ZN6 DIA-A-DIA
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INOVANDO NO REPERTÓRIO – Cely Rodrigues toca composições de Beatles, Rod Stewart e Ray Charles, entre outros: “Há o mito de que a harpa só serve para a música erudita”
A hora e a vez dos harpistas
Fimde anoamplia onúmerode exibiçõesdesses músicos,que chegam afaturarR$ 780,00 por1h20deshow
VILA MARIA
Vozes infantis entoam o tradicio-
nal Jingle Bell. Bons velhinhos
de barba e cabelo brancos trazem
o convencional Ho Ho Ho. Ape-
sar de dominado por esses cená-
rios, há também no Natal oportu-
nidade para um filão pouco explo-
rado no mercado musical brasilei-
ro: os harpistas. A clara relação
do instrumento com a época do
ano faz os músicos especializa-
dos faturarem em novembro e de-
zembro. Que o diga a música Ce-
ly Rodrigues, da Vila Maria. “O
número de apresentações dobra
nos fins de ano.”
Ela é harpista há 21 anos e nor-
malmente se exibe três vezes por
semana. Seguindo esse raciocí-
nio, estará ocupada praticamente
em todos os dias de dezembro.
“No ano passado, cheguei a tocar
três vezes em um só dia”, comen-
ta. Especialmente para o Natal,
prepara um repertório de músicas
típicas. Entre Noite Feliz, Pi-
ESTADÃO NORTE
SEXTA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2004 O ESTADO DE S.PAULO
nheirinho de Natal e outras, po-
de ficar “duas horas direto” só
com composições de fim de ano.
Apenas o preço da apresentação
não se altera: R$ 780,00 por 1 ho-
ra e 20 minutos de show.
O pequeno número de harpis-
tas na cidade amplia a oportunida-
de de trabalho. A música Angéli-
ca Vianna, que mantém um fó-
rum sobre o instrumento na inter-
net (www.harpa.us/forum), esti-
ma que atuem em São Paulo cer-
ca de 30 harpistas – apenas quatro
em orquestras sinfônicas. O inte-
resse pelo instrumento é tão pe-
queno que um curso recém-inau-
gurado em uma faculdade da cida-
de atraiu apenas uma aluna.
NÚMEROS
US$ 14 mil 153
Preço de uma harpa concerto,
instrumento que precisa ser
importado pelos músicos.
“Além de pouca divulgação, o
interesse por harpa é limitado pe-
lo alto custo do instrumento”, ava-
lia o harpista Marcelo Penido,
que atua na Orquestra Sinfônica
do Estado de São Paulo. Uma har-
pa concerto (a modalidade clássi-
ca do instrumento) não é encontra-
da no Brasil por menos de US$
14 mil. “Não é qualquer um que
consegue arcar, principalmente
crianças”, completa Penido.
A própria organização de da-
dos sobre a atividade no País é de-
ficiente. Enquanto Angélica Vian-
na contabiliza 153 harpistas em
atuação no Brasil, Penido estima
que apenas 20 atuem como profis-
sionais do instrumento. “O resto é
Número estimado de
harpistas em atuação no País.
Maioria é amadora.
amador”, ou seja, tem outra fonte
de rendimentos. É o caso de Cely
Rodrigues. Além de música, a har-
pista é redatora de dois sites infor-
mativos, mas diz que nos últimos
dois anos se dedicou mais à har-
pa. O relativo sucesso se deve à di-
versificação do repertório: Bea-
tles, Rod Stewart, Ray Charles,
entre outros artistas populares.
“Há o mito de que a harpa só ser-
ve para música erudita. Não é as-
sim”, explica.
ORGANIZAÇÃO
Um dos tópicos de discussão do
fórum de Angélica Vianna é jus-
tamente a organização da “cate-
goria”. “No ano que vem, quere-
8 Apresentação de Cely Rodrigues
Escolas de harpa paraguaia
existem na capital paulista. Há 2
com turmas da versão concerto.
DIVULGACAO
mos criar a Sociedade para o
Progresso dos Harpistas”, diz
Cely, que participa da discussão
na web. Uma das propostas da
sociedade é estimular a criação
de cursos de harpa. Na cidade,
oito escolas de música ensinam
harpa paraguaia (algo como o
violão popular da área) e apenas
duas oferecem formação supe-
rior em harpa concerto.
“Outro entrave é a importação,
muito difícil”, reclama Cely. Ela
comenta que o Brasil não fabrica
o instrumento e o transporte da
harpa demanda “uma complexa
estrutura de engenharia” – cada
conjunto tem mais de cem peças.
Tudo isso, porém, não desanima
os artistas. As apresentações de
dezembro são um exemplo. “Não
há nada comparável aos olhinhos
das crianças brilhando com as mú-
sicas de Natal”, derrete-se Cely.●
no café da manhã d’O Velhão –
De amanhã a segunda, das 9 às
12 horas. Av. S. Inês, 3.000, Mai-
riporã. Informações: 4485-1964.