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BAILEY
O REAPARECIMENTO
DO CRISTO
editado para
LUCIS PUBLlSHING COMPANY
New York
2
Copyright © 1948 por Alice A. Bailey
Título do original em inglês:
"The Reappearance of the Christ"
Primeira edição 1948
Segunda edição 1956
Terceira edição 1960
Quarta edição 1962
Primeira edição em português 1974
NOTA·CHAVE
BHAGAVAD-GITA
Livro IV, versículos 7 e 8.
CONTEÚDO
Capítulo I - A Doutrina Daquele que Vem 04
Capítulo II - Oportunidade Excepcional do Cristo 10
Capítulo III - O Reaparecimento do Cristo 21
Capítulo IV - O Trabalho do Cristo, Hoje e no Futuro 35
Capítulo V - Os Ensinamentos do Cristo 56
Capítulo VI - A Nova Religião Mundial 75
Capítulo VII - Preparação para o Reaparecimento do Cristo 88
Conclusão 103
Mântram de Unificação 105
Invocação ou Prece 106
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CAPÍTULO I
A DOUTRINA DAQUELE QUE VEM
Ensinamento Ocidental
Em todas as épocas, durante muitos ciclos mundiais, na maioria dos países, e hoje
em todos, houve grandes momentos de tensão, que se caracterizaram por um
sentimento de plena e esperançosa expectativa. Espera-se Alguém e Sua vinda é
pressentida. No passado, foram sempre os instrutores religiosos da época, os que
fomentaram e proclamaram esta expectativa, e o fizeram nos momentos de caos e
dificuldades, ao se aproximar o fim de uma civilização ou cultura, e quando os
recursos das antigas religiões pareciam ser inadequados para solucionar as
dificuldades ou resolver os problemas dos homens. A vinda do Avatar, o advento
d’Aquele que Vem ou, em termos atuais, o reaparecimento do Cristo, constituem a
nota-chave da predominante expectativa. Quando os tempos estão maduros; quando
a invocação das massas é suficientemente intensa e a fé daqueles que sabem é assaz
veemente, então Ele sempre veio, e os tempos atuais não constituirão, por certo, uma
exceção a esta antiga regra ou Lei universal. Durante décadas, o reaparecimento do
Cristo, o Avatar, tem sido previsto pelos fiéis de ambos os hemisférios, não somente
pelos cristãos, como também por aqueles que esperam por Maitreya e pelo
Boddhisattva, assim como pelo Iman Mahdi.
Quando os homens sentem que se esgotaram todos os seus recursos; que
chegaram ao termo de todas as suas possibilidades inatas; e que não podem resolver
nem manejar os problemas nem controlar as condições que enfrentam; então
costumam buscar um divino Intermediário ou Mediador que defenda sua causa
perante Deus e lhes traga a Salvação. Buscam, assim, um Salvador. Esta doutrina de
Mediadores, Messias, Cristos e Avatares, avulta em toda parte como um dourado fio
que atravessa todas as crenças e Escrituras mundiais, relacionando-as com alguma
fonte de emanação, considerando-se, inclusive, a alma humana como um
intermediário entre o homem e Deus. Milhões de seres humanos creem que Cristo
atuará como o divino Mediador entre a humanidade e a divindade.
Todo o sistema de revelação espiritual está baseado (como sempre o foi) nesta
doutrina de interdependência, de vinculação planificada e conscientemente ordenada,
bem assim de transmissão de energia, de um aspecto a outro da manifestação divina -
Desde o Deus que se acha no "Lugar secreto do Altíssimo", até o mais humilde ser
humano, que vive, luta e padece na terra. Em toda parte existe esta transmissão de
energia. "Eu vim para que eles possam ter vida", disse o Cristo, e as Escrituras de todo
o mundo falam, abundantemente, da intervenção de algum Ser, originário de uma
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fonte mais elevada que a estritamente humana. Sempre se encontra o mecanismo
apropriado, através do qual a divindade pode chegar a comunicar-se com a
humanidade, e a doutrina dos Avatares, ou Seres divinos que vêm, tem muito que ver
com esta comunicação e com os Instrumentos de energia divina.
Avatar é aquele Que possui a singular capacidade (além de uma tarefa auto
determinada e um destino predestinado), de transmitir energia ou poder divinos. Isto
constitui, logicamente, um profundo mistério que foi demonstrado, em forma
peculiar, pelo Cristo, e está relacionado com a energia cósmica. Ele, pela primeira vez
na história planetária, até onde temos conhecimento, transmitiu a energia divina do
amor, diretamente ao nosso planeta e, em um sentido muito definido, à humanidade.
Esses Avatares ou Mensageiros divinos sempre estão também vinculados às ideias
emitidas por alguma Ordem subjetiva espiritual, ou Hierarquia de Vidas espirituais,
que se ocupam do crescente bem-estar da humanidade. Tudo o que realmente
sabemos é que, no transcurso das idades, grandes e divinos Representantes de Deus
personificam o propósito divino e afetam, de tal maneira, o mundo inteiro, que Seus
nomes e influência são conhecidos e sentidos milhares de anos depois que deixaram
de caminhar entre os homens. Repetidas vezes têm vindo e mudado o mundo,
deixando alguma religião mundial; também sabemos que a profecia e a fé
prometeram sempre à humanidade Seu regresso, em momentos de necessidade. Estas
informações se referem a fatos historicamente comprovados. Fora disto, conhecemos
muito poucos detalhes.
A palavra sânscrita "Avatar" significa, literalmente, "descendo de muito longe".
Ava (como prefixo de verbos e substantivos verbais) expressa a ideia de "longe,
longínquo, distância" Avataram (comparativo) significa mais distante. A raiz AV parece
transmitir a ideia de proteção vinda do alto, e hoje se usa em palavras compostas, que
se referem à proteção de reis e soberanos. Com relação aos deuses, significa aceitação
favorável, quando se oferece um sacrifício. Pode-se dizer que a raiz da palavra significa:
"Descer, com a aprovação da fonte superior da qual provém, para benefício do lugar ao
qual chega". (Dicionário Sânscrito de Monier Williams).
Entretanto, todos os Avatares ou Salvadores mundiais expressam dois incentivos
básicos: a necessidade de Deus de fazer contato com a humanidade e relacionar-se
com os homens, e a necessidade que tem a humanidade de entrar em contato com a
divindade e ser ajudada e compreendida por ela. Sujeitos a estes incentivos, todos os
verdadeiros Avatares são, portanto, intermediários divinos. Podem atuar desta
maneira, porque já se emanciparam, inteiramente, de toda limitação e sentimento de
egoísmo e separatividade, de vez que já não são - conforme os padrões humanos
comuns - o centro dramático de Suas vidas, como o somos, em maioria. Quando
atingem essa etapa de descentralização espiritual, podem converter-se em
acontecimentos na vida de nosso planeta; todos os olhos podem dirigir suas vistas para
Eles e todos os homens podem ser por Eles influenciados. Por isso, um Avatar ou um
Cristo aparece por duas razões: uma, a Causa incógnita e inescrutável que O impele a
fazê-lo, e a outra, a demanda ou invocação da própria humanidade. Um Avatar é, por
conseguinte, um acontecimento espiritual, que ocorre para produzir grandes mudanças
e restaurações, a fim de inaugurar uma nova civilização ou restabelecer "antigas
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demarcações" e aproximar o homem de Deus. Têm sido Eles descritos como ''homens
extraordinários, que aparecem de vez em quando, para mudar a face do mundo e
inaugurar uma nova era, nos destinos da humanidade". Vêm em momentos de crise;
frequentemente criam crises, a fim de pôr termo ao antigo e indesejável, preparando o
caminho no sentido de que haja formas novas e mais apropriadas para a evolucionante
vida de Deus Imanente na Natureza. Aparecem, unicamente, quando o mal predomina;
ainda que seja somente por esta razão, podemos, na atualidade, esperar um Avatar. O
cenário adequado para o reaparecimento do Cristo está já preparado.
Existem Avatares de muitas graduações e classes; alguns são de grande
importância planetária, porque expressam em Si Mesmos ciclos completos de futuros
acontecimentos e emitem a tônica e o ensinamento que introduzirão uma nova era e
uma nova civilização; personificam grandes verdades que as massas humanas devem
tratar de conhecer, constituindo-se, destarte, no objetivo das mais proeminentes
mentalidades da época, apesar de incompreendidas. Certos Avatares expressam,
também, em Si Mesmos, a totalidade da realização humana e da perfeição racial,
chegando, assim, a ser os "homens ideais" de sua época. Outros, ainda maiores, têm
permissão para ser custódios de alguma qualidade ou princípio divino que requerem
uma nova apresentação e expressão na Terra - e podem sê-lo porque lograram a
perfeição ao alcançar a mais alta iniciação possível. Têm o dom de ser essas qualidades
espirituais personificadas e, porque expressam, por inteiro, tal qualidade e princípio
específicos, podem atuar como canais para transmiti-los, desde o centro de toda a
Vida espiritual. Esta é a base da doutrina dos Avatares ou Mensageiros divinos.
Assim sendo, o Cristo foi duas vezes Avatar, não somente porque deu a chave da
nova era, há mais de dois mil anos, como também porque, em forma misteriosa e
incompreensível, personificou em Si Mesmo o divino Princípio do Amor, sendo o
primeiro que revelou aos homens a verdadeira natureza de Deus. A demanda
invocativa da humanidade (o segundo dos incentivos que produzem uma Aparição
divina), exerce um poderoso efeito, pois as almas dos homens, especialmente quando
atuam em uníssono, possuem algo que é afim com a natureza divina do Avatar. Nós
todos somos Deuses e filhos de um só Pai, como disse o último Avatar que veio - o
Cristo. É este centro divino em cada coração humano que, ao entrar em atividade,
pode evocar resposta desse elevado Lugar, de onde Aquele que vem espera Seu
momento de aparecer. Unicamente a demanda unida da humanidade, ou sua
"intenção maciça", pode, como se disse, precipitar a descida de um Avatar.
Em suma, a doutrina dos Avatares e a doutrina da continuidade da revelação
seguem paralelas. Em todas as épocas e em cada grande crise humana, precisamente
nas horas de necessidade, seja na criação de uma nova raça ou no despertar de uma
humanidade preparada para receber uma nova e mais ampla visão, o Coração de Deus
- impulsionado pela Lei de Compaixão - envia um Instrutor, um Salvador do Mundo,
um Iluminador, um Avatar, um Intermediário Transmissor, um Cristo. Traz a
mensagem que curará, que indicará o próximo passo que a raça humana deverá dar e
que iluminará um obscuro problema mundial, bem assim ministrará ao homem o
conhecimento de um aspecto da divindade até agora não compreendido. A doutrina
dos Avatares, Mensageiros divinos, divinas Aparições e Salvadores, está fundada sobre
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o fato da continuidade da revelação e da sequência desta manifestação progressiva da
Natureza divina. A todos Eles a história dá o seu testemunho inequívoco. A expectativa
mundial em torno do reaparecimento do Cristo se baseia na realidade desta
continuidade e desta sequência de Mensageiros e Avatares, assim como na horrenda
e espantosa necessidade da humanidade, nesta época. O reconhecimento inato destas
realidades produziu o clamor invocador, constantemente elevado pela humanidade,
em toda parte, em busca de alguma intervenção ou alívio divinos; o reconhecimento
destes fatos também inspirou a determinação procedente do "centro de onde a
vontade de Deus é conhecida", para que o Avatar venha novamente; o
reconhecimento destas solicitações induz o Cristo a dar a conhecer a todos os Seus
discípulos do mundo, que Ele reaparecerá quando tenham realizado o trabalho
preparatório necessário.
Os Avatares mais comumente conhecidos são: o Buda, no Oriente, e o Cristo, no
Ocidente. Suas mensagens nos são familiares e os frutos de Suas vidas e palavras
condicionaram o pensamento e a civilização, em ambos os hemisférios. Devido a que
são Avatares humanos e divinos, representam aquilo que a humanidade pode
compreender facilmente; porque são de natureza igual à nossa, "carne de nossa
carne, espírito de nosso espírito", conhecemo-Los e confiamos n’Eles, e Eles significam
para nós alguma coisa mais que outras Aparições divinas. Milhões de seres também
Os conhecem, confiam n’Eles e Os amam. O núcleo de energia espiritual que cada um
d’Eles estabeleceu, está mais além do nosso entendimento; estabelecer um núcleo de
energia constante, espiritualmente positivo, é a incessante tarefa de um Avatar; Ele
enfoca ou introduz uma verdade dinâmica, um potente pensamento-forma ou um
vórtice de energia magnética, no mundo cotidiano. Este ponto focal atua de maneira
crescente como transmissor de energia espiritual; permite à humanidade expressar
alguma ideia divina que, com o tempo, produz uma civilização, com sua consequente
cultura, religião, política, governo e métodos educativos. Assim se faz a história. Afinal
de contas, a história é o registro da reação cíclica da humanidade a alguma energia
divina, que flui através de algum dirigente inspirado ou de um Avatar.
Na atualidade, um Avatar é, em geral, um Representante do segundo aspecto
divino, o de Amor-Sabedoria, o Amor de Deus. Manifestar-se-á como o Salvador, o
Construtor, o Preservador; a humanidade não está ainda suficientemente
desenvolvida, nem adequadamente orientada para a vida do Espírito, de modo a
resistir, facilmente, ao impacto de um Avatar que expresse a dinâmica vontade de
Deus. Para nós (e esta é nossa limitação), por enquanto, um Avatar é Aquele que
preserva, desenvolve, constrói, protege, ampara e socorre os impulsos espirituais,
pelos quais os homens vivem; a necessidade do homem e a solicitação do homem, de
preservação e ajuda, são aquilo que O traz à manifestação. A humanidade necessita
de amor, compreensão e de corretas relações humanas, como expressões de uma
divindade realizada. Foi esta necessidade que trouxe o Cristo antes, como Avatar do
Amor. O Cristo, Aquele grande Mensageiro humano-divino, devido à Sua magna
realização - no sentido da compreensão - transmitiu à humanidade um aspecto e uma
potencialidade da natureza de Deus Mesmo, o princípio Amor·, da Deidade. Luz,
aspiração e reconhecimento de Deus Transcendente, haviam sido a expressão
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vacilante da atitude humana para com Deus, antes do advento do Buda, o Avatar da
Iluminação. Logo veio o Buda e demonstrou em Sua própria vida, a realidade de Deus
Imanente e Deus Transcendente, de Deus no universo e de Deus na humanidade. A
individualidade da Deidade e do Eu, no coração do homem individual, chegou à ser
uma realidade na consciência humana. Foi uma verdade relativamente nova para o
homem.
Todavia, até que Cristo viesse e vivesse uma vida de amor e de serviço, e desse
aos homens o novo mandamento, para se amarem uns aos outros, não se havia
ressaltado Deus em Seu aspecto Amor, em nenhuma das Escrituras mundiais. Depois
que Ele veio como o Avatar de Amor, então chegou a ser conhecido como Amor
Supremo, Amor como meta e objetivo da criação, Amor como princípio fundamental
das relações, e Amor atuando através de toda manifestação que desenvolva um Plano
motivado pelo Amor. Cristo revelou e acentuou esta divina qualidade, modificando,
assim, a vida, as metas e os valores humanos.
Ele ainda não veio novamente porque Seus seguidores não realizaram o trabalho
necessário, em todos os países. Sua vinda depende, em grande parte, como veremos
mais adiante, do estabelecimento de corretas relações humanas. Isto a Igreja impediu,
no transcurso dos séculos, e não ajudou, devido ao seu empenho fanático de fazer
"cristãos" a todos os povos, ao invés de seguidores de Cristo. Acentuou, ademais, a
doutrina teológica e não o amor e a compreensão amorosa, como Cristo o
exemplificou. A Igreja predicou a doutrina do iracundo Saulo de Tarso, e não a do
bondoso carpinteiro da Galiléia. Por isso, Ele permanece esperando. Chegou, porém, a
Sua hora, devido à necessidade de todos os povos e à demanda invocadora das
massas, bem assim ao conselho de Seus discípulos, que professam todos os credos e
religiões do mundo.
Não nos é dado conhecer ainda a data e o momento de Seu reaparecimento. Sua
vinda depende do apelo (tão amiúde silencioso), de todos os que aguardam com
esperançosa intenção; depende, também, de que se estabeleçam melhores relações
humanas e de determinado trabalho, que está sendo realizado, na atualidade, pelos
Membros avançados do Reino de Deus, a Igreja invisível, a Hierarquia espiritual de
nosso planeta; depende, ademais, da constância dos discípulos de Cristo e Seus
colaboradores iniciados, que trabalham nos numerosos grupos religiosos, políticos e
econômicos. A isto deve agregar-se o que aos cristãos apraz chamar "a inescrutável
Vontade de Deus", esse propósito não conhecido do Senhor do Mundo, o Ancião dos
Dias (tal como é chamado no Velho Testamento), o qual "conhece Seu próprio
pensamento, irradia a qualidade mais elevada do amor, e enfoca Sua vontade em Seu
elevado lugar, no centro de onde a vontade de Deus é conhecida".
Quando Cristo, o Avatar de Amor, reaparecer, então "Os filhos dos homens, que são
agora os Filhos de Deus apartarão Seus rostos da Luz resplandecente e irradiarão essa
Luz sobre os filhos dos homens, que ainda não sabem que são os Filhos de Deus". Então
aparecerá Aquele que vem, Seus passos sendo acelerados através do vale das
sombras, pelo Todo-poderoso Que se acha sobre o cume da montanha, exalando
amor eterno, luz suprema e pacífica e silenciosa vontade.
"Então, responderão os filhos dos homens. Então, brilhará uma nova luz, no
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cansado e lúgubre vale da terra. Então, uma nova vida circulará por suas veias, e sua
visão abarcará todos os caminhos do que possa vir.
"Assim, virá, novamente, a paz à terra, porém, uma paz desconhecida até agora.
Então, a vontade para o bem florescerá como compreensão, e esta frutificará como
boa vontade nos homens."
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CAPÍTULO II
OPORTUNIDADE EXCEPCIONAL DO CRISTO
O Mundo de Hoje
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Seu extraordinário poder pode-se constatar no fato de que centenas de milhares
de pessoas já a estão usando diariamente e também várias vezes ao dia. Em 1947, já
havia sido traduzida em dezoito idiomas e dialetos; nas selvas da África a empregam
grupos de nativos e pode-se vê-la nas mesas de escritórios de destacadas
personalidades, em nossas principais cidades; difundida pelo rádio, na Europa e
América e não existe país ou ilha onde não seja usada. Tudo isto levou dezoito meses.
Se esta nova Invocação for amplamente divulgada, poderá ser para a nova
religião mundial o que o Pai Nosso foi para a cristandade e o Salmo 23 para o judeu
espiritual. Existem três maneiras de se fazer contato com esta grande Prece ou
Invocação:
1 - A do público em geral;
2 - A dos esoteristas, ou dos aspirantes e discípulos do mundo;
3 - A dos Membros da Hierarquia.
Primeiro, o público em geral a considerará como uma prece a Deus
Transcendente. Estes ainda não O reconhecem como Imanente em Sua criação; elevá-
la-ão em aras de esperança - esperança de luz, amor e de paz, a que todos anelam,
incessantemente. Também a considerarão como prece que ilumina os governantes e
dirigentes de todos os grupos que manipulam os assuntos mundiais; como rogativa
para que flua amor e compreensão entre os homens, para que possam viver em paz
entre si; como busca, para que se cumpra a vontade de Deus - a respeito da qual o
público nada sabe, considerando-a tão inescrutável e oniabarcante que se resigna a
esperar e crer, sem discutir; como oração para fortalecer o senso de responsabilidade
humana, a fim de que os males atuais - que tanto afligem e confundem a humanidade
- possam ser eliminados, tendo em vista refrear essa indefinida fonte do mal.
Finalmente, será considerada como uma oração para que se restabeleça uma
condição primordial, também indefinida, de beatífica felicidade, e desapareça da Terra
todo sofrimento e dor. Tudo isto é útil para a massa, sendo a única coisa que se pode
fazer, de imediato.
Segundo, os esoteristas, os aspirantes e aqueles que estiverem espiritualmente
orientados, alcançarão uma aproximação mais profunda e compreensiva, do seu
sentido. Reconhecerão o mundo das causas e Aqueles que, subjetivamente, se acham
por detrás dos assuntos mundiais - os Dirigentes espirituais de nossa vida. Eles estão
preparados para dar àqueles que possuem verdadeira visão e indicar não somente a
razão dos acontecimentos suscitados nos diversos setores da vida humana, senão
também revelar-lhes aquilo que permitirá à humanidade passar da obscuridade à luz.
Se se adotar esta atitude fundamental, será evidente a necessidade de difundir,
amplamente, os fatos subjacentes, iniciando-se uma era de divulgação espiritual,
arquitetada pelos discípulos e levadas a efeito pelos esoteristas. Esta era começou em
1875, quando se proclamou a realidade da existência dos Mestres de Sabedoria, a qual
permaneceu, apesar do escárnio, da negação e das errôneas interpretações dessa
realidade. Tem sido de grande utilidade e reconhecimento da natureza substancial do
que pôde ser corroborado, bem como a resposta intuitiva dos estudantes esotéricos e
de muitos intelectuais de todo o mundo.
Um novo tipo de místico está surgindo. Difere dos místicos do passado, porque se
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interessa, de forma prática, pelos acontecimentos mundiais, e não somente pelas
questões religiosas da igreja. Caracteriza-se pela falta de interesse dirigido para o seu
desenvolvimento pessoal, pela sua capacidade de ver o Deus Imanente em toda
crença, e não apenas em seu próprio e determinado credo religioso, bem assim pela
aptidão de viver sua vida na luz da divina Presença. Todos os místicos têm podido fazê-
lo em maior ou menor grau, porém o místico moderno difere dos do passado porque, é
capaz de indicar aos demais, com toda clareza, as técnicas a seguir, na Senda; combina
mente e coração, inteligência e sentimento, além de uma percepção intuitiva, de que
carecia até agora. Não somente a luz de sua própria alma, senão também a clara luz da
Hierarquia espiritual iluminam, agora, o caminho do místico moderno, em ritmo
crescente.
Terceiro, ambos os grupos - o público em geral e os aspirantes mundiais, em seus
diversos graus - têm, em seu seio, aqueles que se destacam do estofo comum, porque
possuem uma profunda visão e compreensão; ocupam a "terra de ninguém", entre a
massa e os esoteristas, de um lado, e entre estes e os Membros da Hierarquia, do
outro lado, os quais também empregam a Grande Invocação, pois não passa um dia
sequer sem que o Cristo Mesmo a recite.
Sua beleza e potência residem em sua singeleza e no fato de expressar certas
verdades essenciais, que todos os homens aceitam, inata e naturalmente: a verdade da
existência de uma Inteligência fundamental, a Quem, vagamente, denominamos Deus;
a verdade de que, por detrás de todas as aparências externas, o amor é o poder
motivado do universo; a verdade de que vem à Terra uma grande Individualidade,
chamada Cristo pelos cristãos, O qual encarnou esse amor, para que dele
adquiríssemos compreensão; a verdade segundo a qual o amor e a inteligência são
consequência da vontade de Deus; e, finalmente, a verdade evidente de que o Plano
Divino só pode desenvolver-se através da humanidade.
Este Plano exorta o gênero humano a expressar o Amor e insta com os homens
para que "deixem brilhar sua luz". Logo vem a solene e final rogativa para que este
Plano de Amor e de Luz, desenvolvendo-se através da humanidade, possa "murar a
porta onde mora o mal". A última linha contém a ideia de restauração, dando a tônica
para o futuro, e indicando que a ideia original de Deus, e Sua intenção inicial já não
serão frustradas pelo mal e pelo livre-arbítrio do homem - materialismo e egoísmo
puros; então, cumprir-se-á o propósito divino, graças às mudanças produzidas nos
objetivos e sentimentos da humanidade.
Este é o significado óbvio e simples, que se ajusta à aspiração espiritual de todos
os homens do mundo.
O emprego desta Invocação ou Prece, mais a crescente expectativa da vinda do
Cristo, oferecem, hoje, a máxima esperança para a humanidade. Se assim não fosse,
então a oração seria inútil, constituindo-se somente em uma alucinação, e as Escrituras
do mundo, com suas profecias comprovadas, são também inúteis e enganosas. As
épocas atestam o contrário. A Prece sempre receberá e tem recebido resposta;
egrégios Filhos de Deus sempre têm vindo em resposta à súplica da humanidade, e
sempre virão, e Aquele a quem todos os homens esperam está em caminho.
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CAPÍTULO III
O REAPARECIMENTO DO CRISTO
A Expectativa Mundial
Deus Transcendente, mais grandioso, mais vasto e mais incluente que o mundo
de Sua criação, tem sido universalmente reconhecido e, geralmente, enfatizado; todos
os credos podem afirmar com Shri Krishna (quando fala como Deus, o Criador) que,
"havendo interpenetrado o universo inteiro com um fragmento de Mim Mesmo, Eu
permaneço". Este Deus Transcendente tem dominado o pensamento religioso de
milhões de pessoas simples e espirituais, no decurso dos séculos, desde que a
humanidade iniciou seu caminho para a divindade.
Lentamente, vai despertando a incipiente consciência da humanidade para a
grande verdade paralela de Deus Imanente - divinamente "interpenetrando" todas as
formas, internamente condicionando todos os reinos da natureza, expressando a
divindade ingênita através dos seres humanos e, faz dois mil anos, tendo
personificado a natureza dessa divina Imanência, na pessoa do Cristo. Hoje, como
consequência desta Presença divina em manifestação, um novo conceito está
penetrando na mente dos homens de toda parte: o do "Cristo em nós, a esperança de
glória" (Col. 1,27). Existe uma crescente e progressiva crença de que Cristo está em
nós, como esteve no Mestre Jesus, crença que alterará os assuntos do mundo e a
atitude do gênero humano, em relação à vida.
A maravilhosa vida que viveu há dois mil anos, permanece ainda conosco e não
perdeu nada de sua louçania; é uma aspiração, esperança, estímulo e exemplo
eternos. O amor que Ele demonstrou, ainda influencia o mundo de pensamentos, se
bem que relativamente poucos tenham intentado demonstrar a mesma qualidade de
Seu amor - amor que leva, infalivelmente, ao serviço mundial, ao completo olvido de si
mesmo e a uma vida radiante e magnética. As palavras que Ele pronunciara foram
breves e simples, e todos os homens as podem compreender, porém seu significado
se perdeu nas tortuosas legitimações e discussões de S. Paulo e nas extensas disputas
dos comentaristas teológicos, desde que o Cristo viveu e nos deixou - ou o fez
aparentemente.
Não obstante, o Cristo está hoje mais próximo da humanidade que em qualquer
outro período da história humana; está mais próximo do que suspeita o anelante e
esperançoso discípulo, e pode estar ainda mais, se o que aqui está escrito for
compreendido e levado à atenção de todos os homens. Pois o Cristo pertence à
humanidade, ao mundo dos homens, e não apenas à igreja e às crenças religiosas de
todo o mundo.
Ao Seu redor - nesse Elevado Lugar da Terra onde tem sua morada - se acham
hoje reunidos Seus grandes discípulos, os Mestres de Sabedoria, e todos Aqueles
emancipados Filhos de Deus, que no transcurso das épocas têm passado da
obscuridade à Luz, do irreal ao Real e da morte à Imortalidade. Estão dispostos a
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cumprir Seu mandato e obedecer ao Mestre dos Mestres e ao Instrutor de anjos e de
homens. Os Expoentes e Representantes de todos os credos do mundo aguardam que
se lhes permita revelar àqueles que, sob Sua orientação, lutam no caos dos assuntos
mundiais e tratam de resolver a crise mundial - que não estão sós. Deus Transcendente
está trabalhando por meio do Cristo e da Hierarquia Espiritual para ajudar ao gênero
humano; Deus Imanente em todos os homens está a ponto de ser plenamente
reconhecido.
A grande Sucessão Apostólica de Conhecedores de Deus está hoje preparada para
iniciar uma atividade renovada - a sucessão daqueles que têm vivido na Terra, têm
aceito a realidade do Deus Transcendente, descoberto a realidade de Deus Imanente,
reproduzido em Suas próprias vidas as características divinas da vida crística (porque
têm vivido na Terra como Ele o fez e faz), e "penetraram por nós detrás do véu,
dando-nos um exemplo para que também nós sigamos Seus passos" e os d’Eles.
Oportunamente, também nós pertenceremos a essa grande sucessão.
O Buda Mesmo se acha também detrás do Cristo, no humilde reconhecimento da
tarefa divina que Ele está a ponto de consumar, devido ao iminente dessa realização
espiritual. Não somente são conhecedores de Seus planos Aqueles que atuam,
conscientemente, no Reino de Deus, senão que esses grandes seres espirituais, que
vivem e moram na "Casa do Pai" e no "centro onde a vontade de Deus é conhecida",
também estão mobilizados e organizados para ajudar em Seu trabalho. A linha
espiritual da sucessão, desde o trono do Ancião dos Dias até o mais humilde discípulo
(reunidos aos pés do Cristo), está empenhada, presentemente, na tarefa de ajudar à
humanidade.
É quase chegado o grande momento pelo qual tão pacientemente Ele tem
esperado. O fim "da era", a que se referiu quando falava a Seu pequeno grupo de
discípulos, já chegou ("Eis aí! Eu estou convosco até o fim da era"). Na atualidade,
permanece e espera, sabendo que chegou o momento em que "verá o trabalho de
Sua alma e será satisfeito". (Isaías 53, 11).
Em toda a sucessão espiritual de Filhos de Deus só se vê e sente expectativa e
preparação. "A Hierarquia espera". Fez tudo o que era possível quanto ao que se
refere à presente oportunidade. O Cristo aguarda em paciente silêncio, atento ao
esforço que materializará Seu trabalho na Terra e Lhe permitirá continuar a tarefa
que iniciou há dois mil anos, na Palestina. O Buda, também, aguarda, a fim de
desempenhar Sua parte, se a humanidade Lhe oferecer a oportunidade. Tudo
depende da correta ação das pessoas de boa vontade.
Da Casa do Pai - "o centro onde a vontade de Deus é conhecida" ou Shamballa
dos esoteristas - surgiu o fiat: a hora é chegada. Do Reino de Deus, onde o Cristo
reina, a resposta surgiu: "Pai, faça-se Tua vontade". No desditado, perplexo e
esforçado mundo dos homens se eleva, incessantemente, o clamor: "Que Cristo
retorne à Terra". Para os três grandes centros espirituais: a Casa do Pai, o Reino de
Deus e a Humanidade que está despertando, existe um só propósito, uma só ideia e
uma conjunta expectativa.
É essencial que exista hoje um maior conhecimento a respeito do "centro onde a
vontade de Deus é conhecida". O público deveria possuir certo conhecimento sobre
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este elevado centro espiritual, ao qual - segundo o Evangelho - o Cristo Mesmo
esteve sempre atento. Frequentemente, lemos no Novo Testamento que "o Pai Lhe
falou" ou que "Ele ouviu uma Voz" inaudível para outros, ou que se ouviram as
palavras: "Este é Meu Filho Amado". Repetidas vezes lemos que Lhe foi outorgado o
selo da aprovação (como é denominado espiritualmente). Só o Pai, o Logos
Planetário, "Aquele em quem vive. mos, nos movemos e temos nosso ser" (Atos 17,
28), o Senhor do Mundo, o Ancião dos Dias (Daniel 7, 9) pode pronunciar esta palavra
final de aprovação. Como bem sabemos, o Mestre Jesus passou por cinco crises ou
iniciações - O Nascimento em Belém, o Batismo, a Transfiguração, a Crucificação e a
Ressurreição - porém, por trás deste evidente e prático ensinamento, subsiste uma
corrente subterrânea ou pensamento sobre algo muito mais elevado e de maior
importância: a Voz de aprovação do Pai, reconhecendo o que o Cristo realizou.
Quando o Cristo completar, nos próximos dois mil anos, o trabalho iniciado,
igualmente há dois mil anos, com certeza essa Voz será ouvida novamente e Lhe será
outorgado o reconhecimento divino de Seu advento. Então o Cristo receberá aquela
magna Iniciação, sobre a qual nada sabemos, exceto que dois aspectos divinos se
unirão e fundirão n’Ele (amor-sabedoria em plena manifestação, motivados pela
vontade ou poder divinos). Então o Buda e o Cristo comparecerão diante do Pai, o
Senhor do Mundo; verão juntos a glória do Senhor e, eventualmente, prestarão um
serviço mais elevado, cuja natureza e qualidade nos são desconhecidos.
Não escrevo com espírito fanático ou adventista, nem falo como um teólogo
especulativo ou expoente de um aspecto do expectante pensamento religioso. Falo
porque muitos sabem que o momento é oportuno e que o clamor dos corações
simples e cheios de fé chegou às mais elevadas esferas espirituais e pôs em
movimento energias e forças que já não podem ser detidas. A demanda invocadora
da angustiada humanidade é hoje tão grande e tão sólida que - conjuntamente com a
sabedoria e o conhecimento da Hierarquia espiritual - deram impulso a certas
atividades na Morada do Pai. Estas redundarão na glória de Deus, na transformação
da divina vontade para o bem, na boa vontade humana e na resultante paz na Terra.
Está por se escrever um novo capítulo no grande livro da vida espiritual; uma
nova expansão de consciência é um acontecimento iminente; a humanidade pode
reconhecer, já, a preocupação pela divindade; a acentuada expectativa comprovará a
exatidão da afirmativa bíblica: "E todo olho O verá" (Rev. 1,7). A vivência religiosa, ou
história espiritual da humanidade, pode ser resumida em uma série de
reconhecimentos - o reconhecimento Daqueles Que, no transcurso das épocas, têm
constituído a Sucessão Apostólica, culminando com o aparecimento dos grandes
guias religiosos que têm vindo desde o ano de 700 a. C. e fundaram os grandes credos
modernos e - sobretudo - no próprio Cristo, que personificou a perfeição do Deus
Imanente, mais a conscientização de Deus Transcendente; o reconhecimento destes
conceitos espirituais superiores de amor, vida e relação, que sempre pairaram no
fundo do pensamento humano, que estão, agora, a ponto de ser expressos
corretamente; o reconhecimento da verdadeira fraternidade entre os homens,
baseada na divina Vida Una, que atua através da alma una e se expressa através
da humanidade una; portanto, o reconhecimento da relação que existe entre a vida
23
divina, em todo o mundo, e a própria humanidade. O desenvolvimento dessa atitude
espiritual conduzirá às corretas relações humanas e à eventual paz mundial.
Possivelmente, agora se produza outro reconhecimento - o do iminente retorno
do Cristo (se se pode aplicar esta frase a Quem nunca nos abandonou) e das novas
oportunidades espirituais que este acontecimento oferecerá.
A base para esse reconhecimento reside na profunda convicção, inata na
consciência humana, que algum Instrutor, Salvador, Revelador, Legislador ou
Representante divino deve aparecer, proveniente do mundo das realidades
espirituais, devido à necessidade e apelo humanos. No transcurso dos séculos, nos
momentos mais prementes da humanidade e em resposta à sua demanda, tem
aparecido, sob diferentes nomes, um divino Filho de Deus. Então veio o Cristo e,
aparentemente, nos abandonou, sem haver levado a termo Sua tarefa, e sem
consumar o que havia visualizado para a humanidade. Pelo espaço de dois mil anos,
parecera que todo Seu trabalho fora obstruído, frustrado e inútil, porque a
proliferação de igrejas, no transcurso dos séculos, não constituiu uma garantia do
triunfo espiritual que Ele anelava. Era necessário algo mais que as interpretações
teológicas e o crescimento numérico das religiões mundiais (incluindo o cristianismo
e o budismo) para comprovar que Sua missão no mundo havia sido levada a cabo
triunfalmente. Tudo parecia impossível de realizar e exigia três condições, pelas quais
poder-se-ia intentar pôr à prova Seu trabalho, condições que, atualmente, são fatos
comprovados. Primeiro, como já vimos, existe uma condição geral planetária, a qual,
desgradaçamente, se demonstrou ser tão catastrófica (devido ao egoísmo do
homem) que a humanidade se viu obrigada a reconhecer a causa e a origem do
desastre; segundo, um despertar espiritual originado nas raízes mais profundas da
consciência humana como resultado da Guerra Mundial (1914-1945); terceiro, o
crescente clamor invocativo (oração ou súplica) que se eleva até fontes espirituais
superiores, não importando com que nomes possam a ser designadas.
Na atualidade, imperam estas três condições e a humanidade faz frente a uma
nova oportunidade. O desastre que atingiu a humanidade é de proporções universais;
ninguém pôde escapar e todas estão, em uma ou outra forma, implicados nele - física,
econômica ou socialmente. O despertar espiritual dos homens (crentes ou não, porém em
maior escala os não crentes) é geral e pleno, podendo observar-se, em toda parte, um
retorno para Deus. Finalmente, estas duas causas produziram na humanidade - como nunca
ocorrera antes - um apelo invocativo mais claro, mais puro e mais altruísta - jamais
verificado em qualquer outra época da história humana - porque está baseado em
pensamentos mais nítidos e na angústia comum. A verdadeira religião está aflorando,
novamente, nos corações do homem; o reconhecimento de uma esperança e âmbito
divinos, possivelmente fará com que os povos voltem à igreja e pratiquem as religiões
mundiais, porém, com maior segurança, levá-los-á de volta para Deus.
Inegavelmente, religião é o nome que damos ao apelo da humanidade que conduz a
uma resposta evocadora do Espírito de Deus. Este Espírito atua em todos os corações
humanos e em todos os grupos. Ele trabalha também por intermédio da Hierarquia
Espiritual do planeta. Impele o Cristo, Guia da Hierarquia, a atuar, e a atividade que
desenvolve, permitir-lhe-á que volte com Seus discípulos.
24
A ideia do retorno do Cristo é muito familiar e o conceito de que o Filho de Deus
regressa em resposta às necessidades humanas, se inclui nos ensinamentos da maioria dos
credos mundiais. Desde que aparentemente nos abandonou, e se dirigiu para o nível em
que O colocaram os crentes, pequenos grupos destes chegaram a crer que, em
determinada ocasião, regressaria, porém suas profecias e esperanças se viram sempre
frustradas. Não retornou. Estas pessoas têm sido alvo de zombaria, por parte da multidão e
censuradas pelos inteligentes. Seus olhos jamais O viram nem tiveram um indício tangível
de Sua presença. Na atualidade, milhares de pessoas sabem que Ele virá, e que já se
iniciaram os planos para Seu reaparecimento, porém não se fixou data nem hora. Apenas
dois ou três conhecem o momento, "porém, no momento em que não pensardes, Ele virá"
(Mat. 24, 44).
Uma verdade que se faz difícil ao pensador ortodoxo aceitar é o fato de que Cristo
não pode voltar porque sempre tem estado na Terra, vigiando o destino espiritual da
humanidade; Ele nunca nos deixou, ao invés, fisicamente e bem protegido (posto que não
oculto), tem guiado os assuntos da Hierarquia Espiritual e de Seus discípulos e
colaboradores, os quais, conjuntamente, se têm comprometido com Ele a servir na Terra.
A única coisa que Ele pode fazer é reaparecer. Constitui uma verdade espiritual que,
aqueles que passaram da tumba para a plenitude da vida de ressurreição, podem ser
visíveis e ao mesmo tempo se tornar invisíveis para o crente. Ver e reconhecer são
duas coisas inteiramente distintas, e um dos grandes reconhecimentos, por parte da
humanidade, em um futuro próximo, é que Ele sempre esteve conosco, compartindo
os valores familiares, as características de nossa civilização e as inumeráveis dádivas
que tem concedido ao homem.
Os primeiros indícios de que se aproxima com Seus discípulos já podem ser
percebidos por aqueles que observam e interpretam, corretamente, os sinais dos
tempos, podendo notar nestes, a união espiritual daqueles que amam seus
semelhantes. Constitui em realidade a organização do exército externo do Senhor, que
só tem como arma o amor, a palavra reta e as corretas relações humanas. O
estabelecimento desta organização desconhecida tem continuado com extraordinária
velocidade, durante o após-guerra, porque a humanidade já está cansada de ódios e
controvérsias.
Os colaboradores de Cristo já se acham ativos no Novo Grupo de Servidores do
Mundo, constituindo o grupo de precursores mais poderoso que jamais houve,
precedendo a entrada de um grande Personagem mundial no campo da vida humana.
Seu trabalho e influência hoje se veem e sentem em toda parte, e nada pode destruir o
já realizado. Desde 1935, tratou-se de aproveitar o efeito espiritual e organizador
produzido pela Invocação, através de sua recitação e expressão, dirigindo a energia da
demanda invocadora da humanidade para esses canais que vão desde a Terra até o
Altíssimo lugar onde mora o Cristo. Dali, ela tem sido transmitida a esses níveis ainda
mais elevados, de onde a atenção do Senhor do Mundo, o Ancião dos Dias, o Pai de
todos nós, além das Energias criadoras e dos Seres Viventes que moram n’Ele, pode ser
dirigida à humanidade, a fim de dar os passos necessários que levarão a objetivar mais
rapidamente os propósitos de Deus.
Pela primeira vez na história da humanidade, o apelo dos povos da Terra é tão
25
poderoso, e se acha tão de acordo com a orientação divina, em tempo e espaço, que
inevitavelmente, se cumprirá. O esperado Representante espiritual há de vir; porém,
desta vez não virá só, senão acompanhado por Aqueles Cujas vidas e palavras evocarão
o reconhecimento de todos os setores do pensamento humano. As profecias
simbólicas, encontradas em todas as Escrituras mundiais, relacionadas com este
iminente acontecimento, demonstrarão sua veracidade, muito embora seja necessário
reinterpretar seu simbolismo; as circunstâncias e os acontecimentos não serão como
as Escrituras parecem indicar. Ele virá, por exemplo, nas "nuvens do céu" (Mat. 26,
64), como o dizem as Escrituras cristãs, porém, que tem isto de sobrenatural, quando
milhões de pessoas viajam pelo espaço a toda hora do dia e da noite? Menciono isto
como uma das profecias mais destacadas e conhecidas; contudo, tem muito pouco
significado para nossa civilização moderna. O importante é que Ele virá.
O Festival de Wesak vem-se celebrando durante séculos, no conhecido vale dos
Himalaias (creia-se ou não), com o fim de:
1) - Confirmar que Cristo existe fisicamente entre nós, desde Sua suposta
partida;
2) - Comprovar, no plano físico, a real similitude que existe quanto ao processo
de aproximação a Deus adotado pelo Oriente e pelo Ocidente. Tanto Cristo como
Buda estão presentes;
3) - Estabelecer um lugar de reunião para Aqueles que, anualmente - em forma
sintética e simbólica - se vinculam e representam a Casa do Pai, o Reino de Deus e a
Humanidade;
4) - Demonstrar a natureza do trabalho que o Cristo há de realizar, como o
grande Intermediário eleito, permanecendo como Representante da Hierarquia
Espiritual e Guia do Novo Grupo de Servidores do Mundo. Por Seu intermédio
proclamar-se-á o reconhecimento da existência do Reino de Deus aqui e agora.
Uma das mensagens principais para nós, que lemos estas palavras, talvez seja a
grande verdade e realidade da Presença física do Cristo, nesta época, na Terra, de Seu
grupo de discípulos e colaboradores, de Sua representativa atividade, em bem da
humanidade, e da estreita relação que existe entre eles. Esta relação é percebida em
certos grandes festivais espirituais e inclui não só o Reino de Deus, senão também o
Pai e a Morada do Pai. Temos o Festival da Páscoa, o Festival do Buda, cuja presença
física representa a solidariedade espiritual de nosso planeta, e o Festival de Junho,
denominado, peculiarmente, o Festival do Cristo, em que - como Guia do Novo Grupo
de Servidores do Mundo - recita a Grande Invocação em bem de todas as pessoas de
boa vontade, reunindo, ao mesmo tempo, as súplicas incipientes e inexpressadas
daqueles que buscam um novo e melhor modo de viver. Eles aspiram ao amor em sua
vida diária, corretas relações humanas e compreensão do Plano subjacente.
Estes são os acontecimentos físicos de importância, não as vagas esperanças e
promessas dos dogmas teológicos. É a Presença física em nosso planeta dos
conhecidos Personagens espirituais, como o Senhor do Mundo, o Ancião dos Dias; os
sete Espíritos ante o trono de Deus; o Buda, Guia espiritual do Oriente, e o Cristo, Guia
espiritual do Ocidente - todos os quais absorvem nossa atenção, nestes momentos
decisivos. A crença incerta sobre Sua existência; as vagas especulações acerca de Seu
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trabalho e do Seu interesse no bem-estar humano e o ainda não convencido, posto
que esperançoso e fervente anelo dos crentes (assim também dos não crentes), serão
de pronto substituídos por certo conhecimento, pela identificação visual, por alguns
indícios de ação executiva e pela reorganização (por homens de inusitado poder) da
vida política, religiosa, econômica e social da humanidade.
Isto não virá como consequência de alguma proclamação, ou de um maravilhoso
acontecimento planetário que fará os seres humanos exclamarem: "Louvado seja, Ele
está aqui. Eis aqui os sinais de Sua divindade!" porque só provocaria antagonismo e
zombaria, incredulidade ou credulidade fanática.
Virá, porque foi reconhecida Sua capacidade de liderança, através das mudanças
dinâmicas, porém lógicas, efetuadas nos assuntos mundiais, e à ação empreendida
pelas massas, desde o mais recôndito de suas consciências.
Faz muitos anos manifestei que o Cristo poderia vir de três maneiras distintas, ou
melhor, que a realidade de Sua presença também poderia comprovar-se em três fases
distintas.
Nessa oportunidade, assinalou-se que a primeira coisa que o Cristo faria seria
estimular a consciência espiritual do homem, evocar, em grande escala, os apelos
espirituais da humanidade e fomentar - numa escala mundial - a consciência crística
no coração humano. Isto já se tem feito com resultados bastante efetivos. As súplicas
clamorosas dos homens de boa vontade, dos colaboradores no campo da beneficência
e daqueles que se comprometeram a colaborar, internacionalmente, para aliviar os
sofrimentos do mundo e estabelecer corretas relações humanas, expressam,
inegavelmente, a natureza real deste processo. Aquela fase do trabalho preparatório
que assinala Seu advento, chegou já a uma etapa em que nada pode deter seu
progresso ou diminuir seu ímpeto. Apesar das aparências, este surgimento da
consciência crística triunfou, e o que possa parecer uma atividade contrária, não tem
importância ao longo do tempo, por ser de natureza transitória.
O passo seguinte da Hierarquia, indicado, seria plasmar nas mentes dos homens
iluminados de todo o mundo, as ideias espirituais que encerram novas verdades, a
"descida" (se assim posso denominá-lo) dos novos conceitos que regerão a vida
humana e a influência que exercerá o Cristo sobre os discípulos mundiais e sobre o
Novo Grupo de Servidores do Mundo. Este movimento planificado pela Hierarquia,
progride; homens e mulheres de toda parte e de todos os setores enunciam as novas
verdades que hão de guiar a vida humana, no futuro; fundam novas organizações,
movimentos e grupos - grandes e pequenos - que darão a conhecer às massas a
realidade da necessidade e o modo de enfrentá-la. Fazem isto impulsionados pelo
fervor de seus corações e pela amorosa resposta à angústia humana, e ainda que sem
formulá-lo, assim, para si próprios, trabalhando para exteriorizar o Reino de Deus na
Terra. Ante a evidente multiplicidade de organizações, livros e conferências, etc.,
resulta impossível negar estes fatos.
Em terceiro termo, o Cristo, segundo se disse, poderia vir em pessoa, e caminhar
entre os homens, como o fez anteriormente. Na atualidade isto não ocorreu ainda,
porém já se estão fazendo os planos necessários que Lhe permitirão fazê-lo. Tais
planos não incluem o nascimento de algum formoso menino em um bom lar da Terra;
27
nem haverá proclamas extravagantes; tampouco existirá o crédulo reconhecimento
dos bem intencionados e dos ignorantes, como sucede hoje tão frequentemente, nem
ninguém dirá: "Este é o Cristo. Ele está aqui ou ali". Não obstante, quisera destacar
que a ampla difusão de tais enunciados e relatos, ainda que indesejáveis, enganosos e
errôneos, demonstra, entretanto, a expectativa humana por Seu iminente advento. A
crença em Sua chegada é algo fundamental na consciência humana. Como e de que
maneira virá, ainda não foi estabelecido. O momento exato também não foi
determinado ainda, nem tampouco como reaparecerá. A natureza real dos dois
primeiros passos preparatórios, dados já pela Hierarquia sob Sua direção, são a
garantia de que Ele virá, e de que, ao fazê-lo, a humanidade estará preparada.
Resumiremos certos aspectos da obra que Ele iniciou há dois mil anos, porque
eles nos darão a chave de Seu trabalho futuro. Parte deste trabalho é bem conhecida,
pois tem sido destacada por todos os credos e, em particular, pelos instrutores da fé
cristã. Porém, todos têm apresentado Sua tarefa de maneira muito difícil de ser
compreendida pelo homem; a ênfase indevida posta sobre Sua divindade (algo que
jamais fez ressaltar) induz a crer que Ele e só Ele pode realizar essa obra. Os teólogos
têm olvidado que Cristo afirmara: "maiores coisas que estas vós o fareis, porque Eu
vou ao Pai" (João, 14,12). Com isto quis significar que a entrada na Morada de Deus
traria como resultado tal afluência de poder espiritual, visão e realização criadora para
o homem, que as façanhas deste deveriam superar as suas obras; devido à
deformação do Seu ensinamento e seu distanciamento do homem, ainda não temos
feito essas "coisas maiores". Com segurança, algum dia as faremos, posto que em
certos aspectos já foram feitas. Permita-se-me expor algumas das coisas que Ele fez e
que nós também podemos fazer com Sua ajuda.
1 - Pela primeira vez, na história da humanidade, o amor de Deus encarnou em
um homem e o Cristo inaugurou a era do amor. Esta expressão do amor divino ainda
se acha em sua etapa preparatória; no mundo não existe verdadeiro amor e muito
poucos compreendem o real significado desta palavra. Falando simbolicamente,
porém, quando as Nações Unidas tiverem adquirido um verdadeiro e efetivo poder,
então ter-se-á assegurado o bem-estar no mundo. Que significa este bem-estar, senão
amor em ação? Que é a colaboração internacional senão amor em escala mundial?
Estas são as coisas que o amor de Deus expressou no Cristo, e para as quais estamos
trabalhando, a fim de trazê-las à existência. Estamos tentando fazê-lo em vastas
proporções, apesar da oposição - uma oposição que só pode triunfar
temporariamente, devido ao poder do espírito que despertou no homem. Estas são as
coisas que a Hierarquia, com Seus métodos já eficazes, ajuda a realizar e continuará
ajudando.
2 - O Cristo anunciou que o Reino de Deus se acha na Terra e também nos disse
que buscássemos primeiro esse Reino e que considerássemos tudo o mais como
secundário. Esse Reino, formado por Aqueles que, no transcurso das épocas,
perseguiram fins espirituais, se libertaram das limitações do corpo físico, e não são
controlados por suas emoções nem impedidos por uma mente negativa, esteve
sempre conosco. São cidadãos deste Reino aqueles que (desconhecidos para a
maioria) vivem hoje em corpos físicos, trabalham para o bem-estar da humanidade,
28
aplicam a técnica geral do amor, ao invés da emoção, e constituem esse grande grupo
de "Mentes iluminadas" que guia os destinos do mundo. O Reino de Deus não é algo
que descerá à Terra quando o homem seja suficientemente bom! É algo que já está
em marcha e exige reconhecimento. É um grupo organizado que está sendo
reconhecido por todos aqueles que realmente buscam primeiro o Reino de Deus e
descobrem com isso que tal Reino se acha aqui. Muitos sabem que o Cristo e Seus
discípulos estão presentes fisicamente na Terra e que o Reino que Eles regem e que tem
suas próprias leis e atividades, é muito conhecido e sempre o foi, através dos séculos.
Cristo é o Curador e Salvador do mundo. Trabalha porque constitui a alma encarnada
de toda Realidade. Trabalha hoje, como o fez na Palestina, há dois mil anos, por intermédio
de grupos. Ali trabalhou por meio de Seus três discípulos amados, dos doze apóstolos, dos
setenta eleitos e dos quinhentos interessados. Agora, trabalha por intermédio dos Mestres
e Seus grupos, intensificando, assim, grandemente, Seu esforço. Pode trabalhar, e o fará,
por intermédio de todos os grupos, na medida em que estes se adaptem ao serviço
planejado para difundir o amor e logrem alinhar-se, conscientemente, com o grande poder
dos grupos internos.
Os grupos que sempre proclamaram a Presença física do Cristo tergiversaram de tal
maneira o ensinamento, com observações dogmáticas sobre detalhes sem importância e
enunciados ridículos, que obscureceram a verdade subjacente e não apresentaram um
reino atrativo. Esse reino existe, porém não é um lugar de disciplina nem de harpas
douradas, habitado por fanáticos ignorantes, mas um campo para servir e um lugar onde
cada homem tem plena liberdade para exercer sua divindade ao serviço da humanidade.
3 - Na Transfiguração, o Cristo revelou a glória ingênita em todos os homens. A tríplice
natureza inferior - física, emocional e mental - jaz ali prostrada ante a glória revelada. Nesse
preciso momento em que o Cristo Imanente havia encarnado e a humanidade estava
representada pelos três apóstolos, surgiu uma voz vinda da Morada do Pai reconhecendo a
divindade revelada e a Progenitura do Cristo Transfigurado. Sobre essa divindade ingênita e
a reconhecida Primogenitura se funda a fraternidade dos homens - uma vida, uma glória
que será revelada e um parentesco divino. Hoje, em grande escala (ainda que não se tenha
em conta o que implica a divindade), a glória do homem e suas relações fundamentais são
já um fato na consciência humana. Acompanhando aquelas características ainda tão
deploráveis que pareceriam negar toda divindade, temos as maravilhosas realizações do
homem e seu triunfo sobre a natureza. A glória das descobertas científicas e a magnífica
evidência da arte criadora - tanto moderna como antiga - não deixam lugar a dúvidas
quanto à divindade do homem. Eis aqui, então, as "coisas mais grandiosas" de que
falara Cristo, e eis aqui, também, o triunfo do Cristo dentro do coração humano.
A razão pela qual o triunfo da consciência crística deve mencionar-se sempre em
termos de religião, de comparecimento aos templos e de crenças ortodoxas, deve-se
a um dos incríveis triunfos das forças do mal. Sentir-se um cidadão do Reino de Deus
não significa ser, necessariamente, membro de alguma das igrejas ortodoxas. O
divino Cristo no coração humano pode expressar-se nos diferentes setores da vida
humana: na política, arte, economia, na verdadeira vida social, na ciência e na
religião. Poderíamos recordar que a única vez que o Cristo - como adulto - visitou o
templo dos judeus, provocou um distúrbio! A humanidade está passando de urna
29
glória a outra, glória que pode ser observada, claramente, no extenso panorama
histórico e em todos os setores da atividade humana; portanto, a Transfiguração
daqueles que se acham no cume da civilização está muito ao seu alcance.
4 - Finalmente, com o triunfo da Crucificação ou grande Renúncia (como se
denomina, com mais exatidão, no Oriente), o Cristo introduz, pela primeira vez na
Terra, um tênue fio da Vontade divina, à medida que surgia da Morada do Pai
(Shamballa), o qual foi entregue à compreensiva custódia do Reino de Deus e, por
intermédio do Cristo, apresentado à humanidade. Mediante a colaboração de certos
grandes Filhos de Deus, os três aspectos divinos ou características da divina Trindade
- vontade, amor e inteligência - se converteram em parte dos pensamentos e
aspirações humanos. Os cristãos são propensos a esquecer que a agonia das últimas
horas do Cristo não foi passada sobre a cruz, senão no Horto de Getsêmani. Então -
em agonia e quase desespero - Sua vontade foi absorvida pela do Pai, exclamando:
"Pai, contudo, não se faça a minha vontade senão a Tua" (Lucas, 22,42).
Algo novo, contudo, ideado desde as profundezas do tempo, ocorreu, então,
naquele tranquilo horto: Cristo, representando a humanidade, estabeleceu a Vontade
do Pai na Terra e tornou possível à humanidade inteligente cumpri-la. Até então, essa
vontade só havia sido conhecida na Morada do Pai, reconhecida e adaptada às
necessidades do mundo pela Hierarquia espiritual, que trabalha dirigida por Cristo,
configurando-se, assim, o Plano divino. Hoje, graças ao que fez o Cristo, séculos atrás,
em Seu momento de crise, a humanidade pode ajudar com seus esforços a
desenvolver esse Plano. A vontade para o bem, da Morada do Pai, pode converter-se
em boa vontade no Reino de Deus e pode ser transformada em corretas relações
humanas pela humanidade inteligente. Desta maneira, a linha direta ou fio da
Vontade de Deus se estende, hoje, desde o lugar mais elevado ao mais baixo e, a seu
devido tempo, pode converter-se em um cabo pelo qual poderão ascender os filhos
dos homens e descer o amoroso e vivente espírito de Deus.
Olvidemos distâncias, longitudes e antiguidades, e conscientizemos que estamos
falando de acontecimentos exatos e reais de nosso planeta. Tratamos com
reconhecimentos, fatos e acontecimentos autênticos, que são do conhecimento
consciente da maioria - O Cristo histórico e o Cristo no coração humano são
realidades planetárias.
Que significará para o Cristo, reaparecer entre os homens e desempenhar as
atividades diárias e externas, é um aspecto de Seu retorno que nunca foi mencionado
nem referido. Que sentirá quando chegar o momento de aparecer?
Em O Novo Testamento se menciona uma grande "iniciação" a que
denominamos de Ascensão, da qual nada sabemos. Só umas poucas informações nos
chegam do Evangelho: o acontecimento no cume da montanha, os observadores e as
palavras do Cristo assegurando-lhes que não os abandonaria. "Logo uma nuvem O
ocultou à sua vista" (Atos, 1,9). Nenhum dos presentes pôde ir mais além com Ele.
Suas consciências não podiam penetrar até o lugar aonde Ele havia decidido ir,
porque, inclusive, haviam entendido mal Suas palavras; somente em um sentido vago
e místico a humanidade compreendeu Seu desaparecimento, ou o significado de Sua
perdurável porém invisível presença. Aos observadores se lhes assegurou, por
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intermédio dos Conhecedores de Deus, que se achavam também presentes, que Ele
voltaria em forma semelhante. Ascendeu. A nuvem O recebeu. As nuvens que hoje
cobrem nosso planeta esperam revelá-Lo.
Agora, Ele aguarda o momento de descer. A descida a este desgraçado mundo
dos homens não Lhe oferece nenhum quadro tentador. Desse tranquilo retiro na
montanha, de onde esperou, guiou e treinou Seus discípulos iniciados e o Novo
Grupo de Servidores do Mundo, há de vir para ocupar Seu lugar proeminente, no
cenário mundial, e desempenhar Sua parte no grande drama que ali se está
desenrolando. Desta vez não desempenhará Sua parte na obscuridade, como o fez
antes, senão à vista de todo o mundo. Devido ao reduzido tamanho do nosso
planeta; ao predomínio do rádio, da televisão e à rapidez das comunicações, Sua
atuação será observada por todos; seguramente, a perspectiva de apresentar
algumas provas e exigir grandes reajustes, há de Lhe produzir certa consternação,
ademais de uma experiência penosa inevitável. Não virá como o Deus Onipotente da
ignorante criação do homem, senão como o Cristo, o Fundador do Reino de Deus na
Terra, para terminar o trabalho começado, e demonstrar, novamente, a divindade,
em circunstâncias muito mais difíceis.
Todavia, o Cristo sofre muito mais pelos que Lhe são chegados que pelos
estranhos. O aspirante avançado dificulta mais Seu trabalho que o pensador
inteligente. Não foi a crueldade do mundo externo dos homens o que causou a
profunda dor ao Cristo, senão Seus próprios discípulos, além do sofrimento coletivo
da humanidade - padecido durante seu ciclo de vida, incluindo o passado, o presente
e o futuro.
Virá corrigir os erros e as más interpretações daqueles que se atreveram a
interpretar Suas simples palavras de acordo com a sua própria ignorância, e a
reconhecer àqueles cujo fiel serviço fez possível Seu retorno. Também Ele está
enfrentando uma grande prova, como preparação para receber uma grande iniciação,
e quando houver passado a prova e cumprido Sua tarefa, ocupará na Morada do Pai
um lugar mais excelso, ou irá prestar serviço em um lugar distante, aonde só poderão
segui-Lo os mais elevados seres; Seu cargo atual será, então, desempenhado por
Aquele que Ele preparou e treinou.
Antes que isto suceda, porém, terá que entrar novamente no diálogo,
desempenhar Sua parte nos acontecimentos mundiais e demonstrar o alcance de Sua
missão. Reunirá, fisicamente, em torno de Si os Seus associados e conselheiros
escolhidos; não serão os que reuniu em dias primitivos, senão esses membros da
família humana que hoje O reconhecem e estão-se preparando para trabalhar com
Ele, até onde lhes for possível. O mundo ao qual projeta retornar é muito diferente e
isso se deve, em grande parte, ao desenvolvimento intelectual das massas. Isto
apresenta enormes dificuldades, porque para cumprir, inteligentemente, a Vontade
de Deus na Terra, precisará chegar ao intelecto dos homens e não apenas a seus
corações, como nos dias primitivos. Seu trabalho principal consiste certamente em
estabelecer corretas relações humanas, em todos os aspectos da vida humana. Peço-
lhes que empreguem a imaginação e tratem de pensar na magnitude da tarefa que
Lhe espera; reflitam sobre as dificuldades que, inevitavelmente, enfrentará -
31
sobretudo a errônea ênfase intelectual.
Pediu-se ao Representante do Amor de Deus que, novamente, atue no diálogo
mundial onde sua primeira mensagem foi rechaçada, esquecida e mal interpretada
durante dois mil anos e onde o ódio e a separatividade têm caracterizado os homens
do mundo inteiro. Isto O fará submergir em uma atmosfera estranha e O levará a
uma situação em que deverá provar, ao máximo, todos os Seus recursos divinos. A
ideia geralmente aceita de que regressará como um guerreiro triunfante, onipotente
e irresistível, não tem nenhum fundamento. O fato real, de sólido fundamento, é que,
finalmente, conduzirá o Seu povo, a humanidade, à Jerusalém, porém não à cidade
judia chamada Jerusalém, mas ao "lugar de paz" (que é o que Jerusalém significa).
Uma consideração cuidadosa da situação mundial atual e o constante uso da
imaginação, revelarão ao pensador sincero quão aterradora é a obra que Ele
empreendeu. "Ele, porém, dirigiu, novamente, Seu rosto para ir a Jerusalém" (Lucas,
11, 15). Reaparecerá e levará a humanidade a uma civilização e a um estado de
consciência em que as corretas relações humanas e a colaboação mundial, em bem
de todos, constituirão a tônica universal. Por intermédio do Novo Grupo de
Servidores do Mundo e dos homens de boa vontade, completará a fusão de Sua
vontade com a de Deus (os assuntos de Seu Pai), de tal forma que a eterna vontade
para o bem será traduzida pela humanidade por boa vontade e corretas relações.
Então, Sua tarefa se terá cumprido; ficará livre para deixar-nos de novo, porém desta
vez não voltará, senão que deixará o mundo dos homens em mãos desse Grande
Servidor espiritual que será o novo Guia da Hierarquia, da Igreja invisível.
A pergunta que agora se nos apresenta é: De que forma poderemos ser úteis?
Como poderemos ajudar, durante esta etapa preparatória?
Certamente, muito estão fazendo os membros da Hierarquia Espiritual; aqueles
discípulos se acham em contato consciente com os Mestres de Sabedoria - ou, se se
prefere o termo, com os discípulos avançados do Cristo - estão trabalhando dia e
noite, a fim de estabelecer essa confiança, corretas atitudes e a compreensão do
"empuxo" espiritual divino, ou empresa, a fim de aplainar Seu caminho. Eles e seus
grupos de discípulos, aspirantes e estudantes, o apoiam, em forma unida e permitem
que realize Seu propósito. Sua maior realização consiste em provocar uma crise cíclica
na vida espiritual do nosso planeta; ela foi antecipada na Morada do Pai (Shamballa),
há milhares de anos. Registrou-se o fato, pela primeira vez na história humana, de
que os três centros espirituais ou grupos, por meio dos quais Deus atua, estão
enfocados no mesmo objetivo. Shamballa, a Hierarquia Espiritual e a Humanidade (a
Morada do Pai, o Reino de Deus e o Mundo dos Homens) se acham todos
empenhados em um vasto movimento para intensificar a Luz do Mundo. Esta Luz
iluminará (em forma desconhecida até agora) não só a Morada do Pai, fonte de nossa
luz planetária, senão também o centro espiritual de onde têm emanado os
Instrutores e os Salvadores mundiais que apareceram diante dos homens,
exclamando, como Hermes, Buda e o Cristo, "Eu Sou a Luz do Mundo". Esta luz
inundará o mundo, iluminando as mentes dos homens e trazendo luz aos lugares
escuros da vida humana.
O Cristo trará luz e - acima de tudo - "vida mais abundante", porém não sabemos
32
o que isto significa até que tal se produza; não podemos dar-nos conta do que
implicará esta revelação nem as novas perspectivas que se abrirão diante de nós. Mas
por Seu intermédio, a Luz e a Vida estão em vias de serem interpretadas e aplicadas
em termos de boa vontade e de corretas relações humanas. Para este fim se está
preparando a Hierarquia Espiritual. Desta vez o Cristo não virá só; fa-lo-á com Seus
colaboradores. Sua experiência e a d’Eles serão diferentes da anterior, pois todos os
olhos O verão, todos os ouvidos O ouvirão e todas as mentes O julgarão.
Podemos ajudar livremente no trabalho de reconstrução que o Cristo se propõe
realizar, se nos familiarizarmos com os fatos que se expõem a seguir, divulgando-os
entre todos aqueles com quem entrarmos em contato.
1 - Que o reaparecimento do Cristo é iminente.
2 - Que o Cristo, imanente em todo coração humano, pode ser evocado em
reconhecimento à Sua aparição.
3 - Que as circunstâncias de Seu retorno estão relacionadas em forma simbólica
nas Escrituras de todo o mundo, o qual pode produzir uma mudança vital nas ideias
preconcebidas da humanidade.
4 - Que a principal condição exigível é um mundo em paz; paz que deve estar
fundada na boa vontade, a qual, cultivada, conduzirá, inevitavelmente, às corretas
relações humanas e, portanto, ao estabelecimento (falando em sentido figurado) de
linhas de luz entre uma nação e outra, uma religião e outra, um grupo e outro, entre
um homem e outro.
Se conseguirmos fazer que se reconheçam em todo o mundo estas quatro ideias,
contrapondo-se às críticas inteligentes de que tudo o que se disse é demasiado vago,
profético e visionário, muito teremos realizado. É muito possível que aquele velho
axioma: "a mente é o matador do real", possa ser fundamentalmente certo, no que
tange às massas, e que a abordagem puramente intelectual (que rejeita a visão e
recusa aceitar o incomprovável) seja mais falha que o pressentimento dos
Conhecedores de Deus e da multidão expectante.
A Hierarquia Espiritual está investida de inteligência divina e é composta, na
atualidade, por Aqueles que reuniram em Si o intelecto e a intuição, o prático e o
aparentemente imprático, a realidade da vida e a maneira de ser do homem que tem
uma visão. Também existem pessoas, nos lugares comuns da vida diária; estas
pessoas são as que precisam ser treinadas para que reconheçam a divindade nos
sinais que são essencialmente respostas do plano físico às novas expansões da
consciência. O Cristo que retornará não será igual ao Cristo que (aparentemente)
partiu. Não será um "varão de dores"; tampouco uma figura silenciosa e pensativa;
será o enunciador de verdades espirituais que dispensarão interpretações, ou
tergiversações, porque Ele estará presente para explicar o verdadeiro significado.
Durante dois mil anos, foi o Guia supremo da Igreja invisível, a Hierarquia
Espiritual, composta de discípulos de todos os credos. Reconhece e ama àqueles que,
não sendo cristãos, mantêm sua lealdade aos Fundadores de suas respectivas
religiões - Buda, Mahomé e outros. Não Lhe interessa qual seja seu credo, sempre
que o objetivo seja o amor a Deus e à humanidade. Se os homens buscam o Cristo,
que deixou Seus discípulos faz séculos, fracassarão em reconhecer o Cristo que está a
33
ponto de retornar. O Cristo não tem barreiras religiosas em Sua consciência, nem se
importa com a religião que qualquer um professe.
O Filho de Deus está a caminho e não vem só. Sua guarda-avançada já se
aproxima, e o Plano que há de seguir já está traçado. Que o reconhecimento seja o
objetivo!
34
CAPÍTULO IV
O TRABALHO DO CRISTO, HOJE E NO FUTURO
35
sofrimento, se quisermos que os povos cristãos reconheçam seu lugar dentro de uma
ampla e divina revelação mundial e considerem o Cristo como Representante de
todos os credos, concedendo-Lhe o lugar que por direito Lhe corresponde, como
Instrutor mundial. Ele é o Instrutor Mundial e não um Instrutor cristão. Ele próprio
disse, que tinha outros rebanhos, para os quais Ele representa o mesmo que para o
cristão ortodoxo. Provavelmente, em vez de chamá-LO Cristo, O chamem por outro
nome, mas O sigam tão fielmente como seus irmãos ocidentais.
Consideremos, por um momento, as errôneas interpretações que se têm feito do
Evangelho. Seu simbolismo - um antigo relato levado a efeito no transcurso dos
séculos, antes da vinda de Cristo à Palestina - foi tergiversado pelos teólogos, a ponto
de que a prístina pureza dos primeiros ensinamentos, e a singular simplicidade de
Cristo, desapareceram detrás de um emaranhado de erros e uma mistura de rituais,
dinheiro e ambições humanas. Cristo é apresentado como tendo nascido de forma
antinatural; como tendo ensinado e pregado durante três anos; crucificado e
ressuscitado, abandonando a humanidade, para sentar-se à direita de Deus", em
meio de uma pompa austera e inconcebível. De forma análoga, o cristão ortodoxo
considera errôneas todas as abordagens a Deus efetuadas por outros povos, em
qualquer época e país, praticadas por aqueles que se supõem ateus e que necessitam
da intervenção cristã. Fez-se todo o esforço possível para impor a cristandade
ortodoxa àqueles que aceitam a inspiração e o ensinamento do Buda, ou outros que
têm sido responsáveis de preservar a divina continuidade da revelação. A ênfase tem
sido posta, como bem se sabe, no "sacrifício do sangue do Cristo" na cruz, e na
salvação que depende do reconhecimento e da aceitação desse sacrifício. A
unificação vicária tem sido substituída pela confiança que o mesmo Cristo nos
encomendou que tivéssemos de nossa própria divindade; a igreja do Cristo se fez
famosa e inútil (segundo demonstrou a guerra mundial), devido a seu estreito credo,
sua errônea ênfase, sua pompa clerical, sua autoridade espúria, suas riquezas
materiais e a apresentação do corpo morto de Cristo. A igreja aceitou Sua
ressurreição, porém insiste, principalmente, no fato de Sua morte.
Cristo foi, durante dois mil anos, essa Figura silenciosa, passiva, oculta detrás de
inumeráveis palavras escritas por um sem número de homens (comentaristas e
predicadores). A igreja apresenta Cristo moribundo na cruz, e não o Cristo vivo,
trabalhando ativamente, e que tem estado conosco em Presença física (conforme a
Sua promessa) durante vinte séculos.
Portanto, procuremos ter um quadro mais real da atividade e da vida de Cristo e,
em consequência, de nossa futura esperança. Tratemos de ver a Pessoa divina
sempre presente, traçando Seus planos para ajudar à humanidade, no futuro,
determinando Seus recursos, influenciando Seus discípulos e preparando os detalhes
de Seu reaparecimento. É necessário despertar a fé na real natureza da revelação
divina e induzir a igreja cristã a que retorne a Ele e à Sua obra. É necessário pensar no
Cristo vivo e ativo, recordando sempre que O Evangelho é eternamente verídico, e
que só deve ser reinterpretado à luz do lugar que lhe corresponde, na larga sucessão
de revelações divinas. Sua missão na Terra, desde há dois mil anos, constitui parte
dessa continuidade, não sendo um relato extraordinário sem relação com o passado,
36
que só dá importância a um período de 33 anos, sem apresentar uma definida
esperança para o futuro.
Qual é a esperança que oferecem hoje os teólogos e ortodoxos irreflexivos? Que
em data remota, só conhecida pela insondável Vontade de Deus, o Pai, Cristo
abandonará Seu lugar à direita de Deus e (seguido de Seus anjos e da Igreja invisível)
descerá sobre as nuvens do Céu, ao som de uma trombeta, e aparecerá em
Jerusalém. A batalha que estará travando nesse momento, chegará a seu fim e Ele
entrará na cidade de Jerusalém para governar durante mil anos. Durante esse milênio,
Satanás ou princípio do mal, será aprisionado, e haverá um novo céu e uma nova
terra. Fora disso nada mais dizem; a humanidade anela algo mais, pois o quadro
apresentado não lhe satisfaz.
Detrás desta descrição, se for corretamente interpretada, se acha a humana,
amorável e divina Presença do Cristo, encarnando o amor divino e manejando o poder
divino, dirigindo Sua Igreja, e estabelecendo o Reino de Deus na Terra. Em que
consiste a Igreja de Cristo? Está constituída pela soma total daqueles que possuem
vida ou consciência crística, ou estão em processo de manifestá-la, e por todos os que
amam seu semelhante - amar o semelhante é possuir essa faculdade divina que nos
faz membros da comunidade de Cristo. A aceitação de um fato histórico ou credo
teológico não nos põe em comunhão com Cristo. Cidadãos do Reino de Deus são
aqueles que buscam, deliberadamente, a luz e intentam (por meio de uma disciplina
auto-imposta) apresentar-se ante o Iniciador único; este vasto grupo mundial (tenha
corpo físico ou não) aceita o ensinamento de que "os filhos dos homens são uno";
sabem que a revelação divina é constante e sempre nova, e que o Plano divino está
desenvolvendo na Terra.
Na atualidade, existem aqueles que sabem que o Reino de Deus virá à existência
por meio da colaboração, da inspiração e da instrução desses filhos dos homens que
forjaram sua divindade no crisol do diário viver humano; estes Conhecedores
trabalham hoje, ativamente, sob a influência direta do Cristo, a fim de conduzir a
humanidade da obscuridade à luz e da morte à imortalidade.
Estas grandes verdades subjacentes, únicas verdades importantes, caracterizam
Cristo, Buda e a Igreja de Deus, tal como se expressam no Oriente e no Ocidente. No
futuro, os olhos da humanidade estarão postos sobre Cristo e não sobre instituições
criadas pelos homens, como a igreja e seus dignitários; Cristo será visto tal como é na
realidade, trabalhando por meio de Seus discípulos, dos Mestres de Sabedoria e de
Seus seguidores (raras vezes reconhecidos), os quais labutam, anonimamente, por trás
dos assuntos mundiais. Seu campo de atividade será o coração humano e os lugares
populosos do mundo, e não algum templo de pedra, nem a pompa e cerimônia de
uma sede eclesiástica.
O estudo do futuro trabalho que Cristo há de realizar, logicamente se
fundamentará sobre três suposições:
1 - Que o reaparecimento do Cristo é inevitável e seguro.
2 - Que Ele está e tem estado trabalhando, ativamente, para o bem-estar da
humanidade, por intermédio da Hierarquia espiritual de nosso planeta, da qual é o
Mentor.
37
3 - Que certos ensinamentos serão difundidos e certas energias liberadas por Ele,
na rotina de Seu trabalho e retorno. Em geral, as pessoas esquecem que o Cristo
necessita de um período de preparação intensa, antes de reaparecer. Ele também
atua de acordo com a lei e está submetido ao controle exercido por distintas fontes,
assim como o estão os seres humanos, porém em menor grau.
O reaparecimento do Cristo é determinado e condicionado pela reação da
humanidade e deve sujeitar-se a essa reação. Sua tarefa, ademais, está sujeita a certas
efemérides espirituais e cíclicas e a impressões provenientes de fontes que se
encontram em níveis superiores aos que Ele normalmente atua. Assim como os
assuntos humanos afetam Suas atividades, também O afetam as grandes
"determinações" e "profundas decisões da Vontade de Deus". O aspecto, ou natureza
humana do Cristo, perfeita e sensível, responde à invocação e à demanda dos
homens; o aspecto ou natureza divina responde, similarmente, aos impactos das
energias provenientes do "Centro onde a Vontade de Deus é conhecida". Tem que
coordenar os dois aspectos, efetuando-o no momento exato. Não resulta fácil extrair
o bem do mal humano. A visão do Cristo é tão ampla e Sua compreensão da Lei de
Causa e Efeito, de Ação e Reação, é de tal magnitude, que não é muito simples decidir
sobre a atividade e o momento oportunos. Os seres humanos tendem a considerar
tudo o que sucede ou poderia suceder, desde o ponto de vista estritamente humano e
imediato. Não compreendem, realmente, os problemas, decisões e implicações que
Cristo hoje deve enfrentar, dos quais participam Seus discípulos. Sua tarefa consiste
em desenvolver "a mente que está em Cristo", e ao fazê-lo assim, ajudarão a
desimpedir o caminho para "a chegada de Seus pés", como o diz a Bíblia (em Hebreus
7,13). Observar a vida e os acontecimentos à luz dos valores espirituais, como o fez
Ele, facilitará a promulgação dos novos ensinamentos e proverá a estrutura da nova
religião mundial, dando-nos, assim, um novo ponto de vista da intenção divina e uma
percepção viva das mentes d’Aqueles que cumprem a vontade divina e dirigem o
futuro da humanidade. Portanto, teremos de compreender não somente a
oportunidade que Cristo tem para ajudar-nos (como se diz comumente), senão
também as crises e problemas que tem de enfrentar, ao deparar-se com o trabalho
que deve realizar.
I. As Crises de Cristo
Na vida de todo discípulo, particularmente na daqueles que devem deparar com
certas grandes expansões de consciência, sobrevirá uma crise. Nessas crises se
adotam decisões, voluntária ou involuntariamente; havendo-as adotado, o discípulo
se encontra, então, em um ponto de tensão, premido pela decisão, e percebe e vê,
mentalmente, com maior clareza, o passo que haverá de dar, influenciando sua
atitude, em relação ao futuro. Quando o trabalho é realizado durante o período de
tensão, então, sobrevém o que poderia denominar-se o ponto de emergência, o qual
significa sair de um campo de experiência para entrar em outro.
Nem o próprio Cristo pode eximir-se desta tríplice experiência e, a fim de poder
melhor compreender isto, apliquemos as três frases (inapropriadas, por certo) às
38
ações e reações do Cristo.
As crises não existem para Ele no mesmo sentido que para nós: não há esforço
em Seu ponto de tensão. Entretanto, a analogia é apropriada, como para incutir o
que aconteceu nesse estado de consciência que caracteriza a Hierarquia espiritual; a
cujo estado de consciência podemos aplicar o nome de "percepção espiritual", em
oposição à percepção mental, que constitui a contraparte humana. Há de se recordar
que o ponto de crise que produz o ponto de tensão, a que o Cristo se submeteu
voluntariamente, é uma questão ou acontecimento hierárquico, porque toda a
Hierarquia está implicada na crise. A razão é simples: Cristo e Seus colaboradores
conhecem, unicamente, a experiência da consciência grupal. Desconhecem a
participação unilateral e a atitude separatista, porque Seu estado de consciência é
incluente e não excluente.
Portanto, utilizando a terminologia humana, a fim de interpretar as reações
divinas de Cristo e Seus discípulos, há de se compreender que o ponto de crise,
responsável pela tensão hierárquica e pela oportuna aparição ou surgimento de
Cristo, foi por Ele superado e pertence ao passado. O seguinte ponto de tensão dirige,
hoje os assuntos da Hierarquia espiritual e seus numerosos grupos de colaboradores.
O "ponto de decisão" como é denominado nos círculos hierárquicos, foi alcançado no
período compreendido entre a Lua cheia de junho de 1936 e a Lua cheia de junho de
1945. O ponto de decisão abarcou, portanto, nove anos - um lapso relativamente
breve - e teve como resultado que Cristo decidisse reaparecer, visivelmente, na Terra
tão logo quanto fosse possível, muito antes do que fora planejado.
Esta decisão, logicamente, foi adotada consultando previamente o Senhor do
Mundo, o "Ancião dos Dias", mencionado em O Antigo Testamento e "Aquele em
Quem vivemos, nos movemos e temos nosso ser", mencionado em O Novo
Testamento, custódio da vontade de Deus, e com o pleno conhecimento dos Mestres
e dos iniciados avançados. Isto foi inevitável porque Sua participação e ajuda eram
imperativas. Também era necessário que colaborassem mentalmente com Ele e O
acompanhassem, porque Seu reaparecimento significa uma grande abordagem
hierárquica à humanidade e um grande acontecimento espiritual.
Todavia, a decisão foi tomada por Cristo e não indicou, apenas, um ponto de crise
em Sua experiência, senão também um ponto culminante em Sua expressão divina.
Com toda reverência, dentro dos limites da compreensão humana, deve-se lembrar
que nada existe de estático em todo o processo evolutivo de nosso planeta e do
cosmo; só existem processo e progresso, avanço, acrescentada aquisição e elevada
realização. Cristo mesmo está sujeito a esta grande lei universal. Novamente, com
toda reverência, dizemos aqui que Ele, também, tem progredido em Sua experiência
divina e se acha mais próximo que nunca (se assim se pode dizer) do Pai e da Vida
Universal Una. Sua compreensão e captação da Vontade de Deus é mais profunda, e o
cumprimento dessa Vontade está mais de acordo com o Propósito divino, que quando
esteve na Palestina, há dois mil anos. Logicamente, por parte do Cristo, houve uma
crescente percepção, relativamente à intenção da Mente divina, tal como se acha
personificada nessa Entidade a que denominamos Deus.
Cristo já não dirá como em Sua agonia: "Pai, não minha vontade, senão a Tua seja
39
feita"; hoje não tem vontade própria; só O anima a Vontade de Seu Pai e a capacidade
de tomar decisões que constituem a plena expressão dessa Vontade divina. Resulta
difícil descrever Sua obra com outras palavras. Os comentaristas tratam de explicar e
justificar a experiência do Cristo no Getsêmani atribuindo-a à natureza humana do
Cristo, o que parece ser uma debilidade e, em consequência, à inibição temporária de
Sua natureza divina. Viram-se obrigados a adotar esta posição devido ao
pronunciamento teológico imperante sobre a divina perfeição do Cristo, uma
perfeição absoluta, soberana e ultérrima, que jamais reclamou para Si. Hoje se acha
mais próximo que nunca da perfeição. Este desenvolvimento divino fez-se possível,
nos anos de decisão anteriores a junho de 1945, uma correta escolha, não só para Ele
senão para a Hierarquia espiritual.
De acordo com a Vontade divina, devia reaparecer, fisicamente, na Terra, para
presidir a materialização do Reino de Deus na Terra e restabelecer os Mistérios da
Iniciação, de tal forma que servissem de base para a nova religião mundial. Por sobre
todas as coisas devia revelar a natureza da Vontade de Deus. Dita vontade se
considera amiúde como o poder pelo qual se fazem as coisas, se produzem as
situações, se iniciam atividades e se levam a cabo os planos, que em regra se
executam despiedadamente. Esta definição é a que mais facilmente formulam os
homens, porque a julgam em termos de sua própria vontade, a vontade de melhorar
individualmente. Este tipo de vontade é egoísta e mal entendida a princípio, porém
tende, finalmente, ao altruísmo, à medida que a evolução cumpre sua beneficiosa
tarefa. Logo a vontade é interpretada em termos de plano hierárquico, e o esforço do
indivíduo se inclina-a negar sua própria vontade, tratando de fundi-la com a do grupo,
sendo o grupo mesmo um aspecto do esforço hierárquico. Este é um grande passo
dado na correta orientação, que conduzirá, finalmente, a uma mudança de
consciência.
A maioria dos aspirantes se encontra, hoje, nesta etapa, não obstante a vontade
ser, em realidade, algo muito diferente do que manifesta a consciência humana,
quando os homens tratam de interpretar a Vontade divina em termos de seu atual
grau de evolução. A chave para compreender isto se encontra nas palavras "eliminar
toda forma". Quando se vence o atrativo que exerce a substância e desaparece o
desejo, então predomina o poder de atração da alma, e a ênfase (posta durante tanto
tempo sobre a forma, a atividade e a vida individuais) é substituída pela forma e
propósito grupais. Logo, o poder de atração exercido pela Hierarquia e os discípulos
dos Mestres é substituído pela atração e interesse postos sobre as coisas superiores.
Quando estas assumirem o lugar que lhes corresponde na consciência, então se fará
sentir a atração dinâmica do aspecto Vontade da divindade, que não tem relação
alguma com a forma ou formas, com o grupo ou grupos.
A luz da Vontade de Deus, Cristo tomou certas decisões fundamentais e se propôs
levá-las a cabo em um futuro relativamente imediato, sendo a data exata de Sua vinda
só conhecida por Ele e por alguns de Seus mais antigos colaboradores; não obstante
tais acontecimentos futuros se ocultarem detrás de certa decisão fundamental da
humanidade mesma, a qual se está levando a termo devido a certas novas tendências
no pensar humano, e como resultado de uma reação humana subjetiva à decisão
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adotada por Cristo e pela Hierarquia espiritual, a Igreja invisível.
Já se tem dito e aceito a motivação do seu reaparecimento, sendo percebida por Ele
com toda clareza. Deve terminar o trabalho iniciado há dois mil anos e inaugurar a nova
religião mundial; não se pode ignorar as necessidades de uma humanidade que implora e
invoca; devem-se dar os passos que precedem a uma magna iniciação hierárquica em que o
Cristo é o participante principal; os acontecimentos sintomáticos do "momento final" não
podem ser postergados.
Se é possível falar em termos reverentes e simbólicos, a recompensa deferida ao
Cristo ao anunciar Sua decisão, como final e irrevogável, foi o consentimento, ou melhor, o
direito - que nunca havia sido outorgado - de utilizar certa grande Invocação, procedendo
de duas maneiras:
1 - Como Invocação hierárquica, dirigida ao "centro onde a Vontade de Deus é
conhecida".
2 - Como prece mundial, expressa em palavras que toda a humanidade possa utilizar
inteligentemente.
Jamais se concedeu facilmente o direito de empregar certas Palavras de Poder ou
"Estrofes Orientadoras". A autorização do Senhor do Mundo, o Ancião dos Dias, foi
outorgada devido à decisão do Cristo de aparecer, novamente, entre os homens, trazendo
Consigo Seus discípulos.
Depois do momento culminante de crise espiritual e sua consequente decisão, se
alcançou um ponto de tensão, e neste estado de tensão espiritual está trabalhando e
planejando a Igreja invisível, levando os discípulos do Cristo, ativos na Terra, a uma
condição similar de tensão espiritual. O êxito do reaparecimento do Cristo, em presença
física, assim como de outros fatores (vinculados ao Seu reaparecimento) depende dos
acontecimentos e contatos que tenham lugar, agora, durante o período de tensão. Em todo
ponto de tensão, seja qual for o tempo, gera-se energia para o futuro, sendo enfocada de
tal forma ou condição, que sua força pode ser dirigida para onde e quando seja
necessitada. Isto é uma consideração difícil de se compreender. Um ponto de tensão é,
simbolicamente, um manancial de poder. As energias que, na atualidade, caracterizarão o
Reino de Deus estão adquirindo impulso, sendo dirigidas pelos Mestres de Sabedoria, em
colaboração com a Vontade do Cristo.
Enquanto esta energia foi-se acumulando ou aumentando sua potência, desde a
Lua Cheia de junho de 1945, três acontecimentos de grande importância tiveram
lugar na vital experiência do Cristo (portanto da Hierarquia), e seus efeitos estão em
vias de se definirem. Só posso referir-me a eles brevemente, pois não é possível
comprovar a realidade do que aqui se expõe; unicamente a possibilidade, a
probabilidade e a Lei de Analogia indicarão a veracidade destes acontecimentos. Seus
efeitos serão observados, especialmente, depois que hajam sucedido. Estes três
acontecimentos podem ser descritos da maneira seguinte:
1 - O Espírito de Paz desceu sobre o Cristo. O Novo Testamento atesta um
acontecimento semelhante, quando se refere ao Batismo: "e viu o Espírito de Deus
que desceu como pomba e vinha sobre ele" (Mateus 3,16). Este Espírito é um Ser que
possui um imenso poder cósmico e está influenciando hoje ao Cristo, similarmente
como fez o Cristo (há dois mil anos) com o Mestre Jesus. O Espírito de Paz não
41
significa uma calma emocional e estática que põe fim à agitação mundial e estabelece
uma era de paz. Constitui, misteriosamente, o Espírito de Equilíbrio, atua de acordo
com a Lei de Ação e Reação e se reconhecerá Sua atuação inevitável. Sua obra se
manifestará de duas maneiras: plenamente, quando o Cristo reaparecer entre os
homens e, lenta e gradualmente, até que:
a. O caos, a desordem, as perturbações emocionais e o desequilíbrio mental que
existem, atualmente, no mundo, adquirirem equilíbrio de acordo com esta lei,
mediante um equivalente ciclo de calma, quietude emocional e equilíbrio mental,
emancipando a humanidade para entrar em uma nova etapa e experiência de
liberdade. A paz assim obtida será proporcional ao mal-estar experimentado.
b. O ódio, que tanto predomina hoje no mundo, será equilibrado pela boa
vontade, expressa por meio da vida do Espírito de Paz, que atua através do Cristo, a
personificação do Amor de Deus. A aparição dessa boa vontade está garantida pela
expressão desmedida do ódio, que foi crescendo com lentidão nas mentes dos
homens, desde os começos do século XIX e está alcançando a máxima intensidade
nestes momentos. Uma medida proporcional da energia amorosa se manifestará
mais tarde, como resultado da atividade do Espírito de Paz, atuando através do
Príncipe da Paz, como às vezes o Cristo é chamado (Isaias 9,6).
Este Ser espiritual não descerá do alto lugar de onde atua e dirige Sua energia,
senão que será o Cristo Quem atuará e servirá de canal para a potência dirigida do dito
Ser. A afluência de Sua divina energia (energia que provém de fora do planeta) está
destinada a trazer, oportunamente, paz à Terra por meio da boa vontade, a qual
estabelecerá corretas relações humanas. A humanidade registrou (desde logo,
inconscientemente) o primeiro impacto desta energia, em maio de 1936 e também em
junho de 1945.
2 - A força evolutiva, a que damos o nome de "consciência crística" (termos muito
empregados por todos os metafísicos do mundo) se achou na Pessoa do Cristo, em
forma até agora desconhecida - esse poder latente que existe em todo coração
humano, descrito por São Paulo como "Cristo em nós, esperança é de glória" (Col. 1,27)
e de acordo com a lei evolutiva conduz, finalmente, o homem ao Reino de Deus e "à
medida da idade da plenitude de Cristo" (Ef. 4,13). Ele foi sempre o símbolo deste
poder e glória. No presente período de tensão hierárquica, e como resultado de Sua
decisão de reaparecer, o Cristo se transformou na personificação desta energia,
entrando, assim, em uma relação mais íntima com a humanidade. Outros diletos Filhos
de Deus são canais desta energia para os reinos sub-humanos, porém o Cristo ocupa
um lugar excepcional em relação com a humanidade. Expressando esta ideia
simbolicamente, diríamos que dita energia cria uma ponte vivente entre o reino
humano e o Reino de Deus, entre o quarto reino da natureza e o quinto. Cristo é o
custódio desta energia, porém só momentaneamente, durante o período da atual crise
humana. Portanto, devido a isso, pode estimular o fator resposta existente nos
corações dos homens, permitindo-lhes reconhecer e saber quem é e que é Ele, quando
reapareça. Esta canalização de energia começou ao finalizar a guerra mundial e ainda
continua; é responsável pela tendência a melhorar que já se percebe em toda parte; do
acrescentamento do princípio de participação, e da inegável bondade e sensatez do
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pensar humano - a sensatez das massas (quando estão bem informadas), que é muito
maior que a dos líderes.
3 - Como bem se sabe, a história da humanidade tem sido, essencialmente, a
história dos grandes Mensageiros espirituais - Os Quais, de tempos em tempos, nos
momentos de crise humana - surgem do lugar secreto do Altíssimo para ajudar,
inspirar, revelar, conduzir e orientar. É a história da apresentação das ideias trazidas à
consideração da humanidade e gradualmente convertidas em civilizações e culturas. É
tal a urgência da necessidade humana nestes momentos e tão oportuna a ocasião, que
um desses Filhos de Deus - durante este ciclo de tensão - trata de colaborar com o
Cristo. Como resultado da decisão do Cristo e de Sua "fusão espiritual" com a Vontade
de Deus, o Avatar de Síntese converteu-se, temporariamente, em Seu íntimo
colaborador. Este é um acontecimento de importância suprema e planetária. Sua
relação e plano de ajuda datam do pronunciamento da Grande Invocação, e de seu uso
pelos homens, no mundo inteiro. Devido à magna tarefa, com a qual o Cristo se está
defrontando, será fortalecido e apoiado pelo Avatar de Síntese; este "Silencioso
Avatar" (falando simbolicamente) "manterá Seu olho sobre Ele, Sua mão debaixo d’Ele
e Seu coração palpitará ao uníssono com o Seu".
Este Ser está estreitamente relacionado com o aspecto Vontade da divindade e
Sua colaboração foi possível devido à própria realização do Cristo no aspecto mais
elevado da vontade espiritual. Atua de acordo com a grande Lei de Síntese, produzindo
unidade, unificação e fusão. Sua função (uníssona com a energia do Cristo) consiste em
gerar vontade espiritual na humanidade, a vontade para o bem; Seu poder atua em
três campos de atividade nestes momentos:
a. Na Hierarquia espiritual, revelando a natureza divina da vontade para o bem,
que deve expressar o Reino de Deus e também a natureza do Propósito divino.
b. Na Assembleia das Nações Unidas, porém não no Conselho de Segurança;
gerando ali uma lenta mas crescente vontade para a unidade.
c. Nas massas de homens de todo o mundo, estimulando um impulso para lograr
um melhoramento geral.
Sua atividade constitui, forçosamente, a atividade das massas, porque Ele só pode
canalizar Suas energias através da consciência das massas ou por meio de uma
entidade que possua consciência do grupo, tal como a Hierarquia, as Nações Unidas ou
a Humanidade. O ponto central de Seu esforço e o Agente por meio do qual se pode
efetuar a distribuição de Sua energia é o Novo Grupo de Servidores do Mundo; este
Grupo está relacionado em forma excepcional com este Avatar de Síntese. O objetivo
principal do Novo Grupo de Servidores do Mundo é, e tem sido sempre, reunir todos os
agentes de boa vontade, que respondem à energia da divina vontade para o bem. Seu
trabalho pode ser intensificado, construtiva e criadoramente, mediante a associação do
Avatar de Síntese e o Cristo. Sua tarefa consiste em introduzir a Nova Era, na qual
começarão a funcionar, como um todo criador, os cinco reinos da natureza. Seu
trabalho pode ser classificado por setores, funções ou atividades:
a. Chegar a uma síntese ou união humana, que conduzirá a um reconhecimento
universal da humanidade una como resultado de corretas relações.
b. Estabelecer corretas relações com os reinos sub-humanos da natureza, que
43
conduzam ao reconhecimento de que só existe Um Mundo.
c. Ancorar o Reino de Deus, a Hierarquia espiritual de nosso planeta, abertamente
sobre a Terra, o que conduzirá ao reconhecimento universal de que os filhos dos
homens são uno.
Estes objetivos serão apoiados e ajudados pelo Avatar de Síntese, e com este
propósito se uniu ao Cristo, trabalhando através da Hierarquia, recebendo instruções
do "centro onde a vontade de Deus é conhecida". Estes três acontecimentos, pontos de
distribuição de energia, estão relacionados e entraram em atividade durante o período
de tensão que atravessam, na atualidade, o Cristo e a Hierarquia. Servem para
reorientar a energia e enfocá-la sobre a humanidade, pois são o resultado da decisão
tomada pelo Cristo, depois de Seu momento de crise, e estão vinculados com a
preparação hierárquica para o reaparecimento do Cristo.
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CAPÍTULO V
OS ENSINAMENTOS DO CRISTO
O Estabelecimento de Corretas Relações Humanas
A Lei do Renascimento
A Revelação do Mistério da Iniciação
A dissipação da Fascinação
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Torna-se impossível expor aqui as poucas verdades que serviram para orientar o
desenvolvimento da humanidade na antiga Atlântida, posto que constituam uma
base sólida de todo o ensinamento posterior. Podemos estudar (como fundamento
do ensino que Cristo difundirá depois de Seu reaparecimento) vários conceitos de
menor importância que estão contidos, hoje, nos ensinamentos de todas as religiões
mundiais, os quais deveriam ser apresentados ao público pelos modernos instrutores
religiosos.
O primeiro desses Instrutores pertence a uma época tão remota que não se pode
dizer com exatidão a data em que viveu. Seu nome, inclusive, foi modernizado e
atribuído a um antigo herói e instrutor, chamado Hércules. Apresentou ao mundo,
através de um histórico drama mundial (de natureza simbólica), o conceito de uma
grandiosa finalidade, alcançável tão somente por meio de lutas e dificuldades. Traçou
uma meta que os homens deveriam alcançar, sem levar em conta os obstáculos.
Estes foram representados nos "Doze Trabalhos de Hércules", os quais eram mitos e
não acontecimentos reais. Desta forma representou, para os que tinham olhos para
ver e coração para compreender, a natureza do problema que teriam de resolver, no
Caminho de Retorno a Deus. Descreveu o regresso do Filho Pródigo ao Lar do Pai, e as
provas e esforços que têm de enfrentar todos os aspirantes, discípulos e iniciados,
igualmente enfrentados por todos os que hoje formam a hierarquia espiritual. Ao
considerar essa assertiva, deve-se também incluir o Cristo, por haver sido "tentado em
tudo", segundo nossa semelhança (Hebreus 4,15), não obstante haver triunfado nas
provas e obstáculos.
Em data também desconhecida, veio Hermes. Segundo se disse, foi o primeiro em
proclamar-se a "Luz do Mundo". Mais tarde, apareceu o grande Instrutor Vyasa.
Trouxe uma mensagem singela e necessária, no sentido de que a morte não é o fim.
Desde essa época, a humanidade começou a pensar sobre a possível imortalidade da
alma. Instintiva e debilmente o homem havia nutrido a esperança e pressentido que o
abandono do veículo físico não constituiria o fim de toda a luta, do amor e aspiração
humanos; naquelas épocas primitivas, somente predominavam o sentimento e o
instinto; as massas não possuíam a capacidade de pensar, como na atualidade. No
período culminante em que vivemos, o trabalho de todo o movimento espiritualista
constitui, em realidade, a emergência daquela corrente de energia mental e da ideia
que Vyasa implantou na consciência humana, há milhares de anos. O esforço que
realizam os intelectuais para demonstrar a possibilidade científica da imortalidade,
também faz parte desta grande corrente, levada a níveis intelectuais, salvando, assim,
o trabalho realizado por Vyasa, das brumas, da fascinação e da imoralidade psíquica,
que hoje o envolve. A realidade da imortalidade está a ponto de ser provada
cientificamente. Já foi comprovada a sobrevivência de determinado fator, se bem que
o demonstrado como sobrevivente, não é em si, intrinsecamente imortal. A natureza
real da alma e sua sobrevivência, frente à eterna vivência, são uma só e mesma coisa
e não foram ainda comprovadas cientificamente. Entretanto, são verdades conhecidas
e aceitas hoje por milhões de homens e por inumeráveis intelectuais, os quais - a
menos que constitua um histerismo e engano coletivo - têm pressentido sua
existência.
57
Buda é o Instrutor ao qual nos referiremos a seguir, apesar de haverem existido
outros, entre Sua época e a de Vyasa. Durante esses séculos, cuja história é
relativamente obscura e vaga, a inteligência dos homens se desenvolvia rapidamente,
e a percepção investigadora do gênero humano se apresentava cada vez mais ativa. As
indagações - para as quais não existe uma aparente nem mesmo fácil resposta - foram
formuladas por um grupo de pensadores da Índia, representando os pensadores de
todos os países de então. Propuseram repetidas perguntas sobre por que existem a
dor e a miséria em todos os recantos da Terra e em cada vida; qual seria a causa disto
e que se deveria fazer para melhorar as condições de vida; queriam saber,
igualmente, qual era o princípio integrante do homem; se era a alma e se existia um
eu. O Buda veio para dar a resposta a todas essas indagações e firmar as bases de um
enfoque mais iluminado à vida, difundindo os ensinamentos que preparariam o
caminho para o trabalho do Cristo, que, Ele sabia, haveria de seguir Seus passos.
É interessante relembrar que, quando veio o Buda, aproximadamente
quinhentos anos antes de Cristo (pois a data exata do nascimento de Cristo ainda se
discute), podiam sentir-se as primeiras tênues influências da Era Pisciana fazendo
impacto sobre a poderosa qualidade da era de Áries, a vítima propiciatória ou o
carneiro. Foi a influência dessa era - persistindo através da dispensação judaica - que
conduziu, finalmente, à deformação dos simples ensinamentos de Cristo, quando Ele
veio. Foi apresentado, erroneamente, ao mundo como a vivente vítima propiciatória
que carregou com os pecados da humanidade, originando, assim, a doutrina da
expiação vicária. São Paulo foi o responsável por isso. Um exemplo análogo de
distorção, também teve origem judaica, aparecendo nas primeiras etapas do ciclo de
Áries, o carneiro. Afirmou-se que os Filhos de Israel se prosternaram ante o bezerro
de ouro, o símbolo de Taurus, o touro, e o adoraram; este foi o ciclo astronômico
precedente, cujos períodos são ciclos astronômicos e não signos astrológicos. Nas
primeiras etapas de Áries, o ensinamento retrocedeu ao de Taurus, e nas primeiras
etapas de Piscis retrogradou ao de Áries, e assim se iniciou a regressão do
ensinamento que agora domina a tantos cristãos ortodoxos.
Buda respondeu às interrogações de Sua época, difundindo as Quatro Nobres
Verdades, que esclarecem, satisfatoriamente, o eterno porquê do homem. Estas
verdades podem ser sintetizadas da seguinte maneira: Buda ensinou que a miséria e
o sofrimento eram produzidos pelo próprio homem, e que a tendência do ser
humano para o indesejável, efêmero e material, é a causa de todo desespero, ódio e
competição, e a razão pela qual o homem vive no reino da morte - o reino da vida
material, que é a verdadeira morte do espírito. Buda fez uma excepcional abordagem
dos ensinamentos disseminados por Hércules e Vyasa, e coadjuvou na estruturação
da verdade que Entre estes dois grandes Instrutores, Buda e Cristo, apareceram
instrutores menores, a fim de ampliar as verdades fundamentais já dadas. Entre
estes, Sankaracharya foi um dos mais importantes, porque deu profundas instruções
sobre a natureza do Eu. Também deve ser citado Shri Krisna, o Instrutor que figura no
Bhagavad-Gita, e que muitos creem ter sido uma encarnação anterior do Cristo.
Desta maneira, as verdades fundamentais sobre as quais se baseia a relação com
Deus (e, portanto, com nossos semelhantes), são sempre difundidas pelo Filho de
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Deus que, em um determinado período mundial, é o Guia instrutor da Hierarquia
espiritual.
A seu devido tempo, o Cristo veio e deu ao mundo (sobretudo por intermédio de
Seus discípulos) duas verdades principais: a realidade da existência da alma humana
e, em segundo lugar, o sistema do serviço como meio (emprego esta frase
deliberadamente) para estabelecer corretas relações - com Deus e com os nossos
semelhantes. Disse aos homens que todos eram filhos de Deus, no mesmo sentido
que Ele; apresentou de muitas maneiras simbólicas o que era e quem era Ele,
assegurando-lhes que podiam fazer coisas ainda mais grandiosas, porque eram tão
divinos como Ele. Estas coisas mais grandiosas, a humanidade já as fez, no plano
físico. Também controlou sua natureza, como Cristo sabia que os homens o fariam,
porque conhecia a atuação da Lei de Evolução. Ensinou que o serviço constituía a
chave da libertação. Também lhes ensinou, por meio de Sua própria vida, a técnica de
servir, fazendo o bem, curando enfermos, predicando e instruindo sobre as coisas do
Reino de Deus e dando de comer, física e espiritualmente, aos famintos. Fez da vida
cotidiana um âmbito divino de vivência espiritual, acentuando, assim, o ensinamento
de Buda, de não desejar nada para o eu separado. Assim Cristo ensinou, amou e
viveu, levando adiante a magna continuidade da revelação e do ensinamento
hierárquico; entrou, então, no arcano, deixando-nos Seu exemplo para que
pudéssemos seguir Seus passos (Pedro 2,21), imitando-o em Sua fé na divindade, em
Seu serviço e em Sua capacidade para penetrar nessa esfera de consciência e nesse
campo de atividade, a que chamamos a verdadeira igreja de Cristo, a Hierarquia
espiritual - atualmente invisível - de nosso planeta, o verdadeiro Reino de Deus. O véu
que oculta a verdadeira igreja está por desaparecer e o Cristo está a ponto de
reaparecer.
A luz do passado e das atuais necessidades da humanidade, às quais o Cristo e a
Hierarquia devem satisfazer, que ensinamento será difundido desta vez? Tal é a
pergunta formulada agora por Seus discípulos. Provavelmente, Sua instrução versará
sobre quatro pontos. Faríamos bem em considerarmos cada um em separado, e nos
empenharemos em compreender e preparar a mente humana para receber aquilo
que Ele há de dar.
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CAPÍTULO VI
A NOVA RELIGIÃO MUNDIAL
O mundo atual, mais que nunca, se inclina para o espiritual. Isto se diz, apesar da
ideia, geralmente aceita, de que o mundo dos homens está naufragando
espiritualmente, e que em nenhuma momento da vida espiritual da raça humana se
alcançou um nível tão baixo. Tal conceito se deve, em grande parte, ao fato de que a
humanidade não está grandemente interessada na apresentação ortodoxa da
verdade, razão por que as igrejas se acham quase vazias e acusadas, publicamente,
de não haver ensinado a viver corretamente. Estas afirmações, lamentavelmente,
têm fundamento, porém a realidade é que os seres humanos buscam, em toda parte,
a liberação espiritual e a verdade, e que o verdadeiro espírito religioso se acha,
fundamentalmente, mais vivo que nunca. Isto é especialmente certo em relação a
esses países que mais sofreram durante a última guerra mundial (1914-1945). Os
Estados Unidos e os países neutros não mostram ainda sinais de um verdadeiro
renascimento espiritual. Os demais países estão espiritualmente vivificados - não em
sentido ortodoxo, mas numa busca sincera e porque demandam, vitalmente, por luz.
O espírito religioso da humanidade se acha, hoje, mais decididamente enfocado
na Realidade, do que jamais o esteve. As religiões ortodoxas mundiais estão sendo,
rapidamente, relegadas a um segundo plano, pela mente dos homens, enquanto nos
estamos, indubitavelmente, acercando à Realidade espiritual central. As teologias
que hoje se ensinam nas organizações eclesiásticas (tanto no Oriente como no
Ocidente) estão cristalizadas e são de pouca utilidade. Sacerdotes e eclesiásticos,
instrutores ortodoxos e fundamentalistas (fanáticos ainda que sinceros) tentam
perpetuar o antiquado que, se bem bastasse, no passado, para satisfazer ao que
buscava, hoje não preenche, mais seu objetivo. Homens religiosos sinceros mas não
iluminados, deploram a rebeldia da juventude contra as atitudes doutrinais. Ao
mesmo tempo, conjuntamente a todos os que buscam, exigem uma nova revelação.
Buscam algo novo e cativante para atrair, novamente, as multidões para Deus.
Temem ter que renunciar a alguma coisa e buscar novas interpretações de antigas
verdades, porém não conseguem conscientizar que há que obter uma nova
perspectiva da Verdade (como está no Cristo); sentem a aproximação de novas e
iminentes revelações espirituais, porém têm medo de enfrentar seus efeitos
revolucionários. Formulam-se indagações e estão envolvidos em profundas e
perturbadoras dúvidas. Como se poderá observar, as respostas provêm de duas
fontes (e continuarão provindo): das massas pensantes, cuja crescente percepção
intelectual é a causa da rebelião contra a religião ortodoxa, e dessa influente fonte de
verdade e de luz que, infalivelmente, trouxe a revelação, no transcurso das épocas.
As respostas não virão até onde se pode prever, de nenhuma organização religiosa,
seja ela asiática, ou ocidental.
Algumas destas perguntas podem ser expressas da seguinte maneira:
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Por que a igreja foi incapaz de deter a avassaladora expressão do mal,
evidenciado na última guerra mundial?
Por que a religião resultou inadequada para satisfazer a necessidade da
humanidade?
Por que os pseudo-guias espirituais do mundo religioso foram incapazes de
ajudar a solucionar os problemas do mundo?
Por que os instrutores cristãos, como expoentes do Deus do Amor, têm sido
impotentes para deter a exacerbação, sem precedentes, do ódio no mundo atual?
Por que a maioria desses instrutores é tão sectária, separatista e exclusivista, em
sua aproximação à Verdade, não obstante haver uma minoria espiritual e de critério
amplo?
Por que a juventude recusa acorrer à igreja, e não tem interesse em aceitar as
doutrinas que se lhes apresentam?
Por que ronda a morte e não a vida, atualmente, no mundo?
Por que surgem tantos novos cultos que desviam o público das organizações
ortodoxas de caráter religioso?
Por que os movimentos "Christian Science", "Unity" e o Novo Pensamento
atraem as pessoas, afastando-as das organizações bem estabelecidas? Observe-se o
emprego da palavra "organizações", pois contém a chave do problema.
Por que há um crescente interesse para com as teologias orientais, as diversas
yogas, os ensinamentos budistas e os credos orientais?
Por que ensinamentos como a astrologia, a numerologia e diversos rituais
mágicos encontram tantos adeptos, enquanto que as igrejas permanecem vazias, ou
frequentadas apenas pelos anciãos, pelos conservadores e reacionários, ou por
aqueles que as procuram pela força do hábito, ou, ainda, porque se sentem
desesperadamente desditosos?
Finalmente, que existe de mal em nossa apresentação das realidades espirituais
e da Verdade eterna?
Poder-se-iam dar muitas respostas. A mais importante é: a apresentação da
Verdade divina - tal como foi dada pelas igrejas, no Ocidente, e pelos instrutores, no
Oriente - não se manteve à altura do desenvolvimento intelectual do espírito humano.
Apresentam-se, ainda, ao que busca, as mesmas palavras ou ideias que de forma
alguma o satisfazem, mentalmente, nem respondem às suas necessidades práticas,
neste mundo cheio de dificuldades. Pede-se-lhe que creia e que não duvide, porém
não se lhe pede que compreenda; diz-se-lhe não ser possível que compreenda,
entretanto pede-se-lhe que aceite as interpretações e as afirmações de outras men-
tes, que pretendem possuir e compreender a Verdade. Não crê que as mentes e
interpretações alheias sejam melhores que a própria. As mesmas velhas fórmulas,
teologias e interpretações são consideradas adequadas para enfrentar as
necessidades e investigações atuais do homem moderno, porém não o são, na
realidade. A igreja de hoje é a tumba do Cristo e a lápide da teologia foi arrastada até
a porta do sepulcro.
Entretanto, não tem nenhum sentido atacar o cristianismo.
Este não pode ser atacado, pois é a expressão, em essência pelo menos, do amor
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de Deus, imanente em Seu universo criado. Não obstante, o clericalismo se expôs ao
ataque, e a massa pensante se dá conta disso - mas desgraçadamente estas pessoas
constituem ainda minoria. Esta minoria pensante (quando for maioria, e, aliás, hoje
vai aumentando rapidamente) determinará o destino das igrejas e garantirá a difusão
do verdadeiro ensinamento do Cristo. Não é possível que Ele esteja satisfeito com os
grandes templos de pedra, construídos pelos eclesiásticos, enquanto Seu povo está
desorientado e não se lhe tem proporcionado luz sobre os assuntos do mundo; Com
grande dor há de sentir que a simplicidade com que ensinou e o simples caminho
para Deus que explicou, se perderam entre as brumas da teologia (iniciada por São
Paulo), e discussões dos eclesiásticos, no transcurso dos séculos. O ser humano se
apartou da simplicidade de pensamento e da simples vida espiritual dos primitivos
cristãos. É lógico que o Cristo considere errôneas e indesejáveis a vida separatista da
igreja e a arrogância dos teólogos (fazendo divisão, como têm feito, entre crentes e
não crentes, cristãos e ateus, pseudo iluminados e pseudo ignorantes), contrárias a
tudo o que Ele mesmo sustentou e admitiu quando disse: "Também tenho outras
ovelhas que não são deste redil" ( João 10,16).
O mal reinante no mundo não impede a revelação nem obsta o desenvolvimento
da vida espiritual, porque esse mal é resultado da má compreensão e da errônea
orientação imprimida à mente humana, bem assim da importância dada às coisas
materiais provocada por épocas em que prevaleceu a competição; decorre do
fracasso das organizações religiosas de todo o mundo em preservar a verdade em
toda a sua pureza e evitar a ideia fanática de que a interpretação da verdade, por um
indivíduo deve, necessariamente, ser a única e a correta. Os teólogos se têm
esforçado, sinceramente, defendendo frases que acreditaram ser as únicas e corretas
como expressão da ideia divina, ficando Cristo esquecido, por trás dessas palavras; os
eclesiásticos concentraram todo seu esforço e capacidade em reunir fundos para a
construção de edifícios, enquanto que os filhos de Deus seguem desnudos e famintos,
perdendo, assim, sua fé no amor divino.
Como se pode socorrer a humanidade e oferecer-lhe orientação espiritual se os
guias das igrejas estão tão ocupados em interesses temporais; se a Igreja Católica
Romana, a Igreja Grega Ortodoxa e as Igrejas Protestantes fazem finca-pé na pompa e
na cerimônia; nos grandes templos e catedrais; nos vasos de ouro e prata para a
comunhão dos fiéis; nos barretes escarlates; nas indumentárias coalhadas de joias, e
em todo o exibicionismo tão apreciado pela mentalidade eclesiástica? Como podem
ser socorridas as crianças que morrem de fome, em todo o mundo, e em particular na
Europa, se o Papa e os Bispos pedem dinheiro para construir catedrais e erigir mais
igrejas, quando as existentes estão vazias? Como pode brilhar de novo a luz na mente
dos homens se os eclesiásticos mantêm os povos atemorizados, se não aceitam as
antigas interpretações teológicas nem os antigos caminhos para acercar-se a Deus?
Como se pode fazer frente às necessidades espirituais e intelectuais da gente, se os
seminários teológicos não ensinam nada novo nem apropriado para o dia e época
atuais, e em troca enviam jovens para orientar a humanidade, aos quais são dadas
instruções baseadas em antigas interpretações? Estes jovens começam seu
treinamento e preparação religiosa para o sacerdócio com grandes esperanças e
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visão e logo quedam desesperançados, com muito menos fé, porém com a
determinação de "se sair bem" e alcançar um posto proeminente na igreja.
Surge, ademais, a indagação se Cristo sentir-se-ia à vontade nas igrejas, ao estar,
novamente, com os homens. Os rituais e as cerimônias; a pompa e os ornamentos; as
velas; os ouropéis; as distintas hierarquias: papas, cardeais, arcebispos, cônegos e
curas paroquiais, pastores e clérigos, aparentemente têm pouco interesse para o
simples Filho de Deus, o qual, quando esteve na Terra, não tinha onde repousar a
cabeça.
A apresentação da verdade religiosa, no passado, impediu o crescimento do
espírito religioso. A teologia levou a humanidade às portas do desespero; a delicada
flor da vida crística feneceu nos escuros meandros do pensamento humano. A
fanática adesão às interpretações humanas ocupou o lugar do viver cristão. Milhões
de livros têm obliterado as palavras viventes do Cristo; os argumentos e as discussões
dos sacerdotes têm obscurecido a luz trazida por Buda, e o Amor de Deus, tal como o
revelou a vida do Cristo, foi esquecido, ao mesmo tempo que os homens discutiram
sobre os significados, as frases e as palavras. Entretanto, os homens agonizando,
morrendo de fome, sofrendo, pediam ajuda e ensinamento e, ao se verem não
satisfeitos, perderam a fé.
Hoje, as pessoas de toda parte estão em condições de receber a luz; esperam
uma nova revelação e uma nova dispensação. A humanidade avançou tanto no
caminho da evolução, que essas buscas e expectativas, não só se baseiam em um
melhoramento material, como também em termos de uma visão espiritual, de
valores verdadeiros e corretas relações. Pedem ensinamento e ajuda espiritual;
demandam o alimento necessário, roupa e oportunuidade de trabalhar e viver em
liberdade; enfrentam a fome em quase todas as partes do mundo e, com igual aflição,
experimentam, também, a fome da alma.
Com toda segurança, não incorreremos em erro se chegamos à conclusão de que
essa aflição e demanda espirituais têm merecido a atenção preferencial do Cristo.
Quando Ele reaparecer e também Sua Igreja, até agora invisível, que poderão fazer,
Ele e Sua Igreja, para satisfazer este chamado exigente e intensificada atitude de
percepção espiritual com que serão saudados? Eles veem todo o panorama. A súplica
do cristão por ajuda espiritual; a do budista por iluminação espiritual e a do hindu por
compreensão espiritual (conjuntamente com todos que professam ou não alguma fé)
devem ser satisfeitas. As solicitações da humanidade se elevam até Seus ouvidos, e
Cristo e Seus discípulos não têm escrúpulos sectários, e disso podemos estar seguros.
É impossível crer que Lhes interessem os pontos de vista dos fundamentalistas ou as
teorias dos teólogos sobre a Imaculada Conceição, a Expiação Vicária ou a
Infalibilidade do Papa. A humanidade experimenta necessidades angustiantes e elas
devem ser satisfeitas. Somente grandes e fundamentais princípios de vida, que
abarquem o passado e o presente e provejam um programa para o futuro, poderão
satisfazer esta invocação humana. O Cristo e a Hierarquia espiritual não virão para
destruir tudo o que a humanidade considerou até agora "necessário para a salvação",
nem o que satisfez sua demanda espiritual. Quando o Cristo reaparecer, com toda
segurança desaparecerá o não essencial; permanecerão os fundamentos da fé, sobre
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os quais Ele poderá erigir a nova religião mundial, a que todos os homens esperam.
Esta nova religião deve estar baseada sobre as verdades que suportaram a prova do
tempo e trouxeram bem-estar e segurança aos homens, e estas são:
1 - A Realidade de Deus
Antes de tudo, deve-se reconhecer a Realidade de Deus. Essa Realidade capital
pode ser denominada como o homem quiser, de acordo com sua inclinação mental
ou emocional e sua tradição racial e hereditária, pois não há nome que possa defini-la
nem condicioná-la. Os seres humanos se vêm obrigados a empregar nomes a fim de
expressar o que sentem, percebem e conhecem, tanto na ordem fenomênica como
na tangível. Consciente ou inconscientemente, todos os homens reconhecem o Deus
Transcendente e o Deus Imanente. Sentem Deus como o Criador e o Inspirador de
tudo o que existe.
Os credos orientais têm posto sempre em relevo o Deus Imanente, radicado no
mais profundo do coração humano "mais próximo que as mãos e os pés", o Eu, o
Uno, o Atma, mais pequeno que o pequeno e, não obstante, oniabarcante. Os
ocidentais têm apresentado o Deus Transcendente, fora de Seu universo, como
observador. Deus Transcendente condicionou, antes de tudo, o conceito humano da
Deidade, pois a ação deste Deus Transcendente apareceu nos processos da natureza.
Mais tarde, na dispensação judaica, Deus apareceu como o Jeová patriarcal, como a
alma (um tanto desagradável) de uma nação. Logo, Deus foi considerado como um
homem perfeito, o divino homem-Deus, que caminhou sobre a Terra, na Pessoa de
Cristo. Hoje, a ênfase se põe sobre o Deus Imanente em todo ser humano e em toda
forma criada. Na atualidade, a igreja teria que expor uma síntese destas duas ideias,
que foram resumidas por Shri Krishna, no Bhagavad cita. "Havendo interpenetrado
todo o universo com um fragmento de Mim mesmo, Eu permaneço". Deus mais
grandioso que todo o criado e, não obstante, Deus presente na parte; Deus
Transcendente resguarda o plano de nosso mundo e constitui o Propósito que
condiciona todas as vidas, desde o minúsculo átomo, passando por todos os reinos da
natureza, até chegar ao homem.
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CAPÍTULO VII
PREPARAÇÃO PARA O REAPARECIMENTO DO CRISTO
A Preparação Necessária
O Trabalho do Novo Grupo de Servidores do Mundo
102
CONCLUSÃO
104
MÂNTRAM DE UNIFICACÃO
105
INVOCAÇÃO OU PRECE
ALICE A. BAILEY
106