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CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS

Prof.ª Ana Maria Blanco Montiel Alvarez

TEXTOS BASE

MARINO, Francisco Paulo de Crescenzo. Classificação dos contratos, in


PEREIRA JR., Antonio Jorge; JABUR, Gilberto Haddad (coord.). Direito
dos Contratos. São Paulo: Quartier Latin, 2006, pp. 21-50.

ALVAREZ, Ana Maria Blanco M. Expressões da racionalidade contratual


contemporânea (cooperação), in JOBIM, Marco Félix (org,). Inquietações
jurídicas contemporâneas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013, pp.
21-38.
1. O QUE VAMOS ESTUDAR?
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS

 Isto é, categorias contratuais:


“modelos abstratos formulados de acordo com critérios
simples de classificação, normalmente compondo
dicotomias ou tricotomias (v.g., contratos onerosos ou
gratuitos, contratos unilaterais, bilaterais ou plurilaterais).
As categorias contratuais correspondem a nível maior de
abstração, se comparadas aos tipos contratuais (compra e
venda, leasing, mútuo, empreitada etc.), e a nível menor de
abstração, quando confrontadas com o contrato enquanto
categoria mais alta, espécie de fato jurídico [negócio
jurídico]” MARINO, p. 22.
2. POR QUE VAMOS ESTUDAR?
 Toda e qualquer classificação no direito pode ser
útil ou inútil; não se trata de exercício de
erudição;

 No caso da classificação dos contratos, categorizá-


los auxilia na sistematização das normais
jurídicas aplicáveis a cada categoria, facilitando o
tratamento jurídico do contrato in concreto.
2.1 E QUE NORMAS SÃO ESSAS
APLICÁVEIS ÀS CATEGORIAS
CONTRATUAIS?
 (i) normas reguladoras dos negócios jurídicos;

 (ii)normas reguladoras do direito das


obrigações;

 (iii) normas reguladoras dos contratos em


geral;

 (iv) normas reguladoras das categorias a que o


contrato pertence;

 (v) normas reguladoras do tipo contratual em


questão.
3. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À TIPICIDADE

 Podemos falar em 3.1 contratos típicos: “são


aqueles cujo tipo ou modelo jurídico encontra-se
previsto em normas legislativas de um dado
sistema jurídico” MARINO, p. 23.

 Exemplos: compra e venda, tipo regulado pelos


artigos 481 a 532, CC; ou a doação, tipo regulado
pelos artigos 538 a 564, CC.
 E também podemos falar em 3.2 contratos
atípicos: aqueles “cujo modelo jurídico não se
encontra fixado em lei”, MARINO, p. 24.

 Exemplos: contrato de leasing, contrato de


resseguro, contrato para utilização de “flats”,
contratos de viagem (“pacote turístico”) etc.
A PROPÓSITO, É BOM LEMBRAR DO CÓDIGO
CIVIL...

“Art. 425. É lícito às partes


estipular contratos atípicos,
observadas as normas gerais
fixadas neste Código.”
OS 3.2 CONTRATOS ATÍPICOS
PODEM SER:

 (i) atípicos por insuficiência do tratamento


legislativo existente. Exemplo: leasing e
resseguro.
 (ii) atípicos puros por serem inteiramente
diversos dos tipos legislativos, resultantes da
importação de tipos de outros sistemas jurídicos.
Exemplos: factoring e franchising.
 (iii) atípicos mistos, por se utilizarem de um ou
mais tipos de referência.
OS CONTRATOS ATÍPICOS MISTOS
SUBDIVIDEM-SE EM:
 (iii.a) mistos de tipo  (iii.b) mistos de tipo
modificado, “oriundos múltiplo, “estruturados
de um tipo legislativo” por meio da combinação
que funciona como de mais de um tipo de
referência, mas indo referência”, podendo
muito além dos seus haver prestações dos
limites. Exemplo: tipos de referências em
contrato para utilização lados contrapostos.
de “flats” ou “apart- Exemplo: contrato de
hoteis” (vai muito além viagem (ou pacote
de um contrato de turístico), que envolve
locação). transporte, alimentação,
hospedagem, prestação
de serviços etc.
3.3 AS TEORIAS PELAS QUAIS SE DEFINE O
TRATAMENTO JURÍDICO DOS CONTRATOS ATÍPICOS

 Teoria da absorção: “preconiza a identificação de um tipo de


referência predominante, cuja disciplina será aplicada para
regular o contrato atípico”
 Teoria da combinação: a partir da identificação dos tipos de
referência, prescreve a combinação do tratamento jurídico dos
tipos identificados
 Teoria da analogia: “entende os contratos mistos como unidades
e não meras somas de grupos de normas, sustentando que as
regras pertinentes a tipos de referência somente podem ser
aplicadas por analogia”
 Teoria da criação: “prevê, à falta de um tipo de referência e na
hipótese de não ser possível a analogia, a criação de uma solução
concreta, através da interpretação complementadora, com base
nos princípios e cláusulas gerais tais como a boa-fé e a equidade”.
 Conforme MARINO, p. 26.
3.3.1 QUAL TEORIA DEVE SER ESCOLHIDA?

Em 1º lugar, as teorias mencionadas não são


mutuamente excludentes, podendo ser
coordenadas;

Em 2º lugar, deve-se escolher a teoria que melhor


se adaptar à natureza e à estrutura do contrato
atípico concretamente considerado.
3.3.2 COMO APLICAR A(S) TEORIA(S)
ELEITA(S)?
 para regular os contratos atípicos puros a teoria da criação é
mais adequada;

 aos contratos atípicos mistos de tipo modificado a teoria da


absorção coordenada junto da teoria da criação, conforme o
caso, pode propiciar uma solução adequada;

 aos contratos atípicos mistos de tipo múltiplo tanto a teoria da


combinação, quanto a teoria da criação pode trazer solução
satisfatória, devendo-se escolher uma ou outra conforme o caso
concreto;

 em todos os casos, a teoria da analogia é útil, predominando o


entendimento doutrinário de que a aplicação das regras dos tipos
de referência sempre se dá por meio de uma raciocínio de
analogia.
3.3.3 E SE NENHUMA DAS REGRAS DOS TIPOS DE
REFERÊNCIA PROPICIAR SOLUÇÃO ADEQUADA?

Conforme MARINO (p. 27), deve-se recorrer às demais


fontes de regulação, quais sejam:

 (i) regras livremente estipuladas pelas partes, no


exercício da sua autonomia privada;

 (ii) regras e princípios gerais reguladores do


negócio jurídico, das obrigações e dos contratos
em geral;

 (iii) aplicação do princípio da boa-fé objetiva;

 (iv) usos (em função interpretativa e integrativa).


4. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À FORMAÇÃO
DO CONTRATO

 4.1 Contratos formados por adesão

 4.2 Contratos negociados (por meio de proposta e


aceitação ou por declarações conjuntas)

 4.3 Contratos consensuais

 4.4 Contratos reais


4.5 UTILIDADE JURÍDICA DESSA
CLASSIFICAÇÃO

 Em sendo o contrato formado por adesão, aplica-


se o disposto nos artigos 423 e 424, CC, sem prejuízo
das disposições do CDC (Lei 8.078/90) quando a
relação for de consumo.

 Em sendo contrato negociado,


(i) formado por proposta e aceitação: aplica-se o disposto
nos artigos 427 a 435, CC, sem prejuízo de dispositivos
pertinentes do CDC, conforme o caso;
(ii) formado por declarações negociais conjuntas: assume
especial relevância os princípios da confiança e da boa-
fé objetiva, uma vez que as tratativas são intensificadas
e, muitas vezes, vinculantes.
 Em sendo o contrato consensual, poderá ser
por adesão ou negociado, de qualquer forma
centrando seu tratamento na questão do
consentimento expressado;

 Em sendo o contrato real, exceção que


compreende alguns poucos tipos contratuais
(mútuo, comodato e depósito), centra-se seu
tratamento na tradição da coisa.
5. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À FORMA

5.1 Contratos não-solenes, “têm forma livre,


podendo ser realizados [...] por qualquer forma
considerada instrumento de exteriorização
suficiente para tornar socialmente reconhecível o
conteúdo do negócio jurídico”, MARINO, p. 30.

Exemplos: a maior parte das hipóteses de compra e


venda de coisa móvel; prestação de serviço (por
diarista, por médico etc.); transporte público etc.
A PROPÓSITO, É BOM LEMBRAR DO CÓDIGO
CIVIL...

Art. 107. A validade da declaração


de vontade não dependerá de
forma especial, senão quando a lei
expressamente a exigir.
5.2 Contratos solenes, aqueles cuja “forma é
taxativamente fixada em lei, ou seja, é vinculada,
constituindo elemento essencial do negócio jurídico
(forma ad substantian)”, MARINO, p. 30.

Exemplos:
 (i) art. 108, CC

 (ii) art. 541, CC

 (iii) art. 819, CC

 (iv) art. 807, CC


5.3 UTILIDADE JURÍDICA DESSA
CLASSIFICAÇÃO

 Definir as consequências da não observação da


forma:

 Se o contrato é não-solene, as principais


consequências dizem respeito à prova do contrato
ou sua interpretação, dependendo da forma
(livre) escolhida;

 Se o contrato é solene, a principal consequência


é a INVALIDADE do contrato (art. 104, III c/c
art. 166, IV, CC) ► hipótese de NULIDADE do
negócio jurídico.
6. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO FATOR
TEMPO

 6.1 Contratos de execução instantânea,


“aqueles nos quais a execução (realização das
prestações contratuais) dá-se de uma só vez e em
uma única prestação”, embora admitida a divisão
da prestação em parcelas.

 6.2 Contratos de duração, “cuja nota essencial


diz com o fato de ao menos uma das prestações
não se exaurir instantaneamente, demandando
certo lapso temporal”
 MARINO, p. 31.
6.1 CONTRATOS DE EXECUÇÃO
INSTANTÂNEA SUBDIVIDEM-SE EM

 6.1.1 Execução  6.1.2 Execução


imediata: “a prestação diferida: “caracterizam-
é realizada no momento se pelo fato de ao menos
da conclusão do acordo uma das prestações ser
ou logo após”. efetuada em tempo
posterior ao da
 Ex.: compra e venda à vista; conclusão do contrato”.
 Ex.: compra e venda com
pagamento do preço
(prestação) em parcelas.

 MARINO, p. 31.
6.2 CONTRATOS DE DURAÇÃO
SUBDIVIDEM-SE EM:

 6.2.1 Execução  6.2.2 Execução


continuada: periódica (ou de trato
contratos nos quais “a sucessivo): aqueles nos
prestação (muitas quais “a prestação é
vezes uma atividade) realizada mediante
se prolonga no tempo, repetições periódicas”.
sem interrupção”.
 Ex.: contratos de
 Ex.: contrato de trabalho, fornecimento ou de
contrato de sociedade, prestação de serviços com
contrato de distribuição. periodicidade fixa (de
energia elétrica, telefonia,
etc.)

 Conforme MARINO, p. 31.


6.3 UTILIDADE JURÍDICA DESSA
CLASSIFICAÇÃO
 Nos contratos de execução instantânea, a sua
extinção por resolução ou resilição, produz efeitos ex
tunc (retornam as partes ao status quo ante);

 Nos contratos de duração impõe-se o princípio da


irretroatividade dos efeitos produzidos, e a sua
extinção por resolução ou resilição operam ex nunc
(“daqui por diante”).

 A revisão do contrato (por qualquer de seus


fundamentos teóricos) e a resolução por onerosidade
excessiva (art. 478, CC) aplicam-se aos contratos de
execução instantânea diferida, e aos contratos
de duração.
7. CLASSIFICAÇÃOQUANTO ÀS
PRESTAÇÕES E SUA RECIPROCIDADE

 7.1 A lateralidade nos negócios jurídicos e


nos contratos: critérios diversos

7.1.1 Lateralidade no NJ

É preciso ressaltar que o critério para


estabelecer se o NJ é unilateral, bilateral ou
plurilateral é a quantidade de agentes
envolvidos, declarando a sua vontade
(“declaração negocial”) que produzirá efeitos
jurídicos conforme o NJ perpetrado. O contrato,
por óbvio, é um NJ bilateral ou plurilateral.
7.1.2 Lateralidade no contrato

Já o critério que serve à classificação de um


contrato como unilateral, bilateral ou plurilateral
diz respeito aos efeitos jurídicos produzidos frente
aos contratantes.
7.2 CONTRATO UNILATERAL

 UNILATERAL é o contrato que estabelece


obrigações para uma só das partes contratantes.
A marca característica do contrato unilateral é a
inexistência de dependência e correspectividade
entre prestação e contraprestação; há prestação,
que se coloca apenas em relação a um dos
contratantes.

 Exemplo: doação.
7.3 CONTRATO BILATERAL

 É BILATERAL o contrato no qual ambas as


partes assumem prestações, uma frente a outra,
ocupando concomitantemente a condição de
credor e devedor, estabelecendo-se entre os
contratantes prestação e contraprestação,
direitos e deveres.

 Exemplo: contrato de compra e venda.


7.3.1 O
PROBLEMA DO CONTRATO
BILATERAL IMPERFEITO

 São assim compreendidos aqueles “contratos que


não geram, tipicamente, obrigações para ambas
as partes, (classificando-se, a priori, como
unilaterais), mas nos quais a bilateralidade de
obrigações pode eventualmente surgir ao longo da
execução” (MARINO, op. cit., p. 34). Isto é, são
imperfeitos os contratos que iniciam unilaterais e
que, ao longo de sua execução, se transformam
em bilaterais. Essa classificação não é pacífica na
doutrina.

Exemplos: doação modal ou com encargo; ou mandato que inicia


gratuito, mas se torna oneroso.
7.4 SINALAGMA CONTRATUAL
 Dizer que prestações são sinalagmáticas é dizer
que prestação e contraprestação são correlatas,
isto é, interdependentes. Ou, nas palavras de
Mario Júlio de Almeida Costa, reconhecer “um
nexo ou sinalagma, significando que a obrigação
de cada uma das partes constitui a razão de ser
da outra.” [Direito das obrigações, 9ª ed..,
Coimbra: Almedina, 2004, p. 325-326.].

 O sinalagma pode ser genético ou funcional.


7.4.1 SINALAGMA GENÉTICO
 Será genético “Quando esse nexo se refere ao
momento da celebração do contrato, quer dizer, só
surge a obrigação de um dos contratantes se
surgir a do outro”. Exemplo dado por Mario Júlio
é de um contrato pelo qual A se compromete a
praticar fato ilícito mediante retribuição de B,
como a prestação que recai sobre A é inválida,
obviamente não “nascerá” a contraprestação de
B.
7.4.2 SINALAGMA FUNCIONAL
 Funcional é o sinalagma pelo qual “a
reciprocidade ou contrapartida das prestações se
manifesta e [se] releva durante a vida do
contrato, designadamente quanto à
simultaneidade do cumprimento, ou seja, a
execução por uma das partes encontra-se
condicionada à execução pela outra.”. São
exemplos de contratos com sinalagma funcional
os contratos de locação, cujas prestação e
contraprestação são interdependentes ao longo da
execução do contrato (o locatário paga o aluguel
todo mês porque todo mês dispõe do imóvel). O
mesmo se dá em contratos de trabalho.
7.4.3 OBSERVAÇÕES QUANTO AOS
CONTRATOS SINALAGMÁTICOS

 MARINO chama atenção ao fato de que se tem


compreendido por contratos bilaterais os
contratos que, para além de haver prestação e
contraprestação de parte a parte contratante, há
correspectividade e interdependência, ou
reciprocidade entre prestação e contraprestação.
Assim, quando a doutrina refere bilaterais,
normalmente pressupõe a perspectiva
sinalagmática do contrato.
7.5 CONTRATO PLURILATERAL
 Fruto da contribuição de Tulio Ascarelli, ao defender
concepção contratualista das sociedades empresariais.
 Essa categoria se expressa nas seguintes e principais
peculiaridades.
 Em primeiro lugar, na possível participação de mais
de duas partes, o que não é o mesmo que dizer “dois
contratantes ou mais”. Um contrato de compra e
venda pode ter mais de um comprador e mais de um
vendedor, e por isso se pode dizer que há mais de dois
contratantes, mas ainda será um contrato que envolve
duas partes. No contrato de sociedade há uma
verdadeira pluralidade de partes, pode haver cinco,
dez ou cem sócios, diz Ascarelli, os quais
corresponderam a cinco, dez ou cem partes, sendo
impossível a sua divisão em duas partes ou dois
grupos.
7.5 CONTRATO PLURILATERAL
(continuação)
 A consequência prática dessa perspectiva está na
segunda peculiaridade do contrato plurilateral: todas
as partes desta subespécie de contrato são titulares de
direitos e obrigações – como sói ocorrer a todos os
contratos –, mas esses direitos e obrigações não se
colocam de uma parte frente à outra, e sim de cada
uma das partes para com todas. Esta característica do
contrato plurilateral está intimamente ligada a outra,
de fundamental relevância: “À pluralidade
corresponde a circunstância de que os interêsses
contrastantes das várias partes devem ser unificados
por meio de uma finalidade comum; os contratos
plurilaterais aparecem como contratos com comunhão
de fim”. A representação geométrica de um contrato
plurilateral se dá pela disposição das partes em
círculo. (BLANCO ALVAREZ, op. cit., p. 27.)
7.5 CONTRATO PLURILATERAL
(continuação)
 A finalidade comum, que expressa a essencialidade da
colaboração entre as partes, se dá em vista do objetivo
pelo qual a sociedade foi constituída, evidenciando
que o contrato plurilateral tem uma função
instrumental, sendo tal função também outro aspecto
peculiar dessa categoria. [...] Essa atividade ulterior é
o fim último, o escopo, o objetivo do contrato que
viabiliza a sociedade. Cumprindo a sua função
instrumental, o contrato plurilateral regula a
utilização dos bens a que se refere e articula os
direitos e deveres das partes, ao longo da vida do
contrato de sociedade, buscando o alcance do fim
colimado. Mas se deixa de ser cumprida essa função, o
contrato perde seu sentido, e a dissolução da
sociedade se impõe como consequência. (BLANCO
ALVAREZ, op. cit., p. 27)
7.6 UTILIDADE JURÍDICA DESSA CLASSIFICAÇÃO
(unilateral, bilateral e plurilateral)
 Se unilateral, aplicam-se as disposições dos artigos 114,
136, 137, 392, 1ª parte, 480, CC, sem prejuízo de outras
atinentes à matéria contratual geral. NÃO se aplica,
todavia, os arts. 476 e 477, CC. Por entendimento
doutrinário, não se aplicam as disposições pertinentes ao
art. 475, CC.

 Se bilateral, aplicam-se as disposições pertinentes aos


artigos 392, 2ª parte, 475, 476 e 477, CC, sem prejuízo de
outras atinentes à matéria contratual geral.

 Se plurilateral, a aplicação de qualquer dispositivo legal


ou solução jurídica deve levar em conta a finalidade comum
que marca tal contrato.
7.7 TODO CONTRATO UNILATERAL É
GRATUITO E TODO BILATERAL É ONEROSO?

 É comum haver confusão entre unilateralidade e


gratuidade, e, portanto, a compreensão de que
todo contrato unilateral é necessariamente
gratuito, como também é comum pensar que
bilateralidade tem a ver com onerosidade.
 Contudo, para Antunes Varela [Direito das
obrigações], nem sempre há correspondência
entre unilateralidade – gratuidade ou
bilateralidade – onerosidade.
 Para bem compreender a questão, é preciso
compreender o que é oneroso e o que é gratuito.
8. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO FLUXO
PATRIMONIAL

 8.1 CONTRATOS ONEROSOS “são aqueles em


que a prestação de cada uma das partes é
realizada a título oneroso, isto é, a título de
sacrifício patrimonial (também chamado ônus
econômico) suportado para receber uma
vantagem”, sem se confundir com a
“correspectividade de prestações”. (MARINO, op.
cit., p. 38).

 Exemplos: compra e venda; locação de imóvel


residencial urbano; prestação de serviços etc..
 8.2 CONTRATOS GRATUITOS “são aqueles
em que um dos contratantes realiza prestação a
título gratuito, ou seja, sem receber vantagem
alguma.

 Exemplos: doação, comodato ou outra espécie


contratual a título gratuito (advocacia pro bono).

 Para MARINO, os contratos gratuitos podem ser


subdivididos em 8.2.1 Contratos interessados e
8.2.2 Contratos desinteressados.
8.2 CONTRATOS GRATUITOS (continuação)
 8.2.1 Contrato  8.2.2 Contrato
[gratuito] [gratuito]
interessado: o desinteressado: é o
contrato é realizado por contrato realizado por
interesse econômico. Em pura deliberalidade e
si, ele é gratuito para com a clara intenção de
uma das partes, mas beneficiar o outro
tem por objetivo futuro contratante.
contrato oneroso.  Exemplos: doação,
 Exemplos: transporte comodato etc..
para atrair presença de
turistas, ou envio de
periódicos por cortesia.
8.3 UTILIDADE JURÍDICA DESSA
CLASSIFICAÇÃO (gratuito ou oneroso)

 A tutela do adquirente a título gratuito é menor


em comparação ao adquirente a título oneroso;
 A responsabilidade de quem realiza a prestação
gratuitamente é menor;
 Inaplicabilidade dos dispositivos pertinentes aos
vícios redibitórios e à evicção frente aos contratos
gratuitos.
 São aplicáveis aos gratuitos, também chamados
de “benéficos”, as disposições dos artigos 114,
136, 137, 295, 2ª parte, 392, 1ª parte, 480, CC.
 São aplicáveis aos onerosos tudo quanto não há
ressalva de aplicabilidade exclusiva dos
gratuitos.
8.4 RETOMANDO A QUESTÃO 7.7: unilateralidade
– gratuidade E bilateralidade – onerosidade.
Para Antunes Varela é possível um contrato ser:
 unilateral, mas oneroso. Exemplo do autor: mútuo
retribuído, no qual se estipula obrigações apenas ao
mutuário, e por isso unilateral, mas há uma
atribuição patrimonial em favor do mutuário que
parte do mutuante, expressando a equivalência entre
os proveitos econômicos de parte a parte. OU
 Bilateral, mas gratuito. Exemplo do autor: doação
modal ou com encargo. ATENÇÃO: compreender
assim significa reconhecer o encargo como uma
contraprestação!
Judith Martins-Costa discorda, afirmando que todo
contrato oneroso é bilateral!
8.5 CONJUGANDO ONEROSIDADE,
GRATUIDADE E TERCEIRO

 É possível, ainda, que um contrato seja gratuito


para uma das partes, mas oneroso para outras. É
o caso dos contratos a favor de terceiro, mais
expressivamente os de garantia em favor de
terceiro. Há uma correspectividade e, portanto,
onerosidade entre A e o Banco, gratuitamente em
favor do crédito de um terceiro (B).
8.6 UTILIDADE JURÍDICA DESSA
CLASSIFICAÇÃO

 Compreendendo-se a necessária correspondência


entre unilateralidade e gratuidade de um lado, e
bilateralidade e onerosidade de outro, é possível
aplicar aos gratuitos toda a matéria pertinente
aos unilaterais; e aos onerosos, a matéria
pertinente aos bilaterais.
9. SUBCLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
ONEROSOS (COMUTATIVOS E ALEATÓRIOS)

 Os contratos onerosos podem ser subclassificados,


segundo a equivalência entre a vantagem de uma
parte e o sacrifício de outra e a distribuição do
risco contratual, em:

 9.1 Contratos aleatórios

 9.2 Contratos comutativos


9.1 CONTRATOS ALEATÓRIOS
 “São aqueles em que uma ou ambas as partes
assumem o risco de que a prestação não se realize ou
se realize defeituosamente (do ponto de vista
quantitativo ou qualitativo)” (MARINO, op. cit., p.
41). Regulam-se principalmente pelos arts. 458 a 461,
CC.
 Pode haver:
 9.1.1 contratos naturalmente aleatórios. O risco da
inexistência de uma das prestações é inerente a tais
contratos. Ex.: jogo e aposta.
 9.1.2 contratos naturalmente comutativos
transformados em aleatórios. Em razão da vontade
das partes, há incerteza quanto a uma das prestações.
Ex.: compra e venda de safra futura.
9.2 CONTRATOS COMUTATIVOS
 São o oposto dos aleatórios; não há incerteza
quanto a um ou ambas as prestações; nenhuma
das partes assume risco desproporcional à
contrapartida esperada.

 Exemplos: compra e venda; locação de imóvel;


etc.. A maior parte dos contratos típicos e atípicos
são comutativos.
9.3 UTILIDADE JURÍDICA DESSA
CLASSIFICAÇÃO

 Em primeiro lugar, é preciso ressalvar que nem


todos os ordenamentos jurídicos romano-
germânicos preveem a categoria dos contratos
aleatórios (por exemplo, Alemanha), ou, ainda, se
preveem, não dispensam tratamento
sistematizado (como na Itália).
 Tradicionalmente, a doutrina costuma negar aos
contratos aleatórios a aplicabilidade dos
seguintes institutos: lesão, vício redibitório,
eviccção, resolução por onerosidade excessiva,
resolução por inadimplemento.
9.3.1 INUTILIDADE PRÁTICA DESSA
CLASSIFICAÇÃO?
 Na esteira dos estudos do direito italiano, é preciso
verificar: (1) o risco efetivamente assumido; e (2) a conduta
das partes contratantes. Há casos em que não se pode
excluir a aplicabilidade dos institutos jurídicos geralmente
inaplicáveis aos contratos aleatórios.
 Junqueira de Azevedo, por exemplo, sustenta
aplicabilidade da lesão aos contratos aleatórios;
 Ver Enunciados 366 e, mais especialmente, 440, das
Jornadas de Direito Civil: “é possível a revisão ou resolução
por excessiva onerosidade em contratos aleatórios, desde
que o evento superveniente, extraordinário e imprevisível
não se relacione com a álea assumida no contrato”
9.3.2 CONTROVÉRSIA ENTRE PERSPECTIVA
COMERCIALISTA E CIVILISTA

 Os juristas que integraram a I Jornada de Direito


Comercial, sob coordenação de Fabio Ulhoa
Coelho (que defende abertamente o projeto de
Código Comercial em tramitação no legislativo
nacional), redigiram o Enunciado 35:

“Não haverá revisão ou resolução dos


contratos de derivativos por imprevisibilidade
e onerosidade excessiva (arts. 317 e 478 a
480, Código Civil).”
10. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO
ELEMENTO PESSOAL

 Em atenção ao elemento pessoal (ou subjetivo),


podemos classificar os contratos em:
 10.1 PERSONALÍSSIMOS: “são aqueles em que
a consideração da pessoa do contratante é, para o
outro, motivo determinante de sua conclusão.”
Exemplos: mandato, empreitada, sociedade,
contrato de trabalho etc..
 10.2 NÃO-PERSONALÍSSIMOS. Ao contrário
dos personalíssimos, a pessoa do parceiro
contratual não é motivo determinante para a
contratação. Exemplo: compra e venda de uma
lata de coca-cola.
10.3 UTILIDADE JURÍDICA DESSA
CLASSIFICAÇÃO

 Como regra, aplica-se:


 a) infungibilidade das prestações (247, CC);

 b) impossibilidade de execução específica (249,


CC);
 c) impossibilidade de ceder a posição contratual
ou realizar subcontrato;
 d) anulabilidade por erro quanto à pessoa (139,
II, CC);
 e) extinção do contrato pela morte do contratante
(ver, por exemplo, art. 626, CC).
11. CLASSIFICAÇÃO QUANTO AO CRITÉRIO
EMPRESARIALIDADE
 11.1 CONTRATOS EMPRESARIAIS são aqueles assim
caracterizados em razão: (i) da qualidade das partes; (ii) do
objeto; (iii) do contexto em que operam; (iv) da
insensibilidade às questões pessoais do empresário. A tais
contratos NÃO se aplicam as disposições do CDC, por
exemplo.

 11.2 CONTRATOS NÃO-EMPRESARIAIS (ou “contratos


existenciais”, como refere Junqueira de Azevedo): todos os
contratos que dizem respeito à subsistência do indivíduo,
tais como, contratos de trabalho, consumo, locação imóvel
residencial, fornecimento energia elétrica etc..
11.3 UTILIDADE JURÍDICA DESSA
CLASSIFICAÇÃO

 Os contratos empresariais devem ser interpretados a


partir de algumas premissas (não absolutas): (1)
igualdade formal e material entre as partes, e
consequente equilíbrio entre as prestações; (2)
conhecimento técnico ou profissional a respeito do
objeto do contrato; (3) expertise empresarial quanto à
finalidade do contrato; (4) acentuado dever de
diligência; (5) domínio dos usos mercantis
atinentes ao objeto do contrato e sua finalidade.

 Ver FORGIONI, Paula. A interpretação dos negócios empresariais no novo


Código Civil Brasileiro. Revista de Direito Mercantil Industrial,
Econômico e Financeiro, v. 42, 2003, pp. 7-38. Ver também MARTINS-
COSTA, Judith. O exercício jurídico disfuncional e os contratos
interempresariais. Revista do Advogado (São Paulo), v. 96, 2008, pp. 48-
58.
12. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À FUNÇÃO
ECONÔMICO-SOCIAL
 12.1 O que é função econômico-social (Emilio
Betti): a finalidade jurídica e econômica para a qual
se volta o contrato, finalidade essa reconhecida
socialmente, relacionada ao exercício da autonomia
privada e tipificadora do negócio jurídico.

 12.2 Espécies
 12.2.1 Contratos que instrumentalizam relações
patrimoniais familiares (ex.: pacto antenupcial)
 12.2.2 Contratos de troca (ex.: compra e venda)
 12.2.3 Contratos de colaboração ou cooperação (ex.:
comissão, agência, distribuição, sociedade, parceria
etc.)
 12.2.4 Contratos de prevenção de riscos ou
previdência (ex.: previdência privada, seguro,
constituição de renda)
12. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À FUNÇÃO
ECONÔMICO-SOCIAL (continuação)

 12.2.5 Contratos de conservação (ex.: depósito)


 12.2.6 Contratos de crédito ou bancários (ex.:
conta corrente com ou sem limite de crédito,
cartão de crédito, mútuos etc..)
 12.2.7 Contratos que constituem direito reais de
gozo (ex.: constituição de usufruto, uso, habitação
ou servidão)
 12.2.8 Contratos de garantia
 A) garantia real: penhor, anticrese ou hipoteca
 B) garantia pessoal: fiança.
12.3 UTILIDADE JURÍDICA DESSA
CLASSIFICAÇÃO

 Ao identificarmos a função econômico-social do


contrato podemos encontrar e aplicar as
disposições pertinentes ao seu tipo, ou, em sendo
atípico, facilitamos o trabalho de aplicação de
uma das teorias pertinentes aos contratos
atípicos.

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