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Fissuras Labiopalatinas

Definição
• As fissuras labiopalatinas fazem parte das anomalias faciais congênitas
decorrentes da não junção dos processos faciais embrionários.

• Ocorre uma alteração da velocidade migratória das células da crista neural,


encarregadas de comandar a fusão das proeminências faciais entre a 6ª e 9ª
semana de vida embrionária.

• As fissuras labiais resultam da falta de fusão dos processos frontonasal e


maxilar que ocorre por volta da 6ª semana.

• Já as fissuras palatinas são decorrentes da falta de fusão das placas palatinas


do processo maxilar, fusão esta que ocorre por volta da 9ª semana. 

• As estruturas faciais de um fissurado contêm potenciais de crescimento


normais, tendo apenas a deformidade da falta de continuidade do complexo
maxilar.
Etiologia
Ainda é desconhecida, porém
acredita-se que a maioria dos Além disso, a fissura também
casos de fissura de lábio e/ou pode ser causada por fatores
palato é determinada por fatores teratogênicos e fazer parte de
múltiplos, genéticos e não síndromes.
genéticos.

De acordo com Altmann (1997), teremos como etiologia das fissuras:


· hereditariedade
· alterações morfológicas maternas
· diabetes materna
· hipotireoidismo
· stress
· infecções maternas como toxoplasmose e rubéola
· desnutrição materna
· uso de determinados medicamentos
· radiação
Incidência
As fissuras labiopalatinas são as malformações de face mais freqüentes na população
humana.

Admite-se que a incidência de fissuras labiopalatinas oscila em torno de 1:650 no Brasil ..

Capelozza e Silva (1992) relatam que as fissuras que aparecem com maior freqüência são
as transforame incisivo unilaterais do lado esquerdo.

De um modo geral ocorrem mais no sexo masculino, com tendência a deformidades mais
severas.

Já as fissuras só de palato ocorrem mais no sexo feminino.

A raça amarela, especificamente o japonês, exibe a maior incidência e a negra, a menor.

Na Síndrome de Pierre Robin a fissura palatina vem acompanhada em 60-80% dos casos,
segundo Altmann (1997).
Classificação

Spina (1972)
• Mais utilizada
• Utiliza o forame incisivo como ponto de referência para delimitar a área
atingida e nomear o tipo de fissura.
Fissura pré forame incisivo: Envolvem o lábio e o alvéolo dentário, bem
como a porção anterior do palato duro.

Fissura pós forame incisivo: Envolvem palato duro, mole e úvula.

Fissura transforame incisivo: Completa, envolve lábios, processos alveolares,


palato e úvula.
1 2 3 4

5 6 7 8

1- Fissura pré forame incisivo unilateral incompleta 5- Fissura transforame incisivo unilateral
2- Fissura pré forame incisivo bilateral incompleta 6- Fissura transforame incisivo bilateral
3-Fissura pré forame incisivo unilateral completa 7- Fissura pós forame incisivo completa
4-Fissura pré forame incisivo bilateral completa 8- Fissura pós forame incisivo incompleta
No HCPA, o serviço de cirurgia plástica craniomaxilofacial utiliza a
classificação de Kriens, conhecida como LAHSHAL.

Permite descrever a forma da fissura, inclusive


as microformas, utilizando letras maiúsculas
para descrever as formas completas e
minúsculas para as incompletas.
L = Lábio; A = Alvéolo; H = Palato duro; S = Palato mole

● A leitura é feita da direita para a esquerda do paciente


● As microformas são descritas como asteriscos (*)
Função Velofaríngea
O EVF é uma cinta muscular localizada entre a oro e a nasofaringe, compreendendo a
musculatura do palato mole e das lparedes aterais e posterior da faringe.

Função: Elevação do véu palatino, movimentos posterior e lateral das paredes


faríngeas.

Deglutição Sucção
Insuficiencia velofaríngea (cirurgia)

Vômito Fala
Incompetência velofaríngea (fonoterapia)
Respiração
Audição
Sintomas
Nasalação ou emissão fraca dos fonemas consonantais plosivos, fricativos e
africados

• Escape de ar nasal ruidoso

• Língua elevada durante a emissão dos fonemas, aumentando a nasalação

• Contração das asas do nariz

• Ceceio lateral e frontal devido à má postura da língua durante a emissão dos


fonemas /s / e / z /

• Alteração dos pontos de articulação devido à posteriorização destes

• Nasalação das vogais próximas às consoantes nasais ou nasaladas. Isso ocorre


por assimilação
Sintomas
Ausência de respiração essencialmente nasal, já que possui uma

comunicação entre as cavidades oral e nasal.

Dificuldades na amamentação pelo difícil contato do lábio superior


com o mamilo do seio da mãe e por apresentar menor pressão
negativa intra-oral devido à abertura no palato, facilitando o escape
de leite para a cavidade nasal.

Dificuldade em coordenar respiração com deglutição, podendo


ocorrer aspirações do alimento para o trato respiratório.

Compensação mandibular
Avaliação

Anamnese

Exame
Audição Clínico

Avaliação da
Ressonância motricidade
orofacial

Fala
Anamnese
Saúde geral Fatores pré, peri e pós natais
Aceitação do problema
Dinâmica familiar
Procedimentos cirúrgicos
Acompanhamentos
Infecções nos ouvidos
Fala da criança
Escola
Alimentação
Hábitos Bucais
Exame Clínico

Observação Geral

Presença de anomalias Cavidade oral (frênulo,


Peso e estatura para a (formato e implantação dentes, língua, palato
idade dos olhos, nariz, orelhas, duro, cicatriz, fístula,
testa, maxila, mandíbula, palato mole e tonsilas
bochechas) palatinas)
Avaliação da Motricidade
Orofacial
• Verificar simetria (face, alinhamento dentário, desvio de
estrutura como língua e úvula)
• Oclusão
• Higiene Bucal
• Medidas de face (paquímetro)

Tonicidade
Mobilidade línguas, bochechas, lábios e palato mole
Sensibilidade

Funções Mastigação, deglutição, sucção e respiração


Fala e Ressonância
Fala espontânea
Emissões de vogais e frases
Distúrbios articulatórios compensatórios
Observações de mímicas faciais

Audição
Audiometria
Tratamento
O tratamento do indivíduo fissurado deve ser realizado por uma equipe
multidisciplinar especializada, visando a uma reabilitação morfológica, funcional e
psico-social.

Essa equipe deve ser composta por médicos, ortodontistas, fonoaudiólogos,


psicólogos, geneticistas, radiologistas e protesistas.

Ela deve ocorrer o mais precoce possível para que seja restabelecida a anatomia
alterada e conseqüentemente as funções como mastigação, deglutição, sucção,
respiração, audição, mímica facial e fonação.

Os tratamentos ortodôntico e fonoaudiológico são iniciados antes do cirúrgico, a


fim de corrigir as deformidades ósseas intrínsecas, orientar o crescimento facial e
o desenvolvimento da fala.
Orientação aos pais
 O tratamento deve enfocar os pais, pois estes são extremamente ansiosos
frente a malformação de seu filho. Geralmente, eles não compreendem o
que aconteceu, sentem-se culpados, não sabem o que pode ser feito com
seu filho e passam a atuar de maneira inadequada com a criança,
prejudicando assim, seu desenvolvimento.

 Os pais devem ser orientados quanto aos recursos cirúrgicos, as limitações


destes, a importância do tratamento terapêutico e o que eles podem auxiliar
no bom desenvolvimento de seu filho para que mais tarde ele tenha um bom
padrão de fala e linguagem. Eles devem ter paciência, pois o tempo do
tratamento é longo, indo até à idade adulta.
Orientações Fonoaudiológicas
O fonoaudiólogo deve dar algumas orientações básicas aos pais, no período pré e
pós cirúrgico, como:

Copo ou seringa sendo


Não usar chupeta e pastosa rala por três
mamadeira após a cirurgia. Alimentação deve ser na semanas na temperatura
posição vertical por colher. ambiente, restabelecendo
gradativamente sua
consistência.

Deve ser orientado o uso de


O bebê não pode levar à
massagens nas fases pré e
boca objetos, principalmente
pós cirúrgicas no sentido de
pontiagudos.
fechamento do lábio.
A higiene buconasal, no bebê fissurado ainda não operado, deve
ser realizada antes de cada mamada, devido ao grande acúmulo
de secreções nesta região e após, para evitar a permanência de
resíduos de leite que podem acarretar proliferações de germes e
consequentemente infecções.
Fonoaudiologia e o cuidado com o
paciente
 O trabalho com o indivíduo fissurado, desde a cirurgia até a
reabilitação e reintegração à sociedade, tem o objetivo de fazer
o paciente aceitar-se e ser aceito.

 O fonoaudiólogo, através de sua terapia, tem um papel


importante nesse processo, mas anteriormente necessita
avaliar o paciente.
O tratamento
fonoaudiológico precoce
aborde seis áreas básicas:

Alimentação: deve ser usada


a técnica que mais se Sensibilidade: deve ser
aproxime da alimentação trabalhada para fornecer
Hábitos orais: indica o uso estímulos sensoriais na
normal. É necessário orientar de chupeta ortodôntica, a
as mães de bebês fissurados parte anterior da cavidade
fim de evitar hábitos como a oral, evitando que
quanto ao aleitamento sucção digital e para levar a
materno, tipos de bicos de movimentos
língua a uma posição mais compensatórios se fixem,
mamadeira indicados, tempo anterior
e postura da mamada, influenciando na aquisição
introdução e consistência da fala. As sensibilidades
alimentar. estimuladas são tátil,
térmica e gustativa
Linguagem e fala: devem ser estimuladas ao máximo, pois a
criança poderá ter atrasos, devido às constantes internações
cirúrgicas
..

Evitar os distúrbios compensatórios associados

Audição: a criança fissurada tem propensão a apresentar otites de


repetição devido ao mau funcionamento do músculo tensor do véu
palatino, podendo ter déficits auditivos que interferem no
desenvolvimento da fala e linguagem

Desenvolvimento neuropsicomotor
Terapia

Em relação a fala, sabe-se que devido a disfunção velofaríngea


muitas vezes é gerado movimentos compensatórios, que são tidos
como distúrbios articulatórios não obrigatórios.

Sendo os mais comuns:


• plosiva dorso-médio- palatal
• golpe de glote
• fricção faríngea
• fricativa nasal
• fricativa velar
• co-articulaçao
direcionamento do fluxo aéreo expiratório para a cavidade oral, envolvendo
o uso dos músculos do fechamento velofaríngeo, podendo este ser treinado
por meio de atividades que usem sopro, bocejo, inflar bochechas, sugar
líquidos entre outros
..

exercícios para a coordenação entre o fechamento velofaríngeo e os


músculos da articulação

articulação correta de todas as vogais e consoantes nas posições inicial,


média e final das palavrasc

automatização desses sons corretos na fala


Instalação dos fonemas

A instalação dos fonemas deve obedecer a seguinte ordem:

fonemas que
fonemas de mais fácil fonemas que o
envolvam fluxo
visualização, como paciente
aéreo bucal, fonemas surdos
bilabiais (p, b, m) e demonstrou ter
como os
labiodentais (f, v) mais facilidade
fricativos
Referências
DA SILVA, D. P.; DORNELLES, S.; PANIAGUA, L. M.; DA COSTA, S. S., COLLARES, M.
V. M. (2008). Aspectos patofisiológicos do esfíncter velofaríngeo nas fissuras
palatinas.

SILVA, R.S.S. Fissuras Labiopalatinas. Tese (Especialização). CEFAC. Rio de Janeiro,


1999.

CÉSAR, Carla. Patrícia Hernandez Alves Ribeiro. Atuação fonoaudiológica nas


fissuras labiopalatinas. São Paulo. 2014

HANAYAMA, Eliana Midori. Distúrbios de comunicação nos pacientes com seqüela


de fissura labiopalatina. Rev. Bras. Circ. Craniomaxilofac. São Paulo. 2009
OBRIGADO!!

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