Você está na página 1de 23

Ser Mortal

Atul Gawande, 2014


A modernização

 despromoveu a família

 deu às pessoas um modo de vida com mais liberdade


e controlo

 vive-se menos grato às outras gerações

 a veneração aos idosos foi substituída pela veneração


ao “eu independente”
Se a independência é o nosso objetivo de vida,
o que é que fazemos quando ela deixar de ser
possível?

Se ser independentes é o que valorizamos o que nos


acontece quando nos tornamos dependentes?

Dependência » o “mundo” desmorona?


Independência /Autonomia / Controlo
Autonomia enquanto modo de viver totalmente
independente e sem limitações, não é real;

Todos dependemos uns dos outros (em maior ou menor


grau).

Todos estamos sujeitos a forças e circunstâncias que


escapam do nosso controlo.

Nunca controlamos tudo.


« Ambulâncias»
Philip Larkin

“Estacionam em qualquer berma da estrada: todas as ruas, a seu tempo, são


visitadas”
Dependência
• Cada vez menos pessoas morrem de repente

• Muitos de nós passaremos períodos significativos da


vida demasiado debilitados para podermos viver com
autonomia

• Importa refletir antecipadamente:


 como iremos viver quando precisarmos de ajuda?
 como levar uma vida satisfatória, quando estamos frágeis
e fracos e já não conseguimos cuidar de nós próprios?
Dependência

• Envelhecer passa por uma série contínua de perdas,


algumas irremediáveis. Torna-se importante:

▫ reforçar a resiliência (capacidade de aguentar o que der


e vier);
▫ ter os “pés assentes na terra” e enfrentar o declínio
inevitável;
▫ introduzir as pequenas alterações necessárias e
possíveis para lhe dar uma nova forma.
Coragem – necessita-se!

• para enfrentar a realidade da mortalidade

• para agir em consonância com a verdade com q nos


deparamos, de um modo sensato (e possível).

▫ O problema é que o caminho sensato é muitas vezes


pouco claro.
▫ E, para os portugueses, o caminho possível está demasiado dependente do
poder económico
Coragem é…

ter a força de reconhecer que temos margem de


manobra para agir, para dar forma à nossa
história, embora,
com a passagem do tempo, essa margem se
torne cada vez mais pequena.
Autonomia
• forma de liberdade que nos permite ser os autores da
nossa pp vida sejam quais forem os limites e
provações que tenhamos de enfrentar
(Ronald Dworkin, filósofo)
• torna cada um de nós responsável por dar forma à
sua vida segundo uma noção coerente com a
personalidade, convicções e interesses pessoais
• permite-nos ser, até ao fim, os donos da nossa pp
história.
Podemos não controlar as circunstâncias da
vida, mas controlar o que fazemos com elas é
o que nos torna autores da nossa própria
vida.
Lares de idosos
• parecem prisões, desligadas da sociedade em sentido lato.
Na sociedade moderna é comum o indivíduo dormir, divertir-se e trabalhar em
espaços diferentes, com diferentes co-participantes, sob diferentes autoridades e
sem um plano racional q abranja tudo.

• todos os aspetos da vida decorrem no mesmo local, sob a mesma autoridade


central

• cada fase das atividades do residente


- é levada a cabo na companhia de um grande número de pessoas , que são,
todas elas, tratadas como se fossem iguais;
- obedece a horários rígidos e numa sequência imposta pelas hierarquias;
- obedece aos objetivos da instituição e dos funcionários que nela trabalham e
nunca aos objetivos de cada pessoa que aí reside
Lares de idosos
• São geralmente os filhos que decidem onde é q os idosos vão morar

• acima de tudo procuram locais seguros mais do q locais que


permitem aos idosos viver como querem, onde se sintam mais
felizes, mesmo q com menos segurança

«queremos autonomia p nós pp e segurança p as pessoas q amamos»

• resta aos idosos uma…


- existência institucional, controlada e supervisionada,
- resposta medicamente concebida p lidar c problemas sem resolução,
- vida concebida p ser segura, mas vazia, destituída de tudo aquilo que
eles valorizam.
Residências assistidas

• “casas” onde as pessoas que aí vivem detém


o controlo sobre os seus horários, as regras,
os riscos que querem ou não correr.
• K. B.Wilson 1979
• Garantir uma vida assistida é mais difícil do q
garantir uma morte assistida.
Dar sentido à vida das pessoas na velhice

• requer mais imaginação e engenho do que garantir-


lhes, simplesmente, segurança.

• Importante acreditar que n tem de se sacrificar a


autonomia só porque se precisa de ajuda no dia-a-dia.
Dar sentido à vida
• Carstensen 1990: a maneira como procuramos passar o tempo poderá depender da
quantidade de tempo que achamos ter (perspetiva).

• Quando a fragilidade da vida vem à tona, os objetivos e motivos das pessoas na sua
vida do dia-a-dia mudam por completo. É a perspetiva, e não a idade, que
realmente importa.
• Quando vemos o futuro à nossa frente como finito concentramo-nos no aqui e
agora, nos prazeres de todos os dias e nas pessoas q nos estão próximas – teoria da
seletividade socioemocional.

• Compreender a necessidade que um homem moribundo tem dos confortos do dia-


a-dia, de companhia e de ajuda para alcançar os seus objetivos modestos é,
precisamente, o que ainda falta nos serviços que prestamos ao homem fragilizado.
Dar sentido à vida

• Ter um motivo p viver ( nem q seja cuidar de pássaros, passear o cão…) é uma
necessidade humana básica. Mesmo à pessoa mais incapacitada é possível dar
motivos para viver.

• “Todos precisamos de nos dedicar a algo maior do q nós pp p q as nossas vidas


sejam suportáveis” Royce.

• Transcendência - A única forma de a morte n ser completamente sem sentido é


vermo-nos a nós pps como fazendo parte de algo maior: uma família, uma
comunidade, uma sociedade…à medida q a morte se aproxima temos uma
necessidade profunda de identificar objetivos fora de nós pps – transcendência- que
nos deem a sensação de q a vida tem sentido e de que vale/valeu a pena.
À beira da morte

• À medida q as capacidades das pessoas se deterioram, por causa da idade ou da


degradação do estado de saúde, melhorar as suas vidas requer mtas vezes,
simplesmente, q refreemos as nossas obrigações médicas: que resistamos à vontade
de mexer, consertar, controlar.

• As pessoas c uma dça grave têm prioridades além de simplesmente prolongarem a


vida. Estudos mostram que as suas principais preocupações incluem:
 1) evitar o sofrimento;
 2) reforçar laços com a família e amigos;
 3) estar mentalmente alerta;
 4) não ser um fardo p os outros e
 5) alcançar uma sensação de q a sua vida está completa.
À beira da morte
As pessoas querem:

• partilhar recordações
• transmitir conhecimentos e conselhos,
• firmar relações
• definir o seu legado
• fazer as pazes com Deus
• certificar-se q os entes queridos q deixam, ficarão
bem
Á beira da morte cada pessoa é única

Ajudar a lidar com a ansiedade q pode ser esmagadora

…arranjar tempo,

… tentar descobrir o que é mais importante, tendo em


conta as circunstâncias,

…escutar (se falarmos mais de metade do tempo,


estamos a falar de mais)

• Susan Block – cuidados paliativos


Á beira da morte e não só…
– Perguntas essenciais:

• compreende o q se passa e dos seus potenciais


desfechos?
• quais são as suas preocupações e as suas esperanças?
• até onde está disposto a ir p se manter vivo? O que
não aceita?
• o que é verdadeiramente importante para si?
• qual a linha de conduta mais adequada p alcançar
esses objetivos?
• quem quer q tome as decisões qdo já não o puder
fazer?
Ser mortal
• Qual o nosso papel enquanto profissionais de saúde?
Achamos que é garantir a saúde e a sobrevivência. Mas,
na realidade, vai além disso. É possibilitar o bem-estar.
E o bem-estar prende-se com as razões pelas quais
desejamos viver. Essas razões importam não só no fim
da vida, quando nos tornamos frágeis, mas a vida toda.

As nossas intervenções, os riscos e sacrifícios que


acarretam, só se justificam se forem ao encontro dos
objetivos mais altos da vida de cada pessoa.

Você também pode gostar