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MÓDULO 1: FUNDAMENTOS HISTÓRICOS

1. HISTÓRIA DA URSS E DE SEU MARXISMO

Profa. Dra. Gisele Toassa


Professora de História e Teoria da Psicologia, Faculdade de Educação, Universidade Federal de
Goiás
Acesse os slides em: https://ufg.academia.edu/GiseleToassa/Presentations
JUSTIFICATIVA E
OBJETIVOS
O assim chamado “marxismo”, contempla uma ampla diversidade de
vertentes, construídas em conjunturas muito diversas a partir dos
debates sobre o legado de Marx & Engels. Não é raro que elas
colidam entre si.
 Marx, para além de ser um autor complexo cuja obra demanda esforço colossal para
ser compreendida, também é o propositor de um novo horizonte ético-político.
 Há uma imensidão de desdobramentos teóricos e práxis políticas e sociais

Desse modo, diversos aspectos ontológicos, epistemológicos, estéticos


e ético-políticos caracterizam o marxismo soviético. Nós os
retomaremos, de modo muito breve, no decorrer desse curso.
Sem compreender o marxismo soviético, não conseguiremos tomar
consciência do que Lev Semionovich Vigotski pretendia realizar com
sua psicologia.

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QUESTÕES

Pode-se identificar no marxismo soviético traços de uma unidade, embora


com diferenças ao longo das décadas?

A teoria difundida sob a regência de Stálin seria variante do marxismo ou


apenas pastiche ideológico de citações dos clássicos para uma ditadura
proletária emergente em condições anômalas com relação à teoria
marxiana?

E a principal, o regime soviético FOI SOCIALISTA OU NÃO FOI?

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CONTEÚDO DA
APRESENTAÇÃO

O marxismo no contexto do Império Russo


Origens e estruturação do regime soviético
Da teoria à práxis do marxismo soviético
Algumas críticas ao marxismo soviético
O stalinismo e os anos 1930s
Educação e ciência soviética.

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O MARXISMO NO CONTEXTO
DO IMPÉRIO RUSSO

Primeira tradução da obra-prima do Mouro, O Capital  publicada


na língua russa em 1872
 Karl Marx (1818-1883) chegou a estudar russo.

O primeiro círculo de reconhecidos marxistas chamava-se


Emancipação do Trabalho, tendo sido criado por G. V. Plekhanov
(1856-1818) e outros em 1883.
Plekhanov teve de exilar-se em Londres entre 1889 e 1894, época na
qual tornou-se íntimo de F. Engels. Essa relação foi uma das mais
determinantes para o processo de constituição do marxismo
soviético, considerado ao longo do século XX como um marxismo
oriental, russo, engelsiano em oposição ao virtuoso marxismo
ocidental.

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G. V. Plekhanov (1856-
1818), o “pai do marxismo
russo”. Escritor de uma
vasta obra abrangendo
economia, filosofia, arte e
política.
Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Gueorgui_Ple
khanov

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FRATURA ENTRE
“MARXISMO RUSSO” E
“OCIDENTAL”
Seguindo Karl Korsch, Costa Neto (2014) descreve haver divisão
entre duas tendências, a dos comunistas ou marxistas russos e
comunistas ou marxistas ocidentais, que resultou do impacto da
publicação dos livros História e consciência de classe por Georg
Lukács em 1923 e Marxismo e filosofia por Korsch, 1930.
Houve disputa sobre a questão do fator subjetivo na dialética
revolucionária histórica de sujeito-objeto Lukács X Deborin. Desde
então, Lukács tornou-se persona non grata no discurso marxista
soviético.

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OBSERVAÇÕES
IMPORTANTES SOBRE A URSS
Abril de 1922: adoece Lênin, que morre em janeiro de 1924.
Dezembro/1922: criação política da URSS
A “Grande Quebra” entre 1929-1932: anos do Primeiro Plano
Quinquenal
Grandes realizações e enormes problemas da era Stálin:
 no prazo de 25 anos a Rússia deixou de ser um país atrasado para tornar-se a segunda
economia do mundo. Houve a participação decisiva da União Soviética na vitória
sobre o nazismo – com o maior saldo de vítimas do mundo, 26-27 milhões de
pessoas.
 Deutscher (2005) traça em sua biografia de Stálin diversas analogias entre a
governança de Stálin e a dos tsares – autoimagem da Rússia que se destrói e
reconstrói em seus mil anos de história, tendo permanentes pretensões
expansionistas.

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IVÃ, O TERRÍVEL

Imagem do filme em duas partes (1944 e


1958) S. Eisenstein, que, indiretamente,
retrataria Stálin.
O tsar do século XVI passou à história
como um homem perturbado, conquanto
culto e que defendeu a unidade russa,
expulsando os invasores – para muitos, um
mero genocida.
Fonte:
https://m.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/11
/1544767-critica-magnifico-ivan-o-terrivel-
e-filme-para-nao-ser-perdido.shtml

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MÉSZÁROS E O PÓS-
CAPITALISMO SOVIÉTICO
István Mészáros (2002) destacou-se por transcender a mera análise da dimensão
política do regime soviético, conceituando-a a partir do entrelaçamento entre
capital, trabalho e Estado (ANTUNES, 2002, p. 16). Para ele, é impossível
superar o capital sem a extinção do conjunto de seus elementos.
 a burocracia nunca chegou a ser outra “classe”.
 A miséria russa após a guerra civil centralizou ainda mais a Revolução na esfera do político,
contrariando a defesa de Marx de uma revolução econômica e social. Destarte, as estruturas
e relações produtivas capitalistas adotaram-se sem questionamento (vf. Ideia de disciplina de
fábrica, elogiada por Lênin e criticada por R. Luxemburgo)
 Caos da guerra civil levou Lênin a admitir, em caráter temporário, a separação entre o poder do
Estado e o povo trabalhador (desarticulando a unidade fundamental entre trabalho e Estado).
 O Partido assumiu, em definitivo, o lugar da classe.
 Existência de algumas linhas de continuidade entre a teoria e a direção política de Lênin e da
ordem soviética que lhe sucedeu – em especial, a centralidade do Estado na regulação dos
processos sociometabólicos.
 O trabalho forçado foi bastante comum na URSS, chegando – conforme estimativas – a 30% da
força de trabalho no auge da era Stálin.

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MARCUSE E O
MARXISMO SOVIÉTICO
(MS)
Sopesando acertos e erros, reveses e contradições do regime,
Marcuse (1958/1985) logra uma leitura efetivamente dialética do
MS.
O autor opta por encarar o marxismo soviético como unidade,
rejeitando a noção – popularizada, em particular, pelo trotskismo –
de que haveria um verdadeiro “abismo” na passagem do marxismo
de Lênin para o de Stálin – sendo que Stálin não teria sido,
efetivamente, um “marxista”.
Também teoriza sobre as características do marxismo soviético
como modo de pensamento e ação imbricados em um
experimento social. É um sistema de ideias-chave para interpretar os
rumos e percursos desse Estado.

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Cena de Outubro, de Eisenstein
(1927). A iconografia pós-
revolucionária foi repleta de
referências ao líder bolchevique,
e a interpretação de seu legado,
muito polêmica entre os
marxistas de todo o mundo.
Fonte:
https://www.moma.org/calendar/events/5
338

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MARCUSE E O
MARXISMO SOVIÉTICO
(MS)
Marcuse (1958/1985): desenvolve duas teses centrais sobre o MS
1ª: nos três períodos: leninismo, stalinismo e pós-stalinismo, há a
expressão das realidades do desenvolvimento soviético, em formas
distintas.
2ª: Como desdobramento da primeira, a segunda tese especifica que
tendências objetivas identificáveis operam na história, forjando a
racionalidade inerente ao processo histórico. Uma nova sociedade
emerge das estruturas da antiga, sendo predeterminada por essas
origens.
- a principal tendência objetiva que sustenta a nova sociedade é a
“coexistência anômala” do pós-capitalismo soviético com o
capitalismo.

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MARXISMO SOVIÉTICO NÃO
FOI MERA PROPAGANDA DO
REGIME

“Nós não aceitamos a asserção de que o marxismo soviético é


simplesmente uma ideologia superimposta, servindo como propaganda
para o regime; nem aceitamos a asserção oposta de que a sociedade
soviética é socialista no sentido marxiano da palavra. Portanto, não
podemos explicar o paradoxo meramente como óbvio contraste entre a
ideologia e a realidade. O paradoxo mais parece refletir a construção da
sociedade soviética sob as “anômalas” condições de coexistência [com os
estados capitalistas – G.T.]”. (MARCUSE, 1958/1985, p. 93, trad. nossa)

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MARX: SOCIALISMO EM
DUAS FASES
Na Crítica ao Programa de Gotha (1875/2015), Marx concebe a ideia de um
socialismo em duas fases, vistas em uma continuidade dialética.
 A riqueza material e intelectual deveria ser abundante o suficiente para a distribuição igualitária
do produto social. A primeira fase do socialismo, portanto, preservaria a subordinação dos
indivíduos a funções especializadas; consequentemente, haveria um antagonismo temporário
entre racionalidade e liberdade.

O desenvolvimento social antecede, pois, a autorrealização individual. Em


outras palavras: Marx distingue entre interesse imediato e interesse real do
proletariado.
O gigantismo das reformas econômicas enfrentadas tornou o sacrifício e a
disciplina elementos essenciais da imago do “novo homem soviético”, que
acabou prevalecendo sobre a do “novo homem socialista” (inspirado na
revolução francesa), mais que liberdade de expressão e organização ou outros
princípios comunistas.
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DISSOCIAÇÃO ENTRE
INTERESSE IMEDIATO E
REAL
Tal coexistência teria contribuído para uma dissociação permanente
entre interesse imediato e real do proletariado, dispondo a
necessidade de a URSS desenvolver uma forma de Estado
centralizado, focado na técnica e na competição com os estados
capitalistas, que deixou sempre em segundo plano a produção de
bens de consumo, entre outras opções (MARCUSE, 1958/1985).
- Para Lênin, era preciso emancipar a classe para que os indivíduos
viessem a ter pão, educação, cultura, liberdade civil e política, e
sobretudo, o controle dos meios de produção.

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DISSOCIAÇÃO ENTRE
INTERESSE IMEDIATO E
REAL DO PROLETARIADO
Stálin, particularmente, abraçou aspectos mais deterministas do
pensamento marxiano, confiando em que o capitalismo mundial
sucumbiria por si só. Sobreviver no contexto da coexistência acabou sendo
a prioridade.
Marcuse (1985, p. 81) equipara o regime soviético ao capitalismo
avançado em vários pontos: centralização (respectivamente, no Estado e
nas grandes empresas); empoderamento das burocracias econômica e
política; coordenação da população por meios de comunicação de massa,
entretenimento e educação etc. Entretanto, diferenças substantivas teriam
se manifestado na racionalidade dos dois sistemas. A dissociação radical
entre interesse imediato e real do proletariado na URSS teria gerado
contradições insuperáveis entre a razão objetiva (a necessidade e o
interesse sociais) e a subjetiva (a necessidade e o interesse individuais),
conquanto fossem incessantemente camufladas pela ideologia oficial.

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MS - DIALÉTICA
APRISIONADA
Na sociedade soviética prevaleciam os elementos tecnológicos sobre os
humanísticos (MARCUSE, 1958/1985, p. 228).
Passou de um modo de pensamento crítico em uma ‘visão-de-mundo’ e
método universal com regras rigidamente fixadas e regulações,
consequência decisiva da falta de liberdade de pensamento.
A própria dialética rebela-se contra a produção de manuais. Em
dialética, como afirma Lev Semionovich Vigotski (SHCP) o mais
importante é o movimento do pensamento no seu atrito com a realidade.
Engels deu o primeiro passo na direção desse esquema metodológico
questionável ao redigir sua Dialética da Natureza (ENGELS, 1979),
texto-chave da codificação marxista soviética – 1ª publicação foi
realizada na URSS em 1925 – junto do Anti-Dühring.

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AUTONOMIA DE
CRIAÇÃO VAI SENDO
SOLAPADA

“Ucranianos e russos num


único clamor /o pan não será
senhor do trabalhador” (trad.
Priscila Marques)
Imagem: poster de
Maiakóvski
Fonte:
http://trimano.blogspot.com/2014/03/vanguar
da-russa-grafica-poster-politico.html

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O pomo-da-discórdia epistemológico com
A distinção entre os termos materialismo
respeito ao marxismo ocidental circulou em
histórico e materialismo dialético foi
torno da questão: o materialismo dialético
tomada a Engels por Plekhanov, de acordo
deveria ser aplicado somente ao domínio
com Hunt (2009), marcando a teorização
humano – sociedade e história – ou
marxista soviética até o fim de seus dias.
também à natureza e às ciências naturais?

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PARTIDARISMO DE LÊNIN
X STÁLIN
Conforme Joravsky (1961, p.24), Lênin foi o criador da doutrina do
partidarismo, compreendida como uma forma de controle da
filosofia, arte e produção acadêmica, o que representava um
compromisso não com o partido, mas sim a classe, envolvendo o
julgamento dos seus interesses “materiais e objetivos”.
Stálin implantou um controle contínuo da produção cultural pelo
Partido, que se arrogava o direito – jamais devidamente discutido
com os trabalhadores, fossem produtores ou consumidores da cultura
– de ditar as orientações centrais para tal produção

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PARTIDARISMO E
PRAGMATISMO
Para Joravsky: “O amplo conceito de partidarismo de Lênin sobreviveu à
Revolução Bolchevique e ajudou a moldar o meio intelectual dos marxistas
soviéticos até o final dos anos 20, ou seja, até que as condições emergentes
após a morte de Lênin engendraram o conceito de partidarismo estrito” (1961,
p. 43, trad. e grifo nossos). Implicava em uma perspectiva proletária.
Assim, ao longo dos anos 1930s, disseminou-se o controle estatal em todas as
esferas sociais, junto do pragmatismo stalinista na construção do socialismo,
que passa a ser compreendido como submissão às orientações centrais do
Partido.
Questões como o darwinismo, dialética, o ideário sobre matéria e consciência
transformam-se em assunto de Estado.
Nesse partidarismo estrito, resseca-se o âmbito discursivo/construtivo no qual
os traços da realidade tornam-se conceitos organizados em uma teoria
sistematizada em teses e antíteses, analogias, premissas e conclusões.
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Partidarismo leninista
(1) quais as tarefas, teorias e métodos da ciência para a formação do
novo homem [tcheloviek/litchnost] socialista?
- Definição de fins gerais para a pesquisa científica, relativa
liberdade na proliferação de ideias marxistas
Partidarismo stalinista e pós-stalinista
(2) quais as tarefas, teorias e métodos da ciência para a
formação/disciplinamento do novo homem [tcheloviek/litchnost]
soviético?
- Definição de fins, meios, paradigmas para as ciências humanas e
naturais

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CIÊNCIA E REGIME
SOVIÉTICO
“Os cientistas russos não foram neutros, apolíticos, ou apragmáticos.
Pelo contrário, foram um dos públicos civicamente mais ativos na
sociedade russa entre os anos 1890s e 1910s” (Krementsov, 1997, p.
14, trad. nossa)
Ao assumir o protagonismo do processo de acumulação do Capital, o
Estado incorpora progressivamente os institutos científicos, cria
outros, desenvolvendo formas especiais de remuneração/situação
social para os cientistas, de modo a garantir sua lealdade.
 E também os sharashki, campos de prisioneiros para os cientistas

Com o tempo, os cientistas passam a entrar no PCUS e a incorporar


maneirismos dos membros do Partido
 Esse é o Cientista-filiado

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CIÊNCIA E REGIME
SOVIÉTICO
O marxismo soviético sempre prestou um grande valor à ciência e à
educação
Desde os anos 1920, havia conexões entre a luta da facções dentro do
Partido e discussões da filosofia da ciência.
Anos do partidarismo leninista: a queda de braço entre ciência e política
desenvolve-se em uma estrutura social classista (bolcheviques proletários vs.
cientistas burgueses)
“Bolchevização das ciências” persiste, nos picos e vales do pragmatismo
stalinista, nos anos 1930s
1935 em diante: temos a consolidação de um sistema de privilégios ao qual
se integram os cientistas – sem chegar a diferenciá-los em uma ‘classe’
 Não obstante a capacidade de formar conexões no partido fosse determinante desde os anos
1920.

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SLIDES EM 25
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EDUCAÇÃO POPULAR:
IMPÉRIO RUSSO E APÓS A
REVOLUÇÃO

Figura extraída de N.I. Bukharin and E. Preobrazhensky:


The ABC of Communism
Chapter 10: Communism and Education (s.p.)
https://www.marxists.org/archive/bukharin/works/1920/abc/index.htm

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26
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Figura extraída de Krementsov (1997, p. 23)

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27
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Figura extraída de Krementsov (1997, p. 45)

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Figura extraída de JOSEPHSON (1988, p. 348)

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29
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Figura extraída de JOSEPHSON (1988, p. 367)

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INSTABILIDADE DOS
CIENTISTAS NO PÓS-
CAPITALISMO SOVIÉTICO
A bolchevização fundamenta-se em uma espécie de cultura
‘carnavalesca’ do stalinismo (ŽIŽEK, 2011), que, a partir dos anos
1930 (em torno de 1935), agrega os novos stalinistas (bolcheviques
da velha guarda são assassinados entre 1936-1939) e estes tensionam,
quando não se espraiam, no campo científico, assumindo os postos de
trabalho de suas ‘vítimas’ criticadas
 Diversos exemplos de solidariedade operada por meio do sistema (caso de Orbeli,
físicos que se manifestaram contra Lyssenko, geneticistas e muitos outros em favor de
N. Vavilov)
 Criação de uma ‘subcultura’ dos cientistas, com práticas discursivas afeitas a atender
à censura – mas, ao mesmo tempo, perseguir sua própria agenda
 Em seu habitus, a disciplina de partido, o autocontrole/autocensura e traços de uma
utopia coletivista e igualitária

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Segundo Joravsky (1961): “O CC [Comitê Central – G.T.] ordenou
que um ‘destacamento’ de milhares de comunistas fosse colocado em
faculdades no outono de 1928, sem maiores pré-requisitos
acadêmicos” (p. 223).
“Os deborinistas insistiram que os cientistas naturais deveriam
aceitar uma pré-pronta Weltanschaaung e metodologia dos filósofos
marxistas, e a facção mecanicista sempre desafiou esse princípio
básico” (p. 226).

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4 CAMADAS DE CONHEC.
CIENTÍFICO NA URSS
“Focando no Círculo de Vygotsky, Yasnitsky (2009, p.45) identifica,
durante os anos 1920, uma estrutura em quatro camadas de
conhecimento científico e prática social, do nível mais geral e
abstrato para o menos geral e mais concreto (filosofia Marxista,
teoria [científica] geral, teorias aplicadas intermediárias, prática
social).” (Toassa, 2015, p. 62)
 Há uma simplificação radical dessa organização sob o partidarismo stalinista que
passa a articular diretamente o nível mais geral e abstrato à prática social – uma das
características teóricas do stalinismo é a abolição de mediações (LUKÁCS, 1977),
resultando também em uma dramática simplificação da teoria marxista.
 Neste sentido, adquirem especial importância os textos produzidos para os círculos
internos de pesquisa (preparação para censura faz diferença no manuscrito – caso do
“Pensamento e Linguagem” de Vigotski, 1934)

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O CIENTISTA NO CONTEXTO
DA FUSÃO PARTIDO-ESTADO
“Em todo caso, deve-se ter em mente que todo e qualquer texto, sem
exceção, produzido entre meados dos anos 1930 até ao menos o
início dos 1980s, planejado pelo seu autor para divulgação pública,
servia ao duplo propósito de produção e troca de conhecimento e, por
outro lado, necessitava conformar-se à agenda extremamente rígida
da propaganda comunista, expressar lealdade à ideologia do Partido
Comunista e seus poderosos chefes-patronos da ciência. Portanto,
virtualmente todos os textos científicos da época podem ser
localizados em algum ponto no continuum entre ideologia e ciência,
mas nunca em um único extremo.” (Yasnitsky, 2009, p. 98, tradução
minha in Toassa, 2016)

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ATIVIDADE SUGERIDA
Elabore uma lista de pelo menos seis perguntas inteligentes – ou seja,
criteriosas, informadas, cuidadosas – sobre o marxismo no contexto
da Revolução Russa/União Soviética.

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REFERÊNCIAS
ANTUNES R. Apresentação. In: MÉSZÁROS, I. Para além do capital: Rumo a uma teoria da
transição. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2002. p. 15-20
COSTA NETO, P. L. Crítica ao conceito de Marxismo Ocidental. Critica Marxista, v. 38, p. 9–
28, 2014.
DEUTSCHER, I. Trotsky: O profeta desarmado, 1879–1921. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira. 1959/2005.
ENGELS, F. A dialética da natureza. 3ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1876/1979. p. 15-228.
JORAVSKY, D. Soviet Marxism and Natural Science: 1917-1932. [s.l.] Routledge, 1961.
JOSEPHSON, P. R. Science Policy in the Soviet Union, 1917-1927. Vol. 26, No. 3, 1988,
p. 342-369.
KREMENTSOV, N. Stalinist science. Princeton: Princeton University Press, 1997.
MARCUSE, H. Soviet Marxism: A critical analysis. New York: Columbia University Press.
1958/1985.

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PRINCIPAIS
REFERÊNCIAS
UTILIZADAS
MARX, K. Crítica do programa de Gotha. Boitempo Editorial, 1875/2015.
MÉSZÁROS, I. Para além do capital: Rumo a uma teoria da transição.
Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2002.
TOASSA, G. Há um Materialismo Vygotskyano? Preocupações ontológicas e
epistemológicas para uma psicologia marxista contemporânea (Parte I).
Dubna Psychological Journal, v. 1, p. 58–68, 2015.
TOASSA, G. Nem tudo que reluz é Marx: críticas stalinistas a Vigotski no
âmbito da ciência soviética. Psicologia USP, v. 27, n. 3, p. 553–563, 2016.
YASNITSKY, A. Vygotsky Circle during the decade of 1931-1941: Toward
an integrative science of mind, brain, and education. PhD thesis,
Department of Curriculum, Teaching and Learning. University of Toronto,
Toronto, 2009.
ŽIŽEK, S. Em defesa das causas perdidas. São Paulo: Boitempo, 2011.
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