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Edição 1796 de 31.03.

2007
Bloco
Ex-PCP concorre contra Louçã
Membro do secretariado de Braga critica “direcção centralizada” e “peso cada vez
maior” do trabalho parlamentar do Bloco
O dirigente do secretariado distrital de Braga João Delgado deverá protagonizar a
alternativa a Francisco Louçã na V Convenção Nacional do Bloco de Esquerda (BE), a 2 e
3 de Junho, em Lisboa. Antigo responsável do PCP, este professor de 44 anos conta com
o apoio da Ruptura/FER, a facção mais radical do BE. Além de apresentar listas para a
Mesa Nacional - órgão máximo do partido entre convenções - e para a Comissão de
Direitos (o equivalente aos conselhos de jurisdição de outras formações partidárias), o
grupo liderado por Delgado pôs já a circular um manifesto de 14 pontos prévios, espécie
de esboço da Moção de Orientação Política que se propõe debater na reunião-magna do
Bloco.

Delgado, que não pertence a nenhuma sensibilidade do partido (além da Ruptura/FER,


existe o Grupo das Caldas e as facções conotadas com os partidos de origem: UDP, PSR
e Política XXI), é o autor daquele texto que, por não poupar críticas à direcção de Louçã,
já mereceu a aprovação da ala esquerda do Bloco. No plano internacional, o documento a
que o Expresso teve acesso defende uma “orientação internacionalista de esquerda,
ultrapassando a actual linha ‘europeísta de esquerda’, que se vem desenvolvendo num
quadro social-democratizante”, enquanto no plano local se bate por “formação ou
consolidação de maiorias de esquerda”. Em matéria de organização interna, o Manifesto
para Uma Alternativa reclama a participação de “todas as tendências do BE no exercício
de cargos públicos electivos”, recusa a “personalização dos cargos de direcção,
praticando a eleição por voto secreto e a limitação de mandatos nos cargos uninominais”
e “prevenindo a sobreposição de lideranças carismáticas à caracterização ideológica” do
BE.

O Manifesto preconiza um BE “mais inserido nas lutas sociais e mais próximo da base e
suas necessidades e aspirações, combatendo a institucionalização do partido e o peso
cada vez maior que o trabalho parlamentar tem, proporcionalmente à falta de
enraizamento social e trabalho quotidiano junto das pessoas”. João Delgado pretende
ainda o “aprofundamento da democracia interna” do partido e o “convívio cívico” entre
aderentes.

Pedro Soares, coordenador autárquico do BE e um dos autores do texto-base da moção a


apresentar pela tendência maioritária do Bloco, adiantou ao Expresso que o documento
frisará a importância da “afirmação de uma alternativa de esquerda socialista” e a aposta
de um “movimento com abertura à sociedade” e “vasta rede de activismos”, negando a
ideia de um “partido de eleitores, fechado em si próprio, vivendo da propaganda”.
Confrontado com as críticas de João Delgado, este dirigente esclarece que a composição
da Mesa Nacional “ é plural e estritamente proporcional às tendências”.

Isabel Oliveira

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