Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
• Na cultura ‘ocidental’ a música é entendida como estando ligada aos sons, à expressão
e à inteligibilidade. Bruno Nettl pergunta se será assim em todas as culturas. “Aqui a
música é frequentemente entendida como sendo algo bom. Está também associada a
certos contextos (sala de concerto). Na valorização do que é a música, tendemos a
considerar a que é escrita (composição) mais ‘nobre’ do que a é criada em tempo real
(improvisação)” (Nettl 2005).
As músicas no século XXI
• Esta diversidade de designações corresponde à
• Clássica (erudita, culta, artística) diversidade de “mundos da música”
• Folclórica - sistemas estabelecidos onde certas convenções
• Popular interrelacionadas são tomadas como naturais e
• Étnica modelam os modos de prática, performance e o
• “Ocidental” (ou “Não-ocidental”) comportamento das audiências, têm alcance nas
• Acústica noções de composição e de originalidade; definem
• Eletrónica os modos de recrutamento e de aprendizagem, os
• Do mundo (world music) locais de encontro, as condições e audiências; o
• Antiga significado relativo de formas escritas e não
• Contemporânea escritas; as expectativas dos indivíduos (Becker
• ..... 2008, 180).
• Pode ser praticada por profissionais ou por As convenções de um ‘mundo’ não funcionam
amadores
exatamente do mesmo modo noutros mundos.
Devemos falar de música ou de músicas?
Processos geradores de mundos da música
• “Todo o trabalho artístico, tal como toda a atividade humana, envolve
a atividade conjugada de um determinado número, normalmente um
grande número, de pessoas. É devido à cooperação entre estas
pessoas que a obra de arte que observamos ou escutamos acontece e
continua a existir. As marcas dessa cooperação encontram-se sempre
presentes na obra. As formas de cooperação podem ser efémeras,
mas na maioria dos casos transformam-se em rotinas e dão origem a
padrões de atividade coletiva aos quais podemos chamar mundos da
arte” (Becker 27).
Mundos da arte: definição
• A música não é uma coisa mas uma atividade, é algo que as pessoas
fazem.
Em Portugal o termo folk-lore musical foi usado em 1882 pelo crítico de arte
Manuel Ramos para referir a música que se fazia nos contextos rurais.
• Segundo Oskár ELSCHEK, “o século XX, especialmente o
período depois da I Grande Guerra, pode ser caracterizado por novas
aproximações individuais e institucionais, associadas particularmente
aos nomes de B. Bartok, C. Brailoiu, […], as quais integravam os
princípios da “Escola de Berlim’ da musicologia comparada e a
pesquisa na música folclórica tradicional. Alem de coligirem e
gravarem música folclórica, esses académicos deram atenção a
problemas teóricos e métodos de campo […]. A principal
preocupação foi a evolução da música, a origem da música, e a
construção de uma tradição musical nacional. Os projectos de
pesquisa foram tipicamente restringidos ao limite nacional. Há
pouca cooperação internacional, prevalecendo pontos de vista
nacionais. Proclamou-se a autenticidade […]. O estudo comparativo
esteve subordinado à pesquisa de significado nacional” (1991 91).
Béla Bartók: um exemplo paradigmático
Béla Bartók (1881-1945) Transcreveu a primeira canção folclórica húngara em 1904. Em 1905 iniciou
a sua colaboração com Zoltán Kodály. Em 1906 trabalhou com o fonógrafo na Hungria, Roménia e
Transilvânia.
Criou uma linguagem modernista – reconhecida como húngara - no meio dos campos polarizados
por Schoenberg/atonalismo de doze notas e Stravinsky/neoclassicimo.
Bartok: um exemplo paradigmático
• Procurou a ‘autêntica’ música húngara
com vista à suposta identificação do
idioma musical húngaro. “Descobriu”
a canção folclórica dos camponeses - a
única base da música nacional –
rejeita (nesta fase) a música dos
ciganos húngaros.
• Procurou também o idioma musical
anterior à “invasão” da música da
Europa central: a “descoberta” em
lugares remotos de modos, escalas
distintas da diatónica, ritmos
assimétricos, compassos quinários....
reforça a convicção do nivelamento
provocado pela harmonia funcional.
Bartók 1943
Audição de gravações do arquivo de Berlim
• Cecil Sharp (1859-1924) inglês, estuda e
compõe sobre música tradicional inglesa
na 1ª década do século XX. Vai aos EUA
com Maud Karpeles em busca de música
inglesa “pura” e classificam 1600
canções. Recolhem, transcrevem,
harmonizam, publicam e introduzem nas
escolas.
Percy Grainger (1882-1961),
australiano.
Fez recolha em Inglaterra
com o fonógrafo e editou em
1908 a primeira gravação
comercial de música
tradicional, em Londres
pela Gramophone
Company.
Os folcloristas procuravam um sistema musical
anterior à tonalidade/harmonia funcional
Harmonia funcional: um sistema no qual os tons estão organizados em torno de um centro (tom central);
cada um dos tons possui um lugar numa hierarquia;
Estruturas formais (sonata, canção, rondó) segundo uma hierarquia (as unidades mais pequenas combinam-se
de modo a produzirem unidades maiores, como as frases; as frases combinam-se para organizarem períodos; os
períodos organizam secções; e assim por diante até se criar um andamento completo, que se caracteriza por ser
a unidade indivisível que se mantém unida graças ao sistema dinâmico de relações que proporciona a tonalidade
funcional.
desenhos rítmicos simétricos
previsibilidade do devir
modulação (substituição temporária do centro tonal);
cromatismo e dissonância (elementos que produzem desequilíbrio e por isso são associados à expressividade).
• Os músicos portugueses não conseguiram “construir uma imagem de identidade nacional” [...]
que fosse reconhecida como tal pelo grupo que a suscitou” (Ferreira de Castro, cit. Cascudo 2000:
182).
• Então, a principal característica portuguesa será a da “inconsistência” (Ibid.).
• O nacionalismo como uma forma de cosmopolitismo (Cascudo 2000).