A última palavra do capítulo 8 ainda ressoa em nossos ouvidos, quando Daniel se acha abandonado em total escuridão, “além do entendimento” (Dan. 8:27). Ele teve de esperar 13 anos para receber luz sobre o assunto. Estamos agora no primeiro ano do reinado de Dario (538 aC), um ano cunhado com o selo da esperança. É o mesmo ano em que Daniel enfrentou os leões, e do seu resgate pelo anjo (Dan. 6). Além disso, ele testemunha o cumprimento das primeiras profecias (capítulos 2 e 7): Babilônia cercada pelos Medos e Persas. Finalmente, é o ano do reino de Ciro, cujo co-regente na Babilônia é Dario. O profeta Isaias tinha avaliado Ciro como um messias e salvador de Israel: “Ele é meu pastor, e cumprirá tudo o quem apraz; de modo que ele também diga de Jerusalém: Ela será edificada, e o fundamento do templo será lançado. Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita... eu irei adiante de ti, e tomarei planos os lugares escabrosos... Dar-te-ei os tesouros... para que saibas que eu sou o Senhor, o Deus de Israel, que te chamo pelo teu nome. Por amor de meu servo Jacó, e de Israel, meu escolhido, eu te chamo pelo teu nome; ponho-te o teu sobrenome, ainda que não me conheças” (Isa. 44:28- 45:4)
Livro: Segredos de Daniel – Capítulo 9 – Autor Jacques Doukan
A visão precedente deixou um gosto de desapontamento. Por um instante Daniel pode ter chegado á conclusão de que a devastação de Jerusalém duraria 2300 anos. Mas depois de consultar o livro de Jeremias, ele se encontra confiante. O exílio não excederia 70anos. “Porque assim diz o Senhor: Certamente que passados setenta anos em Babilônia, eu vos visitarei, e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando a trazer-vos a este lugar... Então me invocareis, e ireis e orareis a mim, e eu vos ouvirei” (Jer. 29:10-12; cf. 25:11, 12)
Livro: Segredos de Daniel – Capítulo 9– Autor Jacques Doukan
Portanto, dos 70 anos, começando em 605 a.C com a destruição de Jerusalém (Dan.1), 68 anos haviam se passado e até então nada aconteceu. O povo ainda está no exílio e Jerusalém em ruínas. Fortificado, por sua própria experiência com profecia, Daniel se apega a esta última promessa. Ele desenvolve um interesse renovado em profecias, através de eventos do ano passado. Tendo testemunhado seu cumprimento parcial, ele anseia por mais. Sentindo as 70 semanas se escoando lentamente, sem nenhum sinal de mudança, Daniel se lançou ele mesmo aos pés de Deus em oração.
Livro: Segredos de Daniel – Capítulo 9– Autor Jacques Doukan
A profecia das 70 semanas vem como uma resposta à profecia dos 70 anos, como solução definitiva. Não é somente com um messias que estamos lidando neste contexto, mas 0 Messias. Consultando a profecia dos 70 anos, Daniel esperava um messias particular, Ciro. Mas a profecia das 70 semanas é uma versão universal da profecia dos 70 anos, como nós já entendemos na linguagem da passagem. Os 70 anos ( 7x10) levam ao messias do ano sabático, enquanto que as 70 semanas, ou “setenta setes” ( 7x7x1 0), leva-nos ao messias do jubileu. Além do mais, palavras que no contexto da oração de Daniel, expressaram uma situação particular e relativa, agora aparecem em um sentido indefinido e universal. Por exemplo, a palavra “transgressão” (ht) em Daniel 9:24-27 tem um sentido indefinido (verso 24) enquanto que os versos 1-23 empregam a mesma palavra em um sentido definido e particular: “temos pecado” (versos 5, 8, 11, 15), “nossos pecados” (verso 16), “meu pecado” (verso 20), “o pecado do meu povo” (verso 20). Do mesmo modo para a palavra “transgressão,” “justiça,” “visão,” “profecia,” etc. Assim, não é de surpreender, neste contexto, que a palavra “messias” também tem um sentido indefinido e universal. E esta é a única vez na Bíblia Hebraica. O messias nesta passagem é o Messias, circundando todos os outros messias - o Messias dos messias, o Messias universal
Livro: Segredos de Daniel – Capítulo 9– Autor Jacques Doukan
O livro de Esdras fala-nos que a cidade de Jerusalém seria reconstruída depois da proclamação de três decretos sucessivos, um por Ciro, o segundo por Dario e finalmente um por Artaxerxes (Esd. 6:14). O primeiro decreto, emitido em 538 por Ciro, inaugurou o retomo dos primeiros exilados. Em torno de 50.000 judeus retornaram para suas terras (Esd. 2:64). Mas o documento focaliza essencialmente a reconstrução do Templo. Ele autorizou os sacerdotes a trazer de volta 5.400 utensílios de culto que no passado pertenceram ao Templo (Esd. 1:11). O segundo decreto, emitido em 519 por Dario, o Primeiro, Hystaspes (não Dario o Medo) apenas confirmou aquele de Ciro (Esd. 6:3-12). Artaxerxes, de outra forma, conhecido como Longimanus {long-armed, Esd. 7:13-26), promulgou o terceiro decreto real. Muitos elementos apontam para este como sendo o “decreto” mencionado pela profecia: 1.É 0 último decreto, então o único efetivo. Na realidade, Esdras usa a palavra “decreto” no singular para designar todos os três decretos, como se implicando o propósito comum deles. 2. Este decreto é o mais completo, envolvendo tanto a reconstrução do Templo como o restabelecimento das estruturas política e administrativa de Jerusalém (verso 25). 3. E, finalmente, é o único que menciona explicitamente a intervenção de Deus: “Bendito seja o Senhor, Deus de nossos pais, que pôs no coração do rei este desejo de ornar a casa do Senhor, que está em Jerusalém; e que estendeu sobre mim a sua benevolência... Assim, encorajado pela mão do Senhor, meu Deus, que estava sobre mim, ajuntei dentre Israel alguns dos homens principais para subirem comido.” (versos 3.1 Fim da Profecia Sua Vinda. A vinda do Messias é esperada então por 69 semanas de anos, isto é, 483 (69 X 7) do ponto de partida, 457 a.C. A sétima semana seria então, o ano 27 de nossa era. O aparecimento de um indivíduo chamado “Cristo” (tradução grega da palavra Ungido/Messias) marcaria este ano. É precisamente o ano quando Jesus foi batizado e “ungido” pelo espírito (Lucas 3:21, 22). Lucas data o evento no décimo quinto ano do reinado de Tibério Cesar (verso 1).® Jesus inaugurou Seu ministério, como Messias, ao ler publicamente, no texto de Isaias, a descrição de Sua própria obra em termos de Jubileu: “O espírito do Senhor está sobre mim, porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos, e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e para proclamar o ano aceitável do Senhor” (Lucas 4:18, 19).
Livro: Segredos de Daniel – Capítulo 9 – Autor Jacques Doukan
A queda de Jerusalém. Em seguida à morte do Messias, o profeta Daniel focaliza o destino de Jerusalém e do Templo: “E o povo do príncipe agressivo deverá destruir a cidade e santuário; seu fim deverá ser em uma inundação; até o fim da guerra é decretado, desolações... e sobre a asa abominações, desolações até o fim, e então o que foi decretado, será derramado sobre o poder desolador” (Dan. 9:26, 27, tradução literal). A profecia é suficiente clara. Ela se refere á queda de Jerusalém e a destruição do Templo, mas não data o evento. A profecia das 70 semanas se restringe a data cronológica do evento do Messias (ver acima). Ela apenas nos informa que haverá “guerras”, “desolações,” e “abominações,” e que a tragédia ocorrerá, cronologicamente, algum tempo depois da morte do Messias.
Livro: Segredos de Daniel – Capítulo 9 – Autor Jacques Doukan
4.A Conexão Entre as Profecias Deus enviou a profecia das 70 semanas não só para nos convencer sobre do evento histórico do Messias. Temos visto que para o profeta Daniel, a visão das 70 semanas tem a função de ajudar a “entender” melhor, a visão das 2300 tardes e manhãs. De fato, as duas profecias estão situadas na mesma perspectiva e devem ser entendidas, uma relacionada com a outra.
“A profecia das 70 semanas é selo de autenticidade sobre a profecia
das 2300 tardes e manhãs”.
Livro: Segredos de Daniel – Capítulo 9 – Autor Jacques Doukan
As duas profecias estão relacionadas e complementam uma a outra em relação à verdade teológica delas. A salvação ocorre em dois passos: primeiro o evento da cruz, e segundo, a grande expiação cósmica (2300 tardes e manhãs), algo já implicado pelo ritual Levítico. O sacrifício diário não era suficiente. Kippur era também necessário para atingir a salvação completa. O profeta Daniel já sugere tal necessidade. Todos os verbos chaves de Daniel 8 e 9 estão na forma passiva, característico da linguagem Levítica. Daniel 9 usa seis verbos na forma passiva: “são decretado” (verso 24), “ela será reconstruída” (verso 25), “será cortado” (verso 26), “foi decretado” (verso 26), “que foi decretado” (verso 27), “foi despejado” (verso 27). Daniel 8 emprega apenas um verbo nesta forma: “consagrado” (verso 14). O verbo no capítulo 8 completa os outros seis no capítulo 9, adicionando o número sagrado 7.
Livro: Segredos de Daniel – Capítulo 9 – Autor Jacques Doukan
Este tempo do fim contém um evento que devemos, além disso, entender em relação ao evento ocorrendo no ano 31. Muitos cristãos tém negligenciado este aspecto em suas doutrinas de salvação. Eles declaram que a cruz é suficiente. “Tudo foi cumprido”. O cristianismo se tornou assim uma religião obcecada com a cruz, uma religião do passado e do presente. Isso entende salvação por obras boas e de auto sacrifício, padronizada após o Grande exemplo, ou apenas uma fé sentimental interessada com o pensamento e lembrança do sacrifício do Messias. De qualquer modo, a salvação foi. A religião cristã não tem necessidade de futuro, desde que a cruz já conseguiu a salvação. Experiências subjetivas vém substituir o evento histórico. Uma religião existencial prevalece sobre a esperança bíblica no reino de Deus, que promete então, que a morte e o mal, não mais vão atacar.
Livro: Segredos de Daniel – Capítulo 9 – Autor Jacques Doukan
Desesperando qualquer entendimento, e preocupado pela demora de Deus, Daniel cai de joelhos, em oração. No momento propício da oferta da tarde, a resposta de Deus é um Messias agonizante. Em Daniel 7 o Messias era o “filho do homem” real, que recebeu o domínio sobre o mundo. No próximo capítulo, em Daniel 8, o Messias foi o sumo- sacerdote oficiante no traje de Kippur. Finalmente, em Daniel 9 o Messias é a vítima expiatória. A mente hebraica representa o cenário para trás. Por que é a morte do Messias que serve como base para a salvação (capítulo 9). Então, brandindo o poder expiatório deste sacrifício, o Messias advoga por nós, na corte celestial, e ganha o julgamento (capítulo 8). Finalmente, o reino é anunciado (capítulo 7).
Livro: Segredos de Daniel – Capítulo 9 – Autor Jacques Doukan