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Reologia – Aula 7

1 Viscoelásticos
Esta aula foi reservada para falarmos de viscoelasticidade. Devemos ter em mente que todo
material é viscoelástico, ou seja, mesmo os materiais que classificamos como líquidos e sólidos
são viscoelásticos. Nos líquidos as características viscosas predominam sobre as características
elásticas, e neste caso a componente elástica pode ser desprezada. Por outro lado, nos sólidos
as características elásticas predominam sobre as características viscosas, e assim a
componente viscosa pode ser desprezada.

Os materiais que consideramos viscoelásticos são aqueles em que as componentes elásticas e


viscosas têm valores próximos e a ação das duas componentes (elásticas e viscosas) podem ser
identificadas. Ex: massa de pizza: escoa e também é capaz de retornar a forma original.

2 Efeitos da viscoelasticidade
A viscoelasticidade pode ser visualizada através de algumas manifestações que serão
mencionadas a seguir:

2.1 Efeito Weissenberg


O que vemos no dia a dia ao submeter um líquido a um processo de mistura é a formação de
um vórtice para baixo no centro da haste, por outro lado a amostra viscoelástica exibe um
vórtice para cima, ou seja, observamos a subida do fluído pela haste. Este fenômeno é
chamado de efeito Weissenberg. As forças elásticas geradas pela rotação da haste resultam
em uma força normal positiva e assim o fluido sobe pela haste.

2.2 Efeito “sifão sem tubo”


No efeito de sifão sem tubo o líquido sobe continuamente à medida que o tambor no topo gira
ou que o líquido é succionado. Imagine que líquido é formado por grandes moléculas ou
partículas, estas são capazes de se alinhar na direção do estiramento. As tensões elásticas
armazenadas no fluido viscoelásticas permitem que o fluido "endureça por tensão" e o líquido
elástico é capaz de sustentar o filamento em extensão.

2.3 Inchamento do extrudado


Quando um fluido viscoelástico sai de um capilar, ele tende a inchar consideravelmente mais
do que um fluido newtoniano. Este fenômeno ocorre devido à alta pressão na matriz de
extrusão, as moléculas de polímero são deformadas e orientadas na direção de cisalhamento.
E ao saírem da matriz, as moléculas do material viscoelástico tendem a recuperar seu formato
anterior (comportamento elástico) e como consequência o extrudado mostra um diâmetro
aumentado.

3 Modelos viscoelásticos
Uma forma de modelar o comportamento de materiais viscoelásticos é através de testes
oscilatórios, onde a amostra é submetida a variações harmônicas de tensão ou deformação.
Quando submetermos um material viscoelástico a um carregamento cíclico, este mostrará
uma resposta em defasagem com a tensão aplicada. E por meio deste atraso e da magnitude
dos módulos resultante podemos calcular o módulo de armazenamento (G’), o módulo de
perda (G”) e ângulo de defasagem (δ). Com estes valores é possível distinguir as
características elástica e a viscoso da material viscoelásticos.

3.1 Componente elástica


Para um sólido como vimos na aula 2, a resposta elástica pode ser descrita pela Lei de Hooke.
Onde o módulo de Young (G) é igual a tensão aplicada (τ) dividido pela deformação resultante
(γ).
𝜏
G=
𝛾

Para desenvolver os modelos vamos representar este comportamento através de uma mola.
Ao aplicar uma deformação na mola, este irá criar uma força inversa para restaurar seu estado
inicial.

No ensaio cíclico, uma extremidade a mola será fixada em uma superfície e a outra é ligada a
um sistema circular. A mola será comprida e estirada em uma deformação senoidal:

𝛾 (𝑡) = 𝛾0 𝑠𝑒𝑛 (𝑤𝑡)

Onde 𝛾0 é a deformação máxima, w é a velocidade angular e t é o tempo.

A resposta para o material elástico é imediata, assim ao deformar um material elástico,


instantaneamente é gerada uma tensão. A resposta da mola estará em fase com a deformação
aplicada, não haverá diferença entre os períodos como é visto na equação abaixo:

𝜏 (𝑡) = G. 𝛾0 𝑠𝑒𝑛 (𝑤𝑡)

3.2 Componente viscosa


A resposta viscosa pode ser descrita pela Lei de Newton, onde viscosidade (η) é igual a tensão
aplicada (τ) dividido pela taxa de cisalhamento resultante (ϔ).
𝜏
𝜂=
𝛾̇

Para representar o comportamento viscoso, nos modelos matemáticos utilizamos o


amortecedor. Este é um dispositivo mecânico que consiste em um pistão em movimento
através de um fluido newtoniano.

Para uma deformação senoidal a resposta de tensão de um material viscoso é representada


pela seguinte equação:

𝜏 (𝑡) = 𝜂. 𝑤. 𝛾0 𝑐𝑜𝑠 (𝑤𝑡)

A função cosseno neste caso representa o atraso de resposta do material viscoso.

A seguir serão apresentados alguns modelos baseados associação de molas e amortecedores


que tem como objetivo prever o comportamento viscoelástico.
3.3 Modelo de Kevin-Voigt
No modelo de Kevin-Voigt considera-se que o material viscoelástico é representado por uma
mola em paralelo com o amortecedor. Para este modelo observe que quando a força não
estiver mais agindo sobre o sistema, o conjunto retornará ao comprimento da mola. As
substâncias reais raramente mostram o comportamento deste modelo.

3.4 Modelo de Maxwell


Para o modelo Maxwell pode-se montar um sistema de mola em série com o amortecedor
para representar o comportamento de um material viscoelástico. Ao contrário do modelo de
Kevin-Voigt, neste sistema a mola e o amortecedor não retornam totalmente ao seu estado
original quando a carga é removida. Esse material fluirá indefinidamente quando submetido a
tensões de deformação e este não é o comportamento visto para materiais viscoelásticos.

3.5 Modelo de Burger


Portanto para descrever de forma mais real o comportamento viscoelástico pode se adotar o
modelo de Burger. Este modelo essencialmente é um modelo Maxwell e Kelvin-Voigt
conectados em série. O modelo de quatro elementos de Burger incorporar todos os
fenômenos vistos nos outros modelos.

4 Ensaio oscilatório
Nos ensaios oscilatórios aplica-se uma deformação com uma amplitude 𝛾0 a uma velocidade
angular w. E a resposta resultante é o valor de tensão de acordo com a amplitude de tensão 𝜏0
e o ângulo de fase 𝛿.

𝜏 (𝑡) = 𝜏0 𝑠𝑒𝑛 (𝑤𝑡 + 𝛿)

Este ângulo de defasagem de certa forma determina o comportamento reológico do material,


se ele tende a ser um líquido (𝛿 será de 90°, fora de fase) e se tender a ser um sólido (𝛿 será
de 0°, em fase). Materiais viscoelásticos têm ambas as características, portanto seu valor δ
entre 0 °e 90°.

Através desta resposta podemos determinar o módulo de cisalhamento (G*), que é:


𝜏𝐴
𝐺∗ =
𝛾𝐴

Onde o índice A representa que são tensões e deformações da amostra ao longo do ensaio.

O G* pode ser representado por meio de uma seta chamada vetor, o ângulo deste vetor é
dado pela defasagem entre a deformação senoidal e a reposta de tensão. Ao rebater os
valores dos vetores nos eixos x e y encontramos respectivamente, G’ e G”.

𝜏0 𝜏0
𝐺′ = cos(𝛿) 𝐺" = 𝑠𝑒𝑛(𝛿)
𝛾0 𝛾0

Sabendo dois destas componentes de módulo é possível determinar o terceiro através da


formula:
𝐺 ∗ = √𝐺′2 + 𝐺"2

Para descreve a relação entre as componentes viscosas e elásticas pode-se usar o fator de
perda ou fator de amortecimento:

𝐺"
𝑡𝑎𝑛𝛿 =
𝐺′

Também é possível definir uma viscosidade complexa η *, que é uma medida da resistência
total ao fluxo em função da frequência angular (ω) que é dada pelo quociente da amplitude de
tensão máxima e amplitude da taxa de deformação máxima.

Tal como acontece com G *, isso pode ser dividido em suas partes componentes, que incluem
o viscosidade dinâmica (η ’) e a viscosidade de armazenamento (η"), que representam o real e
partes imaginárias de η * respectivamente.

𝜂 ∗ = 𝜂 ′ + 𝑖𝜂"

Assim, através de ensaios oscilatórios podemos entender melhor o comportamento dos


materiais sobre determinadas condições. Por exemplo, uma bola de borracha salta (G’>G”, a
componente elástica irá predominar sobre a viscosa), enquanto uma bola de silicone se
deforma (G”>G,’ a componente viscosa irá predominar sobre a elástica) ao ser arremessada.

MATERIAL PARA LEITURA

Para os seguintes tópicos segue o material para leitura:

- Efeitos viscoelásticos: http://web.mit.edu/nnf/


-Modelos viscoelásticos: página 13-16. (Dealy, 1990)

Boa Leitura.

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