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Hackerspaces e inovação de base:

um estudo da experiência brasileira


Beatriz Cintra Martins
Pós-Doutoranda PPGCI/IBICT/UFRJ
Supervisão: Profa. Sarita Albagli
Seminário Ciência Aberta, Ciência Cidadã, Ciência Comum
Abril 2018
Hacker
• “Uma pessoa que gosta de explorar em detalhes os
sistemas de programação e suas capacidades, ao
contrário da maioria dos usuários que preferem
aprender só o mínimo necessário”.

• “Um expert ou entusiasta de qualquer tipo. Uma


pessoa pode ser um hacker da astronomia, por
exemplo.”
O que é um hackespace?
• Um espaço em movimento onde tudo pode ser discutido, em que as
pessoas são avaliadas pelo que elas fazem e que demonstra o que pode ser
feito com conhecimento livre e compartilhado.

• Um local onde curiosos e apaixonados por tecnologia se encontram, pode


ser para tomar uma cerveja, jogar ctf ou projetar algo. O importante é
gostar de tecnologia e gostar de compartilhar conhecimento.

• Hackerspace é um lugar de encontros, de amizades, de conversas. E


também de fazer coisas e aprender coisas.
Objetivos
• Geral:
• Mapear e caracterizar os hackerspaces brasileiros,
avaliando suas possibilidades e limites como espaços
alternativos de produção de conhecimento

• Específico:
• Verificar a articulação desses espaços com questões locais
Tokyo Hackerspace

Dispositivo DIY para medição cidadã e autônoma dos


níveis de radiação do meio ambiente após a tragédia
de Fukushima, em 2011
Movimentos de Inovação de Base
• Baseiam-se em formas de organização da sociedade civil (informais
e bottom up)

• Usam estratégias alternativas de produção de conhecimento

• São atores políticos

• Desafiam as direções e formas convencionais de mudança


tecnológica e desenvolvimento
(Smith; Fressoli; Abrol; Arond; Ely, 2017)
Movimentos de Inovação de Base
• Hackerspaces, fablabs e makerspaces são movimentos de
inovação de base porque há considerável atividade externa
às instituições formais e porque suas redes são
comprometidas em explorar as possibilidades sociais de
levar ferramentas para as pessoas.

• Ênfase maior em brincar com a tecnologia, embora existam


alguns projetos voltados para o desenvolvimento
sustentável.
Questões para esses espaços
• O movimento pode se mover além das demonstradas
capacidades de prototipagem e se envolver em processos de
catalisação de transformações profundas?

• Necessidade de se articular com outros movimentos e atores


para que as ferramentas desenvolvidas se insiram numa
perspectiva social mais abrangente
Estrutura de análise
• Contexto – as circunstâncias históricas nas quais o movimento surgiu

• Enquadramento – os sentidos, interpretações e narrativas


compartilhadas

• Espaços e estratégias – a coleção de espaços e arenas – físicos,


organizacionais e cognitivos

• Caminhos – o desenvolvimento do movimento com o passar do


tempo
Enquadramento
• A inspiração na cultura hacker

• Princípios do software e hardware livres

• Valores do conhecimento aberto e da produção colaborativa entre pares (peer to peer)

• Revolução da fabricação digital + crowdfunding = produção personalizada

• Democratização da tecnologia – cidadania tecnológica

• Ética hacker: “desconfie da autoridade – promova a descentralização” (LEVY, 1984)


21 hackerspaces ativos no Brasil em 2017
REGIÕES HACKERSPACES
Calango Hacker Club – Brasília/DF
Centro-Oeste Cora Hacker Clube – Goiânia/GO

0xe Hacker Club - Maceió/AL


Nordeste CG Hackspace – Campina Grande/PB
[ForHacker]space – Fortaleza/CE
Mandacaru Hackerspace – Feira de Santana/BA
Raul Hacker Club – Salvador/BA
Teresina Hacker Clube – Teresina/PI

Área31 – Belo Horizonte/MG


Sudeste Baia Hacker – Itu e Porto Feliz/SP
Carioca Hackerspace – Rio de Janeiro/RJ
Garoa Hacker Clube – São Paulo/SP
Laboratório Hacker de Campinas – Campinas/SP
Maria Lab – São Paulo/SP
Oeste Hacker Clube – Bauru/SP
Rio Hacker Space – Rio de Janeiro/RJ

Hackerspace Maringá – Maringá/PR


Sul Laboratório Hacker – Santiago/RS
Londrina Hacker Club – Londrina/PR
MateHackers – Porto Alegre/RS
Tarrafa Hackerspace – Florianópolis/SC
Pesquisa empírica
• Mapeamento
• Base na lista do Garoa HC e do Hackespaces.org
• Critério da autodenominação

• Questionário
• 21 perguntas abertas e fechadas
• Taxa de resposta de cerca de 75%
• 12 dos 16 respondentes estão desde o início
• Plataforma PiratePad
O que motivou a criação do hackerspace?
RESPONDENTES RESPOSTAS
Todos Produzir coisas em colaboração com
outros
Quase todos Trocar ideias sobre tecnologia
Criar coisas por diversão
Por lazer e/ou entretenimento
Cerca de ⅔ Inventar coisas úteis
Pouco mais da metade Buscar soluções para problemas sociais
ou políticos
Metade Desenvolver protótipos de inovação
Perfil de associado
RESPONDENTES RESPOSTAS
Todos têm Estudantes de graduação
Quase todos têm Estudantes de pós-graduação
Cerca de 4/5 têm Profissionais de TI
Cerca de ⅔ têm Professores universitários
Engenheiros
A metade tem Designers
Pouco menos da metade tem Estudantes de ensino médio
Professores de ensino médio
Profissionais de mídia
Cerca de ⅓ tem Arquitetos
Fontes de financiamento

RESPONDENTES RESPOSTAS
Cerca de ⅔ (11) Contribuição regular de associados
Pouco menos de ⅔ (10) Contribuições esporádicas de
colaboradores

Um quarto (¼) Campanhas de crowdfunding


Um caso Financiamento de ONG
Um caso Financiamento de universidade
Desenvolve atividades e projetos em
colaboração com outras instituições?

RESPONDENTES RESPOSTAS
Três quartos (¾) Universidades
Pouco menos da metade Escolas de ensino médio
Pouco menos de 1/3 Órgãos de governo
Dois Incubadoras de tecnologia
Um Empresa
Infraestrutura técnica e tecnológica

RESPONDENTES RESPOSTAS
Quase todos Computador
Arduino
Quatro quintos (⅘) Kits de desenvolvimento
Cerca de ⅔ Equipamento de som
Impressora comum
Videogame
Pouco mais da metade Servidor
Impressora 3D
Ferramentas de marcenaria
Cerca de ⅕ Fresadora
Tipos de atividades
RESPONDENTES RESPOSTAS
Quase todos Oficinas
Projetos
Três quartos ¾ Encontros sociais
Cerca de ⅔ Sessões de discussão
Pouco mais da metade Cursos
Pouco mais de um terço Protótipos
Um quarto (¼) Hackatons
As atividades e projetos desenvolvidos são
registrados de algum modo?
RESPONDENTES RESPOSTAS
Pouco mais de ⅔ Wikis, sites e blogs
Pouco mais da metade Vídeos
Cerca de 1/3 Redes sociais
Um quarto (¼) Relatórios
Cerca de ⅕ Planilhas
Exemplos de atividades
Atividade Tipos
Oficinas Arduino, Inteligência das Coisas (IoT), criptografia,
robótica, linguagens de programação, marcenaria e
fabricação de cerveja
Projetos Inteligência das Coisas (IoT), games, rede mesh,
transparência de gastos públicos, impressora 3D,
sensor aberto/fechado do espaço, reciclagem de lixo
eletrônico, horta urbana
Protótipos games, automação, bicicleta geradora de energia,
espelho infinito e próteses de baixo custo
Encontros sociais workshop de pizza, churrasco, sarau, festival, cine
debate, festa, a até mesmo acampamento
Sessões de discussão da cultura digital às questões de gênero
Observações relativas às respostas
• Relação com a universidade:
• Perfil dos participantes
• Atividades em parceria
• Tarrafa (SC) e LabHacker (RS) dentro da universidade (UFSC e URI)

• Diferença de fablabs e makerspaces:


• Princípio de autonomia: financeira e de governança
• Mais do que espaço de fazer em conjunto, espaço de estar junto
Existe (m) projeto(s) relacionado(s) a alguma
demanda da comunidade local?
• Seis respostas positivas

• Quatro foram selecionados:


• Laboratório Hacker (Santiago/RS)
• Teresina Hacker Clube (Teresina/PI)
• Calango Hacker Clube (Brasília/DF)
• Baia Hacker (Itu e Porto Feliz/SP)
Teresina Hacker Clube

Peba: Transparência de dados públicos

Criado durante a Open Data Day 2014,


em Teresina
Gastos irregulares de R$ 13 mil com hospedagem em
Teresina, em 2015
Calango Hacker Clube

Projeto Monitora Cerrado 2.0

Começa em 2011, apresentado


na Semana Nacional de Ciência
e Tecnologia - Mudanças
climáticas, desastres naturais e
prevenções de riscos

Retomado em 2017

11 estações de medição de
temperatura e umidade
Baia Hacker

Contracultura: hackear a cultura oficial da cidade

Sarau Hacker (2016/17)


comida, pintura, comunicação, fotografia, música,
arte, criação, design
Festival Lado B (2017)
20 dias em 8 espaços da cidade
cerca de 3 mil pessoas
Laboratório Temporário de Experiências Sensíveis

Plataforma social – Tecnologias sociais


Como é costume com novos nomes e conceitos, a Baia Hacker também
pode ser conhecida como um lab de biohacking, um mitotes, um
escritório de coworking, um fablab, um espaço maker, uma aldeia
tecnoxamã, um café reparo ou mesmo um espaço de louquinhos.

São muitas as tags abertas nas atividades de Pesquisa Aberta então


será sempre uma escolha incompleta definir uma descrição resumida
para as experiências vividas na Baia Hacker. Seguimos com o fluxo que
é melhor, sempre dinâmico.
Limites e possibilidades
• O movimento pode se mover além das demonstradas
capacidades de prototipagem e se envolver em processos de
catalisação de transformações profundas?

• Necessidade de se articular com outros movimentos e atores


para que as ferramentas desenvolvidas se insiram numa
perspectiva social mais abrangente
Limites e possibilidades
• Exemplos de invenção de práticas e tecnologias que tentam
responder a alguns dos desafios contemporâneos
• Não são respostas acabadas, mas processos de experimentação
abertos e contínuos
• Casos do LabHacker e Baia Hacker apresentam resultados mais
efetivos em articulação com questões locais
• Já Calango e Teresina são experimentações em andamento, com
falhas e acertos, que buscam superar problemas locais ou cidadãos
Obrigada!

@biacm

autoriaemrede.wordpress.com/hackerspaces-no-brasil/

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