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Sou servo do senhor Eniálio e Não amo quem, vinho-bebendo junto à cheia cratera,
das Musas o amável dom conheço. de discórdias e da guerra lacrimosa fala,
* * * mas quem, os esplêndidos dons das Musas e de Afrodite
Com um escudo um saio ufana-se, o qual junto à moita, misturando, faz menção da amável alegria.
arma irrepreensível, deixei sem querer,
mas salvei-me. Que me importa aquele escudo?
Que vá! Arranjo outro, não pior.
(Giuliana Ragusa)
(Paula da Cunha Corrêa)
Elegia de caráter hedonístico: Simônides de Ceos, 19W
Uma coisa a mais bela disse o homem de Quios:
“como a geração das folhas, tal também a dos homens”; οἵη περ φύλλων γενεή, τοίη δὲ καὶ ἀνδρῶν
poucos dos mortais, tendo-o recebido pelas orelhas,
colocaram no peito; pois a esperança está em cada um • Ilíada, VI.145-149:
dos homens, a qual se enraíza no peito dos jovens.
E enquanto um mortal tiver a flor mui-amada da juventude, Grande Tidida, por que saber queres a minha ascendência?
tendo frívolo o ânimo, pensa muitas coisas irrealizáveis; As gerações dos mortais assemelham-se às folhas das árvores,
pois não tem a expectativa de envelhecer nem de morrer, que, umas, os ventos atiram no solo, sem vida; outras, brotam
na primavera, de novo, por toda a floresta viçosa.
nem, enquanto esteja são, tem a preocupação da doença.
Desaparecem ou nascem os homens da mesma maneira.
Tolos, cujo pensamento está assim disposto e não sabem
que o tempo da juventude e da vida é pouco
(Carlos Alberto Nunes)
para os mortais. Mas tu, aprendendo isso, até o fim da vida
sê decidido, dando prazer à alma com coisas boas.
(Teodoro Rennó Assunção)
Mimnermo, 1W e 2W
O que é a vida? O que é o prazer, sem a dourada Afrodite? Folhas que brotam na estação multiflorida
De primavera, quando ao sol vicejam,
Que eu morra, quando estas coisas já não me interessarem:
Gozamos por um tempo breve, tais e quais,
o amor secreto, as suaves ofertas e a cama, Da flor da juventude, sem saber
que são flores da juventude sedutoras Do bem, do mal divino. As Queres torvas se
Perfilam: da velhice horrível uma
para homens e mulheres. Mas quando chega a dolorosa 5
É dona, a outra doma a morte. A fruta nova
velhice, que faz até do homem belo um homem repulsivo, Dura um minuto, quando o sol no solo
tristes preocupações sempre lhe moem os pensamentos Se irradia. Ao desfecho do período, a morte
É preferível a estar vivo. Os males
e já não sente prazer em contemplar a luz do sol,
Amiúdam no íntimo, a morada se arruína
mas é odiado pelos rapazes e desonrado pelas mulheres. E a carestia mais abjeta humilha.
Assim áspera foi a velhice que o deus impôs. 10 Alguém, na impotência do que almeja – um filho – ,
Pelos baixios da terra alcança o Hades;
Doença mata o coração de alguém, e não
(Frederico Lourenço)
Há de ser a quem Zeus não conceda horrores.
(Trajano Vieira)
O jambo na poética antiga: Aristóteles e
Horácio
• “A poesia tomou diferentes formas, segundo a diversa índole particular
[dos poetas]. Os de mais alto ânimo imitaram as ações nobres e dos mais
nobres personagens; e os de mais baixas inclinações voltaram-se para as
ações ignóbeis, compondo, estes, vitupérios, e aqueles, hinos e encômios.”
(Aristóteles, 1448b 24)
• “[...] o metro jâmbico (que ainda hoje assim se denomina porque nesse
metro se injuriavam [iámbizon]). De todo modo que, entre os antigos, uns
foram poetas em verso heroico, outros o foram em verso jâmbico.”
(Aristóteles, 1448b 29)
• “Foi a raiva quem armou Arquíloco do jambo que a este é próprio: depois
de tal pé, adaptaram-no os socos e os grandes coturnos por mais
apropriado para o diálogo, capaz de anular o ruído da audiência, visto ter
sido criado para a ação.” (Horácio, 79-82)
Critérios de definição do jambo
• Metro: A pesar do jambo dar nome ao gênero e ser o metro mais
característico, nota-se uma variedade métrica com presença de
trímetros jâmbicos, tetrâmetros trocaicos, epodos. Jambo: uma sílaba
breve seguida de uma longa (u-).
• Matéria: Invectiva, zombaria, mas também ocorrem outros temas
com adoção de tons menos satíricos. São característicos: o grotesco, o
obsceno, o escatológico.
• Performance: Monódica com acompanhamento musical,
principalmente do aulo.
• Autores principais: Arquíloco, Semônides de Amorgos, Hipônax.
Arquíloco: 215W, 114W, 172W, 328W*
E nem jambos, nem diversões me interessam.
A mente de um devasso e de uma puta estroina
é uma só. A dupla alegra-se com troco,
* * * em ser parafusada, em ser transpenetrada,
em ser bem arrombada, em ser libertinada,
Não gosto do grande general, nem do que anda a largo em ser assujeitada, em ser bem arregaçada,
passo,
em ser lubrificada, em ser bem devorada.
Um montador apenas não os satisfaz,
nem do que é vaidoso de seus cachos, nem do bem mas sempre têm prazer em esticar um pau
barbeado, atrás de outro pau do grupo fodedor,
mas que me seja pequeno e com pernas tortas testando varas mais cumpridas e mais grossas
para cair de boca, vasculhando todo
de se ver, plantado firme sobre os pés, cheio de coragem. seu interior, arregaçar pela abertura
o báratro aterrador e avançar
* * * direto até o meio lúbrico do umbigo.
À puta que o pariu com o lascivo em cio
e junto a larginal estirpe dos passivos!
Pai Licambes, como pensaste tal coisa?! Que as Musas sejam nosso lote e mente lúcida,
Quem privou-te da razão sabendo o quanto do deleite aí reside,
que antes tinhas firme? Agora pareces ser motivo sabendo que esse júbilo jamais é falso,
de muito riso para os cidadãos.
pois é o prazer que aflora. Não o sabe quem
o prazeroso busca no prazer mais vil.
(Paula da Cunha Corrêa) (Trajano Vieira)
Hipônax, 26 Aloni
Ininterrupta e bovinamente, um deles,
dia após dia, atum ao molho vinagrete
como um eunuco de Lampsaco devorando,
comeu o patrimônio. Então talhava pedra
nos montes, onde mastigava comedidos
figos, pão de cevada: ceia dos escravos.
(Trajano Vieira)