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SIMBOLISMO NO

BRASIL
• ANALISAR O MODO COMO CRUZ E SOUSA EXPLORA IMAGENS CALEIDOSCÓPICAS NA
COMPOSIÇÃO DE SEUS POEMAS.

• EXPLICAR A IMPORTÂNCIA DO MISTICISMO E DA MORTE PARA A POESIA SIMBOLISTA DE


ALPHONSUS DE GUIMARAENS.

• RECONHECER DE QUE MODO OS AUTORES SIMBOLISTAS FAZEM USO DA REITERAÇÃO


ENFÁTICA E IDENTIFICAR O USO DESSE MESMO RECURSO NA POESIA DE AUTORES
MODERNISTAS.
AE IO U Manhã de primavera. Quem não pensa
Em doce amor, e quem não amará?
Neste poema, o eu lírico comenta os diversos Começa a vida. A luz do céu é imensa...
estágios da vida. A adolescência é toda sonhos. A.

O luar erra nas almas. Continua


• O poema procura caracterizar as etapas da vida humana O mesmo sonho de oiro, a mesma fé.
por meio de impressões e sensações. A cada etapa
Olhos que vemos sob a luz da lua...
A mocidade é toda lírios. E.
corresponde uma vogal. Por que esse procedimento
pode ser considerado típico do Simbolismo? Descamba o sol nas púrpuras do ocaso.
As rosas morrem. Como é triste aqui!
O fado incerto, os vendavais do acaso...
• Na linha do tempo, quais acontecimentos podem ser Marulha o pranto pelas faces. I.
associados ao descontentamento com os privilégios das
elites e à preocupação com o subconsciente?
A noite tomba. O outono chega. As flores
Penderam murchas. Tudo, tudo é pó.
Relacione-os ao Simbolismo. Não mais beijos de amor, não mais amores...
Ó sons de sinos a finados! O.

Abre-se a cova. Lutulenta e lenta,


A morte vem. Consoladora és tu!
GUIMARAENS, Alphonsus de. Poesia completa. Rio de Janeiro: Sudários rotos na mansão poeirenta...
Nova Aguilar, 2001. Crânios e tíbias de defuntos. U.
Simbolismo brasileiro: além do real e
próximo da morte
o Como ocorreu em Portugal, os escritores brasileiros que se engajaram na estética
simbolista também viveram intensamente o momento político que, no fim do século XIX,
trazia como questão principal a luta pelo fim da escravidão.
o Em termos estéticos, aproximavam-se dos parnasianos na visão da perspectiva romântica
como antiquada e incapaz de representar o mundo em que viviam. A abordagem por eles
escolhida, porém, foi diferente. Enquanto os parnasianos mergulhavam no culto à forma,
os simbolistas investiam no verbo como elemento transformador da realidade, por meio
da ampliação da percepção humana.
o Dois nomes se destacaram entre os adeptos da nova estética: João da Cruz e Sousa e
Alphonsus de Guimaraens. Cada um deles trilhou caminhos diferentes, mas ambos
fizeram uso de uma linguagem claramente simbolista.
Cruz e Sousa: a transfiguração da condição
humana
o Seduzido pela possibilidade de transfigurar o real por meio da poesia, Cruz e Sousa
abraça com paixão o projeto literário simbolista, mesmo diante da incompreensão do
público e da crítica.
o O que impressiona em sua poesia é a profundidade filosófica e a angústia metafísica,
temas que sem dúvida tiveram origem na sua sofrida experiência pessoal.
o Filho de escravos alforriados, João da Cruz e Sousa (1861-1898) nasceu em Nossa
Senhora do Desterro (hoje Florianópolis). Cruz e Sousa conheceu na pele a crueldade do
preconceito. Nomeado promotor público da cidade de Laguna, foi impedido de ocupar o
cargo por ser negro. Morreu de tuberculose aos 36 anos. Seu corpo foi levado para o Rio
de Janeiro em um carro usado para o transporte de cavalos.
Ó solidão do Mar, ó amargor das vagas,
ondas em convulsões, ondas em rebeldias,
desespero do Mar, furiosa ventania,
boca em fel dos tritões engasgada de pragas.

Velhas chagas do sol, ensanguentadas chagas


de ocasos purpurais de atroz melancolia,
luas tristes, fatais, da atra mudez sombria
de trágica ruína em vastidões pressagas.

Para onde tudo vai, para onde tudo voa,


sumido, confundido, esboroado, à toa,
no caos tremendo e nu dos tempos a rolar?

Que Nirvana genial há-de engolir tudo isto,


mundos de Inferno e Céu, de Judas e de Cristo,
luas, chagas do sol e turbilhões do Mar?!

Alucinação
CRUZ E SOUSA, J. In: TORRES, Alexandre Pinheiro. Antologia da poesia brasileira (Do Padre Anchieta a João Cabral de Melo Neto). Porto:
Lello & Irmãos Editores, 1984. v. 2, p. 618.
Cruz e Sousa: a obsessão do branco

o Uma característica inconfundível da obra de Cruz e Sousa é o uso de um vocabulário em


que predominam, de modo obsessivo, termos associados à cor branca, como neve,
névoas, alvas, brumas, lírios, palidez, lua.
o Essa recorrência indica uma busca incessante pela “pureza das Formas eternas, das
Essências das coisas”, que definem a base do projeto literário simbolista. Mas pode
indicar também para uma associação entre literatura e sociedade, uma vez que o que é
ambíguo é próprio da estética simbolista.
o A qualidade da obra de Cruz e Sousa só será reconhecida no século XX, quando vários
estudos críticos mostrarão que seus poemas têm lugar equivalente aos dos mestres
franceses Baudelaire, Verlaine e Mallarmé.
De linho e rosas brancas vais vestido,
Sonho virgem que cantas no meu peito!...
És do Luar o claro deus eleito,
Das estrelas puríssimas nascido.

Por caminho aromal, enflorescido,


Alvo, sereno, límpido, direito,
Segues radiante, no esplendor perfeito,
No perfeito esplendor indefinido...

As aves sonorizam-te o caminho...


E as vestes frescas, do mais puro linho
E as rosas brancas dão-te um ar nevado...

No entanto, Ó Sonho branco de quermesse!


Nessa alegria em que tu vais, parece
Que vais infantilmente amortalhado!

Sonho Branco
CRUZ E SOUSA, Missal e Broquéis, 1883.
Alphonsus de Guimaraens: o místico
mineiro
o Autor de uma poesia marcada pela religiosidade e misticismo, Afonso Henriques da Costa
Guimarães (1870-1921) nasceu em Ouro Preto, Minas Gerais. Em 1888, morreu sua
noiva, Constança, fato que o marcou para toda a vida e será relembrado constantemente
em muitos de seus versos. Viveu na pacata cidade de Mariana (MG), onde compôs uma
vasta obra poética que, como a de Cruz e Sousa, foi praticamente ignorada por seus
contemporâneos.
o Em um de seus mais conhecidos poemas, Ismália, trata de modo delicado de uma questão
que está no centro do projeto simbolista: as ilusões provocadas pelo mundo visível.
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.

No sonho em que se perdeu, E como um anjo pendeu


Banhou-se toda em luar... As asas para voar...
Queria subir ao céu, Queria a lua do céu,
Queria descer ao mar... Queria a lua do mar...

E, no desvario seu, ​ s asas que Deus lhe deu


A
Na torre pôs-se a cantar... Ruflaram de par em par...
Estava perto do céu, Sua alma subiu ao céu.
Estava longe do mar... Seu corpo desceu ao mar...

Ismália
GUIMARAENS, Alphonsus de. Poesia completa. Organização de

Alphonsus de Guimaraens Filho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001. p. 313-314.


Entre brumas, ao longe, surge a aurora. Por entre lírios e lilases desce
O hialino orvalho aos poucos se evapora, A tarde esquiva: amargurada prece
Agoniza o arrebol. Põe-se a lua a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu risonho, Aparece, na paz do céu tristonho,
Toda branca de sol. Toda branca de luar.
E o sino canta em lúgubres responsos: E o sino chora em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”
O astro glorioso segue a eterna estrada. O céu é todo trevas: o vento uiva.
Uma áurea seta lhe cintila em cada Do relâmpago a cabeleira ruiva
Refulgente raio de luz. Vem açoitar o rosto meu.
A catedral ebúrnea do meu sonho, E a catedral ebúrnea do meu sonho
Onde os meus olhos tão cansados ponho, Afunda-se no caos do céu medonho
Recebe a bênção de Jesus. Como um astro que já morreu.
E o sino clama em lúgubres responsos: E o sino geme em lúgubres responsos:
“Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!” “Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!”

A catedral
GUIMARAENS, Alphonsus de. Poesia completa. Organização de

Alphonsus de Guimaraens Filho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2001. p. 313-314.


Quando o ocaso, triste, vinha... Ó lábios que sereis de lodo e poeira...

Quando o ocaso, triste, vinha Ó lábios que sereis de lodo e poeira,


Baixando além, Que intangível desejo vos abate?
Enchiam-se de luto as catedrais.
Que ânsia suprema, na hora derradeira,
Minh'alma tinha
Em silêncio vos livra esse combate?
Também
Querei falar, e quietos sois: na inteira
A mesma sombra e os mesmos ais.
Mudez do coração que já não bate,
O sol tombando, triste,
Por debaixo de vós ri-se a caveira,
Contemplava-me, e eu via,
No céu onde floriste, Lábios que fostes flamas de escarlate.

As minhas ilusões, toda a minha agonia! Se frios como neve estais agora,
Sombras de mortos e de mortas, Com saudades de beijos que não destes,
Que andais velando pelas portas, Alegrai-vos na dor que vos descora.
Vinde dar-me consolo aos meus martírios. Cerrai-vos para sempre em doce calma:
Embalsamai minh'alma fria, fria, Que os beijos dados, e ainda os mais celestes,
Com pétalas de lírios! Nunca deixam vestígios na nossa alma...

GUIMARAENS, Alphonsus de. Os melhores poemas de Alphonsus de Guimaraens. Seleção de GUIMARAENS, Alphonsus de. Os melhores poemas de Alphonsus de
Alphonsus de Guimaraens Filho. Guimaraens. Seleção de Alphonsus de Guimaraens Filho.
Mors Liberatrix
• Em toda a obra de Alphonsus de
Guimaraens, a morte será tematizada
direta e indiretamente, com inúmeras
referências aos elementos a ela associados
(os círios, os esquifes, os panos roxos, os
campos-santos, as orações fúnebres, o
réquiem).

• Para Alphonsus, a morte é acolhida


como momento de passagem, de
transformação, que abre as portas da
eternidade, pondo fim ao sofrimento
humano.

Casa do poeta Alphonsus de Guimaraens em Mariana, MG, 2014.


O reconhecimento modernista


[...] Na tristura cinza do aposento, pude dizer-lhe pausadamente, em calma,
as lindas coisas que eu sentia sobre a sua arte desacompanhada e
incompreendida. [...] Versos encantados, dos mais lindos da língua
portuguesa, dos mais comovidos dos nossos dias, dispersos em revistas que


os não realçam, fanando num ineditismo pasmado e burguês. [...] Não
haverá no Brasil um editor que lhe agasalhe os poemas, tirando-os da
escuridão? [...]

ANDRADE, MÁRIO DE. ALPHONSUS. IN: GUIMARAENS, ALPHONSUS DE. POESIA COMPLETA. ORGANIZAÇÃO
DE ALPHONSUS DE GUIMARAENS FILHO. RIO DE JANEIRO: NOVA AGUILAR, 2001. P. 27. (FRAGMENTO).

• A admiração dos primeiros modernistas brasileiros pela obra de Alphonsus de Guimaraens é


declarada explicitamente por Mário de Andrade, que relata um encontro com o poeta, ocorrido
em 1919, no excerto.
• Oswald de Andrade, mais crítico e direto, afirmava: "Alphonsus de Guimaraens valia sem
dúvida todos os poetas juntos da Academia Brasileira".

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