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Curso de Direito Processual


Penal - II
Professor Herick Pereira de Souza, Advogado Criminal, Especialista em
Ciências Penais, UCAM-RJ
Princípios atinentes a prova no processo penal
Princípio da comunhão da prova: uma vez produzida a prova, é comum não
pertencendo a nenhuma das partes que a introduziu no processo. Da mesma forma que a
prova não pertence exclusivamente ao juiz, ela não é invocável somente pela parte a que a
produziu. Pode ser utilizada por qualquer das partes. Perceba-se que só há falar em
comunhão da prova após a sua produção. Em outras palavras, enquanto a prova não for
produzida, a parte pode desistir de sua produção. Portanto, durante o curso de uma
audiência, caso a parte não tenha interesse em ouvir testemunha por ela arrolada, que
ainda não foi ouvida, poderá livremente desistir de sua oitiva, independentemente da
concordância da parte contraria, artigo 401, §2°, CPP.
Princípio da autorresponsabilidade das partes: as partes assumem as consequências
de sua atividade ou inatividade probatória. Em outras palavras, por conta desse princípio,
as partes assumem as consequências de sua inatividade, erro ou negligencia, em relação
à prova de suas alegações.
Princípio da oralidade: antes da reforma processual de 2008, a oralidade só era adotada
no âmbito do Juizados Especiais Criminais, Lei 9.099/1995, artigo 82 e no Plenário do Júri.
Com as alterações trazidas pela Lei 11.719/2008 e pela Lei 11.689/2008, a oralidade
passou a ser adotada, como regra, no procedimento comum e também em ambas as fases
do procedimento do júri. Optou-se, assim, pela adoção do princípio da oralidade, em razão
do qual deve ser dada preponderância à palavra falada sobre a escrita, sem que esta seja
excluída. Da adoção desse princípio derivam importantes consequências, ou subprincípios:
Princípios atinentes a prova no processo penal
• Continuação... A) princípio da concentração: consiste na tentativa de redução do
procedimento a uma única audiência, objetivando encurtar o lapso temporal entre a data
do fato e a do julgamento. Afinal, quanto mais próximo do fato delituoso for proferida a
decisão final, maior é a possiblidade de se atingir a verdade. Caso não seja possível
concentrar a produção da prova em uma única audiência, deve-se designar próxima
audiência para a data mais próxima, artigo 400, §1°, CPP.
• B) princípio do imediatismo: deve o juiz proceder diretamente à colheita de todas as
provas, em contato imediato com as partes. Isso, todavia, não impede a produção de
prova por videoconferência, como será visto posteriormente.
• C) princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias: a fim de se evitar
sucessivas interrupções na marcha processual em virtude de eventuais recursos
interpostos pelas partes contra decisões tomadas pelos magistrados durante o tramite do
processo, deve-se trabalhar com a regra da irrecorribilidade das decisões interlocutórias.
Isso, no entanto, não significa dizer que decisões arbitrarias não possam ser
impugnadas. Haverá sempre a possibilidade de a matéria ser discutida em preliminar de
futura apelação, seja por cerceamento da acusação, seja pelo cerceamento da defesa.
• D) princípio da identidade física do juiz: outrora adotado somente no processo civil,
artigo 132, caput, esse princípio passou a ser adotado no âmbito processual penal a
partir das alterações operadas pela Lei 11.719/08, CPP, artigo 399, §2°.
Princípios atinentes a prova no processo penal
• Continuação... D.1) princípio da identidade física do juiz: não se trata de uma novidade no
amito do processos penal, porquanto, de certa forma, pode-se dizer que referido princípio já
era aplicável na sessão de julgamento no Tribunal do Júri e no âmbito dos Juizados Especiais
Criminais. De acordo com a nova redação do artigo 399, §2°, do CPP, o juiz que presidir a
instrução deverá proferir a sentença. A adoção desse princípio proporciona o indispensável
contato entro o acusado e o juiz, assim como a colheita imediata da prova por aquele que,
efetivamente, irá proferir a decisão, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado,
promovido ou aposentado, caso em que, os autos passaram ao seu sucessor legal. Louvável
a introdução desse princípio no processo penal, já que, antes da reforma processual de 2008,
era extremamente comum que um juiz interrogasse o acusado, outro ouvisse as testemunhas
de acusação, outro as de defesa, com um quarto magistrado proferindo a sentença. Esse
distanciamento entre a prova e o magistrado prejudicava a formação de um quadro probatório
coeso e harmônico, prejudicando um dos escopos do processo penal, que é a busca pela
verdade real.
• Magistrados instrutores e princípio da identidade física do juiz: trata-se de
desembargadores de Turmas Criminais dos Tribunais de Justiça ou dos Tribunais Regionais
Federais, bem como juízes de varas criminais da Justiça dos Estados e da Justiça Federal,
convocados pelos Ministros do STF e do STJ pelo prazo de 6 seis meses, prorrogável por
igual período, até o máximo de 2 dois anos, para a realização do interrogatório e de outros
atos de instrução nos feitos de competência originaria dos Tribunais Superiores, conforme a
Lei 8.038/90, artigo 3°, III, emenda regimental 36/2009, a figura do magistrado instrutor
revela-se compatível com o princípio do juiz natural, por ser um longa manus do do Relator.
Princípios atinentes a prova no processo penal
• Princípio da liberdade probatória: por conta dos interesses envolvidos no processo
penal – de um lado, o interesse do individuo na manutenção de seu ius libertatis, com o
pleno gozo de seus direitos fundamentais, do outro, o interesse estatal no exercício do
jus puniendi, objetivando-se a tutela dos bens jurídicos protegidos pelas normas penais –
adota-se, no âmbito processual penal, a mais ampla liberdade probatória, seja quanto ao
momento ou tema da prova, seja quanto aos meios de prova que podem ser utilizados.
Considerando os princípios da busca da verdade e da liberdade probatória, há, no
processo penal, uma liberdade probatória bem maior que no processo civil.
• Princípio do favor rei: sob a ótica formal, o princípio da igualdade preconiza que todos
são iguais perante a lei, que não pode estabelecer distinções ou discriminações entre
sujeitos iguais. No entanto, a realidade demonstra, de maneira inconteste, que está
igualdade não existe, notadamente em sede processual penal. Afinal, de um lado
geralmente está o Ministério Público, titular da ação penal pública, com todo seu poder e
aparato oficial, sendo auxiliado por outro órgão estatal Polícia Judiciária, que municia o
dominus litis com os elementos de informação necessários ao oferecimento da
denúncia. Do outro lado coloca-se o acusado, invariavelmente num plano de
inferioridade, até mesmo por conta do caráter seletivo do direito penal. por isso, não
basta uma mera igualdade formal. Há de se buscar uma igualdade substancial por meio
da criação de mecanismos processuais capazes de reequilibrar tamanha desigualdade
entre a acusação e defesa. Utiliza-se a exemplo o indubio pro reo como regra de
julgamento em caso de insuficiência de provas, deve-se preferir a absolvição, recurso
privativo da defesa como nos embargos infringentes, e a vedação da reformatio in pejus
em face do recurso exclusivo da defesa, artigo 617 CPP.
Meios de prova e meios de obtenção de prova em espécie
• Do exame de corpo de delito, da cadeia de custódia e das perícias em geral: como
se pode ter certeza que o exame pericial que atestou a presença do tetraidrocanabinol,
principal substancia ativa encontrada nas plantas do gênero Cannabis Sativa (maconha),
foi realizado na mesma substancia apreendida com os traficantes por ocasião de suas
prisões em flagrante? Como se pode admitir que uma arma de fogo, periciada pelo perito
oficial para fins de atestar sua eficiência, refere-se aquele mesmo artefato localizado na
casa do investigado? É exatamente para responder essas indagações que se
destaca a importância do estudo da chamada cadeia de custodia, que consiste, em
termos gerais, em um mecanismo garantidor da autenticidade das evidencias
coletadas e examinadas, assegurando que correspondem ao caso investigado,
sem que haja lugar para qualquer tipo de adulteração. Funciona, pois, como a
documentação formal de um procedimento destinado a manter e documentar a historia
cronológica de uma evidencia, evitando-se, assim, eventuais interferências externas e
internas capazes de colocar em dúvida o resultado da atividade probatória, assegurando,
assim, o rastreamento da evidencia desde o local do crime até o Tribunal. Fundamenta-
se no chamado princípio da autenticidade da prova um princípio básico pelo qual se
entende que determinado vestígio relacionado à infração penal, encontrado, por exemplo
no local do crime, é o mesmo que o magistrado está usando para formar seu
convencimento. Dai o porque de tamanho cuidado na formação e preservação dos
elementos probatórios no âmbito do processo penal.
Origem e finalidades da cadeia de custódia
• A preocupação com o tema não é nova. Ganhou destaque, na verdade, em meados da
década de 1990, nos EUA, quando o ex-jogador de futebol americano e então ator O. J.
Simpson, acusado de ser o executor do homicídio de sua ex-esposa e de um amigo dela, foi
absolvido. Como destaca Michelle Moreira Machado, “mesmo diante de provas que
demonstravam o envolvimento do jogador em um duplo homicídio, a defesa conseguiu a
absolvição devido à preservação do locar ter sido inadequada, aos procedimentos de coleta
de vestígios em que ficaram evidentes falhas na cadeia de custódia”. Em um sistema
processual penal regido pela presunção de inocência e pelo devido processo legal, artigo 5°,
LIV e LVII, da Constituição Federal de 1988, e inspirado em uma matriz processual
consentânea com o modelo acusatório, estrutura básica para a realização de um processo
equitativo, há de se tutelar com muito cuidado a atividade probatória, assegurando-se à
defesa não apenas o conhecimento da acusação, mas também à ciência dos meios e fontes
de prova existentes. Como destaca a doutrina “o conhecimento das fontes de prova pela
defesa é fundamental, porque a experiencia histórica que precede a expansão da estrutura
trifásica de procedimento penal, adequada ao modelo acusatório, contabiliza a supressão de
elementos informativos como estratégias das agencias de repressão que fundam as suas
investigações em praticas ilícitas. Aplica-se a todo e qualquer elemento probatório (v.g,
drogas, res furtiva, mídias digitais, etc), a cadeia de custodia tem inicio com a
preservação do local do crime ou com procedimentos policiais ou periciais nos quais
seja detectada a existência do vestígio, geralmente ao final do processo penal, CPP,
artigos 158-A, §1°, incluídos pela Lei 13.964/19.
Marco inaugural da cadeia de custódia do vestígio
• O marco inaugural da cadeia de custódia do vestígio pode ocorrer de três formas, em
conjunto ou individualmente quais sejam: A) preservação do local do crime (first
responders): consiste na manutenção do estado original das coisas em locais de crime
até a chegada dos profissionais de perícia criminal. Os policiais responsáveis pelo
isolamento e preservação do local do crime exercem papel de extrema importância na
cena do crime, eis que muitas vezes desconhecem procedimentos básicos para evitar
que vestígios matérias sejam perdidos, destruídos ou até mesmo contaminados, nos
termos da portaria 82/2014 da SENASP. O local do crime subdivide-se em a.1) área
imediata: é a área onde ocorreu o evento alvo da investigação, exemplo interior do
quarto da casa onde ocorreu o homicídio; a.2) área mediata: compreende as
adjacências do local do crime. A área intermediaria entre o local onde o fato ocorreu e o
grande ambiente exterior que pode conter vestígios relacionados ao fato sob
investigação, exemplo: jardim da casa onde o agente descartou o instrumento usado
para cometer o crime; a.3) área relacionada: é todo e qualquer lugar sem ligação
geográfica com o local do crime e que possa conter algum vestígio ou venha a auxiliar
no contexto do exame pericial, exemplo: a casa do agente onde foi localizada alguma
roupa suja de sangue. B) procedimentos policiais: é relativamente comum que a
Policia , militar ou não, seja por meio de ações institucionais de patrulhamento e
prevenção ao crime, exemplo, blitz de transito, seja através de investigação, identifique a
existência de vestígios relacionados a infração penal, hipótese em que devera proceder
à respectiva coleta, deflagrando-se o inicio da cadeia de custódia;
Marco inaugural da cadeia de custódia do vestígio
• Continuação... C) procedimentos periciais: diversamente da hipótese anterior, o
vestígio, nesse caso, é detectado através do trabalho técnico. A cadeia de custodia visa
assegurar a idoneidade dos objetos e bens apreendidos, de modo a evitar qualquer tipo
de dúvida quanto à sua origem e caminho percorrido durante a investigação e o
subsequente processo criminal. Em outras palavras, se a acusação pretende apresentar
evidencias físicas em juízo, exemplo a arma do crime, deve estar disposta a mostrar que
o objeto apresentado é o mesmo que foi apreendido na data dos fatos. Por consequência,
na eventualidade de haver algum tipo de quebra da cadeia de custódia das provas “break
on the chain of custody”, quer se trate de meio ou de fonte de prova, há de se reconhecer
a inadmissibilidade dessa evidencia como prova, assim como das demais provas delas
decorrentes, CPP, artigo 157, §1° (provas ilícitas por derivação).
• Etapas do rastreamento do vestígio na cadeia de custódia: de acordo com a portaria
n°. 82/2014 da SENASP, as etapas da cadeia de custódia são distribuídas em duas
macrofases: a) fase externa: compreende todos os passos entre a preservação do local
do crime ou apreensões dos elementos de prova e achegado do vestígio ao órgão de
pericia encarregado de processá-lo. compreende, portanto, a preservação do local do
crime, a busca do vestígio, seu reconhecimento (I), isolamento (II) fixação (III) coleta, (IV)
acondicionamento, (V) transporte, (VI) e recebimento. B) fase interna: compreende
todas as etapas entre a entrada do vestígio no órgão pericial até sua devolução
juntamente com o laudo pericial, ao órgão requisitante da pericia, compreende a
recepção, e conferencia do vestígio, analise pericial propriamente dita, classificação...
Etapas do rastreamento do vestígio na cadeia de
custódia
• Continuação... Distribuição do vestígio, analise pericial propriamente dita, guarda e
devolução do vestígio de prova, guarda de vestígio para contraprova, guarda do vestígio
para contra perícia , e registro da cadeia de custodia.
• Vejamos a sistemática do artigo 158-B, CPP, as etapas do rastreamento do vestígio
e quem está compreendida a cadeia de custódia:
• A) reconhecimento: ato de distinguir um elemento como de potencial interesse para a
produção da prova pericial, exemplo, quando um cadáver é identificado na cena do crime;
b) isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas, devendo isolar e
preservar o ambiente imediato, mediato e relacionado aos vestígios e local de crime. C)
fixação: descrição detalhada do vestígio conforme se encontra no local de crime ou no
corpo de delito, e a sua posição na área de exames, podendo ser ilustrada por fotos,
filmagens ou croqui, sendo indispensável a sua descrição no laudo pericial produzido pelo
perito responsável pelo atendimento. D) coleta: ato de recolher o vestígio que será
submetido a analise, respeitando suas características e natureza. No exemplo dado, o
cadáver é retirado do local o crime, devendo ser realizada por profissionais da pericia
criminal ou em sua falta por pessoas inidônea. E) acondicionamento: procedimento por
meio do qual cada vestígio coletado é embalado de forma individualizada, de acordo com
suas características físicas, químicas e biológicas, para posterior analise, com anotações
da data, hora e nome de quem realizou a coleta e o acondicionamento do vestígio.
Etapas do rastreamento do vestígio na cadeia de
custódia (continuação...)
• F) transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro, utilizando as condições
adequadas (embalagens, veículos, temperatura, entre outras), de modo a garantir a
manutenção de suas características originais, bem como o controle de sua posse. Nos casos
das amostras biológicas, a cadeia de custodia deve ser a mais curta possível para evitar a
degradação do material. Deve-se evitar o manuseio desnecessário como troca de recipientes
ou embalagens. No exemplo citado, o cadáver será transportado em caminhão do Instituto
Médico Legal, com condições adequadas para sua preservação; g) recebimento: ato formal
de transferência da posse do vestígio, que deve ser documentado com, no mínimo,
informações referentes ao numero de procedimento e unidade de policia judiciaria relacionada,
local de origem, nome de quem transportou o vestígio, código de rastreamento, natureza do
exame, tipo de vestígio, protocolo, assinatura e identificação de quem o recebeu. H)
processamento: exame pericial em si, manipulação do vestígio de acordo com a metodologia
adequada às suas características biológicas, físicas e químicas, a fim de se obter o resultado
desejado, que deverá ser formalizado em laudo produzido por perito. Nesta etapa, será
realizado o exame pericial propriamente dito, no exemplo dado, uma necropsia. i)
armazenamento: procedimento referente a guarda, em condições adequadas, do material a
ser processado, guardado para a realização de contra perícia, descartado ou transportado,
com vinculação ao numero correspondente. Exemplo, o cadáver é colocado em uma geladeira
do IML até o sepultamento. J) descarte: procedimento referente a liberação do vestígio,
respeitando a legislação vigente e quando pertinente, mediante autorização judicial. Exemplo:
sepultamento do corpo do homicídio e apreensão de parte da droga para laudo final.
Coleta do vestígio – artigo 158-C, CPP
• Consoante disposto no artigo 158-C, caput, do CPP, introduzido pela Lei 13.964/19, a coleta
dos vestígios – ato de recolher o vestígio que será submetido à analise pericial – devera ser
realizada preferencialmente por perito oficial (médico legista, perito criminal, papiloscopista,
etc), que dará o encaminhamento necessário para a central de custódia, mesmo quando for
necessária a realização de exames complementares. A utilização do adverbio
preferencialmente denota que se acaso não for possível o recolhimento dos vestígios por um
perito oficial, dois peritos não oficiais poderão fazê-lo nos termos do artigo 159, §1°, §2°, CPP,
hipótese em que também deverão observar todos os procedimentos técnicos introduzidos
pela Lei 13.964/19, sob pena de contaminação da cadeia de custódia. Todos vestígios
coletados no decurso do inquérito policial o processo devem ser tratados como descrito nesta
lei, ficando órgão central de periciais oficial de natureza criminal responsável por detalhar a
forma do seu cumprimento. Por outro lado, a LEP, artigo 9°, §7°, incluído pela Lei
13.964/19, inserindo no contexto da identificação do perfil genético de condenados pela
pratica de determinados crimes por ocasião do ingresso no estabelecimento prisional,
o dispositivo em questão, originalmente vetado pelo Presidente da República, é
expresso ao afirmar que a coleta da amostra biológica e a elaboração do respectivo
laudo serão realizados por perito oficial. Aplica-se a fatos consistentes em crimes
dolosos praticados com violência e grave ameaça a pessoa, crimes contra a vida,
contra a liberdade sexual ou por crime contra vulnerável, não teve o mesmo cuidado
em relação à coleta de material biológico para a obtenção do perfil genético nos casos
em que esta for essencial ás investigações policias, Lei 12.037/09, artigo 3°, IV, C/C
artigo 5°, parágrafo único.
Proibição de entrada em locais de crime antes da
liberação pelos peritos.
• De acordo com o artigo 158-C, §2°, CPP, é proibida a entrada em locais isolados bem
como a remoção de quaisquer vestígios de locais de crime antes da liberação por parte
do perito responsável, sendo tipificado como fraude processual, e outros crimes,
conforme os artigos 347, CP, e 312 do CTB, 23 e 24 da Lei 13.869/19 a sua realização.
Por mais que o dispositivo sob comento determine que a pratica dessas duas condutas
entrada em locais isolados e remoção de quaisquer vestígios de locais de crime antes da
liberação pelos peritos responsáveis, deverão ser tais condutas tipificadas como crimes
autônomos a depender da hipótese. Recipientes para acondicionamento de
vestígios: o artigo 158-D do CPP, cuida do recipiente destinado ao acondicionamento
do vestígio, o qual será determinado pela natureza do material. Todos os recipientes
deverão ser selados com lacres, com numeração individualizada, de forma a garantir a
inviolabilidade e a idoneidade do vestígio durante o transporte. O recipiente deverá
individualizar o vestígio, preservar suas características, impedir contaminação e
vazamento, ter grau de resistência adequado e espaço para registro de informações
sobre seu conteúdo. O recipiente só poderá ser aberto pelo perito que vai proceder a
analise, e motivadamente, por pessoas autorizadas. Após cada rompimento do lacre,
deve se fazer consta na ficha de acompanhamento do vestígio o nome e a matricula do
servidor responsável, a data, o local, a finalidade, bem como as informações referentes
ao novo lacre utilizado. O lacre rompido será colocado dentro do recipiente.
Central de custódia
• Todos os Institutos de Criminalística deverão ter uma central de custódia destinada à
guarda e controle dos vestígios, e sua gestão deve ser vinculada diretamente ao órgão
central de pericia oficial de natureza criminal. Não por outro motivo, a Secretária
Nacional de Segurança Pública tem repassado, através de convênios, recursos para
criar e estruturar a cadeia de custódia da Perícia Criminal dos diversos Estados
brasileiros. Toda central de custódia deve possuir um serviço de protocolos, com local
para conferência, recepção, devolução de materiais e documentos, possibilitando a
seleção, a classificação e a distribuição de materiais, devendo ser um espaço seguro e
apresentar condições ambientais que não interfiram nas características do vestígio.
Justifica-se o disposto no artigo 158-E, §1°, CPP, pelo fato de que as evidências
forenses geralmente são mantidas sob custódia do estado por muitos anos, o que torna
de grande importância tais centrais. Na central de custódia, a entrada e a saída de
vestígio deverão ser protocoladas, consignando-se informações sobre a
ocorrência no inquérito policial que a eles se relacionam. Todas as pessoas que
tiveram acesso ao vestígio armazenado deverão ser identificadas e deverão ser
registradas a data e a hora do acesso.
Destinação do material após a realização da perícia:
Uma vez realizado o exame pericial, o material deverá ser devolvido à central de custódia,
onde deverá permanecer. Atento às deficiências estruturais existentes em diversos
institutos de criminalística Brasil a fora, o artigo 158-F, paragrafo único, CPP, determina
que caso a central de custodia não possua espaço ou condições de armazenar
determinado material, deverá a autoridade policial ou judiciaria determinar as condições de
deposito do referido material em local diverso, mediante requerimento do diretor do órgão
central de perícia oficial de natureza criminal. Se a regra é a permanência do material
nas centrais de custódia tão logo concluída a realização da pericia, CPP artigo 158-F,
caput, especial atenção deve ser dispensada ao quanto disposto no artigo 9º-A, §6°,
da LEP, incluído pelo pacote anticrime Lei 13.964/19. inserido no dispositivo que
versa sobre a identificação do perfil genético de condenados pela pratica de certos
crimes, por ocasião do ingresso no estabelecimento prisional LEP, artigo 9°-A,
caput, o dispositivo em questão prevê que a amostra biológica recolhida deverá ser
correta e imediatamente descartada, de maneira a impedir a sua utilização para
qualquer outro fim. Trata-se, pois, de normal especial em relação ao artigo 158-F,
caput, CPP.
Do exame de corpo de delito e das pericias em geral
• Do corpo de delito: trata-se do conjunto de vestígios materiais ou sensíveis deixados pela
infração penal. A palavra corpo não significa necessariamente o corpo de uma pessoa.
Significa sim o conjunto de vestígios sensíveis que o delito deixa para trás, estando seu
conceito ligado à própria materialidade do crime. Exemplificando, suponha-se que haja um
crime de latrocínio no interior de um apartamento. Nessa hipótese, o corpo de delito não se
resume ao cadáver, abrangendo também outros vestígios perceptíveis pelos sentidos
humanos, tais como eventuais marcas de sangue deixados no chão, a arma de fogo utilizada
para a pratica do delito, sinais de arrombamento da porta do apartamento, etc.
• Exame de corpo de delito direto e outras perícias: o exame de corpo de delito é uma
analise feita por pessoas com conhecimento técnico ou cientifico sobre os vestígios materiais
deixados pela infração penal para comprovação da materialidade e autoria do delito. Como o
magistrado não é dotado de conhecimento enciclopédicos, e se vê obrigado a julgar causas
das mais espécies, afigura-se necessário recorrer a especialistas, os quais, dotados de
conhecimentos específicos acerca do assunto, podem auxiliar o juiz no esclarecimento do fato
criminoso. A depender do caso concreto, um mesmo corpo de delito pode ser submetido a
vários exames periciais. Usando o mesmo exemplo citado acima, um perito oficial deverá
comparecer ao apartamento em que o crime de latrocínio foi cometido, elaborando um laudo
de exame de local de morte violenta. O cadáver da vítima será encaminhado aos médicos-
legistas, os quais, após examina-lo, elaborarão um laudo cadavérico, apontando qual teria sido
a causa mortis. A arma de fogo apreendida no local do crime será submetida a exame pericial,
a fim de se comprovar se teriam partido dela os disparos de arma de fogo, aferindo, ademais,
sua potencialidade lesiva.
Natureza jurídica do exame de corpo de delito
Tanto o exame de corpo de delito quanto os demais exames periciais em natureza de
meios de prova, pois funcionam como instrumentos através dos quais as fontes de prova
são introduzidas no processo. Não se trata, o exame de corpo de delito, de uma prova
hierarquicamente superior às demais. Na verdade, diante do reconhecimento da
incapacidade de determinados meios de prova para gerar um juízo de convicção mais
seguro em relação a fatos específicos, torna-se necessário recorrer à prova técnica para
comprovação da existência de determinado elemento do delito. É o que ocorre, a título de
exemplo, com a identificação de uma arcada dentária. Caso não fosse determinada a
realização de exame pericial, subsistiria a dúvida quanto à identidade da pessoa, sendo
inviável que o juiz suprisse a ausência do exame pericial com base em seus
conhecimentos jurídicos. Em regra, o exame pericial pode ser determinado tanto pela
autoridade policia quanto pelas autoridades judiciarias e ministerial. De acordo com
o artigo 6°, inciso I e VII, do CPP. Logo que tiver conhecimento da pratica da infração
penal, a autoridade policial deverá dirigir-se ao local, providenciando a preservação
de coisas, até a chegada dos peritos criminais, devendo, ademais, determinar, se for
o caso, que se proceda a exame de corpo de delito e quaisquer outras perícias. Não
podemos esquecer da prioridade em relação a realização do exame de corpo de delito
quando se tratar de violência domestica e familiar contra a mulher vítima além de crimes
praticados contra a criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência, etc. artigo 158
CPP, alterado pela Lei 13.721/2018. O exame de insanidade mental como exceção deve
ser determinado pela autoridade judiciária com fundamento no artigo 149 CP.
Laudo pericial
• Trata-se da peça técnica elaborada pelos peritos quando da realização do exame pericial.
Subdivide-se em 4 quatro partes: a) preâmbulo: qualificação do perito oficial ou dos peritos
não oficiais e do objeto da perícia; b) exposição: narrativa de tudo que é observado pelos
experts; c) fundamentação: motivos que levaram os experts à conclusão final; d) conclusão
técnica: resposta aos quesitos;
• Dispõe o artigo 160 do CPP que os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão
minuciosamente o que examinarem, responderão aos quesitos formulados. O laudo pericial
será elaborado no prazo máximo de 10 dez dias, podendo este prazo ser prorrogado, em
casos excepcionais, a requerimento dos peritos, CPP, artigo 160, parágrafo único.
• Momento de juntada do laudo pericial: em regra, o laudo pericial não funciona como
condição de procedibilidade da ação penal, o que significa dizer que o laudo pericial não é
peça indispensável para o inicio do processo penal, salvo nos seguintes crimes: a) tráfico de
drogas Lei 11.343/2006, artigo 50, §1°, artigo 525 pericia por amostragem nos crimes contra a
propriedade imaterial. Portanto, o laudo pode ser juntado aos autos ao longo de todo o
processo. No entanto, diante do silêncio da lei,, questiona-se até quando essa juntada poderá
ocorrer. Como o acusado deve ter o conhecimento de tudo que contra ele foi produzido ou
venha a ser utilizado, a fim de que possa exercer o seu direito de fazer contraprova,
apresentando elementos probatórios para se contrapor ao produzido nos autos pelo exame
pericial, queremos crer que o laudo deve ser juntado aos autos antes da audiência de
instrução criminal, com antecedência mínima de 10 dez dias.

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