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ONDAS DE SUPERFÍCIE E AGITAÇÃO MARÍTIMA

 Ondas que se propagam no seio de um meio são designadas ondas materiais;


exemplos: ondas sísmicas P e S; ondas acústicas. Ondas a propagar-se na
superfície entre dois fluidos são designadas de ondas de superfície.
 Ondas de superfície que se propagam na interface entre duas camadas do mesmo
fluido, com densidades diferentes, designam-se ondas internas.
 Ondas causadas por forças perturbadoras periódicas, como a maré induzida
pela atracção gravitacional do Sol e da Lua, têm períodos coincidentes com os
dessas forças. Outras ondas são causadas por perturbações não-periódicas.
Existem duas forças restauradoras que mantêm a progressão das ondas de
superfície:
• força gravitacional exercida pela Terra;
• tensão superficial.
 Para ondas com comprimento de onda inferior a 1,7cm a principal força
restauradora é a tensão superficial – são as ondas capilares.
 No caso de ondas com comprimento de onda superior a 1,7cm a principal força
restauradora é a força da gravidade – são as ondas superficiais gravíticas.
ONDAS DE SUPERFÍCIE E AGITAÇÃO MARÍTIMA

tipo de onda
causa
energia

Esquemas dos diversos tipos de ondas de superfície, mostrando a relação entre


o comprimento de onda, a frequência da onda, período, a natureza da força
perturbadora e a quantidade relativa de energia em cada tipo de onda.
ONDAS DE SUPERFÍCIE E AGITAÇÃO MARÍTIMA

Tipos de ondas progressivas

ONDA TRANSVERSAL: a partícula move-


ONDA LOGITUDIONAL: a partícula se para a cima e para baixo na direcção
move-se para a frente e para trás na direcção perpendicular à transmissão da energia. Estas
da transmissão da energia. Estas ondas ondas transmitem a energia apaenas através
transmitem a energia através de todos os de sólidos (na radiação electromagnética não
estados da matéria há movimentos de partículas....)

ONDA ORBITAL: a partícula move-


se em trajectórias orbitais. Estas
ondas transmitem a energia ao longo
da interface entre dois fluidos com
densidades diferentes (líquidos ou
gases)
ONDAS DE SUPERFÍCIE E AGITAÇÃO MARÍTIMA
As ondas superficiais gravíticas representam um fenómeno de interacção entre o
oceano e a atmosfera e são geradas directamente pelo vento.
A propagação de ondas na superfície do mar corresponde a uma sucessão de cristas,
os pontos mais elevados da superfície, e de cavas, as depressões da superfície.

Registo de ondas típico, ou seja,


registo da variação do nível do mar
em função do tempo, numa posição
fixa

Consideram-se dois tipos de ondas


superficiais gravíticas:
Vagas (“wind waves”) - ondas geradas por
ventos locais, desordenadas e de pequena
amplitude.
Ondulação (“swell”) - ondas de maior
amplitude, geradas a grandes distâncias,
da ordem de milhares de quilómetros, e
formação do “swell”
com uma forma mais regular.
ONDAS DE SUPERFÍCIE E AGITAÇÃO MARÍTIMA
Características de uma onda
declive da onda (H/L)
crista

amplitude
(A) altura da onda (H)

distância

1 comprimento de onda (L) cava

Perfil vertical de duas ondas oceânicas idalizadas sucessivas, mostrando as suas dimensões lineares
e forma sinusoidal (teoria linear das ondas de superfície):
•comprimento de onda, L - distância entre duas cristas (ou duas cavas) consecutivas; a grandeza
k=2/L é número de onda e representa o número de ondas por unidade de comprimento;
•altura da onda, H - distância vertical entre uma crista e uma cava; amplitude da onda, A=H/2.
•declividade da onda, H/L - razão entre a altura e o comprimento de onda; para declividades
acima de 1/7, a onda torna-se instável e pode rebentar.
ONDAS DE SUPERFÍCIE E AGITAÇÃO MARÍTIMA

deslocamento vertical Características de uma onda

período da onda (T)

Deslocamento vertical de uma onda oceânica idalizada num ponto fixo, em função do
tempo:
•período da onda, T - tempo entre a passagem de duas cristas sucessivas (duas cavas)
num local fixo; frequência, f=1/T - número de ondas que passam num local fixo por
unidade de tempo; frequência angular, ω=2f=2/T - número de ciclos por unidade
de tempo (rad/s).
ONDAS DE SUPERFÍCIE E AGITAÇÃO MARÍTIMA
Movimento das partículas de água numa onda

movimento da onda
crista Movimento das partículas de
altura da onda
cava água numa onda.
nível médio do mar Em cima: movimento em ondas
de pequena amplitude em águas
profundas, mostrando
decréscimo exponencial do
diâmetro dos percursos orbitais
o movimento da água é negligível abaixo de ½ comprimento de onda (base da onda)
com a profundidade.
Em baixo: movimento em
ondas de águas pouco
direcção de propagação da onda
profundas, mostrando o
nível médio do mar achatamento das órbitas
próximo do fundo
menor que L/2

(profundidades inferiores a L/2).


profundidade

movimento
“para a frente
e para trás”
perto do
fundo
comprimento de onda (L)
ONDAS DE SUPERFÍCIE E AGITAÇÃO MARÍTIMA
Movimento das partículas de água numa onda
direcção de propagação da onda
movimento da
água

Movimento em ondas de grande amplitude em


águas profundas, mostrando a deriva das ondas.
Objectos flutuantes (o pato!) desenham órbitas
circulares quando a onda passa, mas avançam
porque o movimento na crista é mais rápido do
que na cava. No entanto as partículas de água
seguem uma órbita circular.
ONDAS DE SUPERFÍCIE E AGITAÇÃO MARÍTIMA
Velocidade de propagação de uma onda

 A velocidade de propagação de uma onda, ou velocidade de fase, pode ser


obtida a partir do tempo que um comprimento de onda demora a passar num ponto
fixo,
c = L/T=ω/k
 A velocidade de fase de uma onda é dada pela relação de dispersão

gL  2πd 
c tanh   (*)
2π  L 
• águas profundas: d>L/2, tanh (2d/L)1 c=(gL/2 )1/2; L=gT2/2 ;
• águas pouco profundas: d<L/20, tanh (2d/L) 2d/L  c=(gd)1/2;
• águas intermédias: L/20<d<L/2  relação de dispersão completa (*).
ONDAS DE SUPERFÍCIE E AGITAÇÃO MARÍTIMA

 Em geral, as ondas geradas pelo vento não têm formas sinusoidais simples; quanto
maior a declividade maior será a diferença relativamente a uma onda sinusoidal; a
forma de ondas com grandes declividades aproxima-se de uma curva trocoidal
(cicloidal)  Teorias não-lineares de ondas.
deslocamento

nível médio da água distância

Perfil vertical de duas ondas trocoidais sucessivas


ONDAS DE SUPERFÍCIE E AGITAÇÃO MARÍTIMA
Interferência entre ondas

Interferência construtiva
- aumenta a altura da onda Resultados

Interferência destrutiva
- diminui a altura da onda

Interferência mista
- padrão variável
ONDAS DE SUPERFÍCIE E AGITAÇÃO MARÍTIMA
Rebentação das ondas
ONDAS INTERNAS

As ondas internas propagam-se


na interface de separação entre
massas de água com densidades
diferentes. Uma perturbação
causada por um navio ou por um
submarino em movimento, é
suficiente para provocar estas
ondas. As marés, o vento e as
correntes, em conjunto com
variações da profundidade do
mar, também são factores
responsáveis pela geração de
ondas internas.
ONDAS INTERNAS
As ondas internas propagam-se
igualmente através do movimento das
cristas, em que a água mais densa se
aproxima da superfície e das cavas, em
que a água menos densa se aproxima
do fundo. Devido a este movimento de
sobe e desce dentro do mar, partículas
que estão a boiar à superfície, tais
como detritos orgânicos e manchas de
petróleo derramado pelos navios vão
convergir e acumular-se por cima das
cavas das ondas internas e vão-se
afastar das regiões sobre as cristas.
Desta forma consegue-se observar as
ondas internas.
Estas figuras representam a propagação
de ondas internas na termoclina
sazonal no oceano costeiro.
ONDAS INTERNAS
Superfície
do mar

Onda interna de 1ª ordem. O nodo no centro, onde a interface entre camadas não tem
movimento vertical e a água acima e abaixo do nodo movem-se apenas
horizontalmente, enquanto que a água nos extremos da bacia se move verticalmente.

Superfície
do mar

Onda interna de segunda ordem. Os dois nodos, a 1/4 e 3/4 do comprimento da bacia,
onde a interface entre camadas não tem movimento vertical e a água acima e abaixo do
nodo movem-se apenas horizontalmente, enquanto que a água nos extremos e no centro
da bacia se move na vertical.
ONDAS INTERNAS

Superfície
do mar

Onda interna a propagar-se na interface entre duas camadas: as partículas amarelas a


meio da coluna de água movem-se apenas na vertical à medida que a onda passa; as
particulas rosa na superfície e no fundo movem-se apenas na horizontal à medida que a
onda passa. Em cada localização, as partículas na superfície e no fundo da coluna de água
movem-se sempre em sentidos opostos.
Zonas de convergência, onde as partículas de água se agrupam e zonas de divergência,
onde as partículas se afastam, seguem a onda. Zonas de convergência localizam-se
sempre onde a camada de água é mais espessa enquanto zonas de divergência se
encontram onde as camadas de água são menos espessas.
ONDAS INTERNAS
 A observação das faixas de acumulação de detritos e de manchas de petróleo
permite detectar e localizar as ondas internas e seguir o seu movimento.

Ondas internas ao largo da Costa Vicentina,


Grupo de ondas internas a propagar-se para o sudoeste da Península Ibérica
estuário do rio Derwent, na Tasmânia
(Austrália). O efeito das ondas é visível pelas
faixas lisas sobre a superfície, produzidas por
convergência sobre as cavas das ondas.
ONDAS INTERNAS
 Outro efeito do movimento vertical das ondas internas é a alteração da rugosidade
da superfície do mar. Sobre uma crista a superfície do mar apresenta-se mais
rugosa e sobre uma cava a superfície do mar apresenta-se mais lisa. Estes padrões
de rugosidade são detectados através de imagens obtidas a partir de satélites.

Fotografia tirada a partir do space Fotografia tirada a partir do space


shuttle mostrando a refracção e shuttle mostrando ondas internas
convergência (aceleração e geradas pela maré a passar através
Fotografia tirada a partir do space encurvamento) de ondas internas ao do estreito de Gibraltar. A massa
shuttle mostrando ondas internas ao largo da costa da Somália, terrestre na parte superior é
largo Nazaré (costa oeste de provavelmente devido a variações Espanha e a massa terrestre na parte
Portugal). Nesta fotografia pode-se da topografia do fundo. inferior é Marrocos.
observar quatro grupos de ondas.
ONDAS INTERNAS
 Na atmosfera também existem ondas internas, que se propagam na região de
separação entre o ar mais denso junto à superfície da Terra e o ar menos denso,
que está por cima. No ar as consequências das ondas internas são mais
espectaculares do que no oceano pois moldam formas e padrões de nuvens com
aspectos muito curiosos.

Padrões de nuvens organizadas em bandas, gerados Padrão de nuvens particularmente espectacular,


por ondas internas. O ar sobe com a crista das ondas produzido por uma onda interna em rebentação na
e arrefece, produzindo a condensação do vapor de atmosfera, sobre a Floresta Negra, na Alemanha. A
água e a formação das nuvens e desce com a cava, rebentação ocorre porque a velocidade das
provocando o seu aquecimento e a evaporação da partículas sobre as cristas se torna superior à
água das nuvens. As cristas das ondas tornam-se velocidade de propagação das ondas.
então visíveis sob a forma de faixas de nuvens com
a forma de novelos de algodão.
ONDAS DE KELVIN E ONDAS APRISIONADAS À COSTA

A circulação oceânica leva água para o equador


A a oeste e para o pólo a este.
A
O centro de altas pressões progride para o pólo
Equador
a este e para o equador a oeste.
A No equador o centro de altas pressões move-se
para este.
A A

oeste este

A circulação oceânica leva água para o pólo a


oeste e para o equador a este.
B B O centro de baixas pressões progride para o pólo
a este e para o equador a oeste.
B
Equador No equador o centro de baixas pressões move-se
para este.

B B
Temos establecido um movimento ondulatório a
propagar-se ao longo da costa – onda de Kelvin
oeste este
ONDAS DE KELVIN E ONDAS APRISIONADAS À COSTA

Ondas de Kelvin:

- propagam-se para o equador nas fronteiras oeste e para o pólo nas este dos oceanos
- maior amplitude junto à costa
- amplitude decresce exponencialmente para o largo (só são sentidas até ~100 km da costa)
- o período é de alguns dias até poucas semanas
- detectam-se nos marégrafos e causam inversões das correntes costeiras
- c.d.o. na ordem de 100 km, mas variável conforme o padrão do vento
- no Equador temos um caso especial....
ONDAS DE KELVIN E ONDAS APRISIONADAS À COSTA

Evidência da presença de ondas de Kelvin


na costa do Chile/Peru e SW da P.Ibérica.

Correlação entre correntes em vários pontos


medidos durante vários meses. Valores
filtrados para remover variações com menos
de um dia (p.ex. marés).
As variações na corrente propagam-se para
Sul a ~200 km/dia

Correlação entre nível do mar em


vários marégrafos medidos durante
vários meses. Valores filtrados para
remover variações com menos de um
dia (p.ex. marés).
As variações na corrente propagam-se
para Sul a ~300 km/dia
ONDAS DE KELVIN E ONDAS APRISIONADAS À COSTA

Movimento perpendicular à Há ganhos e percas de A rotação induzida pelas


costa em situações de vorticidade relativa devido variações de vorticidade
upwelling e downwelling. ao declive da plataforma relativa puxa a água para fora
Estes movimentos cruzam continental da costa nuns sítios e para a
as batimétricas. costa noutros. O resultado é
uma propagação deixando a
costa à direita. Um observador
A onda resultante é
fixo vê a propagação de uma
aprisionada à costa, mas não
cai exponencialmente para o onda.
largo. Mostra um segunda
região de grande amplitude
sobre o bordo da plataforma
ONDAS DE KELVIN E ONDAS APRISIONADAS À COSTA

Exemplos de propagação de ondas de Kelvin aprisionadas à costa na


Austrália em Jan. Fev. 1989 `(esquerda) e Jul. 1997 (direita). Valores de
nível do mar filtrados de modo a remover variações inferiores a três dias.

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