaço na comunidade internacional,


mas sem deixar de dar especial atenção a seus problemas internos. A instabilidade
do seu entorno estratégico repercute no interior do país, fazendo com que o foco de
sua política externa seja direcionado para essa região.
36

3.2 ATORES EXTRA-REGIONAIS

O Atlântico Sul já foi palco de disputas históricas entre portugueses e espanhóis


no período das grandes navegações (séculos XIV a XVI). Posteriormente, com a
Revolução Industrial, a Inglaterra surge como a rainha dos mares, impondo seu poder
aos quatro cantos do mundo. Os territórios inabitados por onde os ingleses pisavam
eram ocupados, refletindo em um conjunto de ilhas britânicas com posição
estratégica, no meio do oceano, entre a América e a África. Esse domínio durou até a
1ª Grande Guerra (1914-1918), quando surgiu uma nova potência com grande
capacidade naval, os EUA.

Pouco antes disso, um ideal de Darwinismo Social, executado como forma de


neocolonialismo, implantou outros atores europeus em território africano. O
neocolonialismo foi um processo de dominação política e econômica, pelas potências
europeias, ocorrido no final do século XIX e ao longo do século XX, deixando
consequências profundas naquelas sociedades que se refletem até os dias atuais na
forma de conflitos étnicos, pobreza, guerras e outras.

Após a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), chega a era da bipolaridade que vigorou


durante o período da Guerra Fria (1945-1991), levando a americanos e soviéticos a
disputarem cada palmo do globo por mais influência e poder. Essa fase facilitou a
independência de muitos países africanos que se viram estimulados a romper os laços
coloniais em troca de um sentimento de liberdade controlada pelo radar de influência
das grandes potências (EUA – URSS). Sendo assim, essa situação fomentou a
criação de países africanos sob regimes não democráticos, influenciados a entrarem
numa guerra de interesses ideológicos.

Em um outro ponto de vista, Luís (2016) cita que o Atlântico Sul foi considerado
por alguns estrategistas como uma região de “vazio de poder” durante a Guerra Fria,
ou seja, um local em potencial para projeção da presença soviética, devido à retirada
das potências coloniais europeias da África. Em oposição a isso, os EUA estimularam
a criação de uma aliança de defesa no Atlântico Sul, aos moldes da OTAN.
37

Com o fim da Guerra Fria e o desmantelamento da URSS, a Rússia, como


principal herdeiro do espólio soviético, não foi capaz de manter a mesma projeção
militar e política na região sul-atlântica. Essa situação se deve especialmente a
limitações econômicas e à estreita atuação da OTAN no entorno estratégico russo,
reduzindo os interesses daquele país nas regiões mais afastadas.

Entretanto, a crise venezuelana permitiu uma parceria militar entre Maduro e


Putin, como resposta às ações da OTAN na área de influência russa. Essa parceria
foi configurada com apoio em treinamento e equipamento militar aos venezuelanos,
trazendo instabilidade para a região da América Latina e Caribe (WELLE, 2020).

Figura 8. Presença de atores extra-regionais no Atlântico Sul (BEIRÃO, A. 2017 apud LOPES, P. 2017)

A seguir, será apresentada a recente atuação dos principais atores extra-


regionais no Atlântico Sul (EUA, Reino Unido, China e França) e como essa atuação
influencia nos propósitos regionais.
38

3.2.1 Os Estados Unidos da América no Atlântico Sul

Os EUA sempre tiveram grande interesse sobre o continente americano. Isso


já era expressado na Doutrina Monroe de 1823, apresentada pela célebre frase: “A
América para os americanos!”, no contexto da tentativa de recolonização dos países
da região por parte das potências europeias. Situação diferente ocorria na África, onde
os EUA abriram mão de suas posses sobre Libéria, para servir de destino dos
escravos americanos libertos.

Após a Guerra Fria, os EUA tiveram atuação mais enfática no Atlântico Sul.
Segundo Lopes (2017), a ascensão de novos pólos globais (multilateralismo) ou
regionais de poder e a existência de Estados falidos, ameaçaram a liderança global
americana, favorecendo a adoção da estratégia de presença global. Battaglino (2009)
diz que esse incremento ocorreu após os ataques terroristas, pois na década de 1990,
com o “déficit de ameaças”, os EUA adotavam como estratégia voltada para construir
sua hegemonia, uma tríade composta por diplomacia econômica, cooperação
multilateral e ajuda humanitária.

Ainda segundo Battaglino (2009), os EUA desenvolveram uma leitura particular


do fenômeno terrorista como uma ameaça transnacional. Nesse sentido, os norte-
americanos deixaram de reconhecer os limites soberanos como um obstáculo, e
passaram a considerar o mundo como Área de Operações, alocando estruturas que
possibilitariam a rápida atuação do seu poderio militar. A expansão das funções do
Comando Sul (SOUTHCOM), a reativação da IV Frota Naval Americana e a criação
de um novo Comando Unificado Combatente para a África (AFRICOM) foram os
reflexos dessa leitura para o Atlântico Sul.

O Almirante Craig S. Faller, Comandante do US SOUTHCOM, em sua fala ao


Senado norte-americano, em 30 de janeiro de 2020, expressou a Declaração de
Postura do Comando Sul dos EUA (POSTURE STATEMENT OF UNITED STATES
SOUTHERN COMMAND). Nesta fala, o Almirante apresentou o Atlântico Sul como um
espaço crítico pela competição global, especialmente, devido às ações da RPC e
Rússia na região. A China é apresentada como um ator maligno que oferece ameaça
39

ao entorno estratégico norte-americano, exportando práticas comerciais corruptas e


desconsiderando as leis e normas internacionais. Já a Rússia, por seu relacionamento
com a Venezuela, Cuba e Nicarágua, buscando semear a desunião e a desacreditar
os EUA por meio de disseminação de matérias falsas.

Figura 9. Área de responsabilidade do US SOUTHCOM. (Fonte: southcom.mil)

Conforme dados da Marinha Americana, a IV Frota Naval, reativada em 2008,


é responsável pela segurança marítima de parte do Atlântico Sul, segundo os
interesses dos EUA. Essa estrutura naval atua integrada ao SOUTHCOM, realizando
atividades de cooperação em segurança com nações parceiras por meio de exercícios
marítimos multinacionais, como UNITAS, e operações de contingência que exigem
rápida resposta.
40

Do lado africano, as Forças Armadas dos EUA dispõem do Comando Africano


(US AFRICOM) e da VI Frota Naval, que atende também ao continente europeu. O
US AFRICOM, criado em 2008, tem como foco o combate a ilicitudes que geram
reflexos na América, como o terrorismo, a pirataria e o tráfico de drogas, atuando em
conjunto com as tropas africanas em ações multilaterais e exercícios conjuntos, como
o Obangame Express, um exercício naval multinacional de patrulha e inspeção naval,
realizado no Golfo da Guiné.

O General Stephen Townsend, comandante da US AFRICOM, descreveu os


desafios do Comando Africano na Declaração de Postura ao Senado 2020, da
seguinte forma:

Competição Global de Energia


A China e a Rússia há muito reconhecem a importância estratégica e
econômica da África e continuam a aproveitar oportunidades para expandir
sua influência em todo o continente. A Estratégia de Defesa Nacional nos
direciona a priorizar a grande competição de poder com a China e a Rússia
devido à “magnitude das ameaças que eles lançam à segurança e
prosperidade dos EUA hoje e ao potencial dessas ameaças para aumentar
no futuro”. Os EUA incentivam parceiros construtivos que ajudam a
desenvolver os setores econômico, de infraestrutura, humanitário e de
segurança da África, em benefício de todos os africanos. No entanto, os
atores malignos, livres de normas internacionais e padrões militares
profissionais, alavancam a velocidade da ação e o acesso às arenas
econômicas e de segurança em muitas partes do continente. As suas
atividades coercitivas e exploradoras minam e ameaçam a estabilidade de
muitos países africanos.

Organizações extremistas violentas permanecem uma realidade

As redes extremistas violentas estão se expandindo na África em ritmo


acelerado, devido em grande parte à governança fraca e populações
desprovidas de privilégios, enquanto empregam a violência para exacerbar o
desespero e a desesperança. Eles minam a confiança do público nos
governos e forças armadas locais, preenchendo eventualmente - por meios
ilegítimos - os vazios de segurança e serviço público enquanto expandem sua
ideologia radical. Em geral, os governos africanos veem os terroristas como
ameaças de curto prazo à sua capacidade de governar efetivamente, e
buscam proteger suas populações e melhorar suas economias. (Tradução
nossa)

Diante de inúmeros desafios no Atlântico Sul, as Frotas Navais norte-


americanas exercem a expressão do poder militar da forma Hard, com o objetivo de
intimidar a atuação de novos atores em oposição à sua liderança. Segundo Battaglino
(2009), as frotas tem como principal objetivo dissuadir agressões e fomentar a
cooperação com os sócios regionais. Neste sentido, contam com vasta capacidade
41

para patrulhar, ocupar e controlar áreas do mar próximas de qualquer país e a partir
dali poder atacar objetivos continentais.

Além disso, devido aos EUA não reconhecerem os acordos do CNUDM, a


potência marítima norte-americana realiza frequentemente operação naval do tipo
FON (Freedom of Navigation), com objetivo de desencorajar pretensões territoriais
consideradas, por eles, excessivas e para impor sua liberdade de operação. Em 2014,
os Estados Unidos realizaram operações do tipo FON em 19 países, incluindo
Argentina e Brasil. No caso do Brasil, foi desafiada a exigência brasileira de que
marinhas estrangeiras solicitem permissão antes de realizarem exercícios militares na
Zona Econômica Exclusiva Brasileira. Em contrapartida, o governo norte-americano
informou que a lei internacional não requer nenhum tipo de notificação ao Estado
costeiro e a Marinha do Brasil não dispõe de recursos para inibir ou acompanhar este
tipo de incursão, nas águas jurisdicionais brasileiras (CAVALCANTI, 2015).

Nota-se que, dos dois lados do Atlântico Sul, os americanos vêm fortalecendo
sua presença militar. O crescimento da importância estratégica do Atlântico Sul para
os EUA pode ser demonstrado pelo esforço do governo norte-americano na
reestruturação de forças que permitem o rápido desdobramento do seu braço militar
e de sua capacidade de se impor nas mais diversas situações possíveis na região.

3.2.2 O Reino Unido no Atlântico Sul

O Reino Unido se encontra em situação vantajosa no Atlântico Sul devido às


ações das gerações passadas na conquista e posse de porções insulares
estratégicas. A articulação de um cordão britânico que se estende desde a Ilha
Ascenção até as Ilhas Falklands / Malvinas possibilita a manutenção de forças
militares em bases próprias e sem depender da permissão de qualquer outra nação.

Do conjunto de ilhas do Reino Unido, a Ilha Ascenção e as Ilhas Falklands /


Malvinas se destacam por possuírem bases militares. Ascensão abriga um importante
aeroporto e uma base aérea compartilhada com os Estados Unidos. Já nas Malvinas,
encontra-se uma base britânica permanente, que serve de proteção contra as
aspirações argentinas sobre esse território insular.
42

A política do Reino Unido é de salvaguardar a soberania das Ilhas Malvinas e


o direito de seus habitantes insulares à autodeterminação. Após o conflito de 1982, o
Reino Unido estabeleceu nas ilhas do Atlântico Sul uma guarnição conjunta, composta
por elementos da Marinha Real, do Exército e da Força Aérea Real, baseados no
Complexo de Mount Pleasant, distante 56 Km da capital, Port Stanley. A missão das
British Forces South Atlantic Islands é impedir qualquer agressão militar contra
territórios ultramarinos no Atlântico Sul.

Figura 10. Presença militar britânica. (Fonte: army.mod.uk)

A Marinha Britânica desenvolve, ainda, o patrulhamento do Atlântico Sul para


fornecer proteção e a segurança contínua aos interesses britânicos, permitindo a
contínua presença do Reino Unido no Atlântico. Os navios envolvidos nessa tarefa
realizam operações de segurança marítima, incluindo patrulhas antidrogas e
antipirataria, podendo trabalhar integrados com outras marinhas para fortalecer laços
com os países da região. (UK ARMY, 2020)

O continente africano é o principal destino das Forças Armadas britânicas fora


do Reino Unido (UK ARMY, 2020). Naquele continente, o RU realiza treinamentos
43

militares com Estados aliados, incluindo terrorismo, comércio ilegal de animais


silvestres, violações dos direitos humanos e emergentes crises humanitárias, ou
operações no âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) e da
OTAN. Ao longo de 2019, o Reino Unido enviou tropas de Força de Paz da ONU para
Somália, Chipre e Sudão do Sul, e, no âmbito OTAN, para Etiópia.

Na costa atlântica, a principal atuação das Forças Armadas do Reino Unido é


junto à Nigéria. Neste país, os britânicos realizam atividades de treinamento e
consultoria destinadas ao combate de organizações terroristas, como o grupo Boko
Haram e o grupo Estado Islâmico.

Em suma, o Reino Unido possui considerável presença no Atlântico Sul. Sua


posição estratégica, aliada a uma Marinha forte e atuante, a transformam em um ator
relevante na região, especialmente pela integração com os interesses norte-
americanos.

3.2.3 A República Popular da China no Atlântico Sul

Segundo Rebello (2016), a China, a partir dos anos 1990, passou a adotar uma
estratégia com o objetivo de controlar recursos naturais, particularmente energéticos.
Assim, lançou suas grandes empresas no mercado internacional para obter
experiência e reforçar sua competitividade junto a empresas estrangeiras renomadas.
Com essa estratégia, a China extrapolou sua área de influência na Ásia e chegou até
a África e a América do Sul, com base no exercício do Soft Power, sem deixar de fazer
significativa modernização de sua capacidade militar (Hard Power).

Na última década, a China aumentou sua presença na África, tanto em projetos


de cooperação econômica como em relação ao comércio exterior. No início dos anos
2000, a China representava 1% do total das exportações africanas e, em 2012, já
representava 6,6% (BROZOSKI, 2013). Segundo o Banco Africano de
Desenvolvimento, o comércio China-África cresceu quase 20 vezes entre 2000 e
2015, chegando a 179 bilhões de dólares. Hoje, o gigante asiático é o principal
parceiro comercial do continente, superando os norte-americanos.

Situação similar acontece na América do Sul, onde a China se tornou o maior


parceiro comercial de grande parte dos países da região. O impacto da incorporação
44

da América do Sul e da África como área de forte influência da política externa da


China tem sido um fator de grande ressonância na desestabilização da ordem
econômica global. (FIORI, 2013).

Em 2017, a China lançou seu mais ambicioso projeto econômico da história


que ficou conhecido como a Nova Rota da Seda ou One Road, One Belt. O
megaprojeto inclui portos, rodovias, ferrovias, gasodutos, oleodutos e centros de
distribuição, tudo para favorecer as exportações chinesas. (CORDEIRO, 2019).

Figura 11. Nova Rota da Seda – One Belt, One Road. (Fonte: ESPM)

O Atlântico Sul sofrerá grande impacto com a proposta chinesa, uma vez que
essa região intensificará o trânsito dos produtos manufaturados e matérias-primas
entre a China e a costa atlântica da América e da África. Nesse sentido, a proposta
visa apoiar com o abundante recurso chinês as iniciativas de reestruturação da
logística, seja em portos, ferrovias, modais de integração ou outros, desde que
favoreçam aos interesses de Pequim.

Segundo Duarte (2015), a presença e interesses chineses no Atlântico Sul são


pouco conhecidos. A China não possui uma política oficial face ao Atlântico Sul,
tampouco bases ou presença militar permanentes na região. Esse fato contrasta com
os demais atores extra-regionais, especialmente os EUA e o RU. Para Neves (2013),
a perspectiva da China ao Atlântico Sul envolve também uma dimensão de Hard
Power numa proposta de longo prazo, relacionada com a consolidação de sua
45

capacidade naval. O processo de forte militarização da China tem tido como um dos
eixos principais o reforço da sua frota naval e a criação a longo prazo de uma blue
water navy capaz de projetar o poder chinês e reduzir a vulnerabilidade decorrente da
enorme dependência da China da liberdade de navegação nos oceanos.

Neves (2013) destaca, ainda, que a China já iniciou uma estratégia de presença
militar no Atlântico Sul. Fato que se tem feito sentir por meio da política de visitas
“diplomáticas” de navios militares a diferentes países no Atlântico, como a visita à
África do Sul de dois navios em abril de 2011, além do apoio à capacidade naval de
estados do Atlântico Sul, como nos casos da Namíbia e da Nigéria, demonstrando o
uso de diferentes canais Soft Power pela China para reforço de sua influência.

Para Brozosky (2013), o Estado chinês vem se fazendo cada dia mais presente
em Angola e em alguns países do Golfo da Guiné, fornecendo apoio militar “indireto”
aos governos. Por mais que a China ainda não possua uma capacidade para realizar
intervenções militares diretas e de longa permanência, os americanos já começam a
atentar para esta superposição de interesses na África e projetam na China um rival
perigoso em potencial na região.

Para Gielow (2019), a presença militar chinesa na África pode ser reparada
pelos acordos de venda de armamento. A China já fornece armamentos para 25 dos
54 Estados do continente, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos
(Londres). Além da grande base militar no Djibouti, é sua penetração em países da
porção ocidental africana, como Namíbia e Gana, que impacta o jogo geopolítico
regional.

Outra área que os chineses têm investido fortemente é na compra de terras


aráveis ao longo das costas do Atlântico Sul, como intuito de contrapor um futuro risco
de insegurança alimentar em seu país. Este processo foi intenso no Brasil, de 2007
até 2012, quando o governo brasileiro impôs limites para aquisição de imóveis rurais
por estrangeiros (NEVES, 2013).

No setor das telecomunicações, empresas chinesas já possuem relevante


participação em diversos países africanos, como a Nigéria, Angola e África do Sul.
Neste setor os chineses desenvolveram a infraestrutura de telecomunicações,
46

garantindo uma ampla cobertura de rede, em contrapartida são adquiridos


exclusivamente os equipamentos chineses. No Brasil, a briga pelo monopólio da
tecnologia 5G está no centro da guerra comercial entre China e Estados Unidos. A
escolha brasileira por empresa que implantará tecnologia no país pode ser seguida
de retaliação de um dos países envolvidos no conflito comercial. (BRAUN, 2020).

Do acima exposto, no Atlântico Sul, a China tem se apresentado com um ator


de forte presença econômica, mas ainda incipiente no campo militar. A utilização de
uma política econômica Soft Power facilita sua inserção nos países da região, uma
vez que tanto os países da África, quanto os países da América do Sul apresentam
economias frágeis e dependentes de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) para
seu desenvolvimento. A rápida inserção chinesa no Atlântico Sul chamou a atenção
dos EUA e seus aliados, gerando instabilidade por ser uma histórica área de influência
norte-americana.

3.2.4 A França no Atlântico Sul

Ainda que em menor proporção, quando comparada aos EUA e ao Reino


Unido, a presença francesa no Atlântico Sul é bastante significativa. A França também
é uma grande potência marítima, com um poder naval capacitado a atuar em diversas
regiões do globo, além de ainda possuir territórios ultramarinos espalhados pela
América, Oceania e África.

Assim como os EUA, a França possui Comandos designados para cobrir todo
o espaço marítimo global, além de regiões terrestres do interesse francês. Essas
tropas podem atuar na proteção dos territórios ultramarinos e na defesa dos interesses
franceses além-mar, podendo ser sob a égide de Organismos Internacionais (OI),
como ONU e OTAN, ou em acordos bilaterais de defesa, como ocorre com países da
África e Oriente Médio.
47

Figura 12. Zonas de responsabilidade da Marinha francesa. (Fonte: defense.gouv.fr)

Do lado americano do Atlântico Sul, a Guiana Francesa é um departamento


ultramarino pertencente à França que faz fronteira com o Suriname e com o estado
brasileiro do Amapá. Esse território comporta relevante estrutura de segurança, como
a base naval francesa de Dégrad des Cannes, o Centro Espacial de Kourou para
lançamentos de foguetes e utilizado, também, pela Agência Espacial Europeia, e
bases aéreas.

Segundo Fiori (2013), a Guiana Francesa assegura uma posição estratégica


para a França na dimensão sul-atlântica, pois garantiria a capacidade de fechar a foz
da Bacia Amazônica controlada pelo Brasil, de se projetar para a Amazônia e de limitar
a passagem entre o Atlântico Norte e o Atlântico Sul. Para Lopes (2017), essa posição
estratégica permite ainda acessar recursos estratégicos para os interesses vitais
franceses ou de seus aliados da OTAN.

Além da Guiana Francesa, a França possui outras bases militares permanentes


em seus departamentos de Martinica e Guadalupe, no Caribe, que atuam também no
combate ao tráfico de drogas e em assistência humanitária.

Contudo, é no continente africano que a atuação francesa se faz mais presente,


sobretudo nas ex-colônias francesas, aonde ainda possui capacidade de exercer sua
48

influência, como na República da Costa do Marfim, Gabão e Senegal. Nesses países,


a França estrutura suas forças de presença em Bases Operacionais Avançadas, que
constituem pontos de suporte operacional e logístico desdobráveis em caso de crise,
ou Polos de Cooperação Operacional, que se caracterizam em parcerias destinadas
a fornecer apoio militar operacional específico, principalmente para oferecer o suporte
para a formação de uma arquitetura de segurança coletiva na África.

De acordo com Lopes (2017), a África é fundamental para a estratégia global


francesa. A partir de 2002, o país realizou intervenções na Costa do Marfim, no Chade,
na República Centro Africana, na Líbia (em cooperação com a OTAN e com o
AFRICOM) e no Mali (2013).

Verifica-se, portanto, a relevante estrutura militar disponível ao governo da


França na área do Atlântico Sul. Entretanto, de acordo com o Livro Branco de Defesa
Nacional Francês (Livre Blanc sur la défense et la sécurité nationale), essa porção do
oceano não é prioridade aos franceses:

“...Além dos meios necessários para proteger o território nacional,


a França pretende ter forças militares que lhe permitam envolver-se em
áreas prioritárias para sua defesa e segurança: a periferia da região
europeia, a bacia do Mediterrâneo, parte da África (do Sahel à África
Equatorial), o Golfo Árabe-Persa e o Oceano Índico. Essas capacidades
permitem dar sua contribuição à paz e segurança internacionais em
outras partes do mundo” - P.82 (Tradução nossa).
49

4 O BRASIL E O MULTILATERALISMO NO ATLÂNTICO SUL

O presente capítulo visa apresentar a atuação recente da política externa


brasileira, no âmbito do multilateralismo, voltada para projetar o país no Atlântico Sul.
Dentre as instituições das quais o Brasil participa, será abordada a Organização das
Nações Unidas (ONU), a Cooperação Sul-Sul, a Zona de Paz e Cooperação do
Atlântico Sul (ZOPACAS) e o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL).

No âmbito interno, o Brasil busca se preparar para os desafios que essa rica e
grande área oceânica podem oferecer, especialmente no campo da defesa:

2.1.6. ... sem desconsiderar a esfera global, estabelece como área de


interesse prioritário o entorno estratégico brasileiro, que inclui a América do
Sul, o Atlântico Sul, os países da costa ocidental africana e a Antártica.

2.2.14. ... a natural vocação marítima brasileira é respaldada pelo seu


extenso litoral, pela magnitude do seu comércio marítimo e pela incontestável
importância estratégica do Atlântico Sul, o qual acolhe a denominada
Amazônia Azul®, ecossistema de área comparável à Amazônia territorial
brasileira e de vital relevância para o País, na medida em que incorpora
elevado potencial de recursos vivos e não vivos, entre estes, as maiores
reservas de petróleo e gás do Brasil.

2.3.7. ... o Atlântico Sul, a Antártica e os países africanos lindeiros ao


Atlântico Sul detêm significativas reservas de recursos naturais, em um
mundo já cioso da escassez desses ativos. Tal cenário poderá ensejar a
ocorrência de conflitos nos quais prevaleça o uso da força ou o seu respaldo
para a imposição de sanções políticas e econômicas. Potências externas têm
incrementado sua presença e influência nessas áreas. No Atlântico Sul,
declarado pela Assembleia Geral das Nações Unidas como Zona de Paz e
Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS), percebe-se o crescimento de
ilícitos transnacionais, pesca predatória, crimes ambientais e a presença de
países que dela não fazem parte e que, no entanto, possuem interesses na
região. Assim, as expressões do Poder Nacional devem estar
adequadamente capacitadas para fazerem valer os interesses nacionais.
(Projeto PND/2020).

4. OBJETIVOS NACIONAIS DE DEFESA

VIII. Incrementar a projeção do Brasil no concerto das Nações e


sua inserção em processos decisórios internacionais. Caracteriza-se
pelas ações no sentido de incrementar a participação do Brasil em
organismos e fóruns internacionais, em operações internacionais e na
cooperação com outros países, visando a auferir maior influência nas
decisões em questões globais. (Projeto PND/2020).

4.1 ONU

A agenda brasileira na ONU apresenta a visão do país a respeito dos temas de


interesse global, como desenvolvimento sustentável, segurança e defesa, cooperação
50

internacional, integração regional, desarmamento, limites marítimos e outros. Esses


temas podem alterar de acordo com a conjuntura internacional e as políticas de
governo priorizadas em cada período.

No âmbito do Atlântico Sul, alguns temas merecem atenção, dentre eles a


segurança e defesa. Segundo o Itamaraty, a atual arquitetura do Conselho de
Segurança das Nações Unidas (CSNU), oferece relevante poder aos membros
permanentes desde sua criação em 1945, com irrelevantes alterações ao longo dos
últimos 70 anos. O Brasil advoga a necessidade de reforma do CSNU para torná-lo
mais legítimo e representativo do conjunto dos estados membros da ONU, que hoje
somam 193 países. A reforma é necessária para que o órgão passe a refletir a
realidade contemporânea. Trata-se de preservar o arcabouço das Nações Unidas,
adaptando suas estruturas às exigências do século XXI. (MIN REL EXTERIORES,
2020)

O CSNU tem, entre suas responsabilidades, a de zelar pela paz e pela


segurança internacional, com poder para atuar com tropas em Missões de Paz nos
países em crise. Sendo assim, na última década, o Brasil participou com tropas da
missão de paz no Haiti entre 2004 e 2017, e da missão de paz no Líbano entre 2011
e 2020 (UN, 2020). Ambas as missões foram relevantes para a projeção política do
país, uma vez que foram lideradas por militares brasileiros.

Acerca do tema limites marítimos, o Brasil teve aprovada, em 2019, mais uma
parte de sua solicitação junto ao CNUDM, para reconhecer a ampliação da Plataforma
Continental. Esse processo é realizado em fases, e o Brasil já teve mais de 80% do
seu pleito reconhecido, ampliando a área disponível para exercer a soberania sobre a
exploração de recursos naturais no espaço demarcado. (PETROBRAS, 2019)

Outro tema de destaque na agenda brasileira na ONU é o desenvolvimento


sustentável. Esse tema é coordenado pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD) com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável
pelo mundo. O PNUD estabeleceu 17 objetivos, dos quais os países levantariam suas
metas. Em uma das metas brasileiras estabeleceu-se a busca pela melhoria da
capacidade do Brasil em assegurar uma conservação efetiva, o gerenciamento
sustentável e a proteção dos ecossistemas marinhos e costeiros. Em outra meta, se
51

estabelece regras para a exploração dos recursos do Atlântico Sul, evitando danos ao
meio ambiente, como a sobrepesca. A atuação brasileira nesse contexto projeta o
país como propagador de ações sustentáveis e defensor do meio ambiente. (PNUD
BRASIL, 2020).

No campo da integração regional, em 2019, na Assembleia Geral das Nações


Unidas em Nova York, o Brasil participou da criação do PROSUL, um foro para o
progresso e a integração da América do Sul. Esse foro surgiu após o fracasso da
UNASUL, e tem como propósito discutir ideias para o desenvolvimento regional,
focado em seis grupos de trabalho, sendo: infraestrutura (que inclui obras públicas,
transportes e telecomunicações); energia; saúde; defesa; segurança e desastres.
Esse foro amplia a participação do país em instituições que promovem a integração
regional e fomenta o desenvolvimento. (ITAMARATY, 2020)

4.2 COOPERAÇÃO SUL-SUL

Segundo a ONU (2020), Cooperação Sul-Sul é um mecanismo de


desenvolvimento conjunto entre países emergentes do hemisfério Sul em resposta a
desafios comuns. Pode ser usada como ferramenta por Estados, organizações
internacionais e o setor privado para colaborar e compartilhar conhecimento,
habilidades e iniciativas de sucesso em áreas específicas, como desenvolvimento
agrícola, direitos humanos, urbanização, saúde, defesa e etc.

Apesar da Cooperação Sul-Sul não ser uma Instituição, esse mecanismo


oferece grandes opções de visibilidade, sendo importante sua análise no presente
trabalho. Muitas interações do Brasil com os países do Atlântico Sul estão inseridas
no contexto da Cooperação Sul-Sul, por se tratarem de projetos de apoio, mas
também, estão sob o escopo de organismos internacionais ou fóruns multilaterais.

No Brasil, a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) é o órgão do Ministério


das Relações Exteriores (MRE) responsável para conduzir os acordos de cooperação
técnica internacionais, atuando como coordenadora da participação brasileira na
cooperação internacional junto a blocos regionais e fóruns. O foco das cooperações
tem sido os continentes africano e americano, gerando protagonismo para o Brasil no
mundo, sobretudo entre países em desenvolvimento. (BRASIL, ABC, 2020).
52

Nessa modalidade de cooperação, o Brasil tem a oportunidade tanto de


consolidar o intercâmbio de experiências reconhecidas como boas práticas
internacionais, quanto de consolidar a implementação de projetos em áreas distintas
daquelas normalmente desenvolvidas pela cooperação bilateral ou trilateral, tais como
cultura, ciência e tecnologia, inovação e fortalecimento da gestão pública na região.
(BRASIL, 2017).

A visibilidade gerada por meio dos projetos brasileiros de cooperação é um


mecanismo de projeção do país. As demandas recebidas pelo MRE são filtradas de
acordo com o enquadramento da Política Externa Brasileira (PEB). Esse fato justifica
o foco das cooperações serem nos continentes africano e americano, trazendo
reflexos para a projeção do país no Atlântico Sul. (BRASIL, ABC, 2020).

Embora a área da defesa não seja uma das prioritárias para esse tipo de
cooperação, ela traz relevantes retornos em termos de integração. Um exemplo de
cooperação na área da defesa é o compartilhamento de conhecimento por militares
brasileiros em cursos no exterior, assim como, dos militares estrangeiros no Brasil.
Essa ação, além de integrar, gera confiança e transparência entre as Forças Armadas
dos países da região. Na última década, o Brasil realizou acordos de cooperação
militar, enquadrados no mecanismo de Cooperação Sul-Sul, com todos os países sul-
americanos e alguns africanos (Angola, Nigéria, Benin, Guiné-Bissau, Senegal, São
Tomé e Príncipe e Cabo Verde). (BRASIL, ABC, 2020).

O ex-ministro Celso Amorim (2012) disse que cooperar com nossos vizinhos
não é um gesto de altruísmo gratuito. É uma maneira de consolidar relações pacíficas
e fortalecer nossa influência exercida de forma sempre respeitosa.

Em evento comemorativo aos 30 anos da ZOPACAS, realizado em 2016 na Escola


Superior de Guerra, foi citada a experiência que o Brasil teve na ampliação da
Plataforma Continental junto à ONU, países da África, como a Namíbia, Angola,
Moçambique e Cabo Verde, procuraram o país para uma Cooperação em seus pleitos
e suas propostas. (OLIVEIRA, 2016).
53

4.3 ZOPACAS

A integração regional contribui para a defesa do Brasil, fomenta a


confiança e transparência entre as Forças Armadas dos países da região, e
pode contribuir para o desenvolvimento das bases industriais de defesa dos
países de maneira colaborativa, de modo a proporcionar um desenvolvimento
mútuo das capacidades tecnológicas.

A dissuasão deve ser a primeira postura estratégica a ser


considerada para a defesa dos interesses nacionais. A exploração e
explotação da Amazônia Azul e a utilização das linhas de comunicação
marítimas do Atlântico Sul continuarão a ser vitais para o desenvolvimento do
Brasil, exigindo a intensificação das capacidades de prover Segurança
Marítima. Para o incremento dessa segurança, é importante a ampliação de
um ambiente de cooperação com países lindeiros do Atlântico Sul,
principalmente por meio de suas Marinhas. (Projeto PND/2020 – Grifo nosso).

O Atlântico Sul é considerado um espaço de paz e cooperação, livre de armas


de destruição em massa, condição, inclusive, reafirmada por iniciativa brasileira, com
a criação, pela Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em
1986, da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZOPACAS). Tal fórum teve por
objetivo fomentar o diálogo e a cooperação no âmbito dessa região e afirmar a
identidade desse espaço geopolítico como zona de paz. (ONU, Resolução 41/11,
1986).

O fortalecimento da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul


(ZOPACAS) contribuirá para a consolidação do Brasil como ator regional
relevante, aumentando sua influência no entorno estratégico e minimizando
a possibilidade de interferência militar de potências extra-regionais no
Atlântico Sul. (Projeto PND/2020).

Após sua criação em 1986, a ZOPACAS passou por um longo período de baixa
interação transatlântica e um distanciamento entre africanos e sul-americanos (1994
– 2007). Com o aumento da importância estratégica e o interesse de atores extra-
regionais no Atlântico Sul, o fórum atlântico foi revitalizado por iniciativa angolana em
2007. (PIMENTEL, 2016)

Segundo Oliveira (2016), a ZOPACAS ainda é um mecanismo de construção


incipiente, principalmente nas áreas de segurança e defesa, mas é de grande
importância dentro do projeto brasileiro de inserção Internacional. A maior dificuldade
à integração da ZOPACAS está relacionada com as enormes diferenças entre os seus
integrantes. Do lado Sul-Americano, são três Estados relativamente organizados e
onde as tensões interestatais não comprometem, possibilitando menor interferência
extra-regional. Já em diversos países da África, há grande problema de segurança
54

relacionados a guerras civis, terrorismo, violência interna e crimes organizados.


Nesses países africanos, existem casos em que não demonstram capacidade de
governança para solucionar seus problemas internos, atraindo a atenção de potências
externas. (OLIVEIRA, 2016, apud SILVA, 2016).

Oliveira (2016), apresenta ainda que, nesse contexto, o Brasil atua como
intermediador dos interesses comuns com os atores extra-regionais. O país tem boa
relação com as principais potências globais, fazendo-se valer da função de líder
regional. Já Filho (2015), acredita que não é possível que o Brasil realize grandes
apostas exclusivamente neste órgão multilateral. O país não conta com recursos
suficientes para solucionar ou encaminhar a maior parte das necessidades dos
parceiros africanos, que dependem muito da ajuda e da cooperação externa.

De acordo com Costa (2014), o alargamento e o adensamento da presença


brasileira no Atlântico Sul se fazem sem fricções de vizinhança e segundo estratégia
que combina princípios e movimentos efetivos nos campos da cooperação e da
dissuasão. A ofensiva diplomática dos últimos anos tem logrado êxitos importantes,
aprofundando relações com o grupo de nações lusófonas abrigadas na Comunidade
dos países de Língua Portuguesa (CPLP) e expandindo-as para outras, como a África
do Sul e a Namíbia.

Com a Namíbia, o Brasil possui um Acordo de Cooperação naval desde 1992,


com o objetivo de apoiar a criação e a formação dos quadros da Marinha namibiana,
uma vez que a independência da Namíbia em relação à África do Sul é datada de
1990. Além da formação continuada de pessoal, a Marinha brasileira possui dois
grupos de apoio em Walvis Bay, sendo um para formação de fuzileiros navais e outro
para dar suporte à manutenção de navios e lanchas da Marinha local. (FILHO, 2015).

Com a África do Sul, o Brasil desenvolveu o míssil A-Darter. O projeto,


encerrado em 2019, foi firmado entre a Força Aérea Brasileira e a Armaments
Corporation of South Africa, tendo como executora a empresa Denel Dynamics. Com
o desenvolvimento desse armamento, tanto a Força Aérea Brasileira quanto a Força
Aérea Sul-Africana terão um aumento significativo em suas capacidades operacionais,
ampliando o seu poder dissuasório e de combate. (BRASIL, FAB, 2019).
55

Além disso, em 2013, foi criado o Comitê Conjunto de Defesa Brasil-África do


Sul, composto por militares das Forças Armadas dos dois países e servidores civis,
que tem como objetivo trocar experiências sobre as respectivas indústrias de defesa.
(ROSSO et al, 2015).

Ainda com a África do Sul, a Marinha do Brasil desenvolve exercícios navais


como o ATLASUR e o IBSAMAR. O ATLASUR é uma operação conjunta entre as
forças de defesa sul-africana e brasileira, que em 2018 contou também com a
presença do Uruguai. O IBSAMAR é um exercício naval, no escopo do fórum IBAS
(Índia, Brasil e África do Sul), realizado anualmente entre as Marinhas dos três países
em águas sul-africanas, contribuindo para a segurança e projeção de poder no
Atlântico Sul. (BRASIL, MB, 2020)

No âmbito da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), o Brasil


participa da Operação FELINO desde os anos 2000, que busca atingir, manter e
otimizar a capacidade de atuação das Forças Armadas em missão de apoio à paz e
de ajuda humanitária. A última edição foi realizada em 2017, na cidade de Resende,
ajudando assim, a promover a liderança brasileira entre as nações sul-atlânticas.
(BRASIL, EB, 2020)

4.4 MERCOSUL

O MERCOSUL é uma das iniciativas de integração regional da América Latina,


surgida no contexto do pós-guerra das Malvinas (entre o Reino Unido e a Argentina)
e reaproximação dos países da região ao final da década de 80. Brasil, Argentina,
Paraguai e Uruguai são membros fundadores do MERCOSUL, signatários do Tratado
de Assunção de 1991. Todos os países sul-americanos estão vinculados ao
MERCOSUL como Estados Partes ou Associados (BRASIL, MERCOSUL, 2020).

Para Oliveira (2008), a participação militar conjunta dos países do MERCOSUL


na missão de paz do Haiti (MINUSTAH) ofereceu um novo enfoque para a cooperação
em defesa do bloco Sul-Americano. Brasil, Argentina e Uruguai tiveram participação
ininterrupta ao longo dos 13 anos de missão (2004 – 2017), que contou, também, com
relevante atuação do Paraguai.
56

Essa participação, liderada pelo Brasil, fomentou iniciativas de integração,


como a transformação em 2010 do Centro de Instrução de Operações de Paz
(CIOpPaz), do Exército Brasileiro, em Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil
(CCOPAB), com a missão de realizar a preparação de militares e civis brasileiros e de
nações amigas a serem enviados em missões de paz e desminagem humanitária.
(BRASIL, CCOPAB, 2010).

Com o surgimento da UNASUL em 2008 (bloco que integra todos os países


sul-americanos), as iniciativas de integração na área da segurança e defesa migraram
para esse bloco, esvaziando ações similares no âmbito do MERCOSUL (MACIEL,
2017). Neste sentido, destaca-se a criação, no mesmo ano, do Conselho de Defesa
Sul-Americano (CDS) com ações para políticas de defesa; cooperação militar; ações
humanitárias e operações de paz; e indústria, tecnologia e capacitação em defesa
(BRASIL, Senado, 2008).

Entretanto, com um racha ideológico entre os países sul-americanos, a


UNASUL perdeu importância, especialmente após Argentina, Brasil, Chile, Colômbia,
Peru e Paraguai suspenderem suas participações no bloco, gerando consequências
no processo de integração em defesa sul-americano (NADDI, 2018). Sendo assim,
outras iniciativas ganharam maior destaque, como a Operação Acolhida, iniciada em
2018, com o objetivo de realizar a assistência humanitária aos migrantes
venezuelanos, como consequência de grave crise político-econômica naquele país.

Outro aspecto a ser considerado são as Operações Navais FRATERNO e


TRANSOCEANIC que se realizam no âmbito sul-atlântico. A Operação FRATERNO,
que já está em sua 35ª Edição, é um exercício de manobras táticas realizadas entre
as Marinhas do Brasil e da Argentina. Já a Operação TRANSOCEANIC, que está em
sua 30ª Edição, é um exercício naval de coordenação da Área Marítima do Atlântico
Sul, envolvendo as Marinhas da Argentina, Brasil, Chile, Equador, México, Peru,
Paraguai e Uruguai, contribuindo para a defesa marítima regional (BRASIL, MB,
2020).
57

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Atlântico Sul é uma área de crescente valorização geopolítica. Este fato é


decorrente das novas descobertas em recursos naturais, especialmente o petróleo.
As grandes potências econômicas globais demandam desses recursos para o seu
desenvolvimento, atraindo novos atores para o cenário sul-atlântico.

O Brasil, neste contexto, busca se afirmar como líder regional e estabelece,


conforme o Projeto da PND (2020), a América do Sul, o Atlântico Sul, a Antártica e os
países africanos lindeiros ao Atlântico Sul como seu entorno estratégico, adotando as
ferramentas disponíveis para sua projeção nesta área geopolítica.

Entretanto, a conjuntura internacional apresenta tendências que dificultam a


cooperação multilateral. As disputas comerciais entre EUA e seus aliados e a
República Popular da China provocam instabilidades e uma polarização ideológica,
especialmente nos países carentes de recursos econômicos. Esse fato reflete
significativamente no entorno estratégico brasileiro, dificultando a aproximação entre
países com ideologias políticas distintas.

Pode-se afirmar ainda, que essa instabilidade política está cada vez mais tendo
reflexos na esfera militar, como se verifica nas dificuldades enfrentadas pelo Brasil
para promover a integração da segurança e defesa do Atlântico Sul. No âmbito sul-
americano, o mecanismo do Conselho de Defesa Sul-Americano perdeu sua
relevância com o racha político da UNASUL. No contexto da ZOPACAS, apesar de
mais de 30 anos de sua existência, ainda é uma instituição incipiente e com poucos
resultados práticos no campo da defesa.

Com relação à ONU, a formatação atual do Conselho de Segurança das


Nações Unidas (mantendo poder de veto para EUA, Reino Unido, França, China e
Rússia nas questões de segurança e defesa) não reflete a configuração de poder na
atualidade, reduzindo a potencialidade de atores relevantes, como Brasil, Alemanha,
Japão e Índia.

Essa debilidade do multilateralismo dificulta a obtenção de consenso


internacional que vise abordar conjuntamente uma ampla gama de fontes de
instabilidade, desde as mudanças climáticas, até questões de segurança, como o
58

terrorismo, a luta contra o crime organizado, as migrações ilegais e o tráfico de drogas.


Esse cenário representa um desafio para países de médio porte como o Brasil, uma
vez que implica um enfraquecimento dos esquemas multilaterais usados pela Nação
para promover seus interesses.

Até mesmo o relacionamento bilateral sofre com o choque de interesses no


Atlântico Sul. Esse tema pode ser constatado pelo não reconhecimento da Plataforma
Continental brasileira pelos EUA, vindo a realizar exercícios de FON (Freedom Of
Navigation) na costa do país. Somada a isso, a reativação da IV Frota na área de
interesse brasileiro, dificultando a projeção do país.

Outro fator é a presença cada vez maior dos recursos econômicos da China no
contexto africano e americano. Esses continentes são grandes fornecedores de
recursos naturais, atraindo a crescente demanda chinesa. Dessa forma, cria-se uma
forte dependência econômica, especialmente nos países mais carentes, o que dificulta
a inserção de outras lideranças.

Além desses fatores, a debilidade política e econômica de países da costa


africana, que possuem dificuldade em solucionar seus problemas internos, os quais
veem com bons olhos a atuação americana na sua área de interesse, especialmente
no combate à pirataria, ao tráfico de drogas e ao terrorismo. China, Reino Unido e
França são vistos da mesma maneira por parcela dos países da região.

O governo brasileiro não possui capacidade de resolver sozinho os problemas


na sua área de interesse e reduzir a participação de atores extra-regionais. Sendo
assim, a articulação brasileira de projeção de poder do país na sua área de interesse
perde força com a presença de atores globais de grande poder econômico e militar.

Do acima exposto, verifica-se que a hipótese levantada no início do presente


trabalho não se mostrou verdadeira. Uma vez que o Brasil tem alcançado o êxito
parcial na projeção de poder no Atlântico Sul, utilizando as instituições multilaterais
para esse fim. A cooperação entre Estados tem-se mostrado um instrumento de Soft
Power brasileiro, mas que não supera a atuação política, econômica e militar de
grandes atores extra-regionais, dificultando ao país exercer seu poder e influência
neste importante cenário.
59

Nesse cenário, o Projeto da Política Nacional de Defesa e da Estratégia


Nacional de Defesa (2020) já apresentam a necessidade do Brasil se posicionar
perante os novos desafios e a buscar o relacionamento com países detentores de
maior capacidade tecnológica. Tudo isso com o intuito de fortalecer seus interesses
perante as instabilidades de um cenário global volátil, incerto, complexo e ambíguo.
60

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