Você está na página 1de 16

A BRUXINHA_QUE ERA BOA

»<ora:MARIA CLARA MACHADD


/\da;›tacao:RKARDO CHAVES PRADO
Ilustm«ees:SANDRA ABDALLA
3
Narrador — A nossa histéria, ou melhor, a histéria
da bruxinha Angela, como toda histéria de bruxa
que se preze, aconteceu Iâ no fundo da floresta,
na Escola de Aprendizado de Bruxarias. A professora
Bruxa-chefe estava entusiasmada com a aula.
Bruxa-chefe — Muito bem, min has alunas! Quer dizer... quase todas!
Bruxinha Angela, vocé é a dnica que me desaponta:
sey riso nâo é de bruxa! Todas treinando, de oovo!
Vozes — Ah, ah, ah... Ih, ih, ih...
Bruxa-chafe — Muito bem, Caolha! Isso mesmo, Fredegunda! Quanto
a vocé, Angela, aprenda a gargalhar como as suas irmâs,
senâo serâ mandada para a Torre de Piche!
Narrador — A bruxinha Angela nâo gostou nem de ouvir
o nome da torre onde ficavam as bruxas boas.
° Angela — Eu nâo quero ir pra Torre de Piche.
Eu preciso ser a pior bruxa do mundo!

Tengo, tengo, tengo, b, maninha,


5 de carrapixol
Vou botar a Anpela na Torre de Pichel

Bruxa-chafe — Atengâo, meninas! Amanhâ serl o grande dia


do exame! Vocés jâ sabem: aouela que passar
em primeiro lugar vai ganhar a vassoura a jato.
Velha medonha, de faca na mâo,
voando sentada no vassourâol
Olha a bruxa, olha a bruxa, iâ, iâ, ié...
A ve/ha quer pegar crianya pra fazer sa6âo...

Narrador — E chegou o dia do exame! 0 prdprio Bruxo Belzebu III,


chefe de bruxaria da floresta, cuidaria
de escolher a terrfvel ganhadora da vassoura a jato.
Bruxa-chefe — Bruxinhas, siléncio! 0 Bruxo estâ chegando!
Bruxo — Com licenga, Bruxa-chefe?
Bruxa-chefe — Entre, senhor Bruxo Belzebu III, dnico senhor desta floresta, rei de todas as feitigarias, imperador
das maldades, hâ, hâ, hâ...
Bruxo — Chega, chega, Bruxa-chefe!
Meninas, vocés sabem que a floresta anda cheia
de fadas, de risos, de criangas,
de musiquinhas... E preciso acabar com tudo isso. Estâo faltando feiticeiras, maldades,
génios do mal... A floresta tern que ser nossa novamente! E eu conto com vocés!

Se a floresta, se a floresta fosse minha...


Eu mandava, eu mandava povoar de feitigos, de feitiqos e maldades,
para a meu, para o meu Bruxo passar!
Bruxo — Agora, que cantamos a nossa mésica m*Bica,
vamos comegar o exame. Fredegunda, quem
foi o primeiro bruxo a atravessar a floresta
voando numa vassoura7
Fredegunda — Koi o senhor, Bruxo Belzebu III!
Bmxo — Muito bemI E vocé, Caolha, quem foi o primeiro brux
a comer asa de fada crua com suco de coqueiro verde7
Caolha — Foi a senhor de toda a floresta, imperador
das maldades, o rei de todas as feitigarias, Bruxo
Belzebu III!
Bruxo — Que maravilha! Com bruxinhas como vocé a maldade
estâ salva no mundo. Vamos â outra...
Vocé, Angela... Quem descobriu o Brasil?
Angela — Ora, quem descobriu o Brasil foi Pedro Alvares Cabral!
Bruxo — Mas o que é isso? Entâo vocé nâo sabe que antes ”
F:':” desse portugués desembarcar aqui, eu, Belzebu III,
jâ morava nestas florestas?
Angela — Ah, seu Bruxo, eu pensei...
Bruxo — Vocé nâo pensou nada! E sabe qual é o prémio
para quem nâo passar nos exames?
Angela — Sei, sim... Ficar presa na Torre de Piche s nunca ,.‘”
voar na vassoura a jato...
Bruxo — Muito bem! Mas eu vou lhe dar mais uma chanoe:
se vocé nâo fizer nenhuma bruxaria até a noite,
serâ trancada na Torre de Piche!
Alias, todas vocés, bruxinhas, farâo seus
testes de maldade hojel
Tengo, tengo, (engo, â, maninhd,
é de carrapixo.
Vou 6otar a Angela na Torre de Piche!

Narrador — Fredegunda e Caolha estavam muito felizes


com aquela oportunidade. Angela, porém, corria atrâs
das irmâs, que estavam pondo em prâtica as auras
de bruxaria, enfeitigando um garoto
chamado Pedrinho, que estava passeando na floresta.
Bruxas — Uni, duni, té... Salamé, mingu
Um feiti§o, feiticé... Uni, duni, It
Pronto! Enfeitigamos o menino com suco de dormideira!
Agora vamos queimar a casa dele!
Narrador — Fredegunda e Caolha sairam voando para fazer
suas maldades. E Angela ficou ali,
quietinha, pensando na terrivel Torre de Piche!
Até que Pedrinho acordou, assustado!
Pedrinho — Ué, cadé o meu casaco e o meu chapéu?
Angela — A Fredegunda levou embora...
Pedrinho — Quem é Fred ' "" em é vocé?
Angela — Eu sou a bruxinha Angela. A Fredegunda é outra
bruxinha, minha irmâ. Tern também a Caolha,
a mais mazinha da classe. Acho que ela vai ganhar
a vassoura a jato e passear ai por cima
das ârvores...
Pedrinho — Ora, sua mentirosa, quem roubou foi vocé
e fica af inventando essas histérias complicadas.
Mas vocé pensa que eu tenho medo, é? Vocé vai ver sd!
Narrador — Mas Angela comegou a chorar, e deixou
Pedrinho muito confuso...
Pedrinho — Que esquisito! Nunca vi uma bruxa chorar!
Quem sabe vocé é uma fada disfargada?
Angela — Mas fada nâo gosta de andar de vassoura a jato
como eu gosto! Xiiiiiiiiii!
Pedrinho — 0 que foi? 0 que foi?
Angela — A Caolha e a Fredegunda safram dizendo que iam
queimar sua casa!
Pedrinho — Entâo eu preciso correr!
Angela — Tome a minha vassoura. Ela nâo corre muito,
mas vocé chega mais râpido do que a pé.

Voando baixo, me apavorei,


passou raspando, eu até gritei...
Olha a bruxa, olha a bruxa, ié, i5, ié...
A velha quer pegar crianga pra fazer saj:iâo!
Narrador— Mas, enquanto isso, chega o Bruxo, bufando de raiva!
Bruxo — Bruxinha Angela, eu vi tudo!
Angela — Viu, é? Viu o qué?
Bruxo — Onde jâ se viu uma bruxa chorar? E ainda por cima
emprestar a sua vassoura, que é so das bruxas?
Narrador — E, no meio daquele discurso todo, Caolha
e Fredegunda chegaram, rindo e falando sé de maldades!
Bruxo — Bruxinhas mas do meu fedorento reino, responda
Qual é o prémio para aquelas que
emprestam sua vassoura e nâo sabem fazer maldades?
Todas — A Torre de Piche! A Torre de Piche!

Tengo, tengo, tengo, â, maninha,


é de carrapixo!
Vou botar a Ang

Bruxo — E agora, o resultado final do exame:


Caolha, vocé, que é a pior bruxa da classe,
vai receber a vassoura a jato.
Vocé, Angela, ganhou o seu prémio merecido:
a Torre de Piche!
Angela — Oh, nâo!
Bruxo — Fredegunda, minha bruxa de confianga,
irâ vigiar a Torre para que a Angela nâo fuja.
Fredegunda — Sim, senhor Bruxo!
Bruxo — E, antes de eu me retirar, sé mais um aviso:
tomem muito cuidado. Nâo podemos ouvir
a nossa mdsica mâgica tocada na flauta! E uma arma
poderosa contra nés. Se ela for tocada,
estaremos perdidos. Adeus, bruxinhas!
Nanador — 0 que a bruxinha Angela mais temia acabou
acontecendo. Lâ estava ela, presa na Torre,
matutando um jeito de afastar a bruxinha
Fredegunda da vigilância.
Angela — Fredegunda, por favor! Eu estou com muita sede.
Vâ buscar um pouco de âgua...
Fredegunda — Nâo posso. Sâo ordens do bruxo.
Angela — Mas, Fredegunda, vocé jé pensou se eu acabar
morrendo de tanta sede? 0 Bruxo nâo vai gostar
nem um pouco, nâo é?
Fredegunda — E mesmo, vocé tern razâo. Eu vou buscar âgua,
mas se vocé tentar escapar, o castigo serâ dobrado!
Narrador — Enquanto Fredegunda se afastava, Angela
viu Pedrinho que se aproximava, equilibrando-se
na vassoura.
Pedrinho — Bruxinha Angela, quem prendeu vocé?
Angela — Foi o Bruxo Belzebu III.
10
Pedrinho — Que penal Eu vim o mais râpido que pude, sabe7
Eu consegui me livrar da Caolha...
Ela nâo conseguiu incendiar a minha casa!
Angela — Pois é, mas mesmo assim eta ganhou a vaasoura
a jato. E o meu pr6mio foi ficar aqui
na Torre de Piche, o resto da minha vida!
Pedrinho — Nâo... Eu vou tirar vocé daf!
Angela — Como? A chave ficou com a Caolha. E vocé precise tomar cuidado, porque a Fredegunda jâ-jâ
estâ de volta com a âgua que eu pedi.
Pedrinho — Mas dsve haver algum jeito...
Angela — Ah, eu ouvi o Bruxo dizer que se a nossa mésica mégica for tocada na flauta, ela acaba com
toda a bruxaria. Mas por aqui quake ninguém sabe
tocar flauta...
Pedrinho — Entâo, vou pe•B•ntar pro meu pai. Ele entende muito desses assuntos de bruxaria
e sabe tocar flauta!
Narrador — Mas, quando Pedrinho ia saindo, chegou a bruxinha
Caolha e o enfei*isou.
. . . .
Caolha — Un i, dun i, t e... Salame , ’”’” .'‹•’:

.
e ...
Um feitigo, feiticé....Uni
Ah, ah, ah... Vocés pensavam que iam me enganar, nâo é?
Mas... Cadé a Fredegunda?
Narrador — Fredegunda vinha chegando, ofegante!
Vai pilotando seu vassourâo,
se nâo desvio, vou pro caldeirâo!
Olha a 6ruxa, olha a bruxa, ié, ié, ié...
A velha quer pegar crianga pra fazer sabâo!
Caolha — Par onde vocé andou, hem?
Fredegunda — Ora, Caolha, nâo pense que sé porque voce ganhou
a vassoura a jato pode gritar comigo assim!
Caolha — Grito e grito mesmo! Porque eu sou a pior de todas
as bruxas!
Fredagunda — Pior coisa nenhuma! Vocé nem conseguiu botar fogo
na casa do Pedrinho! Vocé gosta mesmo é de contar
farol, isso sim!
Caolha — E vocé, que nem sabe tomar conta de uma bruxinha
â toa? Fica por ai. passeando...
Fredegunda — Sua mentirosa! Vou acabar com vocé!
Narrador — E, enquanto as bruxas brigavam, o feitigo passou.
E Pedrinho, mais que depressa, fugiu
com a vassoura a jato da Caolha.
Caolha — Ai, o Bruxo me mata se souber que o menino
levou a vassoura a jato!

Tengo, tengo, tengo, â, maninha,


é de carrapixo.
Vou tirar a Angela da Torre de Piche.
12
Narrador Daf a pouco Pedrinho voltou voando, com a
flauta de seu pai, e come ou a tocar a musica
mâgica.
Vozes — Oh! Nâo, flauta nâo! Nâo posso ouvir flauta!
Ai, estou ficando dura! Socorro!
Pedrinho — Ah, ah, ah! Estâo todas duras que nem
pedra.
Bern que a meu pai disse!
Angela — Depressa, Pedrinho! Tira a chave da mâo da Caolha!
Pedrinho — Pronto, bruxinha, vocé estâ livre!
Xiii, lâ vém o Bruxo e a Bruxa-chefe!
Acho melhor a gente se esconder ali atrâs
daquela ârvore para pepâ-los distrafdos!
E/a tinha a boca escancarada!
E na sua boca tinha um dente sâ!
Cinco metros de altura,
no pescogo tinha um nâ!
Avise a policia, avise /\4anJ,
avise a garotada para dar no pé!
Olha a bruxa, o/ha a bruxa, ié, ié,
ie...
A velha quer pegar crianga pra fazer sabâo...
Bruxo — Oh, mas que é que esté acontecendo aqui?
Bruxa-chefe — Estâo todas feito estâtuas!
Bruxo — Vamos tirar esse encanto...
Mas, durante a brincadeira, No outro dia, quando falei Desenhou outra casa
a meia da mâo esquerda sobre o meu teatro, e colocou o papel no préprio
saiu. Daf eu resolvi fazer todo mundo quis fazer também. rosto, prendendo
um boneco, enchendo Fernando inventou a casa na cabega com um pedago de
a ponta da meia com papel elâstico, como se fosse
das bruxas colando um
amassado. Colei olhos, nariz uma mascara.
desenho de casa na parte
e boca de papel em cima Dai come aram a aparecer
inferior
e coloquei na mâo outra vez. de uma cadeira. casas, castelos e até
0 boneco ficou parecendo Mas como ele tinha feito florestas encantadas, onde
uma crianga que as vezes duas criangas com as mâos, moravam bruxas e criangas
se assustava e as vezes ate teve que inventar que apareciam e desapareciam..
brigava com as bruxas! uma casa para elas também.
.„,..„,...„.....,..,.,. „.....,..., „.„.. ...,... .....„.,.., ,.„. .., „„,..
‘’ Para terminar nosso teatro,
Pusemos um radio DaI resolvemos repetir
todo mundo teve que
na janela para poder dangar a brincadeira. Toda vez que
pegar uma vassoura e sa ir
no quintal, sem medo... a minha mâe parava a musica,
pro quintal para varrer
o medo... Até a minha Quando a musica comegou, todo a gente tin ha que trocar
mâe ajudou ! mundo saiu correndo, de par. Quem sobrava
Luis comegou a procurar procurando o seu par. Como dangava com a vassoura!
o medo dele, mas havia um numero impar de E quem mais dangou com
pessoas, uma teve que ficar a vassoura foi Fernando
os papéis estavam misturados
sem par e dangar com que se atrapal hava e acabava
e o medo tinha sumido!
uma vassoura! sempre ficando sem par!
No fim resolvemos fazer uma
brincadeira divertidissima!

Você também pode gostar