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CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula - Prof.

Paulo Sérgio Barbosa - UFV

1 COMPRESSIBILIDADE E ADENSAMENTO

1.1 Introdução

Todo material presente na natureza quando está submetido a variações de


tensões se deforma por compressão, tração ou cisalhamento. A resposta de
deformação devido a estas variações de tensões está fortemente relacionada com o
tempo, podendo ocorrer de forma instantânea, no caso dos materiais elásticos, ou
lenta, para aqueles com comportamento plástico ou viscoso.

O tempo de resposta dos materiais sujeito às variações de tensões é


controlado pelos seus constituintes, as proporções entre eles, e o seu processo de
formação. Os solos, devido a sua estrutura multifásica (sólida, fluida e gasosa),
apresentam um comportamento bastante complexo, e no que se refere à
compressibilidade, o tempo é um fator muito importante, podendo no caso de solos
finos saturados ser relativamente grande para que a deformação total ocorra.

O comportamento de compressibilidade dos materiais, geralmente, é


representado sob as formas: tensão versus deformação; deformação versus tempo;
tensão versus tempo; ou de um modo mais complexo, tensão versus
deformação versus tempo. O modelo de compressibilidade mais simples é o modelo
elástico, no qual as deformações são instantâneas, é pode ser representado na
forma tensão versus deformação, como indicado nas Figura 1 e Figura 2.

Um corpo que apresenta comportamento elástico se deforma ao ser solicitado


por uma força e tem sua forma original restabelecida quando as forças que o
deformaram são removidas, ou seja, as deformações que foram causadas pela
aplicação das forças tornam-se nulas quando as forças deixam de atuar. Os
materiais elásticos podem ser divididos em duas categorias, segunda a existência ou
não de proporcionalidade entre tensões e deformações, a saber:

¾ Comportamento elástico linear; Figura 2 e


¾ Comportamento elástico não-linear, Figura 1.

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A Figura 1 apresenta, de forma esquemática, o comportamento de


compressibilidade de um material elástico não-linear, enquanto que a Figura 2
mostra o comportamento de compressibilidade de um corpo elástico linear que, além
de recuperar sua forma quando a força que causou a deformação é retirada,
apresenta também deformações proporcionais as forças aplicadas.

Ao se aplicar uma força F sobre um corpo sólido na direção do comprimento lo,


este irá apresentar uma compressão igual a Δx, como mostra a Figura 2. Neste
caso, podemos definir deformação específica segundo a direção da força aplicada
como:

Δx
E1 εx = (001)
l0

Carregamento

Descarregamento

ΔX
Figura 1 - Comportamento de deformação de um corpo elástico não-linear.

Figura 2 - Comportamento de deformação de um corpo elástico linear.

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E o modulo de elasticidade ou modulo de Young, E, do material é definido


como:

σ
E2 E= (002)
ε

Outro caso simples de comportamento quanto à deformação dos materiais é o


caso em que o corpo apresenta deformação nula até certo nível de tensão (força
aplicada) e após iniciada as deformações, elas progridem à tensão constante,
enquanto durar a aplicação da força, nesse caso representada pelo corpo sólido de
Saint-Venant, Figura 3 . Se as forças que causam a deformação são removidas, o
corpo não recupera sua forma original. A Figura 3 apresenta um modelo de corpo
puramente de atrito (utilizado para representar um corpo de comportamento
puramente plástico) onde as deformações se iniciam somente após o atrito ter sido
vencido, e uma vez retirada a força que produziu o deslocamento, o elemento não
retorna a sua condição inicial.

Figura 3 - Deformação de um corpo puramente de atrito (plástico).

Um terceiro modelo simples de comportamento de deformação de corpos é o


elemento viscoso de Newton, esse elemento é representado por um embolo como
mostrado na Figura 4. Esse modelo está fundamentado nas leis de movimento de
um fluido viscoso ideal, também conhecido como fluido Newtoniano. A viscosidade
de um fluido ideal de Newton pode ser escrita como uma relação, linear ou não,
entre tensão e velocidade de fluxo como se segue:

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dε vs .
E 3 σ=η = η ε vs (003)
dt

Onde ε vs é a deformação viscosa, t o tempo e η a o coeficiente de viscosidade

(viscosidade dinâmica ou efetiva)

εv

Figura 4 - Elemento viçoso de Mewton

O modelo composto mais simples é mostrado na Figura 5. Este modelo


representa um corpo de comportamento elasto-plástico que é a combinação em
série do modelo elástico e do modelo plástico. Neste caso as deformações se
iniciam com a compressão da mola e no instante em que a força se iguala ao atrito,
o conjunto se desloca com velocidade constante, ou seja, as deformações crescem
com o tempo com a força mantida constante. Neste caso somente as deformações
elásticas são recuperadas caso as forças sejam removidas, como está representado
no gráfico da Figura 5.

Combinando-se um elemento viscoso e um elemento elástico, em série forma-


se o modelo visco-elástico de Maxwell,

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Figura 5 - Deformação de um corpo elasto-plástico.

t (s)

σ (kPa)

t (s)

Figura 6 - Modelo reológico de Maxwell de um elemento visco-elástico.

Outro modelo visco-elástico e o modelo de Kelvin e Voight, que se diferencia


do modelo de Maxwell por se formado de elementos elástico e viscoso em paralelo,
com apresentado na Figura 7.

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t (s)
σ (kPa)

t (s)

Figura 7 - Modelo visco-elástico de Kelvin e Voight.

A Figura 8 apresenta um exemplo de um elemento visco-plástico denominado


viscosidade de Bingham o qual consiste de um elemento plástico e um elemento
viscoso conjugados em paralelo.

σ (kPa) ηB

.ε (s-1)

Figura 8 - Modelo visco-plástico de Bingham

Por serem os solos compostos por um sistema trifásico (grãos, líquido e gás)
com milhares de partículas formando sua estrutura, seu comportamento em termos
de compressibilidade é acentuadamente complexo. Neste caso, é fácil deduzir que,
pela complexidade da estrutura dos solos com partículas deslocando-se uma em
relação às outras quando solicitadas por uma tensão, sua compressibilidade não
seja nem perfeitamente elástico e menos ainda, linear.

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Desta forma, nenhum dos modelos relógios básicos (puramente elástico,


puramente plástico ou puramente viscoso) é capaz de representar de forma razoável
sua compressibilidade, assim sendo, vários outros modelos reológicos podem ser
construídos combinando-se esses três elementos básicos, de forma a melhor
representar seu comportamento de compressibilidade.

Entretanto, devido à sua simplicidade e considerando pequenas deformações,


é prática na engenharia geotécnica utilizar o modelo elástico para representar a
compressibilidade dos solos, neste sentido uma pequena revisão será apresentada a
seguir.

1.2 Comportamento elástico linear.

Considere um cilindro com altura h e raio r, de um material homogêneo,


isotrópico e elástico, conforme indicado na Figura 9. Sobre esse cilindro é aplicada
uma tensão uniaxial, σz, a qual produz uma compressão vertical ou axial, Δh, e uma

extensão radial, Δr, tal que:

Δh σ z
E4 εz = = (004)
h E

Δr σ
E5 εx = εy = = −υ z (005)
r E
onde:
εx, εy, εz são as deformações específicas nas direções x, y e z,
respectivamente;
E é o módulo de Young ou de Elasticidade; e,
ν é o coeficiente de Poisson definido por:
Δr
r εz
E6 ν=− =− (006)
Δh εx
h

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Figura 9 - Corpo de prova cilíndrico com altura h e raio r.

Considere, agora, um solo homogêneo, elástico e isótropo submetido a um


acréscimo de tensões em três eixos ortogonais, σx, σy e σz. O solo apresenta,
então, deformações que podem ser representadas pelas equações abaixo:

εx =
1
E
[ (
Δσ x − ν Δσ y + Δσ z )]

E7 εy =
1
E
[
Δσ y − ν (Δσ x + Δσ z ) ] (007)

εz =
1
E
[ (
Δσ z − ν Δσ y + Δσ x )]

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Da mesma forma, a deformação volumétrica εv pode ser expressa por:

E8 εv =
ΔV
V
= εx + ε y + εz =
1 − 2υ
E
(
σx + σy + σz ) (008)

De forma mais realística, o grau de deformação produzido por um esforço


sobre um solo depende de vários fatores difíceis de serem incorporados em uma
expressão matemática. Alguns fatores que controlam a deformação dos solos são
listados a seguir:

• Composição do solo;
• Índice de vazios do solo;
• Histórico de tensões do solo; e
• Forma de aplicação da carga.
• Tempo de aplicação da carga.
• Grau de saturação

1.3 Componentes de recalque

Um depósito ou uma camada de solo quando carregada por uma estrutura ou


aterro sofre deformações. Essas deformações são denominadas de recalques, e que
podem, ainda, serem definidas como as deformações verticais totais na superfície do
terreno resultante de um carregamento. O movimento da superfície do terreno pode
ser:

¾ Para baixo, quando há um aumento das tensões, como acontece com a


construção de aterros e de estruturas como pontes e edifícios; e
¾ Para cima, (expansão) quando as tensões diminuem, como acontece em
escavações temporárias e/ou permanentes.

A evolução dos recalques é muito importante para os projetos de engenharia,


desta forma, é de fundamental importância que se conheça os fatores que controlam
sua magnitude, bem como os fatores que controlam sua evolução no tempo. De uma
forma didática, o valor total do recalque sofrido por um extrato de solo pode ser
dividido em três parcelas, segundo os mecanismos controlados predominantes
durante a deformação. Desta forma, o recalque total ΔH de um solo quando
solicitado por um acréscimo de carga pode ser representado por:

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E9 Δ H = Si + S c + S s (007)

em que:
Si é o recalque imediato ou distorção;
Sc é o recalque de adensamento (dependente do tempo que se dá pela saída da
água do solo), e;
Ss é o recalque por compressão secundária (também dependente do tempo e que
se dá à tensão efetiva constante).
O recalque imediato ou distorção (embora não seja verdadeiramente elástico) é
usualmente estimado pela teoria da elasticidade. As equações para esta
componente do recalque são, em princípio, similares às deformações de um pilar
sob uma carga axial P, com já apresentado acima, E 4.

O recalque de adensamento é um processo lento, dependente do tempo, e que


ocorre em solos finos e saturados os quais possuem baixo coeficiente de
permeabilidade. A velocidade em que se processa o recalque depende da
velocidade de drenagem da água nos poros.

A compressão secundária ou “creep” também dependente do tempo, porém


ocorre a tensão efetiva constante e sem variação subseqüente na poro-pressão.

Somente a segunda parcela, recalque por adensamento, será apresentada a


seguir.

1.4 Adensamento

Nos problemas de engenharia, que envolvem a previsão de recalques e o


dimensionamento de obras construídas sobre solos argilosos, a avaliação da
velocidade da compressão em função do tempo torna-se de suma importância.
Contudo, a determinação da velocidade de compressão da camada argilosa, foi
considerada durante muitos anos, um exercício meramente acadêmico e de pouca
importância prática quando comparada com a verificação da estabilidade da obra e a
avaliação do recalque total. Apesar de suas limitações, a teoria de adensamento
unidimensional de Terzaghi (1925) alimentada com resultados de ensaios de
compressão edométrica incremental ainda constitui, na grande maioria dos casos, a
base teórica para o estudo e a previsão de recalques por adensamento.

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Nas situações em que as condições de campo se aproximam das


simplificações necessárias ao desenvolvimento dessa teoria, as estimativas se
aproximam dos valores observados no campo. Contudo, na maioria dos casos as
condições reais se afastam bastante das simplificações adotadas pela teoria, sendo
desta forma, as conseqüências práticas do uso dessa teoria e dos resultados do
ensaio de adensamento incremental são habitualmente limitadas.

No início do século, grandes problemas eram evitados uma vez que os níveis
de solicitações das obras e a disponibilidade de espaço não eram fatores limitantes.
Com o desenvolvimento urbano e industrial, tornou-se necessário, nas últimas
décadas, a construção de vias de comunicação (ferrovias e rodovias), de distribuição
de energia (eletricidade e gás natural), de reservatórios e sistemas de distribuição de
água, de telefonia e de instalações industriais, edificar sobre fundações argilosas de
alta compressibilidade e de baixa capacidade de suporte. Nestas condições, o uso
de técnicas de construção por etapas ou por pré-carregamento tornou-se freqüente e
para tanto, a previsão das velocidades de adensamento de fundação tornou-se,
contrariamente ao inicio do século, um elemento determinante de projeto, seja para
a avaliação da estabilidade durante as diversas fases de construção, seja a
determinação do calendário de construção e da viabilidade da obra. Neste sentido, é
necessário que teorias mais abrangentes e métodos de ensaios mais sofisticados
sejam desenvolvidos para possibilitarem uma análise mais confiável e uma previsão
mais realista dos recalques por adensamento. O estudo mais aprofundado da teoria
clássica do adensamento unidirecional de Terzaghi torna-se fundamental para
qualquer avanço no entendimento deste fenômeno.

A teoria de Terzaghi combinada ao ensaio edométrico, não tendo, até aqui,


conduzido a previsões satisfatórias, parece ser necessário reexaminar os
fundamentos teóricos desta teoria e compará-los às condições reais do terreno. Por
outro lado, pode-se simular por análise numérica os fenômenos reais de
adensamento devido a tensões elevadas e mostrar suas diferenças com as
condições impostas pelo ensaio edométrico clássico.

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1.5 A teoria de Terzaghi e suas implicações

Após constatar que uma amostra de argila saturada sujeita a um aumento de


carga ΔP apresentava deformações retardadas devido à sua baixa permeabilidade,
Terzaghi (1925) desenvolveu uma formulação matemática para esse fenômeno. No
desenvolvimento dessa formulação, foi necessário a Terzaghi que elaborasse uma
série de hipóteses simplificadoras, dentre as quais, algumas são de conseqüências
muito importantes sobre a possibilidade de se aplicar esta teoria ao estudo de um
caso real. A seguir, o princípio básico do fenômeno de adensamento é apresentado
e então, as diferentes hipóteses de Terzaghi serão examinadas e suas
conseqüências estabelecidas.

1.6 Princípio do fenômeno de adensamento

Seja uma amostra de solo de volume V, sobre a qual é submetida uma


variação das tensões nos três eixos principais, Δσ’1, Δσ’2 e Δσ’3. Admitido-se que o
solo tem um comportamento elástico e isotrópico, a deformação volumétrica unitária
sofrida por essa amostra pode ser representada, de foram análoga à equação E 8,
por:

ΔV 1 - 2υ ,
E 10 = ε1 + ε 2 + ε 3 = ( σ 1 + σ 2, + σ 3, ) (010)
V E

ou

ΔV 3(1 - 2υ )
E 11 = Δσ oct
,
(011)
V E
Onde:
Δσoct é a tensão octaédrica efetiva e definida por:

Δσ oct
,
=
(σ ,
1 + σ 2, + σ 3, )
E 12 (012)
3

Admitindo-se que a amostra esteja saturada por um líquido incompressível e


que o carregamento seja instantâneo e em condição não drenada tem-se uma
deformação volumétrica nula. Nessas condições, a variação das tensões efetivas é

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nula, Δσ 'oct = 0 , e, por conseguinte todo acréscimo de tensão é transferido para o

fluido intersticial, logo:

E 13 Δu = Δσ oct (013)

Se a drenagem à superfície da amostra é permitida, tem-se, neste ponto, que


Δu = 0, e desta forma, o gradiente da carga hidráulica, entre o centro e a superfície
da amostra, vai produzir um fluxo da água intersticial, fluxo este que será controlado
pela permeabilidade k do solo. Com o tempo:

¾ As pressões intersticiais geradas vão, progressivamente, sendo dissipadas


passando-se de um valor inicial Δu = Δσoct ao valor final Δu = 0;.

¾ As tensões efetivas vão aumentando simultaneamente do valor inicial


Δσ 'oct = 0 ao valor final Δσ'oct = Δσ oct , segundo a relação fundamental:

E 14 Δσoct = Δσ'oct + u (014)

¾ As deformações volumétricas vão, então, se desenvolvendo com o acréscimo


das tensões efetivas segundo a E 10.

No caso geral, tal como se encontram in situ, todas as componentes do tensor


de compressão variam devido ao carregamento (de uma fundação, por exemplo) e
as deformações volumétricas serão então governadas pela equação E 10. Por outro
lado, o escoamento da água intersticial é geralmente tridimensional, de sorte que o
fenômeno de adensamento deve ser analisado como um problema de três
dimensões.

1.7 Analogia mecânica do adensamento unidirecional de Terzaghi.

Considere um pistão cheio d’água e fechado na sua parte superior por um


embolo, conforme mostrado pela Figura 10. O embolo, o qual é provido de um
orifício fechado por uma válvula, está em separado da parte inferior do pistão por
meio de uma mola. A válvula instalada no embolo controla a saída da água do pistão
e representa a permeabilidade do solo, enquanto que a mola representa a parte
sólida do solo. Ao se aplicar uma força de 1 KN sobre o pistão de área igual a
100 cm2, estando a válvula fechada e sendo a água incompressível, a mola é
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impedida de se comprimir, a força será suportada pela água, produzindo um


acréscimo de pressão na água a 100 kPa. Devido a este acréscimo de pressão, a
água buscará sair do pistão, uma vez que na parte exterior ao embalo atua a
pressão atmosférica. Num instante qualquer, após a abertura da válvula, a mola
comprime-se e passa a resistir parte da força externa aplicada, por exemplo, 25 %,
desta foram a pressão na água cai para 75 kPa, e a força na mola igual a 25 KN,
corresponde à uma tensão efetiva de 25 kPa, segundo pistão mostrado na
Figura 10. Os terceiro e quarto pistões representam as situações de 50 e 75 % de
transferência da força para a mola. O quinto pistão mostra o estado em que todo o
excesso de pressão na água foi dissipado e a força de 100 KN é integralmente
suportada pela mola.

De forma paralela, pode-se dizer que o mesmo acontece com uma amostra de
solo confinada em um anel ou no campo. Quando um acréscimo de tensão é
aplicado sobre uma camada de argila saturada, inicialmente todo acréscimo de
pressão é transferido para a água, gerando-se um excesso de poro pressão. Com a
diferença de pressão, na superfície da amostra, entre a água intersticial e a pressão
atmosférica, a água da superfície flui rapidamente o que produz um gradiente
hidráulico entre a superfície da amostra e seu centro. Desta forma, a água é expulsa
dos poros do solo e parte da tensão externa aplicada é transferida para a estrutura
do solo, gerando um acréscimo da tensão efetiva e conseqüentemente uma redução
do volume da amostra ou da camada de argila.

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Figura 10 - Analogia mecânica para o processo de adensamento proposto por


Terzaghi (Taylor, 1948).

Terzaghi, então, formulou uma equação para descrever o mecanismo de


transferência da pressão da água dos poros para a estrutura do solo.

A Figura 11 e a Figura 12 completam a explicação do fenômeno. Considere a


Figura 11, na qual se apresenta dois pistões exatamente iguais, à exceção de suas
das válvulas. O primeiro pistão tem duas válvulas enquanto que o segundo apensa
uma. Visto que a deformação na mola é proporcional à força aplicada, os dois
êmbolos, ao atingirem o equilíbrio, apresentaram o mesmo deslocamento, ou seja, a
mesma compressão na mola. Assim sendo, a mesma quantidade de água deverá
sair dos pistões. Como o primeiro tem duas válvulas, e expulsão da água se dará
mais rapidamente, logo, o equilíbrio ocorrerá primeiramente no pistão mais
permeável.

Consideremos agora, os pistões da Figura 12. A exceção das molas, os pistões


são exatamente iguais. Tendo o primeiro pistão duas molas, ele se comprimirá
menos que o segundo e desta forma menor quantidade de água deverá deixá-lo.
Uma vez que os dois pistões apresentam a mesma abertura nas válvulas, mesma
permeabilidade, o equilíbrio do primeiro pistão será atingido mais rapidamente. Isto
nos leva a inferir que quanto mais compressível for o solo, mais tempo será

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necessário para que ocorra a total transferência da pressão da água dos poros para
a estrutura do solo.

F F

Figura 11 - Analogia mecânica do adensamento, ressaltando a influência da


permeabilidade.

F F

Figura 12 - Analogia mecânica do adensamento, ressaltando a influência da


compressibilidade.

1.8 As hipóteses da teoria de adensamento de Terzaghi

Uma vez que o problema geral estava formulado, Terzaghi (1925)


desenvolveu uma solução completa para um caso particular e simples, ou seja,
adensamento unidimensional de uma camada delgada de solo, submetida a uma
carga uniforme Δσv de grande extensão. Esta solução, muito utilizada para a análise
de todos os problemas correntes de fundações sobre depósitos argilosos, faz uso de
oito hipóteses principais:

a) As deformações da camada argilosa são unidimensionais.

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b) O solo é permanece saturado.


c) As partículas de solo e a água intersticial são incompressíveis.
d) O solo é homogêneo.
e) As características do solo (módulo de compressão, permeabilidade, etc.) são
constantes durante o adensamento.
f) A drenagem é unidirecional e obedece a lei de Darcy.
g) Existe uma relação linear entre as tensões efetivas e a variação de volume.
h) O solo não apresenta viscosidade estrutural, ou seja, compressão secundária
ou “creep”.

A Figura 13 mostra a evolução da poro-pressão, u, e da tensão efetiva, σ', para


um acréscimo instantâneo e constante da tensão total, σ.
Poro-pressão (u), tensão efetiva ( ') e

σ
tensão total ( )

σ'

t=0 t→ ∞
Tempo

Figura 13 - Curvas de evolução da poro-pressão, u, e da tensão efetiva, σ', para


um carregamento permanente e aplicado instantaneamente, σ.

Considere um elemento de solo de lados dx, dy e dz que está sendo


comprimido verticalmente como ilustrado na Figura 14. A equação de conservação

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da massa da água no fluxo transitório desenvolvido durante o adensamento se


escreve, considerando as hipóteses (2) e (3), como se segue.

∂V w ∂Vv
E 15 = (015)
∂t ∂t

A qual exprime, simplesmente, que a variação de volume de vazios do elemento do


solo ocorre somente pela expulsão da água dos seus poros.

qz + dqz
Δh

∂h
h h+ dx
qy ∂x

qx qy + dqy dz qx + dqx

dy
dx x
z

y qz

Figura 14 - Elemento de solo sujeito a fluxo de água tridimensional.

Por outro lado, sendo o escoamento regido pela lei de Darcy, hipótese (6),
tem-se que:

Δh
E 16 v=K (016)
Δl

Onde:
Δh representa a perda de carga hidráulica total;
K é o coeficiente de permeabilidade do solo, e;
Δl é o percurso no qual se deu a perda de carga total Δh.
Tem-se então:

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∂h ⎫
v x = −k x ⎪
∂x ⎪
∂h ⎪
E 17 v y = −k y ⎬ Velocidades nas faces de entrada (017)
∂y ⎪
∂h ⎪
v z = −k z ⎪
∂z ⎭

E com a notação:

E 18 q z = v z A z = k zi z A z (018)

∂h
E 19 i z = − (019)
∂z

E 20 A z = dxdy (020)

u
E 21 h = +z (021)
γw

Onde:
u é a pressão intersticial no elemento de solo considerado;
γw é o peso específico da água;
z é a cota do elemento de solo considerado;
dx, dy e dz são os lados do elemento de solo considerado.
Tem-se:

⎛ ∂h ⎞ ⎫
q x = k x ⎜ − ⎟dydz ⎪
⎝ ∂x ⎠ ⎪
⎛ ∂h ⎞ ⎪⎪
E 22 q y = k y ⎜⎜ − ⎟⎟dxdz ⎬ Vazões de entrada (022)
⎝ ∂y ⎠ ⎪
⎛ ∂h ⎞ ⎪
qz = k z ⎜ − ⎟dxdy ⎪
⎝ ∂z ⎠ ⎪⎭

O que produz:

qe = qx + qy +qz Vazão total de entrada

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⎛ ∂k x ⎞⎛ ∂h ∂ 2h ⎞⎟ ⎫
q x + dq x = ⎜ k x + dx ⎟⎜⎜ − − 2 dx ⎟dydz⎪
⎝ ∂x ⎠ ⎝ ∂x ∂x ⎠ ⎪

⎛ ∂k y ⎞ ⎛ ∂h ∂ 2 h ⎞ ⎪
E 23 q y + dq y = ⎜⎜ k y + dy ⎟⎟⎜⎜ − − 2 dy ⎟⎟dxdz ⎬ Vazões de saída (023)
⎝ ∂y ⎠ ⎝ ∂y ∂y ⎠ ⎪

⎛ ∂k z ⎞⎛⎜ ∂h ∂ 2h ⎞⎟
q z + dq z = ⎜ k z + dz ⎟⎜ − − 2 dz ⎟dxdy ⎪
⎝ ∂ z ⎠⎝ ∂ z ∂z ⎠ ⎪

Que por sua vez fornece:

qs = (qx + dqx) + (qy + dqy) +(qz + dqz) Vazão total de saída

Considerando-se somente fluxo unidirecional, hipótese (6), tem-se:

∂Vw
E 24 q z − (q z + dq z ) = (024)
∂t

Onde:

∂Vw
é a variação, com o tempo, do volume de água no elemento de solo
∂t
considerado (equação E 15).
Com base na hipótese de solo homogêneo, hipótese (4), tem-se:

∂k z
E 25 =0 (025)
∂z

Logo:

∂ 2h ∂V w
E 26 q z − (q z + dq z ) = k z dxdydz = (026)
∂z 2
∂t

Derivando-se a equação E 21, em função de z, tem-se:

∂ 2h 1 ∂ 2u
E 27 = (027)
∂z 2 γ w ∂z 2

Logo, a equação E 26 transforma-se em:

∂ 2h 1 ∂ 2u ∂V w
E 28 k z 2 dxdydz = k z dxdydz = (028)
∂z γ w ∂z 2
∂t

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Por outro lado, Terzaghi supôs, implicitamente, que a variação relativa de


volume pode ser escrita em função do índice de vazios do solo. Considerando as
partículas do solo incompressíveis, hipótese (3), tem-se que toda variação de
volume se dá pela redução de vazios, logo:

∂V ∂Vv
E 29 = (029)
∂t ∂t

E considerando-se o solo saturado, hipótese (2), tem-se:

∂ V v ∂V w ∂V
E 30 = = (030)
∂t ∂t ∂t

Sabendo-se que:

E 31 Vv = eV s (031)

E que:

V
E 32 Vs = (032)
1+ e

Tem-se:

∂V ∂Vv ∂e
E 33 = = Vs (033)
∂t ∂t ∂t

∂V V ∂e
E 34 = (034)
∂t 1 + e ∂t

Para exprimir a variação do índice de vazios em função do tempo, Terzaghi


fez uso, primeiramente, da hipótese (1), ou seja, de uma deformação
unidimensional, o que implica que a variação de volume do solo é função de suas
tensões efetivas verticais e que, em qualquer instante durante o adensamento, tem-
se:

E 35 σ = σ, + u (035)

Se σv é a tensão total vertical aplicada de forma instantânea e mantida


constante durante todo o processo de adensamento, segue-se:

Compressibilidade e adensamento dos solos 21 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

∂σ v
E 36 =0 (036)
∂t

∂σ , ∂u
E 37 =− (037)
∂t ∂t

Por outro lado, a hipótese (7), relação linear entre a tensão efetiva vertical e o
índice de vazios do solo, conduz a:

E 38 e = e 0 − a v Δσ´ v (038)

Esta equação permite definir o coeficiente de compressibilidade av sobre a


forma:

∂e
E 39 av = − (039)
∂σ ,

E que, considerando a hipótese (8), solo não apresenta “creep”, a variação do


volume do solo com o tempo pode ser escrito da forma como se segue:

∂e ∂e ∂σ ,
E 40 = (040)
∂t ∂σ , ∂t

Combinando-se as equações E 37, E 39 e E 40; chega-se a:

∂e ⎛ ∂u ⎞ ∂u
E 41 = (− a v )⎜ − ⎟ = av (041)
∂t ⎝ ∂t ⎠ ∂t

E com a combinação das equações E 28, E 30 e E 34, tem-se:

1 ∂ 2u dxdydz ∂e
E 42 K z 2
dxdydz = (042)
γ w ∂z 1 + e ∂t

k z ∂ 2u 1 ∂e
E 43 = (043)
γ w ∂z 2
1 + e ∂t

Substituindo a equação E 41 na equação E 43, tem-se:

k z ∂ 2u 1 ∂u
E 44 = av (044)
γ w ∂z 2
1+ e ∂t

Compressibilidade e adensamento dos solos 22 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

2
E 45
kz
(1 + e ) ∂ u2 = ∂u (045)
γ w av ∂z ∂t

Considerando que as propriedades do solo não mudam com o processo,


hipótese (5), Terzaghi definiu o coeficiente de adensamento do solo, cv, como uma
propriedade característica do solo:

K( 1 + e )
E 46 c v = (046)
γ wav

Definindo-se o coeficiente de deformação volumétrica, mv como:

av
E 47 m v = (047)
1+ eo

Tem-se:

k
E 48 cv = (048)
mv γ w

Desta forma, chega-se a uma equação diferencial do adensamento análoga à


equação de transmissão de calor, ou seja:

∂ 2u ∂u
E 49 cv = (049)
∂z 2
∂t

A equação E 49 é equação básica da teoria de adensamento de Terzaghi e


pode ser resolvida tendo-se as condições de contorno do problema.

A solução dessa equação pode ser obtida assumindo-se que a função de


distribuição da poro-pressão é o produto de duas funções, isto é, o produto da
função de profundidade, z, vezes a função de tempo, t, ou seja:

E 50 u = F (z )G (t ) (050)

Desta forma,

∂u ∂G(t )
E 51 = F(z ) = F(z )G' (t ) (051)
∂t ∂t

Compressibilidade e adensamento dos solos 23 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

∂ 2u ∂ 2F(z )
E 52 = G(t ) = F' ' (z )G(t ) (052)
∂z 2 ∂z 2

Re-escrevendo a equação E 49 utilizando as equações E 51 e E 52, tem-se:

E 53 F(z )G' (t ) = F' ' (z )G(t ) (053)

ou

F' ' (z ) G' (t )


E 54 = (054)
F(z ) G(t )

O lado direito da equação E 54 é função somente da profundidade e


independente do tempo, e o lado direito é função somente do tempo, sendo
independente da profundidade. Portanto, os dois lados da equação são constantes,
e para facilidade será assumido serem iguais a -B2.

E 55 F' ' (z ) = −B 2F (z ) (055)

A solução da equação acima e dada por:

E 56 F(z ) = A 1 cos (Bz ) + A 2 sen(Bz ) (056)

Sendo A1 e A2 constantes.

O lado direito da equação E 54 pode ser escrito como:

E 57 G' (t ) = −B 2 c v G(t ) (057)

E a solução é dada por:

E 58 (
G(t ) = A 3 exp − B 2 c v t ) (058)

Sendo A3 constante.

Combinando-se as equações E 50, E 56e E 58, tem-se:

(
E 59 u = (A 4 cos [Bz ] + A 5 sen[Bz ]) exp − B 2 c v t ) (059)

onde A4=A1A3 e A5=A2A3.

Compressibilidade e adensamento dos solos 24 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

Os valores das constantes da equação E 59 são determinados a partir das


condições de contorno do problema.

Para o caso de uma distribuição de u constante com a profundidade e


drenagem por duas faces tem-se:

1) Para t=0, u = uo = Δσ
2) Para t ≠ 0,
) u = 0 para z = 0.
) u = 0 para z = H

Finalmente, graças à hipótese (4) de homogeneidade do solo, Terzaghi chegou


a solução bem conhecida da equação E 49, que fornece uma expressão matemática
para o excesso de pressão intersticial, u(z,t), em todos os pontos e a qualquer
tempo, para uma camada de espessura H, duplamente drenada.

⎡∞ ⎛ (2m + 1)π z ⎞ ⎛ ⎞⎤
1 ⎟ exp⎜ − ( 2m + 1) π c v t ⎟⎥
2 2
4
E 60 u(z,t) = Δσ ⎢ ∑ sen⎜⎜ (060)
π ⎢⎣m=0 2m + 1 ⎝ 2 Hd ⎟⎠ ⎜
⎝ 4 H2d ⎟⎠⎥⎦

cvt
Se o fator for definido como um fator tempo, adimensional, e
H2d
representado por Tv, a equação E 60 pode ser rescrita como se segue:

⎡∞ ⎛ (2m + 1)π z ⎞ ⎤
1 ⎟ exp⎛⎜ − ( 2m + 1) π Tv ⎞⎟⎥
2 2
4
E 61 u(z,t) = Δσ ⎢ ∑ sen⎜⎜ (061)
π ⎢⎣m=0 2m + 1 ⎝ 2 Hd ⎟⎠ ⎝ 4 ⎠⎥⎦

Hd é a máxima distância de drenagem, ou seja, é o maior caminho que uma


partícula de água se desloca dentro da camada argilosa durante o processo
de adensamento. No caso de camadas com duas faces drenantes, Hd = H/2
e para o caso de camadas com uma única face drenante, Hd = H.
Para transformar a equação E 60 em lei de variação de recalque da camada de
argila em função do tempo, Terzaghi definiu, sucessivamente, o grau de
adensamento local:

u o − u(z , t )
E 62 U z = (062)
uo

Compressibilidade e adensamento dos solos 25 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

Onde uo e u(z,t) designam, respectivamente, à profundidade z, o excesso de


poro-pressão inicial e ao tempo t, como mostrado na Figura 15. A Figura 15 mostra
também as variações das tensões efetivas e das poro-pressões para o tempo
imediatamente após o carregamento, t = 0, para um tempo t qualquer e para o final
do processo de adensamento, t = ∞.

Por integração da equação E 62 tem-se o grau de adensamento médio:

H H
1 1
∫ uo dz − ∫ u(z , t )dz
_ H0 H0
E 63 U = H
(063)
1
H ∫0
uo dz

E que pode ser escrita, considerando a equação E 60 onde uo é constante ao


longo de toda a espessura do solo, como:

⎡ ∞ 2 ⎤
( )
_
E 64 U = 1 − ⎢ ∑
2
2
exp − M T v ⎥ (064)
⎣m = 0M ⎦
onde:
(2m + 1)π
E 65 M = (065)
2

Fazendo, então, uso da hipótese da relação linear entre índices de vazios e


tensão efetiva, hipótese (7), Terzaghi concluiu que a equação E 64, além de fornecer
a variação do valor médio da tensão efetiva na camada de argila em função do
tempo fornece igualmente a variação do recalque total desta camada.

Compressibilidade e adensamento dos solos 26 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

uo = Δσ uo = Δσ uo = Δσ

z
Δσ´
u t=0 u(z,t) Δσ´t = ∞
H = 2 Hd

Δσ´t=0 = 0 Δσ´t=t = Δσ - u(z,t) Ut = ∞= 0


Figura 15 - Diagramas da distribuição do excesso de poro-pressão em função da

profundidade z, para o tempo t = 0, t = t e t = h.

1.9 Limites da validade e conseqüências das hipóteses da teoria de


adensamento

Considerando-se as 8 hipóteses enunciadas anteriormente que permitiram a


Terzaghi formular a equação geral de adensamento, equação E 49, e rescrita
abaixo, e considerando-se também sua solução E 63; é conveniente que um exame
dos limites da validade de cada uma dessas hipóteses e de suas conseqüências
seja feito para se chegar a uma solução satisfatória no caso de um problema real de
engenharia, caso se aplique a equação E 63:

1.9.1 Deformação unidimensional

A hipótese de deformação unidimensional, hipótese (1), trás como uma


vantagem evidente a não necessidade de se conhecer o coeficiente de Poisson do
solo, ν, sendo sua determinação sempre delicada e complexa. Esta hipótese permite
ainda, que a compressibilidade do solo seja conhecida através do módulo de
deformação medido no ensaio edométrico, ou seja, Módulo edométrico E = Δσv / Δεv.
Além disso, o cálculo dos recalques se torna, consideravelmente, mais simples, uma
vez que somente a componente vertical do tensor das tensões induzidas na

Compressibilidade e adensamento dos solos 27 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

fundação é considerada. De fato, esta hipótese implica necessariamente que, no


instante t = 0 se tenha:

E 66 Δu = Δσ (066)

Por conseqüência, o fenômeno do adensamento aplica-se a uma variação de


tensões efetivas de Δσ’v = 0 a Δσ’v = Δσv e, portanto, a totalidade do recalque
ocorrerá quando Δσ’v = Δσv.

Em obras de engenharia, o estado de deformação não é estritamente uniaxial.


Nestas condições, no instante t = 0, Δu ≠ Δσv e à equação E 11 se aplicará os
valores de Δσoct variando de valores da ordem de 0,7 a 0,9 de Δσv. Tem-se, portanto,

instantaneamente, um acréscimo da tensão efetiva vertical, Δσv’, da ordem de 10 a


30 % da carga vertical aplicada e, por conseguinte, um recalque instantâneo.

10

20

30

40
Uav (%)

50

60

70

80

90

100
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5
Tv

Figura 16 - Curva de porcentagem média de adensamento, Uav, versus o fator


tempo, TV.

Por terem conhecimento destes fenômenos, Skempton e Bjerrum (1957)


propuseram uma correlação do adensamento edométrico. Isto implica, igualmente,
que o fenômeno de adensamento não se aplicará à totalidade dos recalques
edométricos, mas somente à parte produzida por Δσv = Δσoct dito 70 a 80% da carga
vertical aplicada.
Compressibilidade e adensamento dos solos 28 / 69
CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

1.9.2 Solo saturado e incompressibilidade dos constituintes do solo.

As hipóteses (2) e (3), de saturação e de incompressibilidade dos elementos


do solo, permitem escrever que, ao instante t = 0, se tem em condições edométricas
Δu = Δσv. De maneira geral, é raro que os solos argilosos sejam perfeitamente
saturados por um líquido incompressível, sendo que, mesmo quando o solo
apresenta todos os seus vazios preenchidos por água, eles possuem certa
quantidade de gás, provenientes da decomposição de materiais orgânicos, que se
apresenta algumas vezes sob a forma de bolhas, e mais freqüentemente dissolvido
na água o que a torna compressível (Fredlund 1976).

Deste modo, para t = 0, pode-se produzir deformações volumétricas que


correspondem necessariamente a uma variação das tensões efetivas e, portanto das
pressões intersticiais iniciais inferiores aos valores teóricos da equação E 13. Este
fenômeno estudado por Magnan e Darcy (1977) conduz, portanto, a uma redução da
porção do recalque total regido pela teoria de adensamento.

1.9.3 Homogeneidade e invariabilidade das características como tempo.

As hipóteses que assumem a homogeneidade e a constância das


características do solo durante o adensamento, hipóteses (4) e (5), são necessárias
para a simplificação de cv constante na equação E 49, e assim permitir uma solução
mais simples e exata desta equação. Entretanto, infelizmente estas hipóteses se
afastam em muito da realidade. De fato, é muito raro se encontrar, na natureza, uma
camada de argila realmente homogênea. Por outro lado, se uma camada de argila,
inicialmente homogênea for carregada ela se tornará necessariamente heterogênea
durante o adensamento. A Figura 15 mostra o perfil do acréscimo de tensões
efetivas para um tempo t qualquer durante o adensamento de amostra de argila.
Nessa figura nota-se que durante o processo de adensamento, para um tempo t > 0,
os acréscimos das tensões efetivas nas faces drenantes tornam-se iguais aos
acréscimos da tensão total aplicada, estando ainda o centro da camada com
acréscimos bem próximos de zero. Assim sendo, essa distribuição não uniforme de
tensões efetivas tornaria a distribuição do índice de vazios também não uniforme e
conseqüentemente, um solo inicialmente homogêneo se tornaria heterogêneo

Compressibilidade e adensamento dos solos 29 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

durante o adensamento, pelo menos no que diz respeito ao índice de vazios e as


propriedades que dele dependem.

Quanto à consideração do coeficiente de adensamento constante, o exame


da forma deste coeficiente, equação E 67, mostra que cv tem pouca chance de ser
constante, uma vez que a permeabilidade e o coeficiente de deformação volumétrica
do solo variam durante o adensamento visto que são fortemente influenciados pelo
índice de vazios. O erro introduzido em supor que cv seja constante permanece
aceitável nos solos pré-adensados onde Cr (Cr = Δe/Δlogσ) é pequeno e onde as
propriedades do solo que dependem do índice de vazios são, portanto pouco
variáveis. Entretanto, quando a argila passa ao estado normalmente adensado, o
erro induzido em se considerar que cv é constante é significativo por causa das
variações consideráveis na permeabilidade e compressibilidade do solo.

K( 1 + e )
cv =
E 67 Δe (067)
γw
Δσ'

A solução de Terzaghi não caiu e nem cairá facilmente em desuso, pois ele
fornece, em um grande número de casos, uma solução relativamente simples e que
se aproxima bastante dos casos reais. Uma vez que esta hipótese é a que mais
limita a aplicação da formulação de Terzaghi para o adensamento, no final dos anos
60 e anos 70, várias modalidades de ensaios de compressão foram desenvolvidas e
ao mesmo tempo, a equação que descreve o adensamento foi reformulada segundo
as novas técnicas de ensaio e recursos computacionais disponíveis. Como exemplo
disso pode-se citar os ensaios a carregamento contínuo, como é o caso de ensaio
CRS e do ensaio CG, entre outros. Também nessa mesma época, a teoria das
deformações finitas aplicada aos solos foi desenvolvida, o que permitiu descrever,
de uma maneira mais realística, a compressibilidade do solo.

1.9.4 Validade da lei de Darcy e fluxo unidirecional.

A hipótese da validade da lei de Darcy e fluxo unidirecional, hipótese (6)


permite que a variação de volume em função do tempo seja expressa de forma
simples. Deve-se, evidentemente, ressaltar que embora a drenagem unidirecional

Compressibilidade e adensamento dos solos 30 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

seja fácil de ser reproduzida no edômetro ela é raramente encontrada nas fundações
de obras, geralmente, tem-se um escoamento bidimensional, portanto mais rápido.
Mais detalhes sobre essas considerações pode ser encontrado em Leroueil et al.
(1978). Deve-se destacar, ainda, que uma maneira de se considerar o fluxo bi ou
tridimensional é analisar o problema com ferramentas que fazem uso de métodos
numéricos.

Quanto à aplicação da lei de Darcy, surge ainda uma questão adicional. De


fato, a comportamento quanto à compressibilidade em função do tempo de um
extrato argiloso é analisado a partir, grande maioria dos casos, dos resultados
ensaio de compressão edométrica clássico (incremental), no qual os gradientes de
pressão gerados pelos incrementos de carga são extremamente elevados. Pode-se,
então, perguntar se os parâmetros assim medidos ou estimados, e, em particular, a
permeabilidade (por conseqüência o coeficiente de adensamento), podem ser
aplicados diretamente às situações de campo, onde os gradientes hidráulicos são de
100 a 1000 vezes menores que os de laboratórios.

Por outro lado, certos trabalhos têm sugerido que abaixo de um valor limite de
gradiente de pressão a lei de Darcy não seria aplicável (Hasbo, 1960), o que poderia
ter uma importância capital na fase final do adensamento. Entretanto, este fator não
é ainda claramente definido, merecendo um estudo mais detalhado.

1.9.5 Relação linear entre as tensões efetivas e as deformações.

A hipótese da existência de uma relação linear entre tensões e deformações


volumétricas, hipótese (7), intervém no desenvolvimento e na utilização da solução
de Terzaghi; de um lado ela permite passar das mudanças de volume às variações
de pressões intersticiais para transformar a equação E 28 até se chegar à equação
E 43; e por outro lado, é graças a ela que se pode assimilar a equação E 64, do grau
adensamento, à lei de variação de recalque total em função do tempo. Ora, esta
hipótese não é, em geral, verificada na natureza. Nota-se, por outro lado, que
mesmo Terzaghi fez uma hipótese contraditória a esta, quando ele assume uma
relação linear entre as deformações volumétricas e o logaritmo das tensões efetivas,
no cálculo dos recalques (Terzaghi e Peck, 1965).

Compressibilidade e adensamento dos solos 31 / 69


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1.9.6 Viscosidade estrutural.

Finalmente a hipótese (8), da ausência de toda a viscosidade da estrutura da


argila, é certamente contraria a realidade. A utilização de métodos numéricos tem,
entretanto, conduzido a uma simulação mais conveniente da superposição dos
adensamentos primário e secundário (Garlanger, 1972; Brucy, 1978).

Segue, portanto, claramente que as diferentes hipóteses necessárias ao


desenvolvimento da solução de Terzaghi não estão totalmente conforme ao
comportamento físico real de uma camada argilosa em adensamento. Por
conseguinte, esta solução deverá ser apenas uma aproximação.

1.10 Ensaios de compressibilidade

Dentre os parâmetros de compressibilidade que o engenheiro geotécnico


necessita para a execução de projetos e o estudo do comportamento dos solos,
destacam-se a pressão de pré-adensamento, σ’vm, o índice de compressão, Cc, e o
coeficiente de adensamento, cv. Atualmente, a obtenção desses parâmetros se dá a
partir de resultados de várias modalidades de ensaios de compressão do solo.
Esses ensaios de compressão podem ser agrupados, segundo a forma de aplicação
das tensões ou deformações, em dois grupos:

1. Ensaio a carregamento incremental.


2. Ensaio a carregamento contínuo.

1.10.1 Ensaio de compressão com carregamento incremental

Este ensaio de compressão edométrica, comumente denominado “ensaio de


adensamento convencional”, é o tipo mais antigo e mais conhecido para
determinação dos parâmetros de compressibilidade dos solos. O ensaio consiste na
compressão axial de um corpo de prova, confinado lateralmente, pela aplicação de
pressões verticais, com duração e razão de carregamento pré-definidas, comumente
com duração de 24 horas e razão de carregamento igual a Δp/p = 1.

Compressibilidade e adensamento dos solos 32 / 69


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1.10.1.1 Equipamento e procedimento de ensaio

1.10.1.1.1 Equipamento

A Figura 17 apresenta um esquema da célula de adensamento edométrico


incremental e a prensa utilizada nesse ensaio está apresentada na Figura 18. Além
da prensa apresentada nessa figura, são ainda necessários para a realização de um
adensamento edométrico incremental, os itens listados abaixo:

1. Célula rígida para confinamento da amostra.


2. Anel de moldagem, biselado.
3. Placa de topo ou cabeçote.
4. Pedras porosas.
5. Medidor de deslocamento.
6. Pesos.
7. Cronômetro.
8. Papel filtro.
9. Balança com sensibilidade de 0,01 g.
10. Cápsulas de alumínio.
11. Ferramentas de moldagem.

Figura 17 - Representação esquemática da célula de adensamento edométrica.

1.10.1.1.2 Procedimento

O procedimento de ensaio de compressão edométrica incremental segue as


seguintes etapas:

Compressibilidade e adensamento dos solos 33 / 69


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1. Moldagem do corpo de prova com a ajuda de um anel biselado para reduzir


as perturbações na amostra durante este processo;
2. Colocação do corpo-de-prova na célula rígida que deverá conter pedra porosa
na base para permitir a drenagem ou medida da poro pressão, tomando-se os
cuidados para manter constante o teor de umidade do corpo-de-prova;
3. Montagem, sobre o corpo-de-prova, da placa de topo, cabeçote, ou “top cap”,
que também deverá conter uma pedra porosa;
4. Ajuste da precisão e regulagem do extensômetro (medidor de deslocamento)
para medidas de deslocamento vertical;
5. Aplicação dos carregamentos verticais numa razão de carregamento igual à
Δp/p = 1;
6. O primeiro estádio de carregamento deverá ser no máximo 12,5 kPa, e no
mínimo 7 estágios de carregamento deverão ser aplicados ao corpo-de-prova;
7. Cada estágio de carregamento deve ter a duração de 24 horas.

Durante a realização de cada estágio de carregamento são feitas medidas de


compressão vertical da amostra em função do tempo, para os tempos de 0,1, 0,25,
0,5, 1, 2, 4, 8, 125, 30, 60, 120, 240, 480 e 1440 minutos. Com estes dados
constroem-se as curvas de recalque, ou seja, compressão versus o tempo. Com o
auxílio dessas curvas, determina-se o coeficiente de adensamento do solo por um
dos processos encontrados na literatura tais como: o método de Casagrande (escala
de logt) ou o método de Taylor (escala t ), como será descrito mais adiante.

Com o desenvolvimento do processo de adensamento, ocorre a dissipação das


poro-pressões na amostra. Considerando-se que o grau de adensamento da
amostra para um determinado fator tempo Tv é idêntico à porcentagem média de
dissipação da poro-pressão, no final do processo de adensamento ( U = 100 % ) o
acréscimo da tensão efetiva vertical ao longo de toda a espessura da amostra será
igual ao acréscimo de tensão total aplicada no topo da amostra, conforme mostra
Figura 15.

Compressibilidade e adensamento dos solos 34 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

Figura 18 - Prensa de compressão edométrica.

Com os valores de deformação, ao final de cada estádio de carregamento,


constrói-se uma curva da tensão efetiva versus a deformação produzida pelo
acréscimo desta tensão, como ilustrado pela Figura 19. Esta curva pode ser
apresentada de várias formas, tais como tensão efetiva vertical versus índice de
vazios, tensão efetiva vertical versus deformação volumétrica específica, dentre
outras formas.

1,00

A
eo B

Recompressão
0,75
Índice de vazios

Reta de compressão virgem


D
0,50
C
Descompressão

0,25
1 10 100 1000 10000
Tensão vertical (kPa)

Figura 19 - Curva de compressão edométrica de uma argila mole.

Compressibilidade e adensamento dos solos 35 / 69


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1.10.1.2 Curva de compressão, e versus log σ’, do ensaio de adensamento


edométrico incremental

A Figura 19 mostra a curva índice de vazios versus a tensão efetiva vertical


de um ensaio edométrico sobre uma argila mole. A amostra de argila, com índice de
vazios inicial, eo, sofre uma diminuição do seu índice de vazios à medida que a
tensão efetiva aplicada sobre ela aumenta. Quando a tensão atinge o valor de final
6400 kPa (ponto C da curva), as tensões são retiradas e a amostra apresenta uma
expansão ao longo da curva CD. Observa-se nesta figura três trechos distintos: o
primeiro trecho sub-horizontal, em que o solo apresenta pequenas deformações
quando as tensões aumentam até um valor limite de tensão a partir da qual as
deformações passam a serem significativas iniciando-se o segundo trecho da curva,
bastante inclinado, e aproximadamente linear, e o terceiro quase horizontal
corresponde à descompressão da amostra. O primeiro trecho é denominado de
recompressão tendo um comportamento mais ou menos elástico, o segundo,
apresentando deformações não mais recuperadas com o alívio das tensões é
denominado de compressão virgem e o terceiro de aproximadamente paralelo ao
primeiro representa o comportamento do solo quando descarregado. A inclinação do
trecho inicial é representada por Cr e é denominada de índice de recompressão, e a
inclinação do trecho de compressão virgem, representada por Cc, é denominada de
índice de compressibilidade. Os índices de recompressão e de compressão do solo
são apresentados abaixo:

Δe
E 68 Cr = − (066)
Δ log σ'

Δe
E 69 Cc = − (067)
Δ log σ'

A Figura 20 apresenta a curva de compressão edométrica de um solo na


forma de índice de vazios versus log σ’v de um ensaio com ciclos de carregamento e
descarregamento. Os pontos B, C e E representam a mudança de comportamento
elástico para o comportamento plástico, do solo.

Dependendo do estado de tensão em que o solo se apresenta, ele pode ser


considerado como, normalmente adensado ou pré-adensado. Se a tensão a ele

Compressibilidade e adensamento dos solos 36 / 69


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submetido, σ’vo , for a máxima tensão por ele já suportada, σ’vm, ou seja σ’vo = σ’vm,
trechos BC e CE na Figura 20, o solo é denominado normalmente adensado e para
a situação em que o estado de tensão atual é menor que a máxima tensão já
suportada pelo solo, (σ’vo < σ’vm) trechos AB e DC da Figura 20, o solo é dito pré-
adensado.

Com os estudos feitos por Leonards e Ramiah (1959), Hamilton e Crawford


(1959), Leonards e Girault (1961), Crawford (1964), Leonards e Altschaeffl (1964) e
Bjerrum (1967 e 1972) os quais investigaram principalmente a influência de diversos
procedimentos de carregamento (razão de carregamento, duração do estágio de
carga), grandes avanços foram dados para se conhecer os diversos processos que
influenciam a posição da curva e versus log σ’v.

1,00

A B
eo

0,75
Índice de vazios

D
C

0,50 F
E

0,25
1 10 100 1000 10000
Tensão vertical (kPa)

Figura 20 - Curva de adensamento edométrico com ciclos de carregamento e


descarregamento.

Estes estudos mostraram, com clareza que a posição da curva tensão efetiva
versus índice de vazios depende da velocidade de aplicação de carga, no caso do
ensaio incremental, depende da duração do estágio de carregamento. Assim, quanto

Compressibilidade e adensamento dos solos 37 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

maior for a duração da aplicação do incremento de carga, maior será o


deslocamento da curva e versus log σ’v, para baixo e para a esquerda, tal como é
ilustrado na Figura 21.

1,6
3 a nos
Se dime nta çã o
30 a nos
300 a nos
σ ' vo eo
3000 a nos
1,5
Índice de vazios

σ ' vm
1,4
e1

Ca rre ga me nto rá pido

1,3 Índice de va zios de e quilíbrio a


dife re nte s te mpos de
ca rre ga me nto

1,2
10 100 1000
Tensão vertical (kPa)

Figura 21 - Efeito da duração do carregamento sobre a curva de compressibilidade


de um solo.

Um estágio de carregamento de longa duração produz no solo uma mudança


de estrutura devido à compressão secundária. Para ilustrar esse efeito, é necessário
considerar o estado de tensão de um depósito argiloso recente, ou seja,
normalmente adensado. Essa depósito apresenta sob uma tensão efetiva vertical,
σ’vo, um índice de vazios, eo. Se uma amostra desse depósito for extraída e em
seguida adensada no laboratório, essa amostra apresentará uma tensão de pré-
adensamento, σ’vm, igual a tensão vertical de campo, σ’vo.

Por outro lado, se este depósito permanecer estável por milhares de anos sob
esta tensão σ’vo, ele continuará a se deformar e apresentará um índice de vazios e1
menor que eo. Se uma amostra desse depósito for extraída e recomprimida no
laboratório, o valor da tensão de pré-adensamento nessa situação será maior que a
tensão vertical de campo, como ilustrado na Figura 21. Neste caso σ’vm é

Compressibilidade e adensamento dos solos 38 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

denominado por Leonards e Altschaeffl (1964) de tensão de quase pré-


adensamento, e de tensão crítica por Bjerrum (1967).

Crawford [1964] apresentou resultados em que a tensão de pré-adensamento,


σ’vm, pode ter seu valor reduzido à metade, dependendo da velocidade de aplicação
de carga, como mostrado na Figura 22. Os resultados apresentados por Crawford
[1964] mostram uma redução de σ’vm igual à 260 kPa ao final do adensamento
primário para σ’vm igual à 130 kPa para carregamento de uma semana de duração.

Os diversos mecanismos que provocam no solo o efeito de pré-adensamento


sobre o solo são apresentados por Ladd [1971] e aqui resumidos na Tabela 1.

Leonards e Altschaeffl [1964] encontraram para um grande número de


depósitos de argilas normalmente adensadas para os quais as tensões de pré-
adensamento obtidas a partir de ensaios de laboratório eram 40% maior que as
tensões de verticais de campo.

Compressibilidade e adensamento dos solos 39 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

-5
σ 'vm
0

10
ε (% )

15

20
σ 'vm
(kPa)
ao fim do primário 260
25
ao fim de um dia 181
ao fim de uma semana 130

30
10 100
σ 'v (kPa)
1000 10000

Figura 22 - Efeito da duração de carregamento sobre a tensão de pré-


adensamento (segundo Crawford, 1964).

1.10.1.3 Determinação da tensão de pré-adensamento

Existem na literatura vários métodos para a determinação da tensão de pré-


adensamento, aqueles que serão utilizados neste trabalho são apresentados a
seguir:

1.10.1.3.1 Método de Casagrande

A determinação da tensão de pré-adensamento pelo método de Casagrande


apresentado por Taylor [1948] pode ser feita através da curva índice de vazios
versus a tensão efetiva vertical, na escala logarítmica, ou seja, a curva
e versus log σ’v Sobre essa curva, estima-se o ponto de maior curvatura (ponto A na
Figura 23) e através deste ponto, traça-se uma horizontal (H) e uma tangente (T) à
curva. Marca-se em seguida a bissetriz (B) do ângulo formado entre a horizontal (H)
Compressibilidade e adensamento dos solos 40 / 69
CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

e a tangente (T). A abscissa do ponto de interseção da bissetriz com o


prolongamento da reta virgem representa a tensão de pré-adensamento, σ’vm.

Tabela 1 – Mecanismos que causam o efeito de pré-adensamento no solo – Ladd,


1971.

Mecanismos Referências e Observações


Mudança na tensão total:
¾ . Remoção da sobrecarga
¾ . Estruturas anteriores
¾ . Glaciação
Mudança na poro-pressão devido à Keney (1964)
mudança do N.A.: Áreas Glaciais
¾ . Pressões Artesianas Várias regiões
¾ . Bombeamento Durante a deposição
¾ . Dessecação
Mudança na estrutura do solo devido à Raju (1965); Leonards e Ramiah (1960)
compressão secundária. Leonards e Altschaeffl (1964);
Bjerrum (1967, 1972)
Mudanças ambientais, tais como pH, Lambe (1958)
temperatura e concentração de sal.
Alterações químicas devido ao Bjerrum (1967)
intemperismo, precipitação de agentes
cimentantes, troca de íons.
Mudança de velocidade de deformação Lowe (1974)
durante o carregamento.

1.10.1.3.2 Método de Pacheco Silva

Para se determinar a tensão de pré-adensamento pelo método de Pacheco


Silva (1970), o seguinte procedimento é seguido: Na curva índice de vazios versus a
tensão efetiva vertical, e versus log σ’v traça-se uma reta horizontal passando pelo
índice de vazios inicial, eo. Prolonga-se a reta virgem até interceptar a horizontal por
eo, ponto A na Figura 24. Pelo ponto A é traçada uma vertical até interceptar a curva
de compressão no ponto B, e por esta interseção traça-se uma horizontal. A
abscissa da interseção dessa horizontal com o prolongamento da reta virgem, ponto
C na Figura 24, representa a tensão de pré-adensamento, σ’vm, determinada pelo
método de Pacheco Silva.

Compressibilidade e adensamento dos solos 41 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

0,90

H
0,80 B
A T
índice de vazios

0,70

0,60

0,50

0,40
10 100 σ'vm 1000 10000

Tensão vertical (kPa)

Figura 23 - Construção gráfica para a determinação da tensão de pré-


adensamento segundo o método de Casagrande [1936]

1.10.1.3.3 Método de Pacheco Silva modificado

Este método, proposto por Martins (1983), é semelhante ao método de


Pacheco Silva [1970], porém utiliza a curva log (1 + e) versus log σ’vo, para
representar a compressão do solo. Ela e recomendada no caso em que o trecho de
compressão virgem não é linear na curva e versus log σ’vo .

Compressibilidade e adensamento dos solos 42 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

0,90
A
eo
C

0,80
B
Índice de vazios

0,70

0,60

0,50

0,40
10 100 1000 10000
σ'vm
Tensão vertical (kPa)

Figura 24 - Construção gráfica para a determinação da tensão de pré-


adensamento segundo o método de Pacheco Silva [1970]

1.10.1.3.4 Outros métodos

Janbu (1969) sugere determinar a tensão de pré-adensamento através do


ponto de mudança brusca de inclinação da curva do módulo edométrico versus
tensão efetiva vertical. Define-se módulo edométrico Eed como:

Δσ 1,
E 70 E ed = (068)
Δε 1

Onde Δε1 é a variação de deformação específica vertical devido à variação de


tensão efetiva vertical, Δσ 1, .
Burmister (1951) e Schmertmam (1955) apresentam métodos para a
determinação da tensão de pré-adensamento. Para o emprego desses métodos, é
Compressibilidade e adensamento dos solos 43 / 69
CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

necessário que se tenha um ciclo de descarregamento e recarregamento no ensaio


de adensamento.

1.10.1.4 Determinação do coeficiente de adensamento

O coeficiente de adensamento de uma camada argilosa, cv, determina a


velocidade na qual um solo se deforma quando solicitado por acréscimo de tensão,
Δσ. Pela equação (056) pode-se ver que para um mesmo solo, quanto maior a
permeabilidade do solo, mais rápido se dará o adensamento, pois cv será maior. Por
outro lado, quanto mais compressível for o solo, tanto maior será o tempo necessário
para que o adensamento se processe totalmente, uma vez que maior quantidade de
água terá que sair da massa de solo, e assim o solo apresentará menor cv,
Figura 11 e Figura 12

Com os dados obtidos de um ensaio de adensamento edométrico


incremental, o coeficiente de adensamento do solo pode ser obtido através de vários
métodos, descritos abaixo.

1.10.1.4.1 Métodos de Taylor e de Casagrande

Os métodos de Taylor e de Casagrande são os mais conhecidos e


comumente empregados para a determinação do coeficiente de adensamento.

A solução da equação diferencial de adensamento de Terzaghi (Taylor, 1948)


fornece uma função u(z,t), que é a função de distribuição do excesso de poro
pressão ao logo da espessura camada de solo para um tempo t qualquer.

_
O valor do grau médio de adensamento, U (equação E 64), pode ser
expresso com excelente aproximação pelas seguintes equações empíricas:

2
⎛ _ ⎞
π⎜ U ⎟
E 71 Tv = ⎜ ⎟ para U < 60 % (069)
4 ⎜ 100 ⎟
⎝ ⎠

⎛ _⎞
E 72 Tv = 1,781 − 0,933 log ⎜ 100 − U ⎟ para U > 60 % (070)
⎜ ⎟
⎝ ⎠
Compressibilidade e adensamento dos solos 44 / 69
CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

Nestes dois métodos a determinação de cv é feita utilizando-se de ajustes da


curva deformação versus tempo obtida do ensaio de adensamento edométrico
incremental. Ambos métodos utilizam-se de propriedades características e distintas
da curva teórica de adensamento de Terzaghi, ou seja, da semelhança da curva real
de deformação versus tempo (em suas respectivas escaladas de tempo) com a
curva teórica U versus Tv.

1.10.1.4.1.1 Método de Taylor

Segundo o método de Taylor, os dados de deformação devem ser traçados


em uma escala aritmética versus a raiz quadrada do tempo, sendo desta forma
também chamado de “Método da raiz de t”.

Pela equação (3) pode-se ver que se traçando os dados de deformação


versus tempo na escala raiz de t, a fase inicial do adensamento (U < 52,6 %) será
linear e pode ser rescrita na forma U = 1,128 Tv . Esta equação é representada na

Figura 25 pela reta doq. O valor correspondente da raiz de Tv para U = 90% segundo

a equação (3) é Tv = 0,798 . Por outro lado, pela equação (4) Tv = 0,848 para
U = 90, sendo desta forma Tv = 0,921 . A razão desses dois valores de Tv é

0.921/0,798 = 1,154, que foi tomado com 1,15.

O método de Taylor consiste em se determinar o início, do, do adensamento,


através de um ajuste fase linear da curva de adensamento. O início do adensamento
é determinado pela interseção da fase linear, extrapolada, com o eixo das
deformações, como mostrado na Figura 25. Uma segunda reta com abscissa 1,15
vez maior do que a reta da fase linear e traçada, pr = 1,15 pq. Essa segunda reta
intercepta a curva de compressão de laboratório no ponto A, onde U = 90 %. A
abscissa do ponto A é t 90 .

Com o valor de t90 e T90 = 0,848 (fator tempo para U = 90 %) o coeficiente de


adensamento do solo pode ser determinado como se segue :

Hd2
E 73 cv = 0,848 (071)
t 90

Compressibilidade e adensamento dos solos 45 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

O valor de Hd a ser utilizado na equação E 73 é a máxima distância de


drenagem a 50 % de deformação, ou seja, é a média de Hd para o início e o fim do
estádio de carregamento.

l0

d0
Extensômetro (mm)

A
d90

p q r
pr = 1,15 pq

t90
√ t (√ min)

Figura 25 - Curva de recalque na escala da raiz do tempo para a determinação de


cv pelo método de Taylor, 1942.

1.10.1.4.1.2 Método de Casagrande

Para a utilização do método de Casagrande para a determinação do


coeficiente de adensamento é necessário que os resultados de deformação sejam
traçados em uma escala aritmética sendo o tempo representado na escala
logarítmica, por este motivo, este método é também chamado de “Método log t”.

Casagrande, em seu método, corrige a deformação elástica inicial


determinando-se o foco da parábola da equação E 71 que representa 0% do
adensamento primário. A determinação do foco desta parábola no gráfico da
deformação versus log t, ou seja, inicio do adensamento, é feita tomando-se dois
tempos, t1 e t2, tal que t2 = 4t1. Em seguida, a diferença de deformação entre t1 e t2,
distância vertical entre P e Q, é subtraída do valor da deformação correspondente ao

Compressibilidade e adensamento dos solos 46 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

tempo t1, ponto P, como mostrado na Figura 26. O final do adensamento primário é
determinado através da interseção da fase linear da curva de recalque com o
prolongamento da fase de compressão secundária, ponto T na Figura 26. Com a
média dos valores de 0 % e 100 % de adensamento calcula-se a deformação para
50% do adensamento e determinar-se à partir da curva de adensamento o tempo t50,
que representa o tempo necessário para transcorrer 50 % do adensamento,
conforme indicado na Figura 26. Com os valores de t50, T50 = 0,197 e Hd
correspondente a 50 % de deformação calcula-se, então, cv pela equação E 74.

H d2
E 74 cv = 0,197 (072)
t 50

1.10.1.4.1.3 Comentários sobre os dois métodos

Ambos os métodos apresentam imperfeições em suas construções, haja vista


a discrepância entre os resultados apresentados pelos dois métodos, com uma
tendência do método de Taylor fornecer valores de 1,5 a 2 vezes maior que o
método de Casagrande. Os erros que podem advir das construções de Casagrande
e Taylor estão relacionados com as correções da curva deformação : tempo em suas
respectivas escalas. Estes problemas se devem ao número discreto de pontos da
curva deformação : tempo obtida no ensaio incremental, o que pode produzir
diferenças dependendo de quem interpreta o ensaio e também a influência da
compressão secundária, visto ser este efeito mais pronunciado na fase final do
adensamento primário, uma vez que dependendo do tipo de solo pode ocorrer uma
significativa superposição do adensamento primário com a compressão secundária.

Compressibilidade e adensamento dos solos 47 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

d0 R S
x

P x d50 = (d0 + d100) / 2

Q
Extensômetro (mm)

d50 V

d100 T

t1 t2 = 4t1 t50
Tempo - log (min)

Figura 26 - Curva de recalque, método do logaritmo do tempo (Casagrande)

As imperfeições devido à utilização do método de Taylor referem-se a não


correção do efeito da compressão secundária. O bom desempenho do método de
Casagrande depende da determinação do ponto inicial do adensamento. Uma
desvantagem adicional deve-se ao fato de ambos os métodos serem de construção
gráfica, o que torna difícil automatizá-los (Parkin, 1981).

A despeito destes inconvenientes, estes dois métodos são os mais usados,


parecendo existir certa preferência pelo método de Casagrande quando a curva de
recalque apresenta a forma convencional apresentada na Figura 26 (Ladd e outros,
1977).

Quando a dificuldade da utilização do método de Casagrande esta


relacionada à determinação de do, Head [1981] sugere determiná-lo através do
gráfico da raiz do tempo e transferi-lo para o gráfico log t, caso o final do
adensamento, d100 ou ponto T na Figura 26, pode ser determinado. O emprego do
método de Taylor é prejudicado, pois a definição de d90 não é muito clara devido à

Compressibilidade e adensamento dos solos 48 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

proximidade da reta OC, Figura 25, com a curva de compressão de laboratório o que
dificulta a definição do ponto de interseção.

1.10.1.5 Críticas ao ensaio

A análise cuidadosa do ensaio de compressão edométrica incremental tem


levado os pesquisadores à elaboração de novas técnicas de ensaios visando
solucionar ou amenizar os problemas encontrados da utilização dessa técnica de
ensaio.

Crawford (1964) fez uma análise criteriosa do ensaio incremental tendo


chegado à seguinte conclusão:

Há evidências de que a previsão dos recalques por adensamento através de


parâmetros obtidos de ensaios de adensamento incremental, nem sempre, é
satisfatória. Verificou-se também que a diferença entre a velocidade de deformação
de campo e de laboratório e a compressão secundária têm grande influência nos
resultados dos ensaios.

Apresenta-se na Figura 22 a influência do adensamento secundário sobre os


valores da tensão de pré-adensamento. Verifica-se nesta figura que as três amostras
estão submetidas a diferentes quantidades de compressão secundária dando aos
diferentes períodos de duração dos estágios de adensamento. Quanto maior for o
período de duração do estágio menor será o valor de Rp.

A velocidade de deformação nos ensaios convencional pode chegar a milhões


de vezes a velocidade de deformação de campo. Este resultado também foi obtido
por Leroueil et al. [1983]. Esse fator muda a forma das curvas de recalque e de
compressão do solo e por conseguinte, os parâmetros de compressibilidade do solo,
obtidos desses ensaios (σ’vm, Cc e cv, principalmente), diferem dos respectivos
valores obtidos no campo.

Leonards e Girault (1961) realizaram um estudo dos fatores que influenciam o


resultados dos ensaios de compressão, e observaram que:

Compressibilidade e adensamento dos solos 49 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

1. A razão de carregamento Δp/p influência a forma da curva deformação versus


log t, como mostrado na figura XX. Quando maior Δp/p a curva ΔH : log t se
aproxima da curva característica de da teoria de adensamento unidimensional
de Terzaghi.
2. Quanto menor for Δp/p maior será a influência do adensamento secundário.
Este fato está mostrado na figura XXX onde estão indicados valores de
Cα / R100 versus Δp/p (onde Cα é o adensamento secundário por ciclo
logaritmo do tempo e R100 é o adensamento primário). Os resultados
apresentados foram obtidos em ensaios com amostras indeformadas da argila
da Cidade do México.
3. O atrito entre as paredes do anel de adensamento convencional e a amostra
de solo pode afetar significativamente os resultados dos ensaios. O
desenvolvimento do atrito é função da velocidade de deformação e da
velocidade de dissipação do excesso da pressão intersticial, como pode ser
verificado na figura XXX.
4. Só é possível determinar a velocidade de dissipação das poro-pressões pela
teoria de adensamento de Terzaghi se cv for obtido a partir de ensaios de
compressão com razão de carregamento suficientemente alta.

Tendo em vista o procedimento de carregamento adotado no ensaio


convencional (Δp/p=1), as amostras são submetidas a carregamentos instantâneos,
crescentes com o desenvolvimento do ensaio e que podem provocar o amolgamento
das amostras. Além disso, a aplicação de incrementos altos de carga induz a uma
distribuição não uniforme de poro-pressões e elevados gradientes. Isto contribui para
a modificação dada estrutura do solo.

Além das críticas já apresentadas, o ensaio edométrico convencional apresenta


uma grande desvantagem prática por ser um ensaio demorado (2 a 3 semanas), e
não permitir medidas rápidas dos parâmetros de compressibilidade do solo.

Compressibilidade e adensamento dos solos 50 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

1.11 Noções sobre a compressão secundária. (Tese-MSc. Luiz Otavio Martins


Vieira – 1988)

Compressão secundária corresponde à variação adicional de volume que se


processa após a total dissipação do excesso da poro-pressão gerado por um
acréscimo de tensão. Estas deformações podem ser atribuídas às acomodações que
ocorrem entre as partículas e suas interligações, sob as tensões impostas ao solo,
essas acomodações interpartículas, originadas por deformações visco-elásticas da
fase sólida, são também chamadas de viscosidade estrutural, fluência ou “creep”,.

Vários são os fatores que influenciam a compressão secundaria, os principais


são discutidos a seguir.

1.11.1 Tempo

Segundo MESRI (30) a variação do coeficiente de compressão secundária


com o tempo não pode ser estabelecida, mesmo que o ensaio leve alguns anos,
além do limite de tempo os resultados de tais ensaios são limitados por alguns
fatores que podem produzir alterações físico-químicas nas amostras tais como
cimentação e crescimento de bactérias. Além disso, as condições de carregamento
de laboratório podem mudar com o tempo aumentando o atrito lateral entre a
amostra e o anel ou flutuações na temperatura podem fazer com que haja variações
no diâmetro do anel provocando variação na tensão horizontal.

Não há, entretanto, como negar que Cα decresça com o tempo. Se isso não
ocorrer não é difícil mostrar que existirá um tempo tal que, a partir daquele instante,
o índice de vazios torna-se menor que zero, o que é absurdo.

1.11.2 Tensão de Adensamento

A relação entre o coeficiente de compressão secundária e a tensão do


adensamento não é clara por diversas razões. A primeira razão se prende ao fato de
que os diversos autores usam maneiras diferentes para definir a velocidade da
compressão secundária. A Segunda razão diz respeito ao fato da tensão vertical
efetiva, sob a qual é feita a medida do coeficiente de compressão secundária, ser
aplicada de diferentes maneiras.

Compressibilidade e adensamento dos solos 51 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

MESRI (30) executou uma série de ensaios de compressão edométrica numa


argila orgânica sedimentada em laboratório. Os corpos-de-prova foram carregados
com relações incrementais Δp/p0 = 1 e cada estádio de carga tiveram somente
duração suficiente para que ocorresse o adensamento primário. Os corpos-de-prova
normalmente adensados foram então submetidos a tensões finais diferentes que
permaneceram por seis meses. Os resultados destes ensaios mostraram o
decréscimo do coeficiente de compressão secundária com a tensão normal efetiva.

1.11.3 História de Tensões

Há concordância geral de que o sobreadensamento faz decrescer de forma


marcante o coeficiente Cα. Com respeito à influência da razão de sobre-
adensamento (OCR) vale notar que o comportamento de Cα é similar ao do índice
de compressão Cc, isto é, Cα aumenta com a tensão de compressão atingindo um

máximo numa faixa entre 5 σ’vm e 30 σ’vm para daí em diante decrescer com σ’vm.

A Figura XXX mostra a variação do coeficiente de compressão secundária Cαε

com a relação σ’v/σ’vm para alguns solos. Os dados correspondem a carregamentos


iniciais em amostras indeformadas de boa qualidade ou a ciclos de descarga-
recarga que se realizam a partir de tensões imediatamente superiores a tensão de
sobreadensamento. Observa-se na Figura XXXX, como mencionado, o decréscimo
marcante de Cαε com OCR.

Dentro deste item é importante ressaltar os efeitos de um carregamento


temporário sobre o fenômeno do adensamento, sobre o assunto parece não haver
um apanhado melhor do que o de JOHNSON (13).

FIGURA III.9

Um número limitado de ensaios (JOHNSON in MORAN et alli, [34]) indica que


dois efeitos estão associados ao carregamento temporário como indicado
esquematicamente na Figura III.10. Esta figura apresenta os resultados
correspondentes ao mesmo estágio de carga de quatro ensaios distintos de
adensamento edométrico. Num tempo trc (tempo de remoção de carga), maior que o
tempo necessário ao adensamento primário, t100, mantém-se em um dos ensaios, a

Compressibilidade e adensamento dos solos 52 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

carga aplicada. Nos outros três ensaios, retiram-se também no tempo trc, diferentes
parcelas da carga atuante. Para um período de tempo após a retirada parcial da
carga, observa-se pouca ou nenhuma compressão secundária, ocorrendo
eventualmente, um inchamento (que não está representado na Figura III.10).
Decorrido certo período de tempo, a compressão secundária reaparece, agora,
porém com uma velocidade menor que a que ocorre com a amostra que não sofreu
alívio de carga. O intervalo de tempo após o alívio da carga, durante o qual não há
compressão secundária, é maior quanto maior for o valor da parcela de carga
retirada, ou seja, quanto maior a razão de sobreadensamento. Além disso, quando a
compressão secundária reaparece, o coeficiente de compressão secundária Cα é
tanto menor quanto maior tiver sido o alívio de carga.

1.11.4 Índice de Compressão

O coeficiente de compressão secundária é maior nos solos que apresentam


maior índice de compressão e, dentre os solos com mesmo índice de compressão,
têm Cα maior os solos que se situam abaixo da linha A do gráfico de plasticidade de
Casagrande.

FIGURA III.10

1.11.5 Amolgamento

O amolgamento de uma amostra modifica a estrutura do solo, estrutura esta


que depende da composição e da físico-química dos solos. O amolgamento, de
forma geral, provoca o decréscimo do coeficiente de compressão secundária. Além
disso, as amostras indeformadas estão sujeitas a uma maior compressão secundária
que as amostras amolgadas. Observa-se que o coeficiente de compressão
secundária de uma amostra amolgada cresce com a tensão efetiva até um
determinado nível de tensão, onde, dependendo da composição do solo e da
umidade, atinge um máximo decrescendo daí em diante e se aproximando dos
valores de Cα de uma amostra indeformada da mesma argila.

Compressibilidade e adensamento dos solos 53 / 69


CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

1.11.6 Duração do Carregamento Anterior

Parece também haver concordância geral quanto à influência da duração de


um estádio de carga sobre o valor do coeficiente de compressão secundária medido
no estádio de carregamento subseqüente. A influência do estádio de carga sobre o
coeficiente de adensamento secundário é similar ao efeito provocado pela pré-
compressão. Sabe-se que o adensamento secundário gera um efeito de sobre-
adensamento efeito este que é mostrado através de uma falsa tensão de sobre-
adensamento, indicado na Figura 21 por σ’vm, conhecida pelo nome de tensão crítica
(BJERRUM (4)) ou tensão de quase-pré-adensamento (LEONARDS &
ALTSCHAEFFL) (23)). Se após o estágio de carga de longa duração o incremento
de tensão for tal que não ultrapasse a tensão de quase-pré-adensamento o
coeficiente de compressão secundária será muito menor do que os correspondentes
às tensões que ultrapassam a tensão de quase-pré-adensamento.

1.11.7 Tensões Cisalhantes

A presença de tensões cisalhantes segundo MESRI (30) influencia a


velocidade da compressão secundária sem ser, entretanto, o fator que a governa,
desta forma parece não haver distinção, segundo MESRI (30), entre as diversas
formas de carregamento.

LADD & PRESTON (19) estudando o problema, concluíram que estados de


tensão (com simetria axial) em que as tensões cisalhantes são inferiores às
existentes no adensamento edométrico terão pouco efeito na velocidade de
compressão secundária.

KAVAZANJIAN & MITCHELL (14) e LACERDA & MARTINS (18) acreditam


ser a existência de tensões cisalhantes a causa do fenômeno compressão
secundária. Tais autores defendem ainda que no adensamento edométrico as
tensões cisalhantes devem se dissipar com o tempo fazendo com que o coeficiente
de empuxo no repouso Ko tenda a 1.

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CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

1.11.8 Razão Incremental de Carregamento

A maioria dos pesquisadores parece ser de opinião de que o coeficiente de


compressão secundária é independente do incremento de tensão vertical ou da
razão de incremento da tensão vertical. Na opinião de Mesri (1973) a influência
deste fator e mesmo da velocidade de carregamento precisa ser investigada. Esta é,
aliás, uma questão importante especialmente no que tange à aplicação de ensaios
de laboratório a problemas de campo onde a velocidade de carregamento e as
condições de drenagem podem ser substancialmente diferentes das condições de
laboratório.

1.11.9 Temperatura

MITCHELL (33) na “The Rate Process Theory” prevê um aumento na


velocidade de “creep” com o aumento da temperatura. Entretanto, poucos dados
existem para a comprovação desta assertiva.

LADD (20) é de opinião que o aumento de temperatura provavelmente


aumenta o coeficiente de compressão secundária Cα mas salienta que esse efeito é
pequeno se comparado com outros fatores que influenciam Cα.

LO (25) indica que a temperatura pode alterar o formato das curvas de


compressão secundária.

MESRI (30) analisando resultados obtidos por HABIBAGAHI (10) ressalta que
tem se dado mais importância à temperatura do que ela realmente merece. Para
reforçar esta afirmativa apresenta dados obtidos a partir de uma amostra de argila
moldada em laboratório em que o coeficiente de compressão secundária se mostra
independente da temperatura. MESRI (30) descreve ainda que durante a
compressão secundária num dos corpos de prova a temperatura foi elevada de 25ºC
e então mantida por diversos dias. Houve uma compressão imediata, mas, após
poucos dias, o coeficiente de compressão secundária é 50º C atingiu o mesmo valor
que possuía a 25º C. A única influência que a temperatura teve sobre a argila
ensaiada foi a de acelerar o adensamento primário devido aparentemente à
diminuição da viscosidade da água.

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CIV 333 – Mecânica dos Solos II – Notas de aula

O autor é de opinião que mais estudos são necessários no sentido de melhor


se conhecer a influência da temperatura sobre ao adensamento secundário.

1.11.10 Vibração

LO (25) apresenta dados de um ensaio de adensamento em que o efeito de


vibração se mostra através de deslocamentos abruptos da curva de compressão. É
interessante observar, entretanto, que o formato da curva se mantém.

1.12 Bibliografia

KAVAZANJIAN & MITCHELL (14) e LACERDA & MARTINS (18)


Mesri (1973)
MESRI (30)
LO (25)
LADD (20)
HABIBAGAHI (10)
LO (25)
JOHNSON in MORAN et alli, [34])
LADD & PRESTON (19)

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