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Magda Dimenstein
(Organizadores)
Natal, 2013
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
Reitora Editor
Ângela Maria Paiva Cruz Helton Rubiano de Macedo
Vice-Reitora Revisão
Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes Paula Frassinetti dos Santos
ISBN: 978-85-425-0052-3
CDD 81,1
RN/UF/BCZM 2013/16 CDU 410
Prefácio ................................................................................................ 13
Apresentação ....................................................................................... 19
O processo de interiorização da
Psicologia e o meio rural
Dois aspectos marcaram a entrada da Psicologia no século
XXI, no contexto brasileiro: a interiorização da profissão e dos cur-
sos de formação em Psicologia por todo o território nacional.
Sobre o primeiro aspecto, registra-se que dos 236.100 psicó-
logos inscritos no Sistema Conselhos de Psicologia de todo o país,
48% atuam nas cidades do interior, destacando aquelas de médio
e pequeno porte, enquanto 32% estão localizados nas capitais
(Bastos, Gondim, & Rodrigues, 2010). Quanto ao funcionamento
da formação de psicólogos, observa-se que dos 510 cursos existen-
tes, 52% estão localizados nas cidades do interior enquanto 48%
estão nas capitais. Especificamente sobre os cursos localizados no
interior, pelo menos 105 funcionam em municípios de médio porte
(100 a 300 mil hab.), 59 cursos estão em municípios de médio-
-pequeno porte (50 a 100 mil hab.) e 35 cursos em municípios de
pequeno porte (menos de 50 mil hab.) (Macedo, 2012).
A tendência à interiorização do exercício profissional e das
agências formadoras em Psicologia é resultado tanto da estrutura-
ção de uma rede de serviços ligados ao campo do bem-estar social,
ou seja, fruto da municipalização das políticas de saúde e assistên-
cia social, quanto pela implantação de projetos e outros dispositivos
de reforma e expansão da educação superior, que no setor público
efetuou-se pelo REUNI e o PRONATEC e no setor privado advém
da busca por novos mercados, especialmente na região Nordeste,
com incentivos do PROUNI e o FIES.2
5 Conceito criado por Michel Foucault para dar visibilidade ao regime político
que toma a vida em seu aspecto biológico, subjetivo e social como objeto de
intervenção. Com a biopolítica não apenas os indivíduos tornam-se foco de in-
tervenção dos diversos aparelhos do Estado, mas também as populações, por
meio de mecanismos de regulação e controle, ou seja, de gestão e governo de
condutas e subjetividades (Foucault, 2008).
36 | Psicologia e contextos rurais
1996; Campos, 1999; Góis, 2005; Brandão & Bonfim, 1999; Ieno
Neto, 2007), com trabalhos em torno das categorias de estudo da
Psicologia Social, tais como identidade, atividade e consciência,
bem como dos processos comunitários de organização participa-
tiva e emancipação (Lane, 1994; Lane & Sawaia, 1995; Ieno Neto et
al., 1985).
Outro campo marcadamente presente são as contribuições
advindas da Educação Popular (Freire, 1987, 2005), com as ações
de alfabetização de jovens e adultos, dos círculos de cultura, com
vistas a um processo de tomada de consciência dos mecanismos de
exploração vividos pelos agricultores familiares na sua relação de
trabalho com a terra.
Um terceiro campo tem relação com os Direitos Humanos
(Zenaide, 2006) na busca pela garantia do direito de acesso à terra,
nas denúncias de violação de direitos sofridos por trabalhadores
que lutam por terra, em busca da permanência no seu território ou
do seu reconhecimento.
Entendemos que na atuação do profissional de Psicologia,
bem como no seu processo de formação, algumas diretrizes neces-
sitam ser perseguidas para que possamos avançar no compromisso
social dessa ciência e profissão:
1. Conhecer a dinâmica histórica, social e política do nosso pais
no que tange ao conjunto de lutas sociais deflagradas em torno
da democratização e do acesso à terra. O Brasil se configura
mundialmente como um dos países de maior concentração
fundiária do mundo e isso impacta diretamente na produção
da existência de inúmeros trabalhadores e trabalhadoras que
vivem no campo. Aqui, entendemos ser fundamental apreender
a heterogeneidade que se formou no meio rural brasileiro por
meio dos variados modos de relação com a terra, bem como dos
processos sociais gerados nesse contexto.
48 | Psicologia e contextos rurais
Considerações finais
Sem dúvida alguma que estamos diante de um campo de
discussões recente na Psicologia, embora possamos dizer que as
contribuições até aqui produzidas são inquestionáveis.
É forçoso reconhecer, dado o cenário atual, que nossas
agendas de pesquisa, ações de extensão e atuação profissional
necessitam incorporar as questões levantadas no presente capítulo,
a exemplo do processo de interiorização da formação e atuação em
Psicologia, das novas ruralidades que se desenham no campo bra-
sileiro e da diversidade de atores sociais e dos processos de subjeti-
vação inaugurados.
As possibilidades de atuação do psicólogo no que diz
respeito ao meio rural e toda diversidade que ele se reveste são
múltiplas. O cotidiano de vida das pessoas dota-se de uma hetero-
geneidade e intensidade que permite uma variedade de interlocu-
ções com tal riqueza. O que se apontou, até aqui, pode ser tomado
como ponto de partida ou de reflexão para proposições outras.
Desdobramentos podem surgir e o convívio com as comunidades
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Referências
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dizem os extrativistas. Revista da Adusp, 52, 22-28.
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Recuperado em 26 de abril de 2013, de http://www.cptnacional.org.br/
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brasil-publicacao/316-conflitos-no-campo-brasil-2012?Itemid=23.
Ieno Neto, G., Nunes, B., Malheiro, D., Moreira, E., Conserva, M., Souza, M.,
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São Paulo: Edicon.
Psicologia e contextos rurais | 55
dos sujeitos migrantes podem nos dar pistas sobre que projetos
estão em questão e suas possibilidades de realização.
Referências
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Testa, V. M.(1998). Juventude e agricultura familiar: desafios dos novos
padrões sucessórios. Brasília: UNESCO.
Introdução
1 É denominado Polígono das Secas uma área de 950mil km2, que compreen-
de mais da metade da região Nordeste, indo do Piauí a Minas Gerais. Essa
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delimitação já é uma revisão e foi feita pelo governo federal em 1951, através da
lei nº 1. 348.
Psicologia e contextos rurais | 93
Medo do desconhecido
Apego ao lugar
Desemprego
Subemprego
a) Humilhação no trabalho
gente. Por isso, não tem...não tem emprego, por isso que
a pessoas tem de aceitar (sexo masculino, 19 anos).
b) Baixos salários
G2:S1- Por isso que é difícil a gente ficar por aqui, a opor-
tunidade de emprego aqui é pouco, a gente quer sair,
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O desejo de estudar
G3:S2 - Meu irmão foi pra São Paulo trabalhar lá. Lá ele
chegou e começou a trabalhar de... fazendo entrega de
pão, ganhava 450, só fazendo entrega no horário comum
e tudo. Com dois meses que ele tava lá passou a trabalhar
na (nome de empresa) e tá ganhando 800 reais. E agora
ta com sete meses que ele ta lá, com dois meses, quase
três meses ele já tá ganhando 800 reais. Aí optar por tá
aqui, não. Por isso que eu também pretendo ir, pretendo
não, já era pra mim tá lá, sabe? Eu ainda não fui porque
eu não consegui o apoio do diretor, não consegui o apoio
do diretor, não deu pra mim viajar, mas se eu passar por
média, no dia 2 eu viajo! Já estou com emprego, casa
certa, é só viajar. (Sexo masculino, 18 anos)
Referências
Albuquerque, F. J B. (2002). Psicologia Social e Formas de Vida Rural no Brasil.
Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 18, p. 37- 42, jan./ abr.
O Povo, dia 28/4/2012 Cearenses lideram ranking dos que retornam para casa.
Referências
Albuquerque, F. J. B. (2002, janeiro-abril). Psicologia Social e Formas de Vida
Rural no Brasil. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 18 (1), 37-42.
php?script=ci_arttex&pid=S0103-65642003000100006&Ing+en&nrm=
iso.
Introdução
ventura que fue cuntra nuz, Por tierraz estrañaz nuz tienen perdi-
daz” (Ibidem, 1965, p. 645).
Na sua itinerância e possuindo aptidões excelentes para
o negócio e comércio, os ciganos prestaram serviços notáveis à
sociedade europeia. Durante centenas de anos, quando não exis-
tiam hipermercados, as novidades chegavam ao mundo rural tra-
zidas por eles. Caraterizaram-se desde o início pela sua errância
e nomadismo revelando atualmente, e devido à pressão da socie-
dade maioritária, tendência para a sedentarização. Mantiveram ao
longo de vários séculos as suas tradições, quase sempre discrimi-
nadas pelos povos não ciganos. As referências negativas e depre-
ciativas em relação a esta etnia são uma constante, assim como as
perseguições e as tentativas de assimilação por parte da maioria,
consubstanciadas na profusão de leis persecutórias, sobretudo na
Península Ibérica. Ainda hoje a discriminação é notória, havendo
comerciantes que, para afastar os ciganos das suas lojas, colocam
nas suas vitrines sapos de louça, considerados portadores de infor-
túnio pela etnia.
Há autores como Moscovici (2009) que comparam a diás-
pora cigana à judia. Ambos os povos foram vítimas do holocausto
nazi, durante a Segunda Guerra Mundial. Estima-se terem sido
exterminados cerca de 500.000 ciganos nos campos de concen-
tração entendendo-se que este número peca por defeito (Fraser,
2000). A perseguição ao povo judeu terá acalmado substancial-
mente após a guerra, não podendo o mesmo ser dito em relação aos
Romaní. “Los gitanos fueron probabelmente los primeros refugia-
dos de Europa” (Rodríguez, 2011, p. 59).
Trata-se da principal minoria étnica da Europa, composta
por doze milhões de indivíduos, concentrados maioritariamente
no leste europeu. É, contudo, de salientar, que o Brasil é o segundo
país do mundo com a maior população de ciganos (um milhão),
só ultrapassado pela Roménia (Rodríguez, 2011). Em Portugal,
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6 O termo gachó, deriva do caló, dialeto ibérico da etnia cigana, usado para refe-
rir, pejorativamente, os brancos, os “outros”. Evoluiria no português para “gajo”.
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A toxicodependência e a saúde
mental entre os ciganos
De uma forma geral as comunidades ciganas não procuram
os serviços de saúde excepto em casos limite. Para a comunidade,
saúde, é sinónimo de ausência de doença. Recorrem às urgências
hospitalares em situações graves, sendo alheias à prevenção. Na
toxicodependência e na saúde mental essa situação é assaz notória.
De uma maneira geral os ciganos têm uma relação proble-
mática com a doença, que é assustadora e vivida com medo, daí
os mitos e lendas transmitidos pela oralidade, por exemplo, uma
família com um membro canceroso esconde essa realidade dado
que as suas crenças consideram esse tipo de doença uma maldição
de Deus. Revelam, igualmente, fraca consciência em relação à pos-
sibilidade de prevenção e tratamento, daí que qualquer problema
de saúde seja vivido como um luto.
As crianças ciganas crescem, maioritariamente, num
ambiente insalubre, sem acompanhamento higieno-sanitário,
sem vacinas, não só pelo receio em relação dos seus efeitos, como
também devido à forma como os pais entendem o tempo, assu-
mido como entidade ligada aos ciclos da natureza e não ao tempo
medido por Greenwich. O esquecimento de prazos e datas não é
considerado relevante. A noção de espaço e tempo é difusa.
A alimentação é deficiente e irregular com uma notória
exiguidade de pratos quentes. O exercício físico não é praticado
quer por crianças quer por adultos. Os hábitos de higiene pessoais
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Género Escolaridade
Id. média N.º de
de procura filhos
da primeira por 4 6 9 12
consulta Masc. Fem. casal Analfabetos anos anos anos anos
Comorbilidade psiquiátrica
Doença orgânica
Ciganos 83% 6% 5% 6% 0%
Mestiços 76% 0% 8% 8% 8%
Considerações finais
Após esta análise sobre a situação da comunidade cigana
portuguesa, com enfoque na problemática da toxicodependência e
dos transtornos mentais associados, com análise de factores endó-
genos e exógenos que conduziram à actual situação, o futuro afi-
gura-se como extremamente preocupante. Num país em profunda
crise socioeconómica, em que os cortes estatais acontecem a um
ritmo alucinante, navegando o país em águas muito conturbadas,
os cortes orçamentais impostos ao Serviço Nacional de Saúde per-
mitem-nos considerar que a comunidade cigana, a par com outras
franjas desfavorecidas da população portuguesa, sofrerá muito nos
próximos tempos.
Numa época em que se antevê o desaparecimento das
Equipas de Tratamento, com canalização dos usuários para Centros
de Saúde onde é, igualmente, atendida toda a restante população,
sem profissionais devidamente preparados para as especificidades
dessa minoria da população e de outras, onde o atendimento não
poderá ter, necessariamente, a qualidade e o tempo que sempre tem
nos serviços especializados, resultados nefastos são previsíveis.
O Relatório de Primavera 2012 do Observatório Português
dos Sistemas de Saúde traça o retrato de um país com um Serviço
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Referências
Aires, S. & Alves, I. (2003). Portugal Country Report. In Marginalia. Bufo. M.
(Org.). pp. 183-228. Martinsicuro. On The Roads Edizione.
2 Segundo Calegare (2012), as Resex foram criadas nos anos 1980, pelos movi-
mentos sociais dos seringueiros do vale do rio Acre associados aos de outras re-
giões amazônicas, com objetivo de garantir a defesa de suas áreas de reprodução
socioeconômica. As RDSs, cuja primeira foi criada no estado do Amazonas nos
anos 2000, têm como principal característica a cogestão da área por cientistas,
administradores e população local, uso participativo e sustentado dos recursos
naturais.
Psicologia e contextos rurais | 177
O método em questão
No caso amazônico, estamos lidando com um cenário de
alta bio e sociodiversidade, presentes em uma área continental,
que exige que enfrentemos alguns desafios na condução de pes-
quisas: a) dispor de condições logísticas apropriadas para percorrer
longas distâncias e enfrentar as intempéries ambientais; b) tra-
balhar com equipes interdisciplinares, uma vez que o foco são as
questões socioambientais que abarcam uma multiplicidade disci-
plinar de pontos de vista. Adiante exploraremos em detalhes essas
colocações.
Sabemos que o método, em ciência, pode ser entendido
como o caminho para se chegar a um objetivo. No entanto, a impo-
nência da Amazônia faz com que tenhamos que ponderar que
esse percurso científico não seja apenas de ordem interna, isto é,
das teorias e procedimentos técnico-práticos. Existe uma série de
externalidades presentes em todos os estudos, que raramente são
consideradas nos aspectos metodológicos e que influenciam dire-
tamente nas condições de produção do conhecimento.
A primeira delas é a dimensão continental da Amazônia,
cujo bioma ocupa praticamente 60% do território nacional5 e que
faz com que tenhamos que percorrer longas distâncias para chegar-
mos a algumas localidades. Em particular no estado do Amazonas,
não há praticamente estradas ou rodovias construídas, sendo os
rios os únicos percursos possíveis por onde transita a população
da região. Isso faz com que o veículo principal de viagens seja o
barco, que demora dias para alcançar certos destinos relativamente
próximos numa medida linear. Em nossas experiências, já parti-
cipamos de trabalhos em que levamos oito dias para chegar até o
local desejado. Isso implica em ponderar três aspectos-chave: a)
ter condições logísticas disponíveis para as equipes de pesquisa,
como barco e voadeiras (pequena embarcação de metal com motor
de popa); b) dispor de alto orçamento para gastar com aluguel de
veículos náuticos, combustível e piloto com saber de navegação
local, além de alimentação, hospedagem, equipamentos, remédios
etc.; c) ter tempo para estar em campo, sem meio de comunicação
externa, e desobrigando-se de afazeres pessoais e profissionais no
local de residência. A soma desses fatores faz com que pesquisas
na Amazônia sejam extremamente onerosas, o que nem sempre é
compreendido pelas agências financiadoras e, consequentemente,
não haja verbas suficientes para sua concretização.
A segunda externalidade se refere às intempéries ambien-
tais desse bioma. Na Amazônia a sazonalidade das estações varia
apenas entre verão (seca) e inverno (chuvas). Além disso, o ciclo
das águas varia conforme a região, obedecendo à seguinte sequên-
cia: enchente, cheia, vazante e seca. Essas variações trazem difi-
culdades de locomoção, pois o nível das águas pode estar muito
baixo ou muito alto e, com isso, simplesmente não se chega em
determinadas localidades, que ficam isoladas por um bom período
do ano. Também trazem dificuldades seja pelo enfrentamento do
Levantamentos socioambientais
Nem sempre as UCs são homologadas com base em conhe-
cimento a respeito das condições de flora, fauna e população resi-
dente da área demarcada. Em especial as UCs de uso sustentável
que estão sendo criadas a partir da demanda dos habitantes de
uma região, que solicitam aos órgãos competentes (no caso do
Amazonas, ICMBio ou Ceuc) a demarcação do território. De modo
Psicologia e contextos rurais | 189
Considerações finais
Nossas atividades de pesquisa nas comunidades do interior
do Amazonas, mais especificamente aquelas localizadas em UCs,
não se restringem a mera ampliação de conhecimentos científicos a
respeito de determinados segmentos sociais. Estamos tratando de
produzir saberes em parceria com todos os agentes sociais envol-
vidos, sejam esses cientistas de outras áreas, gestores públicos ou
habitantes locais, norteados pelo compromisso de trazer benefícios
e melhorias aos moradores dessas áreas, direta ou indiretamente e
em curto, médio ou longo prazo.
A discussão a respeito da conservação da natureza envol-
vendo diretamente a população residente de áreas protegidas tem
avançado nos últimos anos. No entanto, ainda é preciso desenvol-
ver muitas outras produções acadêmicas e estratégias que integrem
proteção da natureza e atendimento aos anseios e necessidades dos
habitantes locais. Nesse sentido, a Psicologia Social e Ambiental
tem mostrado sua contribuição nos trabalhos interdisciplinares,
por possuir recursos teórico-metodológicos para realizar boas lei-
turas da realidade, intervenções apropriadas e delineamento de
diretrizes integradoras de ação.
Agradecimento
Agradecemos à Fapeam/CNPq pela concessão de bolsa
de estudos do programa de desenvolvimento científico regional
(DCR) ao primeiro autor.
196 | Psicologia e contextos rurais
Referências
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proteção integral no Brasil. In Ricardo, I. Terras indígenas & unidades
de conservação da natureza: o desafio da sobreposição. São Paulo: ISA.
Relato do sofrimento na
perspectiva das vítimas
Através de reuniões em grupos propusemos aos trabalha-
dores que relatassem os acontecimentos relacionados ao massacre
e as suas consequências em suas vidas, especialmente no que diz
respeito ao sofrimento. Posteriormente, realizamos um trabalho
de organização e devolução das entrevistas com objetivo de formar
um reconhecimento coletivo dessas produções e fortalecer assim
um sentido comum, fortalecendo também a dimensão histórica
do massacre. A partir desse material realizamos análise de sentido
e significado, baseada na teoria vigotiskiana exposta por Sawaia
(2009), destacando e compreendendo os afetos revelados na for-
mação grupal, composta por jovens e adultos, homens e mulheres.
Devemos ressaltar que enfrentamos resistências, silencia-
mentos e recusas, fenômeno que alguns autores denominam como
silêncio em relação ao terror (Riquelme, 1993). Uma das narrati-
vas representa esse silêncio diante do sofrimento provocado pelo
terror: “Tem coisas nessa história que a gente nunca divide com
ninguém”.
Logo nas primeiras entrevistas os trabalhadores afirmaram
que, em geral, não compartilhavam entre si o sofrimento provo-
cado pelo massacre. Demonstraram dificuldade em iniciar a fala,
e em geral, as narrativas foram curtas, marcadas por intenso sofri-
mento, interrompida ou acompanhada por choro. Das crianças,
o mais gravemente atingido, o menino que até hoje carrega uma
bala alojada na cabeça, recusou-se a nos dar seu depoimento, ape-
sar de aproximar-se de nós na reunião de jovens que propusemos.
Do mesmo modo, uma das cinco viúvas mostrou muita resistência
em falar sobre o assunto, apesar de nos receber muito bem, com
extremo carinho, nos oferecer comida e estadia. Para ela, falar
sobre o tema, o marido assassinado e o sofrimento decorrente disso
era muito difícil.
Psicologia e contextos rurais | 213
Considerações finais
A violência contra trabalhadores rurais sem terra constitui
estratégia política despotencializadora da luta pela terra na medida
que produz um conjunto de afetos negativos que configuram o
trauma psicossocial. Essa estratégia política se caracteriza por sua
longa duração e tem sido utilizada por longo período histórico, afe-
tando diversas gerações e mantendo o ciclo de reprodução do poder
e da dominação privada da terra a partir de interesses restritos que
excluem grandes parcelas da população ao uso produtivo e social
da terra.
Pudemos verificar que não tematizar o acontecimento
e não compartilhar o sofrimento decorrente fortalece a falta de
compreensão das verdadeiras causas do massacre, assim como o
desconhecimento em relação às suas possíveis consequências psi-
cológicas conduz a uma banalização das manifestações traumáti-
cas. Nessa perspectiva, é fundamental compreender o significado
que os trabalhadores atribuem ao massacre e trabalhar na expan-
são do conhecimento deles em relação ao ocorrido. Ao rememora-
rem o acontecimento, os sujeitos falam das emoções suscitadas no
momento do massacre e dos sentimentos conformados posterior-
mente, refletem sobre a questão da ocupação de terras e sobre a
220 | Psicologia e contextos rurais
Referências
Agger, I. & Jensen, S. B. (1993). A potência humilhada: tortura sexual de presos
políticos de sexo masculino. Estratégias de destruição da potência
do homem. In H. Riquelme (Ed.). Era de névoas: Direitos humanos,
terrorismo de Estado e saúde psicossocial na América Latina. São
Paulo: EDUC.
Introducción
Referencias
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Conferencia Nacional de Organizaciones Afrocolombianas; ORCONE,
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Molano. A. (1985). Los Años del Tropel: Relatos sobre la Violencia. Bogotá:
Editorial Presencia.
Introdução
Barrageiros/ migrantes/
itinerantes: vida e trabalho
6 Usamos “obra tal” para não identificar o local, mas tratavam-se de duas obras
que estavam em fase inicial no Norte do País.
268 | Psicologia e contextos rurais
Referências
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Recuperado em 1 setembro 2008, de http://www.estadosgerais.org/
encontro/caso_clinico.shtml.
Introdução
Caminhos trilhados
Para nortear a pesquisa, adotamos como embasamento teó-
rico-metodológico a Análise Institucional, entendendo-a como um
conjunto de saberes que propõe a criação de dispositivos para que
o coletivo se reúna e debata acerca de seu cotidiano, descobrindo
a maneira como determinados efeitos antiprodutivos são a conse-
quência do não saber das contradições da estrutura e da função do
sistema, como um desvio das forças revolucionárias (Baremblitt,
1998). Nessa direção, a análise institucional propõe uma análise das
forças que compõem o social, atentando para aquilo que se coloca
enquanto instituído, dado, congelando os processos de mudanças,
tentando favorecer possíveis forças instituintes (que apresentam o
novo, a transformação), potencializando, assim, os grupos e coleti-
vos (Baremblitt, 1992).
A partir dessa direção epistemológica, fomos nos apro-
priando do método cartográfico que direcionou nosso posicio-
namento diante do fenômeno que nos dispusemos a estudar. A
cartografia, como o próprio nome indica, busca dar conta de um
espaço pensando as relações possíveis entre territórios, capturando
intensidades e atentando para o jogo de transformações desse
espaço. A cartografia está interessada em experimentar movimen-
tos/territórios, novos modos de existência, sempre a favor da vida,
dos movimentos que venham a romper com o instituído (Kirst,
280 | Psicologia e contextos rurais
2003). Para tanto, é preciso estar atento aos discursos, gestos, fun-
cionamento, o regime discursivo operante (Mairesse, 2003).
Partindo dessa perspectiva, lançamos mão da observação
participante do território onde vivem essas mulheres, no sentido de
capturar esses momentos, intensidades, discursos, etc. Queiroz et
al (2007) afirmam que, na observação participante, o pesquisador
analisa a realidade social que o rodeia, tentando captar os conflitos
e tensões existentes. Desse modo, tem a oportunidade de unir o
objeto ao seu contexto, contrapondo-se ao princípio de isolamento
pelo qual somos ensinados na ciência tradicional.
No decorrer de nossas visitas ao assentamento, fizemos uso
de diários de campo enquanto instrumento de registro das informa-
ções/impressões sobre o campo, compreendendo essa ferramenta
como estratégia didático-pedagógica, na medida que proporciona
autorreflexão das ações de si ao detalhar as pessoas, objetos, luga-
res, conversas e impressões do campo (Frizzo, 2010).
Assim, tentamos captar o cotidiano do assentamento
Resistência Potiguar, mais especificamente do grupo de mulheres
desse assentamento. O dia a dia, as conversas, os modos de vida e
as forças que compõem esse cenário foram nosso foco na tentativa
de mapear, cartografar essa paisagem psicossocial.
O Resistência Potiguar nos foi apresentado no mês de
agosto de 2011. Após alguns dias de familiarização do campo, pude-
mos expor nossa proposta de pesquisa a alguns moradores, dando
início à jornada de três meses no assentamento que, conforme já
informado, está localizado na zona rural da cidade de Ceará-Mirim,
no estado do Rio Grande do Norte. Realizamos entre uma a duas
visitas por semana, quase sempre no período da tarde e, algumas
vezes, pela manhã. Além da observação participante, realizamos
entrevistas semiestruturadas com mulheres a partir de 18 anos. A
entrevista semiestruturada tem por finalidade propor alguns ques-
tionamentos básicos sobre o tema em questão, com a capacidade
Psicologia e contextos rurais | 281
pouco mais de sete anos, em uma área cercada por grandes cana-
viais e engenhos. A maior parte daquelas famílias veio do acampa-
mento que ficava “do outro lado da pista”, próximo ao ponto onde
hoje está o assentamento. Essa mudança de acampamento para
assentamento trouxe em si grandes novidades para esses campone-
ses: no assentamento, a conquista pela terra está concluída, a luta
foi vencida.
Sobre a realidade dos assentamentos, temos que “se cons-
tituem em espaços diferenciados de relação com o Estado e é essa
relação diferenciada que faz existir o assentamento e, por conse-
quência, os assentados, como segmento social diferenciado de
outros camponeses” (Caniello & Duqué, 2006, p. 634 como citado
em Leite et al., 2004, p. 111)
Segundo as entrevistadas, passar pelas dificuldades e pelos
medos da época das barracas até a conquista das casas constituiu-
-se numa grande vitória. A fala de Dona Célia1, por exemplo,
esclarece: “Nas barracas era bem pertinho da pista, ninguém dor-
mia direito, tinha medo de tocarem fogo. A gente ficava acordada
vigiando. Aqui é mais seguro, mas lá se juntavam mais, era mais
unido”. Outra assentada afirma: “Eu gostava de morar nas barracas,
só não gostava quando chovia (risos)”. E Dona Maria C. comple-
menta: “Lá era uma correria danada, todo dia tinha o que fazer, mas
agora tá melhor por causa da casa e do trabalho”.
É um lugar de muito sol durante o dia e, segundo as morado-
ras, frio à noite. Uma paisagem campestre encantadora para olhos
viciados em cenários urbanos. Uma comunidade rural que nos pre-
senteia diariamente com um pôr do sol inspirador, que esconde,
à primeira vista, as dificuldades e questões que atravessam a vida
dessas famílias. Essa imagem remete-nos a Ademar Bogo (2000),
complementando nossa fala, diz que a estética está presente em
Alguns resultados
Essa seção será apresentada em três partes, que dizem res-
peito ao cotidiano e modos de vida traçados pelas mulheres do
Resistência Potiguar. As partes estão discriminadas de acordo com
os temas analisados, frente ao referencial por nós adotado, quais
sejam: Vida Maria, Modos de vida rural e processos de autogestão,
e Os processos de subjetivação militante.
Vida Maria
Após a nossa inserção no campo, chegamos a um resultado
que não se assemelha às pesquisas realizadas em contextos urba-
nos e até mesmo rurais. As entrevistas mostraram que o consumo
de psicotrópicos no assentamento é insignificante: apenas uma
mulher utiliza medicamento psicotrópico, de um total de 33 entre-
vistadas (3%).
Trata-se de uma assentada de 43 anos, Dona Maria L.,
viúva, uma mulher de poucas palavras, agricultora e dona de casa.
Dona Maria L. tem 10 filhos, dos quais sete moram com ela. Está
no assentamento desde sua ocupação, tendo permanecido um ano
no acampamento. Relatou utilizar um serviço de saúde próximo ao
assentamento para se consultar. Confessa ter problemas de pres-
são e de estresse, causados, segundo ela, após a morte do marido,
que passou meses no hospital, gerando uma situação de sofri-
mento para a família. A moradora usa medicamento psicotrópico
(Bromazepam) há três meses. Dona Maria L. diz: “Mas é só um por
dia”, demonstrando certa cautela em falar sobre o assunto.
284 | Psicologia e contextos rurais
2 Pequeno povoado.
Psicologia e contextos rurais | 285
Referências
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Introdução
Método
Participaram do estudo sete agricultores num total de
seis entrevistas, considerando que uma delas foi concedida pelo
casal. Todos residiam na zona rural do município de Frederico
Westphalen, RS, sendo três do sexo feminino (papel familiar = mãe)
e quatro do sexo masculino (papel familiar = pai). Os participantes
estavam casados e possuíam de um a dois filhos no momento da
pesquisa. A idade variou de 33 a 51 anos (M = 42; DP = 5,22), com
faixa de renda entre um e acima de quatro salários mínimos. Todos
os participantes possuíam ensino fundamental incompleto. Como
critério de inclusão, utilizou-se trabalhar na agricultura e morar na
zona rural do município escolhido (onde há incidência de secas) há
pelo menos cinco anos e ser maior de 18 anos.
A seleção dos participantes se deu por meio dos seguintes
procedimentos: 1) Primeiramente foi aplicado um questionário
quantitativo com 198 agricultores, o qual fazia parte do estudo de
tese da primeira autora. Os participantes desse estudo responde-
ram no questionário se gostariam ou não de conceder uma entre-
vista, e, em caso afirmativo, forneceram seu número de telefone; 2)
Psicologia e contextos rurais | 309
Resultados e discussões
Os resultados das entrevistas foram agrupados em cate-
gorias analíticas, descritas na Tabela 1, compostas de unidades de
análise, identificadas e extraídas da fala dos participantes. A seguir,
descreve-se cada uma das categorias.
Psicologia e contextos rurais | 311
– a seca é esperada
– a vida seria melhor sem a seca
Percepção do desastre – o desastre é ruim para a agricultura
– traz prejuízo
– a seca é recorrente
– desânimo
– desespero
– insegurança
– impotência
Impactos subjetivos da seca
– tristeza
– aborrecimento
– preocupação
– prejuízo no sono
– autocontrole
– antecipar plantio
– corte de gastos
– buscar uma fonte de renda alternativa
Estratégias para lidar com o
– buscar novas possibilidades para lidar com o
desastre
desastre (irrigação)
– saída do campo
– utilizar recursos externos
– acostumar-se com o desastre
– apoio familiar
Apoio social – apoio dos amigos/outros
– ajuda externa (pública)
Percepção do desastre
Relativo à percepção do desastre, os participantes descreve-
ram a seca como um evento esperado por causa da sua recorrência
e que traz prejuízo, conforme as falas a seguir: “a gente se dá conta
que está acontecendo e sempre é esperado” (P1F) e “a seca é uma
coisa que vai trazer prejuízo com certeza” (P3M).
Desse modo, a percepção que os participantes têm da seca é
de um evento esperado e negativo, sobre o qual têm pouco controle,
Psicologia e contextos rurais | 313
Não tem o que fazer, tem que ir indo, vai levando, vai
fazendo como e o que dá porque não tem alternativa [...]
se não for muito grande até que... mas agora, se der uma
seca grande mesmo não (P3M).
que as ações não são classificadas de acordo com seus efeitos, mas
com as características do processo podendo estar relacionadas, por
exemplo, com elementos internos (coping focado na emoção), na
tentativa de reduzir um estado emocional negativo, ou mudar a
avaliação da situação de estresse (Krohne, 2002).
No que diz respeito à perspectiva de futuro, a irrigação foi
apontada como uma maneira de minimizar os impactos do desas-
tre: “a minha ideia é fazer irrigação pelo menos um pouco da pasta-
gem, né. Pra nessa época da seca tu teres um pedaço lá que tu pode
(sic) irrigar pra não faltar alimento pra vaca” (P5M). No entanto, as
famílias referiram não ter recursos financeiros para isso.
Um participante mencionou a saída do campo como possí-
vel estratégia para lidar com a seca, mas, no contexto da entrevista,
também referiu outros fatores que influenciam a sua intenção de
sair do campo. Autores como Logan e Ranzinjn (2008) observaram
ter havido um declínio no interesse pela vida no ambiente rural por
causa de fatores como a seca, falta de serviços básicos, enfraqueci-
mento das comunidades, baixo preço dos produtos e o aumento do
desejo por educação e oportunidades de emprego. Assim se expres-
sou a participante: “o que a gente pensou é em ir embora. Arrumar
um emprego, ou coisa assim” (P6M).
Observa-se que algumas das estratégias adotadas pelas
famílias têm sua origem na própria experiência com o desastre, já
prevendo que ele possa ocorrer, e isso faz com que antecipem cul-
tivos, cortem gastos e façam economias quando da iminência de
uma seca. A diversificação das atividades é um meio de minimizar
possíveis perdas, de modo que nem todos os ganhos sejam afetados
com o desastre. Constata-se assim que as estratégias adotadas obje-
tivam a minimização do estresse por meio do aumento do controle
sobre a situação.
322 | Psicologia e contextos rurais
Apoio social
Em relação ao apoio social, os participantes fizeram refe-
rência ao apoio da família, dos amigos e outros e à ajuda externa.
Foi possível identificar dois tipos de apoio, o psicológico e o finan-
ceiro. Quanto ao primeiro, a família é considerada a principal fonte
de apoio: “a família um consola o outro, agora no caso, digamos
assim, prefeitura, Estado, governo federal, essas coisas, muito
pouco” (P1F), e ainda “ah, da família sim. Porque toda a família
sente” (P3M). Os amigos também fazem parte da rede de apoio psi-
cológico em épocas de seca:
Figura 1 – O uso de recursos pelos agricultores familiares afetados pelas secas e sua relação
com o bem-estar
que não significa que não seja um tipo de apoio necessário, mas que
não irá permanecer no longo prazo (Dass-Brailsford, 2010).
Por outro lado, a mobilização comunitária mantém a per-
cepção de apoio social a qual tem relação direta com a manutenção
da saúde psicológica e do bem-estar (Norris & Kaniasty, 1996), ao
mesmo tempo em que a recuperação do indivíduo está diretamente
relacionada com a recuperação comunitária (Boyd et al., 2010). Por
exemplo, uma família que necessita fazer uso de recursos externos
como o financiamento para a sua sobrevivência devido às perdas
na produção agrícola está assim adquirindo uma dívida e, por sua
vez, futuramente poderá ter de vender algum bem para pagá-la.
Do contrário, uma família que necessitou de água durante uma
seca e, juntamente com outras famílias com o mesmo problema,
mobilizou-se para conseguir a construção de um poço artesiano, na
próxima seca esse mesmo problema certamente será minimizado,
pois foi adquirido um importante recurso que gera não apenas
água, mas também fortalecimento do apoio comunitário por meio
da mobilização coletiva.
Por fim, o apoio social mobilizado no âmbito da comuni-
dade, para ter efeito positivo no bem-estar, precisa também ser
disponibilizado de maneira igualitária (Norris & Kaniasty, 1996).
O apoio social nasce das relações sociais, as quais promovem ou
facilitam a preservação de outros recursos importantes (Hobfoll,
1989). Quando adequado, promove no indivíduo o senso de com-
petência para lidar com situações estressantes (Norris & Kaniasty,
1996), tornando-se assim um aspecto fundamental na manutenção
da saúde em desastres.
Considerações finais
O presente capítulo teve como objetivo analisar como as
perdas ocasionadas pelas secas exercem influência sobre o bem-
-estar dos agricultores e identificar as estratégias de coping e os
Psicologia e contextos rurais | 327
Referências
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Introdução
Considerações finais
Fundamentalmente, destaca-se a importância de reco-
nhecer métodos intersetoriais para promover a saúde e o desen-
volvimento sustentável. A zona rural deve ser um lugar em que os
especialistas da área de saúde trabalhem com outros profissionais,
objetivando melhorar a qualidade de vida do agricultor e a preser-
vação do meio ambiente. Com efeito, é primordial compreender
a agroecologia enquanto estratégia de promoção da saúde para o
desenvolvimento de novas agriculturas.
Avaliando o Brasil como um país de base agrícola, repensar o
meio rural e a AOF como atividade primária fundamental revela-se
como tática imperativa para edificar as propostas de segurança ali-
mentar e de promoção da saúde e da sustentabilidade. A AOF é um
Psicologia e contextos rurais | 351
Referências
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Introdução
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pesquisa em ciências humanas. Pesquisas e Práticas Psicossociais 6.
(2), São João del-Rei, MG.
Introdução
Considerações finais
O trabalho de cooperação, realizado através da indissocia-
bilidade entre ensino, pesquisa e extensão, possibilitou uma inte-
gração na formação universitária, estimulando o desenvolvimento
dos alunos de Psicologia, extensionistas e da Pós-graduação em
Educação Biocêntrica. Através dele, constituíram-se novas par-
cerias com instituições que trabalham com os indígenas e com a
Prefeitura de Estrela Velha, sendo construídos vários projetos que
integraram a aldeia Guarani e a UNISC.
Psicologia e contextos rurais | 421
Referências
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e Terra.
Introdução
1 Cabe registrar que definimos Comunidade como um grupo social que tem certo
nível de organização, intimidade pessoal, compartilha o mesmo espaço físico e
subjetivo e alguns objetivos comuns derivados de um sistema de representações
e de valores. Assim, mantém um sistema de interações que se dão nas dimen-
sões temporal e espacial (Gomes, 1999; Nisbest, 1974, como citado em Sawaia,
1996, p. 50).
426 | Psicologia e contextos rurais
Um pouco de história: o
percurso que trilhamos
A história desse projeto de extensão se iniciou no final de
2007, quando, através de um contato com a coordenação da Base
Avançada do Centro de Mamíferos Aquáticos (CMA/PB)/Projeto
Peixe-boi, soubemos do interesse desse órgão em incentivar e reto-
mar os trabalhos de pesquisa e de extensão na área que compreende
a APA da Barra do Rio Mamanguape. Optamos, então, por desen-
volver um trabalho na Comunidade de Barra de Mamanguape.
Como estratégia de aproximação e de levantamento de informa-
ções sobre a Comunidade, realizamos, em 2008, uma pesquisa,
guiando-nos pelos princípios da pesquisa-ação4. Corroboramos,
assim, “a necessária relação e dependência entre investigação/pes-
quisa e produção de estratégias de ação” (Freitas, 2001, p. 62).
Para realizar esta pesquisa, recorremos à História Oral (HO),
uma metodologia de pesquisa voltada para o estudo do tempo pre-
sente e baseada nas vozes de testemunhas sobre o passado (Lang;
Campos & Demartini, 2001). Foram entrevistadas, a partir do crité-
rio de acessibilidade, 36 pessoas (20 homens e 16 mulheres), com
faixa etária entre 17 e 70 anos, das quais solicitávamos que falassem
sobre a história da Comunidade.
Através do depoimento oral, que se caracteriza pelo “tes-
temunho do entrevistado sobre sua vivência ou participação em
Oficinas psicopedagógicas
Esse grupo surgiu de uma demanda concreta explicitada em
outubro de 2009 pelo diretor da Escola de Ensino Fundamental de
Barra de Mamanguape por ocasião de uma visita realizada por nossa
equipe à escola. Ele nos disse que até as crianças que sabiam ler
tinham dificuldade de interpretar o que liam. Inicialmente, o grupo
foi formado por crianças que já sabiam ler, filhos de pescadores e
marisqueiras da Comunidade, porém, aos poucos, foi se ampliando
e, atualmente, é composto por crianças que sabem e que não sabem
ler e por pré-adolescentes, cuja faixa etária varia de cinco a treze anos.
As oficinas têm de 10 a 26 participantes de ambos os sexos. Cabe res-
saltar que, no planejamento e realização das oficinas, levamos em
consideração as especificidades de cada faixa etária.
Esses encontros, com duração de, aproximadamente,
duas horas, são realizados aos sábados à tarde, com os objetivos
436 | Psicologia e contextos rurais
8 “Esse jogo pode ser usado em combinação com um grande número de jogos
de criação de personagens. Por exemplo: ‘O baile na embaixada’ (ver p. 221) ou
Psicologia e contextos rurais | 443
Considerações finais
Ao recorrer às experiências e às investigações acumuladas
no campo das práticas Psi em Comunidade, dialogando com a
Educação Popular e avaliando constantemente os nossos “fazeres”,
estamos, aos poucos, construindo uma proposta de intervenção
psicossocial em Barra de Mamanguape, que jamais estará pronta e
acabada, uma vez que a realidade é dinâmica, um “eterno vir-a-ser”.
446 | Psicologia e contextos rurais
(Antônio Machado)
Referências
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Psicologia Comunitária e
comunidades rurais do Ceará:
caminhos, práticas e vivências
em extensão universitária
Verônica Morais Ximenes
James Ferreira Moura Júnior
Introdução
2 G20 é o grupo das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia com
objetivo de discutir e planejar os rumos da economia global.
3 Esse mapeamento refere-se à realização de uma pesquisa qualitativa a partir
das técnicas de observação participante, de diários de campo e de entrevistas
semiestruturadas com os moradores da comunidade, tendo o objetivo de siste-
matizar informações sobre educação, saúde, lazer, trabalho e cultura e analisar
os valores, as crenças e as práticas que permeiam o cotidiano dos habitantes da
comunidade.
458 | Psicologia e contextos rurais
Considerações parciais
Ainda temos muito a compartilhar. Sabemos que a leitura
permite que o leitor se desloque para outros espaços, que despertam
questionamentos, visualização de relações e lembranças de outras
experiências. Dessa forma, podemos estar em lugares que nunca
estivemos. Esperamos ter socializado esses caminhos vivenciados
por nós nessas histórias e reflexões relatadas aqui. Também sabe-
mos que nada melhor do que um bom banho de realidade viva para
alimentar a nossa alma. Esse é um convite que deixamos: vamos
nos permitir se entranhar nas comunidades rurais dos municípios
desse imenso Brasil.
Reafirmamos a necessidade do compromisso ético da liber-
tação com o desvelamento das situações de opressão que as comu-
nidades rurais e seus moradores vivenciam cotidianamente. A
Psicologia Comunitária, então, pode apontar possíveis caminhos
para o enfrentamento da marginalização social, política e simbólica
Psicologia e contextos rurais | 473
Referências
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sem-miseria,770604,0.htm.
das Nações ter exigido sua abolição, desde 1926. Vale mencionar
que, até essa data, muitos países não eram membros de organi-
zações multilaterais e não pactuavam das convenções internacio-
nais e, mesmo os que diziam aceitar os acordos formulados nesses
organismos, podiam não assinar as Convenções ou assinar e não
cumpri-las. Assim, um longo processo de práticas de exploração
e violências diversas contra trabalhadores continuava se expan-
dindo, apesar de intervenções da ONU que começaram a difundir
e articular redes com objetivos protetivos, na esfera internacional
dos direitos trabalhistas e dos direitos fundamentais, lutando pelo
que denominava trabalho decente.
Ao estudarmos os documentos da OIT, lembramos sempre
de contextualizá-los e cotejá-los na história, procurando descre-
ver quais acontecimentos se interconectaram para que um deter-
minado objeto viesse a ser forjado em campos de visibilidade e de
dizibilidade e a se tornar alvo de preocupação, tal como nos alerta
Foucault (2008c), ao desnaturalizar o modo como os documentos
eram tratados, como materiais “inertes”, utilizados com o fim de
decifrar um passado. O próprio documento é parte dessa histó-
ria, forjado em meio a batalhas e lutas entre diferentes posições
de saber e poder, portanto, um monumento, que não é apenas um
registro de acontecimentos, mas um novo acontecimento e produz
efeitos de verdade por meio de práticas correlatas (Foucault, 2006;
Le Goff, 2003). É a partir dessa perspectiva que traçamos nossas
análises acerca dos documentos estudados.
Entre os discursos que são forjados e difundidos pela OIT,
em articulação com organizações governamentais e não gover-
namentais, estão os que visam criminalizar a prática chamada
trabalho forçado. Simultaneamente a esse movimento que busca
criminalizar, há o paradoxo da flexibilização dos direitos trabalhis-
tas, na atualidade, o que nos aproxima de um cenário que opera
por diversas vias e linhas de força. Destaca-se que a definição tra-
balho forçado torna-se uma tipificação jurídica e de caráter penal
480 | Psicologia e contextos rurais
Direcionamentos: a criação de
modalidades distintas de biopolíticas
No domínio internacional, a OIT se configura como uma
gestora das relações de trabalho, função que lhe é atribuída por
diversos países e por si própria, sendo uma mediadora de ações
entre esses países e em suas relações internas, no plano diplomá-
tico. A OIT, ao assumir, por sua vez, o “papel” de investigadora das
práticas de trabalho forçado, formulou como uma das suas princi-
pais atividades estabelecer direcionamentos aos países-membros,
ou seja, orientações políticas, reportando medidas de prevenção
e erradicação do que denominou trabalho forçado, pois essa é a
nomenclatura usada e defendida por esse organismo multilateral.
A OIT orienta que os Estados confeccionem leis ou mudem sua
legislação, a fim de justificar de forma penal as medidas de punição
aos considerados culpados por realizarem tais práticas:
2 “Os sindicatos de todo o mundo estão cada vez mais conscientes de que preci-
sam ampliar suas atividades a fim de defender os direitos dos trabalhadores do
setor informal e dos desprotegidos, incluindo os trabalhadores migrantes em
situação regular ou irregular” (OIT, 2009, p. 53).
Psicologia e contextos rurais | 491
Referências
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