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Princípios gerais do direito

processual

TEORIA GERAL DO
PROCESSO

Prof. Bernardo Dantas Barcelos


CONCEITUAÇÃO
 Função diretiva;
 Vigas mestras de todo um sistema jurídico;
 Podem ter um escopo geral ou mais restrito;
 Não estão vinculados à dogmática jurídica ou à
técnica;
 Serve de sustentáculo legitimador quando da análise
de situações concretas;
PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL
Art. 5º, LIV, CF/88
Due process of law;
De origem inglesa (Rei João Sem Terra);
Magna Charta Libertatum;
Períodos: Império (1824)/ ditadura (1937) / atualmente (1988)
É o princípio que prevê a todos os indivíduos o direito a um processo com
todas as etapas previstas em lei e todas as garantias constitucionais (1).
Processo em consonância com o direito, e não apenas com a lei
 “O constitutional due process (‘Devido Processo Constitucional’) é a
garantia (como dever do Estado) de realização desses procedimentos no
plano do direito construído, mediante instalação do contraditório,
observância da defesa plena, isonomia, direito ao advogado, gratuidade da
jurisdição nas hipóteses de haver um conflito ou contencionsidade dos
direitos pretendidos.”(2)
(1) BARROSO, Carlos Eduardo Ferraz de Mattos. Sinopses Jurídicas. Teoria Geral do Processo e Processo de Conhecimento. 8ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2008.
(2) LEAL, Rosemiro Pereira. Processo e Hermenêutica Constitucional a partir do Estado de Direito Democrático. In: Estudos Continuados de Teoria do Processo: A pesquisa jurídica no curso de Mestrado em Direito
Processual. vol. 2. 1. ed. Porto Alegre: Síntese, 2001. p. 13-25
PRINCÍPIO DA IMPARCIALIDADE DO JUIZ
Art. 5º, XXXVII E LIII , CF/88

O juiz se coloca entre as partes e acima delas;


 Pressuposto de validade da relação processual
 Juiz – órgão “neutro” – solução
 Visa garantir decisões justas;
 Garantias dos magistrados: Vitaliciedade / inamovibilidade / irredutibilidade da
remuneração (art. 95 CF/88 e art. 5º, XXXVII)
 Art. 144 e 145 CPC (impedimento *critério objetivo* / suspeição *critério
subjetivo*)
 Juiz natural
 Investidura (Art. 5º., LIII)
 Tribunais ad hoc
 Atuação conforme à lei
PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO DAS DECISÕES
(Art. 93, Inc. IX, CF/88)

 Decisões judiciais devem sempre ser motivadas;


 Art. 489 do NCPC
 Pensamento Tradicional: Impugnação
 Pensamento Moderno: função política da motivação
Princípio da Igualdade
 Art. 5º, Caput, CF/88;
 Partes e procuradores perante ao juiz;
 Art. 71 e 72 do NCPC;
 Ex.: Curador especial ao incapaz e ao réu preso / defensor dativo
ao réu revel (art. 344 e ss. do CPC)/ impossibilidade do advogado
de recusar a defesa criminal/ Estatuto do Idoso;
 Conceito formal e negativo (sem o estabelecimento de
diferenças);
 Igualdade material (tratamento igual aos substancialmente
iguais);
 Ex.: Hipossuficiência no CDC (art. 6º, VIII do CDC);
 Prazos para a Fazenda Pública (art. 183, CPC);
Princípio da economia processual
 A finalidade desse princípio é atingir um objetivo prático e seguro
com o mínimo de atos processuais possíveis.
 Procedimentos sumaríssimos em causas de pequeno valor;
 P.ex.: Juízados Especiais.
 A percepção do princípio em análise é demonstrada com maior vigor
em alguns atos processuais concentrados, como na audiência de
instrução e julgamento;
 Art. 58 do NCPC
Princípio da ampla defesa e do
contraditório
 Art. 5º., LV, CF/88;
 Processo judicial e administrativo;
 Bilateralidade da ação;
 Inaudita altera pars (arts. 929, 932, 937 do CPC)
 Ciência dos atos pela parte contrária por meio da:
 Citação /intimação
 O contraditório se constitui em 2 elementos: Informação e reação
 A figura do juiz em relação às partes;
 Tese – Antítese – Síntese;
 Defesa técnica (art. 5º, LXIII);
 Tutela de urgência
Princípio da ação (ou demanda)

 Iniciativa pela parte;


 Direito de acionar os órgãos jurisdicionais;
 Inércia da jurisdição;
 O que se pode depreender do juiz instaurar um processo?
 Processo inquisitivo;
 Processo acusatório;
 Inquérito policial?
 Exceção ao princípio da ação? (art. 878, CLT)
 Julgamento infra, ultra e extra petita
Princípio da disponibilidade e indisponibilidade
(ou obrigatoriedade)
 Poder dispositivo (exercício ou não);
 Processo civil: desistência da ação;
 Perdão nos crimes de ação privada.
 No âmbito processual (conveniência quanto à prática de atos
processuais);
 Remessa necessária (exceção) (art. 475, I, CPC);
 Indisponibilidade:
 Art. 5º CPP
 Ação Penal Pública incondicionada;
 Infrações de menor potencial ofensivo (l. 9.099/95 – art. 98, I)
 Limitações ao princípio da obrigatoriedade
 Ação penal privada (injúria, calúnia e difamação);
 Ação penal pública condicionada a representação;
(art. 130, §2º, CP) ou ameaça
 Infrações de menor potencial ofensivo, etc.
Princípio do impulso oficial
 Competência do juiz;
 Princípio essencialmente processual;
 Movimentação de fase em fase;
 Qual o objetivo?
O Estado tem interesse em solucionar o litígio?
 Preclusão: fato impeditivo que visa garantir o avanço
progressivo do processo:
 Temporal (art. 223, NCPC) / lógica (art. 503, CPC)
/ consumativa (art. 473, CPC);
Fluxograma simplificado do
procedimento ordinário
Princípio da publicidade

 Art. 93, IX, CF/88


 Princípio de vital importância no trâmite processual;
 Os atos e decisões jurisdicionais devem, salvo exceções, ser
públicos;
 Possibilidade da presença de qualquer do povo nas audiências;
 Fiscalização quanto aos atos praticados nos processos;
 Comporta exceções? Arts. 155, I e II do CPC; arts. 483 e 792,
§1º do CPP; art. 5º, LX, CF/88; em alguns inquéritos policiais,
etc.
Princípio dispositivo

O princípio dispositivo  iniciativa das partes na produção


de provas e alegações; (princípio direcionado ao
magistrado)
 Não confundir com o princípio da disponibilidade;
 Objetiva preservar a imparcialidade do juiz;
 Se distancia do processo inquisitivo;
 Quem tem a iniciativa das provas no processo?
 Das partes – art. 333 do CPC
 Do juiz de ofício – art. 130 e 342 do CPC
Princípio da livre investigação das provas –
verdade formal e real
 Ao juiz é conferido o poder de iniciativa probatória para a apuração
dos fatos alegados pelas partes como fundamento da demanda;

 O que é verdade formal?


É aquela que resulta do processo, embora possa não encontrar
exata correspondência com os fatos, como aconteceram
historicamente. (art. 386, VI do CPP)

 O que é verdade real?


É a que chega o julgador, reveladora dos fatos tal como ocorreram
historicamente e não como querem as partes que apareçam
realizados.
A distinção entre verdade real e verdade formal surgiu
do exame das diferenças entre processo penal e
processo civil.

 Naprática o que ocorre é que no processo civil o juiz


pode se convencer pela verdade formal, porque, em
regra, o direito material versa sobre direito disponível
Contudo,
 No processo penal o juiz busca a verdade real por se
tratar de direito indisponível, ou seja, aquele direito
que a lei considera essencial à sociedade e é tutelado
pelo Ministério Público. (exceção – art. 386, CPP)
 Conclui-se, pois, que o processo civil, hoje, não é mais
eminentemente dispositivo, como era outrora; e o processo
penal, por sua vez, transformando-se de inquisitivo em
acusatório, não deixou completamente à margem uma parcela
de dispositividade das provas.
 Impera, portanto, tanto no campo processual penal como no
campo processual civil, o princípio da livre investigação das
provas, embora com doses maiores de dispositividade no
processo civil.
 Ex: arts. 125, 130, 131, 330, 342 e 440 do CPC;
 A reunião e julgamento simultâneo de ações semelhantes podem
ser determinados de ofício pelo juiz, ou requerido por qualquer das
partes.
 Assim, além da economia processual, tem por fim evitar decisões
contraditórias.

 Conexão: é o fenômeno que determina a reunião de ações com


partes, objeto ou causa de pedir (CPC, 103);
 Continência: é o fenômeno que determina a reunião de ações com
partes e causa de pedir iguais, mas o objeto de uma, por ser mais
amplo, abrange as outras (CPC, 104);
Princípio do duplo grau de
jurisdição
 Trata-se da possibilidade de revisão, por via de recurso, das causas
já julgadas pelo juiz de 1o. Grau;
 Garantia de um julgamento por uma instância superior (grau de
recurso);
 Independência do magistrado no julgamento (não adistrito à Corte
Superior);
 Busca rever decisão injusta ou errada (sob o ponto de vista da
jurisdição);
 Dar ao vencido a oportunidade de reexame da decisão anterior;
 A nova decisão (acórdão) é dada por um colegiado de juizes ou
desembargadores;
 Fundamento do princípio é com base na natureza política do ato
estatal, onde nenhum ato estatal está imune de controle;
 Os Membros do judiciário não são eleitos pelo povo;
A fiscalização popular é incipiente;
 Controle interno da legalidade e a justiça das decisões
judiciárias;
 Não se encontra previsto de forma expressa na Constituição (art.
102, inc. II; art. 105, inc. II; art. 108, II);
 A legislação, de forma geral, prevê a possibilidade de um outro
grau de jurisdição;
 E no caso de ações originárias no STF (art. 102, inc. I, CF/88);
 STF – órgão de terceiro ou até de quarto grau;
 STJ, TSE e TST podem funcionar como órgãos de 3º. Grau;
 Necessidade de interposição de recurso pela
parte vencida;
 Exceção? (art. 475, CPC) – Remessa
necessária;
 Lei dos Juizados Especiais (9.099/95)?
 Fase recursal – colegiado;
 Trata-se de magistrados de uma
jurisdição superior?
 Duplo reexame;
Princípio da Lealdade processual
 Princípio dialético;
A busca pela pacificação dos conflitos não permite a
utilização (por nenhum dos atores processuais) de artifícios
fraudulentos ou ilegais;
 Busca uma postura de boa-fé de todos no trâmite
processual (característica publicista do processo);
O comportamento antiético de qualquer dos atores
processuais é passível de sanção processual;
 Preocupação em não violar o princípio do contraditório;
 P.ex: arts. 14 a 18 / 133 e 135 / 600 e 601 – todos do CPC;
Princípio da persuasão racional do juiz
(ou livre convencimento motivado)
Diz
 respeito ao livre convencimento do magistrado no exame das provas carreadas
no processo;
Encontra-se entre o sistema da prova legal (1) e o do julgamento secundum
conscientiam (2).
(1) Pré-fixar valores específicos para cada tipo de prova (origem germânica);
 A prova representava uma invocação divina;
 O juiz “auxiliava” as partes na obtenção da decisão divina;
 Utilizava-se técnicas aritméticas;
 A convicção subjetiva do tribunal só entrava em jogo em relação à atribuição das
provas;
(2) Permite ao magistrado decidir contra ou, consoante as provas nos autos;
 Utilizada nos Tribunais do Júri de forma atenuada;
 O Código Napoleônico utilizava esse princípio no tocante ao julgamento pelos
jurados;

 O princípio do livre convencimento motivado compreende:
A vinculação do juiz às provas e demais elementos existentes nos
autos;
O julgamento não depende de critérios legais previamente
fixados, mas sim a critérios críticos e racionais (CPC – arts. 131 e
436 / arts. 157 e 182 CPP;
O convencimento deve ser motivado (art. 93, IX, CF/88) (arts. 131
e 165, CPC);
 Em havendo regras legais pré-existentes, deve o magistrado
observar (art. 334, IV, CPC / art. 158, CPP);
 Máximas de experiência (art. 335, CPC) (P.ex.: valoração da
credibilidade das provas colhidas)
 Ligado ao princípio da imediação (art. 466, II do CPC);
Princípio da instrumentalidade das formas
 A existência do ato processual não é um fim em si mesmo, mas instrumento
utilizado para se atingir determinada finalidade. Assim, ainda que com vício,
se o ato atinge sua finalidade sem causar prejuízo às partes não se declara sua
nulidade.
 Art. 570 do CPP:
Art. 570. A falta ou a nulidade da citação, da intimação ou notificação
estará sanada, desde que o interessado compareça, antes de o ato
consumar-se, embora declare que o faz para o único fim de argui-la. O
juiz ordenará, todavia, a suspensão ou o adiamento do ato, quando
reconhecer que a irregularidade poderá prejudicar direito da parte.
 Um vício gravíssimo como é a falta da citação do réu (Art. 572 e 564, III, "e",
CPP), também pode ser sanada se o objetivo da citação de qualquer forma foi
atingido. Tudo em acordo com a orientação do princípio da instrumentalidade
das formas.

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