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Processamento de Materiais

Poliméricos I

“Conceitos Reológicos Aplicados no


Processamento de Termoplásticos”

Prof. Nilson Casimiro Pereira


• Introdução

“Reologia é a ciência que estuda a deformação e o fluxo da matéria.”

Ao se deformarem, os materiais podem se comportar como elásticos


(ideais ou não ideais), viscosos (ideais ou não ideais), viscoelásticos,
viscoinelásticos, como fluido de Bingham, etc.

Os polímeros se comportam, na sua maioria, como materiais viscoelásticos


(tanto no estado sólido como no líquido) e, ainda dentro desse tipo de
comportamento, podem ser classificados como fluidos pseudoplásticos.
• Toda matéria flui sob influência de uma força ou de uma tensão, que é a
energia externa aplicada sobre essa matéria;

• No caso de polímeros, estes também dependem da estrutura molecular e da


temperatura. Em condições usuais de processamento, onde o polímero se
encontra fundido ou mole, o tempo de relaxação é da ordem de 10 -2 a 10
segundos;

• A água tem um tempo de relaxação muito pequeno, 10-12 segundos;

• Existem três tipos de deformação: cisalhamento simples (deformação por


mudança de forma sem alterar o volume), compressão ou dilatação (tensão
normal aplicada, ocorrendo variação de volume e não da forma) e a
combinação das anteriores.
• Em fluidos , como os polímeros fundidos, ocorre deformação cisalhante
quando estes escoam em canais de matrizes, moldes e roscas;
• Também acontece fluxo elongacional, provocado por tensões normais,
quando o polímero fundido escoa em canais convergentes e divergentes, ou
quando a massa polimérica é estirada, como, por exemplo, em sopro de uma
garrafa, sopro de filme tubular ou filme planar orientado.

Viscoelasticidade dos polímeros


É um comportamento ou resposta à deformação, onde, ao mesmo tempo,
observa-se comportamento viscoso ( o corpo deforma e não recupera nada da
deformação depois de retirada a tensão de deformação) e comportamento
elástico (ocorre total recuperação da deformação depois de retirada a tensão).
• Questionamento: Será que três resinas distintas com mesmo
índice de fluidez (IF) e mesmo peso molecular médio (M w)
podem ter aplicações distintas?

Distribuição de massa molar versus fluxo em processo

Afeta o escoamento nas


diversas etapas do processo
(cisalhamento, estiramento,
relaxação, etc)
• Efeitos Viscoelásticos

Efeitos Weisenberg e efeito Sifão:


• Alguns conceitos

1. Tempo de residência (tR)


Em processamento de polímeros, o tempo de residência deste dentro do equipamento deve ser conhecido, para que se possa prevenir, principalmente, a
ocorrência de degradação, possibilitando a otimização da aditivação necessária.

O tR é medido como o volume do canal/vazão do extrudado. No caso de um fluxo Newtoniano em canais circulares ou retangulares, tem-se,
respectivamente:

8L 2
12L 2

t  ou t 
PR PH
R 2 R 2
Para fluxo que obedece a lei das potências em canais circulares ou retangulares, tem-se, respectivamente:

Sendo:
- V0 é a velocidade máxima , no centro do perfil, com o fluido escoando num canal de comprimento L;
- “n” é o fator de potência (n=1 para fluidos ideais, e < 1 para fluidos pseudoplásticos;
- H é a espessura do canal retangular;

3n  1  L 2n  1  L
- R é o raio do canal circular;


  é a viscosidade e P a queda de pressão.

t  ou 
t 
 
 n  1 V  n  1 V
R R

0 0
2. Tempo de relaxação ou recuperação da deformação (t*)
Está associado ao comportamento viscoelástico dos polímeros. Através dele é possível prever respostas como: inchamento do extrudado, fratura do
fundido, empenamento de peças, microtrincas, etc.

Por meio de ensaios dinâmicos-mecânicos, esse tempo pode ser estimado em função da temperatura.

t* pequenos estão associados a viscosidades () mais baixas e t* maiores estão associados à viscosidades e módulos elástico (E) ou de
cisalhamento (G) elevados.

t*  
E
3. Índice de fluidez (IF) (g/10 min)
É uma medida de fluidez dos polímeros para controle da qualidade da matéria-prima, servindo também como padrão para
classificação de resinas quanto ao processamento e aplicação.

O equipamento para medida de IF consiste num barril aquecido com um pistão acionado por um peso padrão, onde o polímero flui
por um capilar padronizado.

Obs.: Padronizou-se IF como sendo o


peso que flui pelo capilar durante 10
minutos
As normas fixam os parâmetros principais para um teste de IF. Por exemplo:
- Capilar D = 2,095 mm; L = 8 mm;
1) carga ou peso sobre o material = 2,16 kg para PE (190oC);
2) carga ou peso sobre o material = 2,16 kg para PP (230oC).

Valores de IF baixos estão relacionados a valores de viscosidade altas do polímero naquela temperatura e taxa de cisalhamento.

Obs.: Porém, IF é uma medida isolada do comportamento reológico de uma resina e pode ser interpretada de maneira inadequada, principalmente porque o teste é feito a baixas
velocidades e durante o processamento os polímeros são submetidos a altas taxas de cisalhamento (103 vezes maiores).
Pode-se calcular um valor aproximado da taxa de cisalhamento
através de medidas de IF:

*
4Q Q(mássica)
   2,4( IF ) Q(volumétrica) 
R  (densidade)
1 3
• Efeitos Viscoelásticos gerados durantes a extrusão

1. Inchamento de extrudado ( )
Ao ser deformado por cisalhamento entre as paredes de uma matriz, o polímero tem suas cadeias orientadas na direção do fluxo, ao
mesmo tempo em que tenta recuperar essa deformação elástica ainda dentro da matriz;
Porém, sempre permanece uma parcela da deformação, que só é recuperada fora dos canais. Essa recuperação é dependente do tempo de
relaxação do polímero  T, taxa de cisalhamento, coeficiente de fricção, comprimento do paralelo da matriz e o diâmetro da matriz.
D /D   
s i
 (2n  1) /(3n  1)  1   (1   R )dx
2
R
2

ou ,
IE    [(2 / 3) {(1   )   }]
R R
2
R
3/ 2 3
R
1/ 2

Sendo: “n” o fator de potência (adimensional;


R é a deformação recuperável na direção do escoamento x

• Para fluidos newtonianos (ex.: glicerina), n=1, como esses


materiais não possuem deformação recuperável,  = 0,87-1+1 =
0,87, significando que ocorre 13% de contração do extrudado;
• Para fluido viscoelásticos e sob altas taxas de deformação, ocorre
recuperação da deformação, descompressão do fluido, tornando
complexo o conjunto dos diversos efeitos sobre o valor final de ;
• Para pseudoplásticos (n<1), ex.: n=0,2,  = 6%;
• Viscoelásticos, o valor de  atinge até 200%.
• Efeito da taxa de cisalhamento no IE ():

- Processados a baixas T (pouco movimento browniano) e baixas : parte da deformação é recuperada dentro da matriz, porém grande parte só é recuperada fora   IE
- Processados a altas T e baixas : a deformação é quase totalmente recuperada dentro da matriz   IE
- Altas  leva a muita deformação na matriz: em baixas T melhora o movimento browniano   IE, enquanto que para altas T a velocidade de deformação se torna mais
alta que a capacidade de recuperação (desequilíbrio), a recuperação ocorre fora da matriz   IE
• Efeito da razão L/D:

Obs.: O IE não é por si só um efeito prejudicial, dependendo do processo ele pode contribuir
para o controle dimensional do extrudado e facilitar a calibração de um perfil fora da
matriz, entre outros fatores.
2. Fratura do Fundido

- Quando a massa polimérica passa de regiões mais amplas


ou largas para outras mais estreitas, ocorre uma elevação
localizada de energia nesse ponto de convergência (P e
tensão de cisalhamento);

- Essa energia pode ser muito alta e o polímero não tem


tempo para responder e se deformar viscosamente;

- Mesmo assim, ocorre uma deformação, mas na forma de


fratura, sem deslizamento das camadas da massa;

- Essa fratura do fundido, se for muito profunda, pode


permanecer na massa até que saia da matriz, aparecendo
como defeitos.
A fratura do fundido (FF) ocorre acima de uma tensão de cisalhamento crítico na parede ( wc), sendo esse
inversamente proporcional a massa molar (M w):
wc = K / Mw (K é uma constante do polímero)
- As vezes a fratura ocorre, mas ao passar pelo paralelo da
matriz a massa elimina as marcas ou fraturas, extrudando
um perfil com aparência lisa;

- Porém, esse será um ponto de solda mal formada, que


futuramente irá comprometer o desempenho do produto
final, através da propagação de trincas;

 Cuidados a serem tomados para evitar a FF:

- Diminuir a T do fundido;
- Reduzir ângulos de convergência;  wc
- Aumentar L/D da matriz;
- Adição de aditivos deslizantes ou lubrificantes  FF
3. Pele de tubarão ou de cação

- Apresenta-se na forma de irregularidades de superfície e


falta de lisura em um perfil extrudado;

- Ocorre devido à falta de adesão da massa fundida nas


paredes da matriz, principalmente na saída, onde a pressão
hidrostática chega a ser nula. Boa adesão, portanto, previne
esse defeito;

- Alguns pesquisadores atribuem esse defeito ao material que


foi construída a matriz, mas isso não é um consenso;

- O consenso é que o fenômeno escorrega/não-escorrega na


parede da matriz, e, principalmente, na saída da matriz
resulta no efeito pele de cação;
- Recentemente, observou –se que a adesão da massa a
matriz ajuda a prevenir a pele de cação, mas o contínuo
deslizamento traz mais benefícios ainda;

 Meios de Prevenir:
 Adição de aditivos: sem aditivos o defeito ocorre com w
= 0,15 MPa, com aditivos aumenta para 0,5 MPa;
 Arredondar os lábios da matriz, ou lubrificá-los com
PTFE.

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