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Universidade Federal de Ouro Preto

Escola de Medicina
MED 119 – Nosologia e Terapê utica Psiquiá tricas

VIOLÊNCIA SEXUAL EM CRIANÇAS E


ADOLESCENTES:
DO DIAGNÓSTICO À PSICOTERAPIA

Docente: Fernando Machado Vilhena Dias


Discentes: Aline Sanches, Carolina Filardi, Débora
Batista, Kelly Cordeiro, Poliana Assunçã o e Yohanna
Bastani
Introdução

“ Violência sexual é toda a ação na qual uma pessoa,


em situação de poder, obriga outra à realização de
práticas sexuais contra a vontade, através da força
física, da influência psicológica (intimidação,
aliciamento, sedução) ou do uso de armas ou drogas .”

(Ministério da Saúde, 2001)


INTRODUÇÃO
Introdução

Familiares e amigos
íntimos da família

Criança mantem-se Indivíduos


calada confiáveis

Fácil encobrir o
crime e persuadir
Crianças indefesas
ou assustar a
criança
Epidemiologia
2006 e 2007

Sistema de Vigilância de
Violências e Acidentes (VIVA) em
vinte e sete municípios
brasileiros

845 (44%) dos 1.335 (56%) dos 75,2% dos casos


registros de violência registros de violência como violência
contra crianças foram contra adolescentes doméstica
por violências sexuais foram por violências
sexuais
Epidemiologia
Epidemiologia

OMS considera o abuso sexual infantil como um dos


maiores problemas de saúde pública.

Conforme estudos realizados em várias partes do


mundo, entre 7 a 36% das meninas e 3 a 29% dos
meninos sofreram abuso sexual
Histórico geral
Histórico geralsobre
sobre ooabuso
abuso sexual
sexual

Histórico Geral

A sociedade grega
Nos tempos bíblicos com O fato da criança se
permitia a prostituição
a lei talmúdica era apresentar como ser
de jovens do sexo
possível o uso sexual de frágil tanto física como
masculino (efebos). O
meninas a partir dos três psiquicamente, numa
sexo de um adulto com
anos de idade, desde sociedade embasada nos
parceiros infantis, de
que o pai consentisse e valores do adulto
ambos os sexos,
recebesse o dinheiro masculino, faz com que
também era considerado
que lhe parecia a situe na posição de
comum naquela
adequado por sua filha vítima
sociedade.
Bass e Thornton (1985) Bubeneck (2004) Azambuja (2004)
Histórico geral sobre o abuso sexual

Organizações
internacionai 1959
s Discutir os direitos Na Assembléia
humanos, a Geral da ONU se
exploração sexual proclamou a
de mulheres e Declaração dos
crianças. Direitos da Criança

Dez princípios e um
Não foi colocada deles defendia o
em primeiro plano. direito à proteção
especial às crianças
Porque as crianças e adolescentes se calam

• Casos mais frequentes de violência sexual até a adolescência:


INCESTO

Violência repetitiva, insidiosa, em um ambiente relacional favorável, sem que


a criança tome, inicialmente, consciência do ato abusivo do adulto, que a
coloca como provocadora e participante, levando-a a crer que é culpada por
seu procedimento.
Porque as crianças e adolescentes se calam

Agressor usa da Aproximação é Abordagens,


relação de Vítima recebida, a que se tornam
confiança que considera princípio, com Este lhe passa a cada vez mais
tem com a inicialmente satisfação pela ideia de frequentes e
criança e de como de criança, que se proteção e que abusivas, levam
poder como demonstrações sente seus atos a um
responsável afetivas e de privilegiada seriam normais sentimento de
para se interesse pela atenção insegurança e
aproximar do responsável dúvida

Quando o
Usa da agressor percebe
Diminui ainda
imaturidade e que a criança
Sentindo-se mais seu amor
Exigência do insegurança de começa a
desprotegida pelo próprio, ao
silêncio, através sua vítima, entender como
outro responsável, demonstrar que
de todos os tipos colocando em abuso tenta
ela se cala, muitas qualquer queixa
de ameaças à dúvida a inverter os papéis,
vezes para toda da parte dela não
vítima importância que impondo a ela a
sua vida teria valor ou
tem para sua culpa de ter
crédito
família aceitado seus
carinhos
Um pacto familiar de silêncio
• Nos casos mais comuns:
Mãe passa a ocupar o papel de silent partner

Participação muda em um quadro geral de violência.

Em algumas situações,
quando o incesto é
revelado, a mãe reage Mais relatado: famílias de
com ciúmes nível socioeconômico inferior
Mais encoberto: padrão mais
alto
O diagnóstico

O diagnóstico do abuso sexual e a consequente proteção


necessária da criança e do adolescente dependem, também,
de o pediatra considerá-lo como uma possibilidade.
O diagnóstico
• Maior problema defrontado pelo médico e pelos meios de
proteção legal é a comprovação do abuso sexual quando
falta a evidência física.

Sinais indiretos da agressão psicológica

Fatos relatados pela vítima ou por um adulto próximo


O diagnóstico
• Sinais indiretos:

Sonolência História de Masturbação


Tristeza
diurna, enurese fugas e baixo frequente e
constante
ou encoprese amor-próprio descontrolada

Medo
exagerado de Comportamento
Prostração
adultos, sexual
aparentemente
habitualmente adiantado para
desmotivada
aquele do sexo idade
do abusador
O diagnóstico
• Sinais indiretos:

Vítimas demonstram
Propõem brincadeiras que
conhecimento sobre Desenham ou escrevem
possibilitam intimidades e
atividades sexuais em um sobre sexo ou sobre partes
manipulação genital, ou que
grau incompatível com sua do corpo envolvidas no ato
reproduzem as atitudes do
fase de desenvolvimento sexual
abusador
(falas, gestos)
O diagnóstico
• Sinais específicos:

Edema, hematomas ou Lesões como equimoses,


lacerações em região próxima hematomas, mordidas ou
ou em área genital, como Dilatação anal ou uretral, ou lacerações em mamas, pescoço,
Lesões em região genital
partes internas de coxas, rompimento de hímen parte interna e/ou superior de
grandes lábios, vulva, vagina, coxas, baixo abdome e/ou
região escrotal ou anal região de períneo

Sangramento vaginal ou anal


Encontro de doenças
em crianças pré-púberes,
sexualmente transmissíveis
acompanhado de dor, afastados Aborto ou gravidez
como gonorréia, sífilis, HPV,
os problemas orgânicos que
clamídia, entre outras
possam determiná-los
Tratamento
- Acolhimento inicial
- Escuta
- Criação de vínculo

Situações Situações
agudas e crônicas e
emergenciais repetitivas

Providenciar as
medidas legais Investigar a
Diagnóstico e situação
com menos de
tratamento familiar
72h do
ocorrido

Comprovação da agressão sexual Avaliação de Há a


riscos e prevenção participação de Sequelas
Exames que levem à identificação do agressor
de danos – outros na emocionais do
Registro de BO que requisitará o laudo pericial do profilaxia de manutenção do abuso
IML emergência abuso?
Tratamento
• Crianças e adolescentes portadores de deficiências:

ATENÇÃO!!!

• Portadores de deficiências físicas e/ou sensoriais: alto risco para abuso

• Não ignorar sinais e sintomas do abuso confundindo com o quadro da


doença principal

• Deficientes mentais: mais fácil de serem seduzidos


Tratamento

O papel do pediatra:

Realizar exame Casos mais


Descrever e
físico completo e Exame físico traumáticos ou
registrar
detalhado. ginecológico: descompensação
cuidadosamente
buscar sinais emocional da
Procurar por lesões em prontuário os
físicos, genitais ou vítima: exame sob
ou cicatrizes exames e
extragenitais de sedação e/ou
indicativas de terapêuticas
violência. anestesia (com
violência física. instituídas.
consentimento).
Tratamento
• Intervenção psicoterápica: melhorar o funcionamento
psicossocial e a qualidade de vida da vítima.

- Proporcionar um
ambiente em que a Terapia cognitivo- Reduz os níveis de
Possui a capacidade de
vítima se sinta acolhida comportamental depressão e estresse
modificar
e segura pós-traumático e
comportamentos
desenvolve habilidades
- Escolher a inadequados ou de
para prevenir novas
intervenção mais risco
Resultados superiores situações de violência
adequada
Instrumentos para proteção legal das vítimas
de abuso sexual e onde eles falham...
• Artigo 227 da CFB de 1988:

É dever da família, da sociedade e do Estado,


assegurar, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência familiar
e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
Instrumentos
Instrumentospara
paraproteção
proteçãolegal
legaldas
dasvítimas
vítimas
de abuso sexual e onde eles falham...
de abuso sexual e onde eles falham...
• Manobras:

Intimidação

Ameaças à
própria criança
Sedução ou a algum
membro de sua
família
Obriga essa criança a
praticar atos sexuais
que não incluam a
penetração
vaginal para não
caracterizar o
estupro
Instrumentos para proteção legal das vítimas
de abuso sexual e onde eles falham...

Acabam por ter laudo


Assim diagnosticados, os pericial inconclusivo ou de
poucos casos que chegam à atos libidinosos, que não
denúncia e aos meios legais, deixam marcas físicas, nem a
que deveriam ser de comprovação pelos critérios
proteção atuais implícitos no Código
Penal.
Prognóstico

Todas as formas de abuso sexual podem levar à


desestruturação evolutiva da criança ou
adolescente e que o diagnóstico de que não
houve penetração vaginal não deve ser
minimizado, ou dado a ele uma conotação mais
branda do que a realidade.
Prognóstico
Prognóstico
• A vulnerabilidade às sequelas do abuso sexual depende:

Tipo de abuso Cronicidade Idade da vítima

Relacionamento geral que tem com o agressor


Prognóstico
Prognóstico
• O abuso sexual deve ser considerado um fator
predisponente a sintomas posteriores, como:

Fobias Ansiedades e depressão

Transtorno dissociativo
Possibilidade de
de identidade
comportamento
(transtorno de
autodestrutivo e suicida.
personalidade múltipla)
Conclusões
• A atenção continuada e especializada da saúde física e
emocional da criança e/ou adolescente vítimas de abuso
sexual, bem como de sua família, por equipe interdisciplinar
será sempre necessária.

• Sua qualidade dependerá do restabelecimento da autoestima


e da integridade física e psíquica das vítimas, reestruturando
sua confiança nas pessoas e sua capacidade de lutar
dignamente pela vida.
Conclusões
• É necessário um olhar diferenciado, que pode enxergar
detalhes e ouvir as queixas de dores não faladas, seguido do
desencadeamento de todas as medidas de proteção
necessárias.

Novos e bons caminhos poderão ser criados para essas crianças


e adolescentes.
OBRIGADA!
Referências
• SERAFIM, S.P. et al. Dados demográficos, psicológicos e comportamentais de crianças e adolescentes
vítimas de abuso sexual. Rev. Psiquiatr. Clín., v.38, n.4, p.143-147, 2011. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832011000400006> Acesso em 26 de
junho de 2016.

• SILVA, R.S.; GONÇALVES, M. A Ocorrência de Transtornos Psiquiátricos em Crianças e Adolescentes


Abusados Sexualmente. UNICIÊNCIAS, v.19, n.1, p.72-78, 2015. Disponível em:
<www.pgsskroton.com.br/seer/index.php/uniciencias/article/download/3158/2913> Acesso em 26 de
junho de 2016.

• PFEIFFER, Luci; SALVAGNI, Edila Pizzato. Visão atual do abuso sexual na infância e adolescência. J. Pediatr.
(Rio J.), Porto Alegre , v. 81, n. 5, supl. p. s197-s204, Nov. 2005 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572005000700010&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em 26 de junho de 2016.

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