Principais escritores: Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro
O Orfismo constitui o primeiro movimento
propriamente moderno. Inicia-se em 1915, com a revista Orpheu, que aglutinou alguns jovens insatisfeitos com a estagnação da cultura portuguesa. De idéias futuristas, entusiasmados com as novidades trazidas pelas mudanças culturais postas em curso com o século XX, defendiam a integração de Portugal no cenário da modernidade européia. Para tanto, pregavam o incoformismo e punham a atividade poética acima de tudo. Fernando Pessoa é a grande figura da geração, seguido de perto por Mário de Sá- Carneiro, Alfredo Pedro Guisado, Santa Rita Pintor, Armando Cortes-Rodrigues e Almada Negreiros, este último autor de um romance, Nome de Guerra, uma das raras obras em prosa numa geração primordialmente poética. De Orpheu ainda sairia um segundo número, em 1915, mas o terceiro, anunciado para o ano seguinte, não chegaria a vir a público. Fernando Antônio Nogueira Pessoa, nasceu em Lisboa, em 13/06/1888. Órfão de pai aos cinco anos, é levado para Durban (África do Sul), onde faz o curso primário e secundário com excepcional brilho. Em 1905, regressa a Portugal e matricula- se na Faculdade de Letras de Lisboa; assiste às aulas por algum tempo, mas acaba abandonando os bancos escolares para se tornar correspondente comercial em línguas estrangeiras. Em 1912, está como crítico da revista A Águia, e três anos depois lidera o grupo de Orpheu. Extinta a revista, passa a colaborar em outras, como Centauro, Athena, Contemporânea e Presença. Em 1934, participa no concurso de poesia promovido pelo Secretariado Nacional de Informações, de Lisboa, e recebe o segundo lugar.
Em 1935, recolhe-se doente ao hospital e
falece em 30 de novembro. Os poemas assinados por Fernando Pessoa (ele mesmo) têm facetas distintas entre si, mas que no entanto se completam: captou o lirismo do passado português e evoluiu deste saudosismo para o paulismo e, depois para o interseccionismo e o sensacionismo, “três formas de requintamento da poesia saudosista, graças ao exacerbamento deliberado ao culto ao “vago”, ao “sutil” e ao “complexo” e à influência simultânea do Cubismo e do Futurismo. Massaud Moisés Fernando Pessoa constitui um caso ímpar de desdobramento de si mesmo em outras personalidades poéticas, o que se torna visível por sua capacidade de deixar-se possuir por outros seres, que como ele são poetas, e de assim criar os outros eus, os heterônimos. Os heterônimos não são pseudônimos. Fernando Pessoa não inventou personagens-poetas, mas criou obras de poetas e, em função delas, as biografias de Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro, seus principais heterônimos. Fernando Pessoa chamava-o de “Meu Mestre Caeiro”, o mais importante de seus heterônimos. Era um homem do campo, simples. No entanto, um ser especulativo, perquiridor do mundo. Seus poemas mais importantes estão reunidos sob o título O Guardador de Rebanhos e Poemas Completos de Caeiro. Ver p42, p. 5-7. IX X Olá, guardador de rebanhos, Sou guardador de rebanhos Ai à beira da estrada, O rebanho é os meus Que te diz o vento que passa? pensamentos Que é vento, e que passa, E os meus pensamentos são E que já passou antes, todos sensações. E que passará depois, E a ti o que te diz? Penso com os olhos e com os Muita cousa mais do que isso. ouvidos Fala-me de muitas outras E com as mãos e os pés cousas. E com o nariz e a boca. De memórias e de saudades E de cousas que nunca foram. Pensar uma flor é vê-la e cheira-la Nunca ouviste passar o vento. E Comer um fruto é saber-lhe o O vento só fala do vento. sentido. O que lhe ouviste foi mentira, Por isso quando num dia de calor E a mentira está em ti. Me sinto triste de goza-lo tanto. Fonte: https://www.passeiweb. E me deito ao comprido na erva, com/estudos/livros/o_guardad E fecho os olhos quentes, or_de_rebanhos Sinto todo o meu corpo deitado no realidade Sei a verdade e sou feliz. Helenista e, portanto, cultivador de características estruturais e de temas clássicos, Ricardo Reis tem sua poesia marcada pelo “carpe diem” horaciano, ou seja, em suas odes, aparecerá o lema “gozar a brevidade da vida, o momento, aproveitar cada segundo, gozar o dia, desfrutar o que se possa obter do momento em que se vive”. Cultua o paganismo. Ver p42, p. 5-7. Breve o dia, breve o ano, breve tudo Breve o dia, breve o ano, breve tudo. Não tarda nada sermos. Isto, pensando, me de a mente absorve Todos mais pensamentos. O mesmo breve ser da mágoa pesa-me, Que, inda que magoa, é vida. . Poesia marcada pela inquietação do século XX, personalidade citadina, que louva o movimento e as máquinas. Tomado pela emoção da existência, tem a consciência da vida, do progresso, da era das máquinas, do barulho, da eletricidade e da velocidade. Mas é triste, devastadoramente triste. Seus poemas mais conhecidos são Ode Triunfal, Tabacaria e Poema em Linha Reta. Ver p42, p. 5-7. Ode Triunfal Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r- r-r eterno! À dolorosa luz das grandes Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! lâmpadas eléctricas da Em fúria fora e dentro de mim, Por todos os meus nervos fábrica dissecados fora, Tenho febre e escrevo. Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! Escrevo rangendo os Tenho os lábios secos, ó dentes, fera para a grandes ruídos modernos, De vos ouvir demasiadamente de beleza disto, perto, E arde-me a cabeça de vos Para a beleza disto querer cantar com um excesso totalmente desconhecida De expressão de todas as minhas sensações, dos antigos. Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!