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A ovinocultura e

as alternativas para contornar a


estacionalidade da produção de
forrageiras

Wendell Guimarães
Graduando do Curso de Zootecnia - UFU
O que é a estacionalidade da
produção de forrageiras?
• É a alternância do crescimento de plantas forrageiras
com a estação fria e/ou seca, quando as plantas
forrageiras diminuem ou paralisam o ritmo do
crescimento.
• Autores como: WERNER, PEDREIRA e FURLAN,
mostraram que a produção de plantas forrageiras no
Brasil concentra-se em torno de 80% no período
quente e chuvoso(Out. a Março).
Porque contornar essa
estacionalidade?
• Pois a baixa produção de forragens durante os meses
de Abril a Setembro tem sido apontada como um dos
fatores que mais contribui para a baixa produtividade
dos rebanhos, sendo responsável por:

 Perda de peso do rebanho;


 Déficit na taxa de ovulação das matrizes;
 Queda da produção de leite nas ovelhas com cria ao pé;
 Maior tempo para os cordeiros chegarem à condição de abate;
Principais causas da estacionalide:
• Baixas temperaturas noturnas, nas
regiões dos trópicos e subtrópicos;
A redução da atividade da amilase retarda a hidrólise e a translocação
do amido, que se acumula nos cloroplastos, reduzindo a fotossínte e, por
conseguinte, resulta num crescimento lento.

• Déficit hídrico;
À medida que o conteúdo de água do solo diminui, a célula encolhe
cada vez mais e as paredes relaxam, ocasionando a perda de turgidez.
Sendo assim, há limitação não apenas a dimensão das folhas individuais,
mas também o número de folhas de uma determinada planta.

• Curtos fotoperíodos;
Exemplificando:

• BRYAN & SHARPE(1965) apresentaram dados sobre a


taxa de crescimento diário do Capim Pangola no sudeste
Australiano:
No verão: 80,7 Kg de MS/ha/dia
No inverno: 2,24 Kg de MS/ha/dia

PS: Resultados semelhantes foram encontrados no IZ de


Nova Odessa – SP.

• Então porque a Austrália, que possui condições de


temperatura muito semelhantes de produção de
forrageiras ao Brasil é o 2º maior produtor mundial de
carne ovina?
ALTERNATIVAS:

• Adoção de pastejo diferido;


• Uso de espécies forrageiras resistentes às
condições de “inverno”;
• Suplementação de “inverno” com
forragens conservadas(feno e silagem),
resíduos agroindustriais;
• Irrigação.
Pastejo diferido
• Também chamado de Protelado, consiste em reservar
ao final do verão pastagens a serem oferecidas no
período de inverno. É de baixa produtividade, pois a
qualidade da forrageira diminui sensivelmente com o
aumento do diferimento.
Uso de espécies forrageiras resistentes
às condições de “inverno”
Consiste na utilização de uma pastagem que cresce
durante o “verão” e resiste à seca, geadas e outras
condições de “inverno”. As variedades testadas diferiram
muito quanto ao grau de resistência à geadas de um
local para o outro, além de ser muito baixa a
produtividade das plantas no “inverno”, o que conduz a
um sistema de baixa produtividade.

Ex: Paspalum Nicorae


Suplementação de “inverno” com
forragens conservadas(feno e
silagem) e resíduos agroindustriais
• Tende para o aproveitamento máximo do elevado
potencial produtivo que as plantas forrageiras
apresentam. Já que, segundo FURLAN(1977), quando a
forragem no verão não é consumida ou colhida através
de processos de conservação, as perdas de forragens
podem variar de 55 a 70%. Assim, se utilizados esses
processos, haveria redução no custos de produção e o
número de animais produzidos na mesma área seria o
dobro, além das vantagens na menor idade de
reprodução e abate, entre outras.
Feno
• Consiste na conservação de forragens através da
desidratação(de 80% de água para 15-20%);
• É palatável, nutritivo e fonte de vitaminas A e D. Um
quilo de feno pode substituir três quilos de forragem
verde ou silagem de milho;
• Suplementação que era pouco utilizada no Brasil, mas
vem crescendo em função de ser um processo simples
e econômico;
• Depende do estado do tempo, sendo as chuvas
altamente prejudiciais ao feno quando da sua secagem.
• Para a escolha da forrageira, deve-se
considerar alguns aspectos:

1. Valor nutritivo (Nível proteíco, Ca, P, Nutrientes Digestíveis Totais, que


representa a digestibilidade da matéria seca);

2. Espécie forrageira (Leguminosas são mais ricas em proteínas que as


gramíneas, mas suas folhas são frágeis e suas hastes são resistentes, enquanto
gramíneas produzem mais MS);

3. Idade da planta (A planta mais nova produz feno mais rico em proteínas e
minerais, porém mais pobre em fibras, sendo mais palatável e digestível. O
rendimento é tanto menor e qualidade é melhor quanto mais nova a planta);

4. Relação caule/folha (As folhas são mais palatáveis, digestíveis e ricas


em nutrientes que o caule, além de serem mais fáceis de serem fenadas);

5. Fertilidade do solo (A colheita para fenação retira muitos nutrientes,


como N, P, K, Ca e S, o que poderá comprometer os próximos cortes se não
houver a reposição desses nutrientes no solo);

6. Produção de MS e capacidade de rebrota (Depende da


fertilidade e umidade do solo e capacidade de rebrota da planta, em função da
permanência dos meristemas apicais).
• As forrageiras mais indicadas são as
gramíneas do gênero Cynodon (Tifton,
Coast-Cross);

A cor verde indica a


riqueza de caroteno,
importante na
reprodução.
Processos para fenação:
• Execução: manualmente ou através de mecanização;

• Armazenamento: Fenis, depósitos;


• A secagem deve ser completa no período de 24 horas
em média de exposição ao Sol;

• Observar o ponto de feno(métodos do sal ou da torção);

• O armazenamento deve ser feito em local coberto, seco


e ventilado. O feno mal desidratado armazenado pode
apresentar desenvolvimento de fungos à altas
temperaturas, o que prejudica o consumo e a sanidade
das ovelhas.
Silagem
• Consiste na conservação de forragens em estado
verde pela fermentação controlada com certo grau de
umidade.
• Possui diversas vantagens, como:

1. Não depende do estado do tempo;


2. Torna as forragens armazenadas mais palatáveis e digestíveis;
3. Possibilita o aproveitamento de toda a planta;
4. Permite manter, por UA, um maior número de ovelhas durante todo o ano;
5. Baixa os custos com alimentação pois diminui a necessidade de
concentrados.

• Em contrapartida, há algumas restrições, como:

1. Exige maior emprego do capital com construções, equipamento e


combustível;
2. Requer trabalho intenso nas ocasiões de corte e carregamento do silo;
3. Fornece um alimento incompleto, pela baixa quantidade de proteínas e
minerais;
4. A distribuição diária aos animais implica em custos de mão-de-obra;
Preparo do Silo de Superfície:

• Corte e
trituração da
forrageira;

• Utilização de 7% de aditivos de elevado teor de MS para


extrair umidade da silagem. Ex: Fubá, casca de soja.
• Cobertura do solo com palhas, para evitar o contato direto
com o solo. Não é indica a utilização de lonas, pois evita a
drenagem dos líquidos da silagem(efluentes);
• Formação de camadas de 30cm e compactação a cada
uma adicionada;

• Abertura de valetas para fixação da lona;


• Cobertura com terra;
Tipos de Silo:
• Silo Trincheira
Menor custo de construção; é
de fácil carregamento e
descarregamento. Porém a
compactação deve ser feita
preferencialmente com trator e a
área coberta é maior.

• Silo Aéreo
Requer menor área para
construção e há menor perda de
material, porém é de alto custo.
Tipos de silo:
• Silo Cisterna:
Menor perda do material
ensilado e de fácil
carregamento. Porém é
de alto custo de
edificação e o
descarregamento é
trabalhoso;
• Silo Superfície
É mais barato e de
construção simples.
Entretanto, acarreta
maior perda de material
ensilado.
• As forrageiras devem ser cortadas quando o teor de MS
for de 26 a 38%;
• Os pedaços devem ser triturados de 3-5cm, pois
favorece a compactação e aumenta a superfície de
contato, acelerando a fermentação;
• O silo deve ser cheio em 24 horas, e compactado a
cada 20 a 30 cm;
• A silagem está bem fermentada se apresentar cor verde-
amarelada, cheiro agradável, textura firme e pH próximo
de 3,8.
• O milho, o sorgo e o capim elefante são as forragens
mais utilizadas.
• O fornecimento aos animais deve ser gradativo, até
atingir 8% do peso vivo, para que haja adaptação ao
alimento.
• Embora as silagens produzidas unicamente com milho
ou sorgo sejam considerados alimentos de alta
qualidade do ponto de vista energético, as mesmas
deixam a desejar no quesito Proteína Bruta. Assim,
recomenda-se a adição de 20% de Leucena na silagem,
a qual possui 18-20% de PB.
Resíduos agroindustriais
• Cevada úmida e seca(alto teor protéico);
• Resíduos de maçã e uva(fonte energética);
• Indústria canavieira – melaço, levedura e bagaço de
cana;
• Palhas de milho, arroz, entre outros.

Palha de arroz
Bagaço de cana-de-açúcar
• O bagaço de cana, por exemplo, deve sofrer tratamento
químico para melhorar seu aproveitamento na
alimentação animal, já que cru tem baixo valor nutritivo e
baixa palatabilidade.
• A finalidade do tratamento é a hidrólise, causando o
rompimento da ligação entre a lignina(expulsa do trato
gastrointestinal) e a celulose(consequentemente melhor
aproveitada como fonte de energia).
• O tratamento consiste na amonização, através da
adiação de uréia. Esta incrementa a digestibilidade do
material e pode substituir 35% da proteína necessária.
Irrigação
• Consiste no fornecimento controlado de água às
forrageiras no período de déficit hídrico. Complementa a
precipitação natural e pode enriquecer o solo com a
deposição de elementos fertilizantes.
• ANDRADE et al.(1971) mostraram que a técnica de
irrigação de pastagens, associada à adubação, durante
o “inverno” mostrou aumento de 20 a 70% na produção
sobre a pastagem sem irrigação; o que não foi suficiente
para equilibrar as produções de “verão” e “inverno”. Já
em pesquisa utilizando somente a irrigação, não houve
favorecimento no crescimento da planta de modo a
permitir cortes nesse período. Isso demonstra que na
região do Brasil Central o principal fator que provoca a
estacionalidade da produção de forrageiras é as baixas
temperaturas noturnas.
Conclusões
• Para se contornar a estacionalidade de
produção de forrageiras, deve-se procurar
reduzir as perdas de forragens durante o
período favorável ao crescimento das
mesmas e, posteriormente, elevar o nível
de intensificação de produção, para
ampliar a produtividade.
Referências Bibliográficas:
• PEIXOTO, Aristeu Mendes. PASTAGENS -
Fundamentos da Exploração Racional. 2ª Edição.
Piracicaba: FEALQ, 1994. Pp 533 a 565;
• SANTOS, Rinaldo. A criação da cabra e da ovelha no
Brasil. 1ª Edição. Uberaba. Editora Agropecuária
Tropical. 2004. Pp 218 a 323
• DRUMOND, Luis César Dias; AGUIAR, Adilson de Paula
Almeida. Irrigação de pastagem. 1ª Edição. Uberaba.
Editora FAZU. 2005. Pp 115 a 133.
• Revista Brasileira de Ovinos e Caprinos – O Berro.
Edições: 66, 68, 71, 72, 76, 92, 100, 101 e 140

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