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Materiais e Tecnologias de Fabrico

Introdução aos materiais

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2022/2023
Introdução
◼ enorme crescimento (~50 anos) na exploração das potencialidades
dos materiais, novos ou não, em várias indústrias e aplicações.
◼ papel crucial: energia, comunicações, tecnologias da informação, transportes, alimentos
e farmacêutica, medicina e saúde, ambiente, aerospacial e defesa, química e
petroquímica, …

◼ materiais e design determinam o crescimento e prosperidade de novas indústrias

◼ a tradução de uma ideia (necessidade de mercado) no conjunto de informação


detalhada a partir do qual se pode fabricar um produto exige decisões sobre os
materiais com que esse produto será fabricado

◼ um novo produto (a evolução de um já existente) por vezes é sugerido, ou tornado


possível, por um novo material

◼ capacidade de identificar um conjunto de materiais e tecnologias, entre os inúmeros


possíveis, que, com maior probabilidade, permita produzir uma forma e desempenhar
uma dada função
Fonte: Krausmann et al., Global Environmental Change 52 (2018) 131-140.
Produção anual de alguns materiais
Escassez futura dos materiais ?
◼ Todos os países desenvolvidos consomem materiais de maneira sensivelmente
constante (aço, betão e madeira em construção, aço e alumínio em Engenharia,
cobre em condutores elétricos, polímeros em utilidades, etc.) e praticamente
todos nas mesmas proporções:
◼ quase todos os materiais são consumidos a uma taxa que aumenta exponencialmente
com o tempo.
Escassez futura dos materiais ?

◼ Meia-vida: tempo que levaria a consumir metade dos recursos existentes (altura
em que os preços já serão tão altos que a oferta/abastecimento deverá ser um
problema sério).

◼ Maneiras de contornar o problema da escassez futura dos materiais:


◼ utilização eficiente no projeto (e.g. filmes à superfície);
◼ substituição por material mais abundante (e.g. cobre por PE em canalizações);
◼ reciclagem (envolve muita mão-de-obra, embora pouco capital e energia; se a energia
e o capital começarem a escassear, o seu custo será comparável ao da mão-de-obra, e
a reciclagem tornar-se-á muito mais atraente.
Materiais críticos (critical raw materials)

The first assessment (2011) identified 14 CRMs out of the 41 candidate raw materials,
in 2014, 20 out of 54 candidates, in 2017, 27 CRMs out of 78 candidates, and in 2020,
30 out of 83 candidates. The 2023 assessement screened between 87 individual raw
materials, 34 raw materials proposed for the CRM list 2023:

*Copper and nickel do not meet the CRM thresholds, but are included as Strategic Raw Materials.
Source: Milan Grohol, Constanze Veeh. Study on the Critical Raw Materials for the EU2023: final report. DG GROW, European
Commission (2023).
Classes de materiais

Metais

compósitos

Polímeros Cerâmicos

plásticos enchidos
Classes de materiais

Metais e ligas Ferro e aço, alumínio, cobre, níquel, titânio


Polímeros polietileno (PE), poliestireno (PS), poliuretano (PU),
policloreto de vinilo (PVC), polimetilmetacrilato (PMMA,
perspex), nylon, borrachas
Cerâmicos e Alumina e safira (Al2O3)
vidros magnésia (MgO)
sílica (SiO2) e silicatos
carboneto de silício (SiC), nitreto de silício (Si3N4)
cimentos e betões, rochas
Compósitos madeira
Fibra de vidro (GFRP), polímeros com enchimento,
polímeros reforçados por fibras de carbono (CFRP),
compósitos de matriz cerâmica (CMC), compósitos de
matriz metálica (CMM)
Propriedades que Determinam o
Desempenho
◼ Resistência mecânica
◼ Ductibilidade
◼ Resistência ao impacto
◼ Comportamento a temperaturas extremas
◼ Condutividade térmica
◼ Condutividade elétrica
◼ Propriedades óticas (cor)
◼ Resistência à corrosão
◼ Etc …
Classes de propriedades

Preço e disponibilidade propriedades económicas


Densidade
Módulo de rutura, Resistência à flexão
Tenacidade à fratura, Dureza, Resistência propriedades intrínsecas
à fadiga mecânicas
Tensão de cedência, Fluência
Propriedades térmicas, ópticas, propriedades intrínsecas não
magnéticas, eléctricas mecânicas

Oxidação e corrosão propriedades da superfície


Fricção, abrasão, desgaste

Facilidade de fabrico, ligação, acabamento propriedades de produção

Aspecto, textura, tacto propriedades estéticas


Especificações dos materiais

Source: Li et al., “A review on the tooling technologies for composites manufacturing of aerospace structures: materials, structures and
processes ”. Composites: Part A 154 (2022) 106762.
Preço e disponibilidade dos materiais
◼ por vezes são o fator determinante da escolha do material.
◼ As flutuações de preços em períodos curtos têm pouco a ver com a real abundância ou
escassez dos materiais. São causadas por pequenas diferenças entre oferta e procura,
muito aumentadas pela especulação. Os fatores políticos também são extremamente
importantes.
◼ As variações de preços a longo prazo são função da utilidade do minério.
◼ Para uma grande parte dos materiais, esta questão começa pela exploração e
valorização de jazigos minerais.

Exemplo: limitação de exportação de


terras raras por parte da China (2010)
Aplicação, propriedades, preços
◼ materiais de uso estrutural em larga escala (e.g., madeira, cimentos, betões e aços estruturais):
35 a 300 €/ton.

◼ há muitos outros materiais (e.g., níquel, titânio) com todas as propriedades exigidas aos
materiais estruturais, mas o seu uso para este fim é eliminado pelo seu preço.

◼ materiais para trabalhos de média e leve Engenharia (e.g. aços inox, ligas de alumínio, a maior
parte dos polímeros): 300 a 3000 €/ton.

◼ maior valor acrescentado, restrições económicas na escolha do material menos severas — uma
proporção bem maior do custo está associada a mão-de-obra e fabrico.

◼ competição mais intensa entre materiais (e.g., compósitos e polímeros competem com os metais,
e os novos cerâmicos estruturais (SiC, Si3N4) com todos eles), maior criatividade em projeto.

◼ materiais desenvolvidos para aplicações de alto desempenho ou usos especiais (e.g. ligas de
níquel para pás de turbinas, tungsténio para elétrodos de velas, compósitos como CFRP): 3 a 100
€/kg.

◼ materiais de alta tecnologia, investigação intensa, maiores e mais recentes inovações.

◼ metais nobres e pedras preciosas (e.g., ouro para microcircuitos, platina para catálise, safira para
rolamentos, diamante para ferramentas de corte): 100 a >1150 €/kg.
Custo de diferentes materiais
Energia incorporada na obtenção de materiais : indicador
ambiental
Emissões de CO2/ano
Que propriedades caracterizam cada tipo de
material?
Exemplos de seleção de materiais

◼ Chave de parafusos de aço e cabo plástico

◼ Haste em aço: elevado módulo de elasticidade, elevada tensão de cedência,


elevada dureza (ponta) e elevada tenacidade à fratura (cedência plástica e
não frágil).
◼ Cabo em PMMA (perspex): módulo de elasticidade suficiente, facilidade de
fabrico, durabilidade, aparência, agradável ao tato, baixa densidade e baixo
preço.
Exemplos de seleção de materiais

◼ Velas de ignição

◼ Elétrodos: resistentes à fadiga térmica, desgaste por erosão, resistentes à


corrosão e oxidação (ligas de tungsténio, platina ou irídio – elevado preço).
◼ Invólucro: isolador elétrico, elevada refratariedade, resistência à fadiga
térmica, à corrosão: cerâmico (alumina ou zircónia).
Exemplos de seleção de materiais
◼ Veleiros

◼ Casco: madeira ou aço vs. fibra de vidro (GFRP).


◼ Mastro: madeira vs. liga de alumínio ou ligas reforçadas com fibrilas de boro
(BFRP).
◼ Velas: algodão vs. Terylene (polímero).
Compósitos
A introdução de CMP conduziu à redução da massa das aeronaves, levando a uma redução
drástica no consumo de combustível.

Source: Li et al., “A review on the tooling technologies for composites manufacturing of aerospace structures: materials, structures and
processes ”. Composites: Part A 154 (2022) 106762.
Compósitos

Source: Li et al., “A review on the tooling technologies for composites manufacturing of aerospace structures: materials, structures and
processes ”. Composites: Part A 154 (2022) 106762.
Materiais de engenharia (resumo)
◼ Os materiais são a base de qualquer projeto, de qualquer componente, de
qualquer produto.

◼ quando se cria um certo objeto, procura-se um certo conjunto de propriedades


que conduzem a um certo desempenho (mecânico, da superfície, ou apenas
estético).

◼ o nome do material apenas identifica uma combinação particular de atributos.

◼ é habitual dividir os materiais de Engenharia em três grandes classes: os


metais, os polímeros (e elastómeros) e os cerâmicos (e vidros).

◼ os membros de cada classe têm características comuns: propriedades


semelhantes, métodos de processamento semelhantes e, frequentemente,
aplicações semelhantes.
Metais
◼ têm módulos elásticos relativamente altos e são bons condutores;

◼ podem ser tornados mecanicamente mais resistentes (i.e. endurecidos) pela


incorporação de elementos de liga, por trabalho mecânico e por tratamento
térmico;

◼ apesar disso, permanecem dúcteis, o que permite que sejam enformados por
deformação plástica.

◼ a fratura, quando ocorre, é tenaz, do tipo dúctil.

◼ em parte devido à sua ductilidade, são suscetíveis à fadiga;

◼ de todas as classes de materiais, são os menos resistentes à corrosão.


Metais
Cerâmicos (e vidros)
◼ também têm módulos elásticos elevados;

◼ ao contrário dos metais, são frágeis (fraturam sem cedência plástica);

◼ a sua resistência mecânica é medida como resistência à fratura em flexão ou


ao esmagamento em compressão;

◼ porque não têm ductilidade, são pouco tolerantes a concentrações de tensões


(em fissuras ou poros) ou a tensões de contacto elevadas (em pontos de
aperto, por exemplo);

◼ são rígidos, duros, resistentes à abrasão (por isso são usados em dispositivos
anti desgaste e como ferramentas de corte);

◼ conservam a sua resistência a temperaturas elevadas e são resistentes à


corrosão.
Cerâmicos (e vidros)
Polímeros (e elastómeros)
◼ têm módulos elásticos baixos, podem apresentar grandes deflexões elásticas;

◼ estão sujeitos a fluência, mesmo à temperatura ambiente (componentes poliméricos sujeitos a


cargas podem, com o tempo, adquirir deformação permanente);

◼ as suas propriedades dependem da temperatura (um mesmo polímero pode ser tenaz e flexível a
20 °C, frágil aos 4°C de um frigorífico doméstico e fluir rapidamente aos 100 °C da água em
ebulição);

◼ nenhum polímero tem resistência decente acima de 200 °C e todos apresentam coeficientes de
expansão térmica elevados;

◼ têm uma razão resistência-massa elevada;

◼ são fáceis de conformar (e.g., moldagem numa única operação), permitem apertos de encaixe
(montagem rápida e barata), podem ser pré-coloridos pela incorporação de pigmentos, quase
sempre dispensam operações de acabamento;

◼ são resistentes à corrosão e têm baixos coeficientes de atrito.


Polímeros (e elastómeros)
Compósitos
◼ Associam as propriedades interessantes das outras classes de materiais evitando
simultaneamente as respetivas desvantagens.

◼ São leves, rígidos e fortes, podendo ser tenazes.

◼ A grande maioria dos que estão comercialmente disponíveis têm matriz polimérica —
quase sempre epoxídica ou de poliéster — reforçada com fibras de vidro, carbono ou
aramida (Kevlar).

◼ Não podem ser usados acima de 250 °C porque a matriz amolece mas, à temperatura
ambiente, o seu desempenho mecânico é notável.

◼ São materiais caros e os componentes são relativamente difíceis de conformar e ligar.

◼ Apesar das suas propriedades atraentes, só são usados quando a excelência de


desempenho justifica o custo extra.

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