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CONSIDERAÇÕES SOBRE A

PESQUISA PSICOLINGÜÍSTICA

Luciane Corrêa Ferreira


PRODOC CAPES, Universidade Federal do Ceará
luciucsc@yahoo.com.br
O problema das correspondências
metafóricas

• IDÉIAS SÃO PESSOAS

“Ele é o pai da biologia moderna.”


o pai → a pessoa que teve a idéia

“Essas idéias sucumbiram na Idade


Média.”
idéias → o corpo vivo
O problema de correspondências
metafóricas (Gibbs & Ferreira, inédito)

• Como o leitor vai inferir IDÉIAS SÃO


PESSOAS lendo essas expressões
convencionais?

• Por que pensamos em “idéias” como pessoas


– e não como outra entidade biológica?
Questões: processos inferenciais na
compreensão de metáforas

1. Será que as pessoas acessam a metáfora


conceptual IDÉIAS SÃO PESSOAS como
parte da compreensão do enunciado “Ele é o
pai da biologia moderna”?

2. Será que as pessoas primeiro acessam a MC e


depois utilizam essa informação para deduzir
o significado?
Questões: processos inferenciais na
compreensão de metáforas

3. Que elementos do domínio experiencial


fonte (i.e. PESSOAS) são mapeados
para o domínio alvo (IDÉIAS)?
Problemas sob a perspectiva da
Linguística Cognitiva

• Quantas inferências são acionadas durante a


compreensão da metáfora?

• Será que os ouvintes entendem uma,


algumas ou todas as inferências possíveis
associadas com a MC quando processam uma
expressão metafórica?
RAIVA É UM LÍQUIDO AQUECIDO EM UM
CONTÊINER
- A raiva equivale a uma substância ou a objetos em
um contêiner

“Ela estava cheia de raiva”


- A substância ou objetos saindo de um contêiner
são a expressão do sentimento de raiva pela
pessoa
“Ela explodiu de raiva.”
(Kovecses, 2005: 39)
RAIVA É UM OPOSITOR (em uma briga)

- A raiva é o opositor em uma briga.


“Ela lutou contra a sua raiva.”

- Perder em uma discussão é ter a raiva


controlando você.
“Ela foi dominada pela raiva.”
(Lakoff, 1987)
Questões de pesquisa
Ao ler a metáfora “Ela estava cheia de raiva”, será que o
leitor infere...
1. A inferência consistente que a raiva dentro da
pessoa é a substância ou objetos dentro de um contêiner?
2. A inferência relacionada que a expressão de
raiva pela pessoa é a substância ou objetos que estão
saindo de um contêiner?
3. A inferência não-relacionada que a raiva é o
opositor em uma briga?
4. A inferência não-relacionada que perder em
uma briga é ter a raiva controlando você?
Hipóteses preditivas
• Itens com uma MC, metáfora lingüística e a
inferência consistente, e.g. a expressão
metafórica “Ela estava cheia de raiva”,
combinada com “raiva é uma substância ou
objetos em um contêiner”, receberão escores
mais altos;
• Itens que contêm expressões metafóricas com
diferentes DF, e.g. a expressão “Ela estava
cheia de raiva” combinada com a inferência
“perder em uma discussão é deixar a raiva
controlar você”, derivada da expressão
metafórica “Ela foi dominada pela raiva”, cuja
metáfora conceptual é RAIVA É UM OPOSITOR
(Lakoff, 1987), terão escores mais baixos.
Método

• Sujeitos: 24 alunos de graduação, falantes


nativos, monolíngües de inglês

• 4 DA estruturados por 2 DF

• Esse conjunto de 8 MCs gerou 2 inferências


diferentes cada, expressas por diferentes
expressões lingüísticas
Desenho do experimento

• 4 DA x 2 DF x 2 inferências x 2 (inferência
igual x diferente), gerando 64 itens
distintos

• 2 grupos de estímulos com 12 sujeitos


que receberam cada um teste com 32
itens
Instruções

• “Estamos interessados em suas intuições sobre o


que os falantes acabam por dizer quando fazem
várias afirmações. Você receberá uma lista de
afirmações e será solicitado a julgar se o falante
também acaba por dizer algo mais, além do que
ele ou ela afirmou. Circule a resposta selecionada
em uma escala de 1-7 em que 1 significa NÃO, isto
é, o falante NÃO QUER DIZER (DE MANEIRA
SUBENTENDIDA) tal coisa, e 7 significando SIM,
isto é, o falante QUER DIZER tal coisa.”
Resultados

• Calculou-se as médias para os 4 tipos principais


de estímulos experimentais

• As duas instâncias de inferências não-


relacionadas foram tratadas como uma
categoria
Resultados

• Inferências consistentes: 3.63


(mesma MC, mesmo DF)

• Inferências relacionadas: 3.41


(mesma MC, diferente DF)

• Inferências não-relacionadas: 2.92


(diferente MC, diferente DF)
Resultados

• Sujeitos marcaram com um nr. mais alto


as inferências consistentes e
relacionadas do que as não-relacionadas
(p < 0.05)
Resultados

• As pessoas parecem reconhecer que os


enunciados metafóricos têm significado
relacionado com a MC

• Entender o enunciado metafórico não parece dar


a entender diretamente inferências sobre o DF de
outras MC com o mesmo DA, i.e. RAIVA
Conclusões

• Parece que os leitores percebem as


inferências possíveis acionadas por
expressões metafóricas

• Algumas dessas inferências podem ser


previstas tomando-se como base se elas
são motivadas por uma metáfora
conceptual subjacente consistente com
aquela expressão metafórica
Conclusões
• Os resultados apresentam algumas
evidências preliminares de que as pessoas
inferem pelo menos algumas inferências da
MC para aquele enunciado metafórico

• Entretanto, esses resultados não significam


que as pessoas vão derivar uma ampla
variedade de inferências a partir de uma MC
subjacente ao ler expressões metafóricas
convencionais
Referências

GIBBS Jr, R. The Poetics of Mind: figurative thought,


language, and understanding. New York:
Cambridge University Press, 1994.
LAKOFF, George. Women, Fire and Dangerous
Things. What Categories Reveal about the Mind.
Chicago: University of Chicago Press, 1987.
KÖVECSES, Z. Metaphor: a practical introduction.
New York: Oxford University press, 2002.
Agradecimentos

• À você!

• À CAPES, pela bolsa que possibilitou a minha


estada na University of California, Santa Cruz

• Aos estudantes da UCSC que participaram do


experimento

luciucsc@yahoo.com.br

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