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Universidade Estadual de Alagoas

Curso de Letras – Campus I

Aula 10

Prof. Me. Douglas Gonçalves


Curso de Linguística Geral – Ferdinand de Saussure
Cap. Natureza do Signo Linguístico
No referido capítulo, Saussure inicia a discussão criticando o fato de que para algumas
pessoas a língua seria uma nomenclatura, isto é, “uma lista de termos que correspondem a
outras tantas coisas” (SAUSSURE, 2006, p. 79)

- críticas saussurianas a essa concepção:

a) o fato de que tal postulação pressupõe que as ideias preexistem às palavras;

b) a ausência da distinção entre caráter vocal e psíquico da palavra;

c) uma falsa simplicidade para explicar o vínculo que une os nomes às coisas.
Cap. Natureza do Signo Linguístico

“O signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem
acústica.
Assim, Esta não pronunciamos
quando é o som material, coisa puramente
ou apenas pensamos física, mas a“árvore”,
na palavra impressão
(empreinte) psíquica desse som, a representação que dele nos dá o testemunho de
essa imagem acústica “árvore” relaciona-se a um conceito, isto é, a uma
nossos sentidos; tal imagem é sensorial e, se chegamos a chamá-la "material", é
ideia que
somente neste sentido, e porfazemos
oposiçãodoaoque sejatermo
outro uma da
árvore.
associação, o conceito,
geralmente mais abstrata” (SAUSSURE, 2006, p. 80).
Cap. Natureza do Signo Linguístico
Se considerarmos o circuito da fala, no qual dois falantes conversam, perceberemos
que, ao pensar em dizer uma determinada palavra, mesmo antes de pronunciá-la,
suscita-se no cérebro do falante uma determinada imagem acústica, que Saussure
denomina de “fenômeno inteiramente psíquico”, e este corresponde a um dado
conceito. Com isso, vê-se que ambas as faces do signo (conceito e imagem acústica) são
psíquicas. Obviamente que para o circuito da fala ser completo há de haver também o
processo físico, no qual as ondas sonoras se propagam da boca de um falante ao ouvido
do outro.
psíquico

físico
fisiológico
Cap. Natureza do Signo Linguístico

“Esses dois elementos estão intimamente unidos e um reclama o outro. Quer


busquemos o sentido da palavra latina arbor, ou a palavra com que o latim designa o
conceito “árvore”, está claro que somente as vinculações consagradas pela língua nos
parecem conforme à realidade, e abandonamos toda e qualquer outra que se possa
imaginar” (SAUSSURE, 2006, p. 80).
Cap. Natureza do Signo Linguístico
Antes de as postulações saussurianas ganharem corpo, o conceito de signo costumava ser
referido apenas à imagem acústica. Para resolver esse impasse, o linguista propõe que
chamemos signo a união (total) entre o significado (conceito) e o significante (imagem
acústica).
O signo não une os nomes e as coisas concretas do mundo, já que se trata, na verdade, da
união de um significante (psíquico) a um significado (também psíquico). Não estamos
falando, então, dos sons físicos, tampouco das coisas concretas do mundo. Falamos, pois,
da representação do mundo construído na e pela linguagem, através da união entre os
conceitos e as imagens acústicas a eles relacionadas.
Características do Signo Linguístico
Arbitrariedade
“O laço que une o significante ao significado é arbitrário ou então, visto que entendemos
por signo o total resultante da associação de um significante com um significado,
podemos dizer simplesmente: o signo linguístico é arbitrário. Assim, a ideia de “mar”
não está ligada por relação alguma interior à sequência de sons m-a-r que lhe serve de
significante; poderia ser representada igualmente bem por outra sequência, não importa
qual; como prova, temos as diferenças entre as línguas e a própria existência de línguas
diferentes (...)” (SAUSSURE, 2006, p. 81)

Arbitrário = Imotivado
(não há nada na natureza que motive a relação entre significante e significado)
Características do Signo Linguístico
Arbitrariedade
“A palavra arbitrário requer também uma observação. Não deve dar a ideia de que o
significado dependa da livre escolha do que fala (ver-se-á, mais adiante, que não está ao
alcance do indivíduo trocar coisa alguma num signo, uma vez esteja ele estabelecido num
grupo linguístico); queremos dizer que o significante é imotivado, isto é, arbitrário em
relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural na realidade”
(SAUSSURE, 2006, p. 83).

O signo é social:
fruto de convenção, fruto do trabalho da coletividade.
Signo Linguístico
Objeções à arbitrariedade e os contra-argumentos de Saussure

Onomatopeias

Argumento das onomatopeias: estas indicariam alguma motivação no significante


(imagem acústica). Por exemplo, o fato de dizermos que o latido do cachorro é “auau”
adviria do fato de ele emitir tal cadeia sonora.

Contra o argumento das onomatopeias: Saussure lembra que elas variam de língua para
língua. Se em português consideramos que o som emitido pelos cães corresponde à
onomatopeia “auau”, não é o que é considerado na língua inglesa ou na alemã.
Signo Linguístico
Objeções à arbitrariedade e os contra-argumentos de Saussure

Exclamações

Argumentos das exclamações: estas teriam sua origem ditada pela natureza. Por
exemplo, tropeçar em uma pedra e emitir sons como “ai!”, “ui” etc.

Contra o argumento das exclamações: Saussure mostra que, tal como as onomatopeias,
elas também variam de cultura para cultura. Ademais, como exclamação (interjeições),
lançamos mão ainda de palavras como diabo ou palavrões, que variam não somente de
sociedade para sociedade, como de faixa etária, de grupo social, por exemplo.
Signo Linguístico
Ainda sobre a arbitrariedade...
Saussure irá explicar em outro capítulo, a saber, “Mecanismo da língua”, que: “O
princípio fundamental da arbitrariedade do signo não impede de distinguir, em cada
língua, o que é radicalmente arbitrário, vale dizer, imotivado, daquilo que só o é
relativamente” (SAUSSURE, 2006, p. 152).

Caranguejada Caranguejo
Cuscuzada Cuscuz
Feijoada Feijão
Arbitrariedade Arbitrariedade
Relativa Absoluta
Características do Signo Linguístico
Linearidade do Significante
“O significante, sendo de natureza auditiva, desenvolve-se no tempo, unicamente, e tem
as características que toma do tempo: a) representa uma extensão, e b) essa extensão é
mensurável numa só dimensão: é uma linha” (SAUSSURE, 2006, p. 84).

“Este princípio é evidente, mas parece que sempre se negligenciou enunciá-lo, sem dúvida
porque foi considerado demasiadamente simples; todavia, ele é fundamental e suas
consequências são incalculáveis; sua importância é igual à da primeira lei. Todo
mecanismo da língua depende dele. Por oposição aos significantes visuais (sinais
marítimos etc.), que podem oferecer complicações simultâneas em várias dimensões, os
significantes acústicos dispõem apenas da linha do tempo; seus elementos se apresentam
um após outro; formam uma cadeia. Esse caráter aparece imediatamente quando os
representamos pela escrita e substituímos a sucessão do tempo pela linha espacial dos
signos gráficos” (SAUSSURE, 2006, p. 84).
O Valor do Signo Linguístico
Saussure quer demonstrar que o signo linguístico é definido numa rede de relações
contrastivas. Diferenças e contrastes são fatores responsáveis pelo valor do signo
linguístico. O valor não está, pois, contido no signo mesmo, mas é dado na relação
estabelecida com os outros signos.

bonito x lindo
O valor de ambas constrói-se na relação entre elas, de modo a compreendermos que se
estabelece uma gradação da beleza, que vai, digamos, de uma beleza na justa medida
(bonito) à exacerbação da beleza (lindo). Entretanto, seguindo Saussure, se na língua não
existisse uma dessas palavras, o valor de uma iria para outra, ou seja, caso a palavra
"lindo" não existisse em português, a palavra “bonito” teria de contemplar os dois
diferentes graus de beleza.
O Valor do Signo Linguístico
Trocando em miúdos, o signo saussuriano é relacional, isto é, um signo pressupõe sua
relação com outros, já que seu valor não é dado por uma realidade que lhe seja
independente, ou por uma exterioridade, mas pela relação.

Em outras palavras, o valor linguístico não está apenas na dependência do laço arbitrário
entre significante e significado, antes depende da relação entre um signo e outro signo. Isso
torna possível que, numa dada língua, uma mesma palavra possa exprimir ideias bastante
diferentes, sem que os falantes passem a considerá-la como duas palavras distintas.

Em: "adotar uma moda" e "adotar uma criança", embora o significante e o significado de
"adotar" sejam os mesmos, o valor da palavra não está nela mesma, mas depende da
relação contraída com as outras palavras em cada uma das frases.
Universidade Estadual de Alagoas
Curso de Letras – Campus I

Obrigado pela atenção!

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