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Departamento de Letras e Artes (DLA)

Programa de pós-graduação em Letras: linguagens e representações (PPGLLR)


Seminário Interno de Pesquisa (SIP)

O AFETO QUE NÃO OUSOU DIZER O SEU


NOME

Discente: Iago Moura Melo dos


Santos
“[...] os homens fazem a história mas não a história que eles querem
ou acreditam fazer [...].” (PÊCHEUX, 2014[1975], p. 272).

OS HOMENS FAZEM JUSTIÇA, MAS NÃO A JUSTIÇA QUE


ELES QUEREM OU ACREDITAM FAZER.
Introdução
• Poder Judiciário  Jurisdição (civil, criminal, trabalhista, constitucional
etc.);

• Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 132 e Ação


Direta de Inconstitucionalidade nº 4277, julgadas em 2011;

• Art. 1.723 do Código Civil de 2002;

• Art. 226 da Constituição Federal de 1988;

• Da união estável “homoafetiva” ao casamento “homoafetivo”.


Objetivo
Elaborar uma ausculta dos silêncios que cortam a Juris-dicção (sítio de
significância), de modo a observar a materialidade semântico-
discursiva do objeto ideológico “sexo” na língua do direito.
Dispositivo teórico-analítico
• Análise de discurso materialista, cf. Pêcheux (1997[1969],
2014[1975], 2015[1983], 2013[1984], 1994) e Orlandi (1984,
2006[1988], 1997[1992], 1993, 1996, 2007[1999], 2017);

• Courtine (2006);

• Authier-Revuz (1980[1971]);

• Taguieff (1984, 1992).


Discussão e resultados (1)
• Autoria e interpretação judicial: a produção de uma autoria líquida;

• Um furo polêmico na ordem do discurso tipicamente autoritário do jurídico?

• Os discursos sobre a interpretação judicial: ativismo e autocontenção


(minimalismo) judicial;

• A injunção do Judiciário à autoria;

• A “evidência” de que a tomada de posição do Judiciário deve ser ativista, em


relação ao julgamento sob análise, aparece como já-lá, pelo efeito do
interdiscurso;
Discussão e resultados (2)
(RD1) […] a procedência da ação com base na [sua] literalidade
significa adotar uma hermenêutica a la Montesquieu […].

(RD2) […] um judiciário razoavelmente independente dos


caprichos, talvez momentâneos, da maioria, pode dar uma
grande contribuição à democracia; e para isso em muito pode
colaborar um judiciário suficientemente ativo, dinâmico e criativo
[...].
Discussão e resultados (3)
• União estável “homoafetiva” e sujeito “homoafetivo”. Neologização e
lexicalização;

• Tentativa de superar o preconceito mediante a performatividade da língua;

• Funcionamento da “língua limpa” do politicamente correto conjugada ao


silêncio-censura da “língua-de-espuma”: uma questão de eugenia lexical;

• A “foraclusão” do sexo: o afeto não diz o seu nome, o sexo, de que é


substituto por processo de metáfora.
Discussão e resultados (4)
(RD3) [...] calha anotar que o termo “homoafetividade”, aqui utilizado
para identificar o vínculo de afeto e solidariedade entre os pares
ou parceiros do mesmo sexo, não constava dos dicionários da língua
portuguesa.

(RD4) “Há palavras que carregam o estigma do preconceito.


Assim, o afeto a pessoa do mesmo sexo chamava-se
'homossexualismo'. [...]”.
Discussão e resultados (5)
• A reescritura pelo silêncio: os sentidos de “família” e de “sujeito homossexual” se
deslocam;

• Opera, no sujeito, a injunção ao Um, pelo que se garante, via funcionamento da


ideologia, a sua interpelação enquanto jurisdicionado;

• A língua imaginária do direito: uma língua sólida, unívoca, politicamente


limpa;

• O real da língua do direito: uma língua líquida, cheia de silêncios, equívoca,


polissêmica, eugênica, de consistência heterogênea (suja).
Discussão e resultados (6)

A negociação do sentido literal: como podem o


Estado e o Direito conviver com o não-Um, se é a
ilusão do Um que valida sua existência, pela
promessa contratualista de segurança, produzindo
coesão social?
O Amor que não ousa dizer seu nome

Bateu-lhe à porta ao acaso, um dia.


E ele, inebriado pela cotovia
(que paira à janela, mas depois some...),

sentiu crescer, súbito, na alma, uma fome


de algo que, até então, desconhecia.
Desejo... estranheza... culpa... agonia...!
Desce aos umbrais, na angústia que o consome.

...porém, depois das lágrimas enxutas,


chamou a cotovia, deu-lhe frutas,
e sorveram, um no outro, a própria essência.

E ambos, nessa atração de semelhantes,


Num cingir de músculos, os amantes
Ergueram-se aos portais da transcendência.

OSCAR WILDE
GRATO!
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