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Breve exposição do “Diálogo sobre

a Retórica” presente na obra


“Fedro” do filósofo grego Platão.
Disciplina: Filosofia da Educação
Professor: Wanderley C. Oliveira
Estagiária: Caroline Martins de Sousa
“A prática da retórica remonta ao círculo de Sócrates,
nascido por volta de 470 a.C. No contexto grego era
usada especificamente para denotar a arte do falar
público em assembleias deliberativas e outros eventos
formais nas polis, principalmente Atenas. Em outras
palavras, exercia-se a retórica com a finalidade de
influenciar as ações das outras pessoas para aquilo que
parecia o melhor para elas mesmas e suas famílias, seus
grupos sociais e políticos.”
O uso da retórica é muito relacionado aos SOFISTAS.
Esses usavam-na em espaços públicos, buscando
instaurar um espaço relativista entre o que era falso e
o que era verdadeiro, chegando a um certo ceticismo.
Platão, ao contrário dos Sofistas, considerava necessário
buscar a verdade essencial das coisas e não simplesmente
aceitar as meras aparências acerca da realidade. Assim, em
sua obra “Fedro” , faz uma critica ao modo dos Sofistas
discursarem, afirmando que tal modo não poderia ser
considerado arte, pois não se embasava na verdade das
coisas, permanecendo apenas nas sombras da realidade.
Platão, discípulo de Sócrates, viveu em Atenas por
volta dos anos 428 a.C. a 348 a.C. Mesmo com o passar
dos séculos, sua filosofia persiste despertando
interesse de pesquisadores e servindo de referência
para estudos acadêmicos, tais como o nosso, em que
tentamos compreender o discurso retórico e de que
modo ele está presente nas salas de aulas.
Pois bem, “Fedro” é tecido
em forma de diálogo, assim
como as outras obras de
Platão. Nesse diálogo
temos Sócrates e Fedro.
Essa obra inicia-se a partir
de uma discussão sobre o
amor, a qual não
contemplaremos neste
estudo. Nosso foco se
concentra no discurso
retórico.
Caros alunos,

Um bom orador precisa de um


conhecimento do que seja justo e
verdadeiro? Do que seja bom ou
belo? Ou só precisa ser persuasivo
demonstrando ser verdadeiro aquilo
que não passa de aparências?
A RETÓRICA E A VEROSSIMILHANÇA

-p. 87 (260ª): A retórica visa persuadir “não com a


verdade, mas com o que aparenta ser verdade”.
- p. 116 (272d-e): o bom orador não precisa “saber a
verdade”, “Muitas vezes, nem convém revelar o que
realmente aconteceu,” mas apenas “o que parece
verdadeiro.”
- Regra da retórica: “O orador deve atentar apenas
no que é convicente, deixando de lado a verdade”
(p.116–273ª). “a verosimilhança tende a dominar o
espírito das multidões em virtude da sua
semelhança com a verdade!”
A RETÓRICA COMO UMA PSICOGOGIA
“Sócrates: Pois bem, não te parece que a
retórica é uma psicogogia, uma arte de
conduzir as almas através das palavras,
mediante o discurso, não só nos tribunais e
locais públicos, mas também em qualquer
espécie de assembleia privada?” (p.90 – 261a-
b). Para isso é importante que o retórico se
atente para duas coisas: 1) os gêneros de
assuntos e 2) os gêneros de almas.
1. A retórica e os gêneros de assuntos (p. 95, 263a-
b): os de natureza duvidosa e os de natureza não
duvidosa.
2. A retórica e os gêneros de almas: a medicina
requer a análise da natureza dos corpos se
quisermos dar-lhes saúde e vigor. Por sua vez, na
retórica, requer-se a análise da natureza da alma se
quisermos infundir nelas nossas convicções.
- Para o retórico é tão importante conhecer os
gêneros de discursos quanto os gêneros de almas,
assim ele saberá qual espécie de discurso é mais
adequado para persuadir a que tipo de alma (p. 113,
271b).
Mas de que maneira iludir é mais
fácil?
Para Platão, iludir é mais fácil quando as
coisas se diferem pouco , assim é mais fácil
passar levemente de uma determinada coisa
para o seu contrário.

“Sócrates – Por isso, se pretendemos iludir


alguém sem nos iludirmos a nós mesmos,
cumpre-nos conhecer com exatidão e em
pormenor as semelhanças e dissemelhanças do
objeto” ( 1986.p.92-93)
Aquele que pretende dominar a arte retórica deve
distinguir os assuntos de natureza duvidosa e os não
duvidosos, exemplos:

*O belo e o justo: assuntos duvidosos

*Prata e ouro: assuntos não duvidosos, quando


ouvimos falar pensamos todos nas mesmas coisas.
Qual dos dois assuntos nos ilude com
mais facilidade?
Para Platão os de natureza duvidosa. Por isso, o
bom orador precisa saber identificar os dois
gêneros e em seguida “saber em que casos o
povo tem dúvidas, e que casos a dúvida não é
possível” (1986.p.96)
Feito isso, o discurso deve ser bem elaborado:

“... todo discurso deve ser formado como um ser vivo, ter o
seu organismo próprio, de modo a que não lhe faltem, nem
a cabeça, nem os pês, e de modo a que tanto os órgãos
internos como os externos se encontrem ajustados uns aos
outro, em harmonia com o todo “ (1986.p. 98)
.
“ Sócrates- Tendo em vista que a função do
discurso consiste na arte de conduzir as almas,
na arte da psicogogia, quem pretender torna-se
um orador de talento deve necessariamente
conhecer quantas são as formas existentes na
alma. Ora há muitas espécies de homens, o que
nos leva a possuir caracteres diferentes” (1986,p.
114)
Assim, além dos gêneros de discursos deve se
classificar os gêneros da alma, buscando qual
discurso se faz necessário para persuadir a alma.

O orador deve saber para quem e onde fala, para


assim direcionar seu discurso, deve ainda saber o
momento de se calar ou de intervir.
Sócrates- “... Se possuís o conhecimento da verdade e
sois capaz de defender, se podeis ir, de viva voz, além
do que escrevestes nos vossos discursos, a designação
de retóricos não vos fica bem, pois melhor vos ficará
uma denominação consentânea com a arte superior a
que vos dedicais.

Fedro- E que designação lhes pretendes dar?

Sócrates – A designação de sábio, Fedro, parece-me


excessiva, pois não se aplica senão aos deuses; mas a
designação de filósofo, ou qualquer outro adjetivo
análogo, seria mais apropriada para designar tais
personalidades.” (1986.p. 129)

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