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Annateresa Fabris
• Produção típica dos anos 60, que não se esgota;
• Numa primeira significação, que terá seu ponto inicial em William Blake, ilustrador
dos próprios poemas (Songs of innocence, 1789 e Songs of Experience, 1794) ‑ e
de Night Thougths (1797) de Edward Young, o livro de artista definir‑se‑á como
ponto de encontro entre arte e literatura.
Fonte:
http://www.tate.org.uk/art/a
rtists/william-blake-
39/blakes-songs-innocence-
experience
• É contra essa tendência exclusivista, que vê no livro um objeto de contemplação, que irão
reagir os artistas das décadas de 60‑70. Apoiados no conceito de arte “não objetual” e
enfatizando o processo de comunicação, ampliam a concepção de livro de artista, que se
torna prevalentemente o suporte de uma “documentação” peculiar, posto que seus
objetos/eventos só podem existir sob a forma de material verbo‑visual. Neste momento, o
livro tout‑court, isto é, como produto serial, como seqüência espacial‑cinética que
determina uma informação intrínseca ao próprio processo artístico;
• De diálogo com a literatura, o livro de artista transforma‑se numa estrutura intelectual, que
revela a pesquisa inerente às operações artísticas, que enfatiza o processo de leitura em
detrimento da percepção, o conceito em detrimento da contemplação;
• A mostra de Leverkusen (“Conceptual art, no‑object”, 1969) é um exemplo
significativo desta atitude: existiu apenas no catálogo, onde cada artista teve à
disposição cinco folhas que pode aproveitar livremente. O catálogo enquanto
exposição só é possível porque o tema da mostra conceitual é a arte que se
apresenta como totalidade. A obra e o artista não tem caráter individual, mas se
equivalem pelo sentido comum de sua participação;
• Outras vezes, o catálogo pode constituir uma exposição paralela, elaborada com
material original, não apresentado na “mostra física”;
• Se o livro de artista se torna um veículo dominante entre nós nos anos 70‑80, não
se pode esquecer que ele vem precedido, da década de 50, pela experiência do
livro‑poema, oriunda da práxis neoconcreta;
• O livro A Ave (1956), de Wlademir Dias Pino, inova em vários níveis. A estrutura
física do livro é parte integrante do poema, pois ele só existe a partir da
manipulação criadora do fruidor, que determina o ritmo de leitura, suas
possibilidades de decodificação, as relações espaciais entre página e página, a
separação, desejada pelo autor, entre a escrita e a leitura. A fusão de gráficos,
palavras, transparências, perfurações, cria um código espacial, no qual as
informações se superpõem e se particularizam num jogo de remissões que
multiplica os significados verbais e visuais, que transforma o poema numa
estrutura perceptiva constantemente ressemantizada numa “armadilha visual”,
que obedece a uma lógica interna, auto‑referencial.
• Artur Barrio
Livro de carne, 1978-1979