Você está na página 1de 19

Direito Civil - Família

Campus Nova América - Curso de Direito


Rio de Janeiro, 2021.2
Semana 04

1. Da invalidade do casamento:

O negócio jurídico é válido quando os seus elementos constitutivos estão em conformidade com a lei, que para tanto
requer agente capaz, objeto lícito, determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei (CC, art. 104):

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:


I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.

A invalidade do negócio jurídico é gênero e compreende a nulidade e a anulabilidade, que são espécies da invalidade. As
causas de nulidade ou de anulação do negócio jurídico surgem no próprio processo de sua formação e são invalidados por
defeito genético, de nascimento.

1.1. Casamento inexistente:

Ao casamento inexistente faltam um ou mais elementos essenciais e indispensáveis para a sua formação. A incompetência
da autoridade celebrante pode sim levar à inexistência do casamento, a qual deve estar legalmente investida dos
respectivos poderes. Também não há matrimônio quando ausente o consentimento dos nubentes na forma determinada
em lei, porquanto a declaração de vontade deve restar inequivocamente manifestada, tanto que verificada alguma dúvida
ou vacilo à pergunta formulada pela autoridade celebrante, este suspende imediatamente o ato (CC, art. 1.538), sequer
sendo permitida a retratação no mesmo dia do nubente que motivou a suspensão da cerimônia nupcial.
Semana 04

Art. 1.538. A celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum dos contraentes:
I - recusar a solene afirmação da sua vontade;
II - declarar que esta não é livre e espontânea;
III - manifestar-se arrependido.
Parágrafo único. O nubente que, por algum dos fatos mencionados neste artigo, der causa à suspensão do ato, não será admitido
a retratar-se no mesmo dia.

Casamentos inexistentes são aqueles que não foram celebrados de acordo com as prescrições legais e em vigor,
desvestidos das solenidades obrigatórias, ou que careçam de quaisquer de seus pressupostos de constituição.

É igualmente inexistente o matrimônio quando celebrado por procuração outorgada por instrumento particular, ou sem os
poderes especiais ou, se ultrapassados os noventa dias referidos no artigo 1.542, § 3°, CC:

Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se mediante procuração, por instrumento público, com poderes especiais.
§3º A eficácia do mandato não ultrapassará noventa dias.

Ausente algum dos elementos essenciais à formação do matrimônio, como o consentimento válido e a sua celebração por
autoridade competente, o casamento nunca existirá no mundo jurídico, e aquilo que nunca existiu não precisa ser
judicialmente declarado inexistente.
Semana 04

1.2. Casamento nulo:

A ocorrência da nulidade absoluta ou relativa provoca diferentes efeitos no vínculo conjugal. Os atos jurídicos nulos são
regulados pelos artigos 166 a 169 do Código Civil e sua incidência é de ordem pública, como norma de aplicação cogente
e imprescritível, podendo a causa impediente ser provada e provocada em juízo pelo Ministério Público, ou por qualquer
interessado (CC, art. 1.549).

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:


I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
IV - não revestir a forma prescrita em lei;
V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.
§1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§2º Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.

Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando
lhe couber intervir.
Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as
encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes.

Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo.
Semana 04

Art. 1.548. É nulo o casamento contraído:


I - (Revogado) ;
II - por infringência de impedimento.

Art. 1.549. A decretação de nulidade de casamento, pelos motivos previstos no artigo antecedente, pode ser promovida mediante
ação direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público.

Que impedimento é esse a que faz menção o art. 1.548, II, CC? Art. 1.521, CC:

Art. 1.521. Não podem casar:


I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte.

O interesse na proposição da ação de nulidade do casamento pode ser de ordem moral, por envolver os cônjuges,
ascendentes, descendentes, irmãos e cunhados; pode ser de ordem econômica, como no exemplo de filhos de leito
anterior, e de sua capacidade sucessória única e até em razão da sua concorrência com o cônjuge viúvo (CC, art. 1.489, inc.
II; art. 1.829, inc. I; e art. 1.845); dos colaterais sucessíveis; dos credores dos cônjuges e cessionários de seus bens; assim
como advir a legitimidade na defesa dos interesses sociais, cuja tarefa é atribuída ao Ministério Público.
Semana 04

Art. 1.489. A lei confere hipoteca:


II - aos filhos, sobre os imóveis do pai ou da mãe que passar a outras núpcias, antes de fazer o inventário do casal anterior;

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão
universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da
herança não houver deixado bens particulares;

Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.

Os efeitos da nulidade do casamento retroagem à data da celebração das núpcias judicialmente declaradas inválidas, sem
prejuízo da eventual aquisição de direitos, a título oneroso, por terceiros de boa-fé.

1.3. Casamento anulável:

Os casamentos anuláveis são apontados pelo artigo 1.550 do Código Civil, cujo rol substitui os impedimentos dirimentes
relativos da codificação civil revogada, sendo taxativa a sua enumeração, não permitindo outras hipóteses além daquelas
enumeradas.

Art. 1.489. A lei confere hipoteca:


II - aos filhos, sobre os imóveis do pai ou da mãe que passar a outras núpcias, antes de fazer o inventário do casal anterior;

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:


I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão
universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da
herança não houver deixado bens particulares;

Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.


Semana 04

A anulação do casamento foge da ordem pública da ação de nulidade e permite em certas situações a perfeita
convalidação do matrimônio, assim como reduz o espectro de pessoas legitimadas a promoverem a ação de anulação.

São causas de anulação do casamento:

a) A falta de idade mínima para casar:

De acordo com o artigo 1.517 do Código Civil é de 16 (dezesseis) anos a idade nupcial mínima para casamento, havendo a
necessidade de autorização de ambos os pais enquanto não atingida a maioridade civil dos 18 (dezoito) anos de idade.

b) Do menor em idade núbil, não autorizado pelo seu representante legal:

A capacidade relativa é adquirida aos 16 anos de idade, estando ainda sob a supervisão de seus pais ou dos seus legítimos
responsáveis, submetidos que ficam, portanto, ao poder familiar. Para casarem necessitam da autorização expressa de seus
pais, tutores ou curadores. Havendo divergência dos pais em consentirem com as núpcias, e sendo injusta a denegação,
deve ser pedida a autorização judicial do artigo 1.519 do Código Civil.

Art. 1.519. A denegação do consentimento, quando injusta, pode ser suprida pelo juiz.

Mas, se o casamento for realizado sem o consentimento dos pais, tutores ou curadores ou sem seu suprimento judicial, o
matrimônio só poderá ser anulado se a ação de anulação for proposta em 180 (cento e oitenta) dias, por iniciativa do
incapaz, ao deixar de sê-lo, de seus representantes legais ou de seus herdeiros necessários (CC, art. 1.555). Uma vez
anulado o casamento por ausência de idade núbil e do suprimento dos pais, ou do juiz, também anula a emancipação dos
menores consorciados (CC, art. 5º, parágrafo único, inciso II), porque a causa da emancipação foi o casamento, mas se este
foi anulado, não há como subsistir a emancipação legal.
Semana 04

Art. 1.555. O casamento do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal, só poderá ser anulado se
a ação for proposta em cento e oitenta dias, por iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo, de seus representantes legais ou de seus
herdeiros necessários.
§1º O prazo estabelecido neste artigo será contado do dia em que cessou a incapacidade, no primeiro caso; a partir do casamento,
no segundo; e, no terceiro, da morte do incapaz.
§2º Não se anulará o casamento quando à sua celebração houverem assistido os representantes legais do incapaz, ou tiverem, por
qualquer modo, manifestado sua aprovação.

Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
II - pelo casamento;

O prazo será contado para o incapaz do dia em que cessou a sua incapacidade, por haver atingido a maioridade civil aos
18 anos, ou se antes disto foi emancipado. A contagem do prazo para os seus representantes legais (pais, tutor ou
curador) proporem a ação de anulação do casamento conta a partir da celebração das núpcias. Por fim, sendo a ação
anulatória ofertada pelos herdeiros necessários do incapaz, o prazo será contado do óbito do menor.

c) Por vício da vontade, nos termos dos artigos 1.556 a 1.558:

São fundamentos da ação de anulação do casamento os vícios de vontade oriundos do erro essencial quanto à pessoa do
outro cônjuge (CC, arts. 1.556 e 1.557) e da coação (CC, art. 1.558):

Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vício da vontade, se houve por parte de um dos nubentes, ao consentir, erro
essencial quanto à pessoa do outro.

Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge:


I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne
insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;
II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal;
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize deficiência ou de moléstia grave e
transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência;
Semana 04

Art. 1.558. É anulável o casamento em virtude de coação, quando o consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido
captado mediante fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a saúde e a honra, sua ou de seus familiares.

O erro é uma falsa representação da realidade e faz com que uma pessoa acabe por manifestar uma vontade diferente
daquela a ser realmente externada se tivesse conhecimento exato da situação. O erro vicia a vontade que não se fez livre e
nem soberana, e, para determinar a anulação do casamento, o erro há de ser substancial, fundamental, determinante para
a manifestação e escusável, como ordena o artigo 139 do Código Civil.

Art. 139. O erro é substancial quando:


I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais;
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído
nesta de modo relevante;
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.

A simulação também torna possível anulação do casamento, quando em desarmonia entre a vontade formal do ato
matrimonial e a vontade subjacente, como sucedeu na Apelação Cível nº 70.026.541.664, da Sétima Câmara Cível do
TJ/RS, para anular casamento que só visava proporcionar pensão previdenciária de ancião de 91 anos de idade que casara
com mulher 43 anos mais jovem, morrendo pouco depois:

“Apelação cível. Família. Anulação de casamento. Matrimônio que se realizou com fins exclusivamente previdenciários. Simulação.
Desarmonia entre a vontade formal, que leva à realização do ato jurídico, e a vontade subjacente, visando apenas a proporcionar
pensão previdenciária para a esposa. Vício embutido na vontade dos contraentes, com simulação da vontade de constituição de
vida em comum, quando o casamento apenas serviu como meio de conferir à nubente a qualidade de dependente, com posterior
pensão previdenciária. Matéria de interesse público, não só por afetar a formação da família, mas por traduzir, por igual, burla ao
espírito do Código Civil e às normas previdenciárias, assim como ofensa à moral média, transacionando-se bem indisponível, como
se negócio fosse. Idade dos nubentes. Ancião, de 91 anos, que casa com mulher 43 anos mais jovem, morrendo, pouco depois, de
câncer. Ausência de demonstração de relacionamento afetivo entre estes. Companheiro da contraente que no dia das bodas
comparece, esperando-a do lado de fora. Desejo do de cujus em ser grato à empregada, de inúmeros anos, na relação laboral.
Precedentes jurisprudenciais. Apelo improvido” (TJ/RS. Sétima Câmara Cível. Apelação Cível n. 70.026.541.664. Relator: Des. Vasco
Della Giustina. Julgado em 03.12.2008).
Semana 04

A coação tem como linha de atuação o vício de consentimento, a ser formulado pelo homem e pela mulher no ato de
celebração das núpcias, por sua livre e espontânea vontade, não podendo a vontade ser alvo de nenhuma ameaça de
agressão ou ofensa à vida, à saúde e à honra do cônjuge coagido ou de seus familiares.

É a pressão física ou moral que atua como causa determinante do negócio jurídico (CC, art. 151), incutindo no cônjuge o
fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.

Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e
considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se
houve coação.

A coação pode ser física, chamada de vis absoluta, respeitando ao constrangimento físico que inibe por completo a
vontade da pessoa, como no clássico exemplo do coator que segura a mão do coagido para forçá-lo a assinar um
documento.

Por seu turno há a coação moral, denominada vis compulsiva, quando a pessoa é pressionada a exercer determinado ato,
sendo a sua vontade moldada pela coação moral externa, como, por exemplo, a sua recusa em anuir positivamente ao
matrimônio importar na revelação de um fato de pública e indesejada exposição da pessoa coagida.

Assim, qualquer manifestação que tenha importado no viciamento do consentimento conjugal de uma pessoa,
desfigurando o seu real querer, é suficiente para produzir o efeito da anulação.

O temor reverencial consistente do medo proveniente de uma posição de subordinação entre duas pessoas, como a do
filho em relação ao seu pai; ou da esposa em relação ao marido, não é causa suficiente para anular o ato conjugal.
Semana 04

Em relação ao art. 1.557, CC, é preciso que estejam presentes três indispensáveis pressupostos:

a) o defeito físico, mental ou de caráter, e assim também o crime praticado deve ser anterior ao casamento;
b) o cônjuge enganado não poderia ter conhecimento do defeito ou do crime antes do casamento;
c) e a vida em comum deve ser tornar insuportável com a descoberta do erro substancial.
Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge:
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne
insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;
II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal;
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize deficiência ou de moléstia grave e
transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; 

Inciso I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento
ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado:

Identidade física: A identidade física diz respeito à própria pessoa e implica a anulação do casamento quando, por
exemplo, acontece a substituição de uma pessoa por outra no ato da celebração do matrimônio, como na hipótese de
irmãos gêmeos que são substituídos. Não existem duas pessoas completamente iguais; por maior que seja a sua
semelhança física, sua personalidade e até mesmo a homonímia, nada os tornará uma única pessoa.

Identidade civil: O erro quanto à identidade civil já se apresenta mais plausível e corrente, porque não mais se trata de
um engano quanto à pessoa corpórea do cônjuge, mas à sua real identidade, ao seu estado civil, supondo ser solteiro,
quando era viúvo ou divorciado. Contudo, o defeito precisa ser de influência tal que torne insuportável a vida em comum,
parecendo, via de regra, muito difícil anular um casamento por erro quanto à identidade civil apenas porque o nubente
imaginava que seu cônjuge fosse solteiro, e desconhecesse que já fora casado ou que enviuvara, especialmente quando
deve ser considerado que para o senso médio das pessoas tais fatos já não têm mais nenhuma repercussão social, salvo se
o nubente dito enganado fosse de uma fervorosa convicção religiosa, capaz de tornar insuportável a união com uma
pessoa que já venceu o estado civil de solteiro em anterior experiência conjugal.
Semana 04

Também no tocante ao status do outro cônjuge, existem ressalvas quanto à possibilidade de anulação das núpcias, vez
que a mera condição social e econômica não poderia ser causa suficiente para justificar um erro substancial. Todavia, uma
vez apurado não passar o nubente de um estelionatário, um farsante que se apresentou como sendo outro indivíduo, de
vida econômica e financeira diferente, com vistas a ludibriar seu parceiro, ou que se fez passar por uma pessoa de distinta
estratificação social, cultural ou profissional e cuja farsa, se sabida, inviabilizaria o casamento, há, por evidente, erro quanto
à identidade civil do cônjuge.

Erro quanto à identidade psicológica da pessoa também ingressa no campo da anulação do casamento, como decidiu o
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul ao anular um casamento onde houve por parte do cônjuge mulher uma
permanente recusa ao relacionamento sexual após as núpcias, e durante prazo expressivo, tornando insuportável o
convívio conjugal. Aponta o voto do relator a existência de alguns precedentes jurisprudenciais negando a anulação do
casamento pela recusa ao débito conjugal, não sendo essa, contudo, uma inclinação pretoriana majoritária, porque de fato
configura a reiterada recusa ao relacionamento sexual uma violação dos deveres da vida em comum e do respeito e
consideração entre casados, podendo ser comparada à inaptidão para o coito. Conclui o voto, portanto, pela anulação das
núpcias, porque afeta a dignidade e a imagem do consorte, diante do erro sobre sua identidade psicofísica, cujo fato torna
insuportável a vida em comum.

“Casamento. Anulação. Recusa ao relacionamento sexual. Insuportabilidade da convivência conjugal. Erro essencial sobre a
identidade psicológica da (sic) consorte. Afronta aos princípios da dignidade da pessoa humana e da imagem. Violação dos
deveres de vida em comum, consideração e respeito mútuos. A recusa permanente ao relacionamento sexual, após as núpcias e
durante o prazo expressivo, revela desconhecimento sobre a identidade psicológica do outro cônjuge, tornando insuportável o
convívio conjugal. A reiteração da conduta, de forma imotivada, viola deveres de coabitação e consideração com o consorte,
afetando o princípio solar da dignidade da pessoa humana e de sua imagem. Apelação provida, por maioria, para decretar a
anulação do casamento” (TJ/RS. Sétima Câmara Cível. Apelação Cível n. 70.010.485.381. Relator: Des. José Carlos Teixeira Giorgis.
Julgado em 13.06.2005).
Semana 04

Nessa mesma linha de interpretação decidiu a Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, pela
anulação do casamento no qual o varão se recusou a manter relações sexuais com a esposa, passando um mês depois das
núpcias a dormir em outro quarto, para logo em seguida sair de casa e alardear que não se sentia atraído sexualmente
pela esposa, tornando-se uma pessoa agressiva, além de ter mantido outros relacionamentos. A não consumação do
casamento em vista de repulsa de um dos cônjuges em relação ao outro, caracteriza impotência para o ato sexual e
constitui erro essencial capaz de autorizar a anulação das núpcias.

“Apelação Cível. Família. Anulação de casamento. Recusa ao relacionamento sexual por parte do varão. Erro essencial
caracterizado. Precedentes. A recusa permanente do varão de manter relações sexuais com a (sic) cônjuge, justificando seu
comportamento na ausência de libido em relação a ela, configura erro essencial, possibilitando, desta forma, a anulação do
casamento. Apelação provida.” (TJ/RS. Sétima Câmara Cível. Apelação Cível n. 70.032.881.088. Relator: Dr. José Conrado de Souza
Júnior. Julgado em 13.01.2010).

Honra e boa fama: Honra é a dignidade da pessoa que vive honestamente, que zela pela lisura e transparência de seu
proceder moral. É o conjunto de atributos morais que torna a pessoa socialmente apreciada. Já a boa fama é a estima
social de que a pessoa goza.

No campo da honra e da boa fama, devem ser incluídas inúmeras situações de personalidades desviadas, corrompidas ou
anormais, e cita como exemplos os psicopatas, desequilibrados, viciados, meliantes, prostitutas, ladras e cafetinas, enfim,
toda aquela gama de pessoas que justamente não gozam de bom nome, conceito social, e do respeito tão caro e
importante ao cônjuge.

Segundo Rolf Madaleno:

“Também ingressam na seara da boa fama como causa de anulação do casamento o homossexualismo, a vida desregrada e até a
atribuição de paternidade ao noivo para motivar as núpcias em razão de falsa gravidez ou para depois ser descoberto que o pai
era outro e nada disto a mulher desconhecia, revelando apenas o seu mau caráter, antes encoberto, a incidir o marido em erro
substancial quanto à honra e à boa fama de sua esposa”.
Semana 04

Inciso II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal:

Diferentemente do Código Civil de 1916, cujo inciso II do artigo 219 exigia a ocorrência de crime inafiançável, praticado
antes do casamento e definitivamente julgado por sentença condenatória, o vigente inciso II do artigo 1.557 do Código
Civil de 2002, exige como pressuposto de anulação do casamento a existência de crime, também anterior ao casamento,
que não mais precisa ser inafiançável, mas, por cuja natureza, torne insuportável a vida em comum.

O atual codificador inovou ao deixar de medir a gravidade do crime para que o cônjuge passe, então, a decidir sobre sua
vida e o seu casamento, sendo dele a iniciativa de promover a ação de anulação de seu matrimônio, sempre que, no seu
sentir, o posterior conhecimento de crime praticado por seu parceiro conjugal, antes do casamento, por sua natureza e
pela sua revelação até então ignorada, tornou a sua vida conjugal insuportável, indiferente à extensão da apenação e da
sua repercussão social, pois o que importa é a repercussão causada ao cônjuge que desconhecia o fato, de tal sorte que se
ele soubesse não teria casado.

III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize deficiência ou de
moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de
sua descendência:

Eduardo de Oliveira Leite indica como defeitos físicos aptos a gerarem a anulação do casamento: o hermafroditismo, as
deformações genitais, a ausência vaginal congênita, o infantilismo, o vaginismo (ou atresia dos órgãos genitais), a
coitofobia, a impotência coeundi (a incapacidade para a prática sexual, tanto do homem, quanto da mulher), física,
psíquica ou mesmo relativa (quando ocorre apenas com relação ao outro cônjuge, e não com outras pessoas).

E, como moléstias graves e transmissíveis, aponta: a lepra, a sífilis, a AIDS, a blenorragia, a tuberculose e a hemofilia, dentre
outras.
Semana 04

Devem ser moléstias potencialmente propagáveis às pessoas em contato com o doente, especialmente o cônjuge que
mantém relação de intimidade e que assim fica perigosamente exposto ao contágio.

A impotência coeundi implica a impossibilidade de realizar o coito, seja de parte do homem que não pode penetrar a
mulher ou desta, que não pode ser penetrada. A impotência coeundi tem de existir no momento da celebração do
matrimônio, quer dizer, antecedente às núpcias e deve ser perpétua, sem possibilidade de correção pela medicina ou por
sua especialidade na área de psiquiatria.

Note-se, porém, que a lei não autoriza o decreto de anulação do casamento a impotência generandi, uma vez que poder
ou não ter filhos não está entre as funções essenciais do casamento, tanto que a lei oferta a adoção aos casais que não
podem ter prole. Pouco importa advenha a impotência generandi da esterilidade do homem ou da mulher, mormente em
tempos de surpreendentes avanços da medicina no campo da fecundação artificial.

O defeito físico irremediável precisa ser incorrigível, anterior ao casamento e desconhecido do outro cônjuge ao tempo
das núpcias.
Semana 04

Semana 04:

Questão objetiva 01: (MAGISTRATURA/DF - 2011) Referindo-se aos impedimentos para o matrimônio, considere as
proposições abaixo e assinale a incorreta:

(a) podem casar o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;

(b) não podem casar os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;

(c) podem casar o cônjuge sobrevivente com o que fora absolvido por crime de homicídio consumado contra o seu
consorte;

(d) não podem casar os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive.

Questão objetiva 02: (TJ/SP/Outorga de Delegações de Notas e de Registro/2009) São impedimentos para o matrimônio,
não podendo casar,

a) o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou
curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela e não estiverem saldadas as respectivas contas.

b) o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha
aos herdeiros.

c) os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil.

d) a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da
viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal.
Semana 04

Questão objetiva 03: (TJ/SP/Outorga de Delegações de Notas e de Registro/2009) São impedimentos para o matrimônio,
não podendo casar,

a) o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou
curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela e não estiverem saldadas as respectivas contas.

b) o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha
aos herdeiros.

c) os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil.

d) a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da
viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal.

Questão subjetiva: A celebração do casamento deve cumprir formalidades legalmente previstas que antecedem o ato
matrimonial.

Seguindo esta premissa, Solange e Lucas passaram por todo o processo de habilitação até a chegada do dia da
celebração do casamento.

No momento da celebração, quando perguntado pela autoridade celebrante se aquele ato estava ocorrendo por sua livre
e espontânea vontade e se ele assim desejava receber Solange por sua esposa, Lucas respondeu, em tom jocoso: É o
jeito!? e sorriu complementando: É brincadeira, pois desejo recebê-la por minha esposa.

Diante desta conduta de Lucas, que providência deverá adotar a autoridade celebrante?
Semana 04

Sugestão de gabarito:

Questão objetiva 01: Letra A

Art. 1.521. Não podem casar:


III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;

Questão objetiva 02: Letra C

Art. 1.521. Não podem casar:


I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;

Questão objetiva 03: Letra C

Art. 1.521. Não podem casar:


IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;

Questão Subjetiva:

A autoridade deverá suspender o ato, não podendo Lucas retratar-se no mesmo dia, por ter declarado, mesmo que
jocosamente, não ser de sua vontade participar daquele ato. Havendo vício de vontade, estará afetado o plano de
existência do casamento, portanto, este será considerado inexistente.

Art. 1.538. A celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum dos contraentes: (...)
II - declarar que esta não é livre e espontânea;
Parágrafo único. O nubente que, por algum dos fatos mencionados neste artigo, der causa à suspensão do ato, não será
admitido a retratar-se no mesmo dia.
19

Você também pode gostar