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ESTRELA DA

VIDA
INTEIRA
Manuel Bandeira
MANUEL BANDEIRA
VIDA & OBRA

“A vida inteira que podia ter sido e que não foi.”


 

                                 

             
MANUEL BANDEIRA
(1886 – 1968)

 MANUEL CARNEIRO DE SOUSA BANDEIRA


FILHO nasceu em Recife, em 19 de abril de 1886.
 Ainda jovem, muda-se para o Rio de Janeiro, onde
faz seus estudos secundários.
 Em 1903 transfere-se para São Paulo, onde inicia o
curso de Engenharia na Escola Politécnica.
 No ano seguinte, interrompe os estudos por causa da
tuberculose e retorna ao Rio de Janeiro.
 Desenganado pelos médicos, passa longo tempo em
estações climáticas do Brasil e da Europa, onde toma
contato com a poesia simbolista e pós-simbolista.
Nessa fase é que se inicia realmente a produção
poética de Manuel Bandeira, conforme explica o
crítico Davi Arrigucci Jr.:
"A poesia de Bandeira (..) tem início no
momento em que sua vida, mal saída da
adolescência, se quebra pela manifestação da
tuberculose, doença então fatal. O rapaz que só
fazia versos por divertimento ou brincadeira, de
repente, diante do ócio obrigatório, do
sentimento de vazio e tédio, começa a fazê-los
por necessidade, por fatalidade, em resposta à
circunstância terrível e inevitável".
Tradicional X Moderno
 Serviu-se tanto da influência vanguardista do século XX
quanto das formas clássicas da lírica ocidental e acabou
criando uma obra singular no contexto da literatura brasileira.
 Primeiro livro (As cinzas das horas – 1917): parnaso-
simbolista
 Plena adesão aos ideias modernistas com Libertinagem
 Com seu estilo simples consegue captar a complexidade da
existência com recursos de expressão aparentemente
humildes.
 Sua capacidade de “reduzir tudo ao essencial”, utilizando
apenas algumas poucas palavras, é extraordinária.
 Essa síntese expressiva se dá mediante uma linguagem
coloquial que em momento algum empobrece ou vulgariza os
poemas.
Individual X Universal
 Nos poemas de Bandeira predomina o lirismo do
“EU”, mas o cotidiano jamais desaparece deles.
 Seus versos não revelam apenas a visão interior
(subjetiva) ou a simples fotografia realista do mundo:
síntese feliz de subjetividade (o eu) e objetividade (a
realidade).
 Os temas mais comuns em sua obra são: o desejo
insatisfeito, o amor e o erotismo, a evocação da
infância, a tristeza da vida, a solidão, a morte, a
angústia existencial, o cotidiano, a temática social,
família, entre outros.
RESUMINDO...
 Uso do versos livre e tradicional
 Uso da linguagem coloquial e culta
 Simplicidade
 Aproveitamento do material folclórico e da cultura popular
 Forte presença do cotidiano: “A poesia está em tudo – tanto
nos amores quanto nos chinelos, tanto nas coisas lógicas
quanto nas disparatadas”
 Poesia do individual (subjetiva) mas com valor universal
 Valorização do amor físico, sensualidade e erotismo
EPÍGRAFE

Sou bem nascido. Menino, Turbou, partiu, abateu,


Fui, como os demais, feliz. Queimou sem razão nem dó -
Depois, veio o mau destino Ah, que dor!
E fez de mim o que quis. Magoado e só,
- Só! - meu coração ardeu.
Veio o mau gênio da vida,
Rompeu em meu coração, Ardeu em gritos dementes
Levou tudo de vencida, Na sua paixão sombria...
Rugiu como um furacão, E dessas horas ardentes
Cin
Ficou esta cinza fria.
za d
(pa as Ho
sim rnaso- ras - Esta pouca cinza fria.
bol
i st a
)
DESENCANTO

Eu faço versos como quem chora E nestes versos de angústia rouca,


De desalento. . . de desencanto. . . Assim dos lábios a vida corre,
Fecha o meu livro, se por agora Deixando um acre sabor na boca.
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente. - Eu faço versos como quem


Tristeza esparsa... remorso vão... morre.
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

Cin
za d
(pa as Ho
sim rnaso- ras
bol
i st a
)
Que
poe bra
POÉTICA c
LIB sia tra om a
ERT dicio
INA nDea todo lirismo que capitula ao que
Estou farto do lirismo comedido GE l:
Mquer que seja
Do lirismo bem comportado
fora de si mesmo
Do lirismo funcionário público com livro de De resto não é lirismo
ponto expediente Será contabilidade tabela de co-
protocolo e manifestações de apreço ao Sr. senos secretário do amante
diretor. exemplar com cem modelos de
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar cartas e as diferentes
no dicionário maneiras de agradar às mulheres,
o cunho vernáculo de um vocábulo. etc
Abaixo os puristas Quero antes o lirismo dos loucos
Todas as palavras sobretudo os barbarismos O lirismo dos bêbedos
universais O lirismo difícil e pungente dos
Todas as construções sobretudo as sintaxes de bêbedos
exceção O lirismo dos clowns de Shakespeare
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador - Não quero mais saber do lirismo
Político que não é libertação.
Raquítico
Sifilítico
ARTE DE AMAR

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.


A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
A
Só em Deus - ou fora do mundo. ero mor
tiza
do

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.


CONSOADA

o mo
Quando a Indesejada das gentes chegar rte
c
M o e ma
(Não sei se dura ou caroável), t nte
r re
reco
talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
- Alô, iniludível!

O meu dia foi bom, pode a noite descer.


(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.
BELO BELO

Belo belo minha bela Quero quero


Tenho tudo que não quero Quero dar a volta ao mundo
Não tenho nada que quero Só num navio de vela
Não quero óculos nem tosse Quero rever Pernambuco
Nem obrigação de voto Quero ver Bagdad e Cusco

Quero Quero Quero quero


Quero a solidão dos píncaros Quero o moreno de Estela
A agua da fonte escondida Quero a brancura de Elisa
A rosa que floresceu Quero a saliva de Bela
Sobre a escarpa inacessível Quero as sardas de Adalgisa
A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco Quero quero tanta coisa
Belo belo
Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero
BELO BELO
al i dade
Re ante
s t r
fru

Belo belo minha bela Quero quero


Tenho tudo que não quero Quero dar a volta ao mundo
Não tenho nada que quero Só num navio de vela
Não quero óculos nem tosse Quero rever Pernambuco
Nem obrigação de voto Quero ver Bagdad e Cusco

Quero Quero Quero quero


Quero a solidão dos píncaros Quero o moreno de Estela
A agua da fonte escondida Quero a brancura de Elisa
A rosa que floresceu Quero a saliva de Bela
Sobre a escarpa inacessível Quero as sardas de Adalgisa
A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco Quero quero tanta coisa
Belo belo
Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero
BELO BELO
al i dade
Re ante
s t r
fru

Belo belo minha bela Quero quero


Tenho tudo que não quero Quero dar a volta ao mundo
Não tenho nada que quero Só num navio de vela
Não quero óculos nem tosse Quero rever Pernambuco
Nem obrigação de voto r Quero ver Bagdad e Cusco
Amo l
a
sensu
Quero Quero Quero quero
Quero a solidão dos píncaros Quero o moreno de Estela
A agua da fonte escondida Quero a brancura de Elisa
A rosa que floresceu Quero a saliva de Bela
Sobre a escarpa inacessível Quero as sardas de Adalgisa
A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco Quero quero tanta coisa
Belo belo
Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero
ANDORINHA

Andorinha lá fora está dizendo:


- "Passei o dia à toa, à toa!"

Andorinha, andorinha, minha cantiga é mais triste!


Passei a vida à toa, à toa...
MACUMBA DE PAI ZUZÉ

Na macumba do Encantado
Nego veio pai de santo fez mandinga
No palacete de Botafogo
Sangue de branca virou água Us
o
d
po a c
Foram vê estava morta! pu ult
la ur
r a
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Vou-me embora pra Pasárgada E como farei ginástica Em Pasárgada tem tudo
Lá sou amigo do rei Andarei de bicicleta É outra civilização
Lá tenho a mulher que eu quero Montarei em burro brabo Tem um processo seguro
Subirei no pau-de-sebo De impedir a concepção
Na cama que escolherei
Tomarei banhos de mar! Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Vou-me embora pra Pasárgada E quando estiver cansado Tem prostitutas bonitas
Vou-me embora pra Pasárgada Deito na beira do rio Para a gente namorar
Aqui eu não sou feliz Mando chamar a mãe-d'água
Lá a existência é uma aventura Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino E quando eu estiver mais triste
De tal modo inconseqüente
Rosa vinha me contar Mas triste de não ter jeito
Que Joana a Louca de Espanha Quando de noite me der
Vou-me embora pra Pasárgada
Rainha e falsa demente Vontade de me matar
Vem a ser contraparente — Lá sou amigo do rei —
Da nora que nunca tive Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Cidade da Pérsia Antiga, atual sítio
arqueológico do Irã

 “Vou-me embora pra Pasárgada” foi o poema de mais longa gestação em


toda minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando
tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse nome de
Pasárgada, que significa “campo dos persas”, suscitou na minha
imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias [...]. Mais de vinte
anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num
momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de súbito
do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra Pasárgada!”.
Senti na redondilha a primeira célula de um poema [...]"
INTERTEXTUALIDADE
Bogotá - Criolo
"fique atento irmão!
Fique atento, quando uma pessoa lhe oferece um
caminho mais curto.
Quando uma pessoa lhe oferece um caminho mais curto,
fique atento.“

Vamos embora para Bogotá Se você quer amor, chegue aqui


Muambar Se quer esquecer a dor, venha pra cá
Muambei Pois a ilusão é doce como o mel
Vamos cruzar E cada um sabe o preço do papel
Transamazônica Quem tem
Pra levar E de onde vem
Pra freguês Es qualité no exterior
Vai ser melhor do que em Pasárgada
Agradar Até o rei Desde pequeno sabe o que é isso
No fio da navalha
Brincar no precipício
A vida e a morte
Escolha o seu troféu
Pois cada um sabe o preço do papel
Quem tem...
ATIVIDADE
• Faça um pequeno texto comparativo entre a Pasárgada de Bandeira e a
Bogotá de Criolo. Identifique e explique suas semelhanças e distinções.

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