Você está na página 1de 57

A ARQUEOLOGIA DOS

EVENTOS,
DIFUSIONISMO
E A ARQUEOLOGIA DOS
POVOS
A maioria dos historiadores demonstra
um certo ceticismo em relação às
grandes reconstituições históricas que
deslocam povos e idéias sobre o tabuleiro
da geografa.

A tentação difusionista permanece


presente, no entanto, em vários trabalhos.
Exemplo dos dolmens europeus foi
procurada nas civilizações do mar Egeu.
Sem referencias cronológicas aceitáveis
pré-historiadores voltaram-se para o estudo
dos objetos originários no Oriente Próximo,
importados até a periferia das áreas de
suas grandes civilizações.
Esses objetos permitiam estender as
referencias fornecidas pelas cronologias
históricas além de sua área de extensão.
Infelizmente a repartição desses objetos
permanecia mais limitada que o previsto.
Era necessário ou
estabelecer múltiplos
emissários, ou
avançar com uma
hipótese
complementar, a
difusão da cultura.

Datação de uma
presilha escandinava
graças à cronologia
egípcia.
Antes do aparecimento
das datações por C14 a
cronologia proto-
histórica da Europa era
feita através de
comparações com
materiais historicamente
datados graças à
cronologia egípcia.
O exemplo mostra cinco
relações.
O quadro cronológico de referencia
poderia ser estendido para além da área
de difusão direta dos bens trocados.

A hipótese tornou-se, então, explicação.


As analogias foram explicadas pelos
contatos ligando os povos uns aos outros.
POSIÇÕES TEÓRICAS

- A primeira tese é a idéia de que é


possível recuperar os eventos que
afetaram as sociedades antigas a partir de
seus vestígios arqueológicos.
A arqueologia é o substituto da história
política e militar da época - as migrações e
os movimentos de população substituem
as batalhas e os tratados.
- A maior parte das inovações e dos progressos
importantes da história só pode ter se produzido
uma vez.

O conceito de unidade de origem opõe-se muito


nitidamente a compreensão evolucionista da
história.
No caso do difusionismo, a diversidade
estudada se relaciona a uma unidade
antiga.

Esta perspectiva é particularmente


interessante pois resulta de um artifício:
estabelecer uma árvore de classificação
hierárquica dos dados da observação, do
geral (tronco comum) ao particular (os
galhos)
Lingüística, antropologia física

As espécies que tem em comum o maior


número de características são
historicamente as mais próximas
-As inovações se difundem a partir dos
centros privilegiados para a periferia
subdesenvolvida

Smith levou a argumentação difusionista ao


extremo, fazendo derivar toda a civilização
mundial da civilização egípcia.
Kossina atribuiu à civilização proto-histórica
do norte da Europa um papel dominador e
privilegiado, inventando os indo-germanicos.

Causas da expansão: pressões


demográficas, desequilíbrio ecológico,
imperalismo militar, contatos comerciais,
etc.
- Contraste entre a pureza dos traços culturais de
origem e o caráter mais grosseiro e rudimentar
dos empréstimos observados na periferia.

A civilização se degrada quando se espalha.


- As reconstituições repousam sobre uma
concepção monolítica das culturas pré-
históricas, que identificamos como os povos
e as etnias da história.

Um conjunto de traços culturais constituem


uma cultura arqueológica.
Esta cultura corresponde a um povo.
Quando está associado a restos ósseos
humanos, temos a raça.
Uma civilização particular deve possuir uma
língua que lhe é própria
As idéias de Ratzel (difusionista)
influenciaram Boas, que as introduziu na
América do Norte, se opondo ao
evolucionismo cultural e afirmando que
cada cultura era uma identidade única e
que tinham que ser entendidas em seus
próprios termos.

Isso implicava em aceitar duas idéias:


o relativismo cultural, que negava a
existência de qualquer modelo universal
que pudesse ser usado para comparar o
grau de desenvolvimento das diversas
culturas;

o particularismo histórico, que considerava


cada cultura como o produto de uma
seqüência única de desenvolvimento na
qual a intervenção, em grande parte
casual, da difusão desempenhava um
papel principal no desencadeamento das
mudanças.
A crescente ênfase colocada na
distribuição geográfica, assim como na
cronologia dos achados arqueológicos,
conduziu a um trabalho criativo
importante, que foi realizado por
arqueólogos que estavam especialmente
interessados na Idade do Bronze e do
Ferro europeu.
Sua tarefa era substituir a preocupação
evolucionista da arqueologia pré-
histórica por uma orientação histórica,
ainda que essa mudança se desse
lentamente. A primeira figura que
marcou essa transição foi o arqueólogo
sueco O. Montelius (1843-1921).
O método tipológico desenvolvido por ele
era um refinamento do enfoque serial
desenvolvido por Thomsen.

Observou variações ao largo de toda a


Europa na forma e na decoração de
vários tipos de artefatos e, a partir dessa
base, tentou averiguar e correlacionar
uma série de cronologias regionais.
Os agrupamentos resultantes estariam
representando não nas grandes unidades
de tempo, como a Idade do Bronze, mas
subdivisões das idades que ele acreditava
que poderiam ter durado , cada uma
delas, apenas algumas centenas de anos.
Em 1880 Montelius dividiu a Idade do
Bronze européia em 6 períodos.

Apesar de considerar que esses períodos


poderiam ser aplicados em toda Europa,
observou uma grande variação regional
dentro de cada um, e não aceitou a idéia de
que em todos os lugares da Europa se
tivesse alcançado o mesmo estado de
desenvolvimento ao mesmo tempo.
Acreditava-se que a continuidade cultural
indicava continuidade étnica.

A partir daí afirmou-se que, se se colocasse


no mapa a distribuição dos tipos de
artefatos característicos de grupos
específicos, era possível afirmar onde
haviam vivido esses grupos em diferentes
períodos (arqueologia dos assentamentos).
Como as culturas que avançavam eram
consideradas a expressão de uma
superioridade biológica (Kossina), só
podiam se estender de uma região a outra
mediante uma difusão que contemplasse
migrações de pessoas.

Cada uma dessas ondas migratórias se


entrecuzaria com os povos locais, fato que
rebaixaria sua habilidades criativas.
Childe começa a aplicar de maneira
sistemática o conceito de cultura em
arqueologia.

Cada cultura teria que ser delineada


individualmente segundo seus artefatos
constituintes, e as culturas não poderiam
ser definidas simplesmente subdividindo as
épocas ou períodos dos arqueólogos
evolucionistas.
A duração e os limites geográficos de cada
cultura teriam que ser estabelecidas
empiricamente e cada uma dessas culturas
teria que ser situada cronologicamente
mediante a estratigrafia, a seriação e o
sincronismo.
Desta maneira,
Childe interpretou a
préhistória de toda a
Europa como se se
tratasse de um
complexo mosaico
de culturas..
O primeiro objetivo dos arqueólogos que
adotam este enfoque já não era
interpretar o registro arqueológico com a
evidência de uma série de estágios de
desenvolvimento cultural, mas buscavam
identificar povos pré-históricos sem nome
por meio das culturas arqueológicas e
traçar sua origem, movimentos e
interação.
CIVILIZAÇÃO:
Escrita, vida urbana,
florescimento das artes,
arquitetura
Sequência
universal de BARBARIE:
estágios através agricultura,
dos quais as sedentarismo,
sociedades mercados, chefes e reis
passariam, cedo desenvolvimento das
ou tarde, no seu artes
caminho de SELVAGERIA: caça e
desenvolvimento coleta, sem excedentes de
produção, pedra lascada,
bando como unidade social
O neolítico
deixou de ser
visto como um
estágio de
desenvolvimento
NEOLÍTICO cultural para ser
um mosaico de
grupos culturais
delineados de
maneira precisa.
OS LIMITES DA ARQUEOLOGIA DOS
EVENTOS

Postula que é possível identificar uma certa


ordem. As aproximações proposta
apresentam, no entanto, certos limites
A primeira etapa desse tipo de construção
consiste em escolher um número limitado
de variáveis culturais e isolá-las de seu
contexto .

O agrupamento dessas variáveis permite


reconstituir uma ordem. A classificação
lógica estabelecida sobre as variáveis é
interpretada em termos de tempo e\ou
espaço.
A classificação e a redução que ela
implica torna-se processo histórico.

A etnia indo-européia, abstração


reconstituída por seleção e
reagrupamento de certos traços culturais,
deu nascimento às diversas culturas
observadas no fim do neolítico.
A seleção dos traços culturais considerados
como pertinentes permite identificar culturas.

Uma ilusão consiste em acreditar que esses


traços estão sempre ligados uns aos outros
em um conjunto homogêneo nitidamente
distinto de outros conjuntos – fala-se então
de um conjunto nomotético – e que este
conjunto representa um povo, uma língua e
uma etnia bem definida.

"ciências nomotéticas“ são aquelas que tem por objeto as leis


lógicas; que buscam estudar processos causais e invariáveis.
Os métodos adotados pelos arqueólogos
para a investigação científica dependem em
grande parte da sua definição de cultura e
do marco conceitual em que inserem seus
dados.

A definição de cultura que foi empregada


correntemente pelos etnógrafos, e que
utilizam, implícita ou explicitamente, os
arqueólogos, é denominada (pelos seus
críticos) de “aspectos normativos da
cultura”.
Flannery afirma que os especialistas
que participam do ponto de vista
normativo tratam a cultura como um
corpo de idéias, valores e crenças
compartilhados: “as normas de um
grupo humano”.
Binford considera que um teórico
normativista contempla como seu campo
de estudo a base ideacional para as
diversas formas da vida humana.

A tarefa do arqueólogo seria, por


conseguinte, abstrair dos produtos culturais
os conceitos normativos existentes nas
mentes dos homens pré-históricos.
Estes conceitos normativos, ou ‘mapas
mentais’, serviram de modelos ao homem
pré-histórico que produziram o artefato.

Se supõe que o trabalho do arqueólogo se


centra em descobrir indutivamente as
idéias que governaram a produção dos
artefatos e, por este caminho, alcançar a
essência da cultura.
Posto que os artefatos e outros vestígios
arqueológicos são vistos como
representativos das idéias de seus
fabricantes, refletem também as idéias
compartilhadas que abarcam a cultura
extinta.
Quando o arqueólogo normativista
consegue abstrair as idéias, ou padrões,
que estão ocultas atrás dos artefatos,
considera que determinou um aspecto,ou
bloco, conceitual estruturado da cultura em
questão.

Uma série de padrões, ou tipo de artefatos,


se tem por agregado da totalidade da
cultura, ou ao menos por um reflexo dela.
Esse bloco estruturado é muito
conveniente para os arqueólogos que
tentam medir a ‘semelhança’ entre culturas,
porque tabulando o total de tipos de
artefatos compartilhado por dois sítios é
possível determinar, em princípio, quantas
idéias ou normas têm as duas culturas em
comum.
A ênfase nos artefatos como reflexo de
idéias compartilhadas, e como a essência
da cultura, levou à incorporação do
conceito de sítio tipo, com agrupamentos e
traços característicos.

Em conseqüência, quando um arqueólogo


normativista escava um sítio, pode
considerá-lo como tipificador de todos os
outros sítios desse período e dessa região.
O interesse pelas coleções tipo e pelos
sítios tipos levou à ignorância de uma
grande parte da variação inerente, na
realidade, ao material arqueológico.

A definição normativa da cultura levou a


uma crise da interpretação arqueológica.

O recurso final na hora de formular as


explicações são os acidentes históricos,
tais como a migração ou a difusão.
Isso se deve ao fato de os normativistas
não se ocuparem das relações entre as
normas, mas de tentarem explicar as
normas por elas mesmas.

Uma vez que essas normas são


consideradas como formas independentes
e não como aspectos funcionais da cultura,
tem que limitar-se a descrevê-las, assim
como as suas viagens ou distribuições.
Tais descrições não proporcionam
informações suficientes sobre os
restos arqueológicos para poder
contrastar hipóteses processuais
relativas à cultura extinta.
Cerâmica Valdívia

3.500 - 1.800 aC
Cerâmica antiga Jomon

Simples, formas utilitárias com decoração de impressão


de marcas de corda, principalmente em volta do lábio e
do pescoço
Jomon recente

Alguns vasos apresentam formas esculpidas elaboradas,


saindo da borda do vaso, muitos não utilitários
Vasos Tapajônicos

14 x 21 cm
PRÉ-HISTÓRIA AMAZÔNICA

 4 tradições cerâmicas:
 1) Hachurado-zonado ;
2) Borda-incisa;
3) Policromica (Marajó)
e 4) Inciso-ponteado
(Santarém)

 todas vindas de fora


Em cerca de 400 AD aparecem esses
grupos construtores de aterros
artificiais para habitação, cemitério e
cerimoniais, que atingiam, por vezes,
mais de 6 m de altura

Você também pode gostar