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CAPITÃES DA AREIA

JORGE AMADO

Letícia Nóbrega
INTRODUÇÃO
 Publicado em 1937
 Logo no início do Estado Novo, exemplares do
livro foram incinerados publicamente em Salvador
 Jorge Amado (1912-2001): escritor baiano, sofreu
perseguições políticas por ser filiado ao PCB. No
século XX, constitui-se como maior escritor
brasileiro, com inúmeras traduções e livros
adaptados para a televisão, cinema e teatro.
ELEMENTOS DO ENREDO
INÍCIO DA OBRA
 Início: suposta reportagem de jornal, seguida da
transcrição de cinco supostas cartas ao jornal.
Todas tratando de um grupo de aproximadamente
cem menores abandonados que vivem juntos e
sobrevivem graças a furtos, roubos, golpes e
estupros.
INÍCIO DA OBRA
Crianças ladronas

As aventuras sinistras dos "Capitães da Areia" - A cidade infestada por


crianças que vivem do furto - urge uma providência do Juiz de Menores e do
chefe de polícia - ontem houve mais um assalto

Já por várias vezes o nosso jornal, que é sem dúvida o órgão das mais
legítimas aspirações da população baiana, tem trazido noticias sobre a
atividade criminosa dos "Capitães da Areia", nome pelo qual é conhecido o
grupo de meninos assaltantes e ladrões que infestam a nossa urbe. Essas
crianças que tão cedo se dedicaram à tenebrosa carreira do crime não têm
moradia certa ou pelo menos a sua moradia ainda não foi localizada. Como
também ainda não foi localizado o local onde escondem o produto dos seus
assaltos, que se tornam diários, fazendo Jus a unia Imediata providência do
Juiz de Menores e do dr. Chefe de Polícia. [...]
OS LÍDERES
 Pedro Bala: rapaz entre 14 e 15 anos, órfão desde os
5, cujo pai fora fuzilado pela polícia, em uma greve.
 Professor: muito respeitado pela inteligência, lê e
narra as histórias para seus companheiros.
 Sem-pernas: garoto coxo que aproveita sua condição
para entrar nas casas dos ricos e facilitar os roubos.
Sente ódio de tudo e de todos (sua defesa para uma
enorme carência), tinha fama de cruel.
OS LÍDERES
 João Grande: negro de 13 anos que se destaca não pela
inteligência, mas pela enorme força e determinação em
defender os mais fracos.
 Pirulito: garoto marcado pelo sentimento religioso e
vocação ao sacerdócio.
 Gato/Boa-vida: dois malandros que querem curtir a
vida.
 Volta-seca: menino sertanejo, afilhado de Lampião que
sonha em voltar para o sertão e se unir aos cangaceiros.
ADULTOS AMIGOS

 Querido-de-Deus.

 Don’Aninha.

 Padre José Pedro.

 João de Adão.
EPISÓDIOS E PERIPÉCIAS
 Episódios: ações circunstanciais que se encerram
em sim mesmas, sem fazer avançar a narrativa.
 Exemplo 1: “As luzes do carrossel” – plano
arquitetado para os meninos andarem de
carrossel.
 Aparentemente autônomo, mas não sem importância
(introduz o retrato moral do Padre José Pedro)
EPISÓDIOS E PERIPÉCIAS
 Exemplo 2: Pedro Bala sodomiza à força uma
jovem negra virgem, apesar de ela implorar para
que ele a deixe em paz.
 Aparentemente desconexo de tudo, mostra a
bestialidade dos instintos sexuais do protagonista e
tem a função de servir de contraponto ao futuro
comportamento em relação à outra jovem, Dora.
EPISÓDIOS E PERIPÉCIAS
 Exemplo 3: Uma imagem de Ogum é retirada de
seu altar no candomblé de Don’Aninha e levada
pela polícia a uma delegacia. Pedro Bala bola um
plano e restituir a imagem ao seu lugar sagrado
 Aparentemente desconexo de tudo, mostra a
intolerância e perseguição às religiões de origem
africana e reforça-se a imagem de Pedro Bala como
herói solidário, dotado de rara inteligência, coragem e
habilidade.
EPISÓDIOS E PERIPÉCIAS
 Peripécias: ações que dinamizam as situações,
modificam o modo de agir das personagens e
articulam os acontecimentos que definem a
história central numa relação de causalidade.
 Dora:
 “Filha de bexiguento”
 “Dora, mãe”
 “Dora, irmã e noiva”
ANÁLISE DA OBRA
NEORREALISMO REGIONALISTA

 Resposta à hegemonia São Paulo/Rio de Janeiro na


literatura
 Valorização de temas associados à decadência da
velha aristocracia açucareira do Nordeste
 Conteúdo político da obra (acentuado matiz
ideológico de inspiração socialista)
LINGUAGEM E ESTILO
 Linguagem popular com alguns graus de
estilização, colocando a oralidade popular, com
seus erros de concordância, gírias etc.
 - Tu ainda tem uma peitama bem boa, hein, tia?
 - Esses meninos de hoje em dia não respeita os amis
velho, compadre João de Adão. Onde já se viu um
capetinha destes falar em peito pra uma velha
encongrujada como eu?
 - Deixa de conversa, tia. Tu ainda topa a coisa.[...]
LINGUAGEM E ESTILO
 A linguagem do narrador, bem como o de
algumas personagens que tiveram acesso à
educação letrada, como o padre José Pedro,
desenvolve-se dentro do registro culto, mas
coloquial. Isso não impede o narrador de valer-se
de procedimentos formais sofisticados, como é o
caso do discurso indireto livre:
LINGUAGEM E ESTILO
“O padre José Pedro ia encostado à parede. O Cônego dissera que ele não
podia compreender os desígnios de Deus. Não tinha inteligência, estava
falando igual a um comunista. Era aquela palavra que mais perseguia o
padre. De todos os púlpitos todos os padres tinham falado contra aquela
palavra. E agora ele... O Cônego era muito inteligente, estava próximo de
Deus pela inteligência, era-lhe fácil ouvir a voz de Deus. Ele estava errado,
perdera aqueles dois anos de tanto trabalho.Pensara levar tantas crianças a
Deus... Crianças extraviadas... Será que elas tinham culpa? Deixai vir a mim
as criancinhas... Cristo... Era uma figura radiosa e moça. Os sacerdotes
também disseram que ele era um revolucionário. Ele queria as crianças... Ai
de quem faça mal a uma criança... A viúva Santos era uma protetora da
Igreja... Será que ela também ouvia a voz de Deus? Dois anos
perdidos...Fazia concessões, sim, fazia. Senão, como tratar com os Capitães
da Areia? Não eram crianças iguais às outras... Sabiam tudo, até os segredos
do sexo. Eram como homens, se bem fossem crianças...”
ESPAÇO E TEMPO
 Salvador
 Impreciso: “reportagem do Jornal da Tarde,
mostra que o pai de Pedro Bala morrera na
“célebre greve de 191...”
 O romance se passa, então, durante a década de
20
PERSONAGENS
 Divisão de E. M. Forster: personagens planas e
redondas.
 No livro: personagens planas, sem muita
densidade ou profundidade psicológica. Seus
perfis morais são esquemáticos e podem ser
agrupados em duas esferas:
 Os ricos (que são todos maus)
 Os pobres (que são todos bons, mesmo quando agem
de maneira má, a culpa é da sociedade)
NARRADOR
 3ª pessoa, onisciente
 Lugar social do narrador: justamente pela
linguagem, é possível falar que ele vê a situação
de fora.
 É, no entanto, extremamente empático à causa
dos Capitães.
 Ideia de intelectual orgânico do proletariado
(Gramsci)
CONCLUSÃO
 É possível falar que é uma epopeia dos
miseráveis.
 Ao tema das crianças de rua, somam-se outros como
violência, intolerância religiosa, exploração.
 Em todos: luta heroica do proletariado (resistência
contra a reificação do homem) por paz e justiça.

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