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TRABALHO

DE SEMINÁRIO:
ATENDIMENTO A
PACIENTES
DIFERENCIADOS

CURSO: MEDICINA
Tema:
• A FEBRE
INTRODUÇÃO

No presente trabalho iremos falar sobre a Febre, realçando


alguns aspectos históricos, abordando sobre os mecanismos da
febre, a sua relevância clinica bem como a sua classificação
mediante a factores como a temperatura, duração e evolução e o
seu tratamento
Objectivos
Objectivo Geral
• Compreender a Febre e os seus mecanismos

Objectivos Especificos
• Classificar a febre mediante alguns critérios.
• Expressar a importância Clinica da Febre.
• Sublinhar o diagnóstico da febre e o seu tratamento
 
O Homem é um ser endotérmico e homeotérmico, que em condições normais
mantém a temperatura central entre valores médios de 36,5°C (97,7ºF) e 37,5°C
(99,5ºF), independentemente das alterações do meio interno e do ambiente que o
rodeia

SPENCER Definiu a febre como sendo um sinal clínico que consiste na


elevação da temperatura corporal acima dos valores normais, por aumento do ponto
de ajuste térmico hipotalâmico, numa tentativa de preservar a integridade do
organismo face a uma aparente ameaça. Isto faz com que o corpo produza mais
calor e se esforce por conservar esse calor, provocando contracções musculares e
sensação de frio.

Quando o ponto de regulação térmica volta ao normal, a pessoa sente-se


quente, a pele fica avermelhada e começa a suar. Em casos raros, uma febre pode
estar na origem de convulsões febris, as quais são mais comuns entre as crianças
mais novas.
A febre Pode surgir em contexto de infecção, inflamação, auto-imunidade,
neoplasias, lesão tecidual, entre outros, através da produção de substâncias
pirogénicas por células do sistema imunitário, como as citocinas inflamatórias, ou
pela acção de pirógenos exógenos, como componentes estruturais de bactérias ou
fármacos. A subida da temperatura corporal para novos valores é definida pelo
sistema nervoso central na resposta a estes estímulos.

A febre não se define apenas em termos quantitativos. Existem causas por


vezes não identificáveis, doenças do sistema nervoso, infecções, distúrbios
genéticos e outros que definem as suas variáveis, desde a sua forma de início e
término, súbito ou gradual, à intensidade, leve a alta, à duração, mais ou menos
extensa, e ao modo de evolução no tempo, que pode ser contínuo, regular,
irregular, intermitente ou recorrente. Consequentemente, a febre pode apresentar
características distintas em diferentes doenças, contextos epidemiológicos,
etiológicos e de indivíduo para indivíduo, correlacionando-se com vários
parâmetros clínicos e apresentando um valor diagnóstico e prognóstico.
(SPENCER-2015)
História
 
Existem relatos da presença e variação da febre nas culturas Persa, Grega e
Romana.
Hipócrates (460-377 a.C) descreveu os padrões da febre em doenças com
apresentações características deste sinal, como a malária e a febre tifóide.

Desde a antiguidade que existem registos da medição da febre, pelo menos três
vezes por dia, e da avaliação de padrões de evolução no tempo da temperatura,
para a extrapolação de conclusões fisiopatológicas com base neste sinal.

Nas últimas décadas do século XX ocorreram dois avanços importantes no


estudo da febre: o recurso à radiotelemetria, que possibilitou a medição dos valores
de temperatura central em animais sem os manipular directamente e a utilização de
roedores, nomeadamente transgénicos, o que permitiu a identificação dos
mediadores exógenos e endógenos da resposta febril.
VOLTARELLI Explica que das varias consequências clinicas da Reacção ou
resposta da fase aguda (RFAg), a mais importante do ponto de vista fisiopatológico
e clinico é, sem duvida alguma, a febre.

Ela ocorre pela acção de algumas citocinas (os pirogênios endógenos) sobre os
centros termorreguladores do hipotálamo, elevando o limiar térmico (que
normalmente é controlado rigidamente em torno de 37ºC) e desencadeando
respostas metabólicas de produção e conservação de calor (tremores,
vasoconstricção periférica, aumento do metabolismo basal).

Quando a temperatura corporal ultrapassa o novo limiar, são desencadeados


mecanismos de dissipação de calor (vasodilatação periférica, sudorese) que tendem
a reduzi-la novamente. Deste modo, na resposta febril a termorregulação é
preservada, ainda que em nível mais elevado, mantendo-se inclusive o ritmo
circadiano fisiológico (máxima entre 16 e 20 h, mínima entre 4 e 6h).
Há́ uma enorme variedade de pirogênios exógénos (microorganismos intactos,
produtos microbianos, complexos imunes, antígenos não-microbianos, drogas e
outros agentes farmacológicos), mas apenas um número limitado de pirogênios
endoógenos foram identificados: as citocinas IL-1, TNF, IFN e IL-6 e, mais
recentemente, entre outros, a IL-8 e o MIP -1.

O mecanismo exacto da acção pirogénica destas substâncias não é conhecido e


parece diferir entre estes dois grupos de citocinas.
Alguns mediadores hipotalâmicos como a somatotastina, a vasopressina-
arginina e o hormónio estimulante de melanócitos (MSH) têm acção inibitória sobre
a resposta febril, sendo considerados verdadeiros criógenos endógenos. Estas
substâncias provavelmente são responsáveis pela manutenção de um “teto térmico”
(abaixo de 41ºC) mesmo nas respostas febris mais intensas.

Deste modo, a deficiência destes criógenos explicaria a dificuldade de a


temperatura corporal retornar a níveis basais em alguns pacientes febris. Mulheres
grávidas (a partir do 2º trimestre de gestação) e neonatos, por outro lado, possuem
concentrações aumentadas de vasopressina-arginina, a qual, por estímulo do eixo
hipotálamo- hipófise-adrenal, produz um efeito criogênico e pode impedir a febre.
Clínica
Não existe acordo sobre os limites da temperatura corporal normal e, portanto,
sobre qual nível deve ser tomado como referência para se definir a presença de febre
em um indivíduo em particular. Isto se deve não só às variações individuais como
também a variações fisiológicas da temperatura corporal, que ocorrem com os
períodos do dia, (como o ritmo circadiano), com a temperatura ambiental, com o
ciclo menstrual (aumenta até 0,6ºC na segunda metade do ciclo), com a digestão dos
alimentos, com a gravidez (principalmente no 1º trimestre), com exercícios físicos,
estresse emocional e desidratação.

Durante a progressão da febre, a temperatura central segue um curso dinâmico


com quatro fases distintas, sendo elas: pródromos, calafrios, rubor e
defervescência.
A fase de pródromos caracteriza-se por fadiga e mal-estar geral, mialgias e
cefaleias, a par com vasoconstrição e pilo-erecção.

A fase de calafrios ocorre com tremores até que seja gerada a quantidade de
calor necessária para atingir, de forma progressiva, a temperatura reajustada pelo
hipotálamo.

Segue-se a fase de rubor com vasodilatação cutânea, numa tentativa de


dissipar calor, e a fase de defervescência que se inicia por sudação,
complementando a dissipação de calor para o regresso a valores de temperatura
eutérmicos, após reajustamento do termóstato hipotalâmico para valores normais de
temperatura. A fase de defervescência pode ocorrer por crise, quando se verifica
uma descida abrupta, em horas, ou em lise, quando ocorre progressivamente, ao
longo de vários dias.
A febre não é um sinal isolado, faz parte de uma síndrome que pode incluir
vários sintomas e sinais que resultam da resposta de fase aguda, com produção de
citocinas inflamatórias, alterações metabólicas e circulatórias. A apresentação típica
inclui: astenia, anorexia, sonolência, cefaleias, delírio, mialgias, tremores,
artralgias, náuseas, vómitos, convulsões, desidratação, taquicardia, taquipneia,
sinais de desidratação e lesões herpéticas.
Classificação

A febre pode ser classificada consoante a temperatura atingida, a sua duração e


a variação de valores num intervalo de tempo. A sua interpretação diagnóstica e
prognóstica tem de ser realizada a par com a avaliação do estado geral do doente.

Temperatura
Usando como referência valores de temperatura rectal, o método mais preciso
de avaliação da temperatura corporal nuclear, a febre de baixo grau compreende
valores entre 38,1°C e 39,0°C (100,5°F a 102,2°F), a febre de grau moderado
39,1°C a 40,0°C (102,2°F a 104,0°F) e a febre de alto grau 40,1°C a 41,1°C
(104,1°F a 106,0°F), denominando-se hiperpirexia se superior a 41,1°C (106,0°F).
Duração
No que diz respeito à duração, a febre aguda tem duração inferior a 7 dias, a
subaguda persiste entre 7 e 14 dias e a crónica excede 14 dias de duração. As
febres agudas são comuns em doenças de etiologia infecciosa como as infecções do
trato respiratório superior. As febres subagudas podem ocorrer em doenças como a
febre tifóide ou nos abcessos intra-abdominais. E, se não tratadas, as febres agudas
e subagudas podem evoluir para crónicas. A febre crónica é comum no contexto de
doenças bacterianas crónicas como a tuberculose, infecções virais crónicas como a
que ocorre pelo VIH, neoplasias e doenças do tecido conjuntivo.

Evolução
Em termos da sua evolução, os padrões de variação de febre melhor estudados
são o contínuo, intermitente, remitente, recorrente/recidivante e a febrícula. Pode
ainda ocorrer a febre com picos matinais.
• Padrão Contínuo
O padrão contínuo de febre inicia-se subitamente e sofre pequenas flutuações de
valores com um desvio padrão inferior ou igual a 1°C ao longo de 24 horas sem que
seja atingido qualquer valor normal durante este período. O padrão, tipicamente,
prolonga-se por 3 ou 4 dias com pequenas variações diárias

• Padrão Intermitente
No padrão intermitente a febre ocorre exclusivamente durante um determinado
número de horas, regressando a valores fisiológicos pelo menos uma vez em cada 24
horas.

• Padrão Remitente
A febre remitente define-se por flutuações de valores superiores a 1ºC sem que
se atinjam valores normais no período de tempo avaliado.

• Padrão Recorrente ou Recidivante


Neste padrão existe alternância entre períodos febris e períodos afebris, que
compreendem dias ou semanas de intervalo.
• Febrícula
Na febrícula a temperatura é inferior a 38ºC, e frequentemente acompanhada de
sudorese. Apresenta aumentos diários inferiores a 1ºC e tem predomínio vespertino,
nomeadamente entre as 16 e as 18 horas. Tem habitualmente uma duração
prolongada, de uma semana ou mais.

• Febre com Picos Matinais


Em indivíduos saudáveis, as variações diurnas da temperatura reflectem o ritmo
circadiano de produção de hormonas esteróides provenientes das glândulas adrenais.
Quando os doentes têm doenças infeciosas febris, a febre representa um acentuar da
variação da temperatura normal, logo os picos de febre serão vespertinos ou
nocturnos. Esta observação é útil porque doenças que manifestam picos de
temperatura durante a manhã, apesar de raras, sobressaem pelo contraste com o
padrão usual.
Importância clínica da febre
Nos últimos 15 anos, inúmeros estudos têm demonstrado que pequenas
elevações da temperatura corporal, semelhantes às observadas durante a resposta
febril, potenciam a defesa do organismo contra agentes infecciosos e células
neoplásicas. Em animais vertebrados homeotérmicos, demonstrou-se a acção da
febre nas seguintes funções da resposta imune:

a) Aceleração da quimiotaxia de neutrófilos e da secreção de substâncias


antibacterianas (peróxidos, superóxidos, lisozima e lactoferrina);

b) Aumento da produção e das acções antiviral e antitumoral dos interferons;

c) Estimulação das fases de reconhecimento e sensibilização da resposta


imunológica, resultando em uma interacção mais eficiente entre macrófago e
linfócitos T e maior proliferação destes últimos.

d) Diminuição da disponibilidade de ferro, a qual limita a proliferação bacteriana e


de alguns tumores..
Diagnóstico
O diagnóstico da febre é basicamente clínico, ou seja, a aferição da
temperatura (37,5°C axilar/ 37,8°C oral/ 38°C retal) juntamente com os
principais sinais e sintomas são suficientes. A anamnese e o exame físico
somados ditarão a conduta, incluindo a necessidade de exames complementares
e tratamento específico

A investigação de outras queixas é de extrema importância para o diagnóstico


da etiologia da febre. Alguns sintomas podem ser simplesmente associados ao
quadro febril, como mialgia, cefaleia e fraqueza. Porém alguns outros já são mais
indicativos da etiologia, por exemplo, tosse produtiva e dispnéia podem apontar
uma pneumonia, bem como disúria pode apontar uma infecção urinária. Síndrome
consumptiva pode ser uma indicação de um linfoma ou leucemia. Queixa articular
pode ser compatível com um quadro de artrite reumatóide ou lúpus.
Em boa parte dos casos de febre, os exames complementares não são de
extrema importância, porém, nos casos em que são necessários, os exames devem
ser dirigidos e condizentes com a suspeita diagnóstica.

As situações em que mais se obtém benefício de exames complementares são


as febres de origem indeterminada (FOI), apesar da alta prevalência de casos
sem diagnóstico (40% dos casos, segundo a literatura).
 
No conceito clássico de Petersdorf e Beeson, febre de origem indeterminada
( FOI) era definida por 3 critérios:

1) Temperaturas superiores a 38,3ºC (oral) [ou 37,8 (axilar)] observadas em várias


ocasiões,
2) Duração mínima de 3 semanas e
3)Ausência de diagnóstico etiológico após uma semana de investigação hospitalar.
Tratamento
 
Segundo VOLTARELLI ainda há uma grande controvérsia na literatura e na
prática médica sobre a conveniência ou não da terapia antipirética nas várias
situações clínicas, tanto em adultos como em crianças. Em primeiro lugar, é
necessário decidir se o aumento de temperatura observado constitui realmente
febre ou hipertermia, sendo esta última sempre tratada, predominantemente
através de métodos físicos de resfriamento

Pelos efeitos nocivos mencionados acima, a resposta febril, mesmo de curta


duração, pode oferecer riscos significativos para pacientes com disfunções
cardíacas, pulmonares e cerebrais, particularmente idosos, mulheres grávidas,
crianças com história de convulsões febris e pacientes trombocitopênicos.
Os principais antipiréticos são:
 
Dipirona: medicação bastante utilizada em nosso meio, apesar de ser preterida
e até mesmo não disponível em outros países. Possui uma potente acção antitérmica
e analgésica, porém não possui acção anti-inflamatória.

IM/IV: 2 a 5mL; dose máxima diária: 10mL.


VO: 500mg a 1g/dose até 4x/dia.
(Doses indicadas para adultos e adolescentes acima de 15 anos)
 

Paracetamol: droga mais utilizada no mundo para combate à febre. Tem acção


antitérmica, anti-inflamatória e analgésica. Apresenta risco de hepatotoxicidade (em
geral se paciente fizer uso de  mais de 4g/dia).

VO: 500mg a 1g/dose até 4x/dia.


Ácido Acetilsalicílico (AAS): mais antigo dos antitérmicos. Possui acção
antitérmica, anti-inflamatória e analgésica. Actualmente, tem sido pouco utilizado no
combate à febre. Contra-indicado em casos de dengue e história de
hipersensibilidade; cautela com pacientes com história de sangramento por úlcera
péptica, outros sangramentos e trombocitopenia.
* Síndrome de Reye: grave disfunção hepatocerebral, com alta letalidade, observada
em certos indivíduos acometidos por certas doenças virais agudas (varicela,
influenza) que recebiam AAS.
VO: 300 a 900mg/dose de 4/4hrs ou 6/6hrs.

Tratamento de bebés

Em casos de febre, os bebés, especialmente aqueles com menos de 28 dias,


devem ser levados ao hospital para realizar testes e tratamento. Em bebés tão jovens,
a febre pode indicar uma infecção grave que requer medicamentos intravenosos e
monitoramento 24 horas por dia.
CONCLUSÃO
Chegamos a conclusão que a febre é um sinal clinico que
consiste na elevação da temperatura corporal que pode surgir devido
a várias causas, vimos também que a febre do ponto de vista clinico
possui grande relevância, pois através dela o técnico de saúde pode,
em função dos padrões apresentados chegar a um possível
diagnóstico de alguma patologia ou até mesmo neoplasia.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
1. JC Voltarelli - Medicina, Ribeirão Preto, 1994 - academia.edu
2. IM Spencer - 2015 - eg.uc.pt
3. Kasper DL, Fauci AS, Longo DL, Baunwald E, et al.: Harrison´s Principles of
Internal Medicine, McGraw-Hill, 16ª edição: Dinarello CA, Gelfand JA, Fever
and Hyperthermia: Capítulo 16.
4. KUMAR, V.; ABBAS, A.; FAUSTO, N. Robbins e Cotran – Patologia – Bases
Patológicas das Doenças. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
OBRIGADO

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