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EMERJ

TEMA 04: Pessoa Jurídica.

Prof. Aurélio Bouret Campos


Prof. Aurélio Bouret Campos

PESSOA JURÍDICA

1. Do reconhecimento da personalidade jurídica à


agrupamentos humanos.
Conceito– Deriva da união de pessoas naturais ou de pessoas
naturais e seus patrimônios destinados a um fim especifico, como
no caso das fundações e da EIRELI.

2. Pessoa Jurídica na visão Civil-Constitucional:


A pessoa jurídica deve curvar-se ao principio da dignidade da
pessoa humana – desempenhar e atender a função social no
cumprimento das atividades para as quais foi criada, dentro dos
limites da razoabilidade sob pena de abuso do direito – art. 187
do CC. 

Enunciado 53 do CJF: “deve-se levar em consideração o


principio da função social do contrato na interpretação das
normas relativas à empresa, a despeito da falta de referencia
expressa”. 
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PESSOA JURÍDICA

Exemplos em que o ordenamento impõe o cumprimento


da função social:
Desconsideração da personalidade jurídica (art. 50 do CC e
art. 28 do CC) – quando os sócios utilizam abusivamente da
empresa, desatendendo sua função social.
Concorrência desleal (art. 174 da CRFB e Lei 8884/94) –
Quando grandes complexos empresariais podem aniquilar a
micro e pequena empresa.
Proteção da pessoa com deficiência (Leis 10.048/00 e
10.098/00) – impõe a toda e qualquer pessoa jurídica, de
direito público e privado, adaptar as suas instalações físicas
à garantia de acessibilidade. (sem subsídios).
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PESSOA JURÍDICA

3. Características:

Personalidade jurídica – distinta dos seus instituidores,


adquirida a partir do registro de seus estatutos.

Patrimônio – distinto dos seus membros – art. 47 do CC.

Existência jurídica – diversa de seus integrantes (é presentada


por eles, não se confundindo com a personalidade de cada um);

Não podem exercer atos que sejam privativos de pessoas


naturais – em razão da ausência de estrutura biopsicológica.

Pode ser sujeito ativo ou passivo em atos civis ou criminais.


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PESSOA JURÍDICA

4. Natureza Jurídica:

4.1. Teoria da Ficção: A pessoa jurídica constitui uma criação


artificial da lei, pois somente a pessoa natural pode ser sujeito da
relação jurídica e titular de direitos objetivos. 

4.2. Teoria da realidade técnica: a personificação de grupos


sociais é expediente de ordem técnica, a forma encontrada pelo
direito para reconhecer a existência de grupos de indivíduos, que
se unem na busca de fins determinados, permitindo que eles
participem da vida jurídica nas mesmas condições das pessoas
naturais.
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PESSOA JURÍDICA

Começo da Existência da Pessoa Jurídica:

Enquanto a pessoa natural tem sua personalidade jurídica


adquirida no momento do nascimento com vida (sem
divergência doutrinária ao menos) – art. 2º do CC.

A pessoa jurídica depende da vontade humana, do registro


de seus atos constitutivos no órgão competente – art. 45 do
CC. 
RCPJ – fundações, associações, sociedades simples.
Juntas comerciais – Sociedade empresária ou
microempresa.
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PESSOA JURÍDICA

> Natureza jurídica do Registro: Constitutiva – A partir do


Registro a PJ disporá de personalidade e estrutura patrimonial
própria, autônoma e distinta de seus instituidores.

OBS: Se uma sociedade começa a operar sem o devido registro


ela é tida como sociedade irregular ou sociedade de fato – art.
986 a 990 do CC.

> Registros Específicos:


CVM – Sociedades anônimas que pretendem lançar ações no
mercado.
TSE – Partidos Políticos – art. 7º L. 9096/95.
OAB – Sociedade simples de advogados só adquirem
personalidade após registro na Ordem – art. 15 e 16 §3º da L.
8906/94.
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5. Classificação/Espécies – art. 44 do CC.

I – Associações;

II – Sociedades (art. 981 e ss);

III – Fundações;

IV – Organizações religiosas;

V - Os Partidos Políticos;

VI – As empresas individuais de responsabilidade


limitada (art. 980 A do CC).
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PESSOA JURÍDICA

Associações – art. 53 do CC: 


a) Conceito: União de pessoas naturais, organizada para
atender a fins não econômicos, que encontram limites no art.
5º, XVII da CRFB, que afirma plena liberdade associativa
para fins lícitos, vedada a de caráter para militar.
b) Liberdade associativa – art. 5 XX c/c XVII da CRFB:
A CRFB consagrou a liberdade associativa – ninguém pode
ser compelido à se associar ou a se manter associado –
Havendo previsão de crime no CP – art. 199.
Livre direito de criação e manutenção – independente de
autorização.
Direito de se associar – não podendo ninguém ser obrigado.
Direito de desassociação.
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PESSOA JURÍDICA

c) Exclusão do Associado – art. 57 do CC: Admite-se a exclusão


quando houver justa causa, reconhecida em procedimento que
assegure o direito de defesa e de recurso, nos termos do Estatuto.
O procedimento de exclusão deve atender o devido processo legal
– garantir uma defesa ampla com produção de provas, direito a
participação de advogado, etc.
A justa causa tem que restar cabalmente demonstrada no processo
administrativo para ocorrer a exclusão. É requisito necessário – na
duvida não exclui.
Deve ser convocada assembléia especificadamente para esse fim, e
diante das provas colhidas no procedimento, decidir sobre a
exclusão através do quorum indicado no Estatuto.
Impugnação judicial – Da decisão de exclusão caberá
impugnação judicial pelo amplo acesso à justiça – art. 5º XXXV da
CRFB.
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PESSOA JURÍDICA

Fundações – art. 62 do CC:

a) Conceito: Entidades criadas com bens livres que são afetados,


por ato de vontade de seu titular, através de escritura pública ou
de testamento, para atender a uma finalidade específica, que
poderá ser religiosa, moral, cultural ou assistencial de acordo
com o art. 62 § único do CC.

 (E.8 do CJF) – permitindo que as fundações busquem


finalidades outras, desde que afastado o caráter lucrativo como
educacional e ambiental.

OBS: Podem assumir a natureza pública ou privada – vamos


estudar as privadas e deixar as públicas para o Direito
Administrativo.
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PESSOA JURÍDICA

b) Fiscalização: Considerado o interesse social a fiscalização é


feita pelo MP do Estado em que estiver situada.
> Fundação de abrangência nacional – situada em mais de uma
estado, ex: fundação Roberto Marinho – MP estadual de cada
estado. 
> Fundação que funcione no Distrito Federal: A fiscalização
incumbirá ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios
– MPDFT – apesar da lei indicar erroneamente o MPF (art. 66§1º
do CC).
• Declarado inconstitucional pelo STF na Adi 2794/DF – por
entender que as atribuições do MP dispostas na LC 75/93 não
poderiam ser alteradas por meio de uma lei ordinária como o CC,
somente sofrendo modificações por lei complementar – art. 128
§5 da CRFB.
• E. 10 CJF – No mesmo sentido.
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PESSOA JURÍDICA

• Organizações Religiosas – art. 44§1º do CC – Livre a sua


criação, organização, estruturação interna e funcionamento.
• Essa liberdade não afasta o controle de legalidade e
legitimidade constitucional do seu registro, nem a
possibilidade de reexame pelo judiciário da compatibilidade
dos seus ato com a lei e com seus estatutos. (E. 143 do
CJF).
• OBS: A Liberdade Religiosa – art. 19 CRFB.
• Partidos Políticos – art. 8º § 2º - Lei 9096/95 – sua
constituição é um ato complexo.
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PESSOA JURÍDICA

• 7. Entes Formais ou despersonalizados:


– Massa falida
– Herança vacante
– Espólio
– Condomínio.

• > Os entes formais são uma realidade fática e jurídica:


• Apesar de não tem personalidade jurídica – podem ser sujeitos de
direitos – podem titularizar relações diversas.
• Ex: Contratantes, Contribuintes, Consumidores. Etc.
• Tem capacidade processual (art. 12 do CPC) – Capacidade
Judiciária (Pontes de Miranda) - Podem impetrar M.S. – STF
(MS 21.239/DF).
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PESSOA JURÍDICA

• Questão:

• PAPELARIA SANTO AMARO LTDA. ingressou com agravo de


instrumento em face de decisão que reconheceu sua revelia em processo
movido por Tício. Argumenta que não houve na hipótese sua regular
citação. Sustenta que o ato citatório deveria recair sobre o seu
representante legal, consoante o estabelecido pelo artigo 12, inciso VI, do
CPC, sendo que na situação a citação recaiu em funcionário que atendia
no balcão, que não deu ciência ao representante legal da sociedade acerca
do ocorrido. Diz ainda que se trata de pequena sociedade e que nenhum
motivo havia para que a citação não tivesse sido dirigida ao seu
representante legal.

• Qual o entendimento do aluno a respeito?

• R: A citação é válida, pela mais simples aplicação da teoria da aparência. Citada a


pessoa jurídica naquele que aparenta ser seu representante, está cientificada do
processo, regularmente.
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PESSOA JURÍDICA

• Questão - João da Silva moveu em face da empresa Factoring Dinheiro Rápido


Ltda execução fundada em título extrajudicial, requerendo a desconsideração de
sua personalidade jurídica para o fim de serem penhorados bens particulares de
sócio majoritário, sob a alegação de que a executada não possui bens que possam
honrar a dívida e que está sendo utilizada para a prática de atos fraudulentos.
Alega, ainda, que fora criada de forma fantasiosa, com a finalidade de captação
de recursos financeiros no seio da sociedade, causando enormes prejuízos a
inúmeras pessoas.

• O Juízo a quo indeferiu o pedido de desconsideração da personalidade jurídica


por entender que, apesar da evidência de que a executada estivesse em situação
financeira difícil, a simples insatisfação do crédito perante a pessoa jurídica não
autoriza a sua desconsideração, o que só seria possível em face da prova da
utilização fraudulenta da entidade por seu sócio majoritário, ônus que incumbia à
executanda provar e não o fez.

• À luz do disposto na norma dos artigos 50 do novo Código Civil e 28 do Código


de Defesa do Consumidor e, considerando, ainda, os entendimentos doutrinário e
jurisprudencial dominantes, agiu corretamente o juiz? Explique.
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PESSOA JURÍDICA

• 9. Desconsideração da Personalidade Jurídica (Disregard


Doctrine):
• 9.3. Conceito: Desprezo episódico (eventual), pelo poder
judiciário, da personalidade jurídica com o propósito de permitir
que os seus sócios respondam com o seu patrimônio pessoal pelos
atos abusivos e fraudulentos praticados sob o véu societário
(Cristiano Chaves). Art. 50 do CC
• A pedido da parte interessada (lesado pela conduta ilícita) ou do
MP o juiz desconsidera a personalidade.
– Não implica em anulação da personalidade – ineficácia
episódica.
• Faz cessar a autonomia patrimonial.
• O que torna possível a penhora de bens particulares dos sócios
(que praticaram atos irregulares).
– E.7 do CJF.
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PESSOA JURÍDICA

• Teoria maior e teoria menor da desconsideração da


personalidade jurídica:

• A) Teoria Maior: Art. 50 do CC – Disfunção da empresa –


Necessidade de comprovação do abuso ou da fraude como
elementos objetivos, que podem ser demonstrados através de
situações fáticas como confusão patrimonial, desorganização
societária – Exigirá sempre o atendimento dos requisitos legais.

• B) Teoria Menor: Trata como caso de desconsideração toda e


qualquer hipótese de comprometimento do patrimônio pessoal do
sócio por obrigação da empresa. Fundamenta-se no simples
prejuízo do credor para afastar a autonomia patrimonial da PJ.
(art. 28 §5º do CDC).
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PESSOA JURÍDICA

• Teoria maior e teoria menor da desconsideração da


personalidade jurídica:

• Teoria Maior - Enunciado 146 do CJF > Nas relações civis,


interpretam-se restritivamente os parâmetros de desconsideração
da personalidade jurídica previstos no art. 50 (desvio de
finalidade social ou confusão patrimonial).

• Teoria Menor: Enunciado 51 CJF - Art. 50: a teoria da


desconsideração da personalidade jurídica – disregard doctrine –
fica positivada no novo Código Civil, mantidos os parâmetros
existentes nos microssistemas legais e na construção jurídica
sobre o tema.
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PESSOA JURÍDICA

• Requisitos para a desconsideração da personalidade jurídica:


Art. 50 do CC:
• Desvio de finalidade – Fuga dos objetos sociais da PJ, deixando
um rastro de prejuízo direito ou indireto para terceiros ou para
outros sócios da empresa.
• Confusão patrimonial – Sócio utiliza o patrimônio da PJ para
realizar pagamentos pessoais (vice-versa) – atentando contra a
separação patrimonial (comingling of funds ou promiscuidade de
fundos).
• OBS.1: Insolvência: Não é requisito a comprovação da
insolvência da PJ (E. 281 do CJF) – A desconsideração tem
finalidade preventiva, não precisa esperar quebrar.
• OBS.2: Art. 28 §5º do CDC: A doutrina critica a desconsideração
posto que o abuso de direito deveria ser o pressuposto básico para
a desconsideração, pela quebra da boa-fé.
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PESSOA JURÍDICA

• Desconsideração Inversa:
• Objetivo da desconsideração é obstar a pratica abusiva de
condutas através do ente despersonalizada em detrimento de
terceiros – imputando responsabilidade ao sócio.
• Conceito: É também possível afastar a autonomia patrimonial
para responsabilizar a PJ por obrigações assumidas por seus
sócios.
– Visa alcançar os bens da própria sociedade – pelos atos
praticados por seus sócios.
– Motivo – ele atuaram ostensivamente ocultando os seus bens
na sociedade.
• Enunciado 283 do CJF: É cabível a desconsideração da
personalidade jurídica denominada “inversa” para alcançar bens
de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar
bens pessoais, com prejuízo a terceiros.
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PESSOA JURÍDICA

• Desconsideração indireta da Personalidade Jurídica: 

• Pode ocorrer fraudes e abusos cometidos por empresas


controladoras, utilizando a personalidade da empresa controlada
– coligada, subsidiária integral, etc. (as vezes uma empresa de
fachada).

• Permite-se o levantamento episódico da personalidade da PJ


controlada para atingir e responsabilizar a sócia, a empresa-
controladora (que figura como sócia na controlada), pelos atos
praticados com fraude ou abuso na gestão da empresa
controlada.
E-mail: auréliobouret@yahoo.com.br (Assunto: PREMERJ)

Facebook: Aurélio Bouret

FIM

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