O documento discute os fundamentos constitucionais e conceito de ação penal no direito brasileiro. Apresenta as espécies de ação penal (pública e privada), suas classificações e características. Explana sobre os prazos para propositura da denúncia e queixa-crime e as condições gerais e especiais para o exercício da ação penal.
O documento discute os fundamentos constitucionais e conceito de ação penal no direito brasileiro. Apresenta as espécies de ação penal (pública e privada), suas classificações e características. Explana sobre os prazos para propositura da denúncia e queixa-crime e as condições gerais e especiais para o exercício da ação penal.
O documento discute os fundamentos constitucionais e conceito de ação penal no direito brasileiro. Apresenta as espécies de ação penal (pública e privada), suas classificações e características. Explana sobre os prazos para propositura da denúncia e queixa-crime e as condições gerais e especiais para o exercício da ação penal.
O acesso ao Poder Judiciário é direito humano fundamental, dispondo o art. 5.º, XXXV, da Constituição Federal, que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, assegurando-se a todo indivíduo a possibilidade de reclamar do juiz a prestação jurisdicional toda vez que se sentir ofendido ou ameaçado. Por outro lado, o inciso LIX, do mesmo artigo constitucional, preceitua que “será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal”, demonstrando que, a despeito de a ação penal, na esfera criminal, ser da titularidade de um órgão estatal (Ministério Público), é natural que, não agindo o Estado, quando lhe competir fazê-lo, resta ao particular-ofendido (ou seus sucessores, conforme prevê o art. 31, CPP) ingressar em juízo, pois nenhuma lesão será excluída da apreciação do magistrado. 7.2 - CONCEITO DE AÇÃO PENAL
É o direito do Estado-acusação ou do ofendido de ingressar em
juízo, solicitando a prestação jurisdicional, representada pela aplicação das normas de direito penal ao caso concreto. Por meio da ação, tendo em vista a existência de uma infração penal precedente, o Estado consegue realizar a sua pretensão de punir o infrator. Trata-se do “poder jurídico de promover a atuação jurisdicional a fim de que o julgador se pronuncie acerca da punibilidade de fatos que o titular da demanda reputa constitutivos do delito”. Segundo Fernando Capez a Ação Penal é o direito de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo a um caso concreto. É também o direito público subjetivo do Estado-Administração, único titular do poder-dever de punir, de pleitear ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo, com a consequente satisfação da pretensão punitiva. 7.3 - ESPÉCIES DE AÇÃO PENAL
A classificação mais comum das ações penais se faz com
base na titularidade do seu exercício, pois é dessa forma que o Código Penal cuida do assunto. No art. 100, estabelece a regra (a ação penal é pública), bem como a exceção (a ação penal é privativa do ofendido quando a lei expressamente indicar). Em suma, pode-se dizer que as ações são:
I) Pública, quando promovidas pelo Ministério Público.
II) Privada, quando promovida pelo ofendido.
A petição inicial da ação penal, quando proposta pelo Ministério Público, chama-se denúncia;
No caso de se tratar de ação penal privada,
proposta pelo ofendido, denomina-se queixa (art. 100, § 2.º, CP). 7.4- CLASSIFICAÇÃO DA AÇÃO PENAL
A Ação Penal pode ser classificada como:
I) Ação Penal Pública:
a) Incondicionada – de exclusividade do MP (independe de
manifestação de outrem). b) Condicionada – de iniciativa do Ministério Público, mas depende de representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça. 7.4- CLASSIFICAÇÃO DA AÇÃO PENAL
II) Ação Penal Privada:
a) Principal – A iniciativa para promover a Ação Penal
pertence, ao ofendido ou a seu representante legal.
No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por
decisão judicial, o direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. b) Personalíssima – ocorre quando somente a vítima, e mais ninguém, pode propor a ação penal (art. 236, CP – ocultação de impedimento para contrair casamento). c) Subsidiária da Pública – a legitimidade surge para o ofendido em razão de inércia do MP em promover a ação penal no prazo legal (art. 5º, LIX, CF e art. 29 CPP). PRAZO PARA A DENÚNCIA:
Prazos comuns (art. 46 CPP)
réu solto 15 dias.
réu preso 05 dias
Prazos Especiais
Crimes de Drogas (Lei 11.343/06), eleitoral (art. 357
Código Eleitoral): 10 dias, réu preso ou solto; Crimes contra a Economia Popular: (art. 10, § 2º, Lei nº 5.521/51) 2 dias, réu preso ou solto; Crime de Abuso de Autoridade (art. 13, Lei 4.898/65) 48 horas. Prazo para Queixa-crime, representação e Ação Penal Privada Subsidiária da Pública.
Conforme o CPP:
Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal,
decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.
Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta
não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.
Queixa e Representação: prazo de seis meses, contado do dia em que vier a
saber quem é o autor do crime.
Ação Penal Privada Subsidiária da Pública: prazo de seis meses, do dia
em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia pelo MP. Na sistemática brasileira, para saber de quem será a legitimidade ativa para propor a ação penal, deve-se analisar qual é o delito praticado, verificando no Código Penal a disciplina definida para a ação processual penal. Esse critério concentra-se no seguinte: deve-se analisar o tipo penal incriminador existente na Parte Especial do Código Penal (ou em legislação especial); caso não se encontre nenhuma referência à necessidade de representação ou requisição, bem como à possibilidade de oferecimento de queixa, trata-se de ação penal pública incondicionada. Por outro lado, deparando-se com os destaques “somente se procede mediante representação” (ex.: art. 153, § 1.º, CP) ou “procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça” (ex.: art. 145, parágrafo único, CP), está-se diante de ação penal pública condicionada. E caso se encontre a especial referência “somente se procede mediante queixa” (ex.: art. 145, caput, CP), evidencia-se a ação penal privada. 7.5 - CARACTERÍSTICAS DO DIREITO DE AÇÃO PENAL Considerada a ação penal um direito, suas principais características são: a) direito público: a atividade jurisdicional que se pretende provocar é de natureza pública. Daí se dizer que a ação penal é um direito público. b) direito subjetivo: o titular do direito de ação penal pode exigir do Estado-Juiz a prestação jurisdicional, relacionada a um caso concreto; c) direito autônomo: o direito de ação penal não se confunde com o direito material que se pretende tutelar; d) direito abstrato: o direito de ação existe e será exercido mesmo nas hipóteses em que o juiz julgar improcedente o pedido de condenação do acusado. e) direito determinado: o direito de ação é instrumentalmente conexo a um fato concreto, já que pretende solucionar uma pretensão de direito material; f) direito específico: o direito de ação penal apresenta um conteúdo, que é o objeto da imputação, ou seja, é o fato delituoso cuja prática é atribuída ao acusado. 7.6 - CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL
A ação penal está subordinada ao preenchimento de
determinadas condições, são as chamadas condições da ação. Sem elas a inicial acusatória não poderá conduzir à instauração da relação processual-penal, devendo ser rejeitada de plano pelo judiciário. Neste sentido, dispõe o art. 395, II, do CPP que a denúncia ou queixa será rejeitada quando faltar condição para o exercício da ação penal. As condições da ação classificam-se em duas ordens:
a) Condições gerais ou genéricas;
b) Condições especiais ou específicas.
Condições gerais da ação: São aquelas que devem estar presentes em qualquer ação penal, independente da natureza ou tipo legal infringido. Consistem em: a) Possibilidade jurídica do pedido: A possibilidade jurídica do pedido corresponde à viabilidade de procedência da ação penal. Para tanto, é necessário que a conduta imputada na inicial acusatória seja descrita em lei como crime ou contravenção penal. Logo, esta primeira condição da ação penal exterioriza-se por meio da imputação de um fato típico. b) Interesse de agir: O interesse de agir concerne à presença dos elementos mínimos que permitam ao juiz, ao refletir sobre o recebimento da denúncia ou queixa, concluir no sentido de que se trata de acusação factível. Tais elementos consistem nos indícios de autoria de que o imputado realmente é autor ou partícipe do fato descrito, bem como na prova da existência do crime imputado. c) Legitimidade ativa e passiva: É necessário que a propositura da inicial acusatória (denúncia ou queixa) seja patrocinada pelos respectivos legitimados ativos – Ministério Público, ofendido ou pessoas do art. 31 do Código de Processo Penal 1 , conforme o caso. Por outro lado, será imprescindível, também, a existência de legitimação passiva, condição esta que se refere, substancialmente, ao requisito da imputabilidade penal no enfoque etário (idade). Destarte, apenas os maiores de 18 anos à época da infração penal poderão ser sujeitos passivos de um processo criminal. Condições especiais da ação ou condições de procedibilidade. São aquelas que devem estar presentes em determinadas ações penais, não possuindo, portanto, caráter geral. Trata-se de condições específicas, de natureza eminentemente processual, que vinculam o próprio exercício da ação penal e que são exigidas em determinados casos a partir de previsão legal expressa. Exemplos: Condicionamento da ação penal à prévia representação da vítima no crime de ameaça (art. 147, parágrafo único, do CP); Exigência de requisição do Ministro da Justiça para o ingresso de ação penal por crimes contra a honra do Presidente da República (art. 145, parágrafo único, do CP); Ingresso no território nacional do indivíduo que praticou crime no exterior (art. 7.º, § 2.º, “a”, do CP). 7.7 - DENÚNCIA
A denúncia é a peça acusatória inicial da ação penal pública,
incondicionada ou condicionada. Consiste em uma exposição escrita do fato caracterizado como infração penal. Dirigida à autoridade judiciária competente, deve ser confeccionada de forma objetiva, nela consignando-se a imputação de um fato típico àquele que, presumidamente, seja o responsável pela sua prática. De acordo com o art. 395, I, do CPP, a denúncia será rejeitada quando for inepta. Segundo entendimento consolidado na doutrina e na jurisprudência pátria, inepta é a inicial que não contém os elementos que demonstrem a sua regularidade formal. Dessa forma, seu oferecimento pressupõe a observância das condições previstas no precitado art. 41 do Estatuto Processual, as quais consistem em: Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.
Descrição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias:
Como circunstâncias obrigatórias, reputam-se as seguintes: quando o fato foi praticado, onde ocorreu, quem o praticou, o motivo que o ensejou (se conhecido), os meios utilizados, o modo como foi cometido o delito, o malefício causado e, por fim, a explicação quanto ao contexto no qual perpetrado.
Qualificação do acusado ou elementos pelos quais se possa
identificá-lo: Uma qualificação completa deve incorporar o prenome e o nome do acusado, sua alcunha, data de nascimento, nacionalidade, naturalidade, estado civil, profissão, filiação, lugar de sua residência e local de trabalho. Classificação do crime (tipo penal infringido): A classificação do delito (ou capitulação, definição jurídica, artigo) deverá estar presente na denúncia, não apenas porque o art. 41 do CPP assim estabelece, mas também para demonstrar o enquadramento da conduta narrada a uma norma penal incriminadora, atendendo-se ao princípio da reserva legal (art. 1.º do CP e art. 5.º, XXXIX, da CF).
Rol de testemunhas: O rol de testemunhas, assim como a
classificação do crime, é elemento acidental, cuja ausência não importa qualquer vício, até porque há delitos cuja prova é eminentemente documental.
Outros requisitos da denúncia: Consistem nas seguintes
formalidades: A indicação do juiz ou Tribunal a que está sendo endereçada; O requerimento de citação do acusado para ver-se processar; O pedido de condenação ou de pronúncia, conforme se trate de crime de competência do juiz singular ou do tribunal do júri, respectivamente; O local e a data em que a denúncia está sendo ofertada; e A assinatura do órgão do Ministério Público que a está deduzindo. 7.8 - QUEIXA-CRIME
A queixa-crime é a inicial da ação penal privada, seja ela exclusiva,
personalíssima ou subsidiária da pública. Em geral, segue os mesmos requisitos atinentes à denúncia oferecida pelo Ministério Público na ação penal pública, os quais foram examinados no tópico anterior. Tanto que o art. 41 do CPP, ao referir-se aos requisitos formais da inicial do processo criminal, diz “a denúncia ou queixa”. Na mesma linha é o disposto no art. 395 do CPP quando relaciona as hipóteses de rejeição da inicial acusatória, citando tanto a denúncia como a queixa. Não obstante essa semelhança formal, existem algumas características que peculiarizam a queixa-crime e que deverão ser observadas pelo querelante por ocasião do ajuizamento. Consistem em: a) Subscrição pelo próprio ofendido: possuindo capacidade postulatória (advogado regularmente inscrito na OAB), o ofendido pode exercer o direito de queixa pessoalmente. b) Procuração com poderes especiais: fazendo-se representar por advogado, deverá o ofendido outorgar-lhe procuração com poderes especiais. c) Necessidade de referência a eventuais circunstâncias agravantes: Considerando que o precitado dispositivo do Código de Processo Penal (art. 385, CPP) é limitativo aos delitos de ação penal pública, deduz-se, a contrario sensu, que, no caso de crime de ação penal privada, o reconhecimento de agravantes exige referência na queixa-crime, sob pena de não poder o juiz considerá-las por ocasião da fixação da pena. d) Valor da causa: ao contrário do que ocorre na denúncia oferecida pelo Ministério Público em relação aos crimes de ação penal pública, quando se trata de queixa-crime (salvo a subsidiária, pois, neste caso, está o particular atuando no lugar do Ministério Público, que não ofereceu denúncia no prazo legal), deve o querelante consignar o valor da causa, o que releva para fins de cálculo das custas. Cabe lembrar que o art. 806 do CPP, ao tratar da ação penal privada, estabelece que, salvo no caso de pobreza do querelante, “nenhum ato ou diligência se realizará sem que seja depositada em cartório a importância das custas”. 7.8 - QUEIXA-CRIME
A queixa-crime é a inicial da ação penal privada, seja ela exclusiva,
personalíssima ou subsidiária da pública. Em geral, segue os mesmos requisitos atinentes à denúncia oferecida pelo Ministério Público na ação penal pública, os quais foram examinados no tópico anterior. Tanto que o art. 41 do CPP, ao referir-se aos requisitos formais da inicial do processo criminal, diz “a denúncia ou queixa”. Na mesma linha é o disposto no art. 395 do CPP quando relaciona as hipóteses de rejeição da inicial acusatória, citando tanto a denúncia como a queixa. Não obstante essa semelhança formal, existem algumas características que peculiarizam a queixa-crime e que deverão ser observadas pelo querelante por ocasião do ajuizamento. 7.10 - PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL: Rege-se a ação penal pública pelos seguintes princípios: Princípio da obrigatoriedade: havendo indícios de autoria e prova da materialidade quanto à prática de um fato típico e não se fazendo presentes causas extintivas da punibilidade (v.g., morte do agente, prescrição etc.), não pode o Ministério Público, em tese, deixar de ajuizar a ação penal. Princípio da indisponibilidade: uma vez ajuizada a ação penal pública, dela não pode o Ministério Público desistir, consoante previsão expressa do art. 42 do CPP. Como regra, também não pode o promotor transigir quanto ao seu objeto. Diz- se “como regra” porque, assim como ocorre no tocante ao princípio da obrigatoriedade da ação penal pública, também o princípio da indisponibilidade, excepcionalmente, pode ser flexibilizado. Como exemplo, a proposta de suspensão condicional do processo, viabilizada ao Ministério Público por ocasião do oferecimento da denúncia, quando presentes as condições do art. 89 da L. 9.099/1995. Princípio da oficialidade: a ação penal pública incondicionada será deflagrada por iniciativa de órgão oficial, o Ministério Público, independentemente da manifestação de vontade expressa ou tácita de qualquer pessoa. Excetua-se este princípio na faculdade conferida ao ofendido pelo art. 29 do CPP e pelo art. 5.º, LIX, da CF no sentido de ajuizar a ação penal privada subsidiária da pública, quando inerte o Ministério Público em oferecer denúncia no prazo legal. Princípio da divisibilidade: havendo mais de um suposto autor do crime, nada impede que venha o Ministério Público a ajuizar a ação penal apenas em relação a um ou alguns deles, relegando a propositura quanto aos demais para momento posterior. Esse procedimento pode justificar-se tanto na necessidade de serem buscados maiores elementos para amparar o processo penal em relação aos investigados que não constaram no polo passivo da inicial, como em questão de estratégia processual. . De qualquer modo, havendo vários indiciados no inquérito e nem todos sendo denunciados, esse procedimento deve ser justificado pelo promotor no momento do oferecimento da denúncia. Princípio da intranscendência: a ação penal será ajuizada, unicamente, contra o responsável pela autoria ou participação no fato típico, não havendo de incluir, obviamente, corresponsáveis civis, cuja ação do ponto de vista penal foi irrelevante. Decorre da garantia constitucional estatuída no art. 5.º, XLV, da CF, no sentido de que nenhuma pena passará da pessoa do condenado. 7.11 - AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA Na ação penal pública incondicionada, o Ministério Público é o dominus litis, podendo instaurar o processo criminal independente da manifestação de vontade de qualquer pessoa e até mesmo contra a vontade expressa ou tácita da vítima ou de seu representante legal. O exercício da ação penal pública, em regra, manifesta-se a partir dos elementos reunidos ao inquérito policial. Não obstante, o inquérito não é indispensável à formação do convencimento do parquet, podendo este oferecer denúncia a partir de provas que tenham sido trazidas ao seu conhecimento, de relatórios de comissões parlamentares de inquérito, de investigações realizadas no âmbito da promotoria de justiça, de dados carreados a autos de processo criminal que apura crime diverso etc. Essa liberdade que assiste ao Ministério Público vem expressa em vários dispositivos dentro do Código de Processo Penal como, por exemplo, o art. 27, dispondo que “qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, nos casos em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção”, e o art. 46, § 1.º, este último estabelecendo a regra da contagem dos prazos para o oferecimento da denúncia “quando o Ministério Público dispensar o inquérito policial”. Quanto ao prazo para o oferecimento da denúncia, estabelece o art. 46 do CPP que é de cinco dias, quando se tratar de indiciado preso, e de quinze dias, quando estiver em liberdade, contados, em qualquer caso, da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial ou das peças de informação. Ressalvam-se determinadas exceções previstas em leis ou procedimentos especiais contemplando prazos diferenciados. O prazo para oferecimento da denúncia é impróprio, o que significa que seu escoamento não acarreta preclusão. Logo, ainda que esgotado o prazo legal do Ministério Público, se a vítima ou quem tenha qualidade para representá-la não ajuizar a ação penal privada subsidiária da pública nos termos do art. 29 do CPP, poderá a denúncia ser apresentada pelo Promotor em qualquer tempo, desde que antes da extinção da punibilidade pela prescrição ou outra causa. 7.12 - AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA À REPRESENTAÇÃO Assim como ocorre na ação penal pública incondicionada, também na condicionada a titularidade é exclusiva do Ministério Público. Logo, estas duas modalidades distinguem-se apenas pela circunstância de que, na ação penal pública condicionada, o oferecimento da denúncia vincula-se à preexistência de manifestação de vontade (representação) da vítima ou de quem tenha qualidade para representá-la, ou, se for o caso, de requisição do Ministro da Justiça. Como já dissemos, será condicionada a ação penal somente quando a lei penal expressamente assim dispor, importando o silêncio do legislador em considerar-se a ação penal como pública incondicionada (art. 100, caput e § 1.º, do CP). Nos crimes cuja ação penal estiver condicionada à manifestação de vontade da vítima ou de seu representante legal, a prévia representação é condição de procedibilidade da ação penal. Eventual ausência dessa formalidade deverá acarretar a rejeição da denúncia pelo juiz (art. 395, II, do CPP). Tem-se entendido que a representação, confeccionada sob a forma de petição escrita ou feita oralmente, com redução a termo perante a autoridade policial, não exige forma específica, bastando que contenha a narrativa, ainda que sucinta, do fato a ser apurado e que traduza a inequívoca vontade da vítima ou de seu representante em ver responsabilizado criminalmente o autor do fato. A representação não se dá em relação a este ou àquele autor do delito, mas se refere ao fato praticado. Representando contra um dos autores, aos outros se estenderão seus efeitos. São titulares do direito de representação: Ofendido maior e capaz: tratando-se de ofendido maior de 18 anos e capaz mentalmente, somente ele poderá decidir pela conveniência de oferecer representação ou não. O direito de representação pode, também, ser exercido por procurador com poderes especiais (art. 39, caput, do CPP). Representante legal do ofendido menor ou incapaz: sendo o ofendido menor de 18 anos ou portador de deficiência mental, a representação, quando exigida, deverá ser oferecida pelo seu representante legal, independentemente da vontade da vítima. Pessoas jurídicas: Quem, por lei, estatuto ou contrato, incumba a respectiva administração da empresa. Silenciando os estatutos ou contrato social quanto a quem deva falar em juízo em nome da empresa, o direito de representação poderá ser exercido por qualquer diretor ou sócio-gerente com poderes de administração. Prazo da representação: O art. 38 do CPP estabelece o prazo para o oferecimento da representação, disciplinando que, salvo disposição em contrário, será de seis meses, contados do dia em que o ofendido vier a saber quem foi o autor do crime, sob pena de decadência. A contagem desse prazo inclui o dia do início. Assim, conhecido o autor do fato no dia 20 de abril, esgota-se o prazo em 19 de outubro do mesmo ano. Sua fluência acarreta a extinção da punibilidade (art. 107, IV, do CP). Destinatário da representação: Nos termos do art. 39 do CPP, a representação poderá ser dirigida ao juiz, ao Ministério Público e à autoridade policial, indistintamente. Se realizada por escrito, deverá estar com a firma reconhecida. Feita oralmente ou apresentada por escrito sem reconhecimento de firma, deverá ser reduzida a termo perante a autoridade a que destinada. Irretratabilidade depois de ajuizada ação penal: A representação será irretratável após o oferecimento da denúncia, nos termos do art. 25 do CPP. A contrario sensu, será retratável até este momento. A requisição do Ministro da Justiça: Crimes de ação penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça são aqueles nos quais o exercício da ação penal está relacionado à conveniência política em vê- los apurados ou não. São poucas as hipóteses de crimes que requerem esta providência, podendo citar, como exemplo, crimes contra a honra cometidos contra chefe de governo estrangeiro (art. 141, I, c/c o art. 145, parágrafo único, ambos do CP) e crimes contra a honra cometidos contra o Presidente da República (art. 141, I, c/c o art. 145, parágrafo único, ambos do CP). Ao contrário do que ocorre com a representação, inexiste fixação de prazo decadencial para o exercício da requisição pelo Ministro da Justiça, entendendo-se, pois, que isto pode ocorrer até a prescrição do crime praticado. O Ministério Público é o destinatário da requisição do Ministro da Justiça, o qual, porém, não fica atrelado aos seus termos, podendo divergir não apenas no sentido da definição jurídica do delito, como também postular o arquivamento das peças de informação, caso se convença da inexistência de elementos que conduzam à dedução da ação penal.