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Ela foi a responsável pelo assassinato de dezenas de pessoas. Os crimes teriam sido
perfeitos se personagens como o genial detetive Hercule Poirot e a curiosíssima
velhinha Jane Marple não tivessem surgido para investigá-los. Também conhecida
como Rainha do Crime e Duquesa da Morte, Agatha Christie escreveu quase uma
centena de livros que conquistaram milhões de leitores em mais de cem países. Em
seu currículo inclui-se a autoria da peça teatral de mais longa temporada no mundo: A
Ratoeira. Na década de 70, um nebuloso caso de homicídios em série foi desvendado
graças a um detetive que lera uma de suas histórias. Quando escrevia, aquela dócil
dona-de-casa transformava-se numa diabólica exterminadora. O crime, para ela,
compensou.
"Agatha Christie é como uma perfeita anfitriã servindo cicuta num coquetel."
Essa definição do crítico Stanley Sparks, publicada no início da década de 50 pelo
jornal The Morning Advertiser, não parece referir-se a uma tímida e pacata senhora de
berço de ouro, criada sob os rígidos princípios vitorianos.
Uma de suas grandes paixões foi a música clássica. Aos teclados do piano
foi apresentada quando era menina. Ainda jovem, sonhadora, com o intuito de tornar-se
cantora lírica, dedicou-se, em Paris, a aulas de canto e dicção. Chegou a dar um
concerto, mas logo desistiu da idéia por achar que não possuía bastante competência.
Tímida demais, achava terríveis as aparições em público.
Por ser o filho mais novo, Agatha, ao contrário dos irmãos, não teve
oportunidade de freqüentar escolas. O pai, Frederick Alvah Miller, havia falecido, o que
abalou a estrutura familiar. Acharam melhor manter a caçula perto da mãe, que se
tornou sua professora (decisão rotineira na época em relação às filhas). Mr. Miller,
aliás, morreu cedo, mas não antes de corroer os ricos bens da família: gastava dinheiro
descontroladamente. Mandar os filhos para a França foi o último bom investimento
possível em educação.
O começo
Tudo começou quando Agatha, sofrendo as conseqüências de um forte
resfriado, estava de cama e a mãe a incentivou a criar um conto. Seria bom para
entretê-la. Duvidando da própria capacidade, a garota tentou — e conseguiu. Mais
tarde continuaria a escrever devido ao encorajamento de Eden Phillpotts, teatrólogo
amigo da família. Um dia, já saboreando o sucesso, ela contou: "Durante muitos anos
me diverti escrevendo histórias melancólicas em que a maioria das personagens
morria".
Enfim, o sucesso
A primeira obra policial foi recusada por vários editores. No pós-guerra,
Agatha Christie, com o marido de volta e já com a pequena Rosalind, até se esqueceu
da história. As dificuldades econômicas eram perturbadoras. Nem uma própria
residência a família possuía. Um dia, em 1920, surpresa: ela recebeu um comunicado
do editor John Lane, interessado em publicar o texto. Agatha, que nunca pensara em
viver como escritora, ficou extremamente feliz.
Anos depois, Agatha, ciente de que seus heróis continuariam vivos para
sempre, sujeitos a protagonizarem aventuras escritas por qualquer pessoa — como
acontece até hoje com Sherlock Holmes —, decidiu eliminá-los. Começou com Poirot.
Em Cai o Pano (1975), ele morre velho, numa cadeira de rodas. Miss Marple seria a
próxima mas teve sorte: Agatha não viveu o suficiente para escrever seu fim — a
escritora morreu do coração poucos meses depois da publicação de Cai o Pano, em 12
de janeiro de 1976.
Inovando
A Inglaterra se reerguia após a guerra quando os Christies puderam
finalmente comprar sua primeira casa, em Sunningdale, Berkshire, à qual deram o
nome de Styles. O sucesso da escritora crescia a cada livro, mas pode-se afirmar que
sua carreira se solidificou a partir do sexto, O Assassinato de Roger Ackroyd (1926),
considerado um clássico da ficção policial.
Agatha causou esse tipo de furor outras duas vezes, quando eliminou todas
as personagens de uma história e quando transformou em assassinas quase todas as
de outra.
O maior mistério
No início da carreira de Agatha, o próprio Archibald Christie incentivou-a a
escrever. Talvez fosse essa a saída contra a crise financeira. O problema foi que,
mediante o crescente sucesso da escritora, ela aos poucos se sobrepôs ao coronel,
tornando-se o centro das atenções. E, muitas vezes, quando chegava em casa, ele a
encontrava absorvida em enigmáticos enredos, datilografando sem parar com três
dedos de cada mão. Farto, o coronel começou a procurar "distrações" fora de casa, até
que uma mulher — mais nova que Agatha — chamada Tessa Neele cruzou seu
caminho. Conseqüência: Archibald revelou a amante e pediu o divórcio. Agatha, que
nunca desconfiara do marido, ficou chocada. Para piorar a situação, sua querida mãe
morreu. A Rainha do Crime caiu em desespero, e ocorreu então o que talvez seja seu
maior mistério: ela simplesmente desapareceu.
Durante alguns dias ela foi destaque nos jornais, mas desta vez não pelo
sucesso de um livro. A tensão aumentou quando seu carro foi encontrado com a porta
aberta à beira de um lago, sem nenhum bilhete ou indício que explicasse o caso.
Pensaram em rapto, assassinato e até suicídio. Com o auxílio de quinze mil
voluntários, cães de caça, aviões e tratores para derrubar a mata, 550 policiais
promoveram uma busca.
Um lugar no Guiness
Além de barulhos e cigarros, Agatha detestava as peças e os filmes
baseados em suas obras, apesar de serem produções milionárias estreladas pelos
maiores nomes da época. "Fizeram coisas como tirar Poirot e colocar Miss Marple no
lugar!", declarou enfurecida. "E os clímaces são tão pobres! Podem-se prevê-los. Sinto
um prazer incontrolável quando percebo que não estão fazendo muito sucesso." Para
ela, as únicas exceções são os filmes Testemunha da Acusação e Assassinato no
Expresso do Oriente.
Coisas do destino
Na época em que a escritora comemorava seu 80º aniversário junto com o
80º livro, o jornal Washington Post a descreveu como "uma mulher jovial e animada, de
cabelos brancos, a mente viva e espirituosa, mas com uma intensa timidez que torna
mais fácil imaginá-la arrumando flores numa igreja do que como a rainha mundial das
histórias de crime". Realmente, custa-se a crer, às vezes, que tantas histórias
carregadas de suspense tenham se originado da prodigiosa mente daquela pacata
senhora que costumava criar os enredos na banheira ou em passeios por jardins,
geralmente devorando maçãs.
Apesar de tantos méritos, Agatha Christie morreu com uma frustração: não
ter sido reconhecida por suas poucas obras não-policiais. Na verdade ela escreveu,
sob pseudônimo, narrativas de viagens (resultado das expedições com o marido),
romances melodramáticos e até poemas. Assinando Mary Westmacott, publicou seis
novelas românticas — somente a partir do quarto livro foi descoberto, pelo London
Sunday Times, que a verdadeira autora era simplesmente a Rainha do Crime. As
novelas, raramente vistas nas livrarias brasileiras, são: O Gigante (1930), O Retrato
(1934), A Ausência (1944), O Conflito (1947), A Filha (1952) e A Carga (1956).
Biografia retirada da página de Elvis H. Andrade e Glauco Damas dedicada a Agatha Christie
URL: http://www.geocities.com/Area51/Cavern/3406/index2.htm
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