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H - Setor público e setor não lucrativo

O CONTRIBUTO DA
AUDITORIA PÚBLICA
PARA A GOOD
GOVERNANCE

Luís Cláudio de Almeida Francisco


Ana Lúcia Romão
OBJETIVOS

(i) Identificar o papel da auditoria enquanto ferramenta de good governance e de poder na

sociedade;

(ii)Conhecer formas de reforço do contributo da auditoria pública para a good governance;

(iii)Compreender a relação da auditoria pública com a criação de valor na sociedade e com a

avaliação de programas e políticas públicas;

(iv)Conhecer a expetativa dos entrevistados sobre a aplicação dos princípios de good

governance pelas ISC.

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ENQUADRAMENTO TEÓRICO

 Modelos de governação e de gestão pública

 Administração Pública Tradicional


 Burocracia Profissional

 Nova Gestão Pública

 Novo Serviço Público

 Governança

 Gestão do Valor Público

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ENQUADRAMENTO TEÓRICO

 Governança e governação

Governança – forma de governar, equilíbrio que se estabelece entre o Estado, a Sociedade Civil
e os mercados ao nível local, nacional e internacional (Greve, 2013).

Governação – capacidade da administração dos governos para gerar e implementar políticas


que dirijam a sociedade para os resultados económicos e sociais pretendidos (Katsamunska,
2016).

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ENQUADRAMENTO TEÓRICO

 A good governance

É tida como uma forma de governação, boa, porque assenta em participação pública, em transparência,
responsabilização, respeito, cumprimento da lei e satisfação das necessidades das populações, onde se basearia
a força do desenvolvimento social (ONU, 2007).

O IFAC define a good governance como o processo pelo qual os organismos do setor público, e as pessoas que os
compõem, são responsáveis pelas suas decisões e ações, incluindo a sua gestão dos fundos públicos e todos os
aspetos do desempenho, e se submetem a um controlo externo adequado (Tribunal de Contas Europeu, 2018).

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ENQUADRAMENTO TEÓRICO

A good governance

Opõe-se à bad governance e às práticas de corrupção pública.

Assenta na transparência, na accountability, na justiça e na equidade, na eficiência e na efetividade,


no cumprimento da lei e na ética como os princípios básicos para edificar uma governação aberta
assente na good governance (ONU, 2013). Este modo de governação permitiria estancar a erosão
da confiança em consequência de escândalos recentes na gestão pública (Chevers et al., 2013).

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ENQUADRAMENTO TEÓRICO

 Auditoria pública e good governance

A auditoria de contexto público é uma ferramenta de reforço de cidadania, de democracia,


mas também de gestão. A auditoria pública detém um papel nevrálgico no fortalecimento
da confiança no governo visto promover accountability, efetividade e transparência na AP
(Romão, 2018).

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ENQUADRAMENTO TEÓRICO

 Auditoria pública e good governance

Ao fornecer informação, ela pode ajudar os gestores e agentes públicos, bem como os
cidadãos e outros stakeholders, a assacar responsabilidades dos resultados alcançados
pelos órgãos de governo. É de tal forma importante que em democracia existam ISC
independentes e confiáveis, que o mesmo foi patente na resolução A/66/209 da ONU
(OCDE, 2014).

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ENQUADRAMENTO TEÓRICO

 Auditoria pública e good governance

Os relatórios podem contribuir para melhorar a forma de governação pública, por exemplo resultando em
redução de custos; simplificação de procedimentos de administração; em alcançar quantidade e qualidade
de serviços; aumentar a efetividade das medidas com impacto em benefícios para a sociedade. Trata-se de
uma lógica mais abrangente do que a da gestão financeira (ISSAI 300:40; GAO, 2018).

Para dar suporte aos relatórios, estes podem apoiar-se em sistemas de balanced scorecard ou de public
value scorecard (P. Costa, 2017).

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ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Ciclo de governança pública


INSTITUIÇÕES
Estrutura de Governo
Inputs Processos Outputs Outcomes

Que quantidade de Que bens e Qual o impacto


Como e o
recursos e de que tipo serviços são destes bens e
que faz o
são utilizados pelo produzidos pelo serviços para o
Governo ?
Governo? Governo? cidadão?

Figura 1: Ciclo de governança pública (tradução própria)


Fonte: (OECD, 2017; pág.1)

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OPÇÕES METODOLÓGICAS

 Estudo exploratório com uma metodologia de cariz qualitativo;

 Abordagem interpretativista com recurso ao método indutivo;

 Análise documental;

 Realização de entrevistas semi-estruturadas com aplicação de guião composto por 21 questões


centradas na auditoria pública e nos conceitos chave definidos, adaptado de ONU (2007), Workshop
Theme: Making Audit a Tool for Social Change;

 Aplicação de matriz de análise de conteúdo às respostas obtidas.

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OPÇÕES METODOLÓGICAS

 Entrevistados:

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ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Análise de conteúdo das 17 entrevistas realizadas aos intervenientes qualificados.

Análise comparativa de informação patente em 21 sites de entidades públicas em


07.03.2019 .

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ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Tabela 3: Síntese de sites públicos

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ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

 Dos 17 entrevistados, 13 associaram o TC e a IGF ao processo da governance. As suas opiniões


foram unânimes e coincidentes sobre a importância da ferramenta de auditoria de contexto
público na governance, sendo entendido que é um recurso que podia ser ainda mais utilizado e
que até deveria ser juridicamente reforçado.
 Para que haja progresso político-social, 12 dos 17 entrevistados mencionaram a necessidade de
conhecimento de resultados em torno do desempenho. 15 dos entrevistados consideraram útil
ou até imprescindível a implementação de sistemas de public value scorecard como base de
trabalho para a auditoria de contexto público. O que poderia servir de referencial a boas
práticas, a avaliação do custo benefício e de outcomes entre os vários setores da atividade
pública. Esta perspetiva é coincidente com a obra do autor P. Costa (2017).

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ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

13 dos 17 entrevistados consideraram que em Portugal não é habitual a avaliação de


programas de políticas públicas nem do valor público que estes criam.

Sobre o papel e o perfil do auditor público, a maioria dos entrevistados focou-se na


necessidade de o trabalho de auditoria dever ser feito em contexto de equipa
pluridisciplinar, ajustando-se as necessidades do trabalho às valências técnicas individuais,
não sendo diferente do que sucede no setor privado.

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ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Do modelo de comunicação da auditoria pública com a sociedade civil, os 17


entrevistados consideraram importante e/ou fundamental o papel a ser assumido
pela CS. Consideraram a necessidade de cuidado na isenção e fiabilidade da partilha
de informação com recurso aos novos meios tecnológicos, para partilhar, de forma
concisa e ajustada, a mensagem a ser transmitida aos seus recetores. Colocaram o
enfoque na comunicação e no conhecimento dos resultados de auditoria, como
forma de fomentar transparência, a accountability e a participação cívica.

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ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

Dada a definição de accountability, sobre a expetativa dos entrevistados quanto a


aplicação dos princípios de good governance, 9 referenciaram o TC, 8 a IGF e
apenas 5 mencionaram a UNCC - PJ.

Hierarquizar e reforçar a importância dos conceitos-chave em relação à auditoria


pública, entre os 17 entrevistados, foram referidas a accountability, 6 vezes, e a
transparência, 9 vezes.

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CONCLUSÕES

Alinhamento com a discussão teórica internacional;

Consciência sobre a importância da auditoria pública para a matriz de good


governance, contudo ainda pouco efetiva na gestão pública em Portugal;

O atual perfil das ISC e do SCI (DL n.º166/98 de 25 de junho) ou de quem executa auditoria pública
não responde às necessidades da good governance e não concretizam o seu
potencial de criação de valor público;

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CONCLUSÕES

A criação de valor público bastar-se-ia com aplicação de mais transparência e


accountability;

Mais transparência permite maior confiança pública, mais responsabilidade e


responsabilização, e por conseguinte a criação de valor público;

Existência de pressupostos comuns entre a auditoria pública e a good governance


que nem sempre são colocados em prática (nem referidos no SCI);

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CONCLUSÕES

Dependência das ISC, e das entidades de auditoria pública, relativamente


às “agendas” dos seus lideres;

Organizações de referência, como por exemplo a OROC, não fazem menção no site a
práticas de auditoria pública;

Inexistência de benchmarking entre as ISC (aproximação ao modelo anglo-


saxónico);

Indisponibilidade do IPCG para colaborar na resposta ao guião de entrevista;

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CONCLUSÕES

Inexistência de padronização de informação nos sites da entidades do CCSCI


(Conselho Coordenador do Sistema de Controlo Interno da AP) e de normalização da comunicação de
resultados pelas ISC e SCI à sociedade e stakeholders;

Uma maior participação cívica, via auditoria pública, efetivaria a good governance;

Premência de reforma do atual SCI – “Accountability Office”;

Incentivo e disseminação da Auditoria Interna na AP.

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Obrigado pela atenção.
Luís Cláudio de Almeida Francisco; Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas

Ana Lúcia Romão (autor de contacto) - anaromao@iscsp.ulisboa.pt

Centro de Administração e Políticas Públicas e Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas

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