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Prática Processual Civil - O.A IPG - 2
Prática Processual Civil - O.A IPG - 2
Bibliografia
Consulta Jurídica
O art. 91.º, al h) do EOA atribui ao avogado o dever de “manter um domicílio profissional dotado de uma
estrutura que assegure o cumprimento dos seus deveres deontológicos”.
Outras regras:
Antes de se propor uma ação em tribunal, deve tentar-se a composição amigável do litígio, ou seja,
resolver o assunto através da via negocial. Mas não há regras fixas. Pode suceder que seja preferível
agir de imediato, como sucede nos procedimentos cautelares, em que predominam interesses urgentes
a tutelar.
Se a parte contrária estiver representada por advogado, o contacto terá de ser efetuado diretamente
com esse advogado. Constitui dever deontológico “não contactar a parte contrária que esteja representada
por advogado, salvo se previamente autorizado por este, ou se tal for indispensável, por imposição leal ou
contratual” (art. 112.º, nº1, al e) do EOA).
O cliente é que decide se quer o acordo ou não e em que termos. O advogado deve “aconselhar toda a
composição que ache justa e equitativa” (art. 100.º, nº1, al. c) do EOA), mas não pode impor ao cliente essa
solução. Pode dar a sua opinião, mas não pode sobrepor a sua vontade ao cliente.
Com o novo CPC, optou-se por retirar aos documentos particulares, que importem a constituição ou
reconhecimento de uma obrigação, a natureza de títulos executivos (com exceção dos títulos de
crédito). Por isso, o acordo de pagamento ou de reconhecimento de uma obrigação já não permitirá
recorrer à execução, sendo antes necessário instaurar um procedimento de injunção.
Mas nem por isso deixa de ser interessante e conveniente obter um acordo e formaliza-lo, pois constitui
uma forma de resolução do assunto e é mais difícil a dedução de oposição. Por outro lado, em caso de
autenticação do documento particular, teremos um título executivo.
Mesmo que o advogado tenha procuração com poderes especiais, é conveniente que o documento de
acordo seja assinado pelos clientes. Se a assinatura é do cliente, este fica vinculado de forma direta.
Acesso ao Direito
Em concretização do disposto no art. 20.º da CRP, foi publicada a Lei 34/2004, de 29 de julho.
Dispõe o art. 1.º, nº1 que o sistema de acesso ao direito e aos tribunais se destina a assegurar que a
ninguém seja dificultado ou impedido, em razão da sua condição social ou cultural, ou por insuficiência
de meios económicos, o conhecimento, o exercício ou a defesa dos seus direitos.
O nº2 dispõe que, para concretizar estes objetivos, desenvolver-se-ão ações e mecanismos
sistematizados de informação jurídica e proteção jurídica.
1- A Informação jurídica;
2- A Proteção jurídica;
1- Informação Jurídica
Incumbe ao Estado realizar, de modo permanente e planeado, ações tendentes a tornar conhecido o
direito, através da publicação e de outras formas de comunicação.
A informação jurídica é prestada pelo Ministério da Justiça, em colaboração com todas as entidades
interessadas.
2- Proteção jurídica
lesados ou ameaçados de lesão – art. 6.º, nº2. Têm direito a proteção jurídica os cidadãos nacionais e
da U.E que demonstrem estar em situação de insuficiência económica (art. 7.º, nº1).
As pessoas coletivas sem fins lucrativos têm apenas direito à proteção jurídica na modalidade de apoio
judiciário, devendo para tal fazer prova da sua insuficiência económica (art. 7.º, nº4).
O art. 8.º-A estabelece os critérios que definem a apreciação da insuficiência económica e o art. 8.º-B
determina o modo de prova da insuficiência.
A consulta jurídica consiste no “esclarecimento técnico sobre o direito aplicável a questões ou casos concretos”.
Pode ser prestada em gabinetes de consulta jurídica, especialmente afetos a essa finalidade, como
sucede em Lisboa e Porto, ou em escritórios de advogados que adiram ao sistema de acesso ao direito
(art. 14.º da Lei).
O esclarecimento deve ser anterior ao pedido de nomeação de patrono, pois, caso contrário, pode
constituir um motivo de escusa do patrono nomeado, a alegação de que a pretensão do requerente é
destituída de fundamento legal (art. 34.º, nº5).
Diverso da consulta jurídica que se esgota com a prestação da informação, é o apoio judiciário que tem
incidência num processo (qualquer que seja a forma), nos julgados de paz e estruturas de resolução
alternativa de litígios (art. 17.º, nº1). Aplica-se, ainda, aos processos de contraordenações e nos
processos que corram termos nas conservatórias do registo civil (art. 17.º).
O apoio judiciário mantém-se para efeitos de recurso, qualquer que seja a decisão sobre a causa, e é
extensivo a todos os processos que sigam por apenso àquele em que essa concessão se verificar (art.
18.º, nº4).
Assim, p. ex., se for concedido na providência cautelar instaurada como preliminar, a sua concessão
mantém-se na ação de que é dependente.
Procedimento
A decisão sobre a concessão da proteção jurídica compete ao dirigente máximo dos serviços de Seg.
Social (art. 20.º).
O requerimento de proteção jurídica é apresentado em qualquer dos serviços da Seg. Social, formulado
em modelo próprio, devendo especificar a modalidade de proteção jurídica pretendida Terá de
preencher impressos que se podem extrair no site da Segurança Social (em Formulários) e comprova
a situação de insuficiência económica. Terão de ser indicados a composição e situação financeira do
agregado familiar, descrevendo todos os bens imóveis, veículos, participações sociais e despesas para
habitação (art. 22.º).
referentes aos dois últimos trimestres e documentos comprovativos do respetivo pagamento e recibos
emitidos nos últimos seis meses (no caso de trabalhador independente).
O anexo da Lei 34/2004 contém as fórmulas de cálculo do rendimento relevante para efeitos de
proteção jurídica.
O prazo para a conclusão do procedimento administrativo e decisão sobre o pedido de proteção jurídica
é de 30 dias, é contínuo e não se suspende durante as férias judiciais (art. 25.º, nº1).
Decorrido este prazo sem que tenha sido proferida uma decisão, considera-se tacitamente deferido e
concedido o pedido de proteção jurídica (art. 25.º, nº2)1.
A decisão final sobre o pedido de proteção jurídica é notificada ao requerente e, se o pedido envolver a
designação de patrono, também à O.A. Ou seja, quem decide a concessão do apoio judiciário é a Seg.
Social, mas quem nomeia o patrono é a O.A (através dos seus Conselhos Regionais) (art. 26.º); mas é
suscetível de impugnação (arts. 27.º e 28.º).
O patrono nomeado para a propositura de ação dispõe do prazo de 30 dias para a intentar, após a
notificação da nomeação (art. 33.º). Não cumprindo este prazo deve apresentar justificação perante a
O.A ou pedir prorrogação do prazo.
o A ação considera-se proposta na data em que foi apresentado o pedido de nomeação de patrono
(art. 33.º, nº4). Quer dizer que, no caso de ter sido pedida a nomeação de patrono para propor
uma ação, esta considera-se proposta na data em que foi apresentado o respetivo pedido.
o Se o beneficiário do apoio judiciário for o réu numa ação, com o pedido de apoio interrompe-
se o prazo para contestar; porém, não deverá deixar de juntar no processo comprovativo do
pedido. O prazo interrompido inicia-se a partir da notificação ao patrono nomeado da sua
designação.
O patrono nomeado pode pedir escusa, mediante requerimento dirigido ao Presidente do Conselho
Distrital da O.A ou ao presidente da Câmara dos Solicitadores (art. 34.º, nº1).
O patrono nomeado pode substabelecer, com reserva, para diligência determinada, desde que indique
substituto. A remuneração do substituto é da responsabilidade do patrono nomeado (art. 35.º, nºs 1 e
2).
O patrono nomeado não pode auferir remuneração diversa daquela a que tiver direito nos termos da
presente lei e portarias (art. 3.º, nº3).
1
A Seg. Social tem o entendimento que, havendo situações complexas em que não seja possível uma decisão no
prazo de 30 dias, não se verifica o deferimento tácito.
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Inês Catarina Pedreiro Gomes
O art. 10.º refere um leque de situações que podem determinar o cancelamento da proteção jurídica
quer na totalidade, quer relativamente a alguma das suas modalidades.
Caso o beneficiário do apoio judiciário adquira, no decurso da causa ou no prazo de quatro anos após
o seu termo, meios económicos para pagar honorários, taxas de justiça e outras despesas de cujo
pagamento tenha sido isento, é instaurada ação para cobrança das respetivas importâncias pelo MP
(art. 13.º).
A proteção jurídica pode caducar nas circunstâncias previstas no art. 11.º. Verifica-se uma dessas
circunstâncias quando decorreu o prazo de um ano após a sua concessão sem que tenha sido prestada
consulta ou instaurada a ação, por razões imputáveis ao requerente.
Patrocínio Judiciário
O patrocínio judiciário consiste na assistência técnica prestada às partes por profissionais do foro. O
patrocínio judiciário é exercido plenamente pelos advogados e, em termos limitados, pelos advogados
estagiários e pelos solicitadores.
❖ Nomeação oficiosa: integra-se no apoio judiciário. Tem lugar nas situações de insuficiência
económica;
❖ Contrato de mandato: constitui uma forma de prestação de serviços, tipificado no art. 1157.º e
ss. do CC. Tradicionalmente, o mandato judicial tem lugar através da outorga de procuração
forense. Esta constitui a forma corrente de expressão do mandato.
“Nas causas em que não seja obrigatória a constituição de Advogado, podem as próprias partes pleitear por si e
ser representadas por Advogados estagiários e por solicitadores” (art. 42.º CPC).
2 Os pressupostos processuais são os requisitos de ordem técnica para que ocorra o normal desenvolvimento da
lide, de modo a que o tribunal possa proferir a sentença.
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Inês Catarina Pedreiro Gomes
Por um lado, os interesses das partes são mais acautelados por esses profissionais do foro, os
quais, além de disporem de conhecimentos técnico-jurídicos, atuam em litígio com uma
serenidade desinteressada;
Por outro, só uma adequada e competente condução processual das ações contribui para a boa
administração da justiça.
Segundo Manuel de Andrade, “a lei considera que, tratando-se de causas de certo tipo ou de certo valor, é do
interesse público e do interesse das próprias partes que estas sejam representadas em juízo por profissionais do
foro: do interesse público porque a boa administração da justiça exige (…) e do interesse das partes porque a
estas faltam, em rigor, os conhecimentos técnicos necessários à boa condução da causa e falta, seguramente, a
serenidade desinteressada”.
a) Nas causas da competência de tribunais com alçada, em que seja admissível recurso ordinário
– isto é, ações de valor superior a 5000 euros ou de 30.000 (art. 44.º, nº1 LOSJ).
Nos termos do art. 629.º, nº1, o critério base para a admissibilidade de recurso ordinário resulta
do confronto entre o valor da causa e a alçada do tribunal que proferiu a decisão.
A alçada do tribunal é o valor limite até ao qual o tribunal decide sem admissibilidade de
recurso.
A alçada da 1ª instância é de 5000 € e a da Relação é de 30.000 €. (art. 44.º da Lei 62/2013).
Os recursos ordinários são aqueles que se interpõem em prazo contado da notificação da
decisão (art. 638.º, nº1), i. e., antes do respetivo trânsito em julgado (art.628.º) e desde que o
valor da ação seja superior à alçada do tribunal que proferiu a decisão (art. 629.º, nº1)3
3 Os recursos podem ser ordinários ou extraordinários (art. 627.º, nº2). Os recursos ordinários são a apelação
(arts. 644.º e ss) e a revista (arts. 671.º e ss), sendo extraordinários os recursos para uniformização de
jurisprudência (art. 688.º e ss) e o recurso de revisão (art. 696.º e ss).
4 Estão incluídas as ações em que se aprecie a validade, subsistência ou cessação de contratos de arrendamento,
com exceção dos arrendamentos para habitação não permanente ou para fins especiais transitórios, nas quais é
sempre admissível recurso para o TR (art. 40.º, nº1, al. b) e 629.º, nº3, al. a) CPC); as ações em que esteja em
causa a determinação da categoria profissional, o despedimento do trabalhador, a sua reintegração e a validade
do contrato de trabalho; os processos emergentes de acidente de trabalho ou doença profissional; os processos
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c) Nos recursos e nas causas propostas nos tribunais superiores (art. 40.º, nº1 CPC): a
obrigatoriedade de constituição de Advogado nos recursos refere-se apenas a ações cíveis;
Neste caso, é o concreto teor da decisão que justifica o recurso. Assim, p. ex., acontece nos
casos do art. 629.º, nº2, als a), b) e c).
A constituição de Advogado só é obrigatória nas execuções cujo valor exceda a alçada do TR (art. 44.º,
nº1 LOSJ) e nas de valor inferior a esta quantia, mas excedente à alçada dos tribunais judiciais de 1ª
instância, quando tenha lugar algum procedimento que siga os termos do processo declarativo (art.
58.º, nºs 1 a 3 do CPC).
Os poderes de representação que o advogado exerce em juízo são-lhe conferidos pela parte mediante
mandato judicial.
Tradicionalmente, o mandato judicial tem lugar através da outorga de procuração forense. Esta
constitui a forma corrente de expressão do mandato.
A legislação especial constante do DL 267/92, no seu art. único, dispensa a intervenção notarial nas
procurações passadas a advogados, quer concedam simples poderes forenses gerais, quer poderes
especiais para que o advogado possa desistir do pedido ou da instância, confessar o pedido ou transigir.
O documento tem o título “Procuração Forense”, para o distinguir das restantes procurações.
A identificação do mandante obedece aos requisitos do art. 46.º, nº1, al c) do Código do Notariado:
nome completo, estado, naturalidade e residência habitual. É costume indicar-se também a profissão.
de contencioso das instituições de previdência, abono de família e associações sindicais (art. 79.º CPT); e os
recursos com fundamento em violação das regras de competência internacional; e das decisões de indeferimento
liminar da P.I e do requerimento inicial de procedimento cautelar, entre outras.
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Por não haver intervenção notarial, deve indicar-se o número do CC (com menção da validade),
comprovando o mandatário esses elementos.
No caso de pessoas coletivas, a procuração deve conter os elementos constantes no art. 171.º, nº1 do
CSC. As sociedades por quotas e anónimas devem ainda indicar o capital social e, bem assim, o
montante do capital social realizado, se for diverso.
Quando o advogado não conhece suficientemente a pessoa coletiva, é conveniente pedir certidão
atualizada de matrícula na Conservatória (ou número de certidão permanente online), de forma a
verificar se as pessoas físicas que outorgam a procuração têm os poderes necessários. P. ex., se a
sociedade por quotas se obriga com a assinatura de dois gerentes, a procuração deverá ser assinada
por duas pessoas que estejam inscritas como gerentes.
“A procuração passada a uma sociedade de advogados ou a um dos seus sócios não salvaguardando, neste caso,
a não extensibilidade, permite que o mandato forense seja exercido por qualquer um dos advogados associados”
(Ac. RP de 2.12.1988).
“I- É lícita a passagem de uma procuração a favor de uma sociedade de advogados. II – O mandato
correspondente – se da procuração não constar alguma reserva – abrange a generalidade dos advogados membros
dessa sociedade” (Ac. RL de 26.2.1998).
Aceitação
A eficácia do mandato depende da aceitação pelo mandatário. A aceitação pode (art. 44.º, nº4 CPC):
Mandato forense:
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O mandato atribui poderes ao mandatário para representar a parte em todos os atos e termos do
processo principal e respetivos incidentes, mesmo perante tribunais superiores, sem prejuízo das
disposições eu exijam a outorga de poderes especiais por parte do mandante (art. 44º).
1. A procuração com poderes gerais confere poderes para intervir no processo judicial, sem
limitação. Pode-se recorrer até ao STJ (se a causa tiver recurso para esse tribunal). Contém a
fórmula “os mais amplos poderes em direito permitidos”.
2. Nas procurações com poderes especiais, adita-se à fórmula “os mais amplos poderes forenses
gerais”, a expressão “bem como os poderes especiais para desistir, confessar e transigir”.
a) Desistir
Os poderes para desistir abrangem:
Desistência da instância: só tem incidência no processo onde é apresentada, podendo o autor
propor nova ação (art. 285.º, nº2). Caso o réu já tenha apresentado contestação, a desistência
da instância carece do consentimento do réu5.
Desistência do pedido: inibe o autor de propor nova ação.
5
Em princípio, o réu terá interesse que a desistência seja do pedido e não da instância, para não voltar a ser
importunado com nova ação proposta pelo autor. Enquanto advogados do réu, se formos notificados da
desistência da instância, poderá ser mais prudente opormo-nos.
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b) Transigir
Os poderes para transigir possibilitam a celebração de acordos que ponham termo ao processo.
c) Confessar
Os poderes para confessar implicam a possibilidade de o mandatário reconhecer, na totalidade
ou parcialmente, a procedência do pedido. Importa considerar o teor do art. 289.º, nº1 que
refere que não é permitida confissão relativamente a direitos indisponíveis.
Nota: o mandatário pode desistir livremente do recurso interposto, sem necessidade de procuração
com poderes especiais. Neste caso, não há disposição de direito material.
Nos poderes que a lei presume conferidos ao mandatário está incluído o de substabelecer o mandato
(art. 44.º, nº2).
Substabelecimento
Mas o que acontece se estiver marcado um julgamento e não puder comparecer? Terá de solicitar a um colega
que o substitua. Esse colega irá ao tribunal com um substabelecimento.
O substabelecimento consiste na transferência total ou parcial, para outro advogado, dos poderes que
lhe foram conferidos.
Não está dependente da aceitação do cliente, pois “nos poderes que a lei presume conferidos ao mandatário
está incluído o de substabelecer o mandato” (art. 44.º, nº2).
Forma
Com o Código de Seabra era necessário que a procuração ao primeiro advogado mencionasse
expressamente “incluindo os poderes para substabelecer”, mas ainda persiste o hábito.
O substabelecimento é feito pela mesma forma da procuração. Pode ser com reserva ou sem reserva de
poderes.
Se o substabelecimento for efetuado com reserva essa menção figura no próprio documento.
O primeiro advogado mantém-se no processo, pois guardou (reservou) para si uma parte dos poderes.
O “novo” limitou-se a intervir de forma avulsa no processo. Portanto, há uma pluralidade de
mandatários.
Porém, a secretaria passará a notificar o novo advogado (substabelecido), a não ser que seja solicitado
expressamente que as notificações continuem a ser efetuadas para o primeiro mandatário.
O advogado inicial afasta-se completamente do processo, deixando de ter quaisquer poderes. Implica
a exclusão do anterior mandatário. Isto significa que põe termo ao mandato anteriormente conferido
pela parte ao advogado, sendo este substituído por outro.
Se o substabelecimento for omisso na menção (com ou sem reserva), entende-se que é feito com reserva,
o que implica o primeiro advogado manter-se no processo; conforme se decidiu no Ac. da RL de 29.3.93.
Gestão de negócios
Em caso de urgência, a qual deve ser alegada, o patrocínio judiciário pode ser exercido como gestão de
negócios (art. 49.º).
A gestão de negócios supõe a falta de procuração ou mandato. Neste caso, o advogado não está
autorizado a intervir, atuando devido à urgência e no interesse da parte (art. 464.º do CC).
A parte deve ratificar a gestão dentro do prazo que o juiz lhe fixar. Se a parte não ratificar a gestão, o
advogado é condenado nas custas do processo bem como em indemnização por dano causado à parte
contrária, se esta o requerer (art. 49.º, nº2).
A não ratificação determina, além disso, que fiquem sem efeito os atos praticados pelo gestor.
Nota: a gestão de negócios não se confunde com os casos em que, apesar de ainda não existir
procuração, já existe um contrato de mandato e, portanto, também autorização para o mandatário
intervir. Neste caso, o mandatário age como mandatário, embora ainda sem procuração.
Por vezes, sucede o advogado intervir no processo, sem a apresentação da procuração ou existem
irregularidades no documento; “a falta de procuração e a sua insuficiência ou irregularidade podem, em
qualquer altura, ser arguidas pela parte contrária e suscitadas oficiosamente pelo tribunal” (art. 48.º, nº1).
Nos termos deste art., se a parte não constituir advogado, sendo obrigatória a constituição, o tribunal,
oficiosamente ou a requerimento da parte contrária, fá-la-á notificar para o constituir dentro de prazo
certo. Ou seja, verificada a falta de procuração, o juiz profere despacho, fixando o prazo para a junção,
com ratificação do processado.
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Se, porventura, a procuração tiver sido outorgada antes da data da intervenção processual, entende-se
que não é necessária a ratificação.
Para a desistência, confissão e transação é necessária procuração com poderes especiais (caso a parte
não intervenha por ela própria).
Quando o mandatário não tenha os poderes especiais ou haja qualquer irregularidade no mandato, a
sentença homologatória é notificada pessoalmente ao mandante, “com a cominação de, nada dizendo, o
ato ser havido por ratificado e a nulidade suprida; se declarar que não ratifica o ato do mandatário, este não
produzirá quanto a si qualquer efeito” (art. 291.º, nº3).
Esta situação ocorre com alguma frequência quando os julgamentos estão prestes a iniciar-se. Num
esforço derradeiro de acordo, consegue-se a transação. O cliente não está presente e o advogado não
tem procuração com poderes especiais. A transação é ditada para a ata, mas fica condicionada à posição
que o cliente tomar, quando for notificado da sentença que homologa o acordo.
“Notificado o mandante nos termos do art. 301.º, nº3 do CPC, a declaração por si apresentada em que refere
não concordar com determinadas cláusulas do termo de transação, sugerindo alterações e aditamentos, deve ser
entendida como não ratificação do ato do mandatário” (Ac. RP de 2.5.2000).
Nos termos do art. 196.º do EOA, o advogado estagiário pode intervir autonomamente em todos os
processos cíveis até ao valor de 5000 euros (alçada do tribunal de 1ª instância) bem como em todos os
processos nos tribunais de menores e em processos de divórcio por mútuo consentimento.
Nos restantes processos judiciais, torna-se necessário o acompanhamento efetivo de advogado, que
poderá ser o seu patrono.
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Todavia, poderá fazer requerimentos nestes últimos processos, sem necessidade de acompanhamento,
se não se levantarem questões de direito (art. 40.º, nº2).
“III – A apresentação em processo de valor superior à alçada da 1ª instância de requerimento que suscita questões
de direito excede o mandato judicial conferido, devendo ter o tratamento previsto no art. 40.º do CPC” (Ac. RL
de 11.6.2003).
“É entendimento da CNEF que o art. 189/2 do EOA deverá ser interpretado no sentido de que a prática de
atos próprios de advogado pelo advogado estagiário nos processos a que se reporta aquele normativo: 1. Está
condicionada ao efetivo acompanhamento pelo patrono ou patrono formador; 2. Que a tutela do tirocínio implica:
2.1 que o mandato judicial seja conferido conjuntamente ao advogado estagiário e patrono ou patrono formador;
e 2.2 que todas as peças processuais em que se coloquem questões de direito sejam subscritas por ambos, devendo
ainda o patrono formador estar presente em todas as diligências orais”.
De igual modo, não é necessário acompanhamento por outro advogado em procedimento que possa
ser subscrito pela própria parte.
O mandato pode ser revogado pela parte que concedeu os poderes e também pode o advogado renunciar
ao mandato recebido.
A revogação e a renúncia do mandato devem ter lugar no próprio processo e são notificadas tanto ao
mandatário ou ao mandante, como à parte contrária (art. 47.º).
Constitui dever do advogado, nas relações com o cliente, “não cessar, sem motivo justificado, o patrocínio
das questões que lhe estão cometidas” (art. 100.º, nº1, al e) do EOA). Significa isto que o advogado não deve
afastar-se do cliente só porque o processo não lhe corre de feição.
Diferente da renúncia é a revogação, em que é o próprio cliente quem, unilateralmente, põe termo ao
mandato.
Na prática forense, é frequente juntar-se nova procuração no processo para constituição de novo
mandatário, pretendendo-se, com este procedimento, afastar o primeiro. No entanto, “a constituição de
novo advogado a quem se conferem poderes forenses gerais, só por si não revoga procuração anterior” (Ac. RL
de 6.7.1995).
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Quanto aos efeitos da renúncia e da revogação, importa distinguir as situações em que é obrigatória a
constituição de advogado ou não.
Organização Judiciária
Jurisdição
A jurisdição constitui o poder de julgar que é atribuído aos tribunais considerados no seu conjunto.
É com este sentido que o art. 202.º CRP comete aos tribunais, como órgãos de soberania, a função
jurisdicional.
Competência
A competência é apenas uma parcela desse poder, i. e, é a parcela de jurisdição que é atribuída a cada
um dos órgãos jurisdicionais.
O poder jurisdicional está repartido pelos diversos tribunais segundo determinados critérios. As
normas que definem os critérios que presidem à repartição do poder de julgar pelos diversos tribunais
denominam-se regras de competência.
Alçada
A organização judiciária decorre da LOSJ (Lei 62/2013) que “estabelece as normas de enquadramento e
organização do sistema judiciário” (art. 1.º), bem assim à respetiva regulamentação, operada pelo DL
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49/2014, que estabelece o “regime aplicável à organização e funcionamento dos tribunais judiciais (ROFTJ)”
(art. 1.º).
Tal como estabelece o art. 33.º, nº2 LOSJ (e o art. 3.º ROFTJ), o território nacional divide-se em 23
comarcas. Estas comarcas são determinadas do seguinte modo: tantas quantos os distritos
administrativos (18); uma comarca na RAA (1) e outra na RAM (1); o distrito de Lisboa é repartido
em três zonas: (i) Lisboa; (ii) Lisboa Norte; e (iii) Lisboa Oeste; o distrito do Porto é repartido em duas
zonas: (i) Porto e (ii) Porto Este.
Estas 23 comarcas e as respetivas circunscrições geográficas estão previstas no anexo II da LOSJ (art.
33.º, nº2 LOSJ). A sede, a área de competência territorial e a composição do STJ, dos Tribunais da
Relação e dos Tribunais de 1ª Instância constam, respetivamente, nos mapas I, II e III anexos ao
ROFTJ (art. 4.º ROFTJ).
Tribunais de 1ª Instância
Em cada comarca, existe um tribunal de 1ª instância que é, em regra, o tribunal de comarca (arts. 33.º,
nº3 e 79.º LOSJ; arts. 64.º, 66.º e 102.º ROFTJ).
No entanto, nos termos do art. 33.º, nº1, os tribunais judiciais de 1ª instância incluem, além dos
tribunais de comarca, os tribunais de competência territorial alargada, i. e., tribunais que exercem
jurisdição em mais do que uma comarca ou sobre áreas especialmente definidas por lei, os quais serão
sempre de competência especializada (art. 83.º, nºs 1 e 2).
Nos termos do art. 81.º, nº1 LOSJ, os tribunais de comarca desdobram-se em juízos, que podem ser de
competência especializada, de competência genérica e de proximidade.
Os Tribunais da Relação designam-se pelo nome do município onde se encontram instalados (art. 67.º,
nº1 LOSJ).
Coimbra
Évora
Guimarães
Lisboa
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Porto
Os Tribunais da Relação compreendem seções em matéria cível e penal, podendo, ainda, em função do
volume ou da complexidade do serviço, compreender secções em matéria social, de família e menores,
de comércio, de propriedade intelectual e de concorrência, regulação e supervisão (art. 67.º, nºs 3 e 4).
Tem sede em Lisboa e exerce jurisdição em todo o território nacional, compreendendo secções em
matéria cível, penal e social (art. 47.º, nº1 LOSJ).
O poder de julgar está distribuído entre os tribunais de acordo com diversos critérios.
A competência interna, que se traduz na repartição, entre os diversos tribunais portugueses, do poder
de julgar, subdivide-se em função (1) da Hierarquia; (2) do Território (3) da Matéria e (4) do Valor da
causa (art. 60.º, nº2; art. 37.º, nº1 LOSJ).
Convém salientar que a competência do tribunal se fixa no momento em que a ação se propõe, sendo
irrelevantes as modificações de facto que ocorram posteriormente, bem como as modificações de
direito, salvo as exceções enunciadas no art. 38.º, nºs 1 e 2 da LOSJ.
6 Note-se, porém, que os tribunais de 1ª Instância têm competência para conhecer certos recursos, nos termos
indicados no art. 67.º.
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2. Os Tribunais da Relação que têm competência para conhecer dos recursos interpostos de
decisões proferidas pelos tribunais de 1ª instância (art. 68.º, nº2 e 42.º, nº2 LOSJ) e têm ainda
competência para certas causas (art. 68.º; e 73.º LOSJ).
3. O Supremo Tribunal de Justiça, que tem competência para conhecer dos recursos interpostos
das decisões dos Tribunais da Relação (art. 42.º, nº2 LOSJ e 69.º, nº2), e tem competência para
certas causas (arts. 53.º e 55.º LOSJ e art. 69.º).
Se são os diplomas que regulam a organização judiciária do país a definir as diversas circunscrições
geográficas, é a lei de processo que fixa os fatores que determinam, em cada caso, o tribunal
territorialmente competente.
Foro real (art. 70.º); cfr. nº3 para ações que tenham por objeto uma universalidade de facto, ou
bens móveis e imóveis, ou imóveis situados em circunscrições diferentes;
Foro obrigacional (art. 71.º, nº1 – responsabilidade contratual; nº2 – responsabilidade
extracontratual).
Foro do autor (art. 72.º)
Foro conexional (art. 73.º, nº1). Importa esclarecer que, apesar da sua aparente abrangência, o
foro conexional não tem aplicação quando o mandato judicial ou a assistência técnica hajam
ocorrido num tribunal ou juízo de competência especializada, caso em que se tem de aplicar a
competência territorial nos termos gerais (art. 80.º);
Foro geral, também designado por foro do réu (art. 80.º, nº1);
Foro executivo:
- As sentenças proferidas por tribunais portugueses são executadas nos próprios autos (art.
85.º, nº1 e 626.º);
- Para as execuções baseadas em títulos extrajudiciais (art. 89.º, nº1)
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1. Art. 64.º CPC e art. 40.º, nº1 LOSJ: “São da competência dos tribunais judiciais as causas que não
sejam atribuídas a outra ordem jurisdicional”.
2.1 Tribunais de Competência Territorial Alargada (arts, 83.º, nº3 LOSJ e 65.º ROFTJ).);
previstos nos arts. 111.º e ss. LOSJ):
Tribunal da Propriedade Intelectual: competente para conhecer das ações cuja
causa de pedir verse sobre direitos de autor e direitos conexos, verse sobre
propriedade intelectual; nomes de domínio na internet; atos de concorrência
desleal em matéria de propriedade industrial (art. 111.º);
Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão (art. 112.º): questões relativas
a recurso, revisão e execução das decisões, despachos e demais medidas em
processo de contraordenação proveniente da AC, ANC, do BP, da CMVM (art.
112.º)
Tribunal Marítimo (art. 113.º)
Tribunal de Execução de Penas (art. 114.º)
Tribunal Central de Instrução Criminal (art. 116.º e 120.º, nº1).
Nos termos do art. 81.º, nº1 LOSJ, os tribunais de comarca desdobram-se em juízos, que podem ser de
competência especializada, de competência genérica e de proximidade.
2.2 Juízos de competência especializada (art. 81.º, nº3 e arts. 117.º a 129.º LOSJ):
Juízos centrais cíveis: têm competência para preparar e julgar as ações declarativas
cíveis de processo comum de valor superior a 50.000 € e para exercer, no âmbito
das ações executivas de natureza cível de valor sup. a 50.000 €, as competências
previstas no CPC, em circunscrições não abrangidas pela competência de outro
juízo ou tribunal (art. 117.º, nº1, als. a) e b));
Juízos Centrais Criminais: têm competência para proferir despachos nos termos
do art. 311.º a 313.º CPC e proceder ao julgamento e aos termos subsequentes nos
processos de natureza criminal da competência do tribunal coletivo ou do júri (art.
118.º, nº1);
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A competência interna em razão do valor releva no âmbito das ações declarativas cíveis de processo
comum, determinando a intervenção dos juízos centrais cíveis no confronto com os juízos locais cíveis
(estes, de competência genérica).
Confronto entre art. 117.º, nº1, al. a) e art. 130.º, nº1 LOSJ.
Pode concluir-se que a competência dos juízos centrais cíveis é estabelecida pela conjugação simultânea
de dois critérios de competência.
7
V. pp. 121 e ss. Processo Civil Declarativo de Paulo Pimenta.
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Julgados de paz
A lei 45/2013 alterou a lei 78/2001, aumentando significativamente as competências dos julgados de
paz ao atribuir-lhes a possibilidade de julgar casos cujo valor económico possa atingir € 15 000 (em
vez dos € 5 000 da lei anterior). Também foram atribuídas competências em ações que se destinam a
efetivar o cumprimento de obrigações, com exceção das que tenham por objeto o cumprimento de
obrigações pecuniárias e digam respeito a um contrato de adesão e ainda ações de reivindicação,
possessórias, usucapião, acessão e divisão de coisa comum.
1. Princípio do Dispositivo
O princípio do dispositivo constitui a pedra angular do processo civil. Está expresso no art. 3.º, nº1,
que impede o tribunal de “resolver o conflito de interesses que a ação pressupõe sem que a resolução lhe seja
pedida por uma das partes…”.
O processo civil é meramente instrumental do direito substantivo (do direito civil). Assim, regulando
o processo civil a discussão judicial de relações jurídicas privadas e estando estas na disponibilidade
das partes, diz-se que o processo civil é essencialmente dispositivo, ou seja, está dependente da livre
disponibilidade das partes, podendo estas instaurá-lo ou não (dominus litis), fazê-lo continuar ou não.
Ou seja, a disponibilidade das relações jurídicas privadas repercute-se na disponibilidade do processo
– é esta a nota essencial do princípio do dispositivo.
Ao juiz compete apenas garantir a observância das normas processuais e tem a função de decidir, de
julgar o litígio.
Não compete ao juiz averiguar se o pedido formulado é o mais adequado à situação que lhe é
apresentada.
A ação existe a partir do momento em que é recebida em juízo a respetiva petição inicial (art. 259.º,
nº1). A instauração da ação é o ato que marca o início da instância.
Citado, entretanto, o réu, a instância deve manter-se estável quanto aos seus elementos fundamentais
(art. 260.º)8 e deverá culminar numa sentença (art. 607.º) que aprecie a pretensão formulada pelo autor
e julgue a ação procedente ou improcedente, condenando ou absolvendo o réu em conformidade e
pondo termo ao processo, sem prejuízo da eventual interposição de recurso.
Este desenvolvimento da instância pode não ser completamente linear, já que podem verificar-se
situações geradoras da suspensão da instância (arts. 269.º a 276.º).
Por outro lado, podem surgir incidentes da instância (arts. 292.º e ss).
Além disso, se o modo normal e expectável de o processo terminar é o que decorre da prolação da
sentença que aprecie materialmente a pretensão deduzia em juízo (art. 607.º), é possível a instância
terminar por outras razões. Disso trata o art. 277.º que enuncia os casos de extinção da instância,
tratando os preceitos subsequentes do regime das diversas formas que tal extinção pode assumir.
Nos termos do art. 277.º, nº1, al. a), a instância extingue-se com o julgamento, seja por via de (i)
sentença que aprecie materialmente a questão (art. 607.º), (ii) seja por via do que usa chamar-se
julgamento formal da lide (não se pronuncia sobre o mérito da questão, limitando-se a absolver o réu
da instância, a qual radica na verificação de exceção dilatória).
Entre outros motivos de extinção da instância referidos no art. 277.º (art. 289.º e 290.º), avultam os
casos de:
8O art. 260.º consagra o princípio da estabilidade da instância quanto às pessoas, ao pedido e à causa de pedir,
sendo admissíveis alguns casos de modificação, que podem ter natureza subjetiva (arts. 261.º e 262.º) ou objetiva
(arts. 264.º, 265.º e 266.º).
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Confissão
Transação (al. d) e art. 285.º) – neste caso, o processo termina com a prolação de uma sentença
cujo sentido (condenatório ou absolutório) decorre, não dos elementos revelados pelo
processo, mas da vontade das partes.
Devem ser as partes a carrear para os autos os factos que sustentam as respetivas pretensões. O autor
deverá, pois, alegar os factos que dão consistência ao pedido por si formulado e ao réu competirá alegar
os factos que servem de base à sua defesa.
O art. 3.º torna claro que o ónus de alegação se circunscreve aos factos essenciais.
Em consonância: art. 552.º, nº1, al. d) (Petição Inicial) e art. 572.º, al. c) e 574.º, nº1 sobre o ónus de
impugnação (Contestação).
Ou seja, não há qualquer ónus de alegação quanto a factos instrumentais (i. e., factos que permitem a
prova indiciária dos factos essenciais).
Acerca da consideração dos factos complementares (i. e., aqueles que, embora necessários para a
procedência das pretensões deduzidas, não cumprem uma função individualizadora do tipo legal),
importa sublinhar que o juiz pode e deve conhecer de tais factos “quando resultem da instrução da causa”
e “desde que sobre eles as partes tenham tido a oportunidade de se pronunciar”, ao contrário do que sucedia
antes do CPC de 2013.
3) Limites da Sentença
Muito embora o juiz possa considerar que o pedido não é o que mais se adequa aos interesses do autor,
não pode, na sentença, substituir esse pedido por outro.
No entanto, o tribunal não está sujeito à qualificação jurídica das partes e pode concluir por um pedido
diferente, com efeitos práticos idênticos ou análogos (brocardo jura novit curia)9.
9 Em muitas petições, os autores formulam, como pedido “o despejo”. Ora, o despejo é o ato material de entrega
do locado, que não se confunde com a prévia resolução do contrato de arrendamento por via judicial. Ou seja, o
pedido concreto é o de resolução do contrato. O tribunal, mesmo que não seja pedida a resolução, mas sim o
despejo, qualifica de forma correta a pretensão, decretando a resolução do contrato de arrendamento e o
consequente despejo. Também se entende que nas ações de acidente de viação o tribunal pode condenar em danos
morais superiores aos peticionados, se não for ultrapassado o valor do pedido global. Exemplo: foi pedida
indemnização por danos não patrimoniais ou morais no valor de cinco mil euros e o tribunal arbitra sete mil
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Como referiu o Ac, do STJ de 17/06/1992, “I – A errada qualificação jurídica do pedido não impede o juiz
de, observando o princípio do dispositivo, declarar pedido diferente, conforme o art. 661.º do CPC. II – Não
ofende aquele princípio, no caso dos autos, ter-se pedido a declaração de anulação de certo contrato, acabando o
juiz por declarar a sua resolução. III – De igual modo, também não impede o juiz de qualificar como empreitada
o negócio jurídico que as partes e o próprio tribunal haviam qualificado de compra e venda”.
Mas poderá condenar em menos. Se o autor pede a condenação do réu no pagamento de mil euros e só
logra provar que a dívida é de quinhentos, a condenação será de quinhentos euros. “Do nº1 do art. 661.º
do CPC resulta que a sentença não pode condenar em mais, mas pode condenar em menos; na ação em que se
pediu a demolição de toda a obra, ou seja, a demolição de todos os 250 m2 de que ela se compunha e se condenou
a demolir apenas parte dela (50 m2) para que a obra fosse limitada aos aprovados e licenciados 200 m2, a
condenação não foi além nem condenou em coisa diversa do pedido” (ac. RE de 4/7/1991).
Nas ações de posse: considerando a dificuldade e o autor qualificar os atos de terceiro, bem
como a possibilidade de modificação da situação de facto alegada, o juiz deve adequar a decisão,
“de acordo com a situação realmente verificada” (art. 609.º, nº2).
Na ação de divórcio sem consentimento: o art. 931.º, nº7 permite ao juiz fixar, por sua iniciativa
e tendo em conta a situação, um regime provisório quanto à regulação do exercício das
responsabilidades parentais, alimentos e casa de morada de família.
Nas ações de interdição e inabilitação: o juiz pode, consoante a prova efetuada e os interesses
em jogo, tomar uma decisão diferente da que é pedida pelo autor. Foi pedida a interdição, mas
não se justifica essa medida tão drástica. O tribunal pode optar pela inabilitação, sem que seja
necessário propor outra ação.
Nos procedimentos cautelares: o art. 376.º, nº3 permite ao juiz adotar a providência mais
ajustada à situação, em vez de se limitar a deferir ou indeferir a providência requerida.
No processo de trabalho, o juiz pode condenar além do pedido (“ultra petitum”) em obediência
ao princípio do tratamento mais favorável do trabalhador.
euros. O tribunal baseou a condenação no facto de “os limites a que se alude no nº1 do art. 661.º do CPC referem-se
ao pedido global e não às parcelas indemnizatórias. Assim, no exercício do prudente arbítrio, o julgador pode valorar as
parcelas indemnizatórias, desde que não seja excedido o pedido total” (acórdão do STJ de 17/3/1983). Não houve,
assim, condenação superior ao pedido.
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2. Princípio do Contraditório
Se o autor formula um pedido contra o réu, este tem o direito de ser chamado ao processo (através do
ato de citação), defendendo-se. O princípio do contraditório conduz à participação ativa das partes,
chamadas a pronunciar-se sobre todas as questões que se suscitam no processo.
Como refere Baltazar Coelho, “a estruturação dialética ou polémica do processo, em que todo o movimento
realizado por uma parte abre à parte contrária a possibilidade de realizar um outro dirigido a contrariar os
efeitos do que o precede, representa a essência do princípio do contraditório”.
O art. 3º consagra diretamente o princípio do contraditório. Não é lícito ao juiz “salvo caso de manifesta
desnecessidade, decidir questões de direito ou de facto, mesmo que de conhecimento oficioso, sem que as partes
tenham tido a possibilidade de sobre elas se pronunciarem” (nº3).
Segundo o Ac. do STJ de 13.1.2005, “II- A violação do princípio do contraditório inclui-se na cláusula geral
sobre as nulidades processuais constante do art. 201.º, nº1 do CPC, não constituindo nulidade de que o tribunal
conhece oficiosamente, pelo que se tem por sanada se não for invocada pelo interessado no prazo de 10 dias após
a respetiva intervenção em algum ato praticado no processo (arts. 203.º, nº1 e 205.º, nº1 do mesmo diploma)”.
Com base nesse princípio do contraditório, qualquer requerimento apresentado por uma parte está
sujeito à “resposta” da outra, a não ser que o requerimento incida sobre questões sem relevância para
o processo, que suscitem despachos de mero expediente.
É o caso do pedido de uma certidão num processo de divórcio que tem de ser decidido pelo juiz. Não
faria sentido que a parte contrária fosse chamada a pronunciar-se sobre esse requerimento, que não
influi no processo.
Art. 220.º, nº2: obriga a secretaria a efetuar oficiosamente a notificação, sempre que as partes
tenham a possibilidade de responder a requerimentos, ou exercer algum direito processual que
não dependa de prazo a fixar pelo juiz nem de prévia citação;
Art. 219.º, nº3: com a citação ou a notificação, a secretaria deve facultar elementos e cópias
legíveis dos documentos e peças, de forma a que a parte se possa pronunciar com conhecimento
da matéria (art. 219.º, nº3);
Há alguns processos em que o contraditório só surge a partir de certa fase, como acontece com alguns
procedimentos cautelares. Caso contrário, poderia o pedido ficar comprometido.
P. ex: o credor formula pedido de arresto, por saber que o devedor está a vender os seus bens. Se o
devedor fosse ouvido antes de a providência ser decretada, o arresto poderia ficar votado ao insucesso,
com a dissipação acelerada dos bens.
Mesmo assim, nos procedimentos cautelares em geral, a regra é o contraditório, como decorre do art.
366.º, nº1.
3. Princípio do Inquisitório
Muito embora o processo seja iniciado pelo autor, incumbe ao juiz “realizar ou ordenar, mesmo
oficiosamente, todas as diligências necessárias ao apuramento da verdade e à justa composição do litígio, quanto
aos factos de que lhe é lícito” (art. 411.º).
Por força desta norma, atribui-se ao juiz o poder-dever de indagação e recolha de prova relativamente
aos factos sujeitos à sua apreciação.
Por força das alterações introduzidas pelo novo CPC, passou a haver uma maior iniciativa na atuação
dos magistrados, já que se intensificou o poder-dever.
Prevê-se, por outro lado, a possibilidade de as partes prestarem declarações em audiência. Aquilo que
era uma atuação “anómala” do magistrado, passa agora a poder ser requerido pela própria parte,
conforme preceitua o art. 466.º, nº1.
Ou seja, com a Reforma de 95/96, o juiz deixou de estar vinculado à aplicação das formas processuais
e à tramitação básica prevista; se verificasse que determinada formalidade era desnecessária, poderia
simplificar o processo.
O novo CPC vai mais longe, determinando o art. 547.º que o juiz deve adotar a tramitação processual
adequada.
Julgar-se-ia que, com o novo CPC, estaria eliminada a necessidade de prévia audição das partes na
escolha pelo juiz da tramitação que considera mais adequada. Porém, tem de se conjugar a disposição
do art. 547.º com a do art. 6.º, que impõe o contraditório na aplicação do princípio da gestão processual.
Constitui uma verdadeira direção efetiva do processo, atribuída ao juiz. Assim, a partir de 95/96, o juiz
passou a tomar uma posição ativa, de forma a que a falta de pressupostos processuais fosse suprida.
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Em termos práticos, o art. 6.º veio acentuar a obrigação de o juiz providenciar pelo “andamento célere”
do processo, ou seja, de ter a iniciativa de impulsionar o processo para que este termine o mais
rapidamente possível.
É ainda no reforço dos poderes de direção e de gestão do processo que se inscreve o poder/dever do
juiz de proceder à programação da audiência final.
Também se insere no âmbito da gestão processual a irrecorribilidade das decisões proferidas ao abrigo
dos poderes direção e gestão dos meios processuais, com exceção daquelas que violem os princípios da
igualdade e do contraditório.
6. Princípio da Imediação
Segundo Manuel de Andrade, traduz-se essencialmente no contacto direto entre o juiz e as diversas
fontes de prova.
Reflexo desse princípio é a oralidade, concretizado na realização oral de atos processuais, quer de
produção de prova quer de discussão da causa.
O novo CPC consagra a oralidade na importante fase da audiência prévia, cuja tramitação vem descrita
no art. 591.º, e que é gravada, sempre que possível.
O próprio despacho saneador é ditado para a ata (podendo, em casos de especial complexidade, ser
proferido por escrito).
Assim, se a ação houver de prosseguir, o juiz profere despacho identificando o objeto do litígio e
enunciando os temas da prova, mais uma vez oralmente. Ou seja, a elaboração da especificação e
questionário, que obedeciam à forma escrita, foi substituída por um despacho oral, que, no entanto,
pode ser transcrito (art. 155.º, nº5).
De notar o princípio da plenitude da assistência do juiz, consagrado no art. 605.º, que prevê que, mesmo
em caso de transferência ou promoção, o juiz que tiver presidido ao julgamento elabore a sentença.
7. Princípio da Cooperação
O art. 266.º introduziu o princípio da cooperação, reproduzido no art. 7.º do novo CPC.
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O dever de cooperação implica uma nova cultura forense em que a combatividade e firmeza podem
persistir, mas coexistem com o espírito de entreajuda entre os vários intervenientes processuais, com
vista à obtenção de uma “justa composição do litígio”.
Os advogados não podem olvidar que são indispensáveis à administração da justiça, como preceituam
os arts 83,º e ss. do EOA, pelo que devem empenhar-se em afastar a litigiosidade desnecessária.
A omissão do dever de cooperação faz incorrer a parte faltosa em litigância de má fé (art. 542.º, nº2, al
c)), o que implica que a parte seja condenada em multa e indemnização à parte contrária, se esta pedir.
Este princípio assume especial relevo na audiência prévia (será muito mais fácil a tentativa de
conciliação resultar).
Como corolário do princípio da cooperação, surgem várias obrigações, como o dever de prestar
esclarecimentos sobre qualquer aspeto da matéria de facto ou de direito e o dever de comunicação
atempada de qualquer facto impeditivo da realização de diligências.
“As partes devem agir de boa fé e observar os deveres de cooperação resultantes do preceituado no artigo anterior”
(art. 8.º).
A parte que, com dolo ou negligência grave, tenha deduzido pretensão ou oposição “cuja falta de
fundamento não devia ignorar” ou “tiver alterado a verdade dos factos ou omitido factos relevantes
para a descoberta da causa”, ou “tiver praticado omissão grave do dever de cooperação”, “tiver feito do
processo ou dos meios processuais um uso manifestamente reprovável, com o fim de conseguir um
objetivo ilegal, impedir a descoberta da verdade, entorpecer a ação da justiça ou protelar, sem
fundamento sério, o trânsito em julgado da decisão” (art. 542.º, nº2), é considerada litigante de má fé.
Exemplos:
Numa ação de investigação de paternidade, o réu nega ter tido qualquer relacionamento íntimo
com a mãe da criança. Prova-se, no entanto, que a criança é sua filha. Os exames hematológicos
conferem, atualmente, um grau de probabilidade próximo dos 100 %. O tribunal pode condenar
o réu como litigante de má fé, em multa e indemnização.
O réu é condenado, em ação de despejo, a desocupar a casa. Interpõe recurso por saber que na
Relação irá retardar o processo largos meses. Mas o recurso não tem qualquer viabilidade. O
tribunal pode condenar o réu como litigante de má fé.
O mandatário poderá também ser responsabilizado, com participação à OA, para efeitos disciplinares,
se for reconhecido que “teve responsabilidade pessoal e direta nos atos pelos quais se revelou a má fé
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na causa” (art. 545.º). Além das sanções disciplinares, prevê-se a possibilidade de condenação do
mandatário “na quota-parte das custas, multa e indemnização”.
Constitui dever do advogado para com a comunidade “não advogar contra o direito, não usar de meios
ou expedientes ilegais, nem promover diligências reconhecidamente dilatórias, inúteis ou prejudiciais
para a correta apreciação da lei ou descoberta da verdade” (art. 90.º, nº 2, al. a) do EOA, constituindo
a violação dolosa ou culposa desde dever, infração disciplinar” (art. 115.º).
Este dever está consagrado no art. 9.º, impendendo sobre advogados e magistrados, que devem
respeitar-se entre si, atuando com urbanidade.
O art. 95.º do EOA dispõe que “no exercício da profissão o advogado deve proceder com urbanidade,
nomeadamente para com os colegas, magistrados, peritos, testemunhas e demais intervenientes nos processos e
ainda funcionários judiciais, notariais, das conservatórias, outras repartições ou entidades públicas ou privadas”.
Também o Estatuto dos Magistrados Judiciais obriga os magistrados a “assegurar aos advogados, quando
no exercício da sua profissão, tratamento compatível com a dignidade da advocacia, estando sujeitos ao dever de
correção e de pontualidade”.
Reflexo desta obrigação constitui o nº 4 do art. 151.º que impõe ao tribunal o dever de dar imediato
conhecimento aos intervenientes processuais sempre que se verifique uma diligência que por motivo
imprevisto, não pode realizar-se no dia e hora designados.
Também no caso de surgirem obstáculos ao início pontual das diligências, deve o juiz comunicar o
facto aos advogados, e a secretaria às partes, dentro dos trinta minutos subsequentes à hora designada
para o seu início. A falta de comunicação implica a dispensa imediata dos intervenientes processuais
comprovadamente presentes.
Também o advogado deve comunicar ao tribunal e aos colegas qualquer impedimento a uma diligência
judicial que tenha sido designada.
Há deveres de cortesia e boa educação que estão implícitos no dever mais geral de recíproca correção.
Quanto à forma, i. e., quanto à tramitação técnica e processual a que têm de submeter-se, o processo
pode ser comum ou especial (art. 546.º, nº1). Nos termos do nº 2, o processo especial aplica-se aos casos
expressamente designados na lei, observando-se o processo comum em todos os restantes. Ou seja, no
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processo declarativo, o processo comum é a regra (art. 546.º). Os processos especiais são a exceção.
Aplicam-se a todos os casos expressamente designados na lei (art. 546.º, nº2).
Assim, tem de verificar se a ação que se pretende propor vem regulamentada como processo especial,
uma vez que o âmbito de aplicação do processo comum é definido a contrario sensu.
1. Processo Comum
O processo declarativo comum segue forma única (art. 548.º), ou seja, todas as ações declarativas
comuns estão sujeitas à mesma forma de processo, independentemente do seu valor e da sua
complexidade.
A tramitação base definida para o processo declarativo comum é a que se encontra nos arts. 552.º a
626.º.
Incumbe ao juiz adotar a tramitação processual adequada às especificidades da causa, pelo que poderá,
numa determinada situação concreta, o juiz definir uma tramitação diferente da prevista, com o fim de
assegurar um processo equitativo (art. 547.º).
No entanto: v. ainda 597.º; e quanto a diferenciações tendo em conta o valor da ação: art. 604.º, nº5;
468.º, nº5; 511.º, nºs 1 e 2.
2. Processos Especiais
Os processos especiais não seguem um modelo único, mas a tramitação adequada à providência que o
autor se propõe obter e que vem regulamentada nas normas inseridas no processo especial.
Nos termos do art. 549.º, nº1 os processos especiais regulam-se pelas disposições que são próprias e
pelas disposições gerais e comuns. Ou seja, em tudo o que não estiver previsto em tais disposições,
aplicam-se as normas do processo comum.
Importa esclarecer que os processos especiais não são apenas os ínsitos no CPC, mas todos aqueles que
qualquer outro diploma expressamente preveja e regule como tal. P. ex:
A lei 61/2008 aprovou o novo regime jurídico do divórcio, introduzindo profundas alterações.
O divórcio pode ser por mútuo consentimento ou sem consentimento de um dos cônjuges.
Por mútuo significa que ambos estão de acordo; neste caso, devem requerer o divórcio na
Conservatória do Registo Civil ou no tribunal, neste caso último se não tiverem estabelecido os
acordos a que se refere o art. 1775.º, nº1 do CC (acordos sobre a prestação de alimentos ao cônjuge que
deles careça, sobre a regulação das responsabilidades parentais relativamente a filhos menores e sobre
o destino da casa de morada de família). Ou seja, se houver acordo relativamente a estas matérias, o
divórcio terá de ser obrigatoriamente requerido na Conservatória do registo civil (art. 13,º, nº1 do DL
272/2001).
Se apenas um dos cônjuges pretender o divórcio, o legislador eliminou a figura do divórcio litigioso,
bem como a necessidade da demonstração da violação culposa dos deveres conjugais.
A ação especial de divórcio sem consentimento do outro cônjuge, regulada nos arts. 931.º e ss. do CPC,
tem uma particularidade: após a entrada da petição, o juiz designa data para uma tentativa de
conciliação. Se os cônjuges estiverem de acordo no divórcio, mais exatamente no acordo quanto a
alimentos, regulação do exercício das responsabilidades parentais relativamente a filhos menores e
utilização da casa de morada de família, o processo convola-se em mútuo consentimento, sendo
decretado o divórcio.
Não havendo acordo, o réu é notificado da petição, iniciando-se o prazo para contestar.
Havendo contestação, seguem-se as regras do processo comum. Não havendo contestação, segue-se a
marcação da audiência final, o julgamento.
Atualmente, por força do DL 32/2003, o credor de obrigações pecuniárias pode recorrer sempre à
injunção, sem limitação de valor, se a obrigação pecuniária resultar de transação comercial, ou seja, se
estivermos perante empresas, em sentido lato.
Se a relação comercial for estabelecida com um consumidor, a injunção só pode ser aplicada se o valor
da dívida não exceder os 15 mil €. Mas o credor não é obrigado a recorrer à injunção; quando prevê
que possa haver oposição, é preferível optar pela ação especial (se o valor da dívida não exceder o valor
de € 15.000) ou pela ação com processo comum (se exceder esse valor).
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A lei nº 31/2012 contém medidas destinadas a dinamizar o mercado de arrendamento, entre as quais
a criação de um procedimento especial de despejo no local arrendado.
Para esse efeito, foi criado o Balcão Nacional de Arrendamento, destinado a assegurar a tramitação do
procedimento. A portaria 9/2013 regulamentou alguns aspetos do procedimento especial de despejo.
Aplica-se aos casos de cessação por mútuo acordo (revogação do contrato), por oposição à renovação
do contrato quer do senhorio quer do arrendatário, por caducidade do decurso do prazo fixado no
contrato, por denúncia do contrato pelo senhorio ou pelo arrendatário, por resolução com fundamento
em mora no pagamento de rendas – neste caso, tem de se observar primeiro o procedimento legal do
art. 1083.º do CC - e por resolução com fundamento na oposição do arrendatário à realização de obras.
Não se aplica aos casos em que o senhorio pretende a resolução do contrato de arrendamento por
incumprimento do arrendatário (a não ser que seja por falta de pagamento de rendas, em que neste
caso se aplica o procedimento especial); quando o senhorio pretenda a resolução do contrato com
fundamento em incumprimento, terá de propor ação declarativa, vulgarmente chamada ação de
despejo. Proferida nessa ação declarativa sentença com trânsito em julgado, se o arrendatário não
desocupar o locado, o autor terá de recorrer a execução para entrega do imóvel, que corre por apenso
à ação declarativa, e não recorrer ao Balcão Nacional de Arrendamento.
Para poder recorrer ao procedimento especial de despejo, o senhorio terá de comprovar a existência
de contrato de arrendamento escrito bem como do pagamento do imposto de selo.
Se ocorrer a falta de junção de documentos ou outros fundamentos, o requerente pode entregar novo
requerimento de despejo no prazo de 10 dias a contar da notificação.
O BNA remete cópia da oposição ao requerente e remete o processo para distribuição no tribunal
competente, atendendo à necessidade de dirimir o litígio.
30 dias para proceder à desocupação e retirar os seus móveis, sob pena de os mesmos se considerarem
abandonados,
Assim, nos termos do art. 2.º, são da competência do MP as decisões relativas a suprimento de
consentimento, autorizações e confirmação de atos praticados pelo representante legal do incapaz sem
a necessária autorização.
O pedido é apresentado junto do representante do MP, com os fundamentos de facto e de direito bem
como com a indicação dos meios de prova.
Estes procedimentos têm por pressuposto a formação de acordo das partes. O pedido é apresentado
mediante requerimento entregue em qualquer conservatória, sendo o requerido citado para, no prazo
de 15 dias, apresentar oposição, com indicação dos meios de prova.
Caso não seja apresentada oposição, os factos consideram-se confessados, e o conservador, depois de
verificado o preenchimento dos pressupostos legais, declara a procedência do pedido.
Caso seja deduzida oposição, o conservador marca tentativa de conciliação, a realizar no prazo de 15
dias. Não havendo acordo, o procedimento é remetido a tribunal.
O art. 12.º do diploma atribui competência exclusiva ao conservador em matéria de reconciliação dos
cônjuges separados, separação e divórcio por mútuo consentimento (exceto nos casos em que os
cônjuges não apresentem todos os acordos, em que um dos acordos apresentados não é homologado
ou nos casos de acordo obtido no âmbito de processo de separação ou divórcio sem consentimento do
outro cônjuge).
Com a entrada em vigor a 1 de setembro de 2013, o inventário passou a ser da competência dos
notários, incumbidos da sua tramitação.
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Como resulta do art. 2.º, o processo de inventário destina-se a pôr termo à comunhão hereditária ou,
não carecendo de se realizar a partilha, a relacionar os bens que constituem objeto da sucessão, bem
como a proceder à partilha no caso de divórcio (não havendo acordo dos cônjuges).
O Programa CITIUS
Outra novidade do CPC de 2013 que tem a ver com o modo de apresentação das peças escritas em
juízo, passando a funcionar como regra aquilo que era apenas uma faculdade.
Assim, nos termos do art. 144.º, nº1, quando as partes estejam patrocinadas por mandatário, a
apresentação de todas as peças escritas nos autos passa a ser feita obrigatoriamente por transmissão
eletrónica de dados, com dispensa do envio do original da peça processual e dos respetivos documentos
(art. 144.º, nº2), cabendo à secretaria providenciar pela extração dos exemplares necessários quando
haja necessidade de duplicados ou cópias, nomeadamente para efeitos de citação ou notificação (art.
144.º, nº6).
Deste modo, a transmissão eletrónica de dados, ou seja, a utilização do programa CITIUS, passou a
ser obrigatória.
O programa apenas pode ser utilizado por advogados, advogados estagiários e por solicitadores (uma
vez que é necessário requerer certificado de assinatura digital à O.A).
Acesso e Funcionalidades
Pode aceder-se a:
As peças, incluindo os documentos, são enviados por via eletrónica, ficando a parte dispensada de
remeter os respetivos originais (art. 144.º, nº2); porém, o juiz pode determinar a exibição das peças
processuais em suporte de papel bem como os originais dos documentos juntos (nº5 do citado artigo).
No entanto, por vezes as peças processuais e os documentos excedem a dimensão do CITIUS. Quando
tal sucede, de acordo com o art. 10.º da portaria 280/2013, têm de se distinguir duas situações:
a) Caso a dimensão da própria peça processual, como por exemplo um articulado, ultrapasse os
10 Mb, o seu envio pode ser efetuado através de qualquer das formas previstas no art. 144.º,
nº7., como, p. ex., a entrega na secretaria ou o envio pelo correio.
b) Caso o limite de 10 Mb seja excedido apenas pelos documentos, então ter-se-á de enviar os
restantes documentos no mesmo dia, através de um requerimento ou pelo menor número
possível de requerimentos, pela mesma via. Quando os documentos se reportam a uma petição
ou qualquer ato processual sujeito a distribuição, a apresentação dos documentos deverá ser
efetuada até ao final do dia seguinte ao da distribuição.
O art. 144.º, nº 7 regula o uso de outras formas de apresentação de peças escritas nos autos, seja a
entrega na secretaria, seja a remessa por correio registado, seja ainda o envio por telecópia, mas estas
formas apenas são admitidas nos casos em que, por tal não ser obrigatório, as partes não estejam
patrocinadas por mandatário.
Nota: não nos esquecer de indicar, no formulário do CITIUS, as testemunhas (ainda que estas constem
dos articulados).
Em termos sequenciais, pode dizer-se que a nova ação declarativa se estrutura em três fases ou etapas:
1- A Fase Inicial
2- A Fase Intermédia
3- A Fase Final
1- A Fase Inicial
Articulados
Articulados normais: são as duas primeiras peças escritas e que podem surgir em todas as
ações: a Petição Inicial (art. 552.º e ss), apresentada pelo Autor, marcando o início da ação; e a
Contestação (arts. 569.º e ss), na qual o Réu aduz a sua defesa ou efetua reconvenção.
Articulado eventual (Réplica, art. 584.º): não depende da simples vontade do autor a sua
utilização.
Articulados supervenientes: destinados a permitir trazer ao processo factos que tenham
ocorrido depois da apresentação dos articulados acima referidos, ou de que as partes só tenham
tomado conhecimento após aquela apresentação (arts. 588.º e 589.º; art. 611.º).
Articulados de aperfeiçoamento: têm na sua origem um convite feito pelo juiz da causa;
destinam-se a completar ou corrigir os espontaneamente apresentados (art. 590.º, nº2, al. b) e
nº 4).
Forma articulada
As peças escritas apresentadas pelas partes designam-se por articulados porque a exposição (narração)
dos seus argumentos de facto, deve ser feita por artigos, i. e., por proposições numeradas (art. 147.º,
nº2), sendo tal forma obrigatória sempre que as partes tenham constituído mandatário.
Uma das inovações do CPC de 2013 traduz-se na obrigatoriedade de as partes indicarem os respetivos
meios de prova logo na petição inicial e na contestação (art. 552.º e 572.º, al. d)).
Estes podem ser alterados, mas se o autor (ou o réu) não tiver apresentado nenhum meio de prova, na
petição (ou na contestação) não poderá suprir tal omissão.
Petição inicial
É a entrada da Petição Inicial em juízo que determina o momento do início da instância (art. 259.º,
nº1), sendo também este ato que impede a caducidade relativamente aos direitos cujo exercício
implique a via judicial (art. 333.º, nº1 CC).
Estrutura e conteúdo
Quanto a esta matéria, rege o art. 552.º, ao estabelecer os requisitos a observar na elaboração da Petição
Inicial.
1) Endereço/Cabeçalho
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2) Intróito
3) Narração
4) Conclusão
1) Endereço/Cabeçalho
Contém a designação do tribunal e do juízo onde a ação é proposta (art. 552.º, nº1, al. a) 1ª parte).
2) Intróito
Nos termos da al. d), o autor, na Petição Inicial, deve “expor os factos essenciais que constituem a causa de
pedir e as razões de direito que servem de fundamento à ação”.
Esta previsão tem conexão com o art. 5.º que versa sobre o ónus de alegação das partes e os poderes
de cognição do tribunal. De acordo com o nº1, cabe às partes alegar os factos essenciais que constituem
a causa de pedir e aqueles em que se baseiam as exceções.
Assim, relativamente ao Autor, é na petição inicial que este deve dar cumprimento ao ónus de alegar
os factos essenciais que constituem a causa de pedir, i. e., todos aqueles de cuja verificação depende a
procedência da pretensão deduzida, ou seja, os factos constitutivos do direito (excetuando os casos das
ações de simples apreciação negativa).
Ainda, o autor deve indicar as razões de direito que servem de fundamento à ação, o enquadramento
jurídico da pretensão deduzida.
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No entanto, esta vertente da qualificação jurídica não é tão relevante como a vertente fática, tendo em
consideração o exposto no art. 5.º, nº3.
Porém, o facto de não advir nenhuma sanção em caso de ausência dessa menção não justifica a omissão.
O art. 552.º impõe expressamente essa obrigação (expor as razões de direito) e o princípio da
cooperação assim o exige.
4) Conclusão
O pedido é também um elemento fundamental da Petição Inicial, na medida em que é por ele que se
estabelecem, desde logo, os limites da sentença, no caso de a ação vir a ser julgada procedente (art.
609.º, nº1).
O pedido deve ser expressamente formulado na conclusão, não bastando que apareça acidentalmente
referido.
O pedido deduzido na conclusão da petição representa o corolário lógico dos factos descritos na
narração, os quais são precisamente o fundamento do pedido.
A petição inicial pode concluir pela formulação de um único pedido. Mas pode o autor formular (i)
pedidos alternativos, (ii) pedidos subsidiários, (iii) pedidos cumulativos, (iv) pedidos genéricos e (v)
pedidos de prestações vincendas.
(i) Pedidos alternativos: art. 553.º: o autor pede uma de duas prestações, de tal forma que o direito do
autor fica satisfeito se o réu satisfaz uma delas. Na base do pedido alternativo, está uma obrigação
alternativa, podendo afirmar-se que estas são juridicamente equivalentes.
(ii) Pedidos subsidiários: art. 554.º: o autor quer realmente ver satisfeita a pretensão que formula em
primeiro lugar, mas para a hipótese de ela não proceder, avança com um segundo pedido, que apenas
será apreciado pelo tribunal se o primeiro soçobrar. Assim, se o autor tiver dúvidas acerca da
admissibilidade ou sucesso da sua pretensão, em vez de correr o risco de a ver improceder, tendo de
instaurar nova ação em que deduza outra pretensão, o demandante pode logo deduzir na petição inicial
os dois pedidos10.
10
É o caso de pedido de execução específica (art. 830.º do CC), formulado pelo promitente-comprador. Face ao
incumprimento do contrato promessa pelo promitente-vendedor, aquele pede ao tribunal que profira sentença
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(iii) Pedidos Cumulativos: art. 555.º. Assiste-se a uma pluralidade ou multiplicidade de pretensões por
parte do autor, pretendo este alcançar, simultaneamente, vários efeitos jurídicos. A cumulação de
pedidos tanto pode respeitar a relações jurídicas diferentes (pedidos autónomos) como à mesma
(pedidos principais e acessórios). A cumulação depende da compatibilidade entre os pedidos, da
identidade da forma do processo e da identidade do juízo competente para deles conhecer11.
Ao contrário dos anteriores que são determinados no seu quantitativo e conteúdo, há situações em que
o autor não tem condições para indicar em concreto aquilo que pretende ou quanto pretende.
(iv) Pedidos Genéricos: em regra, o pedido deve ser específico, concreto. No entanto, o art. 556.º
contempla três casos de formulação de pedidos genéricos.
De notar também que, quando estiver esgotada a possibilidade de apuramento dos elementos com base
nos quais a indemnização é fixada, o tribunal deve julgar segundo a equidade (art. 566.º, nº3 do CC).
que substitua a declaração negocial do faltoso, de modo a que seja transmitida a propriedade do imóvel. Porém,
para a hipótese de improcedência do pedido, por não se virem a demonstrar os requisitos da execução específica,
o autor avança desde logo na petição com o pedido de condenação no valor da coisa ou no sinal em dobro, ou
seja, com pedidos subsidiários. Se não o fizesse, teria de propor uma segunda ação.
11
P. ex: o autor pede a condenação do réu na entrega de um imóvel, por este estar ocupado sem título (ação de
reivindicação de propriedade). Pode cumular este pedido (principal) com outro pedido, de condenação na entrega
de uma determinada quantia mensal, a título de indemnização pelos prejuízos causados (que terá de alegar e
demonstrar). Este segundo pedido é importante pois irá afetar o réu se o processo demorar muito tempo.
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(v) Pedidos de prestações vincendas: o art. 557.º permite que o autor peça a condenação do réu no
cumprimento de prestações futuras, i. e., de prestações ainda não vencidas e, portanto, em princípio,
inexigíveis. Originam as condenações in futurum.
(i) art. 557.º, nº1 - falta de pagamento de prestações periódicas. Se o devedor as deixar de cumprir
alguma delas, o autor poderá pedir a condenação no pagamento das vencidas bem como nas vincendas,
ou seja, naquelas que se vencerão após a propositura da ação.
(ii) a segunda hipótese, prevista no nº2, contempla a situação em que a falta de título executivo na data
do vencimento da obrigação possa causar prejuízo ao credor. A lei adianta, exemplificando, o caso em
que se pretenda o despejo de um prédio para o termo do arrendamento. Do que se trata é de, face ao
receio de que, na data fixada para o cumprimento da obrigação, o réu não cumpra ou retarde o
cumprimento, justificando-se então a obtenção antecipada de um título executivo (sentença), suscetível
de proporcionar a oportuna realização coercitiva da obrigação.
5) Além do que se referiu, a Petição deve conter a indicação do Valor da causa (art. 552.º, nº1, al.
f)).
O valor da causa representa a utilidade económica imediata do pedido, a ele se atendendo para
determinar: 1. a competência do tribunal, para efeitos de 2. recurso (art. 296.º, nºs 1 e 2) e para o valor
das 3. custas judiciais.
Para fixar o valor da causa, os critérios constam dos arts. 297.º e ss.
Quando pela ação se pretende obter uma quantia certa em dinheiro, é esse o valor da causa
(art. 297.º, nº1);
O valor da ação de despejo é o da renda de 2 anos e meio, acrescido das rendas em dívida ou
do valor da indemnização, consoante o que for superior (art. 298.º, nº1);
A ação de alimentos definitivos tem por valor o quíntuplo da anuidade correspondente ao
pedido (art. 298.º, nº3);
O valor da ação de reivindicação do direito de propriedade é o da coisa reivindicada (art. 302.º,
nº1);
O valor de uma ação de divórcio ou de uma ação de interdição é o correspondente ao da alçada
da Relação mais € 0,01 (art. 303.º, nº1).
Com o intuito de evitar a indicação de valores superiores aos devidos, para se poder recorrer até ao
STJ ou à Relação, a redação do art. 306.º atribui ao juiz a incumbência de “fixar o valor da causa, sem
prejuízo do dever de indicação que impende sobre as partes”. Essa fixação é efetuada no despacho saneador,
salvo nos casos em que não haja lugar a saneador (em que é, então, fixado na sentença).
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Se a parte tiver indicado um valor inferior, para pagar custas também inferiores, sujeita-se à correção
do valor pelo juiz.
O Autor deve fazer constar da petição inicial o seu requerimento probatório, sendo admitido a alterar
tal requerimento no caso de o réu contestar, podendo fazê-lo na réplica, se esta existir, ou no prazo de
10 dias a contar da notificação da contestação (art. 552.º, nº2).
Esse documento comprovativo do pagamento implica a liquidação do valor pelo autor, através do seu
mandatário, que terá recebido uma provisão (adiantamento) para despesas e honorários, antes de
propor a ação.
No caso da Tabela I-A, que corresponde às ações declarativas, a taxa de justiça é paga em duas
prestações, sendo a primeira no ato da entrega da petição (autor) e contestação (réu), conforme art.
13.º, nº2 do RCP e a segunda (se for o caso) terá de ser paga no prazo de 10 dias a contar da notificação
para a audiência final (art. 14.º, nº2 do RCP). Porém, nada impede que a parte pague logo a totalidade
da taxa de justiça.
Têm de se consultar as tabelas anexas ao RCP para determinar o valor da taxa de justiça. No caso das
ações declarativas, aplica-se a Tabela I-A.
Depois, tem de se obter o DUC (documento único de cobrança) – no CITIUS ou através do site do
Instituto de Gestão Financeira e das Infra-Estruturas da Justiça.
9) Assinatura: A petição deve ter a indicação do domicílio profissional do mandatário judicial (art.
552.º, nº1, al. b)) e, quando for o caso deve conter a designação do agente de execução que
efetuará a citação ou do mandatário judicial que a promoverá (art. 552.º, nº1, al. g)).
Apresentação em juízo
A petição deve ser apresentada em juízo para se dar início à ação, sendo precisamente o momento do
recebimento da petição pela secretaria que marca o início da instância (art. 259.º, nº1).
Distribuição
A secretaria recusa o recebimento da petição inicial nos termos indicados no art. 558.º (controlo formal
externo da petição).
Nos termos do art. 208.º, a distribuição tem lugar diariamente e é realizada de forma automática,
estipulando o art. 16.º, nº2 da Portaria 280/2013, que o sistema informático assegura que a distribuição
ocorre duas vezes por dia, às 9h e às 16h.
O art. 226.º, nº1, consagra a regra da oficiosidade da citação: “incumbe à secretaria promover oficiosamente,
sem necessidade de despacho prévio, as diligências que se mostrem adequadas à efetivação da regular citação
pessoal do réu (…)”.
No entanto, a regra da oficiosidade da citação comporta as exceções enunciadas no art. 226.º, nº4, que
refere que a citação depende de prévio despacho judicial:
Nos casos especialmente previstos na lei (citação edital, art. 236.º, nº1, in fine; ação de divórcio
sem consentimento do outro cônjuge, art. 931.º, nº1);
Nos procedimentos cautelares (art. 362.º e ss) e em todos os casos em que incumba ao juiz
decidir da prévia audiência do requerido (p. ex., processos de insolvência, art. 29.º CIRE);
Nos casos em que a propositura da ação deva ser anunciada, nos termos da lei (p. ex., art.
892.º);
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O art. 590.º, nº1 contempla a possibilidade de o juiz determinar que a petição inicial lhe seja presente
para despacho logo que recebida em juízo. Neste caso, está-se perante uma manifestação do exercício
das competências de gestão processual que a lei confere ao juiz (art. 6.º).
Quando assim suceder, poderá haver lugar à prolação de despacho liminar, no âmbito do qual o juiz,
em vez de ordenar a citação do réu, poderá indeferir a petição.
Este despacho de indeferimento admite sempre recurso até à Relação, independentemente do valor da
causa.
Neste âmbito, o art. 590.º, nº1 remete para o disposto no art. 560.º, querendo isso significar que o autor
goza do benefício de apresentar nova petição substituindo a que foi indeferida. Para tal, o autor dispõe
de 10 dias a contar da notificação do despacho de indeferimento liminar ou, caso opte por recorrer, da
notificação da decisão do Tribunal da Relação que confirme o indeferimento.
Nestes casos em que há despacho liminar a proferir sobre a petição inicial com vista à citação (art.
590.º, nº1), é de aceitar que, além da alternativa de deferir (ordenando a citação) ou indeferir, o juiz
convide o autor ao aperfeiçoamento da petição, quando se mostrem desrespeitados pressupostos
processuais suscetíveis de sanação ou haja outras irregularidades supríveis.
Citação e notificações
A citação é o ato pelo qual se dá conhecimento ao réu de que foi intentada contra ele determinada ação
se chama ao processo para apresentar defesa, art. 219.º, nº1.
Há muitas notificações mas a citação é a notificação por excelência; a partir do momento em que o réu
for citado, todos os atos pelos quais se tem de dar conhecimento ao réu são notificações.
Devem ser disponibilizados ao réu o duplicado da petição e as cópias dos documentos que a
acompanham;
O réu deve ser informado do prazo de que dispõe para contestar;
O réu deve ser informado quanto à necessidade de constituir mandatário;
Finalmente, deve o réu ser advertido das cominações em que incorre se não contestar (arts.
219.º, nº3 e 227.º).
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Modalidades da citação
Segundo o art. 225.º, nº1, a citação de pessoas singulares comporta duas modalidades: i. Pessoal ou ii.
Edital.
i. Pessoal, por:
Transmissão eletrónica de dados (art. 225.º, nº2, al. a)) (a regulamentar)
Carta registada com a/r; seu depósito; ou certificação da recusa de recebimento (art.
225.º, nº2, al. b), 228.º e 229.º)
Contacto pessoal por agente de execução ou funcionário judicial (art. 225.º, nº2, al. c),
231.º e 232.º);
Mandatário judicial (arts. 225.º, nº3, 237.º e 238.º).
ii. Edital
Citação Pessoal
Citação Postal: Carta registada com a/r; seu depósito; ou certificação da recusa de recebimento
(art. 225.º, nº2, al. b), 228.º e 229.º)
A citação pelo correio (citação postal) constitui o regime regra e está regulada no art. 228.º. Faz-se por
carta registada com a/r dirigida ao réu e endereçada para a sua residência ou local de trabalho.
o Se a citação for realizada através de carta registada com a/r (arts. 225.º, nº2, al. a) e 228.º, nº1),
a citação considera-se efetuada no dia em que se mostre assinado o aviso de receção, ainda que
o mesmo tenha sido assinado por um terceiro (arts. 228.º, nºs 2 a 4; e 230.º, nº1).
Quando a entrega da carta é feita na pessoa do réu, fica assegurado logo aí o seu conhecimento,
tratando-se de uma efetiva citação pessoal.
No entanto, a lei prevê a admite que, em certos casos, a carta seja entregue a outra pessoa que se
encontre na residência ou no local de trabalho do citando e que declare encontrar-se em condições de
a entregar prontamente ao citando, devendo ser advertida expressamente nesse sentido (art. 228.º, nº1,
in fine, nºs 2 e 4).
A este propósito, é de notar que o art. 225.º, nº4 equipara à citação pessoal a citação feita em pessoa
diversa do citando, encarregada de lhe transmitir o conteúdo do ato, com a particularidade de a lei
presumir que o citando teve oportuno conhecimento da citação (trata-se de uma presunção relativa,
pelo que é admitida prova em contrário).
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Nos termos do art. 230.º, nº1, a citação feita nos termos do art. 228.º considera-se feita no dia em que
se mostre assinado o aviso de receção e tem-se por efetuada na própria pessoa do citando, ainda que o
aviso de receção tenha sido assinado por terceiro, havendo a presunção de que a carta foi
oportunamente entregue ao destinatário, sem prejuízo de demonstração em contrário.
o Pelo contrário, se não for possível entregar a carta de citação, o distribuidor do serviço postal
deve deixar um aviso ao destinatário, ficando a carta de citação à disposição do citando pelo
período de 8 dias (art. 228.º, nº5), considerando-se a citação feita no dia em que o citando
proceda ao levantamento efetivo da carta. Se o citando não proceder ao levantamento, a citação
não se considera efetuada, caso em que o expediente deve ser devolvido ao tribunal.
Nos casos em que não seja possível deixar aviso ao destinatário, o distribuidor do serviço postal lavra
nota dessa circunstância e devolve o expediente ao tribunal. Nesse quadro, pode suceder que, devendo-
se a impossibilidade a ausência do citando, o distribuidor tenha obtido indicação de novo endereço do
citando, caso em que, recebido o expediente, deverá a secretaria repetir a citação, enviando nova carta
registada com a/r para o novo endereço (art. 228.º, nº8). Se, porém, o distribuidor postal nenhuma
informação tiver obtido acerca do novo endereço do citando, o qual se encontra em parte incerta, aquilo
que a secretaria deverá fazer é dar cumprimento ao disposto no art. 236.º, nº1 para depois, se for
apurado novo endereço, repetir a citação (art. 228.º, nº9).
Domicílio convencionado
São, ainda, de salientar as especificidades previstas quando haja domicílio convencionado, nos termos
do art. 229.º, para as ações destinadas ao cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de
contrato reduzido a escrito em que as partes tenham convencionado o local onde se têm por
domiciliadas para efeito de citação em caso de litígio. Assumindo-se que a pessoa tem domicílio nesse
local, bastará providenciar no sentido de que a carta para citação seja remetida para aí, com isso se
dando por efetuada a citação.
Como referido no art. 229.º, nº1, este regime aplica-se nas ações cujo valor não exceda a alçada do TR
ou, embora excedendo, quando a obrigação respeite a fornecimento continuado de bens ou serviços,
sendo a citação feita por meio de carta registada com a/r com as formalidades do art. 228.º.
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o Se o citando recusar assinar o a/r ou o recebimento da carta, o distribuidor deve lavrar nota
desse incidente, antes de a devolver, sendo que, nesse caso, a citação considera-se efetuada face
à certificação da recusa (art. 229.º, nº3).
o Havendo repetição, o distribuidor do serviço postal deve proceder ao depósito da própria carta,
contendo cópia de todos os elementos previstos no art. 227.º, considerando-se a citação
efetuada na data que foi certificada pelo distribuidor do serviço postal (art. 230.º, nº2, 1ª parte).
o Se não for possível proceder ao depósito, o distribuidor do serviço postal deve deixar um aviso,
nos termos do art. 228.º, nº5, situação em que a citação se presume realizada no 8º dia posterior
à data em que o distribuidor certificou ter deixado o aviso (art. 230.º, nº2, 2ª parte).
2- Citação por contacto pessoal (por agente de execução, funcionário judicial ou mandatário
judicial)
o Se se tiver frustrado a citação por via postal ou se o autor assim tiver declarado pretender na
petição inicial, a citação é efetuada mediante contacto pessoal do agente de execução ou de
funcionário judicial (art. 225.º, nº2, al. c), e 231.º, nºs 1 a 8), caso em que a citação se considera
realizada na data desse contacto pessoal, a qual é certificada através de uma certidão de citação,
que deve ser assinada pelo citando (art. 231.º, nº3).
A citação com hora certa tem lugar nos casos em que se sabe que o citando reside ou trabalha no local
efetivamente indicado, não tendo, porém, sido encontrado (art. 232.º). Não se aplica em relação às
sociedades comerciais.
o Em tais casos (citação com hora certa), o agente de execução ou o funcionário judicial deixa
nota com indicação da hora certa em que se tornará a deslocar-se, considerando-se a citação
feita na pessoa citando, se for encontrado, ou de qualquer outra pessoa que fica incumbida de
a transmitir ao citando. Se ninguém for encontrado, será afixado no local nota de citação e na
presença de duas testemunhas (art. 232.º, nº3 e 4).
- Agente de execução:
A citação promovida por mandatário judicial segue o regime da citação por agente de execução.
Se o citando residir no estrangeiro, deve observar-se, quanto à realização da citação, o que estiver
estipulado nos tratados e convenções internacionais (art. 239.º, nº1).
o Na falta de tratado ou convenção internacional, a citação deve ser realizada através de via
postal, mediante carta registada com a/r, considerando-se feita a citação no dia em que esse
aviso se mostre assinado, atento o disposto no art. 239.º, nº2.
Se não for possível a citação por via postal ou se esta se frustrar, deve proceder-se à citação por
intermédio do consulado português mais próximo, se o réu for português. Se o réu for estrangeiro,
deve ser realizada através de carta rogatória.
3- Citação edital
A citação edital tem lugar quando não se sabe onde o réu se encontra ou são incertas as pessoas a citar
e reveste as formalidades referidas no art. 240.º (afixação de editais e publicação de anúncio em página
informática de acesso público (CITIUS, conforme o art. 24.,º da Portaria 280/2013).
o Atento o disposto no art. 240.º, a citação edital, determinada pela incerteza do lugar em que o
citando se encontre, é efetuada através da afixação de edital, seguida da publicação de anúncio
em página informática. Nessa eventualidade, a citação considera-se realizada no dia da
publicação do anúncio (art. 242.º, nº1).
Regra geral, aplica-se à citação das pessoas coletivas, com as devidas adaptações, o mesmo regime que
se encontra previsto para a citação das pessoas singulares, atento o disposto no art. 246.º, nº1.
o Sendo recusada a assinatura do a/r ou o recebimento da carta pelo representante legal ou por
um funcionário da citanda, o distribuidor postal deve lavrar nota desse incidente antes de a
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devolver, considerando-se a citação efetuada face à certificação dessa ocorrência (art. 246.º,
nº3).
o Pelo contrário, nos restantes casos de devolução do expediente, a citação deve ser repetida,
enviando-se nova carta registada com a/r à citanda, nos termos do art. 229.º, nº5 ex vi do art.
246.º, nº4, se não for possível entregar a carta de citação, o distribuidor do serviço postal deve
deixar a própria carta na caixa de correio da citanda e certificar a data e o local exato do
depósito, remetendo, de imediato, a certidão ao tribunal. Se não for viável o depósito da carta
na caixa do correio, o distribuidor deve deixar um aviso para levantamento da carta. Nessa
eventualidade, a citação considera-se realizada, respetivamente, na data de certificação do
depósito da carta ou no oitavo dia posterior à data constante do aviso (art. 230.º, nº2 ex vi do
art. 26.º, nº4).
Efeitos da Citação
A falta de citação não conduz à nulidade de todo o processo. Mantém-se a apresentação da petição e,
nomeadamente, o ato de distribuição, Apenas estão invalidados os atos subsequentes à citação
indevidamente efetuada (art. 187.º).
Regime:
Ocorre sempre que, no ato de citação, não conste um dos elementos que a lei impõe (remissão para o
art. 227.º e para o art. 241.º).
Regime:
As nulidades previstas no art. 191.º, nº2, 2ª parte são de conhecimento oficioso, ou seja, quando
a citação for edital ou não tiver sido indicado prazo para a defesa.
Nos restantes casos, o tribunal só poderá apreciar se a parte interessada invocar a nulidade da
citação.
Notificações
Nos termos do art. 219.º, nº2, as notificações destinam-se a dar conhecimento de um facto ou a chamar
alguém a juízo, aplicando-se a todos os casos em que não haja lugar à citação.
i.
Quando se trate se notificação para mero conhecimento, esta é, em regra, efetuada na pessoa do mandatário
judicial (art. 247.º, nº1), realizando-se por via eletrónica e devendo o sistema informático certificar a
data de elaboração da notificação, presumindo-se esta feita no terceiro dia posterior ao da elaboração
ou no primeiro dia útil seguinte a esse, quando o terceiro dia não seja útil (art. 248.º e art. 25.º da
Portaria 280/2013).
Em relação às notificações entre mandatários (arts. 221.º e 255.º), todas as peças escritas apresentadas
nos autos após a notificação da contestação devem ser notificadas pelo mandatário da parte
apresentante ao mandatário da contraparte, por via eletrónica, presumindo-se esta feita no terceiro dia
posterior ao da elaboração ou no primeiro dia útil seguinte a esse, quando o terceiro dia não seja útil
(art. 25.º da Portaria 280/2013).
Tratando-se de notificação para chamar a parte a juízo para a prática de um ato pessoal, além de ser
notificado o mandatário, é também expedido um aviso postal registado à própria parte, dando-lhe conta
da data, do local e do fim da comparência (art. 247.º, nº2).
Estas notificações dependentes podem, ainda, dirigir-se, não às partes, mas a intervenientes acidentais
(testemunhas e peritos), sendo as mesmas feitas por meio de aviso expedido por correio registado,
indicando-se a data, o local e o fim da comparência (art. 251.º, nº2).
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ii.
São aquelas que são levadas a cabo independentemente de qualquer ação, sendo sempre precedidas de
despacho que as ordene (art. 256.º, nº1).
Estas notificações são feitas na própria pessoa do notificando e não admitem oposição (arts. 256.º e
257.º).
Exemplos:
Nos termos do art. 1083.º, nº3 do CC , é inexigível ao senhorio “a manutenção do arrendamento em caso
de mora igual igual ou superior a dois meses no pagamento da renda, encargos ou despesas”, sendo a resolução
pelo senhorio operada por comunicação à parte onde fundamentadamente se invoque a obrigação incumprida”
(art. 1084.º, nº2 do CC).
Por sua vez, o art. 9.º, nº7 da Lei 6/2006, estatui que “A comunicação pelo senhorio destinada à cessação do
contrato por resolução nos termos do nº2 do art. 1083.º do CC, é efetuada mediante: a) Notificação avulsa; b)
Contacto pessoal de advogado, solicitador ou agente de execução (…)”
Por isso, utiliza-se a notificação avulsa (na gíria, notificação judicial avulsa) para resolver o contrato
de arrendamento. Em vez da sentença, temos uma notificação que constitui título executivo,
permitindo instaurar a execução para entrega do locado.
Exemplo: a vítima de um acidente de viação pretende propor ação de indemnização, mas o seu
mandatário ainda necessita de elementos. O direito está em vias de prescrição.
Mais uma vez, existe a notificação avulsa já não para resolução, mas para fazer interromper a prescrição
(art. 323.º, nº1 do CC).
A notificação avulsa consiste num requerimento dirigido ao juiz, em que se pede ao tribunal para
proceder ao ato de entregar a comunicação (art. 256.º). A notificação é entregue na secretaria por
requerimento e em duplicado, havendo despacho prévio do juiz. O traço distintivo da notificação avulsa
é não dizer respeito a qualquer processo pendente.
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As custas são pagas pelo requerente (art. 539.º, nº4) e incluem, além das despesas de transporte (quando
a distância é superior a 50 km), metade de 1 UC. O agente de execução notifica o requerente para
proceder ao pagamento prévio.
O agente de execução procede à entrega ao notificando do duplicado e da cópia dos documentos que o
acompanham, lavrando-se certidão do ato.
Diferentemente do que sucede com a citação, a notificação avulsa deve ser feita na própria pessoa do
notificando.
Não admite oposição pois não é uma ação judicial. Consiste, como o próprio nome indica, numa
notificação efetuada por via do tribunal, mais solene e formal do que a carta registada com aviso de
receção.
Contestação
Nos termos do art. 572.º, a contestação inclui (i) o Intróito, (ii) a Narração e (iii) a Conclusão.
(i) Intróito
O réu deve dirigir a contestação ao tribunal em que pende a ação;
Deve indicar o nº do processo;
Deve indicar os nomes das partes
(ii) Narração
Defesa por:
Se assim não fizer, os factos não se consideram admitidos por acordo em caso de falta de
impugnação.
(iii) Conclusão
Representa o corolário lógico da narração, devendo o réu retirar as consequências dos
argumentos.
Valor
O réu não tem de indicar qualquer valor na contestação, salvo se não concordar com o valor atribuído
pelo autor à ação (art. 305.º).
Na contestação, cabe tanto a defesa por impugnação como por exceção (art. 571.º). Assim, a defesa
pode ser12:
Por outras palavras, no primeiro caso a divergência situa-se nos factos enquanto no segundo caso a
divergência situa-se no tratamento jurídico dos factos.
Na oposição de facto, o réu não aceita os factos articulados pelo autor. Tal oposição pode efetuar-se de
três modos:
12
Com o novo CPC, as exceções deduzidas já não são objeto de resposta em articulado posterior, sem prejuízo
da parte contrária poder responder na audiência prévia ou, não havendo lugar a esta, no início da audiência final
(art. 3.º, nº4).
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Esta forma de impugnação só é, contudo, admissível quanto a factos não pessoais ou de que o
réu não deva ter conhecimento;
V.g o autor alegou na petição que emprestou dinheiro ao réu. Se o réu, na Contestação, disser
que não sabe se esse facto é verdadeiro, equivale essa posição a confessar o facto, a reconhecer
que é verdadeiro, pois o réu devia ter conhecimento se recebeu ou não dinheiro do autor e a
que título.
V.g numa ação de cobrança de dívida, a autora alega que forneceu mercadorias ao réu. Se o réu
na contestação afirmar que não sabe se tal facto é verdadeiro, como é um facto de que devia
ter conhecimento, a sua atitude corresponde a reconhecer a veracidade do facto alegado pela
autora.
Assim, se o facto for pessoal, de que o réu devia ter conhecimento, essa declaração corresponde
a confissão.
V. Ónus de impugnação
Estes três modos de impugnar factos, apesar de material e tecnicamente distintos, têm um
denominador comum, qual seja o de, por via deles, o réu não aceitar como verdadeiros os factos
aduzidos pelo autor, ora porque constituem puras inverdades, ora porque não se terão passado da
forma alegada (mas sim de outra, geradora de distinto resultado), ora porque, simplesmente, se
desconhecem.
Na oposição de Direito, o que está em causa é a qualificação ou significação jurídica que o autor atribui
aos factos narrados.
Neste caso, aceitando embora a verdade dos factos alegados na petição, o réu sustenta que deles não
emergem os efeitos jurídicos que o autor pretende (o que equivale a afirmar a inconcludência da
pretensão).
Na impugnação, em qualquer das suas espécies, o réu manifesta a sua oposição frontal, a sua
discordância (ora de facto ora de direito) perante a petição do autor, tendo sempre em vista a sua
absolvição total ou parcial do pedido, por força da improcedência, total ou parcial, da ação.
Ónus de impugnação
O réu tem o “ónus de impugnação” (art. 574.º). Deve, ao contestar, “tomar posição definida perante os
factos que constituem a causa de pedir invocada pelo autor”.
Esse ónus de impugnação obriga o réu a pronunciar-se sobre a matéria da petição. Em vez de dizer
que “é mentira” ou que “não é verdade”, pode apresentar uma versão diferente ou utilizar outra
expressão: “Impugna-se a matéria dos artigos…”.
Se o réu não impugnar os factos, consideram-se admitidos por acordo, salvo se:
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2- Inadmissibilidade de confissão
Se não for admissível confissão sobre os factos, o silêncio do réu relativamente a eles não significa que
os mesmos sejam considerados verdadeiros.
Esta matéria prende-se com a norma do art. 289.º, nº1, que refere que “não é permitida confissão,
desistência ou transação que importe a afirmação da vontade das partes relativamente a direitos indisponíveis”.
As ações sobre o estado das pessoas dizem respeito a direitos indisponíveis, que não estão sujeitos a
confissão. Numa ação de divórcio, se o réu não impugnar os factos, o autor terá de efetuar a prova,
como se os factos tivessem sido impugnados, pois a ação de divórcio versa sobre direitos indisponíveis.
“A falta de contestação nas ações de investigação de paternidade propostas contra o pretenso progenitor não
implica a confissão dos factos articulados pelo autor, por se tratar de direitos indisponíveis” (ac. STJ de
19/1/73).
“Em ação de divórcio não é legalmente admissível a confissão de factos alegados pela parte contrária, por se
tratar de factos relativos a direitos indisponíveis” (Ac. do TRC de 20/6/2006).
A terceira exceção para que a ausência de impugnação tenha por efeito a admissão por acordo, ou seja,
para que os factos sejam considerados verdadeiros, diz respeito aos factos que só se puderem provar
por documento autêntico,
“Um casamento implica prova documental, cuja falta não é suprível pela não impugnação” (ac. do TRE de
19/2/1987). “Se um facto só for demonstrável por documento, a falta de impugnação do mesmo não implica
confissão tácita” (ac. TRE de 8/3/2007).
Também a aquisição de um imóvel por compra e venda tem de ser efetuada por documento autêntico.
Se o autor alegar na petição que adquiriu um imóvel ao réu e se este não impugnar o facto, o silêncio
não determina que o facto fique provado.
De notar que o ónus de impugnação “não se aplica aos incapazes, ausentes e incertos, quando representados
pelo MP ou por advogado oficioso” (art. 574.º, nº 4) – isto pelo facto de o MP e o advogado oficioso terem
mais dificuldade na recolha de informações sobre a matéria de facto, emergente da falta de contacto
com a parte que representam.
O réu aceita a narração fática apresentada pelo autor. Porém, faz chegar ao processo novos factos
suscetíveis de gerar a sua absolvição da instância (ou a remessa do processo para outro tribunal) ou de
impedir, modificar ou extinguir o direito que o autor pretende fazer valer com a propositura da ação
(art. 576.º)
Exceções dilatórias: são as que, obstando a que o tribunal conheça do mérito da causa,
consistindo na arguição de quaisquer irregularidades ou vícios de caráter processual. As
exceções dilatórias estão ligadas aos pressupostos processuais, ou seja, “aos elementos de cuja
verificação depende o dever de o juiz proferir decisão sobre o pedido formulado, concedendo ou
indeferindo a providência requerida” (Antunes Varela).
As exceções dilatórias constam do art. 577.º, preceito que, tendo caráter meramente exemplificativo, é
tão completo que cobre quase todas as hipóteses possíveis.
O art. 587.º dispõe que o tribunal deve conhecer oficiosamente de todas as exceções dilatórias, com
exceção da incompetência relativa nos casos não abrangidos pelo art. 104.º.
Dão lugar à absolvição do réu da instância ou à remessa dos autos para outro tribunal (art. 576.º, nº2),
“caso não sejam supridas” (art. 6.º, nº2). Ou seja, o juiz profere despacho absolvendo o réu da instância.
Absolve-o naquele processo, mas como não conheceu da questão de fundo, não entrou no cerne da
questão, o autor não fica inibido de propor nova ação.
13
Note-se que, para existir caso julgado, é necessário que a anterior ação tenha sido idêntica “quanto aos sujeitos,
ao pedido e à causa de pedir”. Importa distinguir o caso julgado formal do material. O formal só tem força
obrigatória dentro do processo em que o despacho ou as decisões foram proferidas (art. 620.º, nº1), enquanto o
segundo tem força obrigatória não só dentro do processo como também fora dele (art. 619.º) 13. Diferente do caso
julgado é a litispendência, em que ainda está pendente uma ação idêntica. A exceção de litispendência deve ser
deduzida na ação proposta em segundo lugar, considerando-se proposta em segundo lugar a ação para a qual o
réu foi citado posteriormente.
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Note-se que as exceções perentórias, como meio de defesa material que são, respeitam ao mérito da
causa, pois contendem com o fundo da questão, com a existência ou não e em que termos do direito do
autor. Por isso é que a sua procedência dá lugar à absolvição, total ou parcial, do pedido.
Por outro lado, a absolvição do pedido a que conduz a procedência das exceções perentórias pode ser
total ou parcial.
Nos termos do art. 579.º, o tribunal conhece oficiosamente as seguintes exceções perentórias: nulidades
(art. 286.º CC), a caducidade estabelecida em matéria excluída da disponibilidade das partes (art. 333.º
CC), o pagamento, a novação e a dação em cumprimento.
14
Atente-se que podem ter existido causas suspensivas ou mesmo interruptivas da prescrição, que impeçam o
decurso do prazo prescricional. - no direito do trabalho, o trabalhador tem de propor ação contra a entidade
patronal no prazo de um ano a contar da cessação do contrato de trabalho. Se a ação for proposta decorrido esse
ano, ocorre caducidade; - numa ação de despejo, o autor alegou que o réu efetuou obras que alteram
substancialmente a estrutura do prédio. Como sabemos, terá de alegar mais, ou seja, terá de alegar factos
essenciais concretos, indicando quais as obras realizadas. O réu defende-se dizendo que as obras foram efetuadas
há 5 anos e que o autor delas teve conhecimento imediato. Estamos em março de 2017 e como o art. 1085.º, nº1
CC refere que “a resolução deve ser efetuada dentro do prazo de um ano a contar do conhecimento do facto que
lhe serve de fundamento, sob pena de caducidade”, a invocação do conhecimento pelo autor há mais de um ano
constitui uma exceção perentória.
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O réu deve concentrar toda a sua defesa na contestação, como preceitua o art. 573.º, nº1, consagrando
o princípio da concentração ou da preclusão. Ou seja, o réu deve incluir na sua peça processual todos
os meios de defesa de que disponha, seja a defesa direta (impugnação), seja a defesa indireta (exceções
dilatórias e perentórias).
Como corolário, mesmo que o réu esteja convencido que a invocação de uma prescrição perentória fará
deitar abaixo a ação, deverá, por cautela, defender-se também por impugnação, pois já não o poderia
fazer caso a exceção seja considerada improcedente. Se, na sentença, vierem a ser alegados factos que
o réu alegou depois da contestação, a sentença não os poderá considerar, sob pena de nulidade por
excesso de pronúncia (art. 615.º, nº1, al d)).
Exceções:
Prazo
❖ O art. 569.º, nº1 determina que o prazo para contestar é de trinta dias, “começando a correr desde
o termo da dilação, quando a esta houver lugar”.
Havendo vários réus, há uma norma específica: “quando termine em dias diferentes o prazo para a defesa
dos vários réus, a contestação de todos ou de cada um deles pode ser oferecida até ao termo do prazo que começou
a correr em último lugar” (art. 569.º, nº1).
Prorrogação do Prazo
“Quando o tribunal considere que ocorre motivo ponderoso que impeça ou dificulte anormalmente ao réu ou ao
ser mandatário judicial a organização da defesa, poderá, a requerimento deste e sem prévia audição da parte
contrária, prorrogar o prazo da contestação, até ao limite máximo de 30 dias” (art. 569.º, nº5).
“Motivo ponderoso”, para efeitos de prorrogação de prazo para contestar é a ocorrência do evento, não imputável
à parte nem aos seus representantes ou mandatários, que obste à organização atempada da defesa. II – Ao
requerer-se a prorrogação, deve ser logo oferecida respetiva prova” (Ac. do TRL, de 15/2/2000).
A parte contrária não é ouvida e o juiz decide no prazo de 24 horas, sem possibilidade de recurso.
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Se for apresentada em papel, o que pode suceder se a parte não tiver mandatário constituído, adota-se
a seguinte forma: um exemplar para o tribunal, com os documentos, comprovativo do pagamento da
taxa de justiça e procuração forense, outro exemplar igual para a parte contrária (não é necessário
juntar comprovativo do pagamento da taxa de justiça nem da procuração) e um duplicado do
articulado, só para a reforma do processo.
Apresentada a contestação em juízo, não havendo lugar à sua recusa pela secretaria, é tal peça
processual notificada ao autor, com o envio do duplicado a si destinado (art. 575.º, nº1), para que tome
conhecimento da atitude assumida pelo réu perante a ação.
Revelia
(i) O réu não contesta nem intervém de qualquer modo no processo (art. 566.º).
Por precaução, o juiz verifica se o réu foi regularmente citado, ordenado a repetição da citação se
tiverem ocorrido irregularidade.
Efeitos da Revelia
1) Revelia Operante
Se o réu não contestar, tendo sido ou devendo considerar-se regularmente citado, ou se tiver junto
procuração forense, consideram-se confessados s factos articulados pelo autor (art. 567.º, nº1) ou seja,
a revelia é operante. A lei presume ou ficciona uma confissão.
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2) Revelia Inoperante
Quando, havendo vários réus, um deles contestar, relativamente aos factos impugnados pelo
contestante; (al. a))
Neste caso, o processo vai seguir o seu regime normal, pois não vai haver nenhum desvio à
tramitação.
Quando o réu ou algum dos réus seja incapaz e a causa de pedir esteja no âmbito da sua
incapacidade; (al. b))
Quando o réu tenha sido citado editalmente e permaneça em estado de revelia absoluta; (al. b),
in fine)
Quando a ação tenha por objeto direitos indisponíveis, como sucede com as ações de divórcio
e de impugnação de paternidade; (al. c))
Quando se trate de factos cuja prova só possa ser efetuada por documento, como sucede com
o estado civil das pessoas; (al. d))
Contestação Reconvenção
Nos termos do art. 266.º, nº1, o réu pode aproveitar a contestação para formular pedidos contra o
autor. Estaremos, neste caso, perante a figura da reconvenção, na qual o réu (reconvinte), sendo titular
de uma pretensão autónoma contra o autor (reconvindo), a faz valer nesse processo, havendo, portanto,
nas palavras de Alberto dos Reis, um “cruzamento de ações”.
A reconvenção deve, assim, ser individualizada (art. 583.º, nº1), tal como na contestação se deve
individualizar a matéria de exceção da de impugnação (art. 572.º).
No entanto, esta faculdade concedida ao réu está sujeita à observância de determinados requisitos:
15
Primeiro devem verificar-se as exceções do art. 568º, só depois passando para o efeito de confissão disposto no
art. 567.º.
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A lei exige que entre o pedido original e o pedido reconvencional se verifique uma determinada
conexão substantiva. Tem de se verificar a existência de uma das quatro conexões substantivas, não
sendo a reconvenção livre.
a) Quando o pedido do réu emerge do facto jurídico que serve de fundamento à ação ou à defesa;
Exemplos:
A alega que B não cumpriu prestação emergente de contrato e B alega que não cumpriu uma
vez que A também não cumpriu uma prestação. P.ex, num contrato de compra e venda, B não
procedeu ao pagamento uma vez que A não entregou a coisa;
B alega que foi induzido em dolo;
b) Quando o réu se propõe tornar efetivo o direito a benfeitorias ou despesas relativas à coisa cuja entrega
lhe é pedida;
Exemplos:
c) Quando o pedido do autor pretende o reconhecimento de um crédito, seja para obter a compensação, seja
para obter o pagamento do valor em que o crédito invocado excede o do autor;
Exemplo:
Determinada empresa vendeu um equipamento de produção a outra, que não foi pago. Por
isso, peticionou em tribunal o pagamento do preço em dívida.
A Ré alegou que o equipamento tinha defeitos, tendo originado a paragem na produção fabril,
com os inerentes prejuízos.
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Com a redação do art. 266.º, nº2, al c) do CPC, sempre que o réu pretenda obter a compensação de
créditos, tem de usar a reconvenção, quer o seu crédito seja superior quer seja inferior ao do autor.
d) Quando o pedido do réu tende a conseguir, em seu benefício, o mesmo efeito jurídico que o autor se propõe
obter.”
Nos termos do art. 572.º, a contestação inclui (i) o Intróito, (ii) a Narração e (iii) a Conclusão.
(i) Intróito
O réu deve dirigir a contestação ao tribunal em que pende a ação;
Deve indicar o nº do processo;
Deve indicar os nomes das partes
(ii) Narração
Impugnação (de facto e de direito)
O réu expõe as razões de facto e de direito pelas quais se opõe à pretensão do autor
Exceção
O réu expõe os factos essenciais em que se baseiam as exceções deduzidas, o que tem conexão
com o art. 5.º, nº1.
Nota (!): relativamente à defesa por exceção, cumpre destacar a exigência constante do art.
572.º, al. c) que se traduz no ónus de o réu especificar separadamente as exceções deduzidas.
Se assim não fizer, os factos não se consideram admitidos por acordo em caso de falta de
impugnação.
(iii) Conclusão
Mostra-se mais adequado que a contestação contenha apenas uma conclusão.
Valor
No canto inferior esquerdo, após a indicação de “Junta”, o réu deve indicar o valor atribuído ao pedido
reconvencional, que se vai somar ao valor do pedido formulado pelo autor, para efeitos de determinação
do valor da ação, quando os pedidos são distintos (art. 299.º). Se o não fizer, a reconvenção “não deixa
de ser recebida, mas o reconvinte é obrigado a indicar o valor, sob pena de a reconvenção não ser atendida” (art.
583.º, nº2).
Não se consideram distintos os pedidos quando o reconvinte pretende obter, em seu favor, o mesmo
efeito jurídico que o pretendido pelo autor (p. ex., o reconhecimento do direito de propriedade sobre o
mesmo imóvel) ou quando o reconvinte pretende obter a mera compensação de créditos. Em tais casos,
os valores não se somam.
Taxa de Justiça
A taxa de justiça paga pelo contestante-reconvinte corresponde já à aplicável à soma dos dois pedidos,
quando estes sejam distintos (art. 299.º).
Se, em função da soma dos valores, o tribunal deixar de ser competente, o juiz remete oficiosamente o
processo para o tribunal competente (art. 99.º, nº2).
Registo
Esta sujeição a registo também recai sobre o autor, ou seja, não é só o reconvinte que tem de registar
a ação que se enquadre nos referidos artigos do Cód. Do Registo Predial.
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De notar que o reconvindo será absolvido da instância, caso o reconvinte não efetive o registo no prazo
fixado (art. 583.º, nº3).
Apoio Judiciário
❖ Se o réu, após a citação, tiver requerido apoio judiciário, por não estar em condições de suportar
as despesas do pleito ou os honorários de advogado, o prazo para contestar interrompe-se (art.
24.º, nº4 da Lei nº 34/2004, de 29 de julho).
Importa juntar aos autos o comprovativo do pedido de concessão de apoio judiciário, pois só assim há
lugar à interrupção do prazo.
O prazo interrompido inicia-se (volta ao começo), conforme os casos, a partir da notificação ao patrono
nomeado da sua designação ou a partir da notificação ao requerente da decisão de indeferimento do
pedido de nomeação de patrono (art. 24.º, nº 5).
Réplica
Admissão
A réplica é o terceiro articulado do processo declarativo comum, cabendo ao autor a sua apresentação.
Trata-se de um articulado eventual, que só pode ter lugar em duas situações (art. 584.º):
Tendo havido reconvenção, “a falta de apresentação da réplica ou a falta de impugnação de novos factos
alegados pelo réu, tem o efeito previsto no art. 574.º” (art. 587.º, nº1), ou seja, os factos consideram-se
admitidos por acordo.
2) Por outro lado, a réplica é admissível nas ações de simples apreciação negativa, servindo para
o autor “impugnar os factos constitutivos que o réu tenha alegado e para alegar os factos impeditivos
ou extintivos do direito invocado” (nº2).
equipamento bem como a chamadas efetuadas. Neste exemplo, a réplica permitirá ao autor
impugnar os factos constitutivos do direito invocado pela ré.
No que respeita ao CPC anterior, deixou de ser possível a alteração do pedido e da causa de pedir na
réplica.
Significa isto que deixa de poder haver pronúncia sobre a matéria de exceção?
Não. O art. 3.º, nº4 refere expressamente que “às exceções deduzidas no último articulado admissível pode
a parte contrária responder na audiência prévia ou, não havendo lugar a ela, no início da audiência final”. Fica,
deste modo, assegurado o princípio do contraditório.
Prazo
❖ O autor deve apresentar a réplica no prazo de 30 dias, “a contar daquele em que for ou se considerar
notificada a apresentação da contestação” (art. 585.º).
o Como a notificação da contestação é efetuada por notificação eletrónica via CITIUS, o
mandatário considera-se notificado no terceiro dia, de acordo com as regras gerais de
notificação.
A Réplica é em tudo semelhante aos articulados anteriores integrando (i) o Endereço, (ii) o Intróito,
(iii) a Narração e (iv) a Conclusão.
Sempre que deduza exceções na réplica, o autor deve dar cumprimento ao fixado no art. 572.º, al. c),
com a cominação aí prevista (art. 587.º, nº2).
Nota: A taxa de justiça a pagar pela autora incidirá sobre a diferença de valor entre a taxa de justiça
que corresponda à soma dos dois pedidos (ação e reconvenção) e a taxa anteriormente paga pela autora,
com a entrega da petição.
Articulados supervenientes
Regime
O art. 611.º, nº1 dispõe que a sentença deve tomar em consideração os factos constitutivos ou
extintivos do direito que se produzam posteriormente à instauração da ação, de modo a que a decisão
final corresponda à situação existente no momento do encerramento da discussão.
Os factos essenciais com interesse para uma boa decisão da causa devem ser apresentados na fase dos
articulados.
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Pode, no entanto, acontecer que (quer o autor quer o réu) apenas tomem conhecimento de factos
relevantes após a fase dos articulados (superveniência subjetiva) ou que haja factos que apenas ocorram
posteriormente (superveniência objetiva).
Em ambos os casos, teremos de estar perante factos essenciais. “O articulado superveniente deve ser
rejeitado quando não responde a facto essencial para a decisão do mérito da causa” (Ac. STJ de 24/10/1995).
A superveniência objetiva é fácil de comprovar, pois existe uma referência cronológica, o facto
aconteceu numa data posterior. Quanto à subjetiva, como o facto ocorreu antes de apresentados os
articulados mas a parte apenas teve conhecimento depois, haverá que efetuar a prova da superveniência
(conhecimento tardio).
Exemplos
Importa não confundir articulado superveniente com ampliação da causa de pedir. No articulado
superveniente, há factos novos, ou de que a parte só teve conhecimento agora; na ampliação da causa
de pedir, há novos factos, que se aditam à causa de pedir, havendo a registar que o art. 265.º contempla
os casos de admissibilidade de alteração do pedido e da causa de pedir.
Oportunidade de apresentação
Caso assim não seja, o requerimento para apresentação de novo articulado será oferecido, de acordo
com o nº3 do art. 588.º, nos seguintes momentos:
a) Na audiência prévia, quanto aos factos que tenham ocorrido até então ou de que a parte tenha
tido conhecimento;
b) Nos 10 posteriores à notificação da data designada para audiência final, quando se não tenha
realizado a audiência prévia;
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Apresentado o articulado superveniente, o juiz profere despacho liminar sobre a sua admissibilidade
(art. 588.º, nº4).
Quando, por culpa da parte, for apresentado fora de tempo ou for manifesto que os factos não
interessam à boa decisão da causa, o despacho liminar será de indeferimento do articulado.
Neste prazo, pronuncia-se não apenas sobre a tempestividade do articulado, como também sobre a
relevância dos factos e a sua veracidade. Em caso de não impugnação, os factos consideram-se
admitidos por acordo (art. 574.º), exceto em caso de verificação de uma das três hipóteses referidas no
nº2 do mesmo art. Caso os factos a que respeita o articulado superveniente tenham sido confessados
ou admitidos pela parte contrária, serão considerados provados; caso contrário, constituem temas da
prova (art. 588.º, nº6).
O processo civil prevê a existência de uma fase intermédia entre os articulados e o julgamento.
Terminados os articulados, surge, assim, uma nova e importante fase, marcada pela intervenção do
juiz, a quem cabe orientar e tomar decisões sobre o processo. O atual CPC designa essa intervenção
inicial do juiz como “gestão inicial do processo”.
De entre os atos ou diligências a realçar nesta fase contam-se o despacho pré-saneador, a audiência
prévia, o despacho saneador, o despacho destinado a identificar o objeto do litígio e a enunciar os temas
da prova e o despacho destinado a programar e agendar a audiência final.
Despacho pré-saneador
Salvo nos casos em que haja lugar a intervenção liminar do juiz (art. 590.º, nº1), os trâmites da ação
declarativa comum apontam no sentido de o primeiro contacto do juiz com o processo só ocorrer depois
de apresentados os articulados. Nessa ocasião, o juiz deverá proceder a uma análise dos autos que se
espraia em diversas vertentes, daí podendo resultar a prolação de um despacho pré-saneador destinado
a realizar objetivos diversos (art. 590.º, nº2).
Visa remover obstáculos de natureza processual, como seja o suprimento das exceções dilatórias, de
forma a que o tribunal possa conhecer o mérito da causa e convidar as partes a suprir deficiências ou
irregularidades dos articulados;
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O juiz profere despacho pré-saneador nas hipóteses do art. 590.º, nº2, als. a), b) e c):
Esta alínea remete para o art. 6.º, nº2 (dever de gestão processual), pois o juiz vai gerir o processo
providenciando a sanação dos pressupostos processuais que podem ser sanados. Por isso, uma das
funções do despacho pré-saneador é a de regularização da instância ou da relação processual.
Trata-se de um poder vinculado, (art. 590.º, nº4, 1ª parte “incumbe ao juiz”) pois se o juiz não proferir,
verificando-se as circunstâncias, o juiz comete uma nulidade processual
Neste caso, pode haver aperfeiçoamento da matéria de facto, mas têm de se respeitar os limites da causa
de pedir (arts. 573.º e 574.º).
O novo articulado deve limitar-se ao suprimento das deficiências, não podendo o autor aproveitar a
oportunidade para ampliar o pedido ou para alegar novos factos que não estejam diretamente em
consonância com as irregularidades enunciadas no despacho.Da mesma forma, o réu não pode
aproveitar a oportunidade para deduzir novas exceções ou alegar uma nova versão dos factos.
Audiência Prévia
Configura um dos momentos mais marcantes da ação declarativa. Visa assegurar, com efetividade, a
aproximação entre as partes, e estas e o tribunal, através de uma cultura de diálogo. Visa que a atuação
dos sujeitos processuais seja dominada pela ideia de oralidade e da cooperação entre todos, traduzindo
uma verdadeira comunidade de trabalho.
Pretendeu o legislador que a audiência prévia constituísse o regime regra, com a participação ativa e
cooperante de juiz e mandatários, presentes numa audiência que, não sendo o julgamento, contribui
largamente para a resolução ou avanço do processo.
No entanto, nas ações de valor não superior a metade da alçada da Relação, ou seja, nas ações de valor
não superior a € 15 mil, a audiência prévia tenderá a não ser convocada, como decorre do art. 597.º. O
artigo atribui ao juiz, “consoante a necessidade e a adequação do ato ao fim do processo”, a faculdade
de convocar a audiência prévia, tudo indicando que em tais casos ela não terá efetivamente lugar.
Regime
A tramitação de uma ação declarativa incluirá, em curso normal, a realização de uma audiência prévia
(art. 591.º, nº1).
Nota: se o juiz dispensar a audiência prévia e proferir os despachos que deve proferir nesta fase fora da
audiência prévia, as partes podem reclamar dos mesmos, provocando com tal a realização da audiência.
Convocação
❖ A audiência prévia tem lugar num dos 30 dias seguintes à conclusão das diligências
subsequentes ao despacho pré-saneador (art. 591.º), não havendo na lei qualquer referência ao
caso de não haver tal despacho.
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A audiência prévia é feita por meio de despacho, o qual deve indicar, concretamente, o seu objeto e
finalidade (art. 591.º, nº2). Ou seja, O despacho que designa a audiência prévia fixa os seus fins.
Ora, a preparação supõe que as partes e os seus mandatários saibam o que vai acontecer, o que se vai
discutir e o que se vai tratar na audiência prévia.
Assim, se se pretender procurar a conciliação das partes, o juiz deve referir isso no despacho. Se se
pretender ouvir as partes acerca de uma exceção dilatória, o juiz deve identificar a exceção. Se a
audiência tiver como fim o esclarecimento de algum ponto, devem ser indicados. Se o juiz projetar
conhecer do mérito da causa e houver vários pedidos formulados (originais ou reconvencionais) ou se
houver exceções perentórias, é indispensável indicar.
Finalidades
Como resulta do art. 591.º, nº1, a audiência prévia pode destinar-se a diversos fins, enunciados nas suas
diversas alíneas.
O juiz só pode tentar conciliar as partes quando a matéria estiver na disponibilidade destas.
As partes têm, por isso, de comparecer pessoalmente ou conferir ao mandatário poderes especiais.
Em relação ao acordo, para os advogados surge uma questão crucial que é a do segredo profissional.
Nos termos do art. 92.º, nº1 do EOA, o advogado é obrigado a guardar segredo profissional no que
respeita a “todos os factos cujo conhecimento lhe advenha do exercício das suas funções ou da prestação
dos seus serviços”, designadamente “factos de que tenha tido conhecimento no âmbito de quaisquer
negociações malogradas, orais ou escritas, em que tenha intervindo” (al. f)).
Seguidamente, o juiz profere sentença homologatória do acordo. Neste caso, de acordo, o processo
termina aqui, com a sentença homologatória.
b) Facultar às partes a discussão de facto e de direito, nos casos em que vai apreciar exceções
dilatórias, podendo julgar total ou parcialmente o pedido;
Podem enunciar-se três situações em que deve ser convocada a audiência prévia, para os fins referido
na al. b):
1. Quando o juiz pretenda apreciar uma exceção dilatória de conhecimento oficioso que as partes
não tenham invocado nos articulados;
2. Quando se trate de uma exceção dilatória que uma parte tenha invocado naquele que era o
último articulado admitido no processo;
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3. Quando o juiz, findo o período dos articulados e considerando o estado do processo, entender
que dispõe de condições para decidir o mérito da causa. Decisão que, a ter lugar, será incluída
no despacho saneador, a proferir, em princípio, na audiência prévia (arts. 591.º, nº1, al. d); 595.º,
nº1, al. b); e 595.º, nº2)
A audiência prévia também pode ser uma via para colmatar insuficiências na exposição da matéria de
facto.
d) Proferir despacho saneador, onde conhece as exceções dilatórias, podendo julgar total ou
parcialmente o pedido;
Pretende-se que, em conjunto (“após debate”) se encontre a tramitação adequada ao processo, numa
ótica de simplificação.
Chama-se a atenção para o art. 597.º em que o legislador veio afirmar que o dever de adequação formal
é quase um imperativo para as ações com valor inferior a 15 mil euros.
f) Proferir despacho destinado a identificar o objeto do litígio bem como a enunciar os temas da
prova (questões de facto a provar);
Do que se trata é de levar o juiz e as partes a consciencializarem-se daquilo que está efetivamente em
discussão, i. e., daquilo sobre que versará a solução jurídica do pleito. Além disso, procura-se definir o
âmbito da atividade instrutória da causa.
No novo CPC, deixou de se fazer a lista de factos assentes e de factos controvertidos (base instrutória).
Efetua-se a indicação do objeto do litígio e o elenco dos temas da prova.
Identificado o objeto do litígio e enunciados os temas da prova, as partes poderão reclamar, sendo
proferido despacho (art. 591.º, nº1, al. f))). Entende-se que, tal como no regime anterior, a reclamação
poe ter por fundamento a deficiência, o excesso ou a obscuridade do despacho.
O despacho apenas pode ser impugnado com o recurso da decisão final (nº3 do mesmo artigo).
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Após audição dos mandatários, o juiz estabelece a programação dos atos a realizar na audiência final,
estabelecendo o número de sessões e a sua provável duração, bem como designa as datas.
Forma
Despacho saneador
De acordo com o art. 595.º, nº1, o despacho saneador desempenha uma dupla finalidade decisória:
Conhecer das exceções dilatórias e nulidades processuais que hajam sido suscitadas pelas partes ou que
o tribunal deva apreciar oficiosamente; ou seja, o juiz faz o balanço de todas as exceções dilatórias
(verifica a sanação das invocadas no despacho pré-saneador e verifica se há outras insanáveis); e
nulidades que obstem à apreciação do mérito da causa;
Se as exceções dilatórias não tiverem sido supridas, no despacho saneador, o juiz absolve o réu da
instância. Pode, no entanto, suceder que, subsistindo a exceção dilatória, a mesma se destine a proteger
o interesse de uma das partes, que vai ser beneficiada com uma sentença de mérito favorável (art. 278.º,
nº3). Nestas circunstâncias não há lugar à absolvição da instância.
O juiz deve também conhecer no despacho saneador das nulidades processuais que verifique existir
nos autos.
Um caso frequente é o da réplica apresentada pelo autor, quando não há lugar a este
articulado. Verificando-se que o articulado não devia ter sido apresentado ou que excedeu
os limites (o que será agora o caso de o autor, em vez de se limitar a deduzir réplica, para
responder à reconvenção, responder também às exceções), o juiz deve proferir despacho
ordenando o desentranhamento do articulado (primeiro caso) ou que se considere não
escrita a parte que excede os limites (segundo caso).
Nulidade de falta de citação (art. 188.º);
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Se houver exceções dilatórias, há julgamento formal da causa, com absolvição do réu da instância;
Se as exceções tiverem sido supridas ou se não houver exceções, o despacho saneador limita-se a algo
do género:
O juiz conhece do mérito quando se pronuncia sobre o pedido ou quando se pronuncia sobre uma
exceção perentória suscitada pelo réu.
Quando o processo termina nesta fase, designa-se por julgamento antecipado da lide. Quando o juiz
conhece total ou parcialmente do pedido, contendo o processo os elementos necessários para uma
decisão conscienciosa, o juiz profere o chamado “saneador-sentença” (nº3, in fine).
Nota: este despacho é proferido independentemente de haver audiência prévia. No entanto, se o juiz
considerar que já possui elementos suficientes para se pronunciar sobre o mérito, tem de convocar a
audiência prévia.
Do despacho saneador cabe recurso, mas não é recorrível o despacho quando relegue para a decisão
final, por falta de elementos, alguma matéria que lhe cumprisse conhecer (art. 510.º, nº4).
Uma das inovações do CPC de 2013 é a de, nas ações que não devam terminar nesta fase, ser proferido
despacho destinado a indicar o objeto do litígio e a enunciar os temas da prova (art. 596.º, nº1).
O objeto do litígio é definido em face dos pedidos deduzidos (das pretensões formuladas) e corresponde
ao thema decidendum.
v.g num acidente de viação, será objeto do litígio o direito à indemnização do autor e a sua atribuição
ou, de forma mais lata, a existência de pressupostos da responsabilidade civil extracontratual.
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Quanto aos temas da prova a enunciar, não se trata mais da quesitação atomística e sincopada de pontos
de facto. O regime introduzido pelo atual CPC assenta na definição do objeto do litígio, na fase da
condensação e nos temas da prova, em substituição da base instrutória.
O juiz e os mandatários deverão ter em atenção os factos essenciais da causa de pedir e das exceções
invocadas pelo réu.
Podem, assim, ser questões essenciais de facto, envolvendo, inclusivamente, conceitos de direito.
Exemplos
Numa ação de acidente de viação, será necessário provar o facto ilícito, o dano, a ilicitude, o
nexo de causalidade e a culpa, os temas da prova deverão assegurar tais requisitos.
Ação de impugnação pauliana: serão temas da prova a situação patrimonial do alienante após
alienação, a natureza (pessoal ou não) do ato, a data de constituição do crédito, a possibilidade
de o crédito vir a ser satisfeito, após a alienação impugnada, sendo o negócio oneroso, a
consciência do prejuízo pelos outorgantes. A situação patrimonial da Ré B, após a alienação do
prédio sito na Rua Z, nº 0, em Lisboa, titulada pela escritura acima identificada; A data de
constituição do crédito da autora; as consequências da alienação quanto à possibilidade do
crédito vir a ser satisfeito; A consciência das partes outorgantes nos negócios
consubstanciados naquela escritura, quanto ao prejuízo que os mesmos causaram à autora
enquanto credora da ré B.
Ação de preferência a propósito da alienação de prédio confinante: serão temas da prova a
natureza dos prédios e a data do conhecimento da venda (caso seja invocada a caducidade).
Ação de cobrança de dívida: serão temas da prova o fornecimento das mercadorias e o
pagamento do preço.
Ação relativa a defeitos de uma empreitada: serão temas da prova a existência de defeitos de
construção e a responsabilidade do empreiteiro.
Ação de despejo por falta de habitação permanente do inquilino: será tema da prova a falta de
habitação permanente do arrendatário e se a situação se prolongou mais de um ano.
Ação de impugnação de paternidade: objeto do litígio: decidir se deve ser declarado que o
menor Luís não é filho de Helena, com as legais consequências. Temas da prova: a paternidade
registada do menor Luís; a ausência de relacionamento sexual entre o 1º e a 2ª ré nos primeiros
120 dias dos 300 que antecederam o nascimento do menor Luís; o relacionamento sexual de
cópula completa mantido entre a 2ª Ré e Sebastião no período referido; o nascimento do menor
Luís, fruto do relacionamento sexual referido em 2.
Se em determinada ação for excecionada a prescrição do direito à indemnização, será tema da
prova a data em que o autor teve conhecimento do direito à indemnização.
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Se numa ação de preferência tiver sido excecionada a caducidade do direito de preferência, será
tema da prova a data em que o preferente teve conhecimento dos elementos essenciais do
negócio em causa.
Se numa ação de dívida for excecionado o pagamento da fatura, será tema da prova a liquidação
da fatura pelo réu.
O art. 151.º contém regras para a marcação das diligências, incluindo a audiência final.
Se houver audiência prévia, na sua parte final, o juiz, ao fazer a programação das sessões, ouvidos os
mandatários, marca as datas, o que implica o acordo destes.
Caso não tenha havido audiência prévia, haverá um trabalho de marcação da secretaria.
O art. 151.º, nº2 refere, como único impedimento suscetível de alterar a marcação, outro serviço judicial
já marcado. Os tribunais não efetuam qualquer controlo sobre a real existência do motivo invocado,
sendo, no entanto, essencial referir a existência de uma diligência judicial. P. ex: invocar uma viagem
ao estrangeiro já agendada não constitui impedimento admissível.
Com a marcação prévia da diligência, já não é admissível que o advogado falte invocando outra
diligência em outro processo.
A atual redação do art. 603.º restringiu as possibilidades de adiamento da audiência final. A regra é,
agora, a da inadiabilidade da audiência final.
1) Impedimento do tribunal
2) Falta de algum dos advogados, mas apenas se a audiência não tiver sido marcada mediante
acordo prévio;
3) Falta de algum dos advogados, ocorrendo justo impedimento
Assim, a falta de advogado, tendo havido acordo na marcação prévia, só possibilita o adiamento em
caso de justo impedimento de comparência do mandatário (art. 603.º, nº1).
Constituirá justo impedimento (art. 140.º) o evento não imputável ao mandatário que obste à sua
comparência na audiência final.
“A doença súbita e imprevisível do mandatário constitui justo impedimento quando lhe dificulta o cumprimento
atempado do prazo para a prática do ato jurídico e o substabelecimento noutro advogado, não conhecedor da
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causa, não pode assegurar eficazmente e em tempo útil a defesa dos interesses do mandante” (Ac. TRC de
6/5/2003).
Neste contexto, “os mandatários judiciais devem comunicar prontamente ao tribunal quaisquer circunstâncias
impeditivas da sua presença” (art. 151.º, nº5).
De notar que constitui um dever recíproco dos advogados “comunicar, atempadamente, a impossibilidade
de comparência a qualquer diligência aos outros advogados que nela devam intervir” (art. 112.º, nº1, al. g) do
EOA).
Não origina adiamento a falta de testemunha notificada. Quando muito, a sua inquirição terá lugar
ulteriormente (arts. 506.º e 457.º).
Assim, do art. 603.º, nº1 resulta a tendencial inadiabilidade da audiência final. Importa destacar, ainda,
duas outras previsões marcadas por este objetivo
1- Suspensão da instância por acordo das partes: de tal suspensão admitida por períodos que, na
totalidade, não excedam três meses), não pode resultar o adiamento da audiência final (art.
275.º, nº4);
Porém, o art. 273.º contém a possibilidade de suspensão da instância em caso de mediação (o
regime geral da mediação encontra-se fixado na Lei nº 29/2013.
2- Prova documental (art. 423.º, nº2): fixa o limite de 20 dias antes da data em que se realize a
audiência final para a apresentação de documentos que não hajam acompanhado os articulados,
limite este que permite em tempo útil o exercício do contraditório, antes da audiência final.
C – Fase final
Na audiência final, têm lugar (i) os atos de produção de prova e (ii) as alegações orais dos advogados
das partes (art. 604.º).
Finda a audiência, o processo é concluso ao juiz para prolação da sentença (art. 607.º).
Atualmente, a gravação total da audiência final resulta de imposição legal (art. 155.º). A secretaria
procede à transcrição de requerimentos e respetivas respostas, despachos e decisões, que o juiz,
oficiosamente ou por requerimento determine (nº5).
Tribunal singular
Durante muitos anos, as causas mais importantes, correspondendo à forma ordinária de processo, eram
julgadas por um coletivo de três juízes. Atualmente, a audiência final decorre perante um juiz singular,
por um único juiz (art. 599.º).
Em contrapartida, o tribunal de 2ª Instância reaprecia a matéria de facto, o que não sucedia quando
havia tribunal coletivo.
O novo CPC introduziu o princípio da plenitude da assistência do juiz (art. 605.º). O juiz que for
transferido, promovido ou aposentado conclui o julgamento; no caso de transferência ou promoção, o
juiz elabora a sentença.
O artigo não refere a resposta às exceções deduzidas no último articulado admissível, não tendo havido
audiência prévia (art. 3.º, nº4). Trata-se de um ponto importante, pois a parte tem todo o interesse em
pronunciar-se sobre tais exceções, pelo que deverá pedir a palavra logo no início da audiência.
Nos termos do art. 604.º, nº2, o primeiro ato a praticar na audiência final é o da tentativa de conciliação,
desde que a causa se encontre no âmbito de disposição das partes.
Esgotada a hipótese de conciliação, o art. 604.º, nº3 apresenta a sequência de atos a praticar.
Sem prejuízo dos casos em que a prova deva ser produzida antes e fora da audiência final, a audiência
é o momento próprio e adequado para a produção de prova, num regime de oralidade, imediação e
contraditoriedade.
1. Prestação dos depoimentos de parte (art. 604.º, nº3, al. a)): a confissão pode tornar despiciendos
os demais meios de prova;
2. Exibição de reproduções cinematográficas ou de registos fonográficos (art. 604.º, nº3, al. b));
3. Esclarecimentos verbais dos peritos (art. 604.º, nº3, al. c)), convocados para a audiência final
quer oficiosamente quer a requerimento das partes (art. 486.º);
4. Inquirição das testemunhas (art. 604.º, nº3, al. d));
Esta ordem de produção de prova pode ser alterada pelo juiz, quando tal se justifique (art. 604.º, nº7).
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De notar que os atos probatórios a praticar na audiência podem ainda incluir a figura das declarações
de parte (art. 466.º), embora seja um meio de prova residual ou subsidiário.
(iii) Debate sobre a matéria de facto e de direito, Discussão da Causa (Alegações orais)
Finda a produção de prova, o juiz dá a palavra ao mandatário do autor, e depois ao mandatário do réu,
para as alegações orais, que envolvem agora matérias de facto e de direito (ao contrário do que sucedia
anteriormente, em que havia cisão) (art. 604.º, nº3, al. e); art. 607.º).
Nas alegações, cada parte procurará centrar-se nos temas da prova e na matéria que deve considerar-
se provada, tendo em atenção a prova global que foi produzida ao longo do processo, com realce,
naturalmente, para a audiência final, sem esquecer, no entanto, as regras inerentes à admissão dos
factos nos articulados. As alegações devem ser, na medida do possível, curtas, incisivas e diretas,
chamando a atenção para os aspetos fulcrais da prova.
O juiz não está vinculado pelas alegações das partes. A ele compete aplicar o direito.
Nos termos do art. 604.º, nº3, al. e) e nº5, cada advogado pode ter duas intervenções (alegação e réplica),
sendo que a alegação não pode exceder uma hora e a réplica não pode exceder trinta minutos.
Deve notar-se que o momento em que findam as alegações orais dos advogados das partes marca o
momento processual do encerramento da discussão, o qual releva para diversos efeitos, nomeadamente
para:
Sentença
Encerrada a audiência final, o processo é concluso ao juiz, para ser proferida a sentença no prazo de 30
dias (art. 607.º, nº1).
Importa salientar o disposto no art. 607.º, nº1, 2ª parte, o qual prevê a possibilidade do juiz, no
momento em que está a elaborar a sentença e quando não se julgar suficientemente esclarecido,
ordenar a reabertura da audiência, ouvindo as pessoas que entender e ordenando as demais diligências
necessárias.
Estrutura
1. Relatório
Destinada à identificação das as partes e o objeto do litígio, fixando ainda as questões que ao
tribunal cumpre solucionar (art. 607.º, nº2);
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2. Fundamentos
Compreendem a discriminação dos factos que o juiz considera provados e o enquadramento
jurídico desses factos (art. 607.º, nº3);
O juiz conhece em primeiro lugar das questões processuais que possam determinar a absolvição da
instância, segundo a ordem lógica (art. 608.º), nos casos em que tal não foi possível aquando da prolação
do despacho saneador.
O art. 608.º, nº2 consagra o dever de o juiz resolver todas as questões que as partes tenham submetido
à apreciação do tribunal, excetuando aquelas que se consideram prejudicadas pela solução dada a outras
(caso das exceções dilatórias e perentórias).
1) Factos principais alegados pelas partes nos articulados (art. 5.º, nº2, 1ª parte);
2) Factos instrumentais que resultem da instrução da prova (art. 5.º, nº2, al a));
3) Factos que sejam complemento ou concretização de que as partes hajam alegado e que
resultem da instrução da causa (art. 5.º, nº2, al. b);
4) Factos notórios e aqueles que o tribunal tenha conhecimento por virtude do exercício das suas
funções.
Elementos probatórios
Compatibilizando toda a matéria de facto adquirida; extraindo dos factos apurados as presunções
impostas por lei ou por regras da experiência (art. 607.º, nº4) e apreciando livremente a prova segundo
a prudente convicção acerca de cada facto (art. 607.º, nº5).
3. Decisão final
É a parte da sentença em que o juiz resolve a questão que lhe foi colocada, assim pondo termo
ao processo (art. 607.º, nº3, in fine). O juiz interpreta e aplica as normas jurídicas aos factos
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provados, concluindo pela decisão final (art. 607.º, nº3). Não está sujeito às alegações das
partes, no que respeita à aplicação das normas de direito. A fundamentação de direito não pode
consistir na mera adesão aos fundamentos alegados na petição ou na contestação (art. 154.º,
nº2).
4. A Sentença deve conter ainda a referência às custas judiciais (art. 607.º, nº6)
Em matéria de custas, a regra contida no art. 527.º, nº1 é a de que deve ser condenada no
respetivo pagamento a parte que tenha dado causa à ação, estabelecendo o nº2 que se entende
ter dado causa às custas do processo a parte vencida.
5. Quando for o caso, a sentença deverá conter pronúncia sobre a litigância de má fé e respetivos
efeitos (art. 542.º, nº2 e 543.º).
Limites da Condenação
Nos termos do art. 608.º, nº2, o juiz só pode apreciar as questões suscitadas pelas partes, sem prejuízo
da faculdade ou obrigação de conhecimento oficioso, sob pena de nulidade da sentença, ora por omissão
de pronúncia ora por excesso (art. 615.º, al. d)).
O tribunal não pode condenar em quantia superior ao pedido nem em objeto diverso do que se pedir
(art. 609.º, nº1).
No processo de trabalho não existe essa limitação, de proibição de condenação em quantia superior à
do pedido.
Quando o tribunal não tiver elementos para fixar o objeto ou a quantidade, condenará no que se
liquidar em execução da sentença, sem prejuízo da condenação imediata na parte que já esteja líquida.
P. ex., numa ação de acidente de viação, provou-se a existência de danos, mas não se provou o seu
montante. A sentença condenatória condenará o réu em indemnização a liquidar em execução de
sentença. Em consequência, a execução começa por um incidente, em que o exequente tem de apurar
previamente os danos, quantifica-los, pois a execução tem de ter um valor determinado.
Interposição de recurso
Com o atual CPC, deixou de ser admissível as partes requererem o esclarecimento de alguma
obscuridade ou ambiguidade da decisão ou dos seus fundamentos, como estava previsto no art. 699.º,
nº1 do CPC revogado. Havia um abuso no que respeita ao uso deste direito, pelo que se justifica a
alteração.
Tem de se ter em atenção o prazo de recurso, evitando que a sentença transite em julgado.
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Não basta alegar, é necessário provar. A sentença é a aplicação do Direito aos factos provados. Na
sentença, o juiz deve “discriminar” os factos que considera provados e indicar, interpretar e aplicar as
normas jurídicas correspondentes concluindo pela decisão final” (art. 607.º, nº3), considerando
procedente ou não o pedido formulado pelo A. (ou pelo réu, no caso de pedido reconvencional).
Poderá eventualmente suceder que não se torne necessária a produção dos meios de prova, ou seja, a
realização das diligências necessárias para que o tribunal aprecie a prova. Tal sucederá, nomeadamente,
se a ação não for contestada e o efeito cominatório for a admissão dos factos (art. 574.º, nº2) ou se o
enquadramento jurídico for tal que dispense apurar os factos. Mas a regra será a necessidade de
produção de prova.
Provas admissíveis
Conforme resulta do art. 410.º, a delimitação do objeto da instrução é assegurada pelos temas da prova
enunciados nos termos do art. 596.º, nº1.
Nota: a prova recai sobre factos concretos (e não sobre temas), sendo os factos a apurar em juízo todos
quantos (ora porque alegados ora porque resultem da própria instrução) tenham atinência com os
temas da prova enunciados. Haja ou não enunciação dos temas da prova, a instrução tem por objeto
factos.
Os factos cuja demonstração se busca em processo reconduzem-se aos factos essenciais, i. e., aqueles
de cuja verificação depende a procedência das pretensões deduzidas pelas partes. Mas pode igualmente
recair sobre factos instrumentais.
Assim, os meios de prova destinam-se a demonstrar a veracidade dos factos alegados nos articulados.
Nos termos do art. 342.º, o qual estabelece o critério geral de repartição do ónus da prova entre as
partes, quem “invocar um direito cabe fazer a prova dos factos constitutivos do direito alegado”. Resulta do
nº2 que compete à parte contrária “a prova dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos do direito
invocado”.
Princípio do inquisitório
De acordo com o art. 413.º será irrelevante, por regra, a origem da prova.
Art. 415.º
O art. 417.º consagra o dever de cooperação e estabelece que todas as pessoas, partes ou não, devem
prestar a sua colaboração para a descoberta da verdade, respondendo ao que lhes for solicitado,
submetendo-se às inspeções, facultando o que for requisitado e praticando os atos que forem
determinados.
É possível encontrar diversos graus de vinculação do julgador àquilo que resulta da prova.
A regra é a da livre apreciação da prova, querendo isso significar que o juiz deverá proceder ao
julgamento da matéria de facto segundo a sua prudente convicção acerca de cada facto (art. 607.º, nº5).
No entanto, apesar de a regra ser a da prova livre, há importantes áreas em que vigora a prova legal,
significando isso que o valor probatório de certos meios de prova é definido pela lei, impondo-se ao
julgador.
1- Prova bastante: é suscetível de ser abalada por contraprova, criando dúvida no espírito do
julgador;
2- Prova plena: é apenas abalada pela prova do contrário (art. 347.º CC).
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É este o regime que caracteriza as presunções legais relativas ou ilidíveis (art. 350.º, nº2 CC),
bem como acontece com os documentos autênticos (art. 371.º CC), cuja força probatória só
pode ser ilidida com base na sua falsidade.
3- Prova pleníssima: não pode ser abalada sequer por prova do contrário, sendo característica das
presunções legais absolutas (art. 350.º, nº2 CC).
No que respeita à força vinculativa destes meios de prova, pode dizer que, em geral, são apreciados
livremente pelo tribunal. Não obstante, há alguns casos de apreciação legal de prova como acontece
com:
Por regra, devem ser incluídos na petição inicial e na contestação os requerimentos probatórios
respetivos (arts. 552.º, nº2 e 572.º, al. d)).
Quanto ao autor:
Se o réu contestar, a alteração do requerimento probatório pode ter lugar sempre, ora na
réplica, havendo lugar a esta, ora no prazo de 10 dias a contar da notificação da contestação
(art. 552.º, nº2).
Quanto ao réu:
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Este poderá alterar o seu requerimento probatório no caso de, tendo formulado pedido
reconvencional, o autor replicar, dispondo de 10 dias a contar da notificação da réplica (art.
572.º, al. d)).
Na audiência prévia, quer esta seja logo convocada pelo juiz, nos termos do art. 591.º; quer
seja convocada na sequência de requerimento potestativo de alguma das partes, ao abrigo do
art. 593.º, nº3 (art. 598.º, nº1);
De modo mais limitado, porque circunscrito à prova testemunhal, o art. 598.º, nº2 admite que
o rol de testemunhas seja aditado ou alterado até 20 dias antes da data em que se realize
audiência final. Nesta situação, o art. 598.º, nº2 confere à parte contrária igual faculdade, sendo
esta notificada para esse efeito, dispondo de 5 dias. Note-se que as testemunhas assim aditadas
ou alteradas pelas partes são a apresentar.
Nos termos do art. 416.º, as partes podem oferecer como meio de prova uma coisa móvel ou imóvel.
Este meio de prova não é impeditivo de prova pericial ou por inspeção quanto às coisas apresentadas
(art. 416.º, nº3)
2. Prova documental
A prova documental é a que resulta de documento, entendendo-se por documento qualquer objeto
elaborado pelo homem com o fim de reproduzir ou representar uma pessoa, coisa ou facto (art. 362.º
CC).
No âmbito dos documentos escritos, temos os documentos: (art. 363.º, nº1 CC)
a) Autênticos: são os exarados, com as formalidades legais, pelas autoridades públicas nos limites
da sua competência ou pelo notário ou outro oficial público provido de fé pública;
b) Particulares: todos os demais documentos.
Os documentos particulares são tidos por autenticados, quando confirmados pelas partes
perante notário, nos termos das leis notariais (art. 363.º, nº3 CC).
A regra relativa à apresentação de documentos está consignada no art. 423.º, nº1, ou seja, os
documentos destinados a fazer prova dos fundamentos da ação ou da defesa devem ser apresentados
com o articulado em que sejam alegados os factos correspondentes.
Ao alegar o facto em determinado artigo, a parte acrescenta “junta doc. nº (…)” ou “conforme
documento nº que se junta”. O documento é numerado no canto superior direito.
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Se, porém, o apresentar em requerimento autónomo, indica-se a matéria cuja prova o documento se
destina.
Destinam-se os documentos à prova dos lucros cessantes, designadamente aos rendimentos que o A- deixou de
auferir em consequência da agressão”.
O nº2 admite, porém, a apresentação posterior daqueles documentos até 20 dias antes da data em que
se realize a audiência final, sujeitando-se a parte à multa respetiva, salvo se apresentar justificação.
Decorrido este último prazo, ainda existe a possibilidade de apresentar documentos, ou seja,
ultrapassado o limite temporal do art. 423.º, nº2, a junção de documentos, sobretudo no decurso da
audiência final, está sujeita aos limites do nº3, a saber:
i. Só serão admitidos os documentos cuja apresentação não tenha sido possível até então;
ii. Só são admitidos os documentos cuja apresentação se tenha tornado necessária em virtude
de ocorrência posterior;
Foi aqui introduzida uma alteração significativa, muito positiva, em relação ao anterior CPC.
Antes, nos termos do art. 523.º, os documentos deviam ser apresentados com os articulados, mas a
parte poderia ainda proceder à sua apresentação até ao encerramento da audiência em 1ª instância,
sendo condenada em multa, exceto se provasse que os não tinha podido oferecer com o articulado.
Apresentado com o último articulado ou depois dele, o documento é notificado à parte contrária, para
sobre ele se pronunciar (art. 427.º).
Procurando evitar o adiamento ou suspensão da audiência final, o ar. 424.º estabelece que, por
princípio, tal apresentação não obsta à realização das diligências de produção de prova agendadas.
Nestes casos, a apresentação dos documentos na audiência não obsta à realização das diligências de
prova, salvo se, não podendo a parte examiná-los no próprio ato, mesmo com suspensão dos trabalhos
pelo tempo necessário, o tribunal considere os documentos relevantes e declare que existe grave
inconveniente no prosseguimento da audiência. Na prática, restringe-se consideravelmente a
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Com frequência, juntam-se certidões. Nos termos do art. 74.º do EOA, no exercício da profissão, o
advogado pode requerer “oralmente ou por escrito, que lhe sejam fornecidas fotocópias ou passadas certidões,
sem necessidade de exibir procuração”.
Embora haja a faculdade de requerer oralmente a certidão, é preferível fazê-lo por escrito. Fica bem
delimitado o pedido e obtemos um comprovativo, para depois levanta a certidão.
O mesmo art. 74.º permite solicitar, em qualquer tribunal ou repartição, “o exame de processos, livros ou
documentos que não tenham caráter reservado ou secreto”, o que poderá constituir o primeiro passo para a
certidão.
Requisição de documentos
De acordo com o princípio do dispositivo, devem ser as partes a disponibilizar ao tribunal os respetivos
meios de prova.
Assim, o tribunal só procede à requisição de informações, ao abrigo da citada disposição, se parte alegar
(e por vezes demonstrar) que não foi possível ela própria obter a informação ou documento.
O art. 429.º regula a hipótese de a parte pretender utilizar um documento que se encontre em poder
da parte contrária, caso em que deverá requerer a notificação dela para apresentar o documento,
devendo identificá-lo e indicar, na medida do possível, os factos que, através dele, pretende provar.
- Outros documentos
Quando não se consegue obter um documento, por caráter reservado ou por qualquer outra razão,
pode utilizar-se a força do tribunal para conseguir o efeito útil. O art. 436.º permite à parte requerer
ao tribunal que sejam requisitadas informações, pareceres técnicos, plantas, fotografias, desenhos,
objetos ou outros documentos necessários ao esclarecimento da verdade. A requisição pode ser feita
aos organismos oficiais, às partes ou a terceiros.
Uma vez juntos os documentos ou a informação, requisitados pelo tribunal ao abrigo do art. 436.º, já
não se alegar que não se querem juntar no processo, por serem desfavoráveis.
Prazo de Exame
Se o documento tiver sido junto com um articulado, a parte contrária pode pronunciar-se sobre o
mesmo no articulado seguinte.
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Mas se o documento for junto com o último articulado, ou em momento posterior, é notificado à parte
contrária, nos termos do art. 427.º.
❖ Uma vez notificada, a parte contra quem o documento é apresentado pode não prescindir do
prazo de exame para se pronunciar sobre o mesmo. O prazo de exame é denominado também
por prazo de vista. O prazo supletivo é de 10 dias (art. 153.º).
Se o documento for autêntico, só pode ser afastada a sua força probatória mediante a demonstração da
sua falsidade.
A prova por confissão (também chamada depoimento de parte) visa produzir a confissão de um facto
desfavorável e é requerido por uma parte contra a outra. Ou seja, o autor não pode pedir o depoimento
de parte relativamente ao próprio autor, mas sim o depoimento de parte do réu, já que é um meio de
prova que visa levar à confissão de factos desfavoráveis à parte que presta o depoimento.
Nos termos do art. 352.º CC, “confissão é o reconhecimento que a parte faz da realidade de um facto que lhe é
desfavorável e favorece a parte contrária”.
A confissão das partes pode fazer-se por diversos meios, judicial ou extrajudicialmente (art. 355.º CC).
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“Havendo impugnação, é ao apresentante do documento que incumbe provar a autoria contestada; e terá de
fazê-lo, mesmo que o impugnante tenha arguido a falsidade do texto e da assinatura, ou só da assinatura” (Pires
de Lima e Antunes Varela).
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Entre as formas de confissão judicial (art. 356.º CC), a que tem tratamento processual autónomo é a
que resulta do depoimento de parte (arts. 452.º e ss.).
O depoimento de parte pode ser requerido ou oficiosamente determinado (art. 452.º). Sendo requerido,
devem indicar-se, concretamente, os factos sobre que o depoimento há-de recair, sob pena de recusa
(nº2).
Normalmente, o depoimento de parte é prestado na audiência final (arts. 456.º e 604.º, nº3, al. a)), pelo
que se deve notificar pessoalmente o depoente (art. 253.º, nº2).
Antes de começar o depoimento, o juiz deve dar cumprimento ao disposto no art. 459.º, i. e., alertar o
depoente para o significado moral do juramento a prestar, e incitá-lo a depor com verdade, advertindo-
o para as sanções aplicáveis às falsas declarações, exigindo., de seguida, que o depoente preste
juramento, segundo a fórmula do nº2, sendo que a recusa a prestar juramento implica recusa a depor
(art. 459.º, nº3), atitude que será livremente apreciada pelo tribunal para efeitos probatórios (art. 357.º,
nº 2 CC).
O interrogatório feito pelo juiz incidirá sobre os factos que constituem o objeto do depoimento (art.
460.º), sendo certo que o depoente só pode ser interrogado sobre factos pessoais ou de que deva ter
conhecimento (art. 454.º, nº1).
Embora o interrogatório seja feito pelo juiz, os advogados, além de assistirem, podem pedir
diretamente esclarecimentos ao depoente (art. 462.º, nº1).
Nos termos do art. 463.º, nº1, o depoimento prestado perante o tribunal da causa é reduzido a escrito,
na parte que envolva confissão, a fim de ter a força probatória plena da confissão judicial escrita (art.
358.º, nº1 CC).
“III-Depoimento de Parte:
Nos termos do art. 452.º, nº2 do CPC requer o depoimento de parte do R., à matéria relativa às circunstâncias
em que ocorreu o acidente, designadamente aos arts x e y da petição”.
Por visar a confissão, o depoimento de parte apenas pode ser requerido em relação a factos que são
desfavoráveis ao requerente e não pode recair sobre matéria relativa a direitos indisponíveis.
P. ex: nas ações de divórcio, como na generalidade das ações sobre o estado das pessoas, não é possível
requerer o depoimento de parte, por estarmos em presença de direitos indisponíveis, relativamente aos
quais não é admissível prova por confissão (art. 289.º, nº1).
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No caso de pessoas coletivas, o depoimento de parte é prestado pelos representantes legais. Se for uma
sociedade anónima, qualquer administrador poderá depor, se for uma sociedade por quotas, será um
gerente.
Esta figura tem caráter voluntário pois é a própria parte que se oferece para depor, requerendo a
prestação de declarações.
Estas declarações apenas podem recair sobre factos em que a parte tenha intervindo pessoalmente ou
que tenha conhecimento direto.
Além disso, ao contrário da generalidade dos meios de prova, que devem ser indicados em momento
prévio, o requerimento relativo à prova por declarações de parte pode ser apresentado até ao início das
alegações orais em 1ª instância (art. 466.º, nº1). A parte deve indicar os factos sobre os quais há-de
recair o seu depoimento.
Este é um novo meio de prova introduzido pelo novo CPC. O art. 466.º veio contemplar este novo
meio de prova, estatuindo que “as partes podem requerer, até ao início das alegações orais em 1ª instância, a
prestação de declarações sobre factos em que tenham intervindo pessoalmente ou de que tenham conhecimento
direto”.
P. ex., numa ação de divórcio sem o consentimento do outro cônjuge, em que muitos dos factos
alegados decorrem na intimidade do casal. Embora não seja processualmente admissível o depoimento
de parte, ou seja, a autora não pode, p. ex., vir pedir ao tribunal o depoimento de parte do réu,
relativamente à agressão por ele perpetrada, por se tratar de matéria que diz respeito a direitos
indisponíveis, já será agora possível ela própria pedir ao tribunal que a ouça em declarações de parte.
A A. requer a prestação de declarações relativamente à matéria que consta nos artigos x a y, uma vez que se
tratam de factos em que teve intervenção direta, podendo, assim, esclarecer o tribunal de viva voz sobre as
circunstâncias em que ocorreu a agressão (art. 466.º, nº1 CPC)”
Repare-se: ao contrário do depoimento de parte que visa a confissão da parte contrária, este meio de
prova (declarações de parte) visa o esclarecimento pela própria parte que o requer.
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Quanto à força probatória das declarações de parte, o art. 466.º, nº3 estabelece que tais declarações
estão sujeitas à livre apreciação do tribunal.
5. Prova pericial
A prova pericial – que pode resultar de requerimento das partes ou de determinação judicial (art. 467.º)
– tem por fim a perceção ou apreciação de factos por meio de peritos, quando sejam necessários
conhecimentos especiais que o julgador não possua, ou quando os factos, relativos a pessoas, não devam
ser objeto de inspeção judicial (art. 388.º CC). Tem lugar antes da realização do julgamento.
Nos termos do art. 568.º, nº1, a perícia é requisitada pelo tribunal a entidades competentes para o
efeito.
É aplicável aos peritos o regime de impedimentos e suspeições que vigora para os juízes (art. 470.º,
nº1).
Ao requerer a perícia, a parte deve indicar o objeto, enunciando as questões que devem ser objeto da
diligência (art. 475.º).
Atualmente, basta mencionar as questões de facto que se pretendem ver esclarecidas. Em vez dos
quesitos (perguntas), escreve-se: o autor pretende que o exame pericial determine qual o seu grau de
incapacidade, concretamente se é ou não de 40%.
O juiz, se considerar que a diligência se justifica, ouve a parte contrária sobre o objeto proposto,
podendo esta aderir ou propor a ampliação do objeto da perícia (art. 476.º).
Possibilidade de determinação oficiosa da perícia: poderá ser o próprio tribunal, por sua iniciativa, a
determinar a realização da perícia (art. 477.º). Neste caso, as partes poderão sugerir o alargamento da
perícia.
A perícia é realizada por um único perito, nomeado pelo juiz da causa. Porém, a perícia pode ser colegial
(i. e., realizada por três peritos) quando o juiz o determine oficiosamente ou alguma das partes o
requeira (art. 468.º, nº1).
A lei admite que qualquer das partes requeira a realização de segunda perícia, devendo o respetivo
requerimento, a apresentar em 10 dias a contar do conhecimento do resultado da primeira perícia,
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conter as razões de discordância relativamente ao relatório pericial (art. 487.º, nº1), a qual terá o mesmo
número de peritos da primeira.
Quanto ao valor probatório da perícia, o art. 489.º estabelece que a segunda perícia não invalida a
primeira, sendo ambas apreciadas livremente (art, 389.º CC).
No caso de um acidente de aviação, a prova pericial poderia ser requerida da seguinte forma:
Nos termos dos arts. 467.º e seguintes do CPC, requer a realização de prova pericial (exame médico), a realizar
na pessoa do A. para a prova dos arts. 8.º, 9.º e 10.º da petição”.
Desistência da perícia
As perícias médico-legais são realizadas pelos serviços médico-legais ou pelos peritos médicos
contratados (art. 467.º, nº3).
O regime jurídico das perícias médico-legais e forenses está fixado na lei nº 45/2004, pelas portarias
nº 625/2005, de 12/8, e nº 685/2005 de 18/8.
A prova por inspeção tem por fim a perceção direta de factos pelo juiz (art. 390.º), tratando-se de uma
diligência probatória que pode ser requerida pelas partes ou ordenada oficiosamente pelo tribunal (art.
490.º, nº1).
O pedido de inspeção, inserido na parte final da petição, nos meios de prova, teria a seguinte
formulação, p. ex.:
“V – Inspeção Judicial
Nos termos do art. 490.º, requer a V. Exa., a deslocação do tribunal ao locado, a fim de averiguar a dimensão
da obra realizada pelo réu, de forma a concluir se houve ou não alteração substancial da estrutura interna do
locado. Para prova do tema da prova relativo à realização de obras”.
Muitas vezes, o juiz relega a oportunidade da inspeção judicial para a audiência de julgamento,
proferindo um despacho como este:
Não se julgue, no entanto, que é arbitrária a decisão sobre este meio de prova: “a realização de prova
por inspeção judicial, requerida oportunamente, não constitui um poder discricionário do juiz, mas um poder-
dever que só poderá deixar de ser exercido quando a diligência se mostrar de todo desnecessária ou inútil, o que
deverá constar de despacho fundamentado e suscetível de recurso” (Ac. STJ de 19/4/1995).
O CPC introduziu este novo meio de prova, previsto no art. 494.º. Trata-se de um novo meio de prova.
Sempre que seja legalmente admissível a inspeção judicial, mas o juiz entenda que não se justifica, face
à natureza da matéria ou à relevância do litígio, a perceção direta dos factos pelo tribunal, pode ser
incumbido técnico ou pessoa qualificada de proceder aos atos de inspeção de coisas ou locais ou de
reconstituição de factos e de apresentar o seu relatório. Sem prejuízo das atestações realizadas por
autoridade ou oficial público, as verificações judiciais não qualificadas são livremente apreciadas pelo
tribunal.
Apesar de o texto do art. 493.º induzir que este meio de prova é apenas de determinação oficiosa,
eventualmente em face de um requerimento de inspeção judicial apresentado pelas partes, nada obsta
a que estas, ao requererem a inspeção, logo avancem a hipótese de se realizar alternativamente a
verificação não judicial qualificada.
Quanto à força probatória das verificações não judiciais qualificadas, o art. 494.º, nº2 estabelece que as
mesmas são livremente apreciadas pelo tribunal.
8. Prova testemunhal
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No campo da prova testemunhal, pretende-se que o depoente revele ou exponha as suas perceções
sobre os factos objeto de prova.
Não pode ser o advogado a falar com as testemunhas (EOA). Devemos aconselhar-se o cliente a
contactar previamente o candidato a testemunha, pedindo-lhe a anuência para ser testemunha.Mas há
situações em que se indicam as testemunhas sem pedir “autorização”. Tal sucede, p. ex., quando se
trata de alguém que tem conhecimento dos factos no exercício das suas funções (v.g agentes policiais).
Indicam-se as testemunhas pelos seus “nomes, profissões e moradas e por outras circunstâncias
necessárias para as identifica! (art. 498.º).
Em princípio, podem depor como testemunhas todas as pessoas com capacidade natural, cabendo ao
juiz avaliar a admissibilidade e a credibilidade do depoimento (art. 495.º).
Recusa legítima a depor (art. 497.º, nº1), devendo tais pessoas (v.g cônjuge) que se encontrem
nessa situação ser advertidas pelo juiz, sob pena de ser cometida nulidade (art. 497.º e 195.º);
Não podem ser testemunhas aqueles que podem depor como partes (art. 495.º), nesta restrição se
incluindo os representantes de incapazes, pessoas coletivas ou sociedades (art. 453.º).
Sigilo Profissional
Deve apresentar escusa (art. 497.º, nº3, conjugado com o art. 417.º, nº4), aplicando-se o disposto no
processo penal acerca da verificação da legitimidade da escusa e da dispensa do dever de sigilo
invocado.
O art. 135.º do CPP refere que, havendo fundadas dúvidas sobre a legitimidade da escusa, a autoridade
judiciária perante a qual o incidente se tiver verificado procede às averiguações necessárias. Se, após
estas, concluir pela legitimidade da escusa, é ordenada a prestação do depoimento.
Se os factos não forem conhecidos pelo advogado no exercício da sua profissão, nada obsta a que o
advogado seja testemunha. Porém, se resultarem de revelação de clientes ou, de modo geral, a assuntos
conhecidos por força da profissão, o advogado deve recusar-se, explicando que está impedido de prestar
depoimento.
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Estão também sujeitos a deveres específicos de sigilo profissional os jornalistas, técnicos oficiais de
contas, revisores oficiais de contas, notários, solicitadores, ministros do culto das igrejas ou
comunidades religiosas, detentores de segredo de Estado, funcionários e agentes da AP, médicos,
membros da Alta Autoridade para a Comunicação Social, profissionais do Instituto de Seguros,
bancários, pessoal do INE, médicos veterinários, provedor de justiça e pessoal hospitalar.
Nestes termos, o art. 497.º, nº3 estabelece que devem escusar-se a depor os que estejam adstritos ao
segredo profissional, ao segredo de funcionários públicos e ao segredo de Estado.
As testemunhas que as partes pretendem fazer depor em juízo são indicadas no respetivo rol,
designando nomes, profissões e moradas (art. 498.º, nº1).
O rol de testemunhas pode ser alterado ou aditado até 20 dias antes da data da realização efetiva da
audiência final (art. 598.º, nº2).
Por outro lado, as testemunhas arroladas podem ser substituídas se ocorrer alguma das situações do
art. 508.º, nºs 1 e 3.
Além disso, a parte pode desistir a todo o tempo da inquirição das testemunhas por si indicadas (art.
498.º, nº2).
De notar, porém, que a testemunha prescindida pode ser inquirida oficiosamente pelo tribunal, se
houver razões para presumir que tem conhecimento de factos importantes para a boa decisão da causa
(arts. 498.º, nº2 e 526.º).
Quanto ao número de testemunhas, o art. 511.º estabelece que os autores não podem oferecer mais de
10 testemunhas, havendo igual limitação para os réus que apresentem uma única contestação (nº1). Ou
seja, os réus também não podem apresentar mais do que 10 testemunhas se apresentarem uma
contestação conjunta. Em caso de reconvenção, cada uma das partes pode ainda oferecer outras tantas
testemunhas (nº2).
O nº de testemunhas é reduzido para metade nas ações de valor não superior à alçada da 1ª instância
(art. 511.º, nº1, in fine), ou seja, para cinco.
Apesar de haver um número limite de testemunhas, o juiz pode admitir um número superior quando a
natureza e extensão dos temas da prova o justifiquem (art. 511.º, nº4).
O depoimento testemunhal pode também resultar da iniciativa do tribunal (art. 526.º). Trata-se de um
poder-dever, de um poder vinculado, cujo critério subjacente é o da necessidade da diligência para o
apuramento da verdade e a justa composição do litígio (art. 411.º).
Apresentação
O CPC de 2013 inverteu o tradicional critério relativo à convocação de testemunhas. Assim, nos
termos do art. 507.º, nº2, as partes têm o ónus de apresentação das testemunhas por si arroladas, salvo
se requererem a respetiva notificação.
Como regra, as testemunhas depõem no tribunal onde corre o processo, na audiência final.
O art. 507.º, nº2 contém uma regra inovadora: “as testemunhas são apresentadas pelas partes, salvo se a parte
que as indicou requerer, com a apresentação do rol, a sua notificação para comparência ou inquirição por
teleconferência”.
Antes a regra era a de que a secretaria notificava as testemunhas, por carta registada, para
comparecerem, sob pena de multa, o que constrangia a testemunha a comparecer em tribunal.
Agora, face a esta alteração, para que haja notificação pelo tribunal terá mesmo de ser requerida
expressamente pela parte. Ao elaborar-se o rol, tem, assim, de se ter o cuidado de indicar “cuja
notificação se requer” ou “a notificar”, a seguir ao nome da testemunha. Caso contrário, a testemunha
não receberá nenhum aviso do tribunal e terá de ser a parte, o cliente, a providenciar pela sua
comparência, como decorre da regra inscrita no art. 507.º, nº2.
A parte poderá requerer a inquirição por meio tecnológico (teleconferência) quando a testemunha
residir fora do município onde se encontra sediado o tribunal ou juízo (art. 502.º). Se a parte tiver
requerido a inquirição por meio tecnológico, a testemunha prestará o depoimento através desse meio,
a partir do tribunal da área de residência. Por isso, se a parte tiver receio que a testemunha não
compareça terá de requerer expressamente “a inquirir por teleconferência”.
Nos termos do art. 500.º, as testemunhas depõem na audiência final, presencialmente ou por meio
tecnológico (art. 502.º), segundo a ordem fixada no art. 512.º, exceto:
Terminado o interrogatório preliminar pode ter lugar o incidente da impugnação (art. 514.º e 515.º).
O interrogatório é feito pelo advogado da parte que a ofereceu, podendo, a seguir, o advogado da parte
contrária formular perguntas (instâncias) às testemunhas, de maneira a que o depoimento se complete
ou esclareça (art. 516.º, nºs 2 e 4).
Resulta da lei que o juiz tem um papel residual e de controlo no decurso da prova testemunhal:
Por um lado, a lei estabelece que o interrogatório e as instâncias são feitos pelos advogados
das partes, sem prejuízo dos esclarecimentos pedidos pelo juiz no seu decurso (art. 516.º, nº4);
Por outro lado, a lei comete ao juiz uma função fiscalizadora quanto ao modo de como os
mandatários tratam as testemunhas ou formulam as questões (art. 516.º, nº3); e
Uma função supletiva (art. 516.º, nº6).
No anterior CPC, a testemunha depunha sobre factos selecionados no questionário ou base instrutória,
cuja prova era necessária. O novo CPC suprimiu essa peça, substituindo-a pelos temas da prova.
Quando havia a base instrutória, no início da inquirição o advogado indicava ao tribunal quais os factos
(quesitos) aos quais a testemunha iria depor e a inquirição seguia essa ordem, não se podendo desviar
dela. Isto implicava o mandatário apontar à frente do nome da testemunha os artigos ou base
instrutória.
Desapareceu essa necessidade, em termos formais, todavia, é sempre necessário tomar nota do
conjunto de factos conhecidos pela testemunha.
Incidentes
São previstos mais dois incidentes no âmbito da prova testemunhal: a contradita e a acareação.
Na contradita, a parte contra a qual o depoimento foi produzido alega circunstâncias suscetíveis de
abalarem a credibilidade de tal depoimento (art. 521.º e 641.º).
A acareação, que pode ser suscitada oficiosamente ou a requerimento das partes, destina-se a
confrontar quem tiver deposto contrariamente acerca de determinado facto (art, 523.º e 524.º).
Quanto à força probatória deste meio de prova, vigora o regime da livre apreciação pelo tribunal (art.
396.º CC).
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Recursos
Recurso e Reclamação
A “sentença é o ato pelo qual o juiz decide a causa principal ou algum incidente que apresente a estrutura de uma
causa”, ou seja, destina-se a pôr termo ao processo (art. 152.º, nº2).
O despacho saneador que põe termo ao processo é, para todos os efeitos uma sentença, designando-se
saneador-sentença.
A decisão colegial que põe termo ao processo tomada por um órgão judicial colegial designa-se
Acórdão. Como atualmente audiência final é feita por juiz singular, não existe na primeira instância a
figura do Acórdão.
Por exclusão, o despacho é uma decisão judicial que não é uma sentença.
Proferida a sentença, fica imediatamente esgotado o poder jurisdicional do juiz quanto à matéria da
causa, sendo, porém, lícito ao juiz retificar erros materiais, suprir nulidades e reformar a sentença nos
termos definidos nos arts. 613.º e ss.; o mesmo se aplica, com as necessárias adaptações, aos despachos.
As reações às decisões judiciais assumem fundamentalmente duas formas: recurso e reclamação (art.
628.º).
As reclamações “são formas de impugnação deduzidas contra decisões judiciais ou contra atos ou
omissões de atos processuais, as quais são apresentadas no mesmo tribunal onde corre o processo”.
Porém, do despacho que não admite o recurso reclama-se não para o próprio tribunal mas para
o que seria competente para conhecer do recurso (art. 643.º, nº1).
Tradicionalmente, dizia-se que “das nulidades reclama-se, das sentenças recorre-se”; porém, não é
exatamente assim. Urge diferenciar as nulidades de procedimento das nulidades de julgamento, pois,
nos termos do art. 615.º, nº4, se as nulidades se reportam à sentença e resultam de qualquer dos vícios
mencionados nas als. b) e e) do nº1 do mesmo art., a sua invocação deve ser feita por meio de recurso,
se a causa admitir recurso. Neste caso, só se reclama se não for possível o recurso.
Sem prejuízo dos casos em que as nulidades são de conhecimento oficioso, como a falta de citação, estas
devem ser arguidas pelos interessados perante o juiz (arts. 196.º e 197.º), sendo a decisão que vier a
recair sujeita a recurso, com a limitação decorrente do art. 630.º, nº2, pelo qual “não é admissível
recurso das decisões proferidas sobre as nulidades previstas no nº1 do art. 195.º, salvo se contenderem
com os princípios da igualdade ou do contraditório, com a aquisição processual de facto ou com a
admissibilidade de meios probatórios.
Há outros casos de reclamação definidos. P. ex., reclama-se das nulidades da sentença não sendo
admissível recurso (art. 615.º), reclama-se da enunciação dos temas da prova (art. 591.º, nº1, al f)).
O recurso representa um pedido de revisão da legalidade ou ilegalidade da decisão judicial, que vai ser
apreciado por outro órgão jurisdicional, hierarquicamente superior.
Espécies de Recurso
Ordinários:
Extraordinários:
a) Recorribilidade
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Inês Catarina Pedreiro Gomes
A recorribilidade é a regra, ainda que existam muitos casos de decisões não recorríveis.
A irrecorribilidade pode resultar do valor da causa e da sucumbência ou por exclusão ditada pela lei.
Quanto ao valor, importa tomar em consideração que “o recurso ordinário só é admissível quando a causa
tenha valor superior à alçada do tribunal e a decisão impugnada seja desfavorável ao recorrente em valor
superior a metade da alçada desse tribunal” (art. 629.º, nº1).
A alçada é o valor dentro do qual um tribunal julga sem ser admissível recurso. Atualmente,
a alçada do tribunal de 1ª instância é de 5 mil euros e a alçada da Relação é de 30 mil euros.
P. ex.: se o processo tiver valor de 7 mil euros, a decisão judicial é, e princípio, recorrível, uma vez que
é superior à alçada do tribunal de 1ª instância.
Mas não basta a causa ter um valor superior à alçada; é também necessário que a decisão
impugnada seja desfavorável ao recorrente em valor superior a metade da alçada do tribunal.
Assim, no exemplo referido, se na ação de 7 mil euros o tribunal condenou o réu a pagar 5 mil, a
sentença não é recorrível para o autor pelo facto de o valor da sucumbência (perda) para o autor ser de
2 mil (pediu 7 mil e apenas conseguiu 5 mil, pelo que perdeu 2 mil), o que não é superior a metade da
alçada do tribunal (€ 2500). Mas se o réu fosse condenado a pagar 4 mil, a sucumbência do autor seria
de 3 mil, valor superior a metade da alçada, pelo que o autor poderia recorrer.
P. ex: nas ações de despejo em que esteja em causa a habitação permanente ou nos casos previstos no
nº2 do art. 644.º, e nº2 do art. 677.º é sempre admissível recurso.
Sem prejuízo do respeito pelas normas processuais relativas ao valor da causa (art. 296.º e ss.), temos
de ter sempre em atenção que um baixo valor atribuído à ação, condiciona a sua recorribilidade.
b) Tempestividade
❖ O prazo para a interposição de recurso é de 30 dias, salvo nos casos urgentes e demais casos
expressamente previstos na lei, contando-se o prazo a partir da notificação (art. 638.º, nº1).
❖ Porém, tem de se ter em atenção que o prazo se reduz para 15 dias nos processos urgentes e
nos casos previstos no art. 644.º, nº2.
Exemplo
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Inês Catarina Pedreiro Gomes
Trânsito em julgado
A sentença transita em julgado quando não é suscetível de recurso ordinário ou de reclamação (art.
628.º).
Por isso, temos de verificar se a causa admite recurso, designadamente se o seu valor está acima da
alçada do tribunal (já sabemos que existem causas que admitem sempre recurso).
Se admitir recurso, transita decorridos 30 dias. Se não admitir recurso, a sentença transita
depois de decorrido o prazo para a arguição de nulidades, ou seja, o prazo de reclamação, que
é de 10 dias (art. 149.º, nº1).
Não são suscetíveis de recurso e decorreu o prazo de 10 dias para a reclamação, sem que
houvesse reclamação.
São suscetíveis de recurso e decorreu o prazo de 30 dias sem que tivesse sido interposto
recurso;
Foram apresentadas reclamações ou recursos, os quais foram decididos, não sendo já possível
apresentar outra reclamação ou outro recurso.
c) Legitimidade do recorrente
Os recursos só podem ser interpostos por quem, sendo parte principal na causa, tenha ficado vencido
(art. 631.º, nº1), ou seja, tenha ficado prejudicado.
Caso alguém, ainda que não sendo parte na causa, tenha ficado direta e efetivamente prejudicado com
a decisão, poderá interpor recurso (art. 631.º, nº2).
O recurso é interposto por meio de um requerimento dirigido ao tribunal “a quo” (que proferiu a
decisão), no qual o recorrente indica:
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O requerimento deve ainda incluir as alegações, que muitas vezes surgem como anexo.
O art. 639.º, nº1, refere que “o recorrente deve apresentar a sua alegação, na qual conclui, de forma
sintética, pela indicação dos fundamentos por que pede a alteração ou anulação da decisão”.
Quando seja impugnada a decisão sobre a matéria de facto, o recorrente deve obrigatoriamente
especificar, sob pena de rejeição:
Se não for possível a reapreciação da matéria de facto, o recurso fica cingido à questão da aplicação do
direito aos factos provados.
Neste caso, em que o recurso incide sobre a matéria de direito, as conclusões devem indicar:
Ao elaborar as alegações de recurso, temos de previamente voltar a estudar muito bem o processo.
Recorre-se não para adiar a execução de uma decisão desfavorável mas porque consideramos que
existem possibilidades de alterar a decisão a favor do nosso constituinte.
Nos fundamentos de recurso, procura-se demonstrar que a matéria de facto deve reapreciada e que
foram violadas normas jurídicas. Há todo o interesse em pesquisar jurisdição relevante de casos
análogos.
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Inês Catarina Pedreiro Gomes
Finalmente, as conclusões. Temos de ter cuidado com a sua elaboração, pois o conhecimento do recurso
está limitado pelas conclusões apresentadas.
Recurso de Apelação
Com o atual CPC, a Relação fica obrigada a alterar a decisão sobre a matéria de facto, se os factos tidos
como assentes, a prova produzida ou um documento superveniente impuserem decisão diversa (art,
662.º, nº1).
O nº2 do mesmo artigo impõe à Relação o dever de, mesmo oficiosamente, ordenar a renovação da
prova “quando houver dúvidas sérias sobre a credibilidade do depoente ou sobre o sentido do seu depoimento”
(al a)); ou então “para ordenar a produção de novos meios de prova” (al b)), em caso de dúvida fundada
sobre a prova realizada.
Quando seja ordenada a renovação da prova ou a produção de nova prova, a Relação procede
diretamente à audição da prova, observando, com as necessárias adaptações, o preceituado quanto à
instrução, discussão e julgamento na 1ª instância” (art. 662.º, nº3, al a)).
O Ac. proferido pelo TR, que apreciou o recurso de apelação, pode ser objeto de recurso de revista para
o STJ (art. 671.º, nº1).
Para que tal suceda, é necessário que o valor da causa exceda a alçada da Relação (€ 30 000,00).
Como regra, o STJ não altera a matéria de facto, julgando apenas de Direito.
Apenas no caso de violação expressa de lei que exija certa espécie de prova para a existência do facto
ou fixe a força de determinado meio de prova é que o STJ pode alterar a matéria de facto. Se, por
exemplo, a lei exigir para a prova de determinado facto um documento autêntico, como sucede com a
prova do estado civil das pessoas, e em vez desse documento foi apresentado um documento particular,
o STJ pode alterar a matéria de facto em causa.
“Sem prejuízo dos casos em que o recurso é sempre admissível, não é admitida revista do Ac. da Relação que
confirme, sem voto de vencido e sem fundamentação essencialmente diferente, a decisão proferida na 1ª instância,
salvo nos casos previstos no artigo seguinte” (art. 672.º, nº3).
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Deste modo, se o Ac. da Relação confirmar a sentença de primeira instância, com a concordância dos
três desembargadores, e sem que haja fundamento essencialmente diferente, não será possível recorrer
para o STJ.
De notar que os processos que se tenham iniciado antes de 1 de janeiro de 2008 não são afetados pela
dupla conforme.
Recurso de Revisão
Uma vez transitada em julgado, a sentença apenas pode ser objeto de revisão nos casos previstos no
art. 696.º.
O fundamento mais usado é o de a ação ter corrido à revelia, por falta absoluta de intervenção do réu,
e se mostrar que não foi feita a citação ou que a citação é nula.
❖ O recurso não poderá ser interposto se já tiverem passado mais de cinco anos desde o trânsito
em julgado da decisão, a não ser que a causa diga respeito a direitos de personalidade. O prazo
de interposição é de 60 dias contados nos termos do art. 679.º, nº2.
O recurso para uniformização de jurisprudência surge quando o STJ tenha proferido Ac. que esteja em
contradição com outro anteriormente proferido pelo mesmo tribunal, no domínio da mesma legislação
e sobre a mesma questão fundamental de direito (art. 688.º, nº1).
O Ac. de uniformização de jurisprudência proferido não é vinculativo para os tribunais; porém, se não
for observado, é possível interpor recurso, independentemente do valor e do requisito da sucumbência.
Das decisões dos tribunais pode ainda haver um último recurso para o Tribunal Constitucional.
De acordo com a al. b) e f) do nº1 do art. 70.º da LCT, cabe recurso para o TC das decisões dos tribunais
que apliquem norma cuja inconstitucionalidade ou ilegalidade haja sido suscitada durante o processo
(recurso que, na gíria é designado por recurso do 2º tipo – recurso de decisão negativa de
inconstitucionalidade ou ilegalidade), ou seja, os recursos de decisão do 2º tipo postulam a exaustão
dos recursos ordinários.
em que ao juiz já não é possível tomar posição sobre a mesma. Quando a questão só pode ter-se por
levantada “durante o processo” inclui, ainda, se o tiver sido no próprio requerimento do recurso (art. 72.º,
nº2 da LTC).
Exceções:
De referir que se entende que se acham esgotados todos os recursos ordinários quando haja decorrido
o respetivo prazo sem a sua interposição (art. 70.º, nº4 da LCT).
Procedimentos Cautelares
Noção e Natureza
O art. 2.º, nº2, garantindo o direito de acesso aos tribunais, atribui ao titular de um direito a
possibilidade de propor a ação adequada a fazê-lo reconhecer em juízo e a prevenir ou reparar a sua
violação.
Por vezes, o direito do cliente não se compadece com uma espera prolongada do processo, havendo o
justo receio de que haja uma “lesão grave e dificilmente reparável” (art. 362.º, nº1), de tal forma que a
sentença não terá efeito útil.
Em tais circunstâncias, poderá ser indispensável instaurar um procedimento cautelar, requerendo uma
providência adequada à situação.
Tem de se distinguir entre “procedimento cautelar” (meio processual) e providência cautelar (medida
pedida ao tribunal para proteger o direito ameaçado).
a) A sua tramitação urgente: num prazo mínimo de 15 dias e máximo de 2 meses. E esta summaria
cognitio, que corresponde à premência da tutela, implica uma apreciação sumária e célere dos
factos que constituem o perigo que paira sobre a integridade do alegado direito.
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Inês Catarina Pedreiro Gomes
Inversão do Contencioso
O atual CPC veio alterar o princípio de que o procedimento cautelar é sempre dependente de uma
causa, dispensando, em certas circunstâncias, o requerente do procedimento de instaurar a ação
principal. É o que se chama inversão do contencioso, a que se refere o art. 369.º, nº1.
Existe um procedimento cautelar comum, descrito nos arts. 362.º a 376.º, e procedimentos cautelares
especificados, descritos nos artigos subsequentes e que são:
Em consonância com o art. 1279.º CC, no caso de esbulho violento, pode o possuidor pedir que seja
restituída provisoriamente a posse, alegando os factos que constituem a (i) posse, (ii) o esbulho e a (iii)
violência.
Deverá alegar os factos que sejam suscetíveis de caracterizar o exercício do direito em que a posse se
traduz (art. 1251.º)
A violência é o que resulta dos arts. 1261.º e 255.º CC. Portanto, a que se repercuta nas pessoas em
termos de intimidá-las ou coagi-las.
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Inês Catarina Pedreiro Gomes
O possuidor que seja esbulhado ou perturbado no exercício do seu direito, mas não tendo o esbulho
sido de forma violenta, pode requerer um procedimento cautelar comum. Não pode usar da restituição
provisória da posse, visto que esta pressupõe o esbulho praticado com violência.
É permitido requerer a suspensão da execução de quaisquer deliberações sociais que sejam contrárias
à lei, aos estatutos ou ao contrato.
Tem legitimidade para requerer a providência cautelar quem tiver a qualidade de sócio. Deve entender-
se como sócio aquele que já o era no momento da deliberação impugnada.
Além da legitimidade, impõe que a deliberação seja contrária à lei ou ao pacto social e ainda que resulte
da sua execução dano apreciável.
O requerimento deve ser instruído com a cópia da ata em que as deliberações foram tomadas ou por
documento comprovativo da deliberação.
A prestação de alimentos destina-se a satisfazer as necessidades primárias das pessoas. Não diz respeito
às necessidades de ordem alimentar, mas engloba igualmente as necessidades relativas à habitação, ao
vestuário e, tratando-se de menores, à educação (art. 2003.º CC).
Enquanto não for fixada a prestação de alimentos definitivos, pode o tribunal conceder ao necessitado
alimentos provisórios (art. 2007.º CC).
Como dependência da ação de indemnização fundada em morte ou lesão corporal, podem os lesados,
bem como os titulares do direito a que se refere o art. 495.º, nº3 CC, requerer o arbitramento de quantia
certa, sob a forma de renda mensal, como reparação provisória do dano.
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Inês Catarina Pedreiro Gomes
Sendo certo que o arbitramento de reparação provisória constitui uma antecipação do direito de
indemnização por responsabilidade civil, é evidente que o requerente terá de alegar e provar pelo
menos a probabilidade séria da existência do seu direito a tal indemnização.
Terá depois de invocar a situação de necessidade em que se encontra por causa dos danos sofridos.
Além de que não poderá ser esquecida a alegação e prova indiciária do periculum in mora.
O valor do procedimento cautelar é determinado pelo valor da mensalidade pedida multiplicado por
doze, tal como o dos alimentos provisórios (art. 313.º, nº3, al. a)).
O credor que tenha justo receio de perder a garantia patrimonial do seu crédito, pode requerer o arresto
de bens do devedor, nos termos da lei do processo (art. 619.º, nº1 CC).
Procura-se, por esta via, conservar a garantia patrimonial do credor. Trata-se, portanto, de uma
providência de caráter preventivo.
O arresto consiste numa apreensão judicial dos bens, à qual são aplicáveis as disposições relativas à
penhora (art. 406.º, nº2).
O requerente do arresto deve deduzir os factos que tornam provável a existência do crédito (fumus boni
iuris) e justificam o receio invocado, sendo que o receio tem de ser justificado (periculum in mora).
Cabe ainda ao requerente relacionar os bens a apreender, por forma a que sejam devidamente
identificados, não bastando uma simples referência genérica.
O valor do procedimento cautelar é determinado pelo montante do crédito que se pretende garantir.
Por meio desta providência, pode o interessado requerer a suspensão de uma obra, trabalho ou serviço
novo que julgue ofensivo do seu direito de propriedade (ou de compropriedade) ou de outro direito
real ou pessoal de gozo ou da posse, que lhe cause ou ameace causa prejuízo (art. 412.º, nº1).
O interessado pode requerer o embargo ao tribunal, mas também pode, ele próprio, realizar
diretamente o embargo, notificando para isso, verbalmente, duas testemunhas, o dono da obra ou, na
sua falta, o encarregado ou quem o substituir para a não continuar. Se optar por este embargo
extrajudicial, terá de requerer posteriormente, dentro de 5 dias, a sua ratificação judicial.
Trata-se de uma providência cautelar com funções preventivas ou conservatórias, por meio da qual se
procura impedir a continuação da obra.
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Inês Catarina Pedreiro Gomes
A ofensa do direito do requerente tem de ser consequência da obra. Quer dizer que não poderão
fundamentar o embargo as obras que não sejam suscetíveis de ofender qualquer dos direitos em causa.
Por outro lado, também o não podem fundamentar as obras que não sejam novas.
Também não pode utilizar-se o embargo de obra nova no caso de esta ainda não ter sido iniciada.
O valor do procedimento cautelar é determinado pelo prejuízo que se quer evitar (art. 313.º, nº3, al.
d)).
No arrolamento, o requerente defende o seu direito a determinados bens, ao passo que no arresto o
requerente apenas pretende garantir o seu crédito à custa desses bens.
O requerente terá, portanto, de invocar o seu direito aos bens que pretende preservar ou então a
necessidade de utilização de certo documento.
P. ex.: como preliminar ou incidente da ação de separação judicial de pessoas e bens ou de divórcio.
Há ainda procedimentos cautelares previstos em legislação avulsa: art. 209.º do Cod dos Direitos de
Autor; art. 31.º do Regime Jurídico das Cláusulas Contratuais Gerais; arts. 15.º a 23.º do Código do
Registo da Propriedade Automóvel; e art. 338.º do Código da Propriedade Industrial.
Perante uma determinada situação concreta, que nos é colocada pelo nosso cliente e que exige uma
providência cautelar para garantir o seu direito, vamos primeiro verificar se existe algum
procedimento especificado, ou seja, previsto na lei. Se não existir, recorremos ao procedimento cautelar
comum.
Exemplos
1) O nosso cliente é uma empresa que vendeu mercadorias a outra, no valor de 50 000, que não
foram pagos. Diz-nos o nosso cliente que a devedora está prestes a fechar as portas e que está
a delapidar o seu património.
Pode utilizar-se procedimento cautelar de arresto, previsto nos arts. 391.º e ss.
Consiste o arresto numa apreensão judicial de bens, equivalente à penhora, para garantia do
crédito.
O atual CPC faculta ao credor a possibilidade de obter o decretamento do arresto, sem
necessidade de demonstração do justo receio de perda da garantia patrimonial, relativamente
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ao bem que foi transmitido mediante negócio jurídico, quando estiver e dívida, no todo ou em
parte, o preço da respetiva aquisição.
2) O nosso cliente pretende propor uma ação de divórcio sem o consentimento do cônjuge. Diz-
nos que receia que o marido, ao saber da ação, vá levantar todo o dinheiro que se encontra na
conta bancária conjunta, fazendo-o desaparecer.
Em tais circunstâncias, o procedimento cautelar adequado será requerer o arrolamento dos
bens do casal (art. 403.º e ss), com a particularidade de, neste caso, não ser necessário provar
o justo receio de dissipação (art. 409.º, nº1).
Porquê o arrolamento e não o arresto? Pelo facto de o arresto recair sobre bens do devedor,
requerido, enquanto no arrolamento o requerente invoca um direito que tem sobre os bens
(que poderá não ser a propriedade).
3) O nosso cliente é arrendatário de uma fração autónoma. Com a invocação de que a renda não
foi paga, o senhorio mudou as fechaduras da porta de entrada, aproveitando-se da ausência
temporária do inquilino.
Sem prejuízo do procedimento criminal (introdução em casa de habitação), podemos recorrer
ao procedimento de restituição provisória da posse, previsto nos arts. 377.º e ss.
Não havendo um procedimento especificado, utilizamos o procedimento cautelar comum,
previsto no art. 362.º e ss.
4) O nosso cliente celebrou um contrato-promessa de compra e venda de um imóvel, tendo pago
a totalidade do preço.
Tomou conhecimento de que a promitente vendedora pretende alienar o imóvel a terceiro,
incumprindo, assim, o contrato promessa.
Pode requerer-se ao tribunal que decrete a proibição da alienação do imóvel a terceiros, ou
seja, lançar mão do procedimento cautelar comum.
Modalidades
O art. 362.º, nº1 estabelece uma distinção entre providências conservatórias e antecipatórias.
É o caso, p. ex., do arresto, em que se pretende a apreensão de determinados bens ou direitos como
forma de garantir o direito de crédito do requerente da providência.
As antecipatórias são aquelas que, face à situação de urgência que lhes está associada,
antecipam os efeitos jurídicos próprios da decisão que vier a ser proferida na ação principal,
assim como a realização do direito.
Pretende-se, assim, prevenir a ocorrência de um dano, obtendo antecipadamente a
disponibilidade de um bem ou o gozo de um benefício, antes de ser decretada a sentença
definitiva.
Revestem natureza antecipatória a restituição provisória da posse (art. 377.º), os alimentos provisórios
(art. 384.º, nº1) e o arbitramento de reparação provisória (art. 388.º, nº1).
Tramitação Processual
(1) O procedimento inicia-se com a petição, em que o requerente oferece prova sumária do direito
ameaçado e justifica o receio da lesão (art. 365.º, nº1).
Os meios de prova são apresentados nos articulados, com a particularidade de não poderem ser
alterados.
(2) O requerido é ouvido (princípio do contraditório), a não ser que a audiência ponha em risco
sério o fim ou eficácia da própria providência (art. 366.º, nº1), como tantas vezes sucede.
(4) A providência é decretada “desde que haja probabilidade séria da existência do direito e se mostre
suficientemente fundado o receio da sua lesão” (art. 368.º, nº1).
Quanto à tramitação processual tem de se ter em atenção que não se aplicam as normas do
procedimento cautelar comum se o procedimento for especificado (só se aplicam subsidiariamente, nos
termos do art. 376.º).
Caducidade da Providência
Se a ação não for proposta no referido prazo, ocorre caducidade, extinguindo-se o procedimento.
Uma vez proposta a ação principal, o procedimento cautelar é apensado, ou seja, é junto àquela,
estando, no entanto, autonomizado.
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Caso já exista ação principal, o procedimento é instaurado como apenso da referida ação.
Verifica-se igualmente a caducidade da providência se, proposta a ação, o processo estiver parado por
negligência do autor (p. ex., o autor é notificado para juntar determinado documento e não o faz nem
dá qualquer justificação.
Recurso
Quando o requerido não tiver sido ouvido antes do decretamento da providência, é-lhe lícito, em
alternativa, recorrer do despacho que a decretou ou deduzir oposição (art. 372.º, nº1).
Das decisões proferidas nos procedimentos cautelares, incluindo a que determina a inversão do
contencioso, não cabe recurso para o STJ, sem prejuízo dos casos em que o recurso é sempre admissível.
Prazos
Tipos de prazos
1. Prazo Substantivo
O prazo substantivo pode ser definido, a título negativo ou subsidiário, como sendo aquele que regula
a repercussão do tempo em todas as relações jurídicas que não revistam natureza processual. Na
verdade, o prazo substantivo não se destina a disciplinar a prática de atos ou a produção de efeitos num
processo, razão pela qual este prazo se encontra regulado, em regra, na lei substantiva.
Nota: existem prazos que, não obstante revestirem natureza substantiva, estão previstos na lei
processual.
À luz do art. 296.º CC, a contagem do prazo substantivo rege-se, subsidiariamente, pelo disposto no
art. 279.º CC, aplicando-se, consequentemente, as seguintes regras:
a) Se o termo se referir ao princípio, ao meio ou ao fim do mês, entende-se, como tal, o 1º dia, o
dia 15 e o último dia do mês; se for fixado no princípio, meio ou fim do ano, entende-se,
respetivamente, o primeiro dia do ano, o dia 30 de junho e o dia 31 de dezembro (art. 279.º, al.
a) CC);
b) Na contagem de qualquer prazo não se inclui o dia, nem a hora, se o prazo for de horas, em
que ocorrer o evento a partir do qual o prazo começa a correr (dies a quo non computatur in
termino) (art. 279.º, al. b), do CC),
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c) O prazo que termine em domingo ou em dia feriado transfere-se para o primeiro dia útil; se o
ato tiver de ser praticado em juízo, aos domingos e feriados equiparam-se as férias judicias
(art. 279.º, al. e) CC).
Para além destas regras supletivas, importa salientar que, muito embora o art. 279.º do CC não o refira
expressamente, o prazo substantivo conta-se, salvo convenção ou disposição legal em contrário, de
forma contínua17, ou seja, contam-se todos os dias do prazo, independentemente de os mesmos serem
ou não úteis. Na verdade, esta regra infere-se do regime previsto no art. 279.º, al. e) CC, já que,
prevendo este preceito a possibilidade de um prazo terminar em domingo ou em dia de feriado, tal só
é possível desde que o prazo seja contado de forma contínua.
Por outro lado, impõe-se esclarecer que os prazos para a propositura de ações judiciais revestem a
natureza de prazos substantivos, razão pela qual a sua contagem é efetuada, em regra, de acordo com
as normas de contagem de prazos previstas na lei substantiva.
No entanto, pode suceder que a contagem de um prazo substantivo seja feita de acordo com as regras
de contagem previstas para os prazos adjetivos ou processuais. É o que ocorre com os prazos para a
propositura de ações que se encontrem previstos na lei de processo civil, os quais, apesar da sua
natureza substantiva, são contados de acordo com as regras previstas no art. 138.º, nºs 1 a 3 CPC,
atento o disposto no nº4.
O prazo adjetivo ou processual é aquele que se destina a regular a prática de um ato dentro de um
processo ou a produção de um determinado efeito jurídico-processual.
No âmbito do processo, o tempo pode ser medido em diferentes unidades, nomeadamente em horas (p.
ex. o prazo de 24h para o juiz decidir o pedido de prorrogação de prazo para apresentação da
contestação, art. 569.º, nº1), dias (p. ex. o prazo de 30 dias para o oferecimento da contestação, art.
569.º, nº1), meses (p. ex. o prazo de seis meses para a deserção da instância, art. 281.º, nº1) ou anos (p.
ex. o prazo de 5 anos para a admissibilidade do recurso de revisão, nos termos do art. 697.º, nº2).
Quanto ao modo da sua contagem, o prazo processual conta-se de acordo com as regras previstas na
lei de processo onde o mesmo se encontra regulado, aplicando-se subsidiariamente as regras previstas
no CPC.
17
Com efeito, a lei pode estabelecer expressamente que a contagem do prazo não é efetuada de forma contínua,
i. e., que o prazo, na sua contagem, suspende-se aos sábados, domingos e feriados. É o que sucede, p. ex., com o
regime de contagem de prazos previsto no art. 87.º CPA.
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Contudo, na falta de disposição especial, são igualmente aplicáveis aos prazos e termos fixados na lei
processual, as regras de contagem constantes do art. 279.º do CC ex vi do art. 296.º CC.
Prazo processual: é marcado por dois momentos. Um momento temporal a partir do qual o prazo
começa a correr (termo ou dies a quo) e por outro momento temporal em que o prazo termina (termo
ou dies ad quem), sendo que estes momentos estão separados entre si por um lapso de tempo.
Termo processual: corresponde à fixação de tempo mediante a referência a uma certa data do
calendário, ou seja, diz respeito a um momento temporal, concreto e determinado, no qual deve ser
praticado um determinado ato ou em que se considera produzido um determinado efeito jurídico. É o
que sucede, p. ex., com o dia que marca o início da contagem do prazo.
a) Prazo perentório
Regra geral, os prazos estabelecidos por lei ou fixados pelo juiz para a prática de atos processuais são
perentórios.
O prazo perentório – também designado por “prazo resolutivo”, “prazo extintivo”, “preclusivo”, “fatal”,
entre outros – é aquele cujo decurso, ressalvadas as exceções previstas na lei, em que se permite a
prática do ato após o termo do prazo (arts. 139.º, nº5 e 140.º), implica a extinção, por caducidade, do
direito de praticar o ato.
Por isso, o prazo perentório reveste uma natureza extintiva ou resolutiva, sancionando a parte que
deixe de observar o prazo. P. ex. prazo para a apresentação de contestação (art. 569.º, nº1) ou para
interposição de recurso (art. 638.º).
Se o ato processual for praticado depois de já ter terminado o prazo para o efeito, tal acarreta uma
nulidade processual, nos termos do art. 195.º, nº1, a qual é de conhecimento oficioso, devendo o juiz
ordenar que esse ato seja desentranhado do processo.
De resto, ressalvadas as exceções consagradas na lei, o juiz não pode derrogar a aplicação do regime
do art. 139.º, nº3, nem suspender a contagem do prazo.
b) Prazo dilatório
O prazo dilatório – também chamado prazo inicial, prazo suspensivo ou prazo desacelerador – é aquele
que adia para um certo momento a possibilidade de prática de um ato ou o início da contagem de um
outro prazo (art. 139.º, nºs 1 e 2). O prazo dilatório fixa o lapso de tempo a partir do qual o ato deve
ser praticado ou o prazo começa a correr.
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Exemplos
Havendo lugar, num caso em concreto, à aplicação de um prazo dilatório, a dilação corresponderá ao
período de tempo que medeia entre a data em que o réu ou o terceiro se consideram citados e a data
em que começa a correr o prazo para a apresentação do ato processual subsequente à realização da
citação.
Por outro lado, sendo o prazo dilatório estabelecido em favor das partes, nada impede que estas
renunciem ou prescindam desse prazo.
Prazo supletivo
❖ O prazo supletivo para as partes requerem qualquer ato ou diligência, arguirem nulidades,
deduzirem incidentes, exercerem qualquer outro poder processual ou responderem ao que foi
deduzido pela parte contrária é de 10 dias, atento o disposto no art. 149.º, nº1.
Nos termos do art. 149.º, nº2, o prazo para qualquer resposta conta-se sempre da notificação do ato a
que se responde.
Deste modo, sempre que a lei seja omissa ou o juiz não tenha fixado qualquer prazo, o prazo perentório
que a parte dispõe para praticar esse ato é de 10 dias.
Exemplos:
Prazo para as partes arguirem a nulidade da sentença que não admita recurso ordinário (art.
615.º, nº4);
Prazo para as partes reclamarem para o presidente do STJ (art. 652.º, nº5, al. a)) ou reclamarem
para a conferência da decisão liminar tomada pelo relator no recurso para uniformização de
jurisprudência (art. 692.º, nº2);
Prazos perentórios
❖ Por sua vez, nos termos do art. 373.º, nº1, al. a), exceto se tiver sido decretada a inversão do
contencioso, o requerente da tutela cautelar deve propor a ação principal, da qual a providência
cautelar depende, no prazo de 30 dias, contados da data em que lhe tiver sido notificado o
trânsito em julgado da decisão que a haja ordenado. Nestes caso, a inobservância deste prazo
de 30 dias tem como consequência a caducidade da providência cautelar anteriormente
decretada – e, consequentemente, a responsabilidade do requerente (art. 374.º, nº1).
Contestação
Processo Comum
Processos especiais
No âmbito dos processos especiais, a lei de processo civil prevê diversos prazos específicos para a
dedução de oposição ou de contestação.
Réplica
❖ Nos termos do art. 585.º, a réplica deve ser apresentada no prazo de 30 dias a contar da
notificação da contestação, se tiver havido reconvenção ou se estiver em causa uma ação de
simples apreciação negativa.
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Se tiver sido deduzida uma exceção, dilatória ou perentória, no último articulado legalmente admissível
– o qual será, por regra, a contestação ou, excecionalmente, a réplica – a parte contrária pode responder
às exceções deduzidas nesse último articulado na audiência prévia (art. 591.º) ou, se a ela não houver
lugar no início da audiência final (art. 604.º), atendo o disposto no art. 3.º, nº4.
❖ Em todo o caso, o juiz ao abrigo dos seus deveres de gestão processual (art. 6.º) e de adequação
formal (art. 547.º), pode proferir um despacho convidando a parte a responder às exceções
deduzidas pela parte contrária no último articulado legalmente admissível. Nessa
eventualidade, se o juiz não tiver fixado prazo diverso, o prazo para a parte responder às
exceções deduzidas é de 10 dias, por aplicação do art. 149.º.
De acordo com os arts. 552.º, nº2 e 572.º, al. d), os requerimentos probatórios devem ser oferecidos,
respetivamente, na petição inicial e na contestação (igualmente art. 423.º, nº1).
Por outro lado, se a parte tiver apresentado o requerimento probatório no articulado correspondente,
a lei de processo civil prevê diversas possibilidades de esse requerimento ser alterado. Em concreto, o
requerimento probatório pode ser alterado nos seguintes casos:
a) se o réu tiver contestado a ação, o autor pode, no prazo de 10 dias a contar da notificação da
contestação, alterar o requerimento probatório inicialmente oferecido, quando a causa não
admita a apresentação de réplica (art. 552.º, nº2, 2ª parte);
b) se o réu tiver deduzido reconvenção e o autor, em sede de réplica contestar essa reconvenção,
o réu pode, no prazo de 10 dias a contar da notificação da réplica, alterar o requerimento
probatório inicialmente apresentado (art. 572.º, al. d));
c) se houver lugar a audiência prévia, nos termos do art. 591.º ou 593.º, nº3, as partes podem
alterar os seus requerimentos probatórios (art. 598.º, nº1)
d) o rol de testemunhas pode ser aditado ou alterado até 20 dias antes da data em que se realize
a audiência final, sendo a parte contrária notificada para usar, querendo, de igual faculdade, no
prazo de 5 dias (art. 598.º, nº2).
Por último, quanto à prova documental, o art. 423.º, nº2 estabelece que, se não tiverem sido juntos
com o articulado respetivo, os documentos podem ser apresentados até 20 dias antes da data em que
se realize a audiência final, sendo a parte condenada em multa, exceto se provar que não pôde oferecer
com o seu articulado.
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De acordo com o nº3, é ainda possível apresentar documentos após esse limite temporal quando a sua
apresentação não tenha sido viável até àquele momento, bem como quando a apresentação de
documentos só se tenha tornado necessária em virtude de ocorrência posterior.
Recursos
Recursos Ordinários
Recurso de Apelação
❖ O recurso de apelação deve ser interposto no prazo de 30 dias, quando o mesmo tenha por
objeto uma decisão proferida em 1ª instância, que ponha termo à causa ou a procedimento, ou
um despacho saneador que, sem pôr termo ao processo, decida do mérito da causa ou absolva
da instância o réu ou réus quanto a algum ou alguns dos pedidos (art. 638.º, nº1 e 644.º, nº1).
❖ No entanto, de acordo com o art. 638.º, nº1, 2ª parte, o prazo para interposição do recurso de
apelação é reduzido para 15 dias nos seguintes casos:
Nos processos urgentes (v.g procedimentos cautelares, art. 363.º; ou com o processo especial
de tutela de personalidade, art. 880.º);
Da decisão que aprecie o impedimento do juiz;
Da decisão sobre a incompetência absoluta do tribunal;
Entre outros
❖ Se o recurso tiver por objeto, nos termos do art. 640.º, a impugnação da decisão relativa à
matéria de facto, ao prazo perentório para a interposição do recurso e para a apresentação da
resposta, de 30 ou 15 dias (art. 638.º, nº1) acresce um prazo suplementar de 10 dias (art. 638.º,
nº7), somando-se estes dois prazos e contando-se como um só.
o Estando em causa despachos ou sentenças orais, o prazo para interposição do recurso começa
a correr desde o dia em que foram proferidos.
❖ Por sua vez, o quanto ao prazo para a apresentação de resposta ao recurso (contra-alegações),
o art. 638.º, nº5 determina que o recorrido pode responder à alegação do recorrente no mesmo
prazo que este dispôs para interpor o recurso.
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Recurso de Revista
❖ O recurso de revista deve ser interposto no prazo de 30 dias a contar da notificação do Ac. da
Relação (art. 638.º, nº1 e 671.º, nº1).
❖ No entanto, o prazo para interposição de recurso de revista é reduzido para 15 dias nos
seguintes casos (art. 677.º):
Nos processos urgentes;
Entre outros;
Recursos Extraordinários
❖ O mesmo deve ser interposto no prazo de 30 dias a contar desde o trânsito em julgado do Ac.
recorrido (art., 689.º, nº1).
Recurso de revisão
❖ Importa salientar que o recurso de revisão nunca pode ser interposto depois de terem
decorrido mais de 5 anos após o trânsito em julgado da decisão, salvo se estiverem em causa
direitos de personalidade (art. 697, nºs 2 e 3).
Renúncia do mandato
O mandatário judicial que não tenha disponibilidade de agenda para comparecer numa determinada
diligência, em virtude de outro serviço judicial previamente marcado, deve comunicar esse facto ao
tribunal através de requerimento, a ser apresentado no prazo de 5 dias (art. 151.º, nº2).
Impugnação de documentos
Nos termos do art. 444.º, nº1, a parte deve, no prazo de 10 dias a contar da data da respetiva
apresentação ou da notificação da sua junção, impugnar a letra ou a assinatura do documento
particular.
Para além disso, nesse mesmo prazo de 10 dias, deve arguir a falta de autenticidade do documento que
seja presumido por lei como autêntico (art. 446.º, nºs 1 e 2).
Se o recurso não for admitido pelo tribunal a quo, o recorrente pode reclamar no prazo de 10 dias, para
o tribunal que seria competente para o conhecer, começando esse prazo a correr desde a notificação do
despacho de não admissão do recurso.
Nessa eventualidade, o recorrido pode responder a essa reclamação no prazo de 10 dias a contar da
respetiva notificação (art. 643.º, nºs 1 e 2).
Prazos Dilatórios
No atual CPC, o art. 245.º preceitua que podem existir os seguintes prazos dilatórios:
i. 5 dias
1) Quando a citação tenha sido efetuada em pessoa diversa do réu, nos termos do art. 228.º, nº2,
e 232.º, nºs 2 e 4
Com efeito, de acordo com o art. 228.º, nº1, a citação de pessoa singular por via postal é
efetuada através de carta registada com a/r, dirigida ao citando e endereçada para a sua
residência ou local de trabalho.
Contudo, nos termos do art. 228.º, nº2, a carta pode ser entregue após assinatura do a/r, ao
citando ou a qualquer pessoa que se encontre na sua residência ou local de trabalho e que
declare encontrar-se em condições de a entregar prontamente ao citando, caso em que o
distribuidor do serviço postal deve advertir expressamente o terceiro de proceder à pronta
entrega da carta ao citando (art. 228.º, nº4).
Sendo a carta de citação entregue ao terceiro, a lei de processo civil determina, no art. 230.º,
que a citação considera-se realizada no dia em que se mostre assinado o a/r e tem-se por
efetuada na própria pessoa do citando, mesmo quando o a/r tenha sido assinado por terceiro,
presumindo-se, salvo demonstração em contrário, que a carta foi oportunamente entregue ao
destinatário.
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Ora, é exatamente por esse motivo que a lei estabelece um prazo dilatório de 5 dias quando a
citação seja realizada em pessoa diversa do réu, já que o legislador presume que, em condições
normais e de razoabilidade, o terceiro que recebeu a carta de citação demorará até 5 dias a
entregar essa carta ao réu.
O mesmo sucede quando a citação for efetuada por agente de execução ou funcionário judicial
(art. 232.º, nº2, al. b)).
Importa salientar que esta dilação só se aplica quando esteja em causa a citação de pessoas singulares.
De facto, nos termos do art. 223.º, nº3, as pessoas coletivas e as sociedades consideram-se pessoalmente
citadas ou notificadas na pessoa de qualquer empregado que se encontre na sede ou no local onde
funciona normalmente a administração.
a) Quando o réu tenha sido citado fora da área da comarca sede do tribunal onde pende a ação;
Visa garantir a igualdade de condições de defesa. Na verdade, um réu que reside fora da área
de comarca pode carecer de mais tempo para organizar a sua defesa, razão pela qual a lei
concede uma dilação de 5 dias até que comece a correr o prazo perentório de 30 dias (art. 569.º,
nº1).
1) Se o réu tiver sido citado para a causa no estrangeiro, de acordo com o disposto no art. 239.º;
2) Se a citação tiver sido realizada através de via edital, nos termos do art. 225.º, nºs 1 e 6; 239.º,
nº4; e 240.º a 244.º; ou
3) Se a citação tiver sido efetuada através de depósito da própria carta em caso de domicílio
convencionado (art. 229.º, nº5).
Nos termos do art. 245.º, nº4, o prazo dilatório de 5 dias, aplicável às situações em que o réu tenha sido
citado em pessoa diversa (art. 245.º, nº1, al. a)), é cumulável, consoante os casos:
Com o prazo dilatório de 5 dias, quando o réu tenha sido citado fora da área da comarca sede
do tribunal onde pende a ação;
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Com o prazo dilatório de 15 dias, quando o réu tenha sido citado para a causa no território das
RA’s, correndo a ação no continente ou vice-versa; ou
Com o prazo dilatório de 30 dias, quando o réu tenha sido citado no estrangeiro.
Se se verificar, no caso em concreto, a aplicação de um prazo dilatório, a este prazo acresce ao prazo
perentório para apresentação da defesa ou para o exercício de qualquer outro direito processual
subsequente à realização da citação.
Com a citação do réu para deduzir contestação no prazo de 30 dias (arts. 219.º, nº1 e 569.º,
nº1);
Com a citação dos credores do executado para apresentarem a respetiva reclamação de créditos
no prazo de 15 dias (arts. 786.º, nº3 e 788.º, nº2); ou
Com a citação de terceiros que devam intervir na causa a título principal.
Regimes especiais
Procedimentos Cautelares
Estando em causa um procedimento cautelar, a dilação, quando a ela haja lugar, nunca pode exceder a
duração de 10 dias (art. 366.º, nº3).
De acordo com o art. 4.º do DL 2679/98, neste processo, não se aplicam os prazos dilatórios previstos
no art. 245.º CPC.
Regra geral
A regra geral vigente no o.j é a de que, sem prejuízo da possibilidade de realização de atos de forma
automática, não se praticam atos processuais nos dias em que os tribunais estiverem encerrados, nem
durante o período de férias judiciais (art. 137.º, nº1).
Exceções
Excecionalmente, mesmo nos dias em que os tribunais se encontrem encerrados ou durante o período
de férias judiciais, é possível a prática de alguns atos processuais.
1) Citações
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Desde logo, o tribunal pode realizar citações, quer urgentes quer ordinárias (arts. 219.º e ss; arts. 226.º,
nº4, al. f) e 561.º), mesmo durante o período de férias judiciais.
Neste particular, assumem particular relevância os casos em que um prazo de prescrição termine
durante o período de férias judiciais (art. 323.º, nº1 CC).
Assim, a ação deve ser intentada em férias judiciais e com antecedência necessária para que o réu seja
citado antes da verificação do termo do prazo prescricional (art. 323.º, nº2).
Deste modo, para que o prazo de prescrição se tenha por interrompido é necessário que se encontrem
preenchidos dois requisitos cumulativos:
1. A ação tem de ser intentada com uma antecedência mínima de 5 dias em relação à data em que
o prazo prescricional vai terminar;
No entanto, como neste prazo de antecedência não se conta o dia em que a ação é proposta (art. 279.º,
al. b) CC), a ação tem de ser intentada, na prática, até ao final do 6º dia anterior ao termo do prazo de
prescrição.
2. Não pode ser imputável ao requerente o facto de a citação não ter sido realizada dentro dos 5
dias subsequentes ao dia em que a mesma foi requerida;
2) Notificações
O tribunal pode, igualmente, realizar notificações durante o período de férias judiciais (v.g notificação
judicial avulsa).
3) Registos de penhora
4) Atos que se destinem a evitar dano irreparável
A forma de apresentação dos atos processuais a juízo tem implicações diretas quanto à data em que o
ato se considera praticado.
Estando a parte representada por mandatário, os atos processuais devem, em regra, ser praticados
através da transmissão eletrónica de dados, ou seja, através do Citius, cujo regime jurídico se encontra
regulado na Portaria 280/2013.
Neste caso, o ato considera-se praticado na data da respetiva expedição, a qual deve ser comprovada
mediante a emissão do respetivo comprovativo de entrega (art. 144.º, nº1).
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Excecionalmente, a parte pode praticar o ato processual através dos demais meios legalmente
admissíveis se o Citius estiver indisponível – o que, nos termos do art. 144.º, nº8, configura um justo
impedimento – ou se o formato ou a dimensão dos ficheiros não permitir a prática do ato através de
transmissão eletrónica de dados (art. 144.º, nº3).
Se a parte praticar o ato através da entrega em mão na secretaria judicial, o ato processual considera-
se praticado aquando da entrega, a qual é certificada mediante a aposição de um carimbo, com a
indicação da respetiva data, devendo ser praticado durante as horas de expediente dos serviços (até às
16h, art. 2.º, nº2 da Portaria 307/2018).
O ato considera-se praticado aquando da efetivação do respetivo registo postal (art. 144.º, nº7, al. b)).
O ato processual considera-se praticado na data da respetiva expedição, a qual deve ser comprovada
mediante a emissão do respetivo documento comprovativo de entrega (art. 144.º, nº7, al. c)).
A lei processual civil vigente não prevê a possibilidade de a parte praticar um ato processual através
de correio eletrónico. Na verdade, para além da prática de atos processuais através do Citius – sendo
esse o regime regra, nos termos do art, 144.º, nº1 – a lei apenas permite que a parte pratique um ato
processual através de entrega na secretaria judicial, remessa pelo correio, sob registo, ou envio por
telecópia (art. 144.º, nº7).
A contagem dos prazos processuais rege-se, em princípio, de acordo com as regras previstas no CPC.
No entanto, de acordo com o art. 296.º do CC, se não existir uma disposição especial, aplicam-se
subsidiariamente, à contagem dos prazos, as regras constantes do art. 279.º CC.
Nos termos do art. 279.º, al. b) CC, na contagem de qualquer prazo não se inclui o dia, nem a hora, se
o prazo for de horas, em que ocorrer o evento a partir do qual o prazo começa a correr. Trata-se, com
efeito, do princípio dies a quo non computatur in termino.
Assim, ao contar-se um prazo fixado em dias, não se considera o dia em que ocorreu a citação ou a
notificação que deram origem ao início da contagem do prazo.
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Modalidades da citação
Para se saber qual o dia em que se inicia a contagem do prazo para a prática de um ato processual
subsequente à realização de uma citação, importa determinar a data em que a citação se considera
efetuada. Para esse efeito, torna-se necessário atentar no modo como a citação foi efetuada.
Remissão: V. Citação.
Se o réu for citado para contestar a ação que contra ele tenha sido proposta (art. 219.º, nº1), o prazo
perentório da contestação começa a correr desde o termo do prazo dilatório, se a ele houver lugar, nos
termos do art. 245.º (arts. 242.º, nº2 e 569.º, nº1).
Quer isto dizer que, não se contando o dia em que o evento, ou seja, a citação, ocorreu (art. 279.º, al. b)
CC) e dado que os prazos contam-se de forma contínua (art. 138.º, nº1), o prazo dilatório, se a ele
houver lugar, começa a correr no dia imediatamente seguinte ao da realização da citação, ainda que
esta tenha sido feita na pessoa de um terceiro (art. 230.º, nº1).
Por outro lado, importa salientar que, nos termos do art. 142.º, se um prazo perentório for seguido de
um, prazo dilatório, os dois prazos contam-se como um só prazo. Por conseguinte, o prazo perentório
começa a correr logo após o termo do prazo dilatório (art. 569.º, nº1), sendo irrelevante que o prazo
dilatório termine num dia não útil, já que os dois prazos contam-se como se fossem um só prazo.
Se a parte tiver constituído mandatário judicial, nos termos dos arts. 40.º e 43.º, esta deve ser notificada
na pessoa do seu mandatário (art. 247.º, nºs 1 e 3).
A notificação do mandatário é realizada através do sistema informático Citius, devendo esse sistema
certificar a data de elaboração da notificação, atento o disposto no art. 25.º, nº1 da Portaria 280/2013.
Pode, no entanto, suceder que a notificação não possa ser realizada através de transmissão eletrónica
de dados. Com efeito, nos termos do art. 25.º, nº2 da Portaria 280/2013, se o ato processual a notificar
contiver documentos que apenas existam no processo em suporte físico, o mandatário deve ser
notificado desses documentos através do envio de carta registada, dirigida ao seu escritório ou
domicílio escolhido.
Em todo o caso, tal como sucede na notificação realizada através do Citius, o mandatário pode ilidir
essa presunção, demonstrando que não recebeu a notificação na data legalmente presumida.
o Por outro lado, pode ocorrer que o mandatário da parte seja notificado pessoalmente. É o que
sucede, p. ex., se o mandatário é notificado verbalmente, em plena audiência prévia ou final, de
um determinado despacho ou sentença. Nesse caso, o mandatário considera-se notificado nesse
mesmo momento.
o Se a parte não tiver constituído mandatário, esta deve ser notificada através de carta registada,
a qual é dirigida para a sua residência, sede ou domicílio escolhido para o efeito de as receber,
presumindo-se a notificação realizada no terceiro dia útil posterior ao do registo ou no
primeiro dia útil seguinte a esse quando o não seja (art. 249.º, nº1).
Esta presunção de três dias encontra justificação quer no facto de se deixar uma margem de segurança
para um eventual atraso nos serviços de correios, quer na circunstância de não existir distribuição
postal nos dias não úteis, razão pela qual, se o prazo terminar em algum desses dias, deve presumir-se
que a notificação só se concretizou no primeiro dia útil seguinte, ou seja, quando a distribuição do
correio foi retomada.
o Quando haja domicílio convencionado, a notificação não deixa de produzir efeitos pelo facto
de o expediente ser devolvido, desde que a remessa tenha sido efetuada para a residência ou
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sede da parte. Nesse caso ou se a carta não tiver sido entregue, por ausência do destinatário, a
notificação considera-se feita no 3º dia posterior ao do registo ou no primeiro dia útil, quando
não o seja.
De todo o modo, tal como sucede com a notificação por via eletrónica, esta presunção quanto à data da
realização da notificação é ilidível, ou seja, o notificando pode demonstrar que a notificação não teve
lugar no dia legalmente presumido (art. 4.º, nº1 DL 121/76).
Dispõe o art. 221.º que, nos processos em que as partes tenham constituído mandatário judicial, os atos
processuais que devam ser praticados por escrito pelas partes após a notificação da contestação ao
autor, são notificados pelo mandatário judicial do apresentante ao mandatário judicial da contraparte,
no respetivo domicílio profissional, nos termos do art. 255.º.
o Por sua vez, à luz do art. 255.º, as notificações entre os mandatários judiciais são realizadas
por via eletrónica, devendo o sistema informático certificar a data da elaboração da notificação.
Nesse caso, a notificação presume-se efetuada no 3º dia posterior ao da elaboração da
notificação ou, se este dia não for útil, no primeiro dia útil seguinte.
Por aplicação das regras previstas nos arts. 248.º e 249.º pode suceder que o prazo da presunção da
notificação termine em férias judiciais. É o que ocorre, p. ex., se a secretaria judicial proceder à
elaboração da notificação via citius ou ao registo postal da notificação na véspera do início das férias
judiciais.
Neste caso, coloca-se o problema de saber em que dia começa a correr o prazo processual.
Neste caso, se o terceiro dia posterior ao da elaboração da notificação via Citius ou ao do registo postal
terminar no período das férias judiciais, o notificando deve presumir-se notificado nesse dia, i. e.,
mesmo em férias judiciais.
Já quanto ao início da contagem do prazo para a prática do ato processual subsequente à realização da
notificação, afigura-se que esse prazo começa a correr no primeiro dia útil após o termo das férias
judiciais.
Feriados (2019)
1 de janeiro
19, 21 e 25 de abril
1 de maio
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10 de junho
20 de junho
15 de agosto
5 de outubro
1 de novembro
1, 8 e 24 de dezembro
À luz da lei de processo civil vigente, o prazo processual, quer se encontre estabelecido por lei, quer
tenha sido fixado pelo juiz, conta-se de forma contínua (art. 138.º, nº1), sendo a contagem realizada de
forma automática.
Suspensão do prazo
A lei prevê, em determinados casos, a suspensão do prazo processual. Assim, se se verificar um motivo
ou fundamento que determine a suspensão do prazo, este não corre durante a suspensão. Deste modo,
uma vez cessado o motivo ou o fundamento que tenha dado causa à suspensão, o prazo retoma a sua
contagem desde o momento em que ficou suspenso, computando-se, portanto, apenas a parte do prazo
que ainda estiver em falta.
Nos termos do art. 138.º, nº1, o prazo processual conta-se de forma contínua, mas suspende-se em
férias judiciais.
22 de dezembro a 3 de janeiro,
de Domingo de Ramos à segunda-feira de Páscoa (25 de março a 2 de abril;14 a 22 de abril –
em 2019) e de
1 a 31 de agosto;
Contudo, o prazo processual não se suspende em férias judiciais nos seguintes casos:
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a) se se tratar de um prazo referente à prática de um ato num processo que a lei qualifique como
sendo urgente.
É o que sucede, p. ex. se estiver em causa um prazo referente à prática de um procedimento cautelar
(art. 363.º).
Por conseguinte, se terminar em período de férias judiciais um prazo para prática de um ato num
processo que a lei qualifique como urgente, o ato em causa deve ser praticado em férias judiciais (art.
137.º, nº2), já que o termo do prazo não se transfere para o primeiro dia útil subsequente ao termo das
férias judiciais. Assim, os regimes previstos nos arts. 138.º, nº1, 2ª parte e 137.º, nº2 devem ser
interpretados de forma conjunta.
Diferentemente, o prazo de 30 dias para a propositura da ação de que o procedimento cautelar depende
(art. 373.º, nº1, al. a)), não respeita à prática de um ato em processo que a lei qualifique como urgente,
razão pela qual, na contagem desse prazo, o qual reveste natureza processual, aplica-se o regime geral
previsto no art. 138.º. Assim, este prazo conta-se de forma contínua, mas suspende-se em férias
judiciais, sendo que, se o mesmo terminar em dia em que os tribunais se encontrem encerrados, o termo
do prazo transfere-se para o primeiro dia útil seguinte (art. 138.º, nº2 ex vi do art. 138.º, nº4).
É o que ocorre, nomeadamente, com os prazos de 6 meses previstos para a deserção da instância ou do
recurso (art. 281.º), para o levantamento da penhora (art. 763.º, nº1) ou para a citação do ausente
através de éditos (art. 881.º, nº2), bem como com o prazo de 5 anos, a contar do trânsito em julgado da
decisão, para a interposição do recurso de revisão (art. 697.º, nº2).
Suspensão da instância
De acordo com o art. 275.º, nº2, os prazos processuais não correm durante a suspensão da instância
(arts. 269.º a 275.º).
Acresce que, se a instância tiver ficado suspensa por falecimento ou extinção de alguma das partes, a
verificação dessa causa de suspensão acarreta a inutilização da parte do processo que, entretanto, tiver
decorrido (art. 269.º, nº1, als. a) e b)).
Durante a suspensão da instância, só podem praticar-se validamente os atos urgentes que se destinem
a evitar dano irreparável (art. 275.º, nº1).
Por outro lado, nos termos do art. 272.º, nº4, as partes podem requerer a suspensão da instância por
períodos que não excedam, na sua totalidade, 3 meses. Nesse caso, a suspensão não prejudica os atos
de instrução e as demais diligências preparatórias da audiência final (art. 275.º, nº4) e a mesma cessa
logo que tiver decorrido o prazo acordado entre as partes (art. 276.º, nº1, al. c)), independentemente
de o termo do prazo corresponder ou não a um dia útil.
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Para além disso, sendo requerida, por acordo das partes, a suspensão da instância, o prazo de suspensão
começa a correr no dia seguinte ao da apresentação desse requerimento, já que o despacho proferido
pelo juiz, referente ao pedido de suspensão da instância, é meramente homologatório desse pedido.
Interrupção do prazo
Exemplo:
No entanto, neste caso, a interrupção do prazo só ocorre se estiverem preenchidos três requisitos
cumulativos:
Do mesmo modo, o art. 34.º da Lei 34/2004 dispõe que a apresentação de um pedido de escusa, na
pendência de um processo, pelo patrono que tenha sido nomeado oficiosamente, tem como
consequência a interrupção do prazo que estiver em curso.
Renovação do prazo
A lei de processo civil prevê determinadas situações em que é possível renovar-se um prazo que,
entretanto, se encontrava extinto.
Exemplos:
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C- Termo do Prazo
Dado que o prazo se conta de forma contínua, pode suceder que o mesmo termine num dia em que os
tribunais se encontrem encerrados.
Para os devidos efeitos legais, os tribunais encontram-se encerrados nos sábados, domingos, feriados,
dias em que tenha sido concedida tolerância de ponto (art. 138.º, nº3) ou dias de greve dos funcionários
judiciais que impeçam o funcionamento da secretaria judicial.
Ora, se o termo do prazo para a prática do ato processual coincidir com um dia em que os tribunais se
encontrem encerrados, o termo do prazo transfere-se para o primeiro dia útil seguinte (art. 138.º, nº2).
Note-se que esta regra só se aplica aos prazos perentórios, pois que, quanto aos prazos dilatórios, o
art. 142.º estabelece que, sendo o prazo dilatório seguido de um prazo perentório, os dois prazos
contam-se como um só.
Regras previstas no CC
O art, 279.º CC estabelece diversas regras quanto à fixação do termo do prazo as quais são aplicáveis
quer aos prazos substantivos quer, subsidiariamente, aos prazos processuais ou adjetivos (art. 296.º
CC).
a) o prazo fixado em semanas, meses ou anos, termina às 24h do dia que corresponda, dentro da
última semana, mês ou ano, a essa data;
b) o prazo que termine em domingo ou em dia de feriado transfere-se para o primeiro dia útil;
aos domingos e dias de feriado são equiparadas as férias judiciais, se o ato sujeito a prazo tiver
de ser praticado em juízo.
Como se viu, na contagem de um prazo, não se inclui o dia em que ocorreu o evento que deu início à
contagem do prazo. Contudo, no cômputo de um prazo, conta-se o dia em que o prazo termina. Deste
modo, se um prazo de caducidade terminar em férias judiciais, o termo do prazo transfere-se para o
primeiro dia útil subsequente ao término das férias judiciais.
O regime da contagem de prazos constante no art. 138.º - nomeadamente, a regra de que o prazo se
conta de forma contínua, mas suspende-se durante as férias judiciais – aplica-se igualmente aos prazos
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para a propositura de ações que se encontrem previstos no CPC (art. 138.º, nº4). No entanto, não se
aplica a estes prazos o disposto no art. 138.º, nº5.
O prazo perentório é aquele cujo decurso extingue o direito de praticar o ato (art. 139.º, nº3).
No entanto, independentemente do justo impedimento, o art. 139.º, nº5 prevê a possibilidade de a parte
praticar o ato, dentro dos 3 primeiros dias úteis subsequentes ao termo do prazo, desde que, com a
prática do ato, pague de imediato uma multa.
Esta possibilidade visa, essencialmente, proteger a parte contra a preclusão de um direito, em virtude
de um eventual desleixo do seu mandatário.
Este prazo não é suscetível de prorrogação. Além de que, na contagem dos 3 dias úteis de multa, não
se contabilizam os sábados, domingos, dias feriados ou dias em que tenha sido concedida tolerância de
ponto.
Do mesmo modo, os três dias não se contam durante o período de férias judiciais, salvo se estiver em
causa um prazo urgente.
Não se tratando de um prazo dilatório nem perentório, mesmo que a parte formule um pedido de
proteção jurídica nesse período de tempo, esse pedido não tem a virtualidade de interromper o prazo
entretanto já decorrido.
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Estando a parte representada por mandatário, a validade da prática do ato fora de prazo depende do
pagamento imediato da multa, a qual é fixada nos seguintes termos:
a) Se o ato for praticado no 1º dia útil, a multa é fixada em 10% da taxa de justiça, tendo a multa
por limite ½ UC, ou seja, € 51,00;
b) Se o ato for praticado no 2º dia útil, a multa é fixada em 25% da taxa de justiça, tendo a multa
por limite 3 UC, ou seja, € 306,00;
c) Se o ato for praticado no 3º dia útil, a multa é fixada em 40% da taxa de justiça, tendo a multa
por limite 7 UC, ou seja, € 714,00;
Justo impedimento
Podem haver situações excecionais que obstem à prática atempada do ato. Essas situações têm de ser
alheias à parte e ao seu mandatário para poderem ser invocadas como justo impedimento.
Exemplo: a negligência dos colaboradores não pode ser invocada. Também não um casamento ou
desaparecimento de um articulado.
A parte que pretenda invocar o justo impedimento deverá apresentar o requerimento logo que o
impedimento cessar; o juiz, ouvida a parte contrária, admitirá que o requerente pratique o ato fora do
prazo, se julgar verificado o impedimento. Se o justo impedimento terminar na segunda feira, não pode
ser invocado na quarta feira, mas sim na terça.
O nº3 do art. 140.º constitui uma inovação; é do conhecimento oficioso a verificação do impedimento
que constitua um facto notório e seja previsível a impossibilidade da prática do ato dentro do prazo.
Finalmente, importa ter em atenção que o justo impedimento se destina a “salvar” um prazo que foi
perdido, criando uma espécie de suspensão do seu termo, e não do seu início.
Segundo o Ac. da RC de 18.7.2006 “o efeito do justo impedimento não é nem o de impedir o início do curso
de prazo perentório nem o de interromper tal prazo quando em curso, no momento em que ocorre o facto que se
deva considerar justo impedimento, inutilizando o tempo já decorrido, mas tão somente o de suspender o termo
do prazo perentório, deferindo-o para o dia imediato aquele que tenha sido o último dia de duração do
impedimento. Ou seja, através do justo impedimento não se pode pretender que novo prazo para a prática do ato
seja concedido, apenas se concedendo ao requerente a possibilidade de praticar o ato no momento (dia)
imediatamente posterior ao fim da cessação do impedimento”.
Ainda, no Ac. da RC de 24.2.2015 “I- A legislação, pelo governo, via DL nº 150/2014, de 13 de outubro, da
possibilidade de verificação de justo impedimento e de suspensão de prazos na situação de emergência decorrente
de anomalias no CITIUS (…); II – Aquele diploma, em caso de impossibilidade via eletrónica, obriga à prática
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do ato em suporte físico, (…) não podendo a parte beneficiar se esta entrega física não foi possível e não a
efetivou”.
Para que atualmente se verifique um justo impedimento, é necessário que se encontrem preenchidos
dois requisitos cumulativos:
1) Ocorrer um evento que não seja imputável à parte nem aos seus mandatários, ou seja, para a
verificação deste evento, não pode concorrer a culpa, a título de dolo ou negligência, da parte
ou dos seus mandatários;
2) Esse evento deve obstar à prática atempada do ato, i. e., deve impedir em absoluto a prática do
ato dentro do prazo devido.
Requisitos processuais:
Efeitos
Conduz à suspensão do termo do prazo, o qual é diferido para o primeiro dia subsequente ao termo do
justo impedimento.
Se o prazo terminar numa sexta-feira, até quando pode ser praticado o ato, com o pagamento da multa?
Até à quarta-feira da semana seguinte, pois sábado e domingo não são dias úteis.
Ação Executiva
A execução destina-se a obrigar coercivamente o devedor a realizar a prestação, a fim de ser cumprido
o que consta na sentença ou em outro título dotado de força executiva, ou seja, a fazer executar o
direito já declarado. É utilizada a força do Estado para obter essa finalidade, com respeito por certos
limites. P. ex., o devedor não é privado da liberdade pelo facto de a dívida não ser paga, com exceção
da violação da obrigação de alimentos, prevista no art. 250.º do CP, mas o seu património pode ser
penhorado e vendido, no âmbito da execução.
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Com o objetivo de permitir ao credor averiguar se o devedor tem bens penhoráveis que justifiquem a
instauração de execução, foi criado pela Lei 32/2014 de 39 de maio, o Procedimento Extrajudicial
Pré—Executivo (PEPEX).
O interesse em recorrer a este procedimento é o de evitar execuções inúteis, por falta de bens
penhoráveis, que originam custas avultadas para o cliente.
Com este procedimento, os credores passaram a dispor de uma ferramenta que lhe permite avaliar,
numa perspetiva de ponderação custo/benefício, se compensa recorrer à execução.
Só depois de efetuado o pagamento dos valores devidos pelo início do procedimento é que o
requerimento se considera entregue.
Após a realização das consultas, subsequente à apresentação do requerimento pelo credor, o agente de
execução elabora um relatório que resume o resultado das diligências, identificando os bens
encontrados ou a circunstância de não terem sido encontrado bens.
Notificado o credor de tal relatório, dispõe do prazo de 30 dias para requerer a convolação do processo
em processo de execução ou requerer a notificação do devedor para:
a) Pagar o valor;
b) Estabelecer acordo de pagamento;
c) Indicar bens à penhora;
d) Opor-se ao procedimento.
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Caso opte pela notificação do devedor, o credor terá de efetuar o pagamento da refª Multibanco que
consta do relatório enviado pelo agente de execução, pagando 25,50 €por cada requerido (devedor).
Se dentro do referido prazo de 30 dias o requerente nada fizer, o requerimento será automaticamente
extinto. Porém, o credor dispõe da possibilidade de, no decurso dos três anos seguintes após o termo
do procedimento, solicitar novas consultas.
Título Executivo
Anteriormente, qualquer documento particular, desde que assinado pelo devedor, era considerado
título executivo, permitindo ao credor instaurar a execução.
Atualmente, foi retirada a natureza de título executivo aos documentos particulares, com ressalva dos
títulos de crédito.
Como tal, o credor que seja portador de um documento particular no qual o devedor assuma uma
obrigação terá agora de recorrer previamente ao procedimento de injunção, para conseguir obter o
título executivo, com a aposição da fórmula executória.
a) As sentenças condenatórias;
b) Os documentos exarados ou autenticados por notário ou por outras entidades profissionais com
competência para tal, que importem constituição ou reconhecimento de qualquer obrigação;
c) Os títulos de crédito, ainda que meros quirógrafos, desde que, neste caso, os factos constitutivos da relação
subjacente constem do próprio documento ou sejam alegados no requerimento executivo;
d) Os documentos a que, por disposição especial, seja atribuída força executiva”.
V: doc. 43.
a) Sentença
A sentença só constitui título executivo depois de ter transitado em julgado, ou seja, quando já não for
possível o recurso. Mas se o recurso interposto tiver efeito devolutivo (e não suspensivo), pode
recorrer-se à execução da sentença, com a particularidade de o exequente não poder ser pago sem
prestar caução (compreende-se que assim seja, pois o título ainda não está consolidado e poderá o
recurso ser procedente sendo que, em tal caso, não seria justo o devedor – que deixou de ser devedor
com a procedência do recurso – ser sacrificado, arriscando-se a não recuperar o valor pago ao pretenso
credor).
Quanto aos documentos exarados ou autenticados, por notário ou outras entidades com competência
para tal, em que se convencionem prestações futuras ou se preveja a constituição de obrigações futuras,
constituem título executivo, desde que se prove através de documento que alguma prestação foi
realizada para conclusão do negócio ou que alguma obrigação foi constituída na sequência da previsão
das partes.
Não basta o reconhecimento notarial da assinatura para que o documento tenha a natureza de
autenticado; é necessário que haja termo de autenticação.
c) Títulos de Crédito
Os títulos de crédito (como as letras, livranças e cheques) constituem títulos executivos, sem que seja
necessário alegar os factos constitutivos da relação subjacente, que deu origem à emissão dos títulos.
Tal decorre da natureza abstrata do título e do princípio da literalidade.
Se o título estiver prescrito, como sucede com o cheque (se já tiverem decorrido seis meses) ou com a
letra (se tiverem decorrido três anos), mesmo assim podem fundamentar uma execução, funcionando
como meros quirógrafos (que provam que foi emitido o documento). No entanto, devem ser alegados
no requerimento executivo os factos constitutivos da relação subjacente, ou seja, a origem da dívida
(caso não conste no próprio documento).
De notar a norma do art. 724.º, nº5, que preceitua que “quando a execução se funde em título de crédito
e o requerimento executivo tiver sido enviado por via eletrónica, o exequente deve sempre enviar o
original para o tribunal, dentro dos 10 dias subsequentes à distribuição”.
O requerimento executivo tem um espaço para a alegação da origem da dívida que os mandatários
preenchem, mesmo no caso de a execução se basear em títulos de crédito.
Existe numerosa legislação avulsa que atribui força executiva a determinados documentos. Salientam-
se o DL 268/94, de 25/10, que atribui às atas de condomínio a natureza de título executivo contra os
condóminos que não tenham pago, bem como o DL 287/93 (concessão de crédito bancário).
Tribunal competente
Se o título executivo for a sentença, o requerimento executivo é apresentado no processo em que aquela
foi proferida, correndo a execução nos próprios autos, de forma autónoma (art. 85.º). Se houver juízo
especializado de execução, como sucede em Lisboa, a secretaria remete a esta cópia da sentença e do
requerimento de execução, bem como os documentos que o acompanham.
A regra geral de competência nas execuções consta no art. 89.º, nº1: “salvo os casos especiais previstos
noutras disposições, é competente para a execução o tribunal do domicílio do executado, podendo o exequente
optar pelo tribunal do lugar em que a obrigação deva ser cumprida quando o executado seja pessoa coletiva ou
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quando, situando-se o domicílio do exequente na área metropolitana de Lisboa ou do Porto, o executado tenha
domicílio na mesma área metropolitana.”
Tem de se ter em atenção a nova orgânica judiciária, em que em algumas comarcas não existem seções
de execução, enquanto que em outras poderão existir mais do que um juízo, com áreas de competência
geograficamente definidas. Caso não exista juízo de execução em determinado tribunal de comarca, a
competência recairá sobre o juízo de competência genérica central ou local, consoante o valor (juízo
local, se o valor da execução for inferior a 50 mil euros).
Tratando-se de execução para entrega de coisa certa ou execução hipotecária, é competente o tribunal
do local onde o bem se encontre.
A primeira é a mais frequente. Se o devedor não paga voluntariamente, surge a execução para
pagamento de quantia certa.
Quanto à forma de processo, na execução para pagamento de quantia certa, temos o processo sumário
(quando o título executivo é “forte”, como sucede com a decisão arbitral ou judicial que não deva ser
executada no próprio processo, requerimento de injunção ao qual foi aposta a fórmula executória ou
quando se trate de um valor de menor expressão, como sucede com o título extrajudicial de obrigação
pecuniária vencida que não exceda € 10000) e o processo ordinário, noa restantes casos (art. 550.º).
A execução para entrega de coisa certa e para prestação de facto seguem a forma única.
Fases da Execução
1) Requerimento de execução
2) Citação Executado – Embargos de executado
3) Penhora de Credores – Oposição à Penhora
4) Concurso
5) Venda
6) Pagamento
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Inês Catarina Pedreiro Gomes
1) Requerimento de Execução
O requerimento de execução é o ponto de partida para a execução, da mesma forma que a petição inicial
dá início à ação declarativa. Só que nesta o autor tem de alegar factos que constituem a causa de pedir
e que, por sua vez, fundamentam o pedido. No requerimento de execução, o exequente (nome que toma
o credor) tem de demonstrar que tem um título válido, que fundamenta a execução e o ataque ao
património do executado (nome que toma o devedor).
Embora o fundamento da execução seja o título executivo, existe um espaço para “expor sucintamente
os factos que fundamentam o pedido, quando não constem do título executivo”.
Também é conveniente indicar bens penhoráveis (se tiver conhecimento), muito embora o agente de
execução promova diligências para a sua localização.
É necessário pagar a taxa de justiça indicada na Tabela II do RCP, bem como a provisão de honorários
inicial para o agente de execução.
2) Citação do Executado
O juiz faz uma apreciação do título e verifica se este é suficiente para fundamentar a execução e se não
ocorrem exceções dilatórias insupríveis.
Proferido o despacho de citação, o executado vai tomar conhecimento que contra si corre uma
execução, sendo citado para pagar e deduzir oposição.
Embargos de Executado
A oposição à execução volta, com o atual CPC, a ter a denominação de “embargos de executado”.
Se o título for a sentenças, que pressupõe ter sido ouvido num processo declarativo, os fundamentos
de oposição são restritos, pois considera-se que o executado devia ter contestado a ação declarativa.
O novo CPC acrescentou um novo fundamento “contracrédito sobre o exequente, com vista a obter a
compensação de créditos” (art. 729.º, al. h)).
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Não se baseando a execução em sentença ou requerimento de injunção ao qual tenha sido aposta a
fórmula executória, podem ser alegados, como oposição, quaisquer fundamentos que pudessem ser
invocados como defesa no processo de declaração.
Os embargos constituem uma espécie de ação declarativa dentro do processo de execução, em que o
embargante (executado) procura demonstrar que não existe fundamento para a execução.
Como regra, a suspensão da execução apenas tem lugar se o embargante prestar caução (art. 733.º, nº1,
al a)). Compreende-se que assim seja. Se o executado deduzisse embargos e a execução tivesse efeito
suspensivo, poderia dissipar o património. Quando os embargos fossem considerados procedentes,
retomada a execução, haveria o risco de se concluir pela inexistência de bens penhoráveis.
3) Penhora
A penhora consiste na apreensão judicia de bens do devedor, efetuada pelo agente de execução.
Estão sujeitos a penhora todos os bens que, nos termos da lei substantiva, respondam pela dívida
exequenda (art. 735.º, nº1).
A penhora limita-se aos bens necessários para o pagamento da dívida exequenda e despesas prováveis
da execução.
Não sendo conhecidos bens penhoráveis, o agente de execução procede a diligências para localização
de bens, designadamente através da consulta nas bases de dados da administração tributária, segurança
social, conservatórias do registo predial, comercial, automóvel e outros registos e arquivos.
Acordo de Pagamento
Muitas vezes, após a realização da penhora, o devedor põe termo à sua inércia e apresenta um acordo
de pagamento.
Oposição à penhora
Nos embargos de executado, o executado procura demonstrar que não existe fundamento para a
execução.
Na oposição à penhora, o executado insurge-se contra a penhora, procurando demonstrar que o bem
não devia ter sido penhorado.
Se o bem penhorado pertencer a um terceiro e não ao executado, este poderá deduzir incidente de
oposição mediante embargos de terceiro (art. 342.º).
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4) Concurso de credores
Esta fase destina-se a permitir aos credores que gozem de garantia sobre os bens penhorados, reclamar,
pelo produto destes, o pagamento dos respetivos créditos.
5) Venda e Pagamento
A venda dos bens penhorados destina-se a obter a quantia necessária para satisfazer o fim da execução.
A OSAE desenvolveu uma plataforma eletrónica, através da qual os interessados podem apresentar
propostas e licitar os bens.
Há três valores indicados para um determinado leilão eletrónico: o valor base, o valor de abertura e o
valor mínimo.
Uma proposta que seja apresentada nos últimos cinco minutos (relativamente à data de encerramento
do leilão), origina, automaticamente, o prolongamento do leilão por mais cinco minutos. Deste modo,
consegue-se fazer subir as propostas.
O agente de execução notifica o licitante vencedor para proceder ao pagamento do preço e dos encargos
legais, designadamente IMT e Imposto de Selo (no caso de imóveis), no prazo de 15 dias.
Efetuado o pagamento e pagos os custos de registo, o agente de execução lavra título de transmissão,
que serve de base ao registo na Conservatória do Registo Predial, por si efetuado.
Caso a proposta mais elevada não seja suficiente para perfazer o valor mínimo, a venda seguirá por
negociação particular.
A Execução Sumária
Só depois de efetuada a penhora é que o executado toma conhecimento da execução, podendo então
deduzir embargos de executado bem como oposição à penhora.
No CPC revogado, equiparava-se à sentença, não sendo permitido ao executado deduzir oposição à
execução com fundamento em meios de defesa que poderia ter usado no procedimento de injunção.
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O TC não admitiu essa restrição, tendo considerado inconstitucional a norma. Mais recentemente, o
Ac. do TC, declarou, com força obrigatória geral, a inconstitucionalidade da norma.
Na parte final da sentença, o juiz pronuncia-se sobre a matéria das custas, de acordo com as regras do
art. 527.º, nº1:
Paga as custas a parte que deu causa à ação, entendendo-se que deu causa a parte vencida, na
proporção em que o for;
Se não houver parte vencida, paga as custas a parte que beneficiou com o processo;
Se a sentença não foi inteiramente condenatória (p. ex., o autor pediu a condenação em € 10000 e a
sentença apenas condenou em 1000), a sentença será: “Custas na proporção do vencido”.
As custas processuais abrangem a taxa de justiça, os encargos e as custas de parte (art. 529.º, nº1).
Pode também haver lugar a incidentes, aplicação da taxa sancionatória excecional, multas, condenação
como litigante de má fé, em multa e indemnização.
Há também encargos com o processo. Se tiver sido requerida uma prova pericial, ter-se-á de pagar os
honorários dos peritos.
Quando um cliente entrega ao advogado a provisão, tem de ser bem advertido que esse valor inclui
uma parte para despesas (constituindo as custas processuais um valor relevante das despesas). Aliás,
por essa razão, deve discriminar-se o que é provisão para honorários e o que é provisão para despesas.
Taxa de Justiça
A taxa de justiça é como que o custo do processo, aquilo que o Estado cobra por cada processo, a cada
parte.
Cada ação tem um valor processual, indicado no final da P.I e que é normalmente atendido para efeitos
de custas. “A taxa de justiça corresponde o montante devido pelo impulso processual do interessado e
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é fixada em função do valor e complexidade da causa” de acordo com o RCP, aplicando-se, na falta de
disposição especial, os valores constantes da tabela I-A anexa ao RCP” (art. 6.º do RCP).
Estamos a elaborar a P.I, em que o autor pretende a resolução do contrato de arrendamento, com
fundamento no não uso do locado. O valor da renda mensal paga é € 500.
No final da P.I, temos de indicar o valor processual. O art. 298.º, nº1, preceitua que “nas ações de
despejo, o valor é o da renda de dois anos e meio, acrescido do valor das rendas em dívida ou o da
indemnização requerida”. Por isso, o valor processual é de € 15 000 (€ 500 x 30 meses).
O autor indicou esse valor de € 15 mil, que poderá ser corrigido pelo juiz (o qual fixa o valor da causa
no despacho saneador ou, não havendo esse despacho, na sentença, como refere o art. 306.º, nº2).
O autor vai ter de pagar a taxa de justiça correspondente a essa ação, para poder apresentar a P.I em
juízo (a não ser que beneficie do apoio judiciário ou, em situação de urgência, o tenha requerido).
A base tributável para efeitos de taxa de justiça corresponde ao valor da causa, com a aplicação da
tabela I-A anexa ao RCP e as regras previstas na lei de processo.
A unidade de conta foi instituída pelo DL 212/89 de 30 de junho, e correspondia à “quantia em dinheiro
equivalente a um quarto da remuneração mínima mais elevada, garantida, no momento da condenação,
aos trabalhadores por conta de outrem”. Com o Regulamento das Custas Processuais, a UC “é
atualizada anual e automaticamente de acordo com o indexante dos apoios sociais (IAS), devendo
atender-se, para o efeito, ao valor da UC respeitante ao ano anterior” (art. 5.º, nº2 do RCP).
O IAS é o valor de referência para a definição dos Apoios Sociais concedidos pelo Estado, estando o
seu aumento suspenso desde 2009. Em consequência, mantém-se o valor de € 419,22, correspondendo
a UC a € 102,00.
As partes podem pagar a taxa de justiça em dois momentos diferenciados. O pagamento inicial é
efetuado com os articulados e o subsequente ocorre no prazo de dez dias a contar da designação de
data para o julgamento.
No final do processo, o juiz pode determinar a aplicação de valores superiores de taxa de justiça,
constantes da Tabela I-C, se verificar que houve especial complexidade (art. 530.º, nº7).
Encargos
Reembolsos a Instituto de Gestão Financeira e das Infra-Estruturas da Justiça, I.P. (de todas
as despesas por este pagas adiantadamente, custos com a concessão do apoio judiciário,
incluindo pagamento de honorários);
Reembolsos por despesas adiantadas pela Direção Geral dos Impostos;
Diligências efetuadas pelas forças de segurança, oficiosamente ou a requerimento das partes,
nos termos a definir por portaria;
Pagamentos devidos ou pagos a quaisquer entidades pela produção ou entrega de documentos,
prestação de serviços ou atos análogos, requisitados pelo juiz a requerimento ou oficiosamente,
salvo quando se trate de certidões extraídas oficiosamente pelo tribunal.
Compensações devidas às testemunhas;
Pagamentos devidos a quaisquer entidades pela passagem de certidões exigidas pela lei
processual, quando a parte responsável beneficie de apoio judiciário.
Despesas resultantes da utilização de depósitos públicos;
Retribuições devidas a quem interveio acidentalmente no processo;
Despesas de transportes e ajudas de custo para diligências afetas ao processo.
P. ex., numa ação especial de prestação de contas, o autor requereu a realização de prova pericial
(exame de escrita). Os honorários dos peritos que irão efetuar o exame, integram-se nos encargos,
sendo da responsabilidade “da parte que requereu a diligência ou, quando tenha sido realizada
oficiosamente, da parte que aproveita da mesma” (art. 532.º, nº2).
O art. 17.º, nº2 do RCP preceitua que o tribunal irá fixar os honorários pelo serviço, sendo a
remuneração de 1 UC a 10 UC. O prestador de serviço irá apresentar a sua nota de honorários, que se
deverá conter dentro do limite indicado (entre 1UC a 10UC), incumbindo ao juiz a sua fixação.
Ainda no exemplo do exame pericial, a parte requerente ou interessada deve proceder ao pagamento
dos encargos imediatamente ou no prazo de 10 dias a contar da notificação do despacho que ordenou
a diligência (art. 20.º, nº1), salvo quando beneficie do apoio judiciário.
Da mesma forma, se num processo de acidente de viação o réu requereu a inspeção judicial,
concretizada na deslocação do tribunal ao local do acidente, terá de suportar em última análise as
despesas inerentes.
Os encargos são sempre imputados na conta da parte que é responsável; no final do processo, são
imputados na conta da parte que for condenada nas custas. Se tiver havido condenação de ambas as
partes, a imputação é efetuada proporcionalmente (art. 24.º do RCP).
Assim, nos exemplos citados, a parte que requereu o exame pericial e a inspeção, terá de suportar os
encargos, até que a sentença determine a responsabilidade no pagamento das custas. Se as custas forem
pagas pelo réu, este terá de reembolsar o autor dos pagamentos anteriores dos encargos.
Custas de Parte
As custas de parte correspondem ao que a parte gastou com o processo, a título de custas, e que tem
direito a ser compensada pela outra. Abrangem a taxa de justiça que foi paga pela parte, os encargos
que definitivamente suportou, as remunerações pagas ao agente de execução e as despesas por este
efetuadas e também os honorários do seu mandatário e as despesas por este efetuadas (art. 533.º, nº2).
O art. 533.º, nº4, impõe a obrigação de apresentar uma nota discriminativa e justificativa de custas de
parte, na qual deverão constar também todos os elementos essenciais relativos ao processo e às partes”,
como condição para a liquidação das custas de parte.
Essa nota deve ser enviada para o tribunal e para a parte vencida até cinco dias após o trânsito em
julgado ou após a notificação de que foi obtida a totalidade do pagamento ou do produto da penhora,
consoante os casos (art. 25.º, nº1 do RCP), nela devendo constar a indicação do processo e do
mandatário ou agente de execução, a indicação, e rúbricas autónomas, das quantias efetivamente pagas
a título de taxa de justiça, a título de encargos ou despesas suportadas pelo agente de execução, a título
de honorários de mandatário ou agente de execução e a indicação do valor a receber, nos termos do
Regulamento (art. 25.º, nº2 do RCP).
As custas de parte são pagas diretamente pela parte vencida à parte que delas seja credora, sob pena
de se poder instaurar execução.
De notar a importante regra do art. 533.º, nº4: com esta norma, reduz-se substancialmente o princípio
de que as custas de parte são objeto de pagamento pelo vencido.
Honorários
Com o RCP, a parte vencedora tem o direito de receber, integrado nas custas de parte, 50% do
somatório das taxas de justiça pagas pela parte vencedora e pela parte vencida, para compensação dos
honorários que pagou ao seu mandatário.
Multas
As multas não se integram na taxa de justiça, nem nos encargos nem nas custas de parte.
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O RCP contém uma disposição que pode prejudica as partes: “salvo disposição em contrário, as mults
são pagas no prazo de 10 dias (…)” (art. 28.º, nº1); não sendo paga nesse prazo, a quantia transita com
um acréscimo de 50% para a conta de custas.
A conta de custas é elaborada de forma contínua, ao longo do processo, sendo efetuado o respetivo
balanço dez dias após o trânsito em julgado da decisão que determinou a responsabilidade no
pagamento de custas (art. 29.º, nº1 RCP).
Efetuada a conta, a secretaria notifica as partes, com a menção do que há a pagar e a receber.
Pode haver reclamação da conta, com efeitos suspensivos. Mas quando a reclamação for apresentada
pelo responsável pelo pagamento das custas, este terá de proceder ao depósito imediato de 50% das
custas.
Quando o valor de custas a pagar seja igual ou superior a 3 UC, o responsável pode requerer,
fundamentadamente, o pagamento faseado das custas (em prestações mensais), havendo um
agravamento de 5%.