Você está na página 1de 14

Efeitos de sentido

• Reconhecer o duplo sentido de um texto.


• Identificar casos de ambiguidade problemática.
• Explicar como o duplo sentido pode ser explorado para provocar efeitos de sentido.
• Reconhecer a ironia em textos e explicar como ela é utilizada para criticar a
realidade.
• Reconhecer efeitos de humor em textos de diferentes gêneros discursivos.
• Compreender como o humor pode ser construído por meio de recursos linguísticos.
O interesse principal
do autor do anúncio
parece ser destacar a
ideia de que um carro
sofisticado, com teto
conversível, pode ser
adquirido por um
valor baixo (“o preço
parece esmola”). Isso
permitiu que ele
associasse essa
característica
(facilmente
identificável na foto) a
desabrigados (os sem-
teto), que pedem
esmolas nas ruas. No
anúncio, a presença
do hífen é uma
estratégia para
permitir que o termo
Clube da criação do Rio de Janeiro. Acesso em 27 abril 2018 adquira dois sentidos.
DUPLO SENTIDO
Em diferentes situações de interlocução, observamos que as pessoas exploram a possibilidade de palavras ou
expressões receberem mais de uma interpretação. Quando fazem isso, cria-se um efeito de duplo sentido.

• Duplo sentido é a propriedade que têm certas palavras e expressões da língua de serem interpretadas de
duas maneiras diferentes.
• Embora duplo sentido e ambiguidade sejam considerados sinônimos, preferiu-se estabelecer uma ligeira
distinção conceitual entre os dois. Duplo sentido será usado sempre que a possibilidade de mais de uma
interpretação for intencional, algo produzido pelo sujeito. O termo ambiguidade será usado sempre que a
possibilidade de mais de uma interpretação resultar de alguma construção linguística problemática e não
intencional.
• Recorremos ao duplo sentido para provocar o riso ou o estranhamento (caso do anúncio reproduzido na
abertura), despertar a curiosidade, criar implícitos. Como usuários da língua, devemos ser capazes de
reconhecer quando uma expressão pode adquirir mais de um sentido.
DUPLO SENTIDO E CONOTAÇÃO
O título da tira, Na padaria da vida, chama a atenção do
leitor para a intenção da autora de explorar o duplo sentido.
Como não existem “padarias da vida”, devemos nos preparar
para estabelecer aproximações entre o texto dos quadrinhos, o
contexto de uma padaria real e a própria vida.
Em uma padaria real, a personagem poderia ter a intenção
de comprar um sonho e mudar de ideia, escolhendo um bolo.
Isso não seria motivo para descontentamento ou frustração,
como a expressão da personagem parece sugerir. No entanto,
devemos nos lembrar de que o termo bolo também é utilizado
em expressões coloquiais com valor conotativo: dar um
bolo / levar um bolo. Dar um bolo significa não cumprir um
compromisso ou não comparecer a um encontro marcado.
A personagem da tira constata que, na padaria da vida,
quem entra querendo um sonho acaba levando um bolo, está
se colocando na posição de quem espera alcançar algo com
que sonhou, mas termina frustrada pela realidade da vida. É
esse jogo que cria o duplo sentido no texto da tira.
BESPALOFF, Nat. Acesso em: 30 abr. 2018.
AMBIGUIDADE: A indeterminação problemática
Em alguns casos, observamos que um texto pode ter mais de um sentido sem que isso tenha sido
intencionalmente produzido. Nesses casos, dizemos que ocorreu uma ambiguidade.

• Ambiguidade é a indeterminação de sentido que


certas palavras ou expressões apresentam,
dificultando a compreensão do enunciado.
• A presença de passagens ambíguas
frequentemente provoca dificuldade de
compreensão de um texto e deve ser evitada.
Muitas vezes a ambiguidade é criada pelo
posicionamento de determinada palavra ou
expressão em um enunciado.
Receitas Supreme. Disponível em: <http://www.receitassupreme.com.br/
receita-de-doce-da-avo-de-chocolate/>. Acesso em: 27 out. 2015.
AMBIGUIDADE LEXICAL
Às vezes, a interpretação ambígua é desencadeada pelo uso de uma palavra que não permite identificação
precisa de seu referente no texto. É o caso, por exemplo, do pronome relativo que. Muitas vezes, o resultado do
uso mal controlado desse pronome cria interpretações problemáticas.

O padre Rolim, outro dos inconfidentes, era filho de José da Silva Oliveira, caixa da Real
Administração dos Diamantes. Era o dono de Chica da Silva, irmã de criação do padre Rolim que
foi amante do último contratador de diamantes, João Fernandes de Oliveira, que, por sua vez, era
filho do primeiro contratador, seu homônimo.

• Quando o autor fala sobre o parentesco do padre Rolim com a famosa escrava Chica da Silva, o pronome
relativo provoca uma interpretação estranha: “... Chica da Silva, irmã de criação do padre Rolim que foi
amante do último contratador de diamantes, João Fernandes de Oliveira...”.
• Com esse uso, o pronome pode se referir tanto ao padre quanto a Chica da Silva. E, a depender de seu
referente, muda a identidade do(a) amante de João Fernandes de Oliveira. Para evitar esse problema,
basta substituir o pronome relativo que por a qual. Com a flexão de gênero marcada, saberíamos que o
referente do pronome teria de ser Chica da Silva.
ATIVIDADES
O que se pretendia informar com a placa acima?
Do modo como a placa foi escrita, o que poderia
ser entendido? 
O que, na forma como o texto da placa foi escrito,
gera essa interpretação do que é oferecido? Como
ele deveria ser redigido para evitar essa
interpretação?
O que gera a interpretação de que o proprietário
está sendo vendido junto com o imóvel é o fato de o
verbo tratar ter sido omitido na placa. O uso da
preposição com entre imóvel e proprietário é o que
CAMARGO, José Eduardo; SOARES, L. No país das placas malucas. produz a ambiguidade do texto e possibilita essa
São Paulo: Panda Books, 2011. p. 15. 
interpretação absurda do que está sendo anunciado.
ATIVIDADES
Como o termo
choques, que dá título
à charge, deve ser
interpretado em cada
uma das cenas
apresentadas?
Que crítica é feita
nessa charge e de que
forma ela se relaciona
ao título escolhido
LVES. Folha de S.Paulo. São Paulo, 6 ago. 2015. Acesso em: 27 out. 2015. pelo autor?

Na primeira cena, a expressão “energia elétrica” e a imagem de um homem segurando um fio elétrico
desencapado levam a interpretar o termo choque como uma referência ao efeito de uma descarga elétrica. Na
segunda, o enunciado “conta de energia elétrica”, o papel que a personagem segura nas mãos (com um cifrão e
uma cor forte, sugerindo que o valor a ser pago é alto) e a expressão alarmada do homem indicam que ele ficou
muito abalado ao tomar conhecimento do valor da sua conta de energia elétrica.
IRONIA
A FUNÇÃO CRÍTICA DA IRONIA E SEU SENTIDO LITERÁRIO
IRONIA: A FUNÇÃO CRÍTICA DA IRONIA E SEU SENTIDO LITERÁRIO
A análise do diálogo entre
o homem e a mulher, na
charge, deixa claro que,
muitas vezes, as falas e os
textos não devem ser
interpretados ao pé da
letra. Como vimos, a
resposta da mulher ao
comentário machista
feito pelo homem deve
ser entendida, no
contexto da tira, como
uma afirmação
claramente irônica.
Ironia é o efeito resultante do uso de uma palavra ou expressão que, em um contexto
específico, ganha sentido oposto ou diverso daquele que costuma ser utilizada.
O leitor, ao constatar que a mulher utiliza a mesma medida (30 cm) para aludir à pequenez do cérebro
desse homem, entende que o autor da charge pretendeu ironizar comportamentos machistas.
IRONIA: A FUNÇÃO CRÍTICA DA IRONIA E SEU SENTIDO LITERÁRIO

Na fala, a intenção irônica costuma ser marcada por uma prosódia particular (maior duração,
entoação exagerada, altura de voz). Na tira abaixo, o negrito é usado para evidenciar o modo
irônico como Heart usa a prosódia para sugerir que ela não tem qualquer interesse em assistir ao
jogo de hóquei de rua. A expressão da personagem (olhos revirados para cima), no segundo
quadro, também contribui para explicitar o caráter irônico da sua fala.
IRONIA: A FUNÇÃO CRÍTICA DA IRONIA E SEU SENTIDO LITERÁRIO
É frequente encontrarmos ironia em diferentes textos com os quais entramos em contato diariamente. Para
o desenvolvimento da nossa competência de bons leitores, é essencial que saibamos identificar a ocorrência
da ironia nos textos, pois somente assim seremos capazes de dar a esses textos a interpretação pretendida.

A charge é um gênero
discursivo que tem como
uma de suas
características promover
uma reflexão crítica sobre
situações políticas,
econômicas e sociais da
atualidade.

A ironia da charge é construída a partir do fato de que um mesmo objeto — a pedra — ganha sentidos opostos
a depender do contexto: no primeiro quadro, a pedra é parte de uma brincadeira de criança; no segundo
quadro, é símbolo da exploração da mão de obra infantil. É irônico que o menino que fornece o recurso para a
menina jogar amarelinha não tenha o direito de brincar.
A IRONIA COMO RECURSO LITERÁRIO
[...] Assim, pois, o sacristão da Sé, um dia, ajudando à missa, viu entrar a dama, que devia ser
sua colaboradora na vida de Dona Plácida. Viu-a outros dias, durante semanas inteiras, gostou,
disse-lhe alguma graça, pisou-lhe o pé, ao acender os altares, nos dias de festa. Ela gostou dele,
acercaram-se, amaram-se. Dessa conjunção de luxúrias vadias brotou Dona Plácida. É de crer que
Dona Plácida não falasse ainda quando nasceu, mas se falasse podia dizer aos autores de seus
dias: — Aqui estou. Para que me chamastes? E o sacristão e a sacristã naturalmente lhe
responderiam: — Chamamos-te para queimar os dedos nos tachos, os olhos na costura, comer
mal, ou não comer, andar de um lado para outro, na faina, adoecendo e sarando, com o fim de
tornar a adoecer e sarar outra vez, triste agora, logo desesperada, amanhã resignada, mas
sempre com as mãos no tacho e os olhos na costura, até acabar um dia na lama ou no hospital;
foi para isso que te chamamos, num momento de simpatia [...].
A ironia, em alguns casos, ela chega a definir um estilo. É o que acontece com Machado de Assis. Nos seus romances
realistas, o grande escritor brasileiro dirige um olhar claramente irônico para a sociedade do Segundo Reinado.
Narradores descrentes da condição humana, como Brás Cubas (narrador protagonista do romance Memórias
póstumas de Brás Cubas), fazem da ironia uma verdadeira arma para denunciar a hipocrisia de seus semelhantes.
A IRONIA COMO RECURSO LITERÁRIO: A CRÔNICA
Protesto contra excelência
Nós, taxistas, gostaríamos de protestar contra o excelente serviço prestado pela empresa Uber.
Do jeito que a coisa anda, tudo indica que, em breve, todo passageiro vai querer respeito,
conforto e educação.
Outro dia um passageiro veio me pedir pra abaixar o som. Aí você me pergunta: o carro é
dele? Não. Então por que é que ele quer mandar no volume? Se o motorista quer digitar no
WhatsApp enquanto dirige falando no Nextel e ouvindo a rádio do pastor é um direito dele. [...]
Meu colega tava parado no ponto e veio um passageiro querendo ir pro subúrbio. O colega
recusou. É direito dele: o colega simplesmente não estava com vontade de ir para o subúrbio, era
muito fora de mão para ele, não iria ter passageiro para ele no subúrbio [...]. O passageiro
chamou um Uber. Daqui a pouco não vai mais ser permitido recusar um passageiro só porque a
gente não foi com a cara dele. [...]
DUVIVIER, Gregorio. Folha de S.Paulo. São Paulo, 27 jul. 2015.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2015/
07/1660787-protesto-contra-excelencia.shtml>. Acesso em: 27 out. 2015. (Fragmento).

Você também pode gostar