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O CONCEITO DE SAÚDE E SUA RELAÇÃO

COM A PSICOLOGIA NAS ORGANIZAÇÕES


CONCEITO DE SAÚDE
A Organização Mundial de Saúde Bem
traz o conceito de que saúde é “um estar
estado de completo bem-estar físico
físico, mental e social e não somente
ausência de afecções e
enfermidades".
Apesar do conceito incluir os aspectos
sociais e mentais, a literatura científica
SAÚDE
demonstra que a preocupação com a Bem Bem
saúde no campo organizacional é estar estar
mental social
fenômeno recente, pois a hegemonia do
modelo biomédico, como pontua
Fertonani et al (2015), acentuava o
olhar para as questões que envolviam o
corpo.
HISTÓRICO
Um médico italiano, Bernardino Ramazzini, no
séc. XVII, lança uma publicação que traz à tona a
relação entre a ocupação laboral e as doenças
mais comumente encontradas em trabalhadores
de diversos ramos: pintura, tipografia, tecelagem
etc.
Nascia assim a concepção inicial da Medicina
Social ou Medicina do Trabalho, como defende
Silva (2015, p. 223), fruto da obra do médico
que “...relacionou o estado de saúde dos
indivíduos às condições em que viviam e à
posição social e demonstrou preocupação
recorrente com a postura, o sedentarismo e o
excesso de esforços no trabalho e suas
consequências para a saúde dos trabalhadores”.
HISTÓRICO
Com o advento da Revolução Industrial o mundo se modifica
“Conforme a análise de
e o trabalho e as organizações assumem um papel decisivo
Engels, os operários
na economia, fomentando uma série de fenômenos sociais, tinham que trabalhar
culturais, geográficos e políticos, atravessados pelo modo de diariamente até a
produção capitalista, que coloca a classe operária em completa exaustão
condições desumanas, fragilizando a saúde do operário. física e moral. Tais
Teóricos socialistas, como Engels e Marx enxergaram o condições de vida e de
quadro em que o trabalhador se encontrava no mundo trabalho, com pouca e
industrializado: péssima comida,.
trancafiados em
lugares insalubres, seja
no trabalho ou em suas
habitações, só podia
levar a doenças
devastadoras, como a
tuberculose e o tifo.”
Silva (2015, pg. 224)
ÁREAS ATUANTES NA SAÚDE DO TRABALHADOR
Medicina do
Trabalho

Psicologia
Organiz. TRABALHADOR Engenharia

Assistência
Social
OS TEMAS ESTUDADOS PELA PSICOLOGIA
ORGANIZACIONAL
Fonseca e Vieira (2016) resgatam um pouco da história da Psicologia do
Trabalho e das Organizações, situadas no início do século passado com
pesquisas patrocinadas por empresas interessadas na produtividade dos
funcionários, o que reverberou em uma série de estudos voltados a
temáticas organizacionais, como recrutamento e seleção, motivação e
liderança.
Mas e a saúde como fenômeno a ser compreendido nas organizações,
onde fica?
A SAÚDE EM PSICOLOGIA
Como uma das áreas preocupadas com a saúde do trabalhador e das
relações permeadas pelo trabalho, a Psicologia Organizacional vai se
dedicar, dentre outras atividades, à promoção da saúde mental dos
sujeitos envolvidos em empresas, indústrias e organizações de toda
natureza onde haja a execução de tarefas para consecução de objetivos
alcançados por pessoas.
No Brasil, a Psicologia foi regulamentada em 1962 e desde então tem se
esforçado para disseminar e produzir estudos que promovam a saúde.
Enquanto ciência a Psicologia defende o mesmo conceito da OMS,
reconhecendo que não basta estarmos com o corpo físico sem doenças
para dizer que somos saudáveis. É preciso ir além e considerar o bem
estar psicológico e social, o que invariavelmente passa pela nossa
relação com o trabalho.
A SAÚDE DO TRABALHADOR NO BRASIL
Sato et. al (2006) pontuam que:

• No Brasil, a saúde do trabalhador era tratada pelas empresas e pela


Previdência Social até a década de oitenta, tendo o Ministério do Trabalho na
regulação das questões laborais;
• A década de 70 contou com uma sistemática luta dos movimentos sindicais e
populares em torno de direitos diversos e retorno à democracia;
• Com a CF/88 e a institucionalização do SUS, positive-se a política de saúde do
trabalhador , conforme consta trecho abaixo transcrito:
Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos
termos da lei:
II - executar as ações de vigilância sanitária e
epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador;
A SAÚDE DO TRABALHADOR NO BRASIL
• Influência de modelos referendados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT),
Organização Panamericana de Saúde (OPAS) e das Universidades na instituição de
programas;
• Surgimento dos Programas de Saúde do Trabalhador – PST;
• Instauração do cuidado, assistência, prevenção e promoção da saúde do trabalhador
através de equipes multidisciplinares (médicos, enfermeiros, engenheiros, psicólogos,
fonoaudiólogos) acompanhadas pelos sindicatos;
• Ancorados na Saúde Coletiva, retratada por Sato et. al (2006) como uma abordagem
que se orientava para os fenômenos sociais na saúde do trabalhador, os estudos desta
área pesquisavam as influências da industrialização na América Latina;
• Superação do modelo da Medicina do Trabalho e da Saúde Ocupacional;
• Visão do trinômio psicológico X físico X social, passando a considerar também as doenças
psicossomáticas e os transtornos mentais, além das doenças ocupacionais.
A SAÚDE DO TRABALHADOR NO BRASIL
• Sato et.al (2006) alertam que na década de 80 não havia trabalho científico da
Psicologia voltada para a saúde do trabalhador no Brasil e que a formação dos cursos
de Psicologia era praticamente voltada à área clínica e de RH, o que limitava a atuação
em saúde;
• Atuação da Psicologia nos PST’s a partir de 2 caminhos (pelo Departamento Intersindical
de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho e pelos serviços de saúde
na rede SUS);

“Essa dupla inserção forneceu à Psicologia dois eixos temáticos importantes: a do


planejamento em saúde e a da pesquisa de processos de trabalho que explicassem o
sofrimento, as doenças, os acidentes de trabalho e os modos construídos pelos
trabalhadores para lidar com os riscos no trabalho.”
SATO et. al(2006, pg. 284)
ESTATÍSTICAS DA SAÚDE DO TRABALHADOR NO
BRASIL
TIPO QTD. TRANSTORNOS TRANSTORNOS MENTAIS E
MENTAIS E COMPORTAMENTAIS
COMPORTAMENTAIS 1º 2º 3º

Auxílio- 191.118 9.161 Estresse Outros Episódios


acidentário grave transtornos depressivos
(3.100) ansiosos (2.143)
(2.251)

Auxílio-comum 1.988.169 169.107 Episódios Outros Transtorno


Depressivos transtornos depressivo
(43.328) ansiosos recorrente
(28.949) (20.748)
TOTAL 2.179.287 178.268 - - -
Fonte: DataPrev (2018)

• Segundo Bittencourt (2018), o auxílio-doença comum (ou previdenciário) é aquele cuja doença não tem relação com o trabalho e o auxílio-doença
acidentário é aquele cuja doença foi gerada ou relacionada ao trabalho da pessoa que acometida pela enfermidade.
NOTÍCIAS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
NOTÍCIAS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
NOTÍCIAS DA SAÚDE DO TRABALHADOR
O NORMAL E O PATOLÓGICO
Como vimos até agora, o sofrimento psíquico foi compreendido e incluído mais
tardiamente na Saúde Ocupacional e seu conceito pode ser definido a partir do que
denominamos como doença mental.
Bock (2002, pg. 345), define doença mental como “produto da interação das
condições de vida social com a trajetória específica do indivíduo e sua estrutura
psíquica”.
Apesar de contemporaneamente contarmos com muito acesso à informação, a
compreensão deste tipo de fenômeno ainda pode ser distorcida, tal como em épocas
antigas de nossa sociedade. Sendo assim, é importante atentarmos para a história
dos que padeciam de sofrimentos psíquicos em épocas cuja denominação era a da
loucura.
O NORMAL E O PATOLÓGICO
Mello Filho (2002), pontua que na Idade Antiga, antes de
Hipócrates, considerando o pai da Medicina, a concepção
da doença era marcada por explicações mágico-animistas e
sobre as influências dos elementos da natureza em suas
influências sobre o comportamento humano. Doentes eram
expulsos a pedradas em muitas ocasiões.
Com o surgimento do tratamento Hipocrático, os doentes
passaram a ser ouvidos, inquiridos acerca das circunstâncias
em que surgiram seus sintomas, levantamento de seus hábitos
e estilo de vida.
Para Hipócrates existia uma relação íntima entre o cérebro
e quatro humores no corpo: bile negra, amarela, fleuma e
sangue. Em sua compreensão, o desequilíbrio entre estes
líquidos causavam ou a depressão, ou tensão, ansiedade,
preguiça e alteração de humor.
O NORMAL E O PATOLÓGICO
A Idade Média representa um retrocesso no que compete
ao fenômeno doença-saúde, causado pelos estudos
hipocráticos, e se caracteriza pelas explicações oriundas da
demonologia, onde existia a explicação de que o
comportamento anormal era causado por forças
sobrenaturais. Era comum a prática do exorcismo e morte de
pessoas consideradas “estranhas”.
Segundo Bock (2002, pg. 346), na Idade Média os sujeitos
considerados “loucos” eram raramente internados em
hospitais e recebiam tratamentos “com sangrias, purgações,
ventosas e banhos”.
O NORMAL E O PATOLÓGICO

Na Idade Moderna, a partir do século XVI, o sujeito considerado louco “vivia solto,
errante, expulso das cidades, entregue aos peregrinos e navegantes”, sua
Philippe Pinel classificação como doente ainda não era médica e dependia de institutos religiosos e
familiares, pontua Bock (2002).
Melo Filho (2002) afirma que em algum momento do século XVI houve a introdução
do cuidado humanitário no trato dos doentes mentais, porém, os pacientes muitas
vezes ainda eram vistos como fonte de diversão ou eram aprisionados em hospitais.
Pinel (1792) abriu o primeiro hospital em Paris com a ordem de desacorrentar os
pacientes. Na Inglaterra sabe-se que pela primeira vez fora aberto um retiro rural
onde pacientes eram recomendados a repousar, ter exposição ao ar fresco e contato
com a natureza de forma terapêutica.
O NORMAL E O PATOLÓGICO

Dr. Pinel, seu hospital e atuação


pintada.
O NORMAL E O PATOLÓGICO
O século XIX, segundo Holmes (1997), introduz
as explicações psicológicas para explicações das
doenças mentais.
Na Europa se destacou Anton Mesmer com sua
metodologia de banhar pacientes com
determinados líquidos magnéticos para correção A tina de Mesmer
de desequilíbrios fisiológicos. Enquanto se
banhavam, os pacientes ouviam música e tocavam
seus corpos com um bastão magnetizado.
Mesmer tratou pacientes ilustres como o Rei Luís
XVI e a Rainha Maria Antonieta. Quando
descoberto que o magnetismo não tinha validade
científica, ficou comprovado que as pessoas eram
afetadas pela imaginação, daí os quadros de
melhora, o que culminou na valorização dos
aspectos psicológicos e interpessoais no
tratamento das doenças.
O NORMAL E O PATOLÓGICO

Charcot era um médico neurologista muito


interessado em tratar de pacientes com
quadros de histeria. Seus pacientes
apresentavam paralisia, cegueira, dor e não
apresentavam comprometimento orgânico
algum, o que levou Charcot a iniciar o
método hipnótico para tratar os sintomas
apresentados pelos pacientes.

Pintura retratando Charcot em uma sessão de hipnose.


O NORMAL E O PATOLÓGICO
Finalmente, após a ebulição dos trabalhos
hipnóticos verifica-se um dos trabalhos mais
fenomenais da medicina ao nos debruçarmos
sobre os achados de Freud, criador de um
método catártico que possibilitava a
ressignificação dos sintomas a partir da fala
dos pacientes.
Anna O. foi a primeira paciente a fazer a
catarse, um método de liberação de tensão
que mais tarde culminou no método da
associação livre, onde pacientes falavam
livremente do que lhes vinha à mente, como
forma de se chegar a uma resolução de
conflitos psicológicos que faziam surgir os
sintomas de doenças diversas.

Sigmund Freud: o pai da Psicanálise


NORMAL OU PATOLÓGICO?
Bock (2002) afirma que a Psicologia compreende a desorganização da subjetividade
do indivíduo acometido por uma doença mental, podendo tal doença comprometer
aspectos cognitivos ou não.
O conceito de normalidade, segundo a autora, refere-se ao que a sociedade
determina como padrões de comportamento ou funcionamento e a uma estatística de
repetição desses comportamentos. Todavia, como em nossa disciplina já estudamos a
temática cultural e sua relatividade, encerramos a aula refletindo que o conceito de
normalidade está adstrito ao uso em cada sociedade, não nos cabendo estigmatizar
as pessoas.
REFERÊNCIAS
BITTENCOURT, André Luiz Moro. Manual dos benefícios por incapacidade laboral e deficiência. 2.ed. Curitiba: Alteridade Editora, 2018.

BOCK, Ana Mercês et al. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. 13. ed., São Paulo: Saraiva, 2002.

DATAPREV. Auxílios-doença acidentários e previdenciários concedidos segundo os códigos da Classificação Internacional de Doenças – CID-10. Disponível
em http://www.previdencia.gov.br/dados-abertos/estatsticas/tabelas-cid-10/. Acesso em 29 de ago de 2019.

ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: 2.ed., Global Editora, 1985, p. 14

Fertonani, Hosanna P. et al. Modelo assistencial em saúde: conceitos e desafios para a atenção básica brasileira. Ciência & Saúde Coletiva, 20(6):1869-
1878, 2015.

HOLMES, David. Psicologia dos transtornos mentais. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 1997.

MELLO Filho J. Concepção psicossomática: visão atual. 9 ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.

SATO, Leny; Lacaz, Francisco A. C; Bernardo, Márcia Hespanhol. Psicologia e saúde do trabalhador: práticas e investigações na Saúde Pública de São Paulo.
Estudos de Psicologia 2006, 11(3), 281-288.

SILVA, Ana B. Acidentes, adoecimento e morte no trabalho como tema de estudo da História. In: OLIVEIRA, TB., org. Trabalho e trabalhadores no Nordeste:
análises e perspectivas de pesquisas históricas em Alagoas, Pernambuco e Paraíba [online]. Campina Grande: EDUEPB, 2015, pp. 215-240.

RAMAZZINI, Bernardino. As doenças dos trabalhadores. São Paulo: Fundacentro, 2000.

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