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Materiais e Tecnologias de Fabrico

Comportamento elástico dos


materiais

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2022/2023
O Comportamento elástico dos materiais

• todos os sólidos se deformam quando


submetidos a esforços externos.
– O que é elasticidade?
– Propriedade intrínseca?
– Desejável em todas as aplicações?
– Ajustável? Como?
O comportamento elástico dos materiais

• todos os sólidos se deformam quando submetidos a


esforços externos.
– até uma certa carga limite, quando a carga é retirada o corpo
recupera as suas dimensões iniciais (a deformação é reversível) —
comportamento elástico.
– limite elástico: é a carga limite para além da qual o material deixa
de se comportar elasticamente.
– se o limite elástico for ultrapassado, o corpo fica permanentemente
deformado, mesmo depois de retirada a carga: diz-se que sofreu
uma deformação plástica (irreversível) e que tem um
comportamento plástico.
Energia da deformação

• a deformação envolve energia, e as várias naturezas dos


materiais correspondem aos diversos modos como
armazenam ou dissipam essa energia:
– um componente ou estrutura, feito com um determinado material e dotado
de uma certa forma, comporta-se como um acumulador de energia
(elástico), ou um dissipador de energia (plástico), ou uma combinação de
ambos.
– módulo de elasticidade: mede a resistência de um material à deformação
elástica.
– materiais com um módulo baixo são flexíveis (complacentes) e
experimentam grandes deflexões quando se lhes aplica uma força.
– materiais com um módulo elevado são rígidos e resistem à deformação.
Estado de tensão
• Considere-se um bloco de material ao qual se aplica uma força F
perpendicularmente a uma das faces de área A.
Exemplos de estados de tensão
Exercício 1
Calcule a tensão aplicada perpendicularmente à face de um cubo de 1 m de lado
por uma força de 100 N?
E se for de 100 kgf?
Exercício 2
Calcule a força que tem que exercer num corpo de 10 m2 de área para gerar
tensão de 1 kPa? E se o corpo for mais pequeno (área = 1 cm2)?
Relações entre tensão e extensão

Extensão nominal Distorção Dilatação


n=u/l  = w/l = tg  ≈   = V/V
razão de Poisson ( pequeno) (extensão volúmica)
= - v/u
Leis da elasticidade

• Os materiais respondem à tensão deformando-se.

– ao ser retirada a tensão, o material recupera


totalmente as suas dimensões geométricas
originais.
– Das leis da Elasticidade, a mais simples é a
lei de Hooke (1674)
“Ut tensio, sic vis” (tal força, tal deformação):
• a deformação é proporcional à força: o material
deforma-se proporcionalmente à força,
acumulando energia elástica;
• quando a força é retirada, o material liberta a
energia acumulada e volta à sua forma original.
Relações entre tensão e extensão
• A lei de Hooke não implica que todos os materiais elásticos
apresentem uma relação linear entre carga e deformação:
– todos os materiais que obedeçam à lei de Hooke são elásticos, mas nem todos
os materiais elásticos obedecem à lei de Hooke;
– um corpo elástico não tem necessariamente que obedecer à lei de Hooke, i.e.
não tem que ter uma relação linear entre tensão e deformação.

• Os módulos elásticos são as constantes de proporcionalidade da


Lei de Hooke.
– Módulo de Young, E (=En)
– Módulo de Distorção ou de deslizamento, G ( = G)
– Módulo de Compressibilidade, K (p = _ K,  = ΔV/V)
– Razão de Poisson, 
Propriedades mecânicas

Coeficiente de Poisson, 

Quando uma força é aplicada a um provete, este vai


deformar na direção axial (zz)

Simultaneamente, vai também existir deformação na


direção transversal (xx) do provete

A razão entre a deformação axial e transversal é


dada pelo coeficiente de Poisson.

𝒙
=−
𝒛 sólidos:  = 0,1-,03
Líquidos:  = 0,5 12
Propriedades mecânicas
Coeficiente de Poisson, 
Valores típicos para diferentes materiais:

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Retirado de: https://www.engineeringtoolbox.com/poissons-ratio-d_1224.html


Relações entre tensão e extensão
• Os conceitos de rigidez e flexibilidade usados na linguagem do dia-a-dia
traduzem de uma forma qualitativa o comportamento elástico dos materiais:

– sólido rígido (e.g., aço): a sua deformação


é mínima, mesmo quando sujeitos a
tensões elevadas, devido a um módulo de
Young elevado;

– sólido flexível (e.g., borracha): facilmente


deformável, recuperam a forma original
quando se remove a carga que causou a
deformação.

– os primeiros são sólidos elásticos lineares,


os segundos são elásticos não lineares e
não obedecem à lei de Hooke.

– sólidos anelásticos (e.g., fibra de vidro):


dissipam uma parte da energia de
deformação que lhes é conferida, o que se
costuma descrever por capacidade de
amortecimento.
F Elasticidade
A
Ao Conceitos de tensão e extensão
Tensão à tração ou compressão = força/área:
Lo
 = F/A  F/Ao

Extensão = variação relativa de comprimento, na


direção da força aplicada:

  L/Lo
 =Eε
Coeficiente de Poisson

Elasticidade

Lei de Hooke:

z = z/E
x = - z/E
Sendo E o módulo de Young
e  a razão de Poisson (= -εx/εz)

Considera-se que a tensão e a extensão são negativas


quando o material se encontra à compressão!
Exercício 3
Calcule a deformação ou extensão correspondente a aumento de 0,1 cm num
corpo cujo comprimento inicial era de 1 cm, antes de ser tracionado?
Exercício 4
Calcule o comprimento final de uma amostra, cujo tamanho inicial era de 1 m, e
que sofreu 1% de deformação por aplicação de esforço de tração? E se o esforço
for de compressão?
Valores de módulo de Young, E
Material E (GPa) Material E (GPa)
Diamante (C) 1 000 Alumínio (Al) e suas ligas 69-79
Carboneto de silício (SiC) 450 Prata (Ag) 76
Alumina (Al2O3) 390 Vidro comum 69
Carboneto de titânio (TiC) 379 Granito 62
Cobalto (Co) e suas ligas 200-248 Estanho (Sn) e suas ligas 41-53
Zircónia (ZrO2) 160-241 Betões e cimentos 45-50
Níquel (Ni) e suas ligas 130-234 Magnésio (Mg) e suas ligas 41-45
CFRP (compósitos, fibras de C) 70-200 GFRP (fibra de vidro) 35-45
Super-ligas de ferro 193-214 Madeiras comuns, | | às fibras 9-16
Aço inox austenítico 190-200 Chumbo (Pb) e suas ligas 14
Ferros fundidos 170-190 Gelo (H2O) 9,1
Platina (Pt) 172 Perspex (PMMA) 3,4
Cobre (Cu) e suas ligas 124-150 Poliésteres 1-5
Mulite (3Al2O3.2SiO2) 145 Nylon 2-4
Titânio (Ti) e suas ligas 116-130 Madeiras comuns, | às fibras 0,6-1,0
Latão e bronze 103-124 Poli-etileno (PE), b.d. 0,2
Ouro (Au) 82 Borrachas 0,01-0,1
Calcite (mármore, calcário) 81 Poli-uretano (PU) expandido 0,01-0,06
Módulo de Young: comparação
Forças e deformações

Força de tração Força de compressão

Força de torção

Força de corte
Determinação do módulo de Young, E
Lei de Hooke e Módulo de Young

Para a maioria dos metais que são sujeitos a baixas tensões de


tração, há uma relação de proporcionalidade entre tensão e
extensão, dada pela Lei de Hooke:

𝜎 = 𝐸𝜖

E é o módulo de
elasticidade ou
módulo de Young (GPa, psi)
Exercício 5
Suponha que uma peça cilíndrica com 20 mm de diâmetro e 20 mm de altura deve suportar uma carga
de 103 kg na direção axial e deve manter tolerâncias dimensionais da ordem de ± 0,2 mm na sua altura.
Verifique se pode usar um material com módulo de Young 1,5 GPa.
O que determina o comportamento de determinado
material (ex. E) ?

• Composição química, i.e. o tipo de espécies que


constituem o material

• Forças interatómicas e forma de empacotamento


(estrutura)
Valores de densidade, 
Material  (g/cm3) Material  (g/cm3)
Platina (Pt) 21,4 Magnésia (MgO) 3,5
Ouro (Au) 19,3 Mulite (3Al2O3.2SiO2) 3,2
Chumbo (Pb) e suas ligas 10,7-11,3 Rochas comuns 2,3-3,0
Prata (Ag) 10,5 Alumínio (Al) e suas ligas 2,6-2,9
Níquel (Ni) e suas ligas 7,8-9,2 Vidro comum 2,5
Cobre (Cu) e suas ligas 7,5-9,0 Betões e cimentos 2,4-2,5
Latão e bronze 7,2-8,9 GFRP (fibra de vidro) 1,8
Super-ligas de ferro 7,9-8,3 PVC 1,3-1,6
Aço inox austenítico 7,5-8,1 Poliésteres 1,1-1,5
Estanho (Sn) e suas ligas 7,3-8,0 Perspex (PMMA) 1,2
Ferros fundidos 6,9-7,8 Poli-estireno (PS) 1,0-1,1
Carboneto de titânio (TiC) 7,2 Gelo (H2O) 0,92
Zinco (Zn) e suas ligas 5,2-7,2 Borracha natural 0,83-0,91
Titânio (Ti) e suas ligas 4,3-5,1 Madeiras comuns 0,4-0,8
Alumina (Al2O3) 3,9 Poli-uretano (PU) expandido 0,06-0,2
Ligações interatómicas vs. E

• calculando o valor de E a partir das forças das ligações


entre átomos e na sua rigidez ao alongamento (i.e. a
elasticidade como resultado do alongamento das
ligações):
– para os metais e cerâmicos obtêm-se valores comparáveis aos
medidos experimentalmente;
– os valores medidos para os polímeros são mais baixos (até
duas ordens de grandeza) do que os calculados.
• quando se aplica uma força, são as ligações de Van der Waals entre
cadeias que cedem e, portanto, o módulo que se mede é o
correspondente a estas ligações e não às covalentes.
• mas a T baixa (< Tg) há endurecimento e a medição aproxima-se do
valor calculado – ligações covalentes
• aumento de rigidez com inserção de fibras
Módulo de Young de polímeros

Em muitos polímeros a elasticidade é determinada pelas ligações


secundárias que ligam cadeias essencialmente lineares. A energia destas
ligações é cerca de 1 a 2 ordens de grandeza inferior aos valores típicos das
energias de ligações covalentes, iónicas ou metálicas. Por isso, os valores
do módulo de Young dos polímeros situam-se geralmente entre 1 e 10 GPa,
isto é, 1 a 2 ordens de grandeza abaixo dos valores típicos para outros
materiais. Além disso, as ligações secundárias ainda enfraquecem mais
acima da chamada temperatura de transição vítrea, fazendo descer o
módulo de Young a valores da ordem de 10 MPa, como ocorre com a
borracha.

Para conferir maior rigidez aos materiais poliméricos é necessário criar


ligações tridimensionais entre cadeias (“cross-linking”) ou desenvolver
materiais compósitos que combinem um polímeros com outro material
mais rígido (p.e. GFRP ou CFRP).
Ligações interatómicas vs. E nos Polímeros
• Se um pedaço de tubo de plástico vulgar for arrefecido em azoto líquido, ele
torna-se rígido, isto é, o seu módulo aumenta bruscamente de cerca de 10-2 GPa
para o valor normal (calculável) de ~4 GPa. Se o aquecermos de novo, o
módulo torna a cair para o valor original
• Acima de TG o polímero pode até ser um líquido; abaixo de TG é um sólido
verdadeiro, com um módulo de pelo menos 2 GPa
• Os mais rígidos têm módulos comparáveis ao do Alumínio
• Polímeros com rigidez para além da correspondente às ligações de Van der
Waals só são possíveis quando combinados com um segundo material mais
rígido — compósitos: GFRP (reforço por longas fibras de vidro sódico
comum), CFRP (fibras de carbono), polímeros com enchimento (reforço por
partículas de vidro - farinha de sílica)

polímero TG (°C)
PMMA 100
PS 90
PE de baixa densidade -20
borracha natural -40

Valores de TG para alguns polímeros


Materials data charts – E versus 
Principais consequências da Elasticidade

- tolerâncias dimensionais
- controlo de deformação excessiva
- perturbações (vibrações)
- “design” de aplicações (amortecedores, etc.)
Exercício 6
Suponha que uma massa de 100 kg é suspensa por um cabo de aço com 5 m de altura e 3
mm de diâmetro (em carga). Tendo em conta o valor do módulo de Young (200 GPa)
calcule:
a) A tensão e extensão no cabo.
b) O aumento de comprimento absoluto.

Exercício de consolidação

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